O Almanaque
de
Dois Córregos
HEUSNER GRAEL TABLAS
O Almanaque
de
Dois Córregos
APOIO CULTURAL: OSAFF
Todos os direitos
desta 1ª edição / ano 2009 /
reservados para o autor.
Arte
da capa e diagramação:
RVG Editora e Publicidade Ltda
Dois Córregos / SP
Ilustrações de “As Lendas”:
Óleos sobre tela de Maria Cristina Casagrande Zago
Apoio Cultural: Osaff
– Organização Social e Ambiental da Fauna e Flora do Brasil
Valparaíso de Goiás / GO
“É o espírito que conduz o mundo
e não a inteligência”.
C`est l`esprit qui mène le monde
et non l`intelligence.
Saint-Exupéry (1900–1944)
Cadernos
.
Aos
meus filhos
André e Caio
As Lendas
NOTA DESASSOMBRADA DO AUTOR
Depois de lançar várias publicações sobre lendas, posso dizer o
seguinte. Se você está decidido a registrar uma lenda nas folhas de
um livro, então se prepare: toda lenda é, realmente, encantada. Mal
o volume se torna público, aquele personagem de ficção, que você
envolveu em linhas escritas, rompe as amarras e segue além das
páginas respondendo com um destino próprio.
Surge, então, uma nova entidade, que agora o surpreende. O alvo
da lenda é a sua memória, que ela irá conquistando até o tornar
cúmplice de um enredo geralmente fantástico.
Ao oferecer mais atrativos do que a realidade, a lenda alicia as
atenções, que lhe alimentam a posição de destaque, que por sua vez
retribui com atenções fortalecidas, indo e voltando, de modo a criar
um moinho insone.
Certo estava Nikos Kazantzakis, quando disse que só a lenda
consegue dar sentido eterno à verdade efêmera.
E não me sinto alienado ao afirmar, que, enquanto escrevia este
livro, bateu-me a impressão de estar servindo à lenda e não, a meus
incautos leitores, como inicialmente acreditei.
Por isso mesmo, ao definir a história como sendo a consciência,
em lenda, tradição, ruínas, monumentos, escritos, desse divino
instinto do homem, que logrou para si a eternidade subjetiva da
memória, talvez Afrânio Peixoto tenha subestimado o peso da lenda.
Sim, porque cabe supor que ela seja a própria história em atividade.
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A MENINA DO OURO
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A MENINA DO OURO
Diz a lenda que a Menina do Ouro mora no vale do rio Tietê e
ganhou esse nome por causa de seus longos cabelos loiros. Ela
costuma aparecer na beira do mato, aonde houver crianças
brincando, e faz sinal para que elas a sigam. Daí as crianças,
encantadas com a beleza da Menina, atendem o convite e acabam
entrando na floresta. Mas depois de um certo tempo a Menina do
Ouro, que procura caminhar sempre na frente, some de vista. Então
as crianças se sentem sozinhas no meio da mata e dificilmente
acham o caminho de volta.
E foi exatamente assim que aconteceu com Armira de Andrade
Leite. Nascida em Dois Córregos, no ano de 186l, durante sua
infância ela morou na margem esquerda do Tietê, onde junto com
seu irmão José Sebastião viram a Menina do Ouro, cuja simpatia os
seduziu, tanto que a acompanharam através da floresta.
Ao anoitecer, quando a Menina subitamente desapareceu, Armira
e o irmão já estavam perdidos e só então perceberam o grande
perigo que corriam, pois, naquele tempo as matas abrigavam a
temível onça-pintada, além de outros animais selvagens.
Já era madrugada, quando as duas crianças passaram a ouvir o
sino de uma canoa que se aproximava. (No rio Tietê, no final do
século 19, era comum as canoas terem um pequeno sino, pendurado
no bico, que seguia badalando de acordo com o movimento das
águas.) Por sua vez, o barqueiro também escutou o choro de Armira
e de seu irmão, por isso embicou a canoa no barranco e os socorreu,
tendo reconhecido os dois como sendo filhos do pescador Eliaquim,
seu colega de profissão.
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COMENTÁRIO SOBRE A MENINA DO OURO
O relato de Armira de Andrade Leite (1861–1976), sobre a
Menina do Ouro, refere-se à época em que seus pais eram donos, na
condição de posseiros, da fazenda Quebra-Pote, em terras localizadas, atualmente, no município de Igaraçu do Tietê (SP).
De acordo com Armira, os pescadores e outros moradores daquela beira do Tietê eram acostumados a fazer compras e negociar em
Dois Córregos, e foi através dessas pessoas que ela e seu irmão
ficaram sabendo sobre a Menina do Ouro – da qual seriam vítimas.
A lenda da Menina, porém, pode ser mais antiga do que parece.
Isso porque não deve ser descartada a hipótese de o nome Menina
do Ouro ser originário da fase das Monções, em que os paulistas
desciam o rio Tietê em sucessivas expedições para chegar ao Mato
Grosso, onde o ouro havia sido achado. Naquela época, a descoberta
desse metal estava sempre ligada a mitos e lendas; assim, acreditava-se que no lugar onde houvesse ouro também haveria sinais
indicando o veio, como estalos na rocha ou “emanações auríferas”.
Como exemplo podemos citar a elevação Pedra Branca situada
na divisa entre os municípios de Dois Córregos e Mineiros do Tietê,
que possuiria essas “emanações”. Tanto que a autorização para
André Dias de Almeida atacar, em 1778, dois quilombos ribeirinhos
formados por escravos fugidos de Minas Gerais, só foi dada porque
esse bandeirante convenceu as autoridades de que os negros estariam tirando ouro da Pedra Branca sem recolhimento de impostos.
A Pedra Branca, assim como outras elevações próximas a ela
eram conhecidas, desde o início da navegação no rio Tietê, pelo
nome de “morros de Araraquara”, já que se situavam na região
chamada “campos de Araraquara”. Esses “campos” seriam um
sertão sem fronteiras definidas, que tendo início na margem direita
daquele rio se estenderia até Goiás.
Dizia-se, ainda, que havia ouro no rio Jacaré-Pepira – divisa
entre Dois Córregos e Dourado. José Bonifácio de Andrada e Silva,
o Patriarca da Independência, em sua “Viagem Mineralógica na
Província de S. Paulo” (tipografia Montenegro, Rio de Janeiro,
1892), relatou o seguinte:
“...ouvi que há muito ouro e diamantes nos rios Jacaré-Pepira e
Jacaré-Guaçu.”
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Existe, portanto, a já citada possibilidade de que o nome da
menina, bem como a cor de ouro do cabelo dela, tenham relação
com as lendas existentes durante a fase das Monções. Naquela
época, acreditava-se que o ouro só poderia ser achado com ajuda
sobrenatural, daí o papel das lendas. E uma menina que levava o
ouro já no nome, não deveria estar fora desse contexto.
Com o fim do ouro de superfície no Mato Grosso, a navegação
do Tietê diminuiu, ficando para trás o sonho de enriquecimento
através desse metal. A Menina do Ouro, porém, viria a ter uma nova
ocupação na zona rural: passou a ser a entidade que faz as crianças
se perderem na floresta, dando um bom motivo para que seus pais
não as deixem entrar na mata.
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O UNHUDO
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O UNHUDO
Numa das pequenas grutas do monte Pedra Branca mora o
Unhudo. Dizem que as suas unhas, ou garras, são realmente muito
grandes, que ele tem cerca de dois metros de altura, que possui
cabelos compridos e que usa um chapéu de palha, cujas abas já estão
desfiadas pelo tempo.
Mas o Unhudo não pode ser considerado um ser humano, já que
se trata de uma entidade fantástica, pois, quem o viu garante que por
trás das roupas esfarrapadas não há carne e a pele dele é um couro
seco. Desse modo, segundo se comenta, o Unhudo seria um morto-vivo.
Quando passa alguma boiada perto da Pedra Branca, o Unhudo
esconde-se atrás de um tronco de árvore e fica repetindo o aboio que
os boiadeiros costumam dizer com sua fala cantada para tocar o boi.
Assim, se o boiadeiro grita “ Ôh! boi!”, o Unhudo repete “ Ôh!
Boi!” – como se fosse um eco.
Esse ser fantástico, porém, presta uma grande ajuda na preservação das matas que rodeiam a Pedra Branca, pois, segundo a lenda,
ele não aceita que as pessoas colham jabuticabas silvestres e nem
orquídeas naquele local. E toda pessoa que entrar na floresta estará
correndo o risco de irritar o Unhudo, cujo tapa costuma arremessar o
indivíduo para o outro lado do rio Tietê.
Como exemplo pode ser citado o caso do lavrador Zé Ramos,
que morava naquele baixão de serra com a sua família. De acordo
com o depoimento de seu filho Neguito Ramos (hoje Neguito reside
na zona urbana de Dois Córregos), certa vez, no início do século 20,
Zé Ramos entrou na mata da Pedra Branca pra catar jabuticabas
silvestres. Ele já estava trepado numa jabuticabeira, quando ouviu
uma voz rouquenha, que lhe disse:
– Moço, essa fruteira ´tá reservada pra mim.
Percebendo que não estava diante de um ser humano e sim de
uma entidade perigosa, Zé Ramos sacou sua garrucha e deu dois
tiros no peito do Unhudo. As balas, no entanto, atravessaram o
fantasma sem fazer nenhum dano e no mesmo instante Zé Ramos foi
atingido por um tapa do morto-vivo, perdendo os sentidos.
Após ficar sumido durante dois dias, Zé Ramos foi achado no
bairro das Contendas, que fica perto do loteamento Docemar, na
........
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margem do rio Tietê. Depois disso, ele se tornou um homem muito
abatido, tanto que o nome Unhudo passou a ser evitado em sua casa,
pois, sempre que alguém falava sobre essa assombração ele se
emocionava e não conseguia conter as lágrimas.
Outro que declarou ter sido atacado pelo Unhudo é o pescador
Pacílio Inácio Cardoso, mais conhecido como Cardosinho. No ano
2000, quando morava com sua família na fazenda Água Vermelha,
na beira do rio Tietê, certa tarde ele decidiu ir colher orquídeas na
mata do monte Pedra Branca. Seguiu acompanhado por dois amigos,
mas estes ficaram na beira do mato desafiando o Unhudo em tom de
zombaria.
Diz o Cardosinho, que o Unhudo saiu de um buraco existente na
pedra e o agrediu por trás. Antes de ser atacado, Cardosinho ainda
chegou a perceber que não estava sozinho no mato, mas não teve
tempo pra virar o corpo e nem viu o Unhudo, pois, tomou um tapa
muito forte nas costas, que o jogou violentamente no chão, sofrendo
fratura exposta no braço direito.
Após ouvirem seus gritos, os amigos acudiram-no levando para o
hospital da Santa Casa de Jaú, onde ele passou por cirurgia.
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Estatueta do Unhudo em ferro e aço, 80 cm de altura,
criada no ano 2009 pelo artista plástico dois-correguense
Roberto Baptista Cruz, residente em Mogi das Cruzes.
O Unhudo – estatueta esculpida em madeira pelo artesão Mario
Pedroni, radicado em Agudos (SP). Década de 1990.
Foi adquirida na “feirinha de artesanato” de Bauru.
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A ALMA PENADA DO MAJOR CESÁRIO
SERIA O UNHUDO
Existe uma versão sobre o Unhudo, que envolve a figura do
major Cesário Ribeiro de Barros, falecido em 21 de março de 1935 e
sepultado no cemitério de Dois Córregos. Alguns meses depois de
ser enterrado, sua sepultura foi aberta pelo coveiro para um serviço
de rotina no cemitério e então este descobriu que o corpo do major
estava perfeitamente conservado, sem nenhuma putrefação.
Naquele tempo acreditava-se que, se o corpo de uma pessoa
falecida não se desmanchasse, o espírito dela jamais teria sossego e
se transformaria numa alma penada, por isso o major foi levado ao
campanário da igreja matriz, um lugar mais perto do céu, onde se
esperava que ele encontrasse a paz. Mas lá o corpo dele também não
se desfez, por isso foi devolvido ao cemitério.
Em vida, o major Cesário era considerado um cidadão respeitável, que doou parte de sua chácara para a construção do hospital
da Santa Casa de Misericórdia de Dois Córregos. Mas o fato de ele
ter sido arrendatário das terras onde se situa a Pedra Branca levou o
povo a comentar que o Unhudo seria a alma penada dele.
Além disso, havia outras coincidências fazendo com que o povo
ligasse os dois personagens. O major possuía um grande pomar de
jabuticabeiras nos fundos de sua casa, do qual cuidava diariamente,
e a lenda do Unhudo também faz referência a jabuticabas.
Por fim, certamente o corpo do major teria sido desenterrado
numa época em que o Unhudo era muito comentado, de modo que a
não-putrefação do defunto deu margem a esse tipo de especulação.
► Cavalgada Noturna da Caça ao Unhudo – O evento reúne
“caçadores de lendas” da região, que, partindo de Mineiros do Tietê,
seguem por estradas e trilhas em direção ao monte Pedra Branca.
Durante a cavalgada, sempre surge um Unhudo perfeitamente
caracterizado, já que de noite a maquiagem ganha retoques naturais.
O passeio é promovido pelo grupo Ecoturismo, com o apoio das
prefeituras de Mineiros do Tietê e Dois Córregos.
No dia 04 de abril de 2009, que caiu num sábado, foi realizada a
terceira versão desse passeio, com filmagem pela TV TEM (Globo –
Bauru), cuja reportagem seria levada ao ar dois dias depois.
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O UNHUDO NA TV
Entre as lendas de Dois Córregos, a do Unhudo é a que tem sido
mais divulgada, principalmente pela TV. Mesmo antes de publicar o
livro “Lendas de Dois Córregos” no ano 2000, este autor, levado pelo objetivo de opor alguma resistência à massificação cultural, já
havia conseguido fazer com que vários canais de televisão se interessassem pelo Unhudo.
Abaixo, listamos as principais reportagens.
► TV Bandeirantes – No ano de 1995 o programa “Linha de
Frente” levou ao ar extensa matéria sobre o Unhudo e também sobre
a dança da catira na zona rural de Dois Córregos.
► TV SBT – Em 12 de junho de 1998, o programa Documento
Especial mostrou a lenda do Unhudo.
► Jornal da Cidade, de Bauru – Em 29 de outubro de 2000,
uma foto na capa mostrava a fratura exposta no braço do pescador
Cardosinho, que declarou ter sido atacado pelo Unhudo.
► TV TEM (Globo/Bauru) – Em 18 de julho de 2003, foi levada ao ar uma matéria sobre o Unhudo, que seria reprisada em janeiro
de 2005.
► TV Record – Em 24 de outubro de 2005, no programa Repórter Record, a lenda do Unhudo ganhou espaço em rede nacional.
► TV Record – Em julho de 2008, novamente em rede nacional, o programa Balanço Geral, numa reportagem apresentada pelo
repórter Gerson de Souza, focalizou a lenda do Unhudo.
Com um marketing de tal porte, o Unhudo só poderia, mesmo,
tornar-se popular. Além disso, várias cidades vizinhas de Dois
Córregos ajudam a promovê-lo, como se ele lhes pertencesse. (Mas
a quem pertenceria uma lenda?).
E não deve ser esquecido o estilo de divulgação de Mineiros do
Tietê, que cria uma disputa cultural saudável com Dois Córregos.
Afinal de contas, até mesmo as polêmicas fortalecem o Unhudo,
pois, como todo mito, ele só continuará sobrevivendo enquanto for
lembrado.
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A NOIVA DO JARDIM
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A NOIVA DO JARDIM
Diz a lenda, que, no início de Dois Córregos, na antiga capela
feita de barro e coberta de sapé aconteceu um fato muito triste.
Durante a celebração de um casamento, o noivo não compareceu à
igreja. O drama da noiva emocionou os convidados e, mesmo depois
de todos deixarem o local, ela em prantos não queria sair da capela,
na esperança de que o noivo ainda aparecesse.
Já era noite, quando, com a ajuda do padre, seus pais conseguiram levá-la para casa, onde vestida de noiva se deitou em sua cama
e na mesma noite veio a falecer.
Foi enterrada com seu lindo vestido branco, que ela mesma havia
feito, e em suas mãos foi colocado um buquê de rosas e margaridas
brancas, que na ocasião exalava muito perfume.
A tragédia da noiva chocou a população, e passado um certo
tempo começou a surgir o boato de que a noiva aparecia à meia-noite perto da capela.
A Noiva do Jardim só ganharia esse nome depois de o jardim ser
construído, em 1909. A inauguração da igreja matriz aconteceu em
1911, quando a antiga capela já estava demolida.
Uma das testemunhas sobre as aparições da Noiva seria um jardineiro encarregado daquela praça, no final do século 20. Ele afirmou
ter visto, certa noite, a Noiva entrar na igreja matriz e depois sair.
Assim sendo, não há como negar a força dessa lenda, que
conseguiu assimilar as grandes alterações ocorridas na paisagem
urbana, no decorrer dos tempos, e ainda sobrevive, qual se nada
houvesse mudado.
É como se o espírito da noiva ainda permanecesse acreditando
num sonho tão antigo quanto impossível.
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A estátua da Noiva do Jardim, ao lado de um chafariz, na praça onde
ela aparece, já se tornou um ponto turístico.
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COMENTÁRIOS SOBRE A NOIVA
Em frente da antiga capela existia um grande matagal, que seria o
local das aparições da Noiva, já que o jardim ainda não havia sido
construído. Notícias da época dão conta de que vacas pastavam
tranquilamente no centro da cidade, pois, não havia o costume de
cercar os lotes vagos.
Desde o início das obras da igreja matriz, as pessoas preocupavam-se com o terreno baldio vizinho da construção. Em 1903,
vários cidadãos começaram uma campanha para arrecadar fundos de
modo a construir uma praça, mas seria necessária uma importância
muito alta, por isso a campanha não vingou.
Em 1908, porém, o prefeito Carlos Neves começou a fazer a
praça com dinheiro de seu próprio bolso, dizendo que não seria justo
sacrificar verba pública numa obra de luxo como um jardim. Já em
1909 a praça ficaria pronta, toda ornada com dálias e margaridas.
Em volta do jardim foi feita uma cerca contendo dois portões de
madeira para impedir a entrada de animais. Naquele mesmo ano, por
indicação do vereador Rulfo Nonato, o jardim ganharia o nome de
praça Major Carlos Neves.
Na década de 1950, durante a noite a praça era frequentada por
rapazes, que faziam vigília para tentar ver a Noiva do Jardim.
Diziam eles, que a Noiva, quando surgia, desaparecia de repente,
mas logo reaparecia noutro canto da praça.
Conforme relato da saudosa “Teia” Buch, que morou com sua
família na esquina da praça Major Carlos Neves, nº 73, houve uma
certa madrugada, por volta de 1970, na qual ela viu a Noiva entrando na igreja.
Assim sendo, além de aprovar o novo templo, a Noiva não
chegou a estranhar o jardim, que agora lhe empresta o nome.
► Record News – Esse canal de TV, em rede nacional, apresentou
uma reportagem sobre a Noiva no dia 04 de fevereiro de 2009.
► TV TEM (Globo / Bauru) – No dia 03 de maio de 2009, no
programa “De Ponta a Ponta”, a Noiva do Jardim voltou à TV.
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O CAMINHÃO-FANTASMA
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O CAMINHÃO-FANTASMA
Dizem que de madrugada, nas ruas dos canaviais de Dois Córregos, às vezes aparece o Caminhão-Fantasma, de farol alto e trafegando sem motorista. Os caminhoneiros que já cruzaram com esse
veículo falam que, primeiramente, só se vê a luz, que quase cega os
olhos, mas, quando eles ficam rentes ao canavial para dar passagem
o Caminhão-Fantasma se apaga completamente, desaparecendo
como por encanto.
Sebastião Aparecido Simião, mais conhecido como Saúva, conta
que, certa madrugada, numa estrada canavieira perto de Guarapuã,
iam a pé ele e o falecido Vicente Martins Filho, quando de repente
surgiu o clarão provocado pelo farol alto. Os dois foram obrigados a
ficar rente à borda do canavial para deixar o veículo passar, mas
logo viram que se tratava do Caminhão-Fantasma e isso os deixou
com muito medo, pois os faróis se apagaram, o caminhão ficou em
silêncio e desapareceu, muito embora não houvesse, ali, nenhuma
outra estrada por onde ele pudesse ter entrado.
COMENTÁRIO
Os canaviais de Dois Córregos tomaram impulso em meados do
século 20, como resultado do crescimento da Usina Santa Adelaide,
que havia sido fundada em 1939. Mas a lenda do Caminhão-Fantasma surgiria depois, por volta de 1960, e tornou-se popular,
principalmente entre os motoristas de caminhão, numa época em
que as lavouras de cana-de-açúcar já se expandiam por todo o
Município.
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O CAVALEIRO VESTIDO DE BRANCO
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O CAVALEIRO VESTIDO DE BRANCO
Diz a lenda que à meia-noite, em cima da cachoeira Véu de
Noiva, costuma aparecer um cavaleiro todo vestido de branco
montado num cavalo também branco.
A visão fantasmagórica desse cavaleiro, cujas roupas brilham no
escuro, deixa as pessoas apavoradas, com medo de serem atacadas
por ele. Por isso mesmo, é um fato comum as visitas àquela
cachoeira serem evitadas durante a noite.
COMENTÁRIO
A cachoeira Véu de Noiva com aproximadamente 8 metros de
altura fica na fazenda da família Magro, mas pertencia a João
Modesto da Costa, cuja filha Belarmina se casaria com o coronel
Arlindo Barcelos.
Há uma versão sobre essa lenda, que diz ter sido ela inventada
por João Modesto da Costa para afastar os intrusos. Isso porque no
meio da trilha que leva à cachoeira funcionava uma pequena usina
geradora de energia elétrica, cujo propósito era fornecer eletricidade
para o bangalô da fazenda. A existência de um fantasma seria uma
maneira de amedrontar os caçadores e pescadores noturnos, pois,
João Modesto temia que alguém entrasse à noite no rancho da usina
e danificasse algum equipamento.
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A ÁGUA DA NHÁ EVA
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A ÁGUA DA NHÁ EVA
Desde o início do século 20, até em torno de 1980, era comum o
dois-correguense dizer aos visitantes, que se eles bebessem a água
da mina da nhá Eva acabariam voltando. E essa história tornou-se
tão popular, que a cidade acabou sendo conhecida como a “terra da
nhá Eva”.
COMENTÁRIO
A fonte ficava na margem esquerda do córrego Lajeado, no lado
de cima da ponte da avenida D. Pedro I. Com certeza, houve uma
época em que essa água vertia no quintal de uma senhora de nome
Eva, surgindo daí a expressão água da nhá Eva.
Antigamente, ao pronunciar o nome de uma mulher, antes dele se
dizia nhá, pois o uso comum da palavra sinhá acabou suprimindo o
fonema inicial (aférese).
Em meados do século 20, porém, já não havia nenhum registro
sobre nhá Eva, restando somente a lenda. Mas a expressão “terra da
nhá Eva” encontrava opositores; diziam eles que em vida essa
mulher teve má fama.
Em torno de 1985, entretanto, o Instituto Adolfo Lutz, de Bauru,
analisou as fontes urbanas e constatou a contaminação por
coliformes fecais. Em vista disso, a Cetesb interditou o consumo
dessas águas pela população, inclusive a da nhá Eva. Por isso
mesmo, a fama lendária ostentada pela água sofreu o devido
descrédito, tendo sido a lenda derrotada pela Ciência. Com a sua
água proibida, anos depois a fonte da nhá Eva acabaria soterrada
pela Prefeitura.
Mas de acordo com o saudoso poeta dois-correguense Mário da
Silva Brito, ex-diretor da Editora Civilização Brasileira, Dois
Córregos não teria perdido grande coisa com o fechamento da mina,
pois, essa história de que quem bebe determinada água acaba
voltando é um slogan já utilizado por outros municípios.
Também quanto ao lema “cidade amizade”, aprovado até pela
Câmara, Mário tinha idêntica opinião: é um lugar-comum adotado
por várias cidades.
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A MÃE DO OURO
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A MÃE DO OURO
Essa entidade fantástica, guardiã das minas auríferas, no início
não possuía forma humana. Era uma bola de ouro envolta em
chamas, perseguidora dos homens, que, seduzidos pelo sonho de
riqueza, abandonavam o lar.
Mais tarde tomou forma de mulher sedutora e desde então mora
numa gruta submersa do rio Tietê, rodeada de peixes (uma influência da “mãe-d´água” do fabulário amazônico), e dali se estende
pelos ares, num séquito de luzes vivas.
Diz a lenda que a pessoa que conseguir ver a Mãe do Ouro subir
ao céu, derramando ouro em pó entre os dedos, deve guardar
segredo dessa visão para não quebrar o encantamento e também
deve ir até o local onde o ouro estiver caindo, pois lá existe, com
toda a certeza, um veio desse precioso metal.
COMENTÁRIO
A lenda da Mãe do Ouro, nesta versão paulista, faz parte da
tradição oral da população ribeirinha do rio Tietê. Está entre as
crenças que costumam ligar a descoberta desse metal à ajuda do
sobrenatural. Essa história vem, portanto, desde a época das Monções, quando o povo de São Paulo descia o Tietê para ir minerar o
ouro de superfície no Mato Grosso.
Nesta região do médio Tietê, a lenda da Mãe do Ouro povoava a
mente dos pescadores, rica em crendices. E a população que beirava
o rio seria bem numerosa, tanto que em 1873 passou a funcionar a
navegação comercial desde o porto João Alfredo, no rio Piracicaba,
até o porto Lençóis, no rio Tietê. Mais tarde essa navegação seria
estendida ao ancoradouro próximo do salto de Avanhandava.
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AS CANOAS SEM REMO
Quando uma canoa desce o rio Tietê, sem que nenhum barqueiro
a esteja remando, costuma-se dizer que ela está levando as almas de
antigos bandeirantes falecidos nesse rio.
COMENTÁRIO
Tal qual a Mãe do Ouro, a lenda das Canoas sem Remo não é
uma exclusividade dois-correguense. Ela pertence ao fabulário que
já existia entre os pescadores e barqueiros, quando os paulistas
desciam o Tietê para ir às minas de ouro do Mato Grosso, e,
portanto, vem desde a pré-história regional. Essa lenda também é
citada por Washington Luís Pereira de Sousa no livro “Capitania de
São Paulo”.
Depois do fim do ouro de superfície, que havia feito com que as
Monções adotassem o rio Tietê como um caminho, aconteceria a
doação de sesmarias nas margens desse rio, em torno do ano 1800,
de modo a sedimentar a população ribeirinha.
É interessante notar que os moradores ribeirinhos, ao ver uma
canoa descendo a correnteza sem nenhum remador, em vez de
preferirem a hipótese mais lógica – a de que essa canoa se soltou de
seu ancoradouro por ter sido mal-amarrada – apelam, entretanto,
para uma justificativa sobrenatural. E quando a superstição fala mais
alto, ninguém se atreve a pegar a canoa para si, pois, fica valendo a
crença de que os espíritos estão dentro da canoa e eles não iriam
aceitar que ela lhes fosse tomada.
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A NOIVA DA CACHOEIRA
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A NOIVA DA CACHOEIRA
Contam que uma moça vestida de noiva às vezes aparece na parte
de cima da cachoeira do Vernier e que a água caindo forma a longa
cauda de seu vestido branco.
Esse espectro seria a alma sofrida de uma jovem, que se suicidou
pulando de cima da cachoeira, depois de ter sido abandonada pelo
noivo. Agora, sua alma vaga por aquelas paragens, mas a beleza
deslumbrante da queda d´água contrasta com a fama de um desfecho
infeliz e trágico, que logrou tirar a vida da noiva.
COMENTÁRIO
A cachoeira do Vernier, devido à altura de sua queda – cerca de
70 metros – nem precisaria de uma lenda para ser o cenário fantástico que é, enriquecido pela flora exuberante da fralda da serra.
Não se pode negar, entretanto, que a lenda consegue acrescentar
mais poesia a esse recanto já tão privilegiado. E quanto ao suposto
suicídio da moça, não há registros ou testemunhas que o possam
comprovar.
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Causos
e
Curiosidades
O LAMPIÃO DO PADRE
O povoado São Paulo de Piratininga, que, com o passar dos anos
teria o nome simplificado para São Paulo, desde o início vinha
sendo hostilizado por índios do grupo Macro-Jê, cujo aldeamento
seria na região do médio Tietê, onde hoje está Dois Córregos.
O médio Tietê fica distante mais de 200 km da capital paulista,
porém era normal entre os indígenas percorrer longos trajetos. Eles
subiam o rio e atacavam São Paulo de surpresa, mas fugiam mata
adentro tão logo os paulistanos começassem a reagir.
Indignado com o atrevimento desses selvagens, o governador
Mem de Sá autorizou a formação de um grupo armado para ir ao
médio Tietê e aplicar-lhes uma boa punição, indicando o padre José
de Anchieta como capelão do grupo.
O comboio desceu o rio em canoas, mas não conseguiu chegar à
aldeia dos índios inimigos, pois houve vários acidentes durante a
viagem, de modo que o grupo acabou retornando sem cumprir a
missão.
Um desses acidentes foi o naufrágio da canoa que levava Anchieta: a embarcação virou debaixo de uma cachoeira. O padre, porém,
escapou com vida, por isso a referida queda d´água, situada nas proximidades da atual cidade de Porto Feliz, passou a ser chamada de
Avaremandoava, que na língua tupi quer dizer lembrança do padre.
Em razão daquele acidente com o padre José de Anchieta, surgiu
a lenda de que ele foi tirado do fundo das águas trazendo numa das
mãos um lampião aceso, enquanto lia o seu breviário – que segurava
com a outra mão.
OS CAIAPÓS ATACAM JUNDIAÍ
Como já dissemos acima, índios do tronco Macro-Jê dominaram
o médio Tietê, onde hoje fica Dois Córregos, durante vários séculos.
Conforme escreveu o historiador Taunay (1), em 1750...
“...os bilreiros ou caiapós, índios do médio Tietê, chegaram a
invadir Jundiaí, em cuja matriz puseram a tocar o sino”.
Mas o barulho do sino assustou os caiapós, que saíram em fuga.
(1) Afonso d´Escragnolle Taunay, História Geral das Bandeiras
Paulistas, Tipografia Ideal, São Paulo, 1924.
