CLONAGEM O que é a clonagem? A clonagem é uma técnica de manipulação núcleo-plasmática que permite a cópia de organismos pré-existentes. Ou seja, são produzidos organismos geneticamente idênticos aos que os originaram, sem qualquer intervenção de gâmetas. A clonagem tem sido praticada com crescente intensidade, desde há alguns anos, na área da pecuária. Uma vez que, na natureza, é observável que grande número de espécies vegetais se reproduzem assexuadamente (multiplicação vegetativa), permitindo a propagação de indivíduos idênticos à planta-mãe, tendo como consequência a formação de clones, a clonagem tem sido amplamente aplicada nas plantas. As células vegetais possuem a capacidade de dividir-se e originar, assexuadamente, uma planta idêntica à planta donde provêm, ou seja, um clone dessa planta. É devido a esta capacidade, designada totipotência celular que a cultura in vitro de plantas deve todo o seu desenvolvimento. Devido às limitações dos métodos convencionais utilizados na propagação de plantas, a cultura in vitro constitui uma importante ferramenta, sobretudo no que toca a: - propagação de espécies cuja reprodução é difícil através de métodos convencionais; - produção de numerosas de plantas sãs a partir de uma planta atacada por uma doença; - protecção e conservação de espécies ameaçadas de extinção. Quando pensamos em clonagem de animais, constatamos que a notícia da clonagem da ovelha Dolly, em 1997, publicitada como a primeira clonagem de um mamífero, provocou um alerta no público em geral, perante as implicações bioéticas de um processo que, na eventualidade de ser aplicado a seres humanos, permitiria que fossem criadas cópias de indivíduos. O processo tradicional de clonagem consiste na remoção do núcleo de um ovo (ou zigoto), no lugar do qual se coloca o núcleo retirado a uma célula somática (isto é, não sexual), criando assim, após a fusão das duas partes, um novo zigoto contendo toda a informação genética dessa célula. O desenvolvimento deste ovo é activado artificialmente (geralmente por choque eléctrico) e, até atingir um certo grau de desenvolvimento, o novo embrião é cultivado em laboratório. Posteriormente, é transferido para uma mãe-hospedeira. A clonagem terapêutica consiste também na transferência de um núcleo da célula adulta de um paciente para um óvulo a que foi previamente extraído o núcleo. Essa transferência permitirá assim reprogramar o crescimento celular do óvulo e reorientá-lo para a criação de órgãos ou tecidos que possam ser transplantados para o paciente para combater qualquer patologia. Qual a origem do termo «clonagem»? «O caso da palavra “clonagem” é particularmente interessante do ponto de vista filológico: o termo nasceu dentro da área científica, foi apropriado pela ficção científica, e mais tarde regressou à ciência, designando um terceiro fenómeno, diferente dos dois anteriores. 1 1 CLONAGEMCLONAGEM Sendo tão óbvio que as plantas podem reproduzir-se por estaca, é altamente provável que as civilizações baseadas na agricultura fossem já experimentadas no uso desta técnica. Mas a cunhagem de “clone” como substantivo é feita oficialmente apenas em 1903, designando o que os nossos antepassados tinham já fabricado durante séculos: grupos de plantas exactamente idênticos na sua composição genética, uma vez que se propagaram por cortes de partes e por implantes, e não por sementes. A técnica desenvolveu-se com grande rapidez em agronomia, e em 1929 foi aplicada aos bacilos com igual sucesso. Quando é que soou pela primeira vez o sinal de alarme? O termo “clone” aparece na ficção científica já em 1915, na colectânea Master Tales of Mystery by the World’s Most Famous Authors of Today, editado por Francis Joseph Reynolds. É difícil saber quando ganhou definitivamente uma conotação demoníaca, mas, uma vez mais, o cenário catastrófico proposto em 1932 por A. Huxley em Brave New World, com prateleiras cheias de frascos com cópias idênticas de seres humanos aguardando ordens do governo para poderem nascer, foi certamente um dos avisos mais efectivos de perigo iminente. A clonagem floresceu durante décadas na literatura e no cinema, e nunca ao serviço de causas nobres. Por