39
A ORIGEM DO NOME BANHARÃO
De acordo com a tradição oral, o fato aconteceu no tempo das
Monções, quando a existência de ouro no Mato Grosso levava os
paulistas a descer o Tietê em canoas. Vivia-se uma fase na qual o
tupi moderno, ou língua geral, ou ainda nheengatu, era a língua mais
falada em S. Paulo, devido à convivência entre tupis e portugueses.
Conforme se sabe, uma canoa navegava perto da foz do rio Piracicaba, onde havia uma cachoeirinha. Com uma tripulação indígena,
a canoa levava alguns portugueses. De repente foi ouvido um forte
barulho, talvez provocado por algum bicho que havia pulado nas
águas. Naquele mesmo instante um dos índios disse “bae nharon”,
que em tupi quer dizer “coisa brava”. Desde então, o local passou a
ser conhecido como “cachoeirinha do Banharão”.
Hoje essa cachoeirinha pertenceria ao município de Dois Córregos, mas está encoberta pelas águas da represa de Barra Bonita.
A FUNDAÇÃO DE DOIS CÓRREGOS TEVE A AJUDA
DE UM CARRO DE BOI
Em 04 de fevereiro de 1856, a igreja católica autorizou erguer
uma capela em louvor ao Divino Espírito Santo no bairro do Rio do
Peixe, que pertencia a Brotas. Essa autorização subentendia a
formação de um povoado no entorno da referida igreja.
José Alves de Mira, um dos doadores das terras que passaram a
compor o patrimônio da capela, ofereceu-se para construí-la por
conta própria ganhando assim o direito de escolher o local do templo. E ele faria a escolha de um modo original, soltando um carro de
boi carregado de madeiras, na parte alta da atual rua Joaquim de
Almeida Leme (continuação da rua 15 de Novembro), sob a promessa de começar a obra aonde o carro de boi parasse (2); e os bois
pararam exatamente atrás do lugar onde hoje está a igreja matriz.
A capela foi feita com paredes de barro e coberta de sapé. Os
fiéis acomodavam-se no chão, que era de terra batida, mas logo
foram colocadas pedras soltas para servir de assentos improvisados.
(2) Depoimento oral de Teodomiro, ex-escravo, falecido em meados
do século 20. Ele trabalhou na casa de João Alves de Mira e Mello,
filho do fundador de Dois Córregos.
40
A FALTA DE VELAS
Durante o século 19, na zona rural de Dois Córregos, se acaso
houvesse algum doente em estado grave, mas morando em lugar
afastado, onde o padre não pudesse chegar a tempo de lhe dar a
extrema-unção, era costume as orações serem rezadas pelas pessoas
que estivessem no local; depois elas colocavam na mão do
moribundo uma vela acesa para que ele se confessasse arrependido
de seus pecados, mesmo sem a presença de nenhum sacerdote (3).
Mas houve o caso de um doente, isso por volta de 1880, em cuja
mão foi preciso colocar um pequeno pedaço de bambu aceso, devido
à falta de velas.
O problema é que o bambu costuma estourar, quando o fogo
chega ao nó, sendo que havia um nó naquele bambu. Por isso
mesmo, angustiava as pessoas a possibilidade de acontecer um
estouro, que matasse de susto o doente antes de ele fazer a sua
última confissão, pois o mesmo estava de coração fraco.
Para alívio de todos, porém, ele acabou confessando-se antes de
o fogo chegar ao nó. Então o estouro foi evitado, pois o pedaço de
bambu pôde ser apagado a tempo e o homem descansou em paz.
NADA DE PEPINOS
Em junho de 1896, durante a epidemia de febre amarela, muita
gente fugiu deixando a cidade quase vazia. Mas ninguém desconfiava, que a doença era espalhada por picadas de mosquito, por isso o
prefeito, achando que a epidemia fosse causada por alimentos de
difícil digestão, proibiu a venda de pepinos e melancias (4).
A OPINIÃO DE ARMIRA SOBRE D. PEDRO II
A inauguração da estação ferroviária de Mineiros do Tietê, em 4
de novembro de 1886, que passaria a se chamar D. Pedro II, contou
...
(3) História baseada no depoimento oral da dois-correguense Armira de Andrade Leite (1861–1976).
(4) O edital da Câmara Municipal proibindo a venda de pepinos e
melancias foi publicado em 1897 no jornal “O Combate”, de
Ernesto Leão Brasil.
41
com a presença do próprio imperador. O roteiro da viagem incluía
Piracicaba, e de lá a comitiva real embarcou no vapor da Cia.
Fluvial Paulista até chegar ao porto Maurício Machado, no rio Tietê,
em Dois Córregos – cidade à qual pertencia o bairro de Mineiros.
D. Pedro II e seus acompanhantes entraram em Dois Córregos
pelo caminho que passava sob o pontilhão da ferrovia. Depois, em
frente ao prédio da Câmara Municipal, o imperador foi muito aplaudido pelas crianças. Elas haviam ganhado cestinhas de bambu de
alça alta, cheias de balas, com a condição de bater palmas para ele.
Entre essas crianças estava Armira de Andrade Leite(5), que anos
depois afirmou ter ficado impressionada com a presença de D. Pedro
II, um homem alto e encantador, muito embora o encanto tenha diminuído quando ele usou da palavra, pois, tinha uma voz muito fina.
O GOL DE ASSOPRO
Em 1910, quando o futebol em Dois Córregos estava se
iniciando, o único time da cidade chamava-se Smart, nome copiado
de uma marca de calçado masculino fabricado na capital paulista e
tido como chique naquela época.
O centroavante do Smart era o “Ico” Baush, que ficaria famoso
por causa de um gol de assopro(6) feito contra um time da cidade de
Bariri.
Contam que o jogo estava empatado, mas, de repente o “Ico”
caiu na pequena área, sendo que sobre ele também caíram dois
zagueiros. Não tendo como se mexer, por sorte “Ico” percebeu que a
bola estava parada na risca do gol, então lhe ocorreu uma ideia de
craque: sem poder chutar, disparou um potente assopro, fazendo
com que a bola desse um leve movimento, porém suficiente para
ultrapassar a risca e marcar o gol.
(5) História baseada no depoimento oral da dois-correguense Armira de Andrade Leite (1861–1976).
(6) Esse texto teve como fonte a coluna “Escuta Essa”, do semanário “Opinião”, que circulou de 1992 a 1995 em Dois Córregos.
A referida coluna, bem como o jornal “Opinião”, tinham como
redator o autor deste almanaque.
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REVOLUÇÃO COM HORÁRIO PARA ALMOÇO
O saudoso Mário da Silva Brito, poeta e escritor nascido em Dois
Córregos residiu em São Paulo e contava que durante a revolução
Tenentista, em 1924, morreu muita gente na Capital. Além disso, a
artilharia governista, com os canhões Saint Chamond chegaram a
acertar o viaduto Santa Efigênia, o teatro Olímpia e a praça da
República.
De acordo com ele, havia um fato que chamava muita atenção
nessa guerra: os dois lados paravam de atirar das onze horas até o
meio-dia, como se tivessem feito um acordo. Segundo o Mário,
tratava-se de uma revolução com horário para almoço.
CHICA E OS MACACOS
Conforme contou Antônio Serezuela, Chica era uma mulher de
cor branca, que morava sozinha numa chácara perto das nascentes
do córrego Lajeado. Só não ficava totalmente sozinha, por que
possuía quatro macacos, com os quais se entendia muito bem, já que
ela havia domesticado todos eles.
Às vezes, Chica ia até o centro da cidade tocando pandeiro, enquanto seus macacos, mesmo levados em correntes como se fossem
cães, seguiam dançando dentro do ritmo. As pessoas ficavam
admiradas com a dança dos macacos e retribuíam atirando moedas.
Havia até quem afirmasse que um dos macacos, encarregado de
recolher as moedas, conhecia dinheiro tão bem que sabia fazer troco.
A FARTURA NO MORRO ALTO
Ita Garcia contava que no Morro Alto as pessoas viviam com
muita fartura (7). Segundo ele, uma moradora possuía um porco tão
gordo, que as costas do animal chegavam a trincar. Por isso mesmo,
na casa dela não se comprava óleo de cozinha, pois, para fazer a
comida ela pegava uma colher e tirava um pouco de banha das
trincas do porco, já que o suíno nem se importava.
(7) Causo baseado na coluna “Escuta Essa”, do jornal “Opinião”,
que circulou em Dois Córregos de 1992 a 1995. Boa parte das
histórias incluídas em “Causos e Curiosidades” tem como fonte
a referida coluna.
43
O GAVIÃO PREGUIÇOSO
Seu Vicente possuía um rancho de pesca e, certa vez, depois de
uma pescaria, resolveu limpar os peixes na beira do rio. Mas, a cada
vez que ele entrava no rancho para amolar a faca vinha um gavião e
levava algum peixe.
O interessante é que o gavião era muito folgado, pois, só roubava
peixe limpo.
BATISTA, O MAL-ASSOMBRADO
Todas as noites caíam pedras no telhado da casa de seu Batista e
dava pra ouvir uma corrente de ferro sendo arrastada em volta da
moradia. Ele ia ao quintal, olhava pra ver se era arte de alguém, mas
não achava nada. A família dele estava apavorada, então o padre foi
chamado e deu toda atenção ao caso: vestiu a batina e, devidamente
paramentado, rezou e benzeu a residência com água benta.
No dia seguinte, porém, as pedras voltaram a cair sobre o telhado e a corrente tornou a ser arrastada. Por isso mesmo, Batista e sua
família decidiram-se mudar e foram morar no Matão, que fica na
zona rural de Dois Córregos.
Na nova residência, entretanto o problema voltou a se repetir: as
mesmas pedradas e a mesma corrente se arrastando. Daí, Batista
voltou a procurar o padre, mas este se negou a benzer o prédio e
ainda disse o seguinte:
Seu Batista, se em toda casa que o senhor mora aparece
sempre o mesmo problema, então as casas não têm culpa, o senhor é
que é mal-assombrado.
ANÍBAL SABIA SE TRANSFORMAR
NUMA PEDRA
Na década de 1940, Aníbal Boava morava na fazenda de sua
família, nas margens do rio Jacaré-Pepira. O problema é que ele
estava sendo acusado de um crime de morte, por isso a Delegacia de
Captura, de São Paulo, vivia à sua procura.
Aníbal tinha como companheiro um tal de Severino e os dois
conheciam as matas daquela região como ninguém, tanto que os
policiais nunca conseguiram efetuar a prisão.
As artimanhas de Aníbal e Severino, que sempre furavam o cerco
da Captura, ganharam fama na região. Era comum ouvir as pessoas
...
44
dizerem que a dupla contava com a proteção de um santo muito
forte, cujo nome era mantido em segredo. Corria o boato, também,
de que a polícia não achava os dois, porque Aníbal havia aprendido
a se transformar numa pedra e Severino, num toco queimado.
SEU ZICO MACHADEIRO
Seu Zico, quando era moço, ganhava a vida derrubando árvores a
machado. Naquele tempo, todo homem que fizesse esse tipo de
trabalho era chamado de machadeiro.
Certa vez, seu Zico foi contratado, juntamente com outros
cinquenta machadeiros, para derrubar um jequitibá. Segundo ele,
durante o trabalho, um machadeiro não conseguia escutar o outro
bater o machado, de tão grosso que era o tronco do jequitibá.
BRIGA DE ASSOMBRAÇÕES
O mato do Jacu, perto da antiga fazenda dos Barcelos, sempre
teve a fama de ser um criadouro de assombrações. O saudoso seu
Eliseu costumava contar, que, quando ele morou naquelas bandas,
na década de 1940, ao atravessar a trilha que cortava aquele mato,
presenciou uma briga entre duas almas penadas. Ele garantiu que as
assombrações se agrediam com chibatadas de cipó.
O CACHORRINHO ESPERTO
Seu Natálio possuía um cachorrinho de estimação que era uma
beleza. O cãozinho não dava trabalho nenhum; bastava servir leite
pra ele, que estava tudo resolvido, pois, o cãozinho só tomava leite
puro, sem nenhuma mistura.
Certa vez, no entanto, a esposa de seu Natálio experimentou pôr
um pouco de café com leite pra ver se o bichinho aceitava, mas o
resultado foi uma surpresa. O cachorrinho usou a língua para ir
separando o café do leite e foi tomando apenas o leite até sobrar só
café no fundo da vasilha.
CANÁRIO É BICHO PRA POUCO ALPISTE
De acordo com Tilo Dinato, quem cria canário deve economizar
o alpiste, pois, caso contrário o bicho pode ficar muito forte e fugir.
Diz o Tilo, que ele, por exemplo, deu alpiste à vontade para o dele,
tanto que um dia o canário voou levando embora até a gaiola.
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QUANDO ELVIO DESMAIOU
Na ano de 1942, quando o garoto Elvio dos Santos desmaiou,
seus pais ficaram desesperados. O médico colocou uma colher de
prata na boca do menino, mas ela não embaçou, por isso o doutor
avisou que a criança estava morta.
Elvio tinha apenas nove anos de idade, e seu falecimento deixou
a família muito abalada.
Mas de noite, durante o velório na sala da casa, de repente Elvio
ergueu o corpo, sentou-se no caixão e disse que estava com fome. O
susto das pessoas foi tão grande, que saíram às pressas, de modo que
a porta ficou pequena para todos passarem ao mesmo tempo.
Os pais de Elvio, que também saíram correndo, voltaram logo,
pois se lembraram que aquele tipo de desmaio – a catalepsia – era
muito comum na família, mas os outros que fugiram não voltaram
mais.
TOBIAS NO EXÉRCITO
Aos dezoito anos, Tobias teve de servir o exército no Estado do
Mato Grosso. Algumas semanas depois, o sargento determinou que
ele levasse a farda e o quepe do tenente ao tintureiro. No caminho,
Tobias parou num fotógrafo, vestiu a farda do tenente, pôs o quepe e
tirou uma fotografia. Depois enviou a foto à sua família em Dois
Córregos, avisando que havia sido promovido.
Um tio do Tobias, apreciando a foto, disse:
Esse meu sobrinho vai longe. Entrou outro dia no exército e já
subiu a tenente.
A DOR NA PERNA DIREITA
Com noventa e dois anos de idade, seu Estéfano queixava-se de
não poder sair de casa, porque a perna direita doía. A família
resolveu, então, levá-lo a um médico.
No consultório o doutor apalpou a perna de seu Estéfano,
receitou uns comprimidos, mas avisou que não havia mais nada a
fazer, pois aquele era um problema da idade.
Inconformado com a resposta do médico, seu Estéfano respondeu:
Problema de idade não pode ser, porque a outra perna tem a
mesma idade e não dói.
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UMA FAMÍLIA DE SACIS
O saudoso Antônio Pereira afirmou que viu, na estrada do
Banharão Velho, uma família de sacis indo aos pulos.
O sacizão ia na frente, a sacia grávida, atrás e por último ia o
sacizinho tentando acompanhar os pais.
HOMENAGENS AO PRACINHA
Aristides Limoni foi o único dois-correguense que lutou na Itália,
durante a Segunda Guerra Mundial, por isso, quando voltou a Dois
Córregos no dia 06 de novembro de 1945, o povo já o esperava na
estação, para homenageá-lo como verdadeiro herói.
Chegou por volta do meio-dia, sendo recebido com banda de
música, mas, todos queriam abraçá-lo ao mesmo tempo, tanto que
naquele dia sumiram três botões de sua farda.
Anos depois, lembrando com bom humor aquela ocasião, Aristides confessou, que, apesar de sentir-se honrado com as homenagens,
as autoridades falharam em não incluir almoço no programa. Por
essa razão ele teve de agüentar até o anoitecer com a barriga vazia, e
a fome era tanta que nem conseguia prestar atenção nos discursos.
O CAÇADOR DE COBRAS
O pescador Pedro da Kombi morava na cidade, mas costumava
passar o dia inteiro na beira d´água armando redes, principalmente
no rio Tietê.
Além de pescar, ele tinha o hábito de caçar cobra cascavel, que
pegava com as mãos, sem nunca ter sofrido nenhuma picada. E
todas as cascavéis conseguidas eram enviadas ao Instituto Butantã,
que usa o veneno delas para produzir o soro antiofídico.
Pedro pegava cobras havia tanto tempo, que não tinha nenhum
medo delas. Com um pedaço de pau, cutucava a cascavel até ela
ficar irritada e armar o bote; então ele levava a mão rapidamente
logo abaixo da cabeça dela e a segurava.
Mas a coragem do Pedro só pegou fama, quando ele deu carona a
um certo rapaz. Durante a viagem, de repente o moço levou um
susto, ergueu os dois pés e disse:
Parece que eu vi uma cascavel passar debaixo do meu banco...
Presta bastante atenção, que só nesse lugar têm duas – respondeu
o Pedro da Kombi.
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A COBRA QUE MAMAVA NA VACA
Por volta de 1950, na fazenda Matão, seu Grégio possuía uma
vaca, que pariu um bezerro. Certo dia, ele percebeu que a vaca
estava abandonando a cria para amamentar uma cobra escondida
num tronco podre.
Tentando resolver o problema, seu Grégio pegou a espingarda e
chegou perto do tronco, mas a cobra fugiu para o fundo do buraco.
Daí ele reuniu o pessoal da fazenda, e todos prometeram ajudar a
matar a cobra.
Na manhã seguinte, puseram fogo no tronco até a cobra sair. Era
uma jararaca muito grande e velha, tanto que nem a mataram,
porque já estava banguela.
UM LAGARTO DE CINCO METROS
Seu Fernando fazia uma viagem de automóvel, quando sentiu
vontade de tomar um refrigerante. Parou num bar à beira da estrada,
foi bem atendido, e ofereceu um copo da bebida a um senhor que
estava encostado no balcão.
Esse homem era uma pessoa simples, usava chapéu, e passou a
conversar com seu Fernando.
Durante a conversa, porém, deu pra perceber que o homem mentia um pouquinho, pois contou que naquela manhã havia visto um
“largato” de cinco metros atravessando a estrada. Então seu Fernando, que gosta do português falado corretamente, disse ao homem:
Eu acho que o senhor viu um lagarto, porque “largato” não
existe.
Olha, seu moço – respondeu o homem –, ele passou tão
depressa que nem deu pra saber direito.
ATRASANDO A CHUVA
Nicolau morava em Ventania e costumava benzer os doentes que
o procuravam. Além disso, era um rezador famoso, pois, diziam que
com a sua reza ele conseguia atrasar as tempestades.
Seu Antônio Serezuela chegou a testemunhar esse poder de
Nicolau, já que certa vez eles foram levar uma tropa de cavalos até o
Tabuleiro. Durante a cavalgada, o céu escureceu ameaçando chover.
Fique sossegado – disse Nicolau –, se Deus quiser a gente não
vai se molhar.
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Ele falou isso e começou a rezar, enquanto o céu continuava
escuro. A cavalgada foi longa, mas Nicolau não parou com a oração.
Depois de entregar os animais, os dois entraram na casa do sitiante,
e só então a tempestade bateu. Daí, Nicolau disse pro Serezuela:
Fazer chover, isso eu não sei, mas com a ajuda de Deus
sempre consigo atrasar a chuva.
A ÉGUA QUE PESCAVA TRAÍRAS
O saudoso Eugênio Reinato, excelente contador de causos, tinha
uma história muito famosa: a da égua, que ele ensinou a pescar
traíras. Segundo ele, a égua, quando via uma lagoa se aproximava
com um fiapo de capim entre os dentes e começava a beber água.
Então a traíra, querendo comida, abocanhava fiapo e dente ao
mesmo tempo, mas naquele exato momento a égua empinava para
trás jogando o peixe pra fora d´água.
Contava ainda o Eugênio, que só numa dessas pescarias a égua
chegou a pescar sete traíras.
COMENDO IÇÁ FRITO
Um dos grandes problemas da lavoura, por volta de 1955, era a
formiga saúva, pois ainda não havia nenhum veneno eficaz contra
ela. Tanto que ficou famosa a frase do escritor Monteiro Lobato:
“Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”.
No sítio Fura Olho, porém, morava Pedro Balanceado, cujo
maior prazer era comer içá frito (o içá ou tanajura é a fêmea da
saúva, que sai voando para formar um novo formigueiro). Havia até
a conversa de que se todos passassem a comer içá como ele, o
problema da lavoura estaria resolvido.
UM PESCADOR QUE EVITAVA MENTIR
Quando Eugênio voltou da pescaria, o Lauro lhe perguntou se
tinha pegado muito peixe.
Peguei noventa e nove lambaris – disse o Eugênio.
Então o Lauro sugeriu, que a conta fosse arredondada pra cem
lambaris, porque noventa e nove era uma quantia bastante esquisita.
Mas o Eugênio respondeu:
E você acha que eu vou passar por mentiroso só por causa de
um lambari?
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A TROMBADA DA CARROÇA COM O FUSCA
Tilo Dinato estacionou sua carroça perto do Ponto de Táxi e foi
para o bar. Era um mês de junho, e havia alguns meninos soltando
bombinhas na rua. Quando uma das bombinhas estourou perto do
burro, este levou um susto tão grande, que saiu em disparada com a
carroça e acabou raspando o fusca de Valter Bush de fora a fora.
Ao descobrir de quem era a carroça, Valter foi até o bar e
conversou com o Tilo sobre a batida, pedindo a ele que pagasse o
prejuízo. O Tilo, no entanto, disse que não pagaria nada.
Mas não vai pagar por quê? – perguntou o Valter.
Porque o burro não tem juízo – respondeu o Tilo.
A VACA GULOSA
Samuel estava transportando alfafa no caminhão e então teve
vontade de tirar um cochilo, por isso estacionou no acostamento,
embaixo de um barranco.
Em cima do mesmo barranco, porém, havia uma vaca, que, ao
ver aquela carga apetitosa, pulou sobre a carroceria e almoçou a
alfafa. A vaca conseguiu comer toda a carga, mas Samuel seguiu
viagem sem saber de nada.
Quando teve que parar num posto de fiscalização, surgiu o
problema: na Nota Fiscal estava anotada a alfafa, mas não havia
alfafa nenhuma, só uma vaca gorda deitada na carroceria.
MÁRIO MARCONDES
Mário Marcondes, um homem simples e muito estimado, bateu
palmas na casa do doutor Simão para acertar um trabalho, mas foi
atendido pela esposa do doutor.
O doutor está? – ele perguntou.
Está, sim, o senhor quer que eu vá chamá-lo?
“ Então vá-lo” – respondeu Mário Marcondes, querendo falar
difícil como a dona da casa.
O RAIO FALHADO
Quando pararam os raios e a chuva, seu Dito viu um objeto
luminoso preso entre os galhos do abacateiro. Com uma vara de
bambu ele cutucou o objeto, que explodiu. Segundo ele, tratava-se
de um raio falhado.
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O VELHO DO PITO
No bairro de Guarapuã mora um homem conhecido como O
Velho do Pito, que passa o dia com o pito no canto da boca. Certa
vez, perguntaram ao Velho por que não mudava para o cigarro, que
é mais leve e faz menos fumaça. Então ele respondeu:
Este pito já salvou a minha vida, seu moço, por isso eu não
largo dele. Um dia eu caí no rio Jacaré e rodei água abaixo, pois,
infelizmente não sei nadar. E os companheiros só me acharam por
que foram seguindo a fumaça do pito.
A CHUVA DE PEIXES
Seu João, mesmo gripado, foi pescar num dia nublado, apesar de
sua mulher ter pedido para ele não ir. Voltou à tarde, debaixo de
chuva, com muita tosse, conseguindo deixar a esposa bastante
brava, tanto que ela pegou um punhado de bagres, vários deles ainda
vivos, e os jogou pela janela.
Alguns bagres, porém, passaram por cima do muro e caíram no
quintal do seu Manuel, casado com dona Maria. Seu Manuel estava
na janela apreciando a chuva, mas ao notar que havia bagres
pulando no quintal chamou a esposa e disse:
Venha ver uma coisa, Maria, você não vai acreditar. Agora
começou a chover peixes.
O ESTOURO DO BODE
O saudoso Ziquinho transportava um bode em seu caminhão,
quando o animal começou a berrar. Irritado com a insistência dos
berros, Ziquinho acelerou o caminhão, na esperança de que o bicho
ficasse com medo e se calasse. Muito embora o caminhão estivesse
a mais de cem por hora, os berros não paravam. E devido ao fato de
o bode não fechar a boca, o vento começou a enchê-lo de ar. Então
Ziquinho chegou a ver pelo retrovisor o bode se estufar feito uma
bexiga até estourar.
PERSEGUIDO POR UM ELEFANTE
O circo chegou à cidade e instalou-se na vila Grael, mas o elefante era obrigado a ficar solto nas ruas atrás de comida. Dizem que
esse tipo de animal tem que comer cerca de 500 quilos de alimento
por dia, e por coincidência seu Alves possuía uma bela plantação de
..
51
mandiocas perto do circo. Não demorou muito para o elefante ser
flagrado dentro do mandiocal. Primeiro, seu Alves deu uns gritos, de
modo a espantar o animal, mas este se fez de surdo. Sem ter
nenhuma experiência com elefantes, ele atirou uma pedra no bicho,
o que foi um grande erro. Seu Alves viu-se obrigado a fugir em
desabalada carreira tendo um enorme elefante a persegui-lo.
A cada passada do elefante o asfalto tremia, por isso as pessoas
saíam nas janelas para assistir à perseguição. Por fim, seu Alves
conseguiu chegar à sua casa e escapar da fera, mas, de acordo com a
opinião geral, aquele foi o melhor espetáculo do circo na cidade.
MEIO GOL
Além de trabalhar no corte de cana, Severino também era goleiro
de um time amador. A história que ele contou aconteceu por volta
de 1980, num sábado à tarde, quando saiu do serviço e seguiu às
pressas para o campo de futebol, onde seu time ia jogar. Sabendo
que não teria tempo nem de entrar no vestiário, Severino já foi para
o campo com o calção por baixo da calça e lá vestiu o resto do
uniforme. Daí fincou no chão o facão de cortar cana defronte à trave
direita, com a parte afiada voltada para o gramado.
A partida ia terminar 0 X 0, mas no último minuto o centroavante
adversário chutou a bola com força acertando o facão bem no fio.
Acontece que o facão de Severino era muito afiado, e cortou a bola
em duas partes, de modo que uma parte foi pra fora do gramado,
mas a outra metade entrou no gol. Imediatamente, o juiz validou
meio gol, por isso o time de Severino perdeu de ½ X 0.
CONTROLE DE ESTOQUE
Zé Camili contratou um pedreiro para construir uma casa, mas
fez questão de ficar controlando o gasto de material. Segundo ele, o
controle foi tão bom, que no final da obra só sobrou um tijolo – que
ele havia comprado a mais para usar numa emergência.
A VACA EGOÍSTA
A vaca Mimosa, de seu Anísio, pariu um bezerro, no entanto o
bichinho emagrecia dia a dia. Daí seu Anísio sondou a vaca e
acabou descobrindo que ela estava mamando nela mesma, por isso
não sobrava leite nenhum para o pobre bezerrinho.
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A SUCURI QUE FUGIU DO DONO
O saudoso “Paraná” ganhou esse apelido por ter morado uns
tempos na beira daquele rio, onde era pescador. Segundo ele, certa
vez caiu na rede um filhote de cobra sucuri, de cinco metros de
comprimento. Como vivesse sozinho, “Paraná” levou a sucuri para
morar no rancho dele. Construiu uma grade de bambu de modo a
dividir o rancho no meio e fechou a cobra do outro lado da grade,
imaginando que algum dia ela viesse a gostar do rancho.
A sucuri alimentava-se uma vez a cada seis meses, mas de
repente passou um ano inteiro sem comer nada, deixando o “Paraná”
preocupado com a saúde dela. Até que uma noite, ao voltar da
pescaria, ele viu que a cobra havia fugido. Então o “Paraná”
começou a entender por que a sucuri não vinha se alimentando. Na
verdade, ela estava fazendo regime para emagrecer, tanto que
conseguiu fugir passando entre os bambus da grade.
ALARME FALSO
Seu Celeste adoeceu de repente, por isso foi internado na Santa
Casa de Jaú. Infelizmente, havia um outro Celeste também internado, mas este acabou falecendo. Ao telefonar para a família do morto,
entretanto, a enfermeira confundiu-se, pegou por engano o número
de telefone do Celeste que estava vivo e em franca recuperação.
A família de seu Celeste recebeu com surpresa o falecimento
dele – que, porém, estava saudável, mas sozinho no hospital, pois
não era horário de visitas. Todos os parentes e amigos foram avisados e foi grande o sacrifício para comprar um caixão de qualidade.
Quando os familiares chegaram à Santa Casa tiveram uma nova
surpresa, mas muito agradável: seu Celeste estava mais vivo do que
nunca e tinha inclusive recebido alta. Os parentes até entenderam,
sem discutir, as desculpas do hospital, mas ficaram muito chateados
com a empresa funerária, que não quis aceitar o caixão de volta.
UMA HISTÓRIA DO ANTIGO BAR CENTRAL
Tarde da noite, o dono do bar Central já estava na cama, quando
o telefone tocou:
Alô, aqui é o Vandão, a que horas você vai abrir o bar?
Só amanhã às nove horas, Vandão. E não me telefona mais,
que eu tive um dia cheio e estou muito cansado – respondeu o dono
...
53
do bar.
Meia hora depois, outro telefonema:
Alô, aqui é o Vandão. Preciso que você abra o bar pra mim...
Será que eu sou algum palhaço? Trabalhei até tarde da noite e
agora você não me deixa dormir. Vê se para de me telefonar! – disse
o dono do bar.
Mas eu ´tô preso dentro do seu bar e preciso sair – respondeu o
Vandão.
PESCANDO FORMIGAS
Seu Oliveira estava pescando bagres de noite, mas não pegava
nada. Ao lado dele, no entanto, seus colegas fisgavam um peixe
atrás do outro.
Quanto mais os colegas pegavam, mais seu Oliveira procurava
manter a linha bem parada, sem mexer, pois, para ele esse sistema já
tinha dado certo antes.
Existia, porém um problema, que seu Oliveira não conseguia
notar: o anzol dele estava fora d´água – em cima do barranco. E ele
só não percebia isso, porque não havia levado lanterna e sentia
vergonha de emprestar a do colega. Mas teve que deixar a vergonha
de lado e, para poder olhar o seu anzol, pegou a lanterna de um
companheiro.
Então, quando ele clareou o anzol e viu a minhoca cheia de
formigas, disse em tom de desabafo:
Parece que aqui tem formiga até debaixo d´água.
O HOMEM QUE LAÇOU O GUARDA
Em 1992 o saudoso caminhoneiro Odair foi fazer uma entrega de
móveis em São Paulo, no bairro de Jaçanã.
Tranquilo como sempre, Odair achou a loja e já começou a
desamarrar a carga. Da calçada, ele jogou uma ponta da corda por
cima do caminhão, mas essa ponta tinha um nó, que enroscou
certinho no guidão de uma lambreta que passava naquele momento,
dirigida por um policial.
Enquanto teve corda, a lambreta andou, mas, quando a corda
esticou, o policial levou o maior tombo.
Odair foi parar na delegacia, onde varou a noite se desculpando,
e só foi solto no dia seguinte.
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A COLHEITA DE MILHO NO MORRO ALTO
De acordo com dona Geralda, moradora do Morro Alto, no ano
de 1990 a colheita de milho naquele bairro foi um exagero. Deu uma
quantidade enorme de espigas, por isso os porcos ficaram tão
cheios, que, quando achavam algum grão de milho desviavam os
focinhos.
Além do mais, dona Geralda percebeu que até as galinhas,
também enjoadas de tanta comida, ciscavam de modo a ir
enterrando os grãos de milho no chão.
A SUCURI COMPRIDA
O saudoso Geraldo Anésio, durante uma pescaria que fez no ano
de 1995, estava sentado na beira do rio Jacaré com as pernas
esticadas, quando de repente uma sucuri começou a passar sobre as
pernas dele. Geraldo, então, marcou no relógio: a cobra demorou 45
minutos para terminar de passar. Depois disso, ele ficou meio
abalado e chegou a comentar que, enquanto as cobras não
encurtassem de tamanho, ele não voltaria a pescar no rio Jacaré.
O NINHO MOTORIZADO
Pedro Fornalha saiu de caminhão e viu pelo retrovisor uma pomba seguindo o veículo. Rodou uns 200 quilômetros, mas a pomba
continuou voando atrás. Então ele parou no acostamento e descobriu
que na carroceria do caminhão havia um ninho com três ovos.
A CADELA PRENHE
Zé Mariano contou o caso de uma cadela prenhe, mas muito
brava, que atacou um lobo guará na serra da Capelinha.
Segundo ele, durante a briga, por causa do esforço, a cadela
começou a dar cria. Mas os cachorrinhos, conforme iam nascendo,
ajudavam a mãe a morder a perna do lobo.
Ao perceber que o número de inimigos só aumentava, o lobo
decidiu bater em retirada.
A COBRA QUE DESLOCOU O MAXILAR
Contou o Ziquinho, que ele escapou por pouco de levar uma
picada de cascavel. Por sorte a cobra, ao dar o bote, abriu a boca
demais e deslocou o maxilar, tanto que não fechou mais a boca.
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TIRAR A BANHA SEM MATAR O PORCO
Seu Zelão, quando esteve em Minas, presenciou um sistema de
tirar a banha sem matar o porco. Segundo ele, não existe nenhum
segredo: basta dependurar o porco de ponta cabeça e acender um
fogo brando debaixo do animal. Daí a banha vai pingando numa bacia, sendo que um suíno gordo chega a render dez quilos de banha.
O interessante é que os porcos parecem aceitar esse tipo de fogo
como se estivessem numa sauna. Depois, quando são soltos, dá pra
perceber a alegria deles: se antes mal conseguiam andar por causa
de tanta banha, com menos peso até correm pelo quintal.
VIAJANDO EM NAVIO DE CASCO FURADO
O saudoso Geraldo Anésio contou um fato muito curioso sobre a
imigração italiana.
De acordo com o Geraldo, o avô dele veio da Itália num navio
que já saiu de lá com o casco furado. Os passageiros tinham que ir
tirando a água com latas, dia e noite, por isso a viagem demorou
quase seis meses. E só não faltou comida, porque pelo buraco do
navio costumava entrar tanto peixe, que dava pra alimentar todo
mundo.
PESCANDO COM LARANJAS
Numa lagoa no município de Batatais, Mauro Zago descobriu
que lá se pegava muito peixe usando laranja como isca. Ele iscava
uma laranja inteira no anzol, pois o tal de peixe-canivete conseguia
descascar a fruta antes de abocanhar.
A CASCAVEL FRIORENTA
Aos oitenta e tantos anos de idade, seu Antônio Pereira ainda
trabalhava na roça e contava uns causos famosos.
Uma dessas histórias falava sobre uma certa manhã muito fria em
que ele foi trabalhar e pôs a marmita, ainda quente, sobre uma moita
de capim.
Logo depois, enquanto capinava, seu Antônio olhou para trás e
percebeu que a marmita estava se mexendo. Então ele se aproximou
e viu que debaixo da moita havia uma cascavel enrolada esfregando
as costas na marmita para se esquentar.
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Um Apanhado Geral
da
Cultura Popular
SIMPATIA PARA CORTAR ÍNGUA
A pessoa que vai fazer a simpatia segura um facão e pergunta ao
doente: “– O que eu corto?”. Ele responde: “– Íngua”. Então a
pessoa diz: “– Íngua eu corto”, enquanto bate o facão num portão
que dê para o quintal da casa.
Isso deve ser repetido durante três sextas-feiras até a íngua sumir.
SIMPATIA PARA CURAR GAGUEIRA
Deve-se tomar água da chuva, quantas vezes forem necessárias,
até a pronúncia afirmar.
REZA PARA CURAR “COBREIRO”
Havia uma benzedeira no bairro da Barra Funda, que curava
tanto o cobreiro (herpes-zoster) quanto o sapinho (afta branca ou
amarela na boca) com uma reza que servia para as duas doenças:
Eu te corto, cobra, cobrão, sapo, sapão,
Aranha, aranhão, lagarto, lagartão
E todo bicho de má nação
Para que não cresça, nem apareça,
Nem dobre o rabo com a cabeça.
SIMPATIA CONTRA VENENO DE COBRA
Até a década de 1950, quando uma pessoa era picada por uma
serpente, o costume era matar a cobra e enterrá-la de ponta cabeça,
pois se acreditava que com essa simpatia o veneno enfraquecia.
COMO TIRAR BERNE
Deve-se amarrar um pedaço de toucinho de porco no local. O berne passa do corpo do doente para o toucinho, que ele aprecia mais.
SIMPATIA CONTRA O QUEBRANTO
Aconselha-se colocar um ramo de arruda atrás da orelha da
pessoa que estiver pálida, com o corpo mole e abatida, pois ela
certamente pegou quebranto.
O quebranto costuma atacar a vítima de mau-olhado, tanto
direta, quanto indiretamente.
De maneira indireta é quando o quebranto faz, por exemplo, as
plantas secarem, ou o sabão no tacho não dar o ponto.
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BENZEDURAS À DISTÂNCIA
As rezas para bucho virado etc. são usadas ainda hoje, sendo que
o benzimento (1) de roupas de um doente, sem a presença dele, vem
do início de São Paulo. Esse sincretismo religioso nasceu da
convivência entre portugueses e índios, pois, as orações costumam
ser católicas, mas a prática de benzer à distância é de origem tupi.
BENZIMENTO PRA CORTAR O MEDO
Armira de Andrade Leite, que na terceira idade passou a ser
conhecida como ´vó Armira, era muito procurada para benzer crianças abatidas, que choravam de medo.
A criança ia segurando o braço de ´vó Armira, que passava a
caminhar com um machado na mão. Daí ela desferia leves machadadas no chão de terra e perguntava para a criança: “– O quê eu
corto?” E a criança tinha que responder: “– Medo”.
Essa pergunta era repetida várias vezes e, a cada resposta da
criança, ´vó Armira orava rapidamente em voz baixa.
SIMPATIA PRA ESTANCAR O SANGUE
Para estancar o sangue deve-se queimar um pedaço de tecido de
algodão e pôr as cinzas sobre o corte.
REZA PARA AFASTAR COBRAS VENENOSAS
O último rezador, em D.Córregos, foi Mário Dias, dono do Hotel
Dias – defronte da estação ferroviária. A reza e a bênção aconteciam
a pedido do dono do sítio no qual existiam serpentes. Dizia-se que
as cobras iam saindo da propriedade já durante a cerimônia.
DANÇA DE RODA
Até a década de 1960 era comum, nas ruas de terra, crianças e
adolescentes formar uma roda de mãos dadas e ir girando, lentamente, enquanto entoavam cantigas como “Ciranda, cirandinha
vamos todos cirandar...”. Também se brincava de esconde-esconde
e de cabra cega – em que uma criança com os olhos vendados procurava tocar com a mão outra criança para ser substituída por esta.
(1) Benzimento: termo popular paulista, o mesmo que benzedura.
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FESTA DE SÃO GONÇALO
NA FAZENDA SANTA LEOCÁDIA
Essa manifestação popular, de cunho religioso, aconteceu até a
década de 1960, ocasião em que o último rezador se mudou para a
cidade de Campinas.
Constava de reza e dança, em louvor a são Gonçalo, além de
comida por conta do festeiro. Era típica da zona rural, realizada para
pagamento de alguma promessa, por isso não possuía data certa para
acontecer.
Mas na fazenda Santa Leocádia, em Dois Córregos, a festa de são
Gonçalo era comemorada anualmente.
OS MORTOS DA ZONA RURAL
Antigamente havia o costume de trazer os mortos da zona rural
até o cemitério em um lençol, cujas pontas eram presas em uma vara
de bambu. Duas pessoas colocavam o bambu sobre os ombros, e o
defunto seguia balançando, enquanto os acompanhantes gritavam:
“As almas! As almas!” – que era o modo de chamar outros sitiantes
para que estes também os acompanhassem. Já na década de 1950,
passou-se a carregar nos bambus caixões rústicos em vez de lençóis.
ENCOMENDAÇÃO DE ALMAS NA QUARESMA
Até o final do século 20, durante a Quaresma, existia um grupo
de rezadores católicos, que saía pelas ruas produzindo um som com
três instrumentos peculiares. E só silenciavam seus artefatos,
quando paravam para visitar as casas, de modo a cumprir suas rezas
de encomendação das almas. Os instrumentos eram esses:
1) A matraca – feita com duas tábuas menores, que batiam em uma
tábua maior, sendo que a tábua maior ficava entremeio as duas. A
matraca fazia um grande barulho e era tocada com uma só mão.
2) O zunzum – um instrumento que era girado no ar causando um
zumbido alto.
3) O reco-reco – objeto construído com taquaras, que funcionava
através de uma manivela e tinha a fama de ser feito pra espantar
cachorros, devido ao tipo de barulho que emitia.
Toda essa instrumentação ruidosa, de fato conseguia afastar os
cães para longe do grupo de rezadores; mas, mesmo mantendo
distância, a maioria desses animais latia bastante.
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FESTA DOS SANTOS REIS
No bairro da Mangueira, localizado a leste do sopé do Morro
Alto, havia uma capela, cujo patrimônio pertencia à igreja católica.
Naquele bairro os moradores costumavam festejar os Santos Reis
formando um grupo com fantasias e instrumentos musicais. Saíam
com a bandeira no dia seis de janeiro saudando principalmente os
moradores que armavam presépios em suas casas.
FESTA DO DIVINO
Até a década de 1950, no bairro da Mangueira, em Dois Córregos, era comum sair um grupo de festeiros, com acompanhamento
de viola, sendo que na frente seguia a bandeira do Divino.
Nas casas em que aconteciam as visitas, o “bandeireiro” (pessoa
que carregava a bandeira do Divino) fazia orações e encostava o
pano da bandeira na cabeça das pessoas, como forma de abençoá-las; durante esse breve ritual elas permaneciam de cabeça baixa,
contritas e com as mãos cruzadas sobre o peito.
A visita de casa em casa era feita para arrecadar prendas, com as
quais seria realizado o banquete da festa.
POESIA POPULAR
De acordo com o depoimento de Armira de Andrade Leite
(1861–1976), no tempo da “Villa de Dous Córregos” o povo sabia
de cor várias canções e poesias sem autor. Ninguém ficava acanhado
ao cantar ou declamar perto de outras pessoas, pois se tratava de um
comportamento habitual da população.
Uma dessas poesias, do tempo da escravidão, mostrava o
preconceito jocoso existente contra os escravos:
Vovô, quando morreu
Deixou-me tudo o que tinha.
Um galo velho e também uma galinha,
Um saco de feijão e meio de farinha,
Um negro velho e também uma negrinha.
Um dia, que triste sorte a minha.
Morreu o galo e também minha galinha.
Deu caruncho no feijão e mofo na farinha.
Deu catapora no negro e sarampo na negrinha
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ATRAVESSANDO A FOGUEIRA
Muitas festas juninas, em Dois Córregos, contratavam um
sanfoneiro para o baile e a dança da quadrilha. Servia-se quentão,
pipoca e batata doce – que era enterrada no chão, antes de ser acesa
a fogueira, para assar sob o braseiro.
Até a década de 1970, na esquina da rua cel. Simões com a Fernando Costa, era famosa a fogueira de são João acesa por Arlindo
Rossi, cujo braseiro ele atravessava descalço, sem queimar os pés.
A DANÇA DA CATIRA OU CATERETÊ
De acordo com pesquisa deste autor a palavra cateretê teria sua
origem no vocábulo caturetê da antiga língua avanheém, da etnia
guarani. Caturetê significa “muito bom” na linguagem avanheém.
Já a palavra catira viria a ser a forma abreviada da palavra
cateretê. Essa dança, portanto, teria surgido da soma cultural de
brancos com índios, durante o início de São Paulo, quando o bate-pé
dos silvícolas foi adaptado ao ritmo e sonoridade da viola.
Segundo a tradição oral, antigamente os tropeiros procuravam
acampar, no anoitecer, ao lado de pontes de madeira para dançar a
catira sobre as tábuas.
Nesta região a catira manteve a sua tradição de dança rural praticada mais pelos homens. Os violeiros, cantando em dupla, ditam o
ritmo da dança, enquanto os dançadores, geralmente seis ou oito,
formam duas filas, uma de frente para a outra. Dentre eles um é o
palmeiro, cujas palmas e bater de pé são imediatamente repetidos
pelos demais dançarinos, o que resulta em movimentos harmônicos.
Em meados do século 20 ficaram famosos os encontros de catireiros na fazenda de Pedro Zeca, nas proximidades do rio do Peixe,
afluente do Jacaré-Pepira. Havia o costume de dançar até quebrar o
assoalho para que a catira se completasse, e o primeiro que quebrasse a madeira com o bate-pé seria considerado o herói da festa.
Em 1995, Marçal dos Santos Guerreiro e Heusner Grael Tablas
reuniram 30 catireiros e apresentaram a catira na TV Bandeirantes.
Heusner manteve a divulgação na TV durante mais alguns anos.
Atualmente, um grupo de catireiros de Torrinha, liderados pelo
palmeiro João do Gino, também daquele município, têm-se
apresentado em Dois Córregos, sendo que esta cidade empresta a
dupla de violeiros e alguns dançadores.
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CONCURSO REGIONAL DE QUADRILHAS
A vibração das torcidas de cidades vizinhas faz dessa festa a mais
alegre de Dois Córregos, o que está dentro do espírito da dança da
quadrilha, que pede bom humor e descontração.
O concurso, que acontece em julho, já completou onze edições,
sempre organizado pelo Comtur, com apoio da Prefeitura e de
empresas privadas. A grande incentivadora do evento é Cristina
Cury, que também vem sendo a apresentadora oficial.
► Grupo de Quadrilha Nhá Chica – Sob a presidência de Neuza
Todino, em 2008 esse grupo de Dois Córregos competiu no concurso regional de danças em Torrinha (SP) sagrando-se campeão.
CLUBE DOS CAVALEIROS
A cavalgada do Clube dos Cavaleiros de Dois Córregos, da qual
também participam charretes e carroças, costuma acontecer no dia
12 de outubro, em louvor a Nossa Senhora Aparecida. O passeio
pelas ruas da cidade é realizado desde o ano 2000 e conta com
centenas e centenas de cavaleiros, de ambos os sexos, de Dois
Córregos e cidades vizinhas, com o objetivo de manter a tradição da
cavalgada. No ano de 2008 o Clube foi agraciado com o Prêmio
Culturas Populares outorgado pelo Ministério da Cultura.
A GOIABADA-CASCÃO DA FAMÍLIA PAULO
No topo do Morro Alto residem os Paulos, uma família descendente de escravos. Mas o que desperta a atenção dos visitantes é a
qualidade do doce caseiro das irmãs mais velhas, que representa a
renda principal da família.
A guloseima mais famosa delas é a goiabada-cascão feita em
tacho de cobre com goiabas vermelhas. Desde a década de 1990,
quando o jornal Opinião lançou uma reportagem sobre essa
goiabada, os canais de TV vêm abrindo espaço para a família Paulo.
ARTESANATO
A preservação dos trançados de couro para arreamento de
animais e também do bordado de nhanduti é um trabalho que vêm
desde o final do século 20 com apoio da Prefeitura Municipal. O
bordado de nhanduti, além disso, possui uma cooperativa com várias
artesãs.
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► O Trançado de Couro – Essa tradição estava em vias de
desaparecer, mas os novos trançadores já aprenderam a fazer rédeas,
laços, guascas etc. abrindo caminho para uma nova fonte de renda.
► Bordados de Nhanduti - A Cooperativa das Artesãs de Dois
Córregos, além do apoio da Prefeitura local, recebe orientação do
Sebrae, e já expôs várias vezes o bordado de nhanduti em eventos
da Capital. Nhanduti, na língua tupi, quer dizer teia de aranha.
O CARNAVAL – APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA
► O Entrudo – No século 19, o entrudo (entrada da quaresma)
acompanhava a tradição portuguesa em que os foliões faziam guerra
com água e farinha. Havia em Dois Córregos batalhas de
“laranjinhas de cera” cheias de água perfumada, que, mesmo
proibidas por lei (uma laranjinha atirada contra uma pessoa poderia
machucá-la) permaneceriam até boa parte do século 20.
Mas os dias de festa que antecediam a quaresma, já vinham
ditando novos costumes na cidade e modelando o carnaval como
hoje o conhecemos. Em 1898, por exemplo, o jornal “O Combate”,
de Ernesto Leão Brasil, anunciava:
“Nos dias 20, 21 e 22 de fevereiro, à tardinha, sairão grupos a
pé, grupos de máscaras a cavalo, fantasias, surpresas e alusões.”
Essa “passeiata” (nome que o povo dava ao desfile do entrudo)
era dirigida por João Theodoro de Andrade. Quanto aos bailes,
aconteciam no salão da residência de Olyntho Rebouças, defronte da
estação ferroviária, com a animação da banda União dos Artistas.
Não se admitiam, nos bailes, as denominadas “máscaras trajadas”,
que impediam a identificação de quem as usasse. E cada folião tinha
que apresentar, na porta, o seu cartão visado pela polícia.
► As Batalhas de Confete – No início do século 20, o nome entrudo já havia caído em desuso. As batalhas de confete e serpentina,
que substituíram as de “laranjinhas de cera”, deixavam o chão da rua
15 de Novembro praticamente encoberto de papéis coloridos.
► O Desfile das Tosadinhas – Na década de 1920, o desfile na rua
15 de Novembro – ainda de terra – era organizado por Sebastião
Baush. Desse desfile participavam as “tosadinhas”, apelido das
prostitutas, que usavam um corte de cabelo bem curto (tosado) para
ficarem diferentes e assim atrair a atenção dos homens.
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CARNAVAL DE 1929 – O DESFILE DAS “MOÇAS DE BEM “– EM QUE O CARRO ALEGÓRICO DO CLUBE DEMOCRATA ERA MONTADO SOBRE
O CARRO DE BOI DE RAFAÉ PRETO (ELE ESTÁ ATRÁS DOS BOIS, COM A VARA DE CARREIRO). NO CARRO ESTÃO AS IRMÃS MARIA E
VIRGÍNIA, FILHAS DE EMÍLIO CARMESINI. O CAVALEIRO É HUGO CAPUCCI..
► O Desfile das “Moças de Bem” – Com a mudança de Sebastião
Baush para Bauru, coube ao maestro Alberto Baush dirigir o
carnaval de rua, em 1929. O desfile daquele ano foi o primeiro em
que participaram as “moças de bem” da cidade, já que Alberto
Baush, casado com Armira de Andrade Leite, atendeu aos apelos da
sociedade impedindo as “tosadinhas” de desfilar.
O sucesso do desfile seria o carro alegórico do clube Democrata
(foto ao lado), que tinha como destaque as irmãs Maria e Virgínia,
filhas de Emilio Carmesini. Os dois vestidos das moças haviam sido
feitos com o mesmo tecido e receberam apliques em forma de bola.
► A Urca do Janjão – Na década de 1930 seria fundada a Urca do
Janjão, usada como ringue de patinação, mas que também era utilizada para os bailes da cidade, bem como para o carnaval de salão.
(Naquela época, havia falta de salões com espaço suficiente para
baile.) A Urca ficava na rua 13 de Maio, 507–Fundos. Esse nome
fazia referência ao famoso Cassino da Urca, do Rio de Janeiro.
“Janjão”, por sua vez, era o apelido carinhoso de um dos filhos do
farmacêutico João Grael.
► O Carnaval no Aeroclube – Em 1941, o carnaval de salão
passou para o Aeroclube, época em que o lança-perfume animava a
folia das famílias abastadas. Já os negros formavam uma associação
carnavalesca à parte, no sobrado da rua 15 de Novembro, 489, no
pavimento superior, que era conhecido como A Paulistana.
► O Carnaval na “Piscina” – Com a abertura ao público do salão
da “Piscina”, na década de 1960, a cidade passou a ter dois bailes de
salão, pois as noitadas carnavalescas no Aeroclube continuaram.
► O Carnavalesco Agenorzão – Da década de 1960 até em torno
de 1980, o grande nome do carnaval foi Agenorzão. Ele fazia bailes
a preços populares no pequeno salão anexo ao campo do C.A.
Botafogo e liderava um grupo que sempre desfilava na rua 15 de
Novembro. Desse grupo, a maior sambista era Maria Francisca
Ferreira, a Chica, nascida em 1914. Com seu largo sorriso, ela vinha
participando de desfiles desde os tempos de Sebastião Baush.
► A última competição entre escolas de samba – No final do
século 20 merece ser lembrada a última grande disputa entre escolas
de samba, em 1989, quando a Camisa 15 se sagrou campeã
disputando contra outras duas escolas. O presidente da Camisa 15
era o autor deste almanaque, naquele ano de 1989.
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CARNAVAL DE 1938 – FAMÍLIA BARCELLOS E CONVIDADOS - EM CIMA, DA ESQUERDA PARA A DIREITA : ALFREDO SCHELINI (DE
PEDERNEIRAS), LUÍZA MAURA, INCÓGNITA, INCÓGNITA, SEU TOTOCA, APARECIDA BARCELLOS, SENHORITA RESITI, MARIQUITA AMBRÓSIO,
JOÃO BARCELLOS, LUIZA BARCELLOS E NÍCIA NOGUEIRA DOS SANTOS. (AS DUAS MOÇAS INCÓGNITAS ERAM DE OUTRA CIDADE E
LECIONAVAM NA ESCOLA FRANCISCO SIMÕES.
EM BAIXO : LÍGIA NOGUEIRA DOS SANTOS BARCELLOS, MÁRIO BARCELLOS, IGNÉSIA BARCELLOS, TÓFANO (DE JAÚ) E NAIR BARCELLOS.
► Concurso de Fantasias – Na década de 1990, além do carnaval
popular no Centro Comunitário, havia o famoso carnaval da “Piscina”, onde numa das noites sempre acontecia o concurso de fantasias.
Helio Donizete Gregio, Ely Alaor Galli, Mara Rodrigues, Elaine
Grégio e Guego, entre outros, providenciavam ricas fantasias e
também saíam como destaque nos desfiles do carnaval de rua.
► O Fim da Época de Ouro nos Salões – No final da década de
1990, no tempo das marchinhas, quando os bailes eram feitos na
“Piscina”, alguns desordeiros começaram praticar assédio sexual no
salão, passando a mão em namoradas de outros rapazes. Os casais
eram obrigados a permanecer em suas mesas, sem dançar, para evitar brigas. A reação da diretoria do clube foi muito fraca, pois, nem
tentou barrar a entrada dos maus elementos. Por essa razão, as famílias, que compravam mesas todos os anos, afastaram-se tornando os
bailes inviáveis financeiramente. E foi esse o fim de um carnaval que
chegou a ganhar fama de ser um dos melhores do interior paulista.
► O Carnaval no Século 21 – Atualmente, os desfiles de rua,
como o de 2009, são um sucesso. Jovens de cidades vizinhas ajudam
a engrossar a platéia, já que D.Córregos ainda promove o carnaval
de rua, ao contrário de outras cidades da região. O povo dois-correguense, porém, lembra o dos carnavais europeus: é tímido e assiste
aos desfiles sem nenhum gesto que acompanhe o ritmo musical.
Além dos desfiles, neste início do século 21, a Prefeitura tem
montado um palco fixo em lugar público, nas noites de carnaval,
realizando shows musicais.
CAMPEONATO DE PIPAS
“EMPINANDO A LENDA”
A natureza privilegiou o campo do Barra Funda F.C., onde
acontece o campeonato de pipas, com cheiro de mato e sombra de
árvores sob as quais o público se acomoda. E nesse ambiente
agradável o evento já se tornou uma tradição. O campeonato é
realizado no último domingo de agosto, durante o período da
manhã, e vem sendo promovido, desde o ano 2000, pelo clube Barra
Funda em parceria com a Prefeitura e o Comtur.
Para participar, cada pipa deve ter o desenho ou o formato de
uma das nove lendas de Dois Córregos. E apesar de ser uma
competição, o evento sempre transcorre de forma descontraída.
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DESAFIO DE CURURU
Dois Córregos ainda possui alguns cantadores que podem ser
chamados de repentistas de cururu. Houve época em que eles chegaram até a ensaiar desafios, mas sem acompanhamento de violão.
Atualmente, já não praticam esse repente, que dessa forma perde a
chance de se desenvolver. É uma pena, pois essa é a última geração
que poderia preservar o cururu, mas nem é conhecida popularmente.
O SORVETE DO MARCHETTI
O famoso sorvete do Marchetti faz parte das guloseimas tradicionais de Dois Córregos. As primeiras receitas vieram do casal de
sorveteiros Jamil e Norma Grael Chaddad, que na década de 1970 se
mudou para Bauru, onde abriu uma sorveteria de muito sucesso.
Podemos afirmar que a família Marchetti sente verdadeiro orgulho de ter recebido inúmeros visitantes ilustres, que procuram Dois
Córregos só para confirmar a fama do sorvete. Entre esses visitantes
devem ser citados o saudoso técnico de futebol Telê Santana e o
escritor Fernando Morais autor de “Olga”.
Além dessas personalidades, durante a filmagem do longa-metragem “Dois Córregos”, do cineasta Carlos Reichenbach, em 1998, os
atores Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricceli iam quase diariamente à sorveteria.
TRILHA NOTURNA
“UNHUDO DA PEDRA BRANCA”
Promovido pelo Jeep Clube de Dois Córregos, o passeio faz parte
do calendário nacional dos jipeiros. Consiste em contornar o monte
Pedra Branca através de uma trilha previamente demarcada. O tema
do Unhudo vem sendo muito bem explorado pelo Jeep Clube, pois,
durante a jipada, a maior diversão fica por conta de um falso
Unhudo, que sempre tenta ser o mais verdadeiro possível.
O evento reúne centenas de jipeiros de diversas regiões paulistas
e costuma terminar com um churrasco de confraternização numa das
fazendas que beiram a trilha.
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A Formação
de
Dois Córregos
EXPLICAÇÕES NECESSÁRIAS
As primeiras páginas deste almanaque, com suas lendas, causos e
demais tradições representam uma modesta contribuição para a
preservação do imaginário de Dois Córregos, que projeta uma aura
de riqueza cultural, inegavelmente positiva.
Quanto ao inventário histórico que agora se inicia, devemos
lembrar que a história, de um modo geral, está sujeita a modificações através da descoberta de documentos pertinentes. Tanto que, no
caso da presente obra, o leitor há de notar uma evolução referente ao
estudo dos índios, se comparada ao livro A Pousada Alegre dos
Dous Córregos, de 1987. Também quanto à fundação, finalmente
conseguimos encontrar o processo de divisão da fazenda Rio do
Peixe, que dá a José Alves de Mira o papel de principal fundador.
A fundação de Dois Córregos, porém, não ocorreu de forma
isolada. Este município, a exemplo de muitos outros, é resultado do
fato histórico conhecido como “marcha para oeste”, que liga os migrantes que compunham essa marcha à multiplicação dos cafezais.
Antes disso, no entanto, com o fim do ouro de superfície em
Minas Gerais, várias décadas se passaram sem que o Brasil tivesse
um produto de boa aceitação no exterior. Então surgiu o café, que,
cultivado inicialmente no vale do Paraíba e parte do norte de Minas,
começou a ser exportado com sucesso para a América do Norte e
Europa. Logo os olhares se voltaram para o interior de São Paulo,
onde havia extensas áreas ainda não ocupadas pelo homem branco.
O sonho de ganhar dinheiro com plantações de café era um incentivo à aventura dos migrantes. E essa migração, formada em sua maioria por paulistas e mineiros, por volta de 1830 atingiria a região
central do Estado bandeirante, onde hoje Dois Córregos se situa.
Desse modo, o estudo da fundação de Dois Córregos não deixa
de ser um estudo por amostragem da ocupação das terras do interior
de São Paulo, quando cada nova povoação, surgida à beira da mata
virgem, passava a ser conhecida como “boca de sertão” – um termo
muito usado naquela época em que a palavra sertão era o nome dado
a toda área ainda não ocupada pelo homem branco.
A existência do presente livro já estaria justificada, portanto, pelo
fato de registrar o grande deslocamento humano, que foi a “marcha
para oeste”. Mas a motivação principal destes escritos é discorrer
......
73
sobre a história de uma pequena cidade chamada Dois Córregos, e
tal fato merece uma reflexão.