fim, chegaram os anos 80, e com eles o filme Bladerunner, e também... a primeira clonagem de mamíferos em laboratórios científicos. Uma vez que “clonar” significa, basicamente, “copiar”, o termo é hoje usado em ciência para um grande número de processos não directamente relacionados entre si, tais como a “clonagem” de células específicas a partir de hibridomas para produzir anticorpos, “clonagem” molecular, “clonagem” de DNA, e até “clonagem” de computadores. Mas a “clonagem” que nos remete instintivamente para as histórias de terror da ficção científica não se prende com nenhum destes usos. A técnica em questão deve os seus primeiros passos às experiências “algo fantásticas” propostas em 1938 por Hans Spemann em Embryonic Development and Induction. Durante várias décadas, os únicos resultados bem sucedidos nesta área limitaram-se às experiências realizadas com anfíbios. No final dos anos 70, os cientistas envolvidos nestas pesquisas pareciam estar prestes a clonar mamíferos – mas, na realidade seguiram-se vários anos de tentativas infrutíferas, até McKinnel publicar, em 1985, Cloning of frogs, mice and other animals. E foi só no fim desta década que o verdadeiro “boom” teve lugar. É importante frisar, para melhor compreender a problemática associada ao termo, o domínio específico em que decorreu este último desenvolvimento. Publicações como Cloning in sheep and cattle embryos (Marx, 1988), Prospects for the commercial cloning of animals by nuclear transplantation (Robl e Stice, 1989) ou Current successes in cloning mammalian embryos (Stice and Robl, 1989), dizem uniformemente respeito à aplicação da clonagem em pecuária. Desenvolvido na área das Ciências Animais e Veterinárias, este moderno aspecto da clonagem tem como objectivo assegurar uma perpetuação potencialmente eterna de espécimes confirmadamente excelentes enquanto reprodutores, ou produtores de leite, carne ou lã. Actualmente, nascem no mundo inteiro cópias de bovinos, suínos e coelhos produzidos desta forma. A designação técnica destes organismos é “embriões de transferência nuclear”, mas – uma vez mais porque o termo é sobejamente conhecido e fácil de compreender – os próprios cientistas continuam a referi-los como “clones”, quer entre si, quer em conversas informais durante os congressos. O grande problema é que, sem conhecimento de todos estes detalhes técnicos, quando o leigo ouve “clone”, continua a ouvir “admirável mundo novo”. Um exemplo perfeito destas referências cruzadas é o pandemónio criado em Novembro de 1993, quando, pouco depois de a imagem pseudo-científica (e extremamente errónea) da “clonagem” ter explodido nos cinemas com o filme Parque Jurássico, os jornais e revistas do mundo inteiro (incluindo a supostamente muito respeitável Science) anunciaram em grandes parangonas “Cientistas CLONARAM embriões humanos”. 2 2 CLONAGEMCLONAGEM Neste momento, a controvérsia causada em grande parte pelo uso indiscriminado desta terminologia é de tal forma preocupante que os laboratórios subsidiados por grupos industriais para desenvolverem projectos de investigação destinados a melhorar as técnicas de transferência nuclear recebem ordens estritas para nunca usarem o termo “clonagem”, pois que este é considerado pelas empresas financiadoras uma péssima manobra de relações públicas.» In Clonai e Multiplicai-vos, Clara Pinto Correia, Texto Editora. Um pouco de história Não obstante a clonagem de embriões ter sido pontualmente aprovada no final do século XX, experiências associadas a esta realizam-se há muitos anos. Em 1928, o embriologista alemão Hans Spemann levou a cabo a primeira experiência de transferência nuclear com uma célula embrionária de salamandra. E, em 1952, Robert Briggs e Thomas J. King clonaram rãs utilizando um método de transferência nuclear. Em 1963, o biólogo britânico J.B.S. Haldane utilizou pela primeira vez o termo «clone» aplicado no contexto destas técnicas. Em 1975, o cientista britânico, Derek Brownhall produziu o primeiro clone de um coelho. Em 1984, o cientista dinamarquês Steen Willadsen clonou uma ovelha a partir de células embrionárias. Em 1995, no Instituto Roslin, foram clonadas duas ovelhas, Megan e Morag, a partir