Preocupar-se em historiar um lugarejo, por menor que ele seja, é
reconhecer a curiosidade do ser humano, de um modo em geral, de
saber detalhes sobre as raízes de sua família ou de seu povo. Quando
duas pessoas se apresentam, por exemplo, quase sempre surge a
pergunta: de onde você é? Essa indagação mostra que a terra natal é
tida como ponto de referência para a maioria dos cidadãos.
Assim sendo, esperamos que estes escritos cumpram a função de
servir aos dois-correguenses oferecendo dados básicos sobre a
formação de seu município desde a pré-história dele.
74
PRÉ-HISTÓRIA
A descoberta de vários machados de pedra de arenito nas
margens dos rios Tietê e Jaú indicam que esta região era habitada
pela raça humana bem antes da descoberta do Brasil pelos
portugueses, pois, a idade de tais objetos costuma ser estimada entre
1.000 e 5.000 anos pelos arqueólogos do Museu Paulista.
Além do mais, um dos machados de pedra (foto abaixo) achado
nesta área central do Estado mostra um trabalho lítico de inegável
bom gosto, próprio de objetos utilizados em rituais religiosos.
Os xavantes foram os últimos silvícolas a habitar esta região,
mas, com toda a certeza nenhum deles teria condição de produzir o
referido machado, já que viviam num estágio pré-lítico e chegavam
a fabricar somente umas pequenas e rústicas tigelas de barro, tão
mal-acabadas como os arcos e trançados que faziam.
O povo que esculpiu esse machado, portanto, aqui viveu antes
dos xavantes e caiapós – que pertenciam ao grupo Macro-Jê.
MACHADO DE PEDRA PARA RITUAL
ACHADO NA MARGEM DO RIO TIETÊ
75
1602 – BANDEIRANTES DESCEM O TIETÊ
Nicolau Barreto comandou a primeira expedição a navegar um
trecho de rio que mais tarde viria a ser parte do território de Dois
Córregos. Seguiu, depois, até o Guairá, onde aprisionou índios tupis
das Missões de jesuítas espanhóis e os trouxe para São Paulo.
1720 – MONÇÕES
As descobertas de ouro de superfície no Mato Grosso deram início às Monções – expedições que desciam o rio Tietê, passando por
águas que mais tarde seriam dois-correguenses.
1775 – UM ARRAIAL EM DOIS CÓRREGOS
O “morgado Mateus”, presidente da província paulista, determinou a criação de um acampamento permanente (arraial) na foz do
rio Piracicaba, em terras que mais tarde pertenceriam a Dois
Córregos. Esse arraial seria dirigido por Antônio Correia Barbosa, e
de acordo com Sergio Buarque de Holanda (Monções, 1945)...
“...consistia em agremiarem-se numa aparência civil os criminosos
e vadios de toda sorte, que então infestavam a capitania”.
Com esse pobre material humano, o Governo planejava povoar
as margens do rio Tietê, ocupando mais efetivamente o Oeste e o
Sudoeste, ainda malseguros nas mãos dos portugueses.
Mas a região do arraial não era saudável, tanto que seus ocupantes iriam fundar Piracicaba onze léguas acima, após acharem solo de
melhor qualidade, clima sadio e um núcleo de roceiros morando no
local desde longa data, pois, já possuía 45 casas e 231 habitantes.
1781 – UM GUARDA-MOR PARA FISCALIZAR O OURO
Antônio Francisco da Luz, de Itu, foi nomeado para exercer o
cargo de “Guarda-Mor das Terras Minerais do Morro de Araraquara,
de Piracicaba e seus Arredores”, por Provisão de 19 de outubro de
1781 (Livro nº 1 de Sesmarias, Patentes e Provisões, folha 117).
Esta região central de S.Paulo era chamada “campos de Araraquara”, nome que mais tarde seria usado para designar a cidade de
Araraquara. Corria o boato sobre minas de ouro nos rios Jacaré-Pepira e Jacaré-Guaçu, bem como nos montes do vale do Tietê, por isso
foi nomeado o guarda-mor. Com o falecimento dele, outro guardamor foi nomeado, mas o ouro jamais seria achado nesta região.
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1801 – ORIGEM DA FAZENDA BANHARÃO, QUE NO
SÉCULO 19 PERTENCEU A DOIS CÓRREGOS
Em 1801 o governo de São Paulo concedeu uma carta de
sesmaria a Antônio Antunes Cardia, morador da vila de Porto Feliz,
dando-lhe uma légua de terra de testada, com duas de sertão,
próxima à foz do rio Lençóis no Tietê.
A doação dessa gleba estava de acordo com o objetivo do Governo de impedir, através de assentamentos, as pretensões expansionistas dos espanhóis. Para assumir a propriedade, Antônio Antunes
Cardia fixou-se no local com a sua família. Antes ainda de 1883,
seus filhos José Emídio e Antônio Augusto tomaram posse de terras
no lado direito do Tietê, dando a elas o nome de fazenda Banharão e
fazenda Três Barras, mas formando uma só propriedade. Depois, adquiriram uma gleba vizinha pertencente a Floriano Camargo Serra.
Com a morte de José Emídio houve, em 1891, acordo entre sua
viúva e o cunhado, dividindo a propriedade de modo a ficar para
este o setor Três Barras, que ele já tomava conta, e para a viúva o
setor Banharão, onde ela residia. Pela linha então estabelecida, a
divisa começava na margem direita do Tietê, na barra do ribeirão
Banharão, subia por este e pelo seu galho, que cruzava o pasto da
fazenda três Barras, até encontrar as terras de Antônio Botelho e,
pela divisa deste, daí em diante até o Tietê.
1822 – ATAQUE XAVANTE
Registro do livro de óbitos da igreja de Araraquara:
“...aos vinte e quatro de julho de 1822, mortos a flechadas pelo
gentio xavante, repentinamente e sem sacramentos, faleceram
Adriano, de idade vinte anos, e Generoso, de idade dezoito anos,
filhos de Salvador Pais.”
Em carta enviada ao governo da província paulista por uma autoridade de Araraquara, esses assassinatos teriam sido cometidos pelos
xavantes do médio Tietê, região onde hoje D. Córregos se localiza.
1826 – TERRA DE SESMARIA EM DOIS CÓRREGOS
Hercules Florence, membro da expedição científica comandada
pelo barão de Langsdorff, ao descer o rio Tietê em locais que mais
tarde pertenceriam a Dois Córregos, registrou em seu Diário, nos
dias 3 e 4 de junho de 1826:
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“Partimos às 8 horas da manhã, às 9 e meia abicamos à
margem, para tratar de passar a cachoeira do Banharão, que
transpus no batelão. Diversas ilhas de aspecto pitoresco acham-se à
esquerda. Os outros senhores foram por terra e viram os rastos
frescos de uma onça e os excrementos de uma anta, que são muito
parecidos com os do cavalo. Depois do meio-dia chegamos à
embocadura do Piracicaba, rio quase tão largo como o Tietê e,
entre a foz e uma ilha chamada da Barra fizemos pouso, fronteiro
ao qual se viam rochedos talhados a prumo e coroados de
altaneiras árvores. Ali começa a sesmaria (data que o governo cede
a particulares sob a condição de arroteá-la dentro de seis meses) de
Francisco Álvares: tem três léguas de costa no rio e uma e meia de
fundo. Fora, já há tempos, cultivada por uns pobres roceiros, que
colhiam feijão e milho, mas, presentemente nela só se acham
vestígios de bestas feras. No dia 4 jantamos num lugar que acabava
de ser pouso de uns pescadores. Vários couros de anta esticados
estavam secando ao sol, como já víramos em outros pontos. Depois
de uma hora de viagem encontramos esses homens: eram de
Sorocaba. Tinham já muito peixe salgado e boa provisão de carne
de anta e de outros animais, preparada em tiras compridas e
suspensas em varas para secarem.” (Revista do Museu Paulista,
ano 1929, página 915, Imprensa Oficial do Estado. Artigo “Viagem
de Porto Feliz à cidade de Cuyabá”).
1826 – UM RELATO SOBRE OS XAVANTES
No dia 3 de julho de 1826, Hercules Florence, na condição de
membro da expedição que descia o rio Tietê chefiada pelo barão de
Langsdorf, registra em seu Diário, ao passar por Potunduva (Jaú):
“A cachoeira de Uputunduva é visitada pelos índios desta
região, porque o rio aí dá vau. Até agora, porém, nem sequer
vestígios temos visto. Segundo contam nossos camaradas, esses
índios, chamados xavantes, são inimigos de toda a gente cristã. Por
vezes tem-se procurado chamá-los: fazem sinal com a mão que
nada querem conosco e agitam como ameaça os arcos e flechas.
Pelo menos avisam. Entretanto, nem sempre obram assim,
sobretudo quando sabem que não são pressentidos. Convém, pois,
não se meter pelo mato a dentro, a fim de não desafiar alguma
flechada mortal. Ainda há poucos anos, mataram um infeliz rema....
78
dor de uma Monção que por ali passava. O desgraçado demorara-se em terra para acender o cigarro e quando quis saltar na sua
canoa foi varado por uma flecha, morreu três horas depois.
Chamam-se xavantes a todos os índios que aparecem na parte
ocidental da província de S. Paulo e para lá do Tietê.”
1828 – XAVANTES AMEAÇAM ARARAQUARA
Temendo um ataque igual àquele que vitimou, em 1822, dois
filhos de Salvador Pais, foi enviada uma carta, em 6 de outubro de
1828, por Manuel Joaquim Pinto de Arruda, de Araraquara, ao Presidente da Província dizendo que o aldeamento dos xavantes era na
margem esquerda do Tietê e pedindo autorização para expulsá-los:
“Esta freguesia para a parte do poente confina com um grande
sertão até as margens do Tietê e deste até Guarapuava é unicamente povoado de nações gentílicas, uma das quais denominada xavantes tem alojamento nas margens do Tietê, da parte além, na fronteira desta freguesia, e quase todos os anos passam-se para este
lado, e no ano de 1822 mataram dois homens deste distrito, e porque agora se acham muito vizinhos a esta freguesia, em distância de
oito léguas, o povo deste lado me requerendo os expulsa a força de
armas, este o motivo de rogar a V. Excia. determinações para isto.”
Mas o Governo não autorizou a expulsão dos xavantes por civis
armados e, além disso, o ataque desses índios não aconteceu.
Segundo o sertanista Kurt Unckel, que fez contato com os últimos xavantes de São Paulo, estes desenvolveram um linguajar que
já se tornara peculiar, quase uma língua à parte em relação à
pronúncia dos xavantes do Mato Grosso.
► CAIAPÓS – Antes dos xavantes, o médio Tietê era dominado
pelos caiapós, do mesmo tronco Macro-Jê dos xavantes.
1829 – OS ÍNDIOS AMEDRONTAM RIO CLARO
Os xavantes do médio Tietê, região onde hoje Dois Córregos se
localiza, chegaram perto de Rio Claro obrigando o Governo a enviar
um destacamento para defender os fazendeiros de um possível
ataque dos “índios bárbaros”, que, entretanto não aconteceu
(“Fragmentos da História da Polícia de São Paulo”, Pedro Gagini,
gráfica Brusco & Cia., São Paulo, 1966, pág. 34).
79
1835 – CHEGAM OS LOPES
Um depoimento importante sobre a vinda da expedição comandada pelo tenente Manoel Joaquim Lopes a esta região foi-nos
prestado por Alice Dias de Almeida Lima, que nasceu em Mineiros
do Tietê, em 12 de outubro de 1903 e, já nonagenária, faleceu em
Dois Córregos. Ela era bisneta de Correia de Melo que participou
das expedições vindas de Minas Gerais, comandadas pelo tenente
Lopes, cujos membros dividiram entre si grande parte das terras
onde hoje se localizam os municípios de Jaú, Mineiros do Tietê e
Dois Córregos. O presente texto baseia-se, portanto, em um relato
de tradição oral preservado até a terceira geração.
Segundo dona Alice, o tenente Lopes liderou um comboio com
pouco mais de dez homens, que saiu de Alfenas (MG) para desbravar e escolher terras no interior de São Paulo, de modo a plantar
café. Depois de passarem pelo grande campo, hoje denominado
Campo Alegre (bairro rural de Itirapina, SP), o tenente Lopes e seus
companheiros viram-se praticamente barrados por uma extensa mata
de barbatimão tendo que abrir uma longa picada naquele local.
Seguindo em frente, o comboio acampou por uma noite numa
clareira à beira do rio do Peixe, próxima ao lugar onde hoje fica a
ponte da rua 15 de Novembro, em D.Córregos. O relato de dona Alice revela que essa clareira já era tida como ponto de referência, pois
as pessoas a conheciam como “Pousada Alegre dos Dous Córregos”.
Na manhã seguinte cruzaram as terras que hoje pertencem a
Mineiros do Tietê, seguindo até a área em que mais tarde seria fundado o município de Jaú. Então o tenente Lopes, satisfeito com o
solo de terra rocha que encontrou, retornou com seus companheiros
a Alfenas para buscar as famílias; durante esse retorno passaram
novamente pela picada de barbatimão, já toda com brotas – daí,
sempre que tinham de se referir àquele lugar, chamavam-no de
Brotas, palavra que, coincidentemente, viria a ser o nome oficial
daquele município.
Quando voltaram a Jaú com os familiares, era bem maior o número de componentes desse segundo comboio. O elogio à boa qualidade da terra fez com que também aderissem mineiros de Santana
do Sapucaí, Caldas de Minas, além de outras pessoas de Alfenas.
Com o tenente Lopes também veio seu irmão Mariano Lopes
Pinheiro e família, que doariam terras à igreja para formar o patri......
80
mônio da capela de Dois Córregos.
Coube ao Tenente Lopes intermediar a divisão das terras entre os
companheiros; ele chegou a residir, por pouco tempo, em Brotas,
antes de se fixar na área que tomou posse.
1840 – O ÚLTIMO XAVANTE AVISTADO
Aconteceu em 1840, o índio estava na margem esquerda do
Tietê e foi visto por um membro da família Rodrigues Ferreira, fundadora de Itapuí, postado na outra margem. Apenas se entreolharam.
1841 – UM INCÊNDIO FAZ XAVANTES MIGRAREM
No segundo semestre de 1841, um grande incêndio teria obrigado
os xavantes a fugir rumo oeste. Segundo Taunay ele se formou na
margem esquerda do rio Tietê, devorando a floresta. Deve ter sido
provocado por algum raio que encontrou toda a vegetação ressecada,
pois, uma forte geada havia castigado São Paulo e devastado cerca
de um terço dos cafezais. O fogo saltou todos os cursos menores de
água, só parando nas barrancas dos rios Paraná e Paranapanema.
(História do Café no Brasil, Affonso de E. Taunay, 1939, edição
do Depto. Nacional do Café, Rio de Janeiro, 4º volume, pág. 332).
1844 – CURIOSIDADE SOBRE A FAZENDA SERRA DO
PAREDÃO
A metade dessa fazenda pertenceu a Joaquim de Oliveira Matozinho, que, em 1844, estando preso e à espera de julgamento,
comprometeu-se por escritura de “trato e convenção” a dar o total de
sua parte da fazenda a José Mariano Nogueira acaso este último
conseguisse a sua absolvição, ou a metade se acabasse condenado. A
fazenda fazia divisa com a serra do Paredão.
1846 – ÓBITO DE FILHO DE ESCRAVOS
Registrado no Livro Tombo da Capela de Brotas:
“Aos doze de novembro de mil oitocentos e quarenta e seis, no
bairro do Rio do Peixe, deste Curato de Nossa Senhora das Dores
de Brotas, faleceu José, de cinco meses, filho de Antônio e
Joaquina, casados, escravos de Mariano Lopes Pinheiro, envolto
em branco, foi recomendado e sepultado no Cemitério desta
Capela. Pela Paróquia o padre Serafim dos Santos Ribeiro” .
81
1846 – A VINDA DOS MIRAS
Saindo de Ouro Fino (MG) José Alves de Mira e família vieram
a esta região, certamente informados sobre o que iriam encontrar,
pois, já havia notícias sobre a expedição do tenente Lopes, de 1835.
1847 – A EXPEDIÇÃO QUE POVOOU GUARAPUÃ
Os membros de um comboio formado por José Pereira Pinto de
Toledo, Ignácio Pereira Garcia e familiares de ambos, saídos de
Pouso Alegre (MG), estabeleceram-se nos lugares que mais tarde
seriam chamados de Figueira, Bela Vista e Independência.
1847 – FALECE A 1ª ESPOSA DE MARIANO L. PINHEIRO
(Sepultada em Brotas, pois só lá havia cemitério). Livro Tombo:
“Aos dezenove de julho de mil oitocentos e quarenta e sete, no
bairro Rio do Peixe, desta Freguesia de Nossa Senhora das Dores
de Brotas, faleceu confessada, ungida e sacramentada, Generosa
Maria de Jesus, de quarenta e dois anos mais ou menos, casada
com Mariano Lopes Pinheiro, natural de Santa Ana de Sapucaí,
envolta em preto, foi solenemente recomendada e acompanhada por
mim e a cruz da Fábrica e sepultada no cemitério desta Freguezia.
Pela Paróquia o padre Serafim dos Santos Ribeiro.”
1847 – O CASAMENTO DE JOSÉ, FILHO DE MARIANO
LOPES PINHEIRO (Nessa época os casamentos tinham que ser
realizados em Brotas, onde havia capela e padre). Registro no Livro:
“Aos quatorze de setembro de mil oitocentos e quarenta e sete,
às duas horas da tarde, nesta Matriz de Nossa Senhora das Dores
de Brotas, por Provisão do muito reverendo vigário da vara da Comarca d´Araraquara, Justino Ferreira da Rocha, sem impedimento
algum em minha presença, das testemunhas José Vieira d´Albuquerque e Francisco Antônio d´Oliveira receberam-se em matrimônio
por palavras de presente José Mariano Lopes com Maria Moreira
de Godoi, esta filha legítima de João Correa de Godoi e América
Maria Moreira, natural da Vila de Araraquara, e aquele filho
legítimo de Mariano Lopes Pinheiro e Generosa Maria de Jesus, já
falecida, natural do Douradinho, e presentemente aplicados desta
Freguesia, logo lhes conferi a bênção nupcial. Pela Paróquia o
padre Serafim dos Santos Ribeiro.”
82
1847 –HISTÓRICO DA FAZENDA RIO DO PEIXE
(Dentro da área dessa fazenda seria fundada Dois Córregos).
Pertenceu por posse a Salvador Francisco de Lemos e Miguel
Batista de Carvalho e suas mulheres, os quais a transferiram a diversos adquirentes, sucedendo a estes José Alves de Mira, João Alves
de Mira e Mello e Mariano Lopes Pinheiro, com os nomes de “Jahú
e Rio do Peixe” pertencente a José Alves de Mira casado com
Delphina Maria da Conceição, “Queixada” pertencente a João
Alves de Mira e Mello casado com Maria do Rosário, e “Sítio do
Jahú e do Rio do Peixe” pertencente a Mariano Lopes Pinheiro,
casado com Florisbella Maria de Jesus, e a seu filho e sócio José
Mariano Lopes, casado com Maria Moreira de Godoi. Em 28 de
janeiro de 1854, José Alves de Mira e esposa doaram 10 alqueires
para formar o patrimônio da capela a ser construída e na mesma data
Mariano Lopes Pinheiro, seu filho José Mariano Lopes e respectivas
esposas doaram outros 10 com a mesma finalidade. Essa fazenda
estava entre as maiores da região, com 3.405 alqueires.
As escrituras passadas pela igreja católica eram oficiais, pois,
essa instituição religiosa fazia parte do governo imperial. Depois
dessas doações as autoridades eclesiásticas emitiram escrituras
legalizando as posses dos referidos doadores. José Mariano Lopes,
entretanto, não constou como sócio-proprietário da fazenda Rio do
Peixe na escritura fornecida pela igreja.
A posse foi legitimada de conformidade com o disposto pelo
Decreto 1318, de 30 de janeiro de 1854, artigo 100, passando essas
terras a constar em uma única escritura sob o nome de Fazenda Rio
do Peixe. Falecendo Mariano Lopes Pinheiro, em 1861, foi sua parte
na comunhão partilhada entre os herdeiros e a viúva meeira
Florisbela Maria de Jesus, que se casou em segundas núpcias com o
capitão Liberato Morato de Carvalho, sendo várias partes de suas
terras e de outros herdeiros vendidas a terceiros, entre os quais João
Bernardino de Andrade, a este sucedendo a mãe Ana Bernardina de
Jesus e a viúva Francisca Silveira Melo; as terras de José Alves de
Mira foram partilhadas no termo de Brotas, após a morte dele em
1873, pelos filhos capitão João Alves de Mira e Mello (casado em
segundas núpcias com Maria da Silva Cintra e também comunheiro
por compra que fizera), Antônio Alves de Mira (casado com Maria
Justina de Oliveira), Feliciano Alves de Mira (mentecapto), Francis........
83
co Alves de Mira (casado com Alvina Alves de Mira), Maximiniana
Maria de São José (viúva de Manuel Joaquim Simões e casada em
segundas núpcias com Francisco Lucindo da Silva Braga), Maria
Joaquina de Mira (casada com João Baptista Leite), Anna Barbosa
de Mira (casada com Luís Caetano da Silva), em benefício de cujos
herdeiros desistiu de sua meação a viúva Delphina Maria da
Conceição, com reserva de pequena parte doada depois a filhos,
genros e netos. João Alves de Mira e Mello chegou a adquirir as
partes de seu irmão que faleceu, Feliciano Alves de Mira, que era
mentecapto. Houve, posteriormente, sucessivas transmissões de
partes e quotas. Em 12 de junho de 1908, teve início o processo
judicial estabelecendo a divisão da Fazenda Rio do Peixe, tendo
terminado aos 7 de novembro daquele mesmo ano; esse processo
estabeleceu judicialmente também as áreas da Prefeitura e da Igreja,
que entraram na partilha.
1847 – JOSÉ ALVES DE MIRA, O FUNDADOR
Nasceu em Campanha (MG), em 1802, e se casou com Delphina
Maria da Conceição, tendo o casal sete filhos.
O processo de divisão da fazenda Rio do Peixe, de 1908, em sua
página 7, diz que ele fundou Dois Córregos:
“Que fallecendo Jose Alves de Mira, que em vida fundara a
povoação de Dous Córregos, erigindo a velha e demolida Egreja a
que dera por orago o Divino Espírito Santo, doando o patrimônio
em que hoje se acha edificada a cidade de Dous Córregos...”
Além disso, o arquivo da Mitra Arquidiocesana de São Paulo
possui o relatório do Curato, onde se lê, entre outras informações,
que José Alves de Mira fez a capela e também a demarcação das
ruas para o povoado ter início.
Houve, ainda, o depoimento a este autor de dona Nide Mira,
viúva de João Mira, sobrinha de José Alves de Mira, afirmando que
foi este último quem tomou a iniciativa de construir a capela.
Quanto à história de José Alves de Mira ter usado um carro de
boi para escolher o lugar da igreja, ela foi contada pelo ex-escravo
Teodomiro, falecido em meados do século 20, que havia trabalhado
para o capitão João Alves de Mira e Mello – filho do fundador.
José Alves de Mira faleceu em 1873, na época da “freguezia dos
Dous Córregos”, sendo enterrado no cemitério velho.
84
1847 – JOÃO ALVES DE MIRA E MELLO
Nasceu em Minas Gerais, em 1824, filho de José Alves de Mira,
que fundou Dois Córregos, e de Delphina Maria da Conceição.
Casou-se com Maria do Rosário, mineira, nascida em 1829. Com o
falecimento de Maria do Rosário, casou-se em segundas núpcias
com Maria da Silva Cintra. Em 28 de janeiro de 1854 assinou, a
rogo de sua mãe, que era analfabeta, a escritura de doação de dez
alqueires para a formação do patrimônio da capela, tendo também
assinado a rogo, naquela mesma ocasião, por Maria Moreira de
Godoy, esposa de José Mariano Lopes, que era igualmente analfabeta. Dois dias depois, em 30 de janeiro de 1854, a igreja reconheceria a posse de João Alves de Mira e Mello sobre as terras da
Queixada, que faziam parte da fazenda Rio do Peixe. Após a
proclamação da República ganhou o posto de tenente e depois de
capitão da Guarda Nacional – titulações que refletiam a sua concordância ocasional com o poder político municipal. Em junho de
1892, durante a epidemia da bexiga (varíola), enquanto o povo
fugia, ele ficou na cidade para cuidar dos doentes como enfermeiro
do “lazareto de variolezes”. Sendo dono da fazenda Queixada, perdeu judicialmente parte dela, depois de romper com a política dominante, mas em 1908 ainda lhe restavam 5.285.086 m2, conforme
processo de divisão da fazenda Rio do Peixe. Em seus últimos anos
de vida, empobrecido, João Alves de Mira e Mello, mais conhecido
como “capitão João de Mira”, residiu com sua família no sítio Fura-Olho, de Manoel Tablas, sitiante que lhe cedeu um pequeno
cômodo para morar. Nessa época dois de seus filhos, José Alves de
Mira e Victalina Mira, estavam residindo em Ibitinga (SP).
O capitão João Alves de Mira e Mello faleceu aos 92 anos, em 10
de outubro de 1916, tendo sido enterrado com a farda e o
espadachim de capitão da Guarda Nacional Republicana – um cargo
honorífico sem remuneração.
1848 – MARIANO LOPES PINHEIRO SE CASA COM MOÇA
DE 17 ANOS
Registrado no Livro de Tombo da capela de Brotas:
“Aos vinte nove de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e oito,
às três horas da tarde, nesta Matriz de Nossa Senhora das Dores de
Brotas, por Provisão do muito reverendo vigário da vara da Co.......
85
marca d´Araraquara, Justino Ferreira da Rocha, sem impedimento
algum em minha presença e das testemunhas José Pedroso do
Amaral e José Vieira d´Albuquerque, receberam-se em matrimônio
por palavras de presente Mariano Lopes Pinheiro com Florisbela
Maria de Jesus, esta filha legítima de Francisco Antônio d´Oliveira
e Thereza Maria de Jesus, natural da Vila de Bragança, e aquele
viúvo por falecimento de Generosa Maria de Jesus, aplicados desta
Freguesia, logo lhes conferi a bênção nupcial. Pela Paróquia o
padre Serafim dos Santos Ribeiro.” (1).
1848 – POSSÍVEL DESENTENDIMENTO ENTRE OS LOPES
As núpcias do viúvo Mariano Lopes Pinheiro, de 45 anos, com
uma moça de 17 anos, com certeza serviram para esfriar o relacionamento dele com seu filho José Mariano Lopes, pois, a esposa deste
último ficou sendo mais velha do que a madrasta dele. Essa hipótese
baseia-se no fato de o filho ter saído da sociedade que tinha com o
pai na faz. Rio do Peixe, já que o nome de José Mariano Lopes não
entrou na escritura de legitimação de posse fornecida pela igreja.
1850 – A PRIMEIRA AUTORIDADE NOMEADA PARA O
BAIRRO
Nascido em 1805, em Minas Gerais, Mariano Lopes Pinheiro foi
nomeado “inspetor de quarteirão” do bairro do Rio do Peixe (Dois
Córregos seria fundada nesse bairro) pela subdelegacia de Brotas,
passando a ser a primeira autoridade local. Com certeza a nomeação
aconteceu para incumbi-lo do Censo Demográfico desse bairro.
Era sócio-proprietário da fazenda Rio do Peixe, e também seria o
primeiro a ter posse da fazenda Bariri, banhada pelos rios Jaú e
Tietê, hoje em terras de Itapuí (inclui a zona urbana) e Bariri,
vendendo-a em 1853 a Manuel Joaquim Ferreira. Faleceu em 1861,
e a sua viúva casou-se com o capitão Liberato Morato de Carvalho.
(1) ▬ Os registros do Livro Tombo de Brotas foram conseguidos
no arquivo de microfilmagem da igreja mórmon de São Paulo.
▬ Quanto às informações cartorárias sobre as fazendas e seus
desmembramentos vieram dos registros antigos do cartório de
Piracicaba, que seriam incinerados no final do século 20.
86
1850–UMA PÁGINA DO CENSO DEMOGRÁFICO
Conforme anotações de Mariano Lopes Pinheiro:
MARIANO LOPES PINHEIRO
NATURAL DE M.GERAIS, 45 ANOS, BRANCO, CAS., LAVR., ALFABETIZ.
FLORISBELA MARIA DE JESUS
NATURAL DE S.PAULO, 17 ANOS, BRANCA, CASADA, LAVR., ALFABET..
FLORÊNCIO ALVES DE OLIVEIRA
NATURAL DE S.PAULO, 62 ANOS, PARDO, CAS., LAVR., ALFABETIZADO
CLAUDINA DE JESUS
NATURAL DE S.PAULO, 25 ANOS, PARDA, CAS., LAVR., ALFABETIZADA
JOÃO ALVES DE MIRA E MELLO
NATURAL DE M.GERAIS, 26 ANOS, BRANCO, CAS., LAVR., ALFABETIZ.
MARIA DO ROSÁRIO
NATURAL DE M.GERAIS, 21 ANOS, BRANCA, CAS., LAVR., ALFABETIZ.
GERTRUDES MARIA
NATURAL DE S. PAULO, 29 ANOS, PARDA, VIÚVA, LAVRADORA
MARIA
NATURAL DE S. PAULO, 16 ANOS, PARDA, SOLT., LAVR. ALFABETIZADA
MARIA INOCÊNCIA
NATURAL DE SÃO PAULO, 30 ANOS, BRANCA, VIÚVA, LAVRADORA
JOSÉ
NATURAL DE SÃO PAULO, 12 ANOS, BRANCO, SOLTEIRO, LAVRADOR
JOAQUIM JOSÉ
NATURAL DE SÃO PAULO, 11 ANOS, BRANCO, SOLTEIRO
MANOEL HILÁRIO
NATURAL DE M.GERAIS, 48 ANOS, PARDO, CASADO, LAVRADOR
MARIA CUSTÓDIA
NATURAL DE M.GERAIS, 36 ANOS, PARDA, CASADA, LAVRADORA
JOAQUINA RODRIGUES
NATURAL DE M.GERAIS, 38 ANOS, PARDA, VIÚVA, LAVRADORA
FORTUNATO DOMINGUES
NATURAL DE MINAS GERAIS, 26 ANOS, PARDO, CASADO, LAVRADOR
FRANCISCA
NATURAL DE MINAS GERAIS, 20 ANOS, PARDA, CASADA, LAVRADORA
JOSÉ
NATURAL DE MINAS GERAIS, 3 ANOS, PARDO, SOLTEIRO
MARIA
NATURAL DE MINAS GERAIS, 2 ANOS, PARDA, SOLTEIRA
FONTE DE PESQUISA – ARQUIVO DO ESTADO
1855 – O FUNDADOR DE JAÚ TEVE TERRAS EM
DOIS CÓRREGOS
► Fazenda Ribeirão São João, depois São João
(Em terras hoje de Jaú, Mineiros do Tietê e Dois Córregos)
Pertenceu por posse ao tenente Manuel Joaquim Lopes, que a
registrou em 1855 com o nome de Ribeirão São João. Ficava a uma
légua e meia de Jaú e possuía um engenho de cilindro tocado por
água. Por sua morte e de sua mulher, Úrsula Pedrosa Rangel, foi partilhada entre os herdeiros Francisco Xavier Lopes, Ana Maria Ran.... ...
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gel, Maria Jacinta Lopes, Maria Antonia de Oliveira, Joaquim Lopes
de Oliveira, João Ventura Lopes de Oliveira, Bárbara Marcolina de
Jesus, Bonifácia Balbina de Jesus, Ana Joaquina de Jesus, Maria de
Tal e Jacinta Hermenegilda do Céu. Passou depois a descendentes e
representantes de outras famílias, num total de 70 condôminos, em
1893. Confrontava com terras da fazenda Jacutinga e com outros.
► Fazenda Gavião (hoje em Dois Córregos e Mineiros do Tietê).
Pertenceu a Manuel Joaquim Lopes e sua mulher Úrsula Pedroso
Rangel, que a venderam em 1841 a Feliciano Leite, tendo este feito
o registro em 1856 na paróquia de Brotas (só encontramos registro
feito por José Joaquim Leite, sob o título Córrego do Gavião).
Divisava com terras de João Correia de Melo, Francisco Xavier
Lopes e com outros.
Assinatura do tenente Manoel Joaquim Lopes
1856 – A FUNDAÇÃO – COMENTÁRIO SOBRE O
CASO DO CARRO DE BOI
Em 4 de fevereiro de 1856, foi assinada a Provisão, pela Câmara
Episcopal de São Paulo, autorizando a fundação e ereção de “Uma
Capella com invocação ao Divino Espírito Santo”; essa data passaria
a ser aceita como a da fundação de Dois Córregos.
O patrimônio da capela era de 20 alqueires já doados através de
escrituras públicas, em 28 de janeiro de 1854, desta forma: José
Alves de Mira e sua esposa Delphina Maria da Conceição doaram
10 alqueires, sendo que os outros 10 foram doados por Mariano
Lopes Pinheiro casado com Florisbella Maria de Jesus, e por seu
filho José Mariano Lopes casado com Maria Moreira de Godoi.
Podemos afirmar, porém, que José Alves de Mira foi o fundador
de Dois Córregos, pois, ele tomou todas as providências necessárias
à fundação: além de doar 10 alqueires para formar o patrimônio da
capela, construiu o referido templo com dinheiro do próprio bolso e
fez a medição das ruas sem nada receber por esse serviço.
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► Comentário sobre o caso do carro de boi - O fato de José
Alves de Mira ter soltado um carro de boi carregado de madeiras na
parte alta da atual rua Joaquim de Almeida Leme (continuação da
rua 15 de Novembro), sob a promessa de construir a capela aonde o
carro de boi parasse, pode ser visto da seguinte forma: o carro de boi
foi solto na estrada que vinha de Brotas, portanto já havia uma ponte
sobre o rio do Peixe e por ela o carro passou. Essa estrada serviu de
base para o arruamento, transformando-se na atual rua 15 de Novembro. E certamente José Alves de Mira previu que os bois, com o
peso da carga de madeiras, não sairiam fora dos 20 alqueires da
igreja, onde deveria ser erguida a capela.
1856 – DOAR TERRAS À IGREJA , UM BOM NEGÓCIO
No tempo do império a igreja católica era parte do Governo,
exercendo seu poder nas questões políticas, nomeações para cargos
públicos, registro de imóveis etc. Desse modo, seria um bom
negócio a qualquer fazendeiro a doação de alguns alqueires à igreja
para a construção de uma capela, pois, a partir do momento em que
as autoridades eclesiásticas aceitassem em doação esses alqueires
elas estariam reconhecendo que a área total pertencia ao doador.
O caso da fazenda Rio do Peixe, não teria sido diferente: a doação dos 20 alqueires para a igreja foi feita no dia 28 de janeiro de
1854, e dois dias depois – no dia 30 – a igreja entregou escrituras
aos doadores legitimando a posse deles sobre essa fazenda que
possuía 3.405,5 alqueires.
Isso não desmerece, porém, o caráter dos fundadores, já que
agiram dentro da lei. A justiça foi feita, pois, eles haviam comprado
aquelas terras com recursos próprios, de modo que a igreja católica
lhes deu escrituras de uma área da qual já eram legítimos donos.
1857 – A BÊNÇÃO DO CEMITÉRIO
Em 18 de junho de 1857, a igreja autorizou a bênção do cemitério, localizado na área onde hoje está o Lar São Vicente de Paulo e
adjacências. Era usado para o enterro de fiéis do catolicismo.
Nele seriam enterradas as vítimas da epidemia de febre amarela,
em vala comum, nos anos de 1896 e 1897. Então houve o receio de
que a epidemia voltasse através dos frequentadores do cemitério, por
isso ele acabaria desativado já no ano de 1897.
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1861 – A INAUGURAÇÃO DA CAPELA
Em 24 de abril de 1861, a igreja autorizou a inauguração da capela pelo “Vigário Encomendado da Freguesia de Brotas”, padre José
Manoel da Conceição, mas não se sabe a data dessa primeira missa.
1865 – ELEVAÇÃO À FREGUESIA
Através da Lei nº 28, de 28 de março de 1865, foi criada a
“Freguezia dos Dous Córregos”, sujeita ao Distrito de Paz de
Brotas, tornando sem efeito o antigo nome “bairro do Rio do Peixe”.
As primeiras autoridades da freguesia (distrito) foram escolhidas
entre os homens da comunidade para os cargos de juiz de paz, um
subdelegado e dois suplentes, sujeitos à delegacia de Brotas.
1865 – AMARRADOS NO COQUEIRO
Segundo Armira de Andrade Leite, no tempo da Freguesia havia
dois coqueiros ao lado da capela, onde ficavam amarrados os criminosos, geralmente ladrões de cavalos, pois, a cadeia mais próxima
estava em Brotas. Eram amarrados por dois dias ou mais, depois de
julgados por uma junta formada pelo subdelegado e seus suplentes.
1866 – O PRIMEIRO VIGÁRIO
Aos 14 de dezembro de 1866, a paróquia foi reconhecida
canonicamente, sendo criado o Curato, que teve início com a vinda
do padre Celestino de Alcântara Pacheco.
1869 – OS ANIMAIS SELVAGENS
Conforme relatou Armira de Andrade Leite, as crianças, para
brincar na beira do córrego Fundo, por exemplo, revezavam-se
batendo latas, pois, só o barulho conseguia afastar as onças.
Na fazenda Quebra-Pote, onde ela residiu em sua infância, havia
uma grande lagoa toda cercada de arame farpado para que os
animais de criação e as crianças não se aproximassem da água, já
que naquele local morava uma cobra sucuri.
1873 – A NAVEGAÇÃO FLUVIAL
Por decreto imperial de 17 de setembro de 1873, foi criada a Cia.
Fluvial Paulista, do senador Francisco Antônio de Souza Queiroz e
de seu sócio João Luiz Germano Bruhns, radicados em Piracicaba.
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Dois Córregos possuía os portos Maurício Machado e Limoeiro,
no Tietê, e Itaúna no rio Piracicaba. A navegação ia do porto João
Alfredo (Piracicaba) até o porto Lençóis (ficava na margem oposta à
foz do rio Lençóis no Tietê), com 5 vapores e 24 lanchas; transportava passageiros, malotes dos Correios etc. Só não funcionava,
quando as secas tornavam rasos alguns trechos do rio Piracicaba.
As estradas de ferro chegaram a esta região numa época em que a
Cia. Fluvial Paulista pertencia à ferrovia Sorocabana. Mesmo com a
concorrência dos trens, os vapores continuaram a navegar para
cumprir contrato com os Correios, levando correspondências.
O prazo de exploração da Cia. Fluvial Paulista expirou em 1905,
sem interesse de renovação, pois a navegação fluvial já não tinha
condições de competir com as ferrovias nesta região.
1874 – ELEVAÇÃO À VILA
Em 16 de abril de 1874, através de Lei Provincial nº 43, Dois
Córregos foi elevada à categoria de vila, desmembrando-se de
Brotas. Possuía em torno de 7.000 habitantes; passou a ter um juiz
municipal como termo sob a jurisdição da comarca de Rio Claro,
Câmara Municipal, que englobava as funções de Câmara e Prefeitura, juiz de paz e delegado de polícia (mas ainda como subdelegacia).
Os presos deixariam de ser amarrados em coqueiros, pois teria
início a construção de um sobrado de pau a pique com cadeia na
parte de baixo, e salão em cima para sediar a Câmara.
► Conceito de Vila – A vila é uma categoria abaixo de cidade,
mas, por ter câmara municipal, atualmente a palavra município
passou a ser mais usada.
1875 – PRIMEIRAS DIVISAS
De acordo com as primeiras divisas, parte do atual município de
B.Bonita, bem como as terras de Mineiros pertenciam a D.Córregos.
Através Lei nº 16, de 9 de julho de 1875, as divisas ficaram assim:
“Começarão no rio Tietê, no porto de Lençóis, pela estrada
velha que passa no Jacutinga e por esta mesma estrada até a barra
do córrego Gavião. Daí pelo ribeirão São João abaixo até sua
barra no rio Jaú, e atravessando este até o espigão e deste à cabeceira do córrego chamado Pombo e por este abaixo até a sua barra
no ribeirão Figueira e por este abaixo até o tombador da Serra”.
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1875 - O TEMPLO PIONEIRO DA IGREJA PRESBITERIANA
Foi fundado em 21 de março de 1875, no bairro de Jacutinga,
próximo ao local onde hoje está a usina Lambari, a 12 quilômetros
de Dois Córregos, e seu primeiro reverendo seria João Fernandes da
Gama. A reunião inicial realizou-se na casa de Desidério Peres de
Aquino, na fazenda Palmeiras. Já a inauguração do templo urbano
ocorreu em 25 de agosto de 1890, na rua 15 de Novembro, 737.
1876 – PRIMEIRA CÂMARA DE VEREADORES
Em 4 de janeiro de 1876 tomaram posse os vereadores eleitos
José Francisco de Sousa, João Antônio Simões, José Botelho de
Carvalho e Liberato Morato de Carvalho – que assumiu a presidência da Câmara e era casado com a viúva de Mariano Lopes Pinheiro.
Durante seus mandatos, os vereadores revezavam-se na presidência.
1882 – FERROVIA – A CRIAÇÃO DA CIA. RIO CLARO
Em 29 de julho de 1880, época em que o ponto final da estrada
de ferro, mais próximo desta região, era Rio Claro, o Governo publicou edital abrindo concorrência para a construção destes trechos:
1) Rio ClaroBrotasDois CórregosMineirosJaú.
2) Rio ClaroAraraquara. 3) Rio ClaroSão Carlos.
O barão do Pinhal e o capitalista Benedicto Antônio da Silva
adquiriram a concessão e fundaram a Cia. Rio Claro em 1882 dando logo início às obras. O barão do Pinhal (depois conde) possuía
terras em Jaú, onde vivia um romance com uma de suas escravas.
A Cia.Rio Claro foi vendida em 1889 passando a se chamar “The
Rio Claro São Paulo Railway Company”. Em 1892 seria a vez de a
Cia. Paulista de Estradas de Ferro comprar a ferrovia.
1886 – OS TRILHOS SE APROXIMAM
Durante a primeira metade desse ano, a abertura de valetas para
ser socado o alicerce dos trilhos chegou às terras de Dois Córregos.
Utilizava trabalhadores portugueses, que, recém-chegados da Europa exibiam grandes bigodes, bonés e roupas grossas de veludo, despertando a curiosidade do povo. Mas também empregava pessoas da
região, como o Carrega e o Golineli, que transportavam terra e pedra
em suas carroças e depois conseguiriam comprar até fazendas com a
renda desse trabalho, quando o preço da terra ainda era baixo.
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1886 – OS JORNAIS DE DOIS CÓRREGOS
Esta cidade teve tipografia antes de Jaú, e os jornais dois-correguenses do século 19 serviam de exemplo para outros municípios;
ainda hoje, é inegável o valor deles como documentos históricos.
Em D.Córregos nunca houve jornais diários, prevaleceram os semanários. Em nossas pesquisas, conseguimos enumerar estes jornais:
► Em 1886 – Correio de Dous Córregos
► Em 1893 – Dous Córregos, de Ramiro Bisbal e Ernesto Leão
Brasil, com tipografia própria.
► Em 1897 e 1898 – O Combate, de Ernesto Leão Brasil (credor
da massa falida do jornal Dous Córregos, usava a mesma tipografia). Republicano, possuía uma qualidade surpreendente, e seus
exemplares esgotavam-se em Jaú, Rio Claro, São Paulo etc.
► De 1901 a 1902 – O Rebate, de Josino Alves de Góes.
► De 1902 a 21/04/1903 – Comarca, de Daniel Cândido.
► De 19/05/1903 a 02/08/1903 – O Intransigente, de José da Silva
Góes.
► De 1903 a 1908 – A Cidade, de Gamaliel de Almeida.
► De 1906 a 1910 – O Bandeirante, de Francisco Dias de Almeida.
► Em 1908 – O Mensageiro, de Silvio Bernardineli.
► Em 1909 – O Alfinete – de Siqueira e Carvalho.
► Em 1909 a 1910 – A Voz do Povo, de José da Silva Góes.
► Em 1910 – A Imprensa, sucedendo “O Bandeirante”.
► De 1913 a 1916 – O Combate, de José S.Ramos Júnior.
► De 1916 a 1918 – A Tribuna, de José da Silva Góes.
► De 1921 a 1930 – A Semana, do capitão Lázaro Pacheco.
► De 1930 até os dias atuais – O Democrático, sucessor de “A
Semana”. Últimos diretores: Antônio João de Camargo Júnior, falecido, e José Eduardo Mendes Camargo.
► Em 1951 – A Cidade de Dois Córregos, de Léo Guaraldo.
► Em 1962 – Mokoi Yembu, de Léo Guaraldo.
► De 1993 a 1996 – jornal Opinião. Sociedade inicial: Heusner
Grael Tablas, Eikson Grael Tablas e Denílson Mônaco. Foi o 1º
jornal da cidade impresso em ofset, e fazia um trabalho de resistência cultural divulgando a história e a cultura popular do Município.
► De 1996 até os dias atuais – Jornal Independente, de João
Afonso Bueno de Godoy e Roque Paulucci. Primeiro jornal da
cidade com ofset próprio.
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1897 / 1898 – Jornal O Combate, de Ernesto Leão Brasil.
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1886 – A PRIMEIRA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
Foi inaugurada em 7 de setembro de 1886, como ponta de linha.
O ramal em Jaú não tinha trilhos para manobra, por isso a maria-fumaça saía de Dois Córregos em marcha à ré para ir a Mineiros e Jaú,
retornando de frente. Segundo Armira de Andrade Leite, que viveu
naquela época, para inaugurar a estação a Cia.Rio Claro pôs várias
jabuticabeiras adultas beirando a linha de modo a enfeitar o local.
A caldeira da maria-fumaça (locomotiva a vapor) tinha que começar a esquentar 5 horas antes de entrar em serviço. Uma viagem
de Dois Córregos a São Paulo demorava 11 horas.
1886 – D. PEDRO II EM DOIS CÓRREGOS
► Data da Visita: 3 de novembro de 1886
Antes da vinda do rei, um batedor a cavalo esteve em D. Córregos comunicando sobre a visita. A comitiva real saiu de Piracicaba
usando um vapor da Cia. Fluvial Paulista. O imperador fez essa viagem para receber uma homenagem, pois, em Mineiros, distrito de
D.Córregos naquela época, seria inaugurada a Estação D. Pedro II.
A comitiva viajou de vapor até o porto Maurício Machado, sendo
que o porto ganhou esse nome dado pelo próprio imperador em reconhecimento ao zelo do funcionário Maurício Machado, que tomava conta daquele ancoradouro. Também o ribeirão que hoje serve de
divisa entre Dois Córregos e Mineiros e desaguava ao lado do porto
no rio Tietê (hoje esse local está encoberto pelas águas da represa)
ganhou o nome de ribeirão Maurício Machado. D. Pedro II ainda
concedeu a Maurício uma legítima de 5.000 alqueires de terras
naquele vale do rio Tietê. (Depoimento de Francisco de Paula Machado, o Nego, bisneto de Mauricio. Nasceu em Igaraçu do Tietê,
SP, em 11 de novembro de 1928, onde reside).
► A passagem do rei pela cidade
D. Pedro II e seus acompanhantes entraram no povoado passando
sob o pontilhão da ferrovia, que fica próximo da estação, no final da
atual av. Fernando Costa. Na cidade, crianças haviam ganhado cestinhas de bambu de alça alta, cheias de balas, sob a condição de bater
palmas quando o imperador passasse. Entre essas crianças estava
Armira de Andrade Leite, que contou a este autor sobre a visita real.
A imperatriz Tereza Cristina ganhou das autoridades um ramalhete de flores, enquanto o presidente da Câmara Municipal cometeu
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uma gafe dizendo ao rei: “O senhor deve ´tá cansado de navegá
por esses mundo afora”. Era uma frase inconveniente, pois, ele
deveria ter-se dirigido ao rei tratando-o por vossa majestade ou sua
majestade e não por “senhor”. (Fonte: jornal “O Combate”, 1898).
O imperador dispensou a maior parte do cerimonial lembrando o
cansaço da viagem e também não utilizou a casa que lhe estava preparada como pousada, na rua 15 de Novembro, 68. Tinha sido enfeitada com flores e era uma das poucas feitas com tijolos na cidade.
Seguiu para a fazenda Banharão na caleche emprestada por
Germano José Coelho, dono da fazenda Nova Lusitânia, de Jaú.
A caleche é uma carruagem de quatro rodas, para dois passageiros, puxada por uma parelha de cavalos, e essa vinha transportando D. Pedro II e a imperatriz desde o porto Maurício Machado.
► A fazenda Banharão
Essa fazenda pertencia ao rico fazendeiro José Emídio de Almeida Cardia, casado com dona Carolina do Amaral Gurgel Cardia.
A sede da fazenda foi preparada com antecedência para a visita
do rei. A madeira do forro, com encaixes do tipo macho e fêmea,
uma novidade naqueles tempos havia sido importada da Inglaterra e
um carpinteiro daquele país veio fazer o serviço. A pia do lavatório
era de porcelana portuguesa, tendo sido também construída uma
banheira de cimento queimado para os banhos do imperador a pedido deste. As paredes internas receberam afrescos de pintor europeu,
e as portas, janelas e caixilhos eram de pinho de riga português.
D. Pedro II presenteou os fazendeiros com mudas de palmeira
real, que vinham sendo cultivadas desde 17 de janeiro de 1879.
Eram duas e foram plantadas nas fazendas Banharão e Três Barras.
A palmeira do Banharão, quando derrubada em 1968, já havia atingido 50 m de altura, sendo que o tronco tinha 1,20 m de espessura.
► O retorno da comitiva real
A comitiva pousou só uma noite na fazenda. No dia seguinte houve a cerimônia de inauguração da estação, mas a esposa de Antônio
Augusto, dona Ana, não pôde participar da festa, pois estava grávida esperando o nascimento de seu filho Antônio “Totó” Cardia Júnior. (Por sinal, seria “Totó” Cardia quem, já nonagenário, enviaria
uma carta, datada de 22 de setembro de 1976, a Milton Teixeira, na
época dono da fazenda Banharão, contando sobre a visita do rei).
Após a solenidade a comitiva real atravessou o Tietê de canoa
......
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em direção ao porto Araquá, junto à foz do ribeirão do mesmo nome
no lado esquerdo do Tietê.
O porto Araquá era um simples ancoradouro, conforme escreveu
“Totó” Cardia em sua carta: “ali havia somente um casarão de madeira erguido na beira do rio sobre pés direitos de uns três metros de
altura”. No porto Araquá, um vapor esperava pela chegada da
comitiva real, que faria o caminho de volta através de Piracicaba.
Por Decreto de 25 de setembro de 1889, José Emídio ganhou o
título de Barão de Avanhandava, que seria o último decreto assinado
por D. Pedro II, às vésperas de sua deposição. Já Antônio Augusto
recebeu o título de Comendador.
A proclamação da República, porém, viria logo a seguir provocando o abandono do nome “Estação D. Pedro II”, que voltou a se
chamar Mineiros e a partir de 30/11/1944 – Mineiros do Tietê.
1887 – TRECHO DA PRIMEIRA FERROVIA
KMz 334 – JAÚ
●
○ BANHARÃO – KM 320
KM 311 – MINEIROS●
DO TIETÊ
● DOIS CÓRREGOS – KM 301
○ VENTANIA – KM 291
KM 214 – TORRINHA
●
A CIA. RIO CLARO NESTA REGIÃO
(DESENHO SEM ESCALA)
1888 – INFLUÊNCIAS DAS IMIGRAÇÕES
Graças aos bandeirantes, ou caboclos, que resultaram dos cruzamentos entre brancos e índias, o Brasil tem o maior território da
América do Sul. A capacidade de sobreviver na selva, herdada do
tupi, fez dos bandeirantes a raça mais forte do Brasil. Cruzavam a
floresta a pé para aprisionar indígenas das Missões espanholas,
chegaram a atacar uma mina de prata no Peru e raramente perdiam
as batalhas. Se não houvesse o bandeirante abrindo caminhos e deixando sinais de posse, as fronteiras do Brasil teriam que obedecer
ao tratado de Tordesilhas e mal passariam o rio Paranapanema.
...
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O avanço dos cafezais no rumo oeste de S.Paulo ocorreu graças a
uma maioria de caboclos (bandeirantes), de origens paulista e
mineira, que derrubava árvores, fazia guerra e expulsava os índios
tomando-lhes as terras. Mas os caboclos também eram afeitos à caça
e à pesca, não sendo talhados para se fixar nas fazendas de café.
A chegada da ferrovia facilitou o transporte de café até o porto de
Santos, o que incentivou plantio, sendo necessária a contratação de
mão-de-obra estrangeira. Os imigrantes, ao contrário dos caboclos,
eram mais dedicados à lavoura, por isso acabaram ganhando a preferência dos fazendeiros.
Coube ao caboclo, portanto, tomar a terra e derrubar florestas para
a expansão dos cafezais, enquanto o papel do imigrante estrangeiro
foi labutar de sol a sol nas lavouras, ajudando a fazer do solo
paulista o maior produtor de café do mundo, o que daria suporte
econômico para ter início, em São Paulo, a primeira revolução
industrial da América Latina.
Em 1937 a população de Dois Córregos já apresentaria uma
proporção de 4 italianos ou descendentes para cada remanescente da
etnia cabocla. A predominância italiana, no entanto, perderia força
no final do século 20, com a vinda de migrantes nordestinos,
principalmente pernambucanos, que passaram a procurar este
Município para trabalhar no corte da cana-de-açúcar.
1888 – AS RUAS PASSAM A TER NOMES OFICIAIS
A sessão da Câmara de 3 de abril de 1888 aprovou nomes para as
ruas. Paralelas aos córregos Lajeado e Fundo, foram oficializadas:
rua da Redempção (atual rua Voltaire Nogueira dos Santos), rua do
Lajeado (atual avenida Antônio Bertelli), rua Tiradentes (mantém o
mesmo nome), rua do Comércio (atual rua 15 de Novembro), rua
Direita (atual rua 13 de Maio) e rua do Norte (atual rua João de
Oliveira Simões).
As transversais eram estas: rua Tenente João de Mira (atual av.
cap. João Justiniano dos Santos), rua do Natal (atual av. Modesto
Carmesini), rua 2 de Dezembro (atual av. Frederico Ozanam), rua 7
de Setembro (atual av. Padre Domingos Ciddad), rua Antônio Prado
(atual av. 4 de Fevereiro), rua Capitão Liberato (atual av.D.Pedro I),
rua José Alves de Mira (av. Fernando Costa), rua Mariano Lopes
(atual av.29 de Maio) e rua 25 de Março (atual av. José Alves Mira).
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1888 – MAPA DE “DOUS CÓRREGOS”
Antigo sobrado de pau a pique. Em baixo era a cadeia, em cima,
o salão da Câmara (ela exercia funções de Câmara e Prefeitura).
OBSERVAÇÃO: A DISPOSIÇÃO DAS RUAS ESTÁ CORRETA, JÁ OS DESENHOS E A QUANTIDADE DE QUARTEIRÕES SÃO ILUSTRATIVOS.
99
1889 – BREVE PERFIL DA CIDADE
► Bairro da estação – Conforme relatou Armira de Andrade Leite, após a chegada da ferrovia a área que ia do córrego Lajeado até a
estação passou a ser chamada pelo povo de “bairro da estação”.
► Do pontilhão ao Centro – Se alguém, ao entrar pelo pontilhão,
quisesse chegar ao centro da cidade, o único caminho seria ir até a
estação e descer a rua Antônio Prado (atual avenida 4 de Fevereiro),
atravessando o brejo onde corria o córrego Lajeado, sobre o qual
havia algumas toras para servir de pinguela. Foi esse o caminho utilizado por D. Pedro II e sua comitiva, em 3 de novembro de 1886.
Mas o imperador não teve que caminhar sobre as toras, pois ele e a
imperatriz viajavam numa caleche.
► O tamanho da zona urbana – Sem contar o bairro da estação,
com meia dúzia de casas, o limite da cidade ainda eram os dois
córregos. A urbanização só ultrapassaria o córrego Fundo na década
de 1970, durante o chamado “milagre econômico”, quando também
o automóvel se popularizou.
► Qualidade de vida – Após a inauguração da ferrovia foi facilitado o transporte de café até o porto de Santos, o que incentivou o
plantio de novos cafezais e fez aumentar o número de empregos.
Com o café, a economia do Município melhorou consideravelmente.
Portanto a jornada dos Miras tocando porcos com varas, pelos
caminhos, para vender em São Vicente, já era coisa do passado.
1889 – ILUMINAÇÃO A QUEROSENE
Foram instalados postes de madeira e cada um deles possuía em
sua parte alta um gancho de ferro para dependurar o lampião.
A cada anoitecer o “zelador da iluminação” passava a cavalo
acedendo os lampiões, um em cada poste, que eram apagados às 23
horas. Se algum lampião apagasse por falta de querosene, o zelador
seria multado em 2.000 réis.
1889 – CAPELA DE SÃO BENEDITO
Em 18 de fevereiro o vereador Rulpho Nonnato requereu e
conseguiu aprovar a fundação de uma capela a são Benedito e a
demarcação do terreno. O templo definitivo, porém, cuja planta foi
desenhada pelo secretário da Câmara, Benedito Mendes, só seria
inaugurado em 24 de abril de 1932, com a presença do bispo.
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1890 – UMA FAMÍLIA DE MÚSICOS
A “Banda de Maneco Músico” era formada por ele e seus familiares, que vieram de Avaré em carroças, ensaiando pelos caminhos.
Em Dois Córregos, fizeram a cidade desenvolver-se na área musical,
pois, antes disso, Brotas tinha os melhores músicos. A irmã de “Maneco” cantava no coro da igreja e tocaria violino nas sessões de
cinema mudo do Íris Teatro. A banda chegou a apresentar-se na
festa de elevação à comarca, encerrando com a Marselhesa. A festa
foi no sobrado da Câmara, que ficava onde hoje é a casa dos padres.
1892 – HISTÓRIAS SOBRE A BEXIGA
A bexiga (varíola) surgiu em Dois Córregos no mês de junho de
1892. O povo fugiu da cidade, e os doentes ficaram no “lazareto de
variolezes” com o enfermeiro-chefe João Alves de Mira e Mello.
Havia o boato de que a epidemia teve início, quando retornou à
cidade um casal de espanhóis que esteve viajando. Mal chegando
aqui, a mulher apresentou sintomas da doença e morreu. Então o
viúvo, enlouquecido, saiu jogando roupas da falecida pelas ruas, como se fossem contaminar o povo – que na idéia dele seria o culpado.
A epidemia vitimou cerca de 100 pessoas na cidade, não se sabe
quantas, na zona rural, mas na margem direita do rio Jaú, perto da
estação de Lacerda Franco, havia um cemitério da bexiga. Armira de
Andrade Leite, que sobreviveu à doença, ficou com as marcas no
rosto. Segundo ela, faltou comida para quem permaneceu na cidade.
Contava dona Alice Dias de Almeida Lima, que na rua Tiradentes, 570, residiam “Maneco” Alves, sua mulher “Tóda” (Maria Custódia) e seus 9 filhos. Com eles também morava a mãe de “Maneco”, que, estando a família de saída para o sítio, decidiu ficar, indo
ao quintal acender o fogo do tacho de modo a fazer sabão. Por não
querer deixar a mãe sozinha, “Maneco” Alves também ficou,
pedindo a “Tóda” que fugisse com os filhos para o sítio.
“Tóda”, no entanto, não quis partir sem o marido, desse modo
todos eles permaneceram na casa. Quando veio a bexiga, a família
inteira foi acometida pela peste. “Tóda” passou vários dias desacordada; ao voltar a si, viu-se viúva e com 4 filhos menores para criar:
Cleófano, Timóteo, Ebraina e Alfredo. Tinha perdido o marido, a
sogra e 5 filhos. Mas conseguiu sustentar com brio o que restou da
família, lavando roupas sob encomenda na mina da nhá Eva.
101
1892 – ELEVAÇÃO A COMARCA
Em 25 de agosto de 1892, pela lei nº 80, elevou-se à comarca, e o
primeiro juiz foi o monarquista Affonso Eugênio Joly.
Inimigo dos republicanos locais, o juiz trabalhou para que Mineiros conseguisse se separar de Dois Córregos, o que ocorreu em 1898.