de células embrionárias diferenciadas. O mesmo instituto viria a clonar a famosa ovelha Dolly. No caso da célebre ovelha Dolly, a novidade não foi o processo de clonagem em si, mas o facto de a célula de onde se retirou o núcleo com a informação genética não pertencer a um embrião, mas sim a uma célula mamária de um animal adulto, com seis anos. A notícia da clonagem de Dolly, tornando conhecida do público esta técnica, gerou grande controvérsia, de forma semelhante à criada em torno das questões da engenharia genética. Em 1997, o Conselho de Ética para Biotecnologia da Comissão Europeia e a UNESCO consideraram inaceitável a clonagem humana para fins de reprodução. A clonagem animal foi considerada aceitável, desde que dentro de certos limites éticos nos seus procedimentos. Em 1998, dezanove países membros do Conselho da Europa (entre os quais Portugal) assinaram um protocolo que exclui qualquer derrogação à proibição de criar seres humanos geneticamente idênticos a outro, vivo ou morto, qualquer que seja a técnica utilizada. Prevendo sanções penais para as infracções registadas, este documento, que completa a Convenção Europeia sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina, constitui o primeiro instrumento jurídico, a nível europeu, neste domínio. Dolly, que se tornou a ovelha mais famosa do mundo, deu à luz, em Março de 1999, o seu segundo filho natural, que sucedia a Bonnie, nascido a 13 de Abril de 1998. Depois de vários estudos, os cientistas suspeitam que a clonagem a partir de células adultas pode provocar alterações genéticas, reduzindo o tempo de vida do clone. Comparando Dolly com ovelhas normais constataram diferenças a nível dos telómeros, que na primeira são cerca de 20% mais pequenos. Pensa-se que os telómeros, fragmentos de material genético nuclear, controlam a duração da vida das células. A certa altura desaparecem e a célula pára de se dividir, morrendo. Os telómeros da Dolly são mais pequenos e pensa-se que tal se deve ao facto de esta ovelha ter sido clonada a partir de um animal adulto, já a meio da vida. 3 3 CLONAGEMCLONAGEM Em 1997, Richard Seed, um cientista americano da Universidade de Harvard, chocou o mundo ao anunciar a intenção de produzir um clone humano, antes de ser produzida qualquer lei federal nesse sentido. Um ano depois, o médico italiano Severino Antinori anunciou que estava prestes a criar o primeiro clone humano. Tal facto não foi comprovado pois quando, em 2002, Antinori anunciou que três pacientes estariam grávidas na sequência de um processo de clonagem, o investigador recusou-se a revelar a sua identidade. Em 2000, no Instituto de Desenvolvimento de Criação de Gado de Kagoshima, cientistas japoneses conseguiram, pela primeira vez, clonar um vitelo a partir de uma célula de um bovino já clonado. Em 2001, um consórcio internacional constituído por médicos de numerosos países e dirigido por Severino Antinori iniciava um projecto de clonagem de embriões humanos. Segundo afirmam, o seu trabalho consiste em ajudar os casais que não têm alternativa para se reproduzirem e que pretendem conceber o seu próprio filho biológico. Em Fevereiro de 2003, Dolly, o primeiro mamífero clonado, a partir de outro adulto, morreu devido a uma grave doença pulmonar. Em 2002 já lhe havia sido diagnosticada, artrite reumatóide, uma doença inflamatória que lhe destrói as cartilagens nas articulações. Primeiro embrião humano clonado Em Novembro de 2001, a empresa norte-americana de biotecnologia Advanced Cell Technology anunciou a clonagem de um embrião humano, à semelhança do que foi feito para obter a ovelha Dolly. Tal como a famosa ovelha, o embrião humano não resultou da fecundação dos ovócitos por espermatozóides, mas da introdução nos ovócitos, esvaziados previamente do seu ADN, do material genético de uma célula humana adulta. O objectivo da empresa não é implantar os embriões resultantes da experiência no útero de uma mulher, mas usá-los para fins terapêuticos. Apesar do sucesso desta experiência, esta não foi a primeira clonagem de um embrião humano. Uma equipa em que participou o investigador português Mário de Sousa, do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, já