1895 – ÁGUA DE POÇO
Desde a fundação, por não existir água encanada, muitas casas
possuíam um poço (cisterna) no quintal. As famílias que não tinham
poço compravam água de João “Agueiro”, que percorria a cidade
com sua enorme barrica em cima da carroça, fornecendo água potável ao povo. Também não existia banheiro dentro das residências;
as privadas eram de fossa, geralmente construídas atrás das casas.
1895 – A FUNDAÇÃO DE GUARAPUÃ
No dia 03 de abril de 1895, Francisco Pereira Lima, sua esposa
Maria Eugênia de Jesus, juntamente com Manoel Franco Piahy e sua
esposa Brasilisia Camanho, lavradores, assinaram escritura doando
15 alqueires saídos da fazenda Velha ou Floresta, ou ainda Bela Vista, para a igreja católica, com o objetivo de fundar uma capela sob
invocação de Santo Antônio da Figueira, subentendendo-se um
povoado no entorno dela, reservando os doadores para si o direito de
edificarem, dentro do terreno doado, um templo de outra seita religiosa e que viria a ocupar quarenta braças em quadra, tanto que essa
escritura foi passada na casa do presbítero Francisco Pereira Garcia.
De acordo com a tradição oral, havia um local chamado Figueira
a aproximadamente seis quilômetros da área, onde depois surgiria a
povoação de Santo Antônio da Graminha, que logo ganharia o nome
de Santo Antônio da Figueira e, por fim, Guarapuã.
A doação de 15 alqueires para a formação do patrimônio da
capela, portanto, teria ocorrido de modo a legalizar uma situação de
fato: já existia um pequeno número de casas com a tendência de se
tornar um povoado. Ainda segundo a tradição oral, antes de a ferrovia chegar a Dois Córregos em 1886, Santo Antônio da Graminha
deixava em todos a expectativa de ser o lugar onde primeiro haveria
o progresso, tanto que o barbeiro Abílio Antônio Ladeira lá se estabeleceu, quando veio de Portugal, e só se mudou com sua família
para a vila de Dous Córregos, depois da chegada dos trilhos da Cia.
... ..
102
Rio Claro, que, assim, definiram o polo de desenvolvimento a favor
da atual sede do município.
O distrito de Santo Antônio da Figueira foi criado pela Lei nº
621, de 21 de junho de 1899, com direito a cartório de registro civil
e juiz de paz. O distrito policial viria pelo Decreto de 24 de setembro de 1901, mas foi depois abolido. Já a denominação Guarapuã
veio através do Decreto nº 14.334, de 30 de novembro de 1944,
mantendo-se a condição de distrito.
Segundo a tradição oral, o nome Guarapuã foi adotado para
evitar confusões do serviço dos Correios entre o distrito de Santo
Antônio da Figueira e a fazenda Figueira.
A resolução nº 12, de 29 de dezembro de 1971, do Tribunal de
Justiça, extinguiu a condição de distrito, passando Guarapuã à
condição de bairro de Dois Córregos.
► Guarapuã, a Árvore que se Levanta
Em 1944, para escolher o novo nome do bairro, que substituiria a
denominação Santo Antônio da Figueira, a tendência era seguir a
tradição brasileira de nomear localidades com palavras tupis. Por
isso, foi solicitada a colaboração do poeta e ferroviário Alencar de
Camargo, que possuía um dicionário tupi-português.
Conforme contou a este autor o próprio Alencar, ele não conseguiu aproveitar a palavra “figueira”, que é de origem latina, nem
gameleira, seu sinônimo vindo igualmente do latim. Não havia
nenhuma palavra tupi, portanto, cujo significado tivesse uma relação
direta com figueira. Quanto ao nome Santo Antônio da Figueira,
teria sido dado num dia de santo Antônio, pois esse era o costume.
Para contornar o problema, ele aproveitou do tupi o prefixo
“guará”, geralmente utilizado em palavras que nomeiam variados tipos de árvores, unindo-o ao verbo “puã”, que pode significar “levantar-se”. Ignorando o hífen, nasceu Guarapuã, a “árvore que se levanta” – um achado poético de Alencar para representar uma figueira.
Apesar do topônimo Guarapuã ter uma relação apenas simbólica
com o antigo nome do bairro, é inegável a beleza dessa palavra criada por Alencar de Camargo, tanto que foi bem aceita pela população.
1895 – TIPOGRAFIA EM DOIS CÓRREGOS
Notícia publicada pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, em 27 de
agosto de 1895:
103
“Causou grande jubilo nesta villa a noticia da pacificação do
Estado do Rio Grande do Sul. O edifício em que funcciona a
typographia do jornal Dous Corregos esteve illuminada até meia
noite. Em frente ao escriptorio e á moradia do sr. Ernesto Leão
Brazil, director do jornal, soltaram-se muitos foguetes.”
1896 – DADOS SOBRE DOIS CÓRREGOS
Nesse ano a Câmara Municipal (ela desempenhava o papel de
Câmara e Prefeitura – que ainda não existia) distribuiu um boletim
com dados sobre a “Comarca de Dous Córregos”.
Segundo esse boletim, o município, incluindo Mineiros, tinha
uma população de 16.000 habitantes, sendo 2.680 na zona urbana. A
maioria dos habitantes, portanto, residia na zona rural, onde o café
era a maior fonte de riquezas. Mas de acordo com esse boletim pode
ser notado que, havendo somente 134 proprietários rurais, essas
terras estavam em poder de uma pequena minoria, enquanto a
grande massa humana de colonos, principalmente imigrantes, trabalhava de sol a sol numa estrutura que ainda lembrava a escravidão.
As ruas da povoação não tinham calçamento. As casas eram de
taipa e cobertas de telhas. Mas já existiam 10 olarias, datando dessa
época, portanto, a maior procura pelas construções em alvenaria.
Outros dados sobre o município: 6 advogados, 3 médicos, 1 dentista, 1 engenheiro, 1 fábrica de polvilho, 1 fábrica de cerveja, 1 fábrica de fumo, 1 fábrica a vapor de macarrão, 1 fábrica de móveis,
1 tipografia (do jornal “Dous Córregos”, de Ramiro Bisbal), 1 banda
de música (União Comercial, maestro José Miglior), 5 restaurantes,
2 farmácias, 2 hotéis, 2 jornais (”Dous Córregos”, fundado em 1893
e “Correio de Dous Córregos” fundado em 1886), 6 armazéns de
secos e molhados, 1 selaria, 5 máquinas de beneficiar café, 45 bares,
1 cocheira, 4 açougues, 7 engenhos de aguardente de cana, 4 professores particulares (ainda não havia o ensino obrigatório), 3 alfaiates,
1 pintor, 8 sapateiros, 3 barbeiros, 2 fabricantes de calçados, 2 relojoeiros, 4 padeiros, 4 funileiros, 2 ferreiros, 5 mestres-de-obras, 4 capitalistas (exerciam legalmente a função que hoje cabe aos bancos).
Esse boletim também relacionava mais de 100 membros da
Guarda Nacional, da qual a patente de coronel era a maior aspiração
política. Os cidadãos agraciados com esses títulos não recebiam
nenhuma remuneração.
104
1896 – EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA
Ocorreu nos anos de 1896 e 1897, fazendo com que as pessoas
abandonassem a cidade. A sede da Comarca, a Inspetoria Escolar e a
Agência Consular Italiana foram transferidas, provisoriamente, para
o bairro de Mineiros, onde não havia a doença.
Os 128 mortos da febre amarela seriam enterrados em valas
comuns no “cemitério velho”, por isso houve o receio de que tal
ambiente pudesse causar a volta da epidemia, tanto que o cemitério
foi desativado. (Naquele tempo ainda não se sabia que a febre era
transmitida pelo mosquito aedes aegypti, o mesmo da dengue.)
1897 – A CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ
A antiga capela, feita por José Alves de Mira, tornou-se pequena
para receber os fiéis, por isso, em 13 de fevereiro de 1897, foi formada uma comissão buscando arrecadar fundos de modo a construir
a igreja matriz, de tijolos, na frente da antiga – que seria demolida.
Através de escritura pública lavrada em 30 de julho de 1897,
Delphina Maria da Conceição assinou uma “ratificação e retificação” confirmando a doação de dez alqueires que ela e seu falecido
marido José Alves de Mira haviam feito à igreja em 1854.
A escritura também testemunhava sobre a doação dos outros dez
alqueires, feita naquele mesmo ano de 1854, por Mariano Lopes
Pinheiro, seu filho José Mariano Lopes e as respectivas esposas.
De acordo com essa escritura passada em 1897 por Delphina
Maria da Conceição, os moradores em terrenos localizados dentro
das terras da igreja com casas construídas seriam obrigados a pagar
todo ano à igreja 200 réis por cada braça de frente, a título de
laudêmio, enquanto durasse a construção do prédio da matriz.
Os vinte alqueires doados à igreja tinham início no rio do Peixe,
englobando toda a área entre os córregos Lajeado e Fundo até a
capela de São Benedito inclusive.
As obras do templo terminaram em 1911, mas ele já vinha sendo
utilizado bem antes de ser inaugurado.
Na década de 1950, a igreja matriz foi reformada e ampliada,
com desenhos do professor Luiz Beraldo, sendo que as obras tiveram a direção do engenheiro licenciado Jayme Lino Othero.
No ano de 1961 a parte interna ficaria pronta, seguindo-se depois
a construção da nova torre.
105
1898 – UM NOVO CEMITÉRIO
Tão logo parou a febre amarela, cujos defuntos foram enterrados
em valas comuns, as autoridades desativaram o velho cemitério.
Ainda afetava a memória da população o vômito negro obrado pelos
doentes da epidemia e, principalmente, a tragédia de tantas mortes.
Por esse motivo foi adquirido um terreno, da fazenda dos Miras, e
construído um novo cemitério, que vem sendo usado até hoje. O
primeiro túmulo guarda os restos mortais de Leocádia de Alvarenga
Mira, falecida de parto aos 14 de setembro de 1898. Já o bairro de
Guarapuã possui o mesmo cemitério desde a época da fundação.
1898 – O CHIQUEIRO DE PORCO / ANALFABETISMO
Durante a febre amarela, em 1896 e 1897, quando a única obra
pública de vulto foi a construção de um chiqueiro de porco no matadouro de Mineiros, pois os cofres municipais estavam esgotados,
essa foi a justificativa que Mineiros precisava para conseguir a
emancipação. Assim, em 1898, já sem Mineiros, um recenseamento
em Dois Córregos revelou a triste cifra de 1.823 pessoas alfabetizadas, dos 8.985 habitantes. Para sanar o problema, o intendente
Augusto Christiano Gomes decretou, em 1902, o ensino obrigatório
e no mesmo ano seria instalada a Escola Maternal D. Anália Franco.
Em 1903 teve início um curso noturno para alfabetizar adultos.
1898 – DOIS CÓRREGOS PASSA A SER CIDADE
A sede municipal recebeu foros de cidade, deixando de ser vila,
pela Lei municipal nº 114, de 10 de outubro de 1898.
1902 – TELEFONE
Luiz Teixeira de Almeida Barros e o doutor Horácio Sodré
conseguiram licença do Governo para uma linha telefônica ligando
Dois Córregos, Jaú, Bariri, São João da Bocaina e Pederneiras.
1902 – A PRIMEIRA SESSÃO DE CINEMA
Em 25 de setembro de 1902 passou por esta cidade o “Cinematographo Universal de Kaurt”, apresentando estes três filmes:
1) As experiências feitas em Paris pelo balão de Santos Dumont.
2) A guerra do Transwal.
3) Os funerais do rei Umberto I.
106
1903 – A PRIMEIRA ÁGUA ENCANADA
De acordo com o jornal O Intransigente, nesse ano foi inaugurada a água encanada vinda da cabeceira do Lajeado. Era chamada de
“água do Cordeiro”, e o cano de ferro que a trazia descia encostado
ao viaduto da rua 15 de Novembro até uma caixa d´água construída
com pedra ferro e cimento no local onde hoje está a Rodoviária.
Mas o volume captado era insuficiente para o fornecimento casa
a casa, tanto que João “Agueiro” continuou vendendo água ao povo.
1905 – A LINHA FÉRREA NESTA REGIÃO
● BAURU – INAUGURADA EM 1905
○ ITATINGUI
● PEDERNEIRAS
IGUATEMI
○
KM 332 – CAMPOS SALLES
↓
○
AIROSA GALVÃO
INAUG. EM 1903
RAMAL
DOS AGUDOS
D.CÓRREGOS –BAURU
RAMAL
DOS AGUDOS
(BAURUD.CÓRREGOS)
● PIRATININGA
● AGUDOS
● JAÚ – KM 334
INAUGURADA EM 19/02/1887
○
○ BANHARÃO – KM 320
●MINEIROS DO TIETÊ – KM 311
● DOIS CÓRREGOS – KM 301
KM 310 – SALDANHA MARINHO ○
○ VENTANIA – KM 291
○
KM 318 – CAPIM FINO ○
KM 321 – FALCÃO FILHO
● TORRINHA – KM 214
1907 – NO TEMPO DO LAMPIÃO DE GÁS
Em substituição aos lampiões a querosene, no dia 18 de agosto
de 1907 foi inaugurado o sistema de iluminação a gás acetileno nas
ruas. Quanto às residências, ainda usariam velas e lamparinas.
Para instalar os lampiões de gás, a Câmara Municipal aproveitou
os mesmos postes de madeira com os mesmos ganchos de ferro nos
quais ficavam, antes, os lampiões a querosene. Nove anos depois a
cidade já possuía 72 combustores (lampiões).
107
1908 – VINDA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
No dia 23 de fevereiro de 1908, utilizando a ferrovia, o presidente brasileiro Afonso Pena visitou Dois Córregos.
1908 – DIVISÃO DA FAZENDA RIO DO PEIXE
José Alves de Mira, João Alves de Mira e Mello, Mariano Lopes
Pinheiro, e suas esposas foram os primeiros donos legais em 1854,
mas em 12 de junho de 1908 foi homologada uma nova divisão.
Essa fazenda era a maior do município. Dos 3.405,5 alqueires
que possuía, havia 450 de terra roxa. Na divisão também constou a
paróquia com 24 alqueires, demonstrando que, certamente, teria
havido erro na primeira medição, em 1854. Em 1908, João Alves de
Mira e Mello, filho do fundador, ainda era dono de 218 alqueires.
1908 – O INÍCIO DO FUTEBOL
Um carregador de malas da estação da Cia. Paulista, de nome
João Neguinho, certo dia na cidade de Limeira viu algumas pessoas
jogando football, e voltou a Dois Córregos empolgado com o que
havia presenciado. Tanto que ele e seus amigos acabaram comprando uma bola de couro, que era vendida em São Paulo.
Em Dois Córregos o football logo conquistou adeptos, mas as
“peladas” necessitavam de um lugar próprio. Então o grupo se apossou de um terreno abandonado, logo abaixo do pontilhão da rua 15
de Novembro, no lado direito de quem desce, que passaram a usar
como campo. Entre os jogadores que ajudaram a preparar o gramado e pôr traves estavam “Ico” Baush, Duílio Piva e seu primo
Paschoal Pedro Piva. “Ico” Baush era um centroavante que se destacava, tanto que mais tarde seria contratado por um time de Bauru.
Essa primeira equipe formada em D.Córregos se chamava Smart,
mas em 1918 ela se desfez para dar origem à A.A. Mocoembu.
1909 – O FUTEBOL EM GUARAPUÃ
Nesse ano foi noticiado, pela imprensa, o início das “peladas” no
antigo distrito de Santo Antônio da Figueira, hoje bairro de
Guarapuã. Eram promovidas por Carlos Simões, Nenê Mesquita e
Inácio Garcia Neto, e iriam resultar na organização de um “Club de
Football” com o apoio do coronel Osório Pereira Garcia, vereador e
chefe político residente no bairro.
108
1909 – A VIDA NA CIDADE
Enquanto nos cafezais o regime era de sol a sol, na cidade continuava não existindo, da parte dos carpinteiros e outros profissionais,
a dedicação plena ao trabalho; entre uma empreitada e outra descansavam-se vários dias, até que o dinheiro novamente viesse a faltar.
Ainda não havia uma sociedade de consumo desenvolvida, como
nos dias atuais. Vivia-se o espírito da economia primitiva de subsistência. No povoado a maioria das casas tinha quintais com uma horta
separada das galinhas, patos, porcos e cabras. Esses animais passavam o dia soltos entre as gramas que cresciam nas ruas, e no entardecer recolhiam-se a seus quintais. Até cavalos e bois pastavam em
locais públicos, tanto que em 1910 seria aprovada uma lei municipal
proibindo a soltura de animais, que não chegou a ser obedecida.
As famílias matavam seus próprios porcos, guardando numa
vasilha com banha derretida os bifes de carne suína, ou bovina, que
assim se conservavam por muitos dias.
Devido ao fato de as casas possuírem pelo menos um pequeno
pomar ou horta produzindo, a comida na mesa tinha uma garantia
razoável. E no anoitecer havia o costume de as pessoas permanecerem sentadas ou agachadas defronte das residências, em longas
conversas entre vizinhos, já que não existia o rádio ou a televisão
prendendo as famílias dentro de casa.
A saúde da população, entretanto, era precária, quando mesmo a
penicilina estava longe de ser descoberta. Doenças contagiosas,
como tuberculose e varíola, faziam-se mortais, sendo normal crianças e adultos pegarem piolho, berne ou bicho-de-pé – sendo este
último um tipo de pulga que penetra na sola do pé e o inflama e que
proliferava por causa dos chiqueiros de porcos nos quintais.
Na verdade, a medicina tinha poucas respostas para a maioria das
doenças. E tal atraso nutria a tradição oral com histórias trágicas,
sendo ainda comentado o caso de Vicente Bellucci, ocorrido durante
a epidemia de febre amarela. O próprio filho dele, João Belucci,
contava que Vicente chegou a adoecer, mas logo sarou. Uma vizinha
de Vicente, entretanto, denunciou-o maldosamente ao inspetor sanitário, como se ele ainda estivesse com a doença. Então as autoridades o levaram à força para um local ignorado. Sua casa foi lacrada e
só alguns dias depois a família recebeu o comunicado sobre a morte
dele, falecido de febre amarela segundo as mesmas autoridades.
109
1909 – A ESCOLA “FRANCISCO SIMÕES”
No dia 14 de setembro de 1909, a população tomou conhecimento da criação do “Grupo Escolar” (depois ele ganharia o nome
de “Francisco Simões”) através de um folheto, distribuído pelo
inspetor de ensino, convidando o povo a participar da passeata que
aconteceria no Centro, às 19 horas, em comemoração à conquista.
Essa passeata contou com a presença de estudantes, professores e
populares, tendo também a animação da banda de coreto Lyra Dois-Correguense.
O Grupo Escolar foi inaugurado em 3 de abril de 1910, utilizando o prédio onde hoje está instalada a Prefeitura. O terreno para
a construção do prédio próprio havia sido adquirido antes, conforme
escritura lavrada em 23 de fevereiro de 1910. Esse terreno acabou
sendo transferido para o governo do Estado, que, em 8 de novembro de 1910, enviou um ofício à Prefeitura informando que daria
início à construção do prédio, o que realmente ocorreu.
► Cel. Francisco Simões – o patrono da escola
Nascido em Minas Gerais, em 1841, Francisco de Oliveira
Simões morou, inicialmente, em Jaú, e nessa cidade casou-se com
Maria Leocádia de Lima Simões.
Em 1863 mudou-se para Dois Córregos, onde seria bem sucedido
com o café. Aliado dos monarquistas recebeu o título de coronel.
Com ele havia vindo de Jaú, aos dois anos de idade, seu filho Francisco de Oliveira Simões – o mesmo nome do pai –, que mais tarde,
já coronel, seria o mais importante chefe político da história local.
O coronel Francisco de Oliveira Simões, cujo nome seria escolhido como patrono do “grupo escolar” faleceu em 22 de junho de
1895, no então distrito de Mineiros, mas foi enterrado em Dois
Córregos no cemitério velho.
1911 – A ILUMINAÇÃO ELÉTRICA
Em maio de 1910, Manfredo Antônio da Costa venceu a concorrência aberta pela Câmara Municipal de Dois Córregos para instalar
a energia elétrica no município. Em março daquele ano ele criou a
Cia. do Oeste de São Paulo, que forneceria energia também a Bocaina, Mineiros, Barra Bonita, Itapuí e a alguns distritos de Jaú. Ainda
em 1910, para a geração de 200 kw de energia foi construída em D.
Córregos uma usina com sua represa no rio da Prata (ou Bugio, ou
...
110
ainda Jaú). A barragem ainda existe, abaixo da foz do rio do Peixe.
Para instalar a rede de energia elétrica foram aproveitados os
mesmos postes de madeira de antes, e não foram retirados nem os
ganchos de ferro, nos quais haviam sido dependurados os lampiões
de gás e antes do gás, os de querosene. A iluminação pública com
energia elétrica seria inaugurada em 2 de abril de 1911. Já a transferência dessa companhia para a CPFL ocorreu em abril de 1913.
1911 – O PRIMEIRO CINEMA
Em 1910 Manfredo Antônio da Costa, dono da Cia.do Oeste,
construiu o prédio para instalar a Empresa Mariano Ninno – Excelsior Cinema, cuja 1ª sessão seria em 1911. No mesmo edifício hoje
funciona o Centro Cultural Nilson Prado Telles, ainda com cinema.
Era a época do cinema mudo, com músicos contratados para
fazer ao vivo a animação sonora das cenas durante as sessões.
Houve cinemas em vários outros locais, como o Íris Teatro, instalado na rua Tiradentes, 317, com filmes, shows e peças teatrais.
1911 – O FIM DOS XAVANTES DE S. PAULO
Trecho do artigo “A questão dos índios no Brasil”, de Hermann
Von Ihering, publicado em 1911 na Revista do Museu Paulista:
“Quantos conhecem o interior de S.Paulo sabem como no correr
dos últimos 50 a 60 anos limpou-se o sudoeste do Estado não só de
indígenas bravios como de mansos e sujeitos ao nosso regime. Nos
últimos 30 anos concluiu-se o extermínio dos Xavantes do Estado de
S. Paulo. Tinha há muitos anos desejo de mandar estudar estes índios. No ano passado ofereceu-se excelente oportunidade, podendo
eu encarregar desta tarefa o senhor Kurt Unckel, amigo dos índios,
o qual já vivera dois anos entre os guaranis do rio Batalha, onde o
adotou o cacique do aldeamento.O resultado foi quase nulo. Os Xavantes, numerosos até há poucos decênios, não existem mais hoje.
Restam tão somente 4 indivíduos, assimilados à população sertaneja e esquecidos em grande parte do seu idioma. Em 1893, um sertanejo enérgico, Veríssimo de Góes, procurou aldear esses índios e
levou-os até a capital do Estado, onde aliás nada conseguiu em favor de seus protegidos. Com a maior dificuldade tornou com os seus
trinta ou quarenta Xavantes até São Matheus, onde os extinguiu
uma epidemia, à exceção de um velho ainda vivo, e empregado em
.... ..
111
serviços domésticos. A miséria aumentou daí por diante cada vez
mais entre os Xavantes. Certa vez quatro mulheres perseguidas por
coroados se refugiaram em São Matheus. O dono da primeira casa
em que procuraram abrigo prostrou logo uma delas com um tiro. O
último cacique dos Xavantes, homem forte e alto, encontrando-se no
campo com um morador, foi também assassinado a tiros, sem que
de sua parte tivesse havido troca de palavras ou resistência”.
1911 – A FUNDAÇÃO DA SANTA CASA
Foi fundada em 25 de setembro de 1911, por Benedito Mendes,
Osório Pereira Garcia, doutor Goffredo Schelini, cel. Francisco de
Oliveira Simões, Benjamin Teixeira, Josino Góis, Rogério Castanho
e João Justiniano dos Santos. O prédio seria feito em 1912.
O terreno havia sido doado pelo major Cesário Ribeiro de Barros.
1912 – A PRIMEIRA CASA BANCÁRIA
Foi fundado pela Câmara Municipal, em 30 de setembro, o Banco de Custeio Rural de Dois Córregos, a primeira casa bancária da
cidade. Mas teve problemas políticos, por isso durou pouco tempo.
1912 – O “TÁXI” DA ÉPOCA
O “táxi” dessa época era um trole coberto, puxado a cavalo, de
Antônio Lourenço de Souza, que ficava estacionado defronte do
“Bilhar do Ferraz”, à rua 15 de Novembro, 55.
Nos horários dos trens de passageiros ele subia até a estação,
depois voltava transportando pessoas e malas. Da estação à cidade,
o preço era cinco mil réis por pessoa. Para enterros e casamentos,
dez mil réis. O automóvel ainda era um sonho distante, mas nesse
mesmo ano a fábrica de Henry Ford começou a fabricação em série.
1912 – LIGAÇÕES DE ÁGUA E ESGOTO
Em 1912 foi captada também a água do Campinho, que corre
paralela à avenida Bahia, e feitas as ligações de água e esgoto. Mas
o agueiro continuou a vender água potável numa barrica, de carroça.
A água do Campinho tinha esse nome porque assim se chamava
toda a área onde hoje está o Jardim Paulista. Ali cresciam muitos
pés de gabiroba, arbusto que produz uma pequena fruta, que era
bastante apreciada pela população.
112
1912 – INAUGURADA A NOVA ESTAÇÃO
A estação já havia sido notícia no jornal “Comércio do Jahu”, em
23 de setembro de 1911:
“DOUS CORREGOS”
“Felizmente já foi iniciada a construcção da nova estação da
paulista nesta cidade. Segundo a planta vae ser um bom prédio, com
commodidade para o grande movimento que a mesma tem e para
um restaurante de propriedade do sr. Odorico Cavallari.”
Essa obra foi inaugurada em 1912 e contou com uma gare maior,
além de um prédio anexo que passaria a servir de sede para a 4ª Divisão da Cia. Paulista. Era admirada por sua beleza em relação às
demais do interior de S. Paulo, e o bebedouro para cavalos, defronte
da estação, foi feito especialmente para Dois Córregos. Existe a
lenda de que ela seria uma réplica da estação de Marselha, da
França, destruída por um bombardeio durante a 2ª Guerra Mundial.
Até a década de 1960 era possível, quando o trem cruzava os
campos de Itirapina, apreciar as emas correrem em bando, assustadas com o barulho da composição. Ao lado dos trilhos, a Cia. Paulista havia plantado fileiras intermináveis de erva-cidreira, certamente por razões estéticas. Já na estação de Dois Córregos existiu
uma tradição, que se manteve desde a inauguração: as pessoas da
cidade costumavam frequentá-la durante os horários de chegada dos
trens de passageiros, fazendo da gare um ponto de encontro.
A estação manteve-se como um monumento vivo, mesmo sendo
fechada no apagar do século 20 pela Fepasa, que substituiu a Cia.
Paulista. (Ver foto na página 114). Devido à beleza do prédio, dois
longas-metragens premiados do cineasta Carlos Reichenbach, Alma
Corsária e Dois Córregos tiveram cenas gravadas na estação.
1918 – FUNDAÇÃO DA A.A. MOCOEMBU
Após a dissolução do Smart, que foi a primeiro time de futebol
da história da cidade, a maioria de seus jogadores entrou para formar
o do Mocoembu. Esse fato, certamente aconteceu em 1918, pois,
ainda há um folheto, em poder deste autor, onde está carimbado:
1918 – A.A. Mocoembu
O terreno e a construção do estádio foram conseguidos graças a
Custódio Caldeira, que emprestou Cr$ 43.000,00 ao clube para comprar a área. Ele era dono de uma máquina de benefício de café e da
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O Prédio da Estação já abandonado – A ONG Osaff, do Distrito Federal, conseguiu verba junto ao Ministério da Justiça para dar
início à restauração, porém a Prefeitura pretende, antes de mexer no prédio, conseguir junto à Ferrovia um documento que lhe dê
a posse da Estação.
agência Chevrolet de Dois Córregos, tendo sido também prefeito
desta cidade. Em 1945, procurado por Hermínio Zorzella, que
exercia a presidência do Mocoembu, Custódio Caldeira, já residindo
em Pirajuí, perdoou a dívida do clube.
Quanto ao imóvel localizado na rua 15 de novembro, esquina
com a av. D. Pedro I, foi fruto de campanhas, em 1962 e 1963, destacando-se a ajuda financeira do dr. Fernando de Oliveira Simões.
O principal título do Mocoembu foi o vice-campeonato de futebol amador do Estado, sob a presidência de Wady Chaddad, em
1952, numa época em que o amador vinha logo após a primeira
divisão. Assim, foi como ser vice-campeão estadual da 2ª divisão.
1921 – BANCO DO COMÉRCIO E LAVOURA
Em 18 de agosto de 1921, o Governo autorizou seu funcionamento. Fundadores: Fernando de Oliveira Simões, Antônio Ferreira
de Castilho Filho e Joaquim Marcondes do Amaral. Atualmente,
essa agência bancária pertence ao Bradesco.
1929 – CONTA DE LUZ EM DÓLAR GERA PROTESTOS
A passagem da CPFL para o controle norte-americano foi realizada pacificamente em todo o Estado de São Paulo, menos em Dois
Córregos, pois aqui a revolta envolveu toda a população.
Tão logo a empresa norte-americana Amorp assumiu o controle
acionário da CPFL, os dois-correguenses deram início a uma forte
campanha, não admitindo “pagar o preço em dólar pela energia
elétrica produzida em seu próprio município”, que vinha da pequena
usina no rio da Prata, da antiga Cia.do Oeste.
Essa insatisfação pública teve como resultado a criação da Cia.
Independência de Eletricidade S.A.
1929 – FUNDADA A CIA. INDEPENDÊNCIA
Em 20 de setembro de 1929, foi organizada a Cia. Independência
de Eletricidade S.A., com sede em Dois Córregos. A barragem seria
construída no ribeirão da Figueira, no local em que ele cruza o
bairro da Independência, hoje de Jaú. Para descer o barranco do ribeirão e ir à usina foi feita uma escada de cimento de 121 degraus.
A turbina chegou a Jaú pela ferrovia, sendo depois transportada
por carro de boi com uma junta de oito muares até o local da usina;
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esse transporte demorou dois dias, tendo sido trocada a junta de bois
durante a viagem, devido à exaustão dos animais.