havia realizado uma experiência idêntica. Os cientistas, coordenados por Jan Tesarik, do Hospital de Cherest, em Paris, retiraram então o material genético de ovócitos e, em seu lugar, colocar lá ADN de células adultas humanas. Neste caso, eram células adultas dos ovários (mas não ovócitos). Embrião sem fecundação Depois da clonagem humana, a empresa norte-americana de biotecnologia Advanced Cell Technology apresentou um embrião de um macaco sem fecundação. Sem espermatozóides, o óvulo do macaco divide-se, originando o embrião devido ao fenómeno da partenogénese. Os cientistas constituíram uma linha celular estável pluripotente a partir da qual, se obtém células diferenciadas: músculo, neurónios, etc. Segundo os investigadores, esta tecnologia deverá resolver os problemas éticos ligados à utilização de embriões provenientes de uma fecundação. 4 4 CLONAGEMCLONAGEM Experiências legais Em 2003, a Comissão Europeia adoptou uma proposta de orientações para o financiamento pela União Europeia de investigação sobre células estaminais embrionárias humanas. Este Programa-Quadro de Investigação permite o financiamento da investigação sobre células estaminais embrionárias humanas quando relacionada com a luta contra doenças importantes. Essa investigação, especialmente se envolver a derivação de células estaminais a partir de embriões humanos supranumerários, apenas pode ser realizada no âmbito de orientações éticas claras e rigorosas. O programa de investigação da União Europeia inclui disposições de carácter ético relacionadas com domínios de investigação sensíveis. A proposta apresentada continha um conjunto coerente de orientações éticas rigorosas a aplicar aos financiamentos de projectos de investigação que envolvessem a derivação de células estaminais a partir de embriões humanos supranumerários. Em paralelo, a Comissão publicou um convite à apresentação de propostas para a criação de um registo europeu de células estaminais e para um contributo para o estabelecimento de bancos públicos de células estaminais. O governo espanhol aprovou em Setembro de 2006 um novo projecto-lei de investigação biomédica, que permitiu pela primeira vez a clonagem terapêutica, mas proibindo a criação de embriões para investigação. Segundo o governo espanhol, as técnicas previstas na norma eram já aplicadas com as «máximas garantias éticas, jurídicas e sanitárias» em vários países, incluindo na Bélgica, Suécia e Reino Unido onde, em Agosto de 2000, foi aprovada a utilização da clonagem de embriões humanos para fins médicos. Os embriões com os quais a lei inglesa permite que se faça clonagem para fins de investigação médica são, eles próprios, resultantes de clonagem. Note-se que, em 2006, que a lei n.º 32/2006 veio regular em Portugal a utilização de técnicas de procriação medicamente assistida. Segundo o diploma é proibida a clonagem reprodutiva tendo como objectivo criar seres humanos geneticamente idênticos a outros. As técnicas de procriação medicamente assistida não podem ser utilizadas para conseguir melhorar determinadas características não médicas do nascituro, designadamente a escolha do sexo. Existem algumas excepções, como os casos em que haja risco elevado de doença genética ligada ao sexo e para a qual não seja ainda possível a detecção directa por diagnóstico pré-natal ou diagnóstico genético préimplantação. A lei estipula ainda que as técnicas de procriação medicamente assistida não podem ser utilizadas com o objectivo de originarem quimeras ou híbridos. Um ponto de vista legal – União Europeia O Parlamento Europeu criou, em 2001, a Comissão Temporária sobre a Genética Humana e Outras Tecnologias da Medicina para estudar os aspectos éticos e legais da clonagem de embriões humanos e produzir recomendações sobre se este tipo de experiências deve ou não ser restringida. Entretanto, o Parlamento Europeu apelou a todos os Estados-membros para que aprovem legislação que proíba toda a investigação a qualquer tipo de clonagem humana no seu território e preveja sanções penais para as infracções à regra. 5 5 CLONAGEMCLONAGEM Por seu lado, em 2003, a Comissão Europeia convidava os Estados-Membros da União Europeia a intensificarem esforços no domínio das ciências da vida e da biotecnologia. No seu primeiro relatório intercalar desde a adopção da estratégia comunitária sobre ciências da vida e biotecnologia, em 2002, a Comissão Europeia indicou que o risco de políticas divergentes nos Estados-Membros poderá prejudicar gravemente a eficácia e a coerência da estratégia comunitária neste domínio. Apesar dos progressos registados em alguns sectores, havia outros em que se verificam atrasos consideráveis. É dado como exemplo a lentidão dos Estados-Membros em transporem a legislação relativa a patentes de biotecnologia. A Comissão considerava que tais atrasos agravavam o risco de não se cumprirem os objectivos do Conselho Europeu de Lisboa de Março de 2000 em matéria de ciências da vida e biotecnologia: tornar a Europa a economia baseada no conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo. Segundo o então Comissário Europeu do pelouro «Investigação», «um recente estudo da Comissão sobre empresas privadas de biotecnologia e institutos públicos de investigação revelou que», entre 1999 e 2003, «39% dos inquiridos cancelaram projectos de investigação relativos a organismos geneticamente modificados (OGM). Só no sector privado, ascendiam a 61% os inquiridos que cancelaram projectos de investigação neste domínio. Acresce que, entre 1998 e 2001, o número de notificações sobre ensaios de campo de OGM na UE desceu 76%.» Num momento em que «legítimas preocupações relacionadas com os consumidores e com o ambiente foram objecto de legislação comunitária rigorosa, é tempo de inverter esta tendência decrescente. Se não reagirmos, ficaremos dependentes da tecnologia desenvolvida noutros pontos do mundo dentro dos próximos dez anos.» Em Setembro de 2008, o Parlamento Europeu convidou a Comissão a apresentar propostas tendentes a proibir, para a provisão de alimentos: - a clonagem de animais; - a criação de animais clonados ou descendentes; - a colocação no mercado de carne ou produtos derivados de animais clonados ou dos seus descendentes; - a importação de animais clonados ou descendentes e do seu sémen, bem como os embriões derivados de animais clonados ou dos seus descendentes e a carne ou produtos derivados de animais clonados ou dos seus descendentes, tendo em conta as recomendações da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA) e do Grupo Europeu de Ética para as Ciências e as Novas Tecnologias (EGE). A AESA publicou, em Julho de 2008, um parecer científico sobre as implicações da clonagem de animais para a segurança alimentar, a saúde e o bem-estar dos animais e do ambiente, no qual conclui que se revelou terem sido afectados, muitas vezes de forma grave e até fatal, a saúde e o bem-estar de uma proporção significativa de clones. Devido aos actuais níveis de sofrimento e aos problemas de saúde das mães portadoras e dos clones animais, o Grupo Europeu de Ética questiona se a clonagem de animais para o aprovisionamento alimentar se justifica do ponto de vista ético e não encontra argumentos convincentes para justificar a produção alimentar a partir de clones e dos seus descendentes, sublinha o Parlamento Europeu na resolução que elaborou. Os processos de clonagem revelam uma baixa taxa de sobrevivência de embriões transferidos e animais clonados. Muitos animais morrem nos primeiros anos de vida em virtude de insuficiência cardiovascular, deficiências imunitárias, problemas respiratórios ou anormalidades renais e do sistema músculo-esquelético. Segundo o Parlamento Europeu, «a clonagem reduziria consideravelmente a 6 6 CLONAGEMCLONAGEM diversidade genética dos efectivos de gado, aumentando o risco de manadas inteiras virem a ser dizimadas por doenças às quais sejam susceptíveis». Algumas experiências marcantes Nos EUA, cientistas criaram três cabras nas quais introduziram hormonas para aumentar a produção de leite. Este contém uma proteína humana, proteína recombinada antitrombina III, que regula a coagulação do sangue e pode ser usada em medicamentos para doentes que tenham realizado cirurgias cardíacas e que necessitem de um bypass vascular. Por seu lado, os japoneses têm vindo a clonar vitelos a partir de colostro, leite