O engenheiro “Zezinho” de Toledo Moraes (foi prefeito de Jaú e
também fez o projeto do sistema de esgotos de Brasília) era filho do
dono da fazenda Borá e tomou a frente de toda a parte técnica.
Quando a energia finalmente iluminou o bairro de Santo Antônio da
Figueira (hoje Guarapuã), os meninos diziam na rua em tom de brincadeira: “O doutor Zezinho deu à luz, o doutor Zezinho deu à luz”.
A Cia. Independência iniciou com a capacidade de 360 kw e
chegou a possuir, no final da década de 1930, cerca de 21.000
consumidores, contra pouco mais de 100 da CPFL. Ela manteve
vida própria até o final do século 20, mas, por não conseguir
aumentar a produção de energia, foi doada à Prefeitura e, no mesmo
ato, transferida à CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).
1929 – FUNDAÇÃO DO BARRA FUNDA F.C. / A PEDREIRA
Em 1º de dezembro de 1929, o jornal “A Semana” publicou que
os senhores Álvaro “Barbeiro” Luiz de Oliveira, Hugo Capucci e
Antônio Carmezin fundaram esse “conjunto esportivo”. Eles haviam
feito um passeio à Capital e acharam uma certa semelhança entre o
bairro da Barra Funda, em São Paulo, com o local onde moravam
em Dois Córregos, por isso deram o nome ao clube de Barra Funda.
O campo foi cedido pelo capitão João J. dos Santos, mas depois passou a ser usado um terreno na área urbana com o nome de Pedreira.
Em 12 de dezembro de 1957, a Prefeitura doou o terreno da Pedreira ao clube. No final do século 20 o Barra Funda F.C., que emprestaria seu nome ao bairro, registrou-se como entidade. Quanto ao
campo, teve várias reformas e é hoje um recanto bastante agradável.
► A Pedreira – Esse local assim se chamava, porque dele saíam os
paralelepípedos utilizados no calçamento das ruas da cidade. Ainda
hoje, defronte da Prefeitura, há paralelepípedos feitos com rochas de
lá extraídas. Já a pedreira do bairro de Ventania, no tempo do prefeito Casonato, era usada principalmente para fazer pedra britada.
1929 – O PRIMEIRO CALÇAMENTO
O calçamento com paralelepípedos foi inaugurado em 7 de setembro de 1929, na rua 15 de Novembro – no quarteirão da praça
major Carlos Neves – pelo prefeito Custódio Caldeira.
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1931 – A ÁGUA DO ROMÃO
Em 1931 o prefeito Romão Grael captou água de uma fonte na
cabeceira do Lajeado, que viria a ser chamada de “água do Romão”.
1933 – TRANSLADO DE RESTOS MORTAIS
Em 13 de agosto os vicentinos, presididos por Antônio Bertelli,
numa procissão noturna à luz de velas, levaram restos mortais retirados do cemitério desativado para um túmulo no cemitério atual.
Os ossos foram tirados do cemitério de modo a liberar o terreno
para construir o Lar S. Vicente de Paulo, sendo que os tijolos dos
antigos túmulos seriam aproveitados nas obras desse asilo de idosos.
1935 – LAR TITO PAIVA
Fundado em 1º de agosto, esse asilo de idosos e pessoas carentes
tem sido um exemplo de assistência social. É mantido pela Sociedade Beneficente Espírita de Dois Córregos. Foi fundado por Adelino Rodolfo (sozinho, ele faria as duas primeiras “casinhas”), Pedro
José Barboza, Ângelo “Tito” Ricca e Sebastião Paiva.
1938 – NÃO É COMO O POVO DIZ
Floriano de Souza foi maestro da banda de Dois Córregos numa
época em que toda pessoa que exercesse essa profissão era tratada
com o respeito devido às autoridades municipais. Além disso, os
maestros tinham que ser compositores e arranjadores, pois o público
era exigente, sempre esperando por novidades.
Floriano de Souza era casado e, apesar de seu dom musical, caiu
em desgraça ao engravidar uma empregada doméstica de sua casa,
menor de idade, e o problema foi parar na delegacia de polícia.
Esse fato passou a ser o assunto do momento, obrigando o
maestro a mudar-se de Dois Córregos. Antes disso, porém, na última
retreta regida por ele no coreto do jardim, foi apresentado um
dobrado de sua autoria intitulado “Não é como o povo diz”.
1940 – DOUS CÓRREGOS MUDA DE NOME
Nessa década, algumas pessoas passaram a escrever Dois Córregos em vez de Dous Córregos. A polêmica chegou à Câmara Municipal, que mudou o nome para Dois Córregos, isso sem realizar um
plebiscito, que seria o único meio legal de trocar o nome da cidade.
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1941 – PRÉDIO DO AEROCLUBE
Em 27 de janeiro de 1941, ao som da Líder Orquestra, de Jaú, foi
inaugurado o prédio próprio do Aeroclube de Dois Córregos, clube
esse que chegou a possuir um campo de aviação, com aulas de pilotagem, e um avião monomotor – o “Vilagran Cabrita”. Antes de o
clube encerrar suas atividades, o campo foi doado à Prefeitura.
1945 – FÁBRICA DE TUBOS
O início da primeira fábrica de tubos galvanizados da América
Latina, a FANA – Fábrica Nacional, seria em 19 de agosto de 1945,
de propriedade de João “Janjão” de Oliveira Simões. Possuía um
funcionário genial, Orestes Péscio, que criou um sistema de soldas
em série. As poltronas do Centro Cultural foram feitas pela FANA.
1945 – A FUNDAÇÃO DO C.A. BOTAFOGO
Em 18 de março, Rubens Ernani Pescio, Silvio Theodoro de Oliveira, José Theodoro de Oliveira Filho, Sebastião Melges de Andrade, Edmundo Moreira de Souza, Eugênio Bissaco e outros esportistas locais “organizaram um quadro juvenil de futebol, ao qual denominaram Botafogo”, conforme noticiou o jornal O Democrático.
1946 – A ESCOLA “JOSÉ ALVES MIRA”
O “ginásio” começou a funcionar no prédio da prefeitura em 29
de maio de 1946, data de sua fundação, porém a luta para conseguir
esse curso secundário havia sido iniciada em 7 de setembro de 1943,
com a realização de uma assembléia que criou a Associação do
Ensino de Dois Córregos. Como patrono foi escolhido o fundador da
cidade, mas engoliram o “de” do José Alves de Mira.
A Associação passaria a fazer uma campanha na cidade, com
muito sucesso, levantando recursos para adquirir um terreno e
iniciar a construção do prédio. Durante as obras, para que a construção não parasse, Mário de Campos, Benedito dos Santos Guerreiro, Oscar Novakoski e Antônio Pedro Capuzzi chegaram a avalizar empréstimos para a Associação. Finalmente, em 3 de junho de
1945, o governo do Estado publicou o decreto-lei nº 14.758, criando
o ginásio e recebendo em doação o terreno e o prédio em obras para
poder completar o edifício. A primeira aula no ginásio, já com
prédio próprio, ocorreria em 3 de agosto de 1948.
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1947 – A ÁGUA DO FELIPÃO
Nesse ano o prefeito Paulo de Oliveira Lima conseguiu financiamento para captar água da nascente do Felipão, distante 13 quilômetros da cidade, com volume bem superior às nascentes antes usadas.
1947 – A VISITA DE GETÚLIO VARGAS
No dia 5 de novembro de 1947, acompanhado por vários
deputados, bem como por Gregório Fortunato, chefe de sua guarda
pessoal, Getúlio chegou a Dois Córregos para dar apoio à candidatura de Arthur “Tula” de Carvalho a prefeito.
O comício de apoio ao “Tula” aconteceu na esquina da rua 13 de
Maio com a avenida 4 de Fevereiro. Depois, na residência de
“Janjão” Simões foi servido um almoço, cujo prato principal era o
leitão desossado. Antes de Getúlio almoçar, porém, a comida seria
experimentada por Gregório, ato usual nas viagens do ex-presidente,
que temia ser envenenado.
Findo o almoço, Getúlio pediu à dona Rosita, esposa de “Janjão”,
se seria possível providenciar um chá de hortelã, dizendo que ao chá
verde se devia o segredo da saúde de sua família. Também solicitou
que lhe fosse preparada uma refeição completa para a viagem de sua
comitiva, que estava a caminho de Bauru, já que ele não confiava
nos alimentos que poderiam ser conseguidos ao longo do trajeto.
Durante a despedida ocorreu um fato curioso. Antes do almoço,
os chapéus dos convidados haviam sido colocados no porta-chapéu
da casa. Eram chapéus marca Ramenzoni, que tinham a preferência
da sociedade na época. Coincidentemente, nesse almoço estava presente Antônio Bertelli, cuja estatura era idêntica à de Getúlio e
ambos usavam chapéus do mesmo modelo coco. Por isso, ao sair
Getúlio levou por engano o chapéu de Antônio Bertelli. E assim,
Bertelli acabou ganhando um verdadeiro troféu: o chapéu de Getúlio
Vargas, cujo nome estava gravado por dentro, em letras douradas.
1952 – A PRIMEIRA EMISSORA DE RÁDIO
Na década de 1940 José Calissi iniciou o mais famoso serviço de
alto-falante da história da cidade, sob o nome de Rádio Clube Comercial, instalado no Bar XV, esquina da rua 15 de Novembro com
a avenida D. Pedro I. Nesse mesmo bar sempre se apresentava o lendário conjunto “Jazz Gato Preto”. Músicos: Wilfride Pacheco (violi...
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no), Nino Dalla Déa (banjo), Gué Cêncio Paes(cantor), Carlos C.
Paes (violão), Osmar Mendes (piano) e Orlando Rosa (ritmista).
Em 22 de junho de 1952, porém, foi inaugurada a Rádio Cultura
de Dois Córregos, fundada pela família Simonetti (radicada em
Bauru), sob o prefixo ZYR-54, com 100 watts de potência; por essa
razão, não houve mais espaço para serviços de alto-falantes. Posteriormente, a Rádio Cultura foi adquirida pela família Mendes Camargo, que mantém essa emissora até os dias atuais.
1954 – A ESCOLA DE COMÉRCIO
Em 1º de abril de 1954 houve a aula inaugural da Escola de
Comércio, atual Escola Cenecista Prof. Benedito Ortiz. O nome faz
uma homenagem a Benedito Ortiz por ter sido ele quem deu a ideia
de fundar essa escola numa reunião da Sociedade dos Amigos de
Dois Córregos, em 1953, sendo a sugestão prontamente aceita.
A escola iniciou-se com um curso noturno de 2º grau, que antes
não havia na cidade. O nome Cenecista foi dado em razão de o
educandário ser integrado ao órgão federal CENEC – Campanha
Nacional das Escolas da Comunidade.
Desde a sua fundação, foram diretores: Anor Scatimburgo,
Milton Fraschetti, Aristides Nucci, Moacyr Zanetta, Herson Peres,
Nilceu Nucci, José Niles G. Nucci, Maria Benedita Drigo Peres,
Neide Zucarelli Francisconi e Lea Sônia Grael Artigoso.
1956 – QUADRA MUNICIPAL DE ESPORTES
Inaugurada em 27 de maio, leva o nome do doutor Antônio João
de Camargo, fundador da Usina Santa Adelaide – que deu todo apoio
durante as obras de construção. Atualmente, está para ser coberta.
1963 – A REPRESA DE BARRA BONITA
A construção da represa da Cesp, com “eclusagem” para embarcações manteve livre a navegação do rio Tietê, já que através desse
recurso os peixes e os barcos podem ultrapassar a barragem.
1965 – INICIO DO JARDIM PAULISTA
Tendo como loteadores Arlindo Agnelli e Izílio Rossi, em 28 de
janeiro de 1965 seria aprovado pela Prefeitura esse que foi o primeiro grande loteamento de D. Córregos, no local chamado Campinho.
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1966 – O COMEÇO DA TELEVISÃO NA CIDADE
No início da década de 1960, Plínio Girardi começou a vender
TVs da marca Zephir, em preto e branco. Mas as peças vinham soltas, cabendo ao técnico em eletrônica Manoel Tablas Filho montar
duas TVs por semana. Essas TVs dependiam do péssimo sinal da
torre de Torrinha, e só em 1966 Dois Córregos conseguiu repetir sinais do Canal 4 (antiga TV Tupi) montando a torre onde hoje está a
Rodoviária. Em 1968 a torre seria transferida para o Jardim Paulista.
► MANOEL TABLAS FILHO (1912–1986), pai deste autor, foi o
primeiro técnico em eletrônica desta cidade; ele consertava TVs,
rádios, e instalava pequenas usinas de eletricidade em fazendas.
1972 – ASFALTAMENTO ATÉ GUARAPUÃ
A rodovia “Dr.Fernando de Oliveira Simões” foi inaugurada
nesse ano pelo prefeito Moacyr Alberto Gamba, mas havia sido uma
conquista política do advogado Antônio Gonçalves da Cunha.
1973 – ESTAÇÃO PARA TRATAMENTO DE ÁGUA
O prefeito Moacyr Alberto Gamba, em 1973, captou e tratou a
água do rio do Peixe, utilizando a barragem do Tanque da Paulista.
1978 – A FUNDAÇÃO DA APAE
Em 9 de março, o prefeito Ruy Barbosa realizou uma reunião de
cidadãos interessados, no auditório da Câmara Municipal, tendo
como resultado a fundação dessa entidade.
1979 – TRÊS RIOS, UM BAIRRO DINÂMICO
O bairro Três Rios, ou Maria Vitória, que engloba vários loteamentos teve início em 1979, e nos dias atuais o aumento da população fixa é inegável, projetando uma equiparação com Guarapuã.
Mas daquele começo em que tudo era difícil só restaram as histórias, como a do primeiro dono de lote a construir no loteamento
Recanto Feliz, o saudoso Lauro Faulin, que era obrigado a buscar
água do rio Tietê usando balde.
1990 – GINÁSIO DE ESPORTES JONAS EDSON FAULIN
A construção do Ginásio teve início com o prefeito Ruy Barbosa
e foi inaugurado pelo prefeito João Maziero em 10/outubro/1990.
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1990 – O PRIMEIRO POÇO ARTESIANO
Em 18 de novembro de 1990 foi inaugurado o chamado “poço
profundo”, com cerca de 400 metros, no jardim Figueira Branca.
Além desse poço artesiano, o prefeito João Maziero inaugurou
mais um na beira do córrego Fundo e outro em Guarapuã.
1990 – O AQUÍFERO GUARANI
Foi divulgada, nessa década, a existência do Aquífero Guarani,
considerado o maior lençol d´água do mundo, estendendo-se do
município de Campinas até a Argentina. Estima-se que sob Dois
Córregos ele esteja a uma profundidade de 1.900 metros.
1990 – A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Nessa década já chama atenção o assoreamento das nascentes de
água, que teve início com o café e se agravou a partir de 1960
devido ao desenvolvimento da lavoura canavieira, numa época em
que ainda não se conhecia a curva-de-nível.
A expansão dos canaviais roubou espaço, obviamente, das matas
nativas, e essa ação descontrolada, juntamente com as queimadas de
cana-de-açúcar para o corte, obrigou animais silvestres a fugir para a
área urbana. Hoje podem ser vistos na cidade papagaios, tucanos de
bico vermelho, lagartos teiús etc. onde não deixam de ser caçados.
1992 – BIBLIOTECA MUNICIPAL
Em 15 de maio de 1992 foi inaugurada a “Biblioteca Pública
Municipal Laura Rebouças de Abreu”, a maior do município.
1993 – O PROJETO CORAGEM
Com o objetivo de dar assistência aos menores infratores e abandonados seria criada essa entidade, destacando-se a dedicação do
delegado de polícia Antônio de Pádua de Souza, que esteve sempre
à testa do trabalho desenvolvido.
O Projeto Coragem é um exemplo de soluções criativas numa
área socialmente crítica.
1995 – O TERMINAL RODOVIÁRIO
Essa obra, iniciada em meados da década de 1980, só seria inaugurada em 7 de setembro de 1995.
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1996 – O INSTITUTO USINA DE SONHOS
De 5 a 7 de setembro de 1996, o poeta José Eduardo Mendes
Camargo realizou a 1ª Mostra de Cultura e Arte de Dois Córregos,
montada ao lado da igreja matriz. Vieram visitantes ilustres, entre
eles Kiflê Salassie, consultor de cultura da Unesco, em Paris. Foram
expostos óleos sobre tela, esculturas em madeira, trançados de couro
etc. Na parte musical, as danças da quadrilha e catira representaram
o folclore do município. A mostra foi organizada por Silvana Chaddad de Bou, com assessoria do autor deste almanaque. A festa tornou-se memorável, porque revelou a surpreendente diversidade da
cultura local, pouco conhecida dos dois-correguenses naquela época.
O evento fazia parte do projeto Usina de Sonhos, que, após alguns anos inativo, retomou neste início de século 21 o seu objetivo
principal de incentivar o surgimento de poetas entre a população.
Esse trabalho cultural é necessário, principalmente em Dois
Córregos, onde não existe nenhuma livraria, e as duas bibliotecas
públicas, desde que foram criadas, não têm espaços adequados para
atividades voltadas à leitura. A Usina de Sonhos, portanto, faz
nascer esperança de uma mudança nesse quadro.
1997 – O CONDOMÍNIO EDIFÍCIO DOIS CÓRREGOS
Na década de 1990 a obra corria o risco de não ser concluída,
mas graças ao investidor José Henrique “Ike” dos Santos Guerreiro
(ele adquiriu 16 dos 30 apartamentos) houve recursos para o término
da construção. Foi inaugurada em setembro de 1997.
2001 – 1ª BIBLIOTECA PÚBLICA DE GUARAPUÃ
Foi criada aos 25 de setembro de 2001, através dos esforços do
Depto. de Cultura, cujo diretor, naquela época, era o autor deste almanaque. Ganhou da Câmara o extenso nome de Biblioteca Pública
Municipal Professora Arlete de Souza Queiroz Mendes de Almeida.
2001 – PARQUE ECOLÓGICO
Em 15 de abril de 2001, através de concurso escolar foi escolhido
o nome “Parque Ecológico Águas do Lajeado”, sendo que a palavra
“ecológico” viria mais tarde. O parque tem 4,5 hectares e fica ao
lado do Hotel Santa Paula. Essa área foi a preferida por ser o último
grande terreno urbano onde se poderia criar um parque e preservar
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parte do pântano e das árvores nativas na cabeceira do Lajeado.
A escritura pode ser encontrada no Cartório de Registro de
Imóveis de Dois Córregos, Transcrição nº 796 do Livro 4-F. O parque foi criado pela Lei Municipal nº 2.817, de 27 de maio de 2003.
O Viveiro de Mudas seria incorporado ao parque, juntamente
com o restante da área, que antes servia como lixão de entulhos.
Além de um reflorestamento parcial, foram construídos uma sala
ampla e banheiros com doação recebida da empresa Centrovias.
Houve a instalação provisória de uma estufa com horta dentro da
área, já que parque ecológico e horta têm filosofias diferentes. Neste
mês de maio a Prefeitura fez a água chegar ao local do lago, e são
aguardadas outras providências necessárias à inauguração.
A Administração Municipal também deu entrada junto ao governo federal de um projeto pleiteando verba para a construção do
Museu das Lendas – uma das atrações previstas. Esse projeto foi
muito bem elaborado pela Prefeitura e se acaso for aprovado em
Brasília poderá transformar o parque em ponto de atração turística.
2002 – A NOVA ERA DA MÚSICA
Da Banda de Coreto ao Projeto Guri – Depois de 40 anos sem
banda de coreto em Dois Córregos, vários músicos daquela época
decidiram voltar a tocar. Com o apoio da Prefeitura, formaram uma
nova banda de 12 elementos, cuja estréia se deu em 25 de agosto de
2002, durante o evento ”Guarapuã em Ação Voluntária”.
Da velha guarda retornaram: Antenor Mazzuia Júnior, Nercio
Mangerona, Ari Rodrigues, Helio Redondo, Misael Magesto e Nelson Grael – que incentivou a instalação da escola Projeto Guri (é
uma parceria entre Estado e Prefeitura), coordenada pela Associação Musical de Dois Córregos, e que tem hoje cerca de 200 alunos.
2008 – Os GATOS, RETORNO TRIUNFAL
Esse conjunto musical, desativado há mais de 40 anos, retornou
em 2008 com músicas que marcaram época nas décadas de 1960,
1970 e 1980. Com ótimos arranjos e interpretações conseguiu grande repercussão, tanto que o CD do conjunto foi sucesso de vendas.
Músicos: Hélio Travessa, Carlos Eduardo “Ado” Francischone,
Nadim Buttros, Luiz Carlos Napolitano, Antônio Renan Ferro,
Maurício Travessa, Paulo Melchíades e Cristiano Fagian.
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Adenda Informativa
JURISDICÃO DAS TERRAS DE DOIS CÓRREGOS
AS TERRAS DE DOIS CÓRREGOS PERTENCERAM A:
► 1821 – Freguesia de Araraquara, Vila (município) de Piracicaba,
Com.de Itu. (Araraquara pertence a Piracicaba, Portaria 31/10/1921).
► 1832 – Vila (município) de Araraquara, Com. de Itu.(Araraquara
foi elevada à Vila, separando-se de Piracicaba. Decr.de 10/07/1932).
► 1839 – Vila de Araraquara, Comarca de Campinas. (Araraquara
foi transferida à Comarca de Campinas, lei de 14 de março de 1839).
► 1846 – Distrito de Brotas, Vila de Araraquara, Comarca de
Campinas.(Criado o Distrito de Brotas em 06 de março de 1846).
► 1850 – O Censo Demográfico de Araraquara menciona as futuras
terras de Dois Córregos como bairro do Rio do Peixe, em Brotas.
► 1852 – Distrito de Brotas, Vila de Araraquara, Comarca de Mogi
Mirim. (Brotas passa à Comarca de Mogi Mirim em 17/07/1852).
► 1853 – Distrito de Brotas, Vila de Rio Claro, Comarca de Mogi
Mirim. (O Distrito de Brotas passa para a Vila de Rio Claro).
► 1859 – Vila de Brotas, Comarca de Mogi Mirim. (Brotas foi elevada à Vila, separando-se de Rio Claro. Lei nº 1, de 14/02/1859).
► 1859 – Vila de Brotas, Comarca de Rio Claro. (Brotas é transferida para a Comarca de Rio Claro. Lei nº 26, de 06/05/1859).
► 1865 – Distrito de Dois Córregos, Vila de Brotas, Com. de Rio
Claro. (É criado o Distrito de Dois Córregos. Lei 28, de 28/03/1865).
► 1868 – Distrito de Dois Córregos, Vila de Brotas, Comarca de
Araraquara. (Brotas foi transferida para Araraquara em 15/04/1868).
► 1874 – Vila de Dois Córregos, Comarca de Araraquara. (DC foi
elevada à Vila, separando-se de Brotas. Lei nº 43, de 16/04/1874).
► 1877 – DC vai para a Comarca de Jaú, Lei nº 28, de 07/05/1877.
► 1891 – É criado o Distrito de Mineiros, pertencente à Vila de
Dois Córregos, Com.de Jaú (Decreto 121, de 17 de janeiro de 1891).
► 1892 – É criada a Comarca de Dois Córregos, Lei nº 80, de
25/08/1892, à qual passa a pertencer o Distrito de Mineiros.
► 1898 – Mineiros é elevada à Vila separando-se de Dois Córregos.
(Lei 581, de 29/08/1898), mas ainda pertence à Com.de D.Córregos.
► 1899 – Criado o Distr. de S.A.da Figueira, Lei 621 – 21/06/1899.
► 1944 – Santo Antônio da Figueira passa a chamar-se Guarapuã.
(Decreto nº 14.334, de 30 de novembro de 1944).
► 1969 – Mineiros do Tietê passa à Com. de Jaú, em 28/10/1969.
► 1971 – Guarapuã passa a ser bairro. Resolução 12, de 29/12/1971.
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RELAÇÃO DE INTENDENTES E PREFEITOS ELEITOS
INTENDENTES
▬ Augusto Christiano Gomes (de 14/02/1895 a 07/01/1899).
▬ José Morato de Carvalho (de 09/01/1899 a 04/01/1901).
▬ João Rodrigues de Lima (de 07/01/1901 a 31/12/1901).
▬ Sebastião Cosme Pedroso (de 13/01/1902 a 07/01/1905).
▬ Firmino Carlos Simões (de 09/01/1905 a 05/01/1906).
▬ Major Carlos Neves (de 09/01/1906 a 15/01/1908).
PREFEITOS
▬ Major Carlos Neves (de 16/01/1908 a 21/11/1910).
▬ Dr. João Carlos de Oliveira (de 29/11/1910 a 20/11/1911).
▬ Cap. João Justiniano dos Santos (de 31/11/1911 a 15/11/1913).
▬ Augusto Cristiano Gomes (de 16/11/1913 a 15/01/1914).
▬ Major Carlos Neves (de 15/01/1914 a 30/06/1916).
▬ Antonio de Oliveira Mattozinho (de 30/06/1916 a 15/01/1917).
▬ Cap. José Pacheco Neuber (de 16/01/1917 a 30/09/1918).
▬ Cap. João Justiniano dos Santos (de 01/10/1918 a 15/01/1919).
▬ Dr.Antonio Ferreira de Castilho Filho (16/01/1919 a 15/01/1926).
▬ Custódio Caldeira (de 16/01/1926 a 24/10/1930).
▬ Romão Grael (de 29/10/1930 a 20/09/1933).
▬ Dr. Homero da Silveira Correa (de 01/10/1933 a 23/06/1934).
▬ Cap. João Justiniano dos Santos (de 01/07/1934 a 30/06/1936).
▬ Ernesto Scortecci (de 01/07/1936 a 26/09/1938).
▬ José da Silva Teixeira (de 01/10/1938 a 05/03/1939).
▬ José Bernardino do Amaral (de 06/03/1939 a 12/09/1941).
▬ Mário de Campos (de 25/09/1941 a 25/10/1945).
▬ Arthur “Tula” de Carvalho (de 25/10/1945 a 25/03/1947).
▬ José Alves de Assis – interino – (de 25/03/1947 a 19/04/1947).
▬ Paulo de Oliveira Lima (de 19/04/1947 a 30/06/1947).
▬ Jorge Bounassar (de 30/06/1947 a 19/09/1947).
▬ José Alves de Assis – interino – (de 19/09/1947 a 02/01/1948).
▬ Arthur “Tula” de Carvalho (de 02/01/1948 a 31/12/1951).
▬ Homero Puls (de 02/01/1952 a 01/01/1956).
▬ Arthur “Tula” de Carvalho (de 01/01/1956 a 16/09/1957).
▬ Ignácio Diniz Simões – vice-prefeito, assumiu devido ao falecimento do “Tula”. (Ignácio: de 16/09/1957 a 01/01/1960).
128
▬ Antônio Gonçalves da Cunha (de 01/01/1960 a 31/01/1964).
▬ Oswaldo Casonato (de 01/01/1964 a 31/01/1969).
▬ Moacyr Alberto Gamba (de 01/02/1969 a 31/01/1973).
▬ Oswaldo Casonato (de 01/02/1973 a 31/01/1977).
▬ Ruy Barbosa (de 01/02/1977 a 31/01/1983).
▬ Oswaldo Casonato (de 01/02/1983 a 31/01/1989).
▬ João Maziero (de 01/01/1989 a 31/12/1992).
▬ Luciano Bigarelli Júnior (de 01/01/1993 a 31/12/1996).
▬ João Maziero (de 01/01/1997 a 31/12/2000).
▬ José Agostino Salata (de 01/01/2001 a 31/12/2004).
▬ Luis Antonio Nais (de 01/01/2005 a 31/12/2008).
▬ Luis Antonio Nais (de 01/01/2009 a 31/12/2012).
O BRASÃO
► A Escolha – O brasão de Dois Córregos foi escolhido pelo
Concurso de Brasões organizado durante o 1º Centenário da cidade,
em 1956, e teve como vencedora a professora e escritora Virgolina
Murça Viotto. A professora Virgolina havia nascido em 1923, em
Bariri, e foi casada com o médico Waldemar Viotto. Publicou os
livros “Recreação para Crianças” (Prêmio do Ministério do Trabalho, em 1959) e “A Arte de Estudar”, em 1979. Em 1958 ela já
havia recebido o prêmio “Heinrich Reinboldt” no concurso “Cientistas de Amanhã”, promovido pelo governo Federal. Lecionou matemática no curso secundário, em Dois Córregos, durante 33 anos.
► Características do Brasão – Escudo clássico português encimado por uma pomba, símbolo do Divino Espírito Santo, em prata.
Em campo de arminho, dois rios de blau em gemia.
Coroa mural lavrada, de prata forrada de goles, de oito torres.
Suporte: assentes sobre o listel da divisa, ramos de cana à direita
e ramos de cafeeiros frutificados à esquerda.
Divisa: Mokõi-Yembu, em preto, num listel de prata.
► Explicação da Autora – Devido à formação étnica de nosso
povo, o escudo é português e a divisa é em língua tupi. Como elementos temos: dois rios como símbolo toponímico constituindo a
figura parlante do Divino Espírito Santo, protetor da cidade. Os dois
suportes representam os maiores fatores econômicos do Município.
129
HINO DO MUNICÍPIO DE
DOIS CÓRREGOS
A caminho d´oeste a Bandeira,
Brava gente das Minas Gerais.
De São Paulo a pousada tropeira,
Mokoy-Yembu num instante se faz.
Do tupi a primeira morada...
Entre rios, no planalto, a capela.
Mira e Lopes em guapa jornada:
Mokoy-Yembu, eis o nome da terra.
Dois Córregos, amado torrão,
Teu passado o amor construiu.
De São Paulo um pedaço de chão
Espelhando este imenso Brasil.
Sob a luz do Divino, a Pousada.
De Dois Córregos fez-se a cidade.
O botão da roseira plantada,
Em escolas, indústrias se abre.
Neste vale do Fundo e Lajeado
Tanta gente acolheu extremosa,
Filhos teus, que tão rico legado
Nos deixou esta terra gloriosa.
Dois Córregos, amado torrão,
Teu passado o amor construiu.
De São Paulo um pedaço de chão
Espelhando este imenso Brasil.