produzido durante a primeira semana após o parto, não sendo necessário realizar incisões na vaca doadora de células. Com a clonagem de gado, o Japão pretende manter a competitividade da sua indústria de carne. Em 2000, no Instituto de Desenvolvimento de Criação de Gado de Kagoshima, cientistas japoneses conseguiram, pela primeira vez, clonar um vitelo a partir de um célula de um bovino já clonado. Entretanto, a comunidade científica pretende desenvolver a clonagem de macacos, especialmente os macacos designados rhesus, animais com uma relação muito próxima com os seres humanos, nomeadamente ao nível dos órgãos reprodutores, que funcionam de forma idêntica aos dos homens. Na sequência do trabalho desenvolvido por uma equipa de cientistas do Centro de Primatas de Beaverton, no Oregon, EUA, um macaco foi clonado pela primeira vez. O «bebé», do sexo feminino, cresceu a partir de uma célula de embrião dividida em quatro, uma técnica que permite a obtenção de vários animais idênticos. Em Dezembro de 2001, fez-se a primeira clonagem de um felino, um gato. A experiência só foi divulgada dois meses depois e os seus resultados passado um ano. No início de 2003, os cientistas que clonaram Cc, nome por que ficou conhecida a gata clonada, concluíram que, ao contrário do que aconteceu com a ovelha Dolly, o clone em pouco se assemelhava a Rainbow, a gata de onde tiraram a célula original. Diferenças físicas (cor do pêlo e diferença de peso) e de «personalidade» (a gata clonada é bastante mais curiosa e brincalhona do que a sua «irmã») vieram provar que nem sempre o clone é uma cópia idêntica, o que poderá servir de argumento aos que advogam a clonagem humana, pois deixa de existir a polémica em relação a indivíduos iguais a sofrerem experiências de vida iguais. Em Maio de 2003, mais um feito extraordinário para a história da clonagem foi conseguido por uma equipa de investigadores norte-americanos ao clonarem, pela primeira vez, uma mula. Até então, nenhum cientista tinha conseguido clonar um animal estéril nem nenhum parente do cavalo. A mula clonada, nascida no dia 4 de Maio de 2003, nos EUA, chama-se Idaho Gem e vem aumentar a esperança de se conseguirem clonar outros animais com dificuldades de procriação ou até mesmo alguns animais em vias de extinção. Esta experiência bem sucedida ficou a dever-se a um grupo de investigadores do Departamento de Ciência Animal e Veterinária da Universidade de Idaho e do Centro de Biologia Molecular da Universidade de Utah. Clonagem terapêutica A clonagem terapêutica não tem como finalidade a criação de clones humanos. Pretende-se com este processo a recolha de células estaminais para o estudo do desenvolvimento humano e para o tratamento de doenças (por exemplo, reabilitando 7 7 CLONAGEMCLONAGEM as funções de órgãos, tecidos, ou substituindo células perdidas ou outras que não funcionam devidamente). Nas primeiras fase do desenvolvimento do embrião, as células estaminais diferenciam-se nos vários tipos de células que vão formar os tecidos e órgãos do organismo (a pele, os músculos o coração, o cérebro, os ossos…). Estas células estaminais embrionárias têm a capacidade de se auto-renovarem e duplicarem, multiplicando-se continuamente in vitro e mantendo a capacidade de se diferenciarem noutras células. Assim, com a recolha de células estaminais embrionárias, potencialmente, podem criarse quaisquer tipos de células especializadas no corpo humano para depois se produzirem órgãos ou tecidos destinados ao transplante. Na clonagem terapêutica as células estaminais são extraídas do ovo após a sua divisão por cinco dias, na fase de blastocisto. Essa extracção levanta várias questões éticas, uma vez que ao levar a cabo este procedimento se destrói o embrião. Na clonagem reprodutiva, nesta fase, o ovo seria implantado no útero. Com o desenvolvimento da investigação espera-se com esta técnica avanços no tratamento de doenças como a diabetes, doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer, ou entre outras, doenças do foro cardíaco. Fontes: Human Genome Project Information Página de Internet da Comissão Europeia Página de internet do Parlamento Europeu Site Universal 8 8 CLONAGEMCLONAGEM