131
HINO DO MUNICÍPIO DE DOIS CÓRREGOS
Música: Carlos Eduardo “Ado” Francischone e
Heusner Grael Tablas
Letra:
Carlos Alberto Suriano do Nascimento
132
Hino Oficial do Município de Dois Córregos.
Decreto nº 1835, de 29 de outubro de 1985.
133
OS AUTORES DO HINO
► CARLOS EDUARDO ADO FRANCISCHONE – Nasceu em 20 de
novembro de 1949, em Dois Córregos. É diplomado pelo Conservatório Jauense de Música e toca na banda Os Gatos. Cirurgião-dentista formado pela USP de Bauru, onde leciona, é também proprietário de uma das clínicas odontológicas mais conceituadas do País;
tem ministrado cursos e conferências sobre essa área e já publicou
vários livros técnicos editados no Brasil e Exterior.
► CARLOS NASCIMENTO – Jornalista e âncora de TV, foi apresentador do Jornal Nacional na Rede Globo, empresa que o havia
contratado em 1977. Recebeu dois prêmios “Herzog” por suas
reportagens sobre fugas de presidiários em S.Paulo. Iniciou sua carreira na Rádio Cultura de D. Córregos e no jornal O Democrático.
► HEUSNER GRAEL TABLAS – É escritor e foi parceiro de Ado
Francischoni em várias composições musicais. Aposentou-se como
funcionário da Nossa Caixa, absorvida pelo Banco do Brasil, e atualmente tem participação na empresa Flamma, de componentes eletrônicos. Publicou: Lendas de Dois Córregos, Achados Históricos de
Mineiros do Tietê, e A Pousada Alegre dos Dous Córregos.
► A HISTÓRIA DO HINO – Carlos Nascimento ainda era menor
de idade, quando passou a letra do hino ao Ado Francischone para
que este fizesse a música; ela foi feita com muita inspiração, mas
ficou faltando casar letra e música, que estava difícil. Anos depois,
ao serem abertas inscrições para a escolha do hino oficial, o Ado
pediu ao Heusner, autor deste livro, para completar o trabalho. Com
a concordância de Carlos Nascimento, Heusner cumpriu a sua parte.
A BANDEIRA
Partindo da idéia do Brasão, Francisco Romildo de Castro, nascido em 16 de agosto de 1943, idealizou a bandeira do Município. Ela
foi adotada através da Lei nº 836, de 7 de maio de 1973. Na arte da
bandeira, ele usou duas faixas laterais em azul, representando os
dois córregos, com uma faixa central branca simbolizando a paz,
tendo no centro o Brasão de Armas do Município criado pela
professora Virgolina Murça Viotto.
134
DADOS GEOGRÁFICOS
► Posição da Sede do Município
Latitude: S. 22º21’30”
Longitude: W. Gr. 48º22’30”
Planalto Ocidental Paulista
Área Central do Estado
Distância da Capital: 225 km Médio Tietê / Micro-região de Jaú
► Área Total do Município – 633 km² (IBGE)
► População no Ano de 2007 – 24.384 habitantes (IBGE)
► Altitude Média da Zona Urbana – 680 m
► Os Principais Cursos de Água do Município:
▬ Rio Tietê – que serve de limite entre os municípios de Dois
Córregos e São Manuel. São seus afluentes no Município:
rio Piracicaba, córrego da Cruz e ribeirão Maurício Machado.
▬ Rio Piracicaba – que serve de limite entre os municípios de
Dois Córregos e Botucatu. Seus afluentes no Município são:
ribeirão do Turvo e córrego da Pedra de Amolar.
▬ Rio Jacaré-Pepira – que serve de limite entre os municípios
de Dois Córregos e Dourado. São seus afluentes no Município:
rio do Peixe, rib. do Barreiro, córr.do Mosquito e rib. Figueira
▬ Rio do Peixe – que serve de limite entre os municípios de
D.Córregos e Brotas, desaguando no Jacaré-Pepira. São seus afluentes no Município: córr. do Sul e córr.faz Boa Vista do Paredão.
▬ Rio da Prata – formado pela junção do ribeirão do Bugio
com o rio da Prata. Em Jaú ganha o nome de rio Jaú. Afluentes
da margem direita: ribeirão do Matão e córregos Barraca., Boa
Vista e do Macaco. Margem esquerda: córrego do sítio Fura
Olho, rio do Peixe, córrego do Veadinho e ribeirão São João.
▬ Os Córregos Fundo e Lajeado – atravessam Dois Córregos
e emprestam o nome à cidade; são afluentes do rio do Peixe.
► Cachoeiras Principais – do Vernier, 70 m (faz.dos Magalhães).
Cachoeira do Paredão, 50 m – fazenda Boa Vista do Paredão.
Cachoeira Tabarana, 35 m – faz. dos Magros (antiga Barcelos).
Cachoeira Véu da Noiva, 10 m – faz. dos Magros (ant. Barcelos).
► Ilhas e Serras – No rio Tietê as principais são a ilha da Barra
e da Coroazinha. No Piracicaba: ilha Pedra de Amolar.
Serras: de Ventania, da Saldanha, de Brotas, e de S.Pedro.
Montes principais: Morro Alto, Morro Chato e Cerrito.
.
135
MAPA COM O CONTORNO ATUALIZADO DO MUNICÍPIO
E COM SIMPLES MENÇÃO DAS DIVISAS 136
DIVISAS MUNICIPAIS
► Com JAÚ – Começa no ribeirão São João, na foz do córrego Gavião; desce por aquele até o rio Jaú; sobe por este até a foz do ribeirão Matão e por este ainda até sua cabeceira; ganha, na contravertente, a cabeceira do galho do centro do córrego Areia Branca, pelo
qual desce até o ribeirão da Figueira Vermelha; vai em reta à foz do
pequeno córrego da fazenda Figueira, no ribeirão Figueira; sobe pelo
córrego até sua cabeceira; segue em reta, até a ponta setentrional do
esporão da serra de Brotas, que fica cerca de 3 km ao Norte da sede
da fazenda da Serra; continua pelos aparados desta até encontrar o
córrego do Mosquito, pelo qual desce até o rio Jacaré-Pepira.
► Com DOURADO – Começa na foz do córrego do Mosquito, no
rio Jacaré Pepira; sobe por este até a foz do ribeirão do Barreiro.
► Com BROTAS – Começa no rio Jacaré-Pepira, na foz do ribeirão do Barreiro; sobe por este até o córrego do Mamão e por este até
os aparados da serra de Brotas; continua pelos aparados da serra até
encontrar o córr. da faz. Boa Vista do Paredão; desce por este até o
rio do Peixe, subindo pelo rio do Peixe até a foz do córrego do Sul.
► Com TORRINHA – Começa no rio do Peixe, na foz do córrego
do Sul; sobe por este até sua cabeceira; transpõe o espigão Peixe-Bugio, em demanda da cabeceira do córrego da fazenda Nhô Cruz;
desce por este córrego até o ribeirão do Bugio; segue em reta à cabeceira mais setentrional do córrego do Firmino; desce por este até sua
foz no ribeirão Turvo, pelo qual desce até a foz do córrego do Morro
Chato, que corre ao Sul do maciço do mesmo nome; sobe por este
córrego até a cabeceira mais oriental do galho da direita, no contraforte da serra de S. Pedro, que separa as águas do ribeirão Serelepe,
de um lado, das do ribeirão Turvo, do outro.
► Com STA. MARIA DA SERRA – Começa no alto do contraforte da serra de S. Pedro, que separa as águas do ribeirão Serelepe,
à esquerda, das do ribeirão Turvo, à direita, em frente à cabeceira
mais oriental do galho da esquerda do córrego Morro Chato, segue
pelo contraforte em demanda da cabeceira mais setentrional do
córrego da Pedra de Amolar, e por este desce até o rio Piracicaba.
► Com BOTUCATU – Começa no rio Piracicaba, na foz do córrego da Pedra de Amolar; desce por aquele até o rio Tietê e por este
até a foz do córrego da pedra do Cerrito.
137
► Com SÃO MANUEL – Começa no rio Tietê, na foz do córr. da
Pedra do Cerrito; desce por aquele até a foz do ribeir.Maur.Machado.
► Com MINEIROS DO TIETÊ – Começa no Tietê, na foz do rib.
de Maurício Machado; sobe por este até a sua cabeceira mais setentrional; segue pelo contraforte que deixa, à direita, as águas do rib.
da Prata, afluente do ribeirão do Turvo, e, à esquerda, as do ribeirão
Água Vermelha, até cruzar com o divisor entre o ribeirão da Prata, à
direita, e o ribeirão São João, à esquerda; continua por este divisor
até alcançar a cabeceira mais meridional do córrego do Borralho; vai
em reta, à cabeceira mais meridional do córrego Gavião; desce por
este até o ribeirão São João, onde tiveram início estas divisas.
RESUMO HISTÓRICO DA FUNDAÇÃO
No início do século 19 em São Paulo, quando o café atingiu o vale do Paraíba, os olhares voltaram-se para áreas florestais ainda sem
dono no interior do Estado. Mesmo as terras já ocupadas podiam ser
adquiridas a preços baixos, e foi o que fizeram os mineiros José Alves de Mira, Mariano Lopes Pinheiro e seu filho José Mariano Lopes, todos casados, que em torno de 1850 compraram em sociedade
a posse da fazenda Rio do Peixe, onde hoje D. Córregos se localiza.
Em 28 de janeiro de 1854, José Alves de Mira doou 10 alqueires
à igreja, sendo que Mariano Lopes Pinheiro e seu filho José Mariano
Lopes doaram outros 10, para formar o patrimônio de uma capela, a
ser construída em louvor ao Divino Espírito Santo.
A igreja autorizou a construção em 4 de fevereiro de 1856, data
que passou a ser considerada como a da fundação de Dois Córregos.
José Alves de Mira escolheu o local da capela de uma forma
curiosa: soltou um carro de boi carregado de madeira, nos altos da
atual rua Joaquim de Almeida Leme, sob a promessa de construir a
capela aonde os bois parassem. E eles pararam atrás da atual igreja
matriz. Depois, José Alves de Mira ergueu a capela por conta
própria e a seguir fez a mediação das ruas para iniciar o povoado,
tendo sido ele, portanto, quem liderou a fundação de Dois Córregos.
Em 28 de março de 1865, foi criada a freguesia dos Dous Córregos (distrito). Em 16 de abril de 1874, seria elevada a município desligando-se de Brotas. Chegou à comarca em 25 de agosto de 1892.
138
JOSÉ ALVES DE MIRA
FOTO DE UM ÓLEO SOBRE TELA
AUTOR DESCONHECIDO
139
ALMAS CARIDOSAS
Com certeza a caridade está em todas as religiões, porém nós não
poderíamos deixar de citar alguns cidadãos, que são exemplos históricos, quando falamos de ajuda ao próximo. O ser humano precisa de
verdadeiros heróis e aqui eles serão lembrados, embora saibamos
que esta é uma avaliação emocional e, portanto, limitada.
João Alves de Mira e Mello, filho do fundador, deve ser reverenciado, pois arriscou a própria vida ao ficar na cidade cuidando de
doentes, em 1892, durante a epidemia da bexiga (varíola). Como
enfermeiro-chefe do “lazareto de variolezes”, ele aqui permaneceu,
enquanto o povo e as autoridades fugiam para a zona rural.
Em 1909, foi exemplar a ética do prefeito Carlos Neves: ao construir a praça defronte à igreja, com seu próprio dinheiro, justificou
dizendo que não poderia sacrificar verba pública numa obra de luxo.
Também a doação feita pelo major Cesário Ribeiro de Barros, em
1911, cedendo parte de sua chácara para erguer a Santa Casa, não
pode ser esquecida. Essas são atitudes dignas dos grandes homens.
Em 1945, o gesto de Custódio Caldeira, já residindo em Pirajuí,
de perdoar a dívida da A. A. Mocoembu para o estádio ser construído mostra que ele colocava os sonhos coletivos acima de seus
bens pessoais.
A “Conferência de S. Vicente de Paulo”, cujos membros visitavam os doentes, e também ajudavam os pobres foi um modelo de
abnegação e amor durante décadas a fio. Da parte dos vicentinos,
houve ainda a transferência dos leprosos de Dois Córregos para o
leprosário Aymorés, em Bauru, conseguida por Antônio Bertelli, e
a construção do Lar S. Vicente de Paulo. As ações dos católicos
vicentinos ainda repercutem na memória coletiva.
As campanhas, desde longa data, empreendidas pela Sociedade
Espírita local, de ajuda aos pobres, bem como a manutenção do
Lar Tito Paiva desde 1935 são obras regadas pelo amor.
O comportamento do farmacêutico Romão Grael, falecido em
1952, que jamais cobrava remédios de pessoas pobres, às quais
atendia de graça, vai contra qualquer conceito de mercado, porque
ele enxergava o mundo através do coração.
Dona Maria Christina Cintra de Carvalho Pinto, que liderou
campanhas pelos pobres, em 1959, e também fundou a Casa da
........ ...
140
Criança tinha uma visão de futuro voltada à assistência social, o que
revelava a nobreza de sua alma.
A dedicação de dona Rosita Schelini Simões como provedora da
Santa Casa, durante 39 anos, é uma lembrança mais do que merecida.
E também a luta de dona Faraildes Guerreiro Casagrande à frente
da Casa da Criança, que a teve em sua diretoria desde a fundação,
mostra que é possível apostar uma vida inteira a favor do próximo.
A maioria das pessoas citadas neste artigo exerceu funções
dentro de entidades com finalidades sociais, de modo que as
entidades teceram o enredo deste texto. Fora delas, entretanto, a
caridade felizmente existe. Quantas almas bondosas cuidam de
doentes, dia e noite, e quantas outras fazem o bem costumeiramente,
no anonimato, praticando igualmente a virtude da humildade.
PALAVRAS FINAIS
Apesar da atual crise econômica mundial, o parque industrial de
Dois Córregos é dinâmico o suficiente para dele esperarmos um
futuro promissor. O ranking de arrecadação municipal mostra a
liderança da usina do grupo Cosan, vindo a seguir Zanzini Móveis,
grupo Meneguetti, Artepack Industrial Madeireira, QueenNut Macadâmia e Artejato Indústria de Embalagens Metálicas.
Quanto à administração do prefeito Luiz Antonio Nais, o destaque é a pavimentação asfáltica em bairros que esperavam por essa
obra havia anos, como os altos do Jardim Paulista, Portal de Dois
Córregos, Jardim Arco-Íris II, Jardim Alvorada e Jardim Marina.
Apesar da luta dos clubes tradicionais contra o esvaziamento de
seus quadros sociais desde o século passado, a área de lazer vive
expectativas positivas em razão do projeto de construção, pela Prefeitura Municipal, de um centro de eventos ao lado do ginásio de
esportes, já em fase de licitação para obras, e, do Parque Ecológico.
A tônica na área cultural foi a fundação, pela Prefeitura, da
Escola Municipal de Música e Artes de Dois Córregos, em 14 de
maio de 2009, que até a presente data - 20 de junho de 2009 – ainda
não havia sido regulamentada. Há coerência na criação dessa escola,
pois, o investimento na formação de músicos deverá proporcionar
circunstâncias favoráveis à cultura e ao lazer na cidade.
141
LIVROS E PRÊMIOS LITERÁRIOS DE
HEUSNER GRAEL TABLAS
LIVROS DE HISTÓRIA PUBLICADOS :
▬ A POUSADA ALEGRE DOS DOUS CÓRREGOS – ROSWITHA KEMPF /
EDITORES, SÃO PAULO, 1987 – ESSE LIVRO GANHOU O 1º LUGAR EM CONCURSO
PROMOVIDO PELO CEPAM – ÓRGÃO ESTADUAL.
▬ ACHADOS HISTÓRICOS DE MINEIROS DO TIETÊ – SHEKINAH EDITORA E
GRÁFICA, PIRACICABA (SP), 1990.
▬ LENDAS DE DOIS CÓRREGOS – EVERGRAF, BARRA BONITA (SP), 1ª EDIÇÃO
EM 2001 – 2ª EDIÇÃO EM 2002.
CONTOS PUBLICADOS E PRÊMIOS LITERÁRIOS :
▬ AVISO – 1º LUGAR NO CONCURSO DE CONTOS “MAPA CULTURAL PAULISTA”, DA SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA, NO ANO 2000. LIVRO PUBLICADO PELA EDITORA UNIVERSITÁRIA DE LISBOA / PORTUGAL, ANO 2001.
▬ AVISO – 2º LUGAR NO CONCURSO NACIONAL DE CONTOS DE ARARAQUARA,
PRÊMIO IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO, 1998. ANTOLOGIA PUBL. EM 1999.
▬ O CAUSO DA MENINA DO OURO – 1º LUGAR NO CONCURSO DE CONTOS
“CAIXA ECONÔMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO”, EM 1979.
▬ O UNHUDO DA PEDRA BRANCA – 1º LUGAR NO CONCURSO DE CONTOS
“HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA”, PROMOVIDO PELO MOBRAL, EM 1977.
▬ O POÇO – CONTO INCLUÍDO NO LIVRO “III CONCURSO DE CONTOS
PAULISTA”, EM 1986. EDIÇÃO: SENAC / DOW QUÍMICA.
▬ ARROZ DE SOQUEIRA – CONTO INCLUÍDO NO LIVRO “A NOVA LITERATURA
BRASILEIRA 1983”, PUBL. PELA EDITORA SHOGUN ARTE, DO RIO DE JANEIRO.
▬ ANGA – CONTO QUE OBTEVE MENÇÃO HONROSA NO “PRÊMIO NOVA
FRIGURGO” (RJ) DE LITERATURA, EM 1982.
 ESTAÇÃO DE CAPITUBA – CONTO INCLUÍDO NO LIVRO (ANTOLOGIA)
“CONTO PAULISTA”, CO-EDIÇÃO SENAC / LIVRARIA ESCRITA, S.PAULO, 1982.
 SERRA D´ÁGUA – LIVRO DE POEMAS GANHADOR DE MENÇÃO HONROSA NO
“PRÊMIO FERNANDO CHIGNALIA II”, OUTORGADO PELA U.B.E. (RJ), EM 1971.
▬ O CASTIGO DO CÉU – CONTO ESCOLHIDO ENTRE OS DEZ MELHORES DO
INTERIOR PAULISTA NO CONCURSO “MAPA CULTURAL PAULISTA, EM 1997.
▬ BARBATIMÃO – CONTO INCLUÍDO NO LIVRO “4º CONCURSO DE CONTOS DE
SÃO BERNARDO DO CAMPO” (SP), 1984.
142
SUMÁRIO
AS LENDAS
Nota Desassombrada do Autor..........................................................9
A Menina do Ouro.............................................................................11
O Unhudo.........................................................................................15
A Noiva do Jardim..............................................................................21
O Caminhão-Fantasma.....................................................................25
O Cavaleiro Vestido de Branco.........................................................27
A Água da Nhá Eva...........................................................................29
A Mãe do Ouro.................................................................................31
As Canoas sem Remo......................................................................33
A Noiva da Cachoeira......................................................................35
CAUSOS E CURIOSIDADES
O Lampião do Padre........................................................................39
Os Caiapós Atacam Jundiaí.............................................................39
A Origem do Nome Banharão.........................................................40
A Fundação de Dois Córregos Teve a Ajuda de um Carro de Boi..40
A Falta de Velas...............................................................................41
Nada de Pepinos...............................................................................41
A Opinião de Armira sobre D. Pedro II...........................................41
O Gol de Assopro.............................................................................42
Revolução com Horário para Almoço..............................................43
Chica e os Macacos..........................................................................43
A Fartura no Morro Alto..................................................................43
O Gavião Preguiçoso........................................................................44
Batista, o Mal-Assombrado..............................................................44
Aníbal Sabia se Transformar numa Pedra........................................44
Seu Zico Machadeiro.........................................................................45
Briga de Assombrações....................................................................45
O Cachorrinho Esperto.....................................................................45
Canário é Bicho pra Pouco Alpiste..................................................45
Quando Élvio Desmaiou..................................................................46
Tobias no Exército...........................................................................46
A Dor na Perna Direita.....................................................................46
Uma Família de Sacis.......................................................................47
Homenagens ao Pracinha.................................................................47
143
O Caçador de Cobras........................................................................47
A Cobra que Mamava na Vaca........................................................48
Um Lagarto de Cinco Metros............................................................48
Atrasando a Chuva...........................................................................48
A Égua que Pescava Traíras.............................................................49
Comendo Içá Frito.............................................................................49
Um Pescador que Evitava Mentir......................................................49
A Trombada da Carroça com o Fusca..............................................50
A Vaca Gulosa...................................................................................50
Mário Marcondes.............................................................................50
O Raio Falhado.................................................................................50
O Velho do Pito.................................................................................51
A Chuva de Peixes............................................................................51
O Estouro do Bode............................................................................51
Perseguido por um Elefante..............................................................51
Meio Gol...........................................................................................52
Controle de Estoque.........................................................................52
A Vaca Egoísta.................................................................................52
A Sucuri que Fugiu do Dono.............................................................53
Alarme Falso....................................................................................53
Uma História do Antigo Bar Central................................................53
Pescando Formigas..........................................................................54
O Homem que Laçou o Guarda.......................................................54
A Colheita de Milho no Morro Alto................................................55
A Sucuri Comprida..........................................................................55
O Ninho Motorizado........................................................................55
A Cadela Prenhe..............................................................................55
A Cobra que Deslocou o Maxilar....................................................55
Tirar a Banha sem Matar o Porco....................................................56
Viajando em Navio de Casco Furado..............................................56
Pescando com Laranjas....................................................................56
A Cascavel Friorenta.......................................................................56
UM APANHADO GERAL DA CULTURA POPULAR
Simpatia para Cortar Íngua..............................................................59
Simpatia para Curar Gagueira..........................................................59
Reza para Curar “Cobreiro”.............................................................59
Simpatia Contra Veneno de Cobra...................................................59
144
Como Tirar Berne...............................................................................59
Simpatia Contra o Quebranto...........................................................59
Benzeduras à Distância....................................................................60
Benzimento pra Cortar o Medo........................................................60
Simpatia pra Estancar o Sangue........................................................60
Reza para Afastar Cobras Venenosas / Dança de Roda...................60
Festa de São Gonçalo na Fazenda Santa Leocádia............................61
Os Mortos da Zona Rural.................................................................61
Encomendação de Almas na Quaresma.............................................61
Festa dos Santos Reis / Festa do Divino..........................................62
Poesia Popular..................................................................................62
Atravessando a Fogueira..................................................................63
A Dança da Catira ou Cateretê.........................................................63
Concurso Regional de Quadrilhas....................................................64
Clube dos Cavaleiros........................................................................64
A Goiabada-Cascão da Família Paulo.............................................64
Artesanato..........................................................................................64
O Carnaval – Apontamentos para a História....................................65
Campeonato de Pipas “Empinando a Lenda”....................................69
Desafio de Cururu / O Sorvete do Marchetti....................................70
Trilha Noturna Unhudo da Pedra Branca.........................................70
A FORMAÇÃO DE DOIS CÓRREGOS
Explicações Necessárias....................................................................73
Pré-História.......................................................................................75
1602 – Bandeirantes Descem o Tietê...............................................76
1720 – Monções...............................................................................76
1775 – Um Arraial em Dois Córregos..............................................76
1781 – Um Guarda-Mor para Fiscalizar o Ouro..............................76
1801 – Origem da Fazenda Banharão..............................................77
1822 – Ataque Xavante....................................................................77
1826 – Terra de Sesmaria em Dois Córregos....................................77
1826 – Um Relato sobre os Xavantes................................................78
1828 – Xavantes Ameaçam Araraquara / Caiapós...........................79
1829 – Os Índios Amedrontam Rio Claro.........................................79
1835 – Chegam os Lopes.................................................................80
1840 – O Último Xavante Avistado.................................................81
1841 – Um Incêndio Faz Xavantes Migrarem.................................81
145
1844 – Curiosidade sobre a Fazenda Serra do Paredão.....................81
1846 – Óbito de Filho de Escravos...................................................81
1846 – A Vinda dos Miras ..............................................................82
1847 – A Expedição que Povoou Guarapuã....................................82
1847 – Falece a 1ª Esposa de Mariano L. Pinheiro..........................82
1847 – O Casamento de José, Filho de Mariano Lopes Pinheiro....82
1847 – Histórico da Fazenda Rio do Peixe......................................83
1847 – José Alves de Mira, o Fundador...........................................84
1847 – João Alves de Mira e Mello..................................................85
1848 – Mariano Lopes Pinheiro se Casa com Moça de 17 Anos......85
1848 – Possível Desentendimento entre os Lopes............................86
1850 – A Primeira Autoridade Nomeada para o Bairro................ ..86
1850 – Uma Página do Censo Demográfico....................................87
1855 – O Fundador de Jaú Teve Terras em Dois Córregos.............87
1856 – A Fundação – Comentário sobre o Caso do Carro de Boi...88
1856 – Doar Terras à Igreja, um Bom Negócio...............................89
1857 – A Bênção do Cemitério........................................................89
1861 – A Inauguração da Capela......................................................90
1865 – Elevação à Freguesia / Amarrados no Coqueiro..................90
1866 – O primeiro Vigário................................................................90
1869 – Os Animais Selvagens..........................................................90
1873 – A Navegação Fluvial............................................................91
1874 – Elevação à Vila....................................................................91
1875 – Primeiras Divisas...................................................................91
1875 – O Templo Pioneiro da Igreja Presbiteriana..........................92
1876 – Primeira Câmara de Vereadores............................................92
1882 – Ferrovia – A Criação da Cia. Rio Claro...............................92
1886 – Os Trilhos se Aproximam....................................................92
1886 – Os Jornais de Dois Córregos................................................93
1886 – A Primeira Estação Ferroviária............................................95
1886 – D. Pedro II em Dois Córregos..............................................95
1887 – Trecho da Primeira Ferrovia.................................................97
1888 – Influências das Imigrações...................................................97
1888 – As Ruas Passam a Ter Nomes Oficiais................................98
1888 – Mapa de “Dous Córregos”....................................................99
1889 – Breve Perfil da Cidade / Iluminação a Querosene.............100
1889 – A Capela de São Benedito.................................................100
1890 – Uma Família de Músicos...................................................101
146
1892 – Histórias sobre a Bexiga....................................................101
1892 – Elevação à Comarca...........................................................102
1895 – Água de Poço.....................................................................102
1895 – A Fundação de Guarapuã...................................................102
1895 – Tipografia em Dois Córregos.............................................103
1896 – Dados sobre Dois Córregos................................................104
1896 – Epidemia de Febre Amarela...............................................105
1897 – A Construção da Igreja Matriz...........................................105
1898 – Um Novo Cemitério...........................................................106
1898 – O Chiqueiro de Porco / Analfabetismo...............................106
1898 – Dois Córregos Passa a Ser Cidade.....................................106
1902 – Telefone / A Primeira Sessão de Cinema...........................106
1903 – A Primeira Água Encanada................................................107
1905 – A Linha Férrea nesta Região..............................................107
1907 – No Tempo do Lampião de Gás..........................................107
1908 – Vinda do Presidente da República.....................................108
1908 – Divisão da Fazenda Rio do Peixe......................................108
1908 – O Início do Futebol / 1909–O Futebol em Guarapuã.......108
1909 – A Vida na Cidade...............................................................109
1909 – A Escola “Francisco Simões”............................................110
1911 – A Iluminação Elétrica........................................................110
1911 – O Primeiro Cinema / O Fim dos Xavantes de S.Paulo......111
1911 – A Fundação da Santa Casa.................................................112
1912 – A Primeira Casa Bancária..................................................112
1912 – O “Táxi” da Época / Ligações de Água e Esgoto..............112
1912 – Inaugurada a Nova Estação................................................113
1918 – Fundação da A. A. Mocoembu...........................................113
O Prédio da Estação.......................................................................114
1921 – Banco de Comércio e Lavoura...........................................115
1929 – Conta de Luz em Dólar Gera Protestos .............................115
1929 – Fundada a Cia. Independência............................................115
1929 – Fundação do Barra Funda F.C. / A Pedreira.......................116
1929 – O Primeiro Calçamento......................................................116
1931 – A Água do Romão..............................................................117
1933 – Translado de Restos Mortais..............................................117
1935 – Lar Tito Paiva......................................................................117
1938 – Não é Como o Povo Diz......................................................117
1940 – Dous Córregos Muda de Nome..........................................117
147
1941 – Prédio do Aeroclube...........................................................118
1945 – Fábrica de Tubos / A Fundação do C. A. Botafogo...........118
1946 – A Escola “José Alves Mira”...............................................118
1947 – A Água do Felipão / A Visita de Getúlio Vargas..............119
1952 – A Primeira Emissora de Rádio...........................................119
1954 – A Escola de Comércio........................................................120
1956 – Quadra Municipal de Esportes...........................................120
1963 – A Represa de Barra Bonita.................................................120
1965 – Início do Jardim Paulista....................................................120
1966 – O Começo da Televisão na Cidade....................................121
1972 – Asfaltamento até Guarapuã................................................121
1973 – Estação para Tratamento de Água.....................................121
1978 – A Fundação da APAE.........................................................121
1979 – Três Rios, um Bairro Dinâmico.........................................121
1990 – Ginásio de Esportes Jonas Edson Faulin............................121
1990 – O Primeiro Poço Artesiano / O Aquífero Guarani.............122
1990 – A Degradação Ambiental...................................................122
1992 – Biblioteca Municipal...........................................................122
1993 – O Projeto Coragem.............................................................122
1995 – O Terminal Rodoviário.......................................................122
1996 – O Instituto Usina de Sonhos...............................................123
1997 – O Condomínio Edifício Dois Córregos..............................123
2001 – 1ª Biblioteca Pública de Guarapuã / Parque Ecológico.......123
2002 – A Nova Era da Música........................................................124
2008 – Os Gatos, Retorno Triunfal................................................124
ADENDA INFORMATIVA
Jurisdição das Terras de Dois Córregos..........................................127
Relação de Intendentes e Prefeitos Eleitos......................................128
O Brasão..........................................................................................129
Hino do Município de Dois Córregos.............................................131
A Bandeira......................................................................................134
Dados Geográficos.........................................................................135
Mapa com o Contorno Atualizado do Município..........................136
Divisas Municipais.........................................................................137
Resumo Histórico da Fundação........................................................138
Almas Caridosas..............................................................................140
Palavras Finais..................................................................................141
148
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