03/08/2010 – Nº 159 – Ano 04 66 3423-2121 – [email protected] TAMBÉM QUERO FOLGA Desde que tenho ocupado este espaço da níveis, cuja produtividade média está muito abaixo minha coluna, por ora cativo, e mesmo antes, da iniciativa privada. sempre me mantive restrito às questões Quando comparada aos padrões de países técnicas, e evitado ao máximo emitir opinião ou apenas semelhantes a nós, ficamos ainda mais ponto de vista sobre qualquer assunto que distantes, para trás. De modo simples, possa envolver a posição ou prática das esferas produtividade pode ser medida, por exemplo, pelo políticas. tempo necessário para abrir uma empresa, obter Sempre tive o nítido propósito de evitar uma negativa, um alvará, receber o retorno de um qualquer entendimento diverso daquele protocolo, oferecer um incentivo, ou mesmo expressado nos textos e não correr o risco de concertar um bueiro e assim por diante. ser associado a posição político-partidária de Sobre este assunto recomendo fortemente a qualquer grupo que seja, mantendo a minha todos, e em especial aos vereadores que necessária isenção. aprovaram este projeto de lei, a leitura do livro Contudo, o projeto de lei que concede ao Brasil – Raízes do Atraso, do economista Fabio servidor público municipal ponto facultativo no Giambiagi, ex-presidente do IPEA, membro do dia do seu aniversário me fez rever Staff do BID e do departamento econômico do momentaneamente essa posição. Na condição BNDES, onde os dez principais motivos que de cidadão, profissional e empresário me senti inibem o desenvolvimento do país são discutidos. obrigado a fazer algumas ponderações que O legislativo tem papel fundamental para dar julgo oportuno, principalmente suporte robusto na estrutura da considerando o atual estágio de legislação, mas no sentido de O legislativo precisa desenvolvimento que a nossa garantir o crescimento e o ter mais compromisso desenvolvimento no médio e região, o próprio Estado e País, com a gestão pública, longo prazo e não para garantir se encontram. mais Preciso antes de tudo benefícios individuais para quem enfatizar que obviamente bons quer que seja, principalmente à responsabilidade projetos já foram apresentados e sobre o orçamento e a custa do erário municipal. que os legisladores locais, em Cada vez que ocorrem respectiva determinados momentos, têm absurdos dessa natureza fica competitividade que demonstrado evidente esforço mais evidente que o crescimento um município precisa para contribuir para o de determinadas cidades ocorre desenvolvimento da cidade, do apesar de alguns políticos e não alcançar. município e da região, mas em função deles, como deveria de dentre outros projetos totalmente inócuos e de ser. objetivos duvidosos, aprovados na Câmara Quanto a importância da falta dos servidores Municipal, este parece ser um dos piores. ao trabalho no dia do seu aniversário, basta uma É necessário evidenciar e também dar conta simples: o funcionalismo representa algo ciência aos vereadores, ou pelo menos aqueles em torno de 4600 colaboradores e são ainda crentes de que benefícios individuais à aproximadamente 260 dias úteis no ano, portanto, custa do estado é algo inocente sem maiores teremos em média, além daqueles que já não conseqüências para o desenvolvimento comparecem naturalmente ou emendam um econômico e social, de que a produtividade é feriado, diariamente 18 servidores faltando ao questão central para conferir capacidade trabalho, mas recebendo, como se estivessem lá. evolutiva nos índices de qualidade de vida e Se considerarmos o salário médio de cada bem estar do povo. servidor veremos que um dia de folga gera muita Dito de outro modo é trabalhando mais e diferença, ao contrário do que tem sido melhor que as regiões se sobressaem frente às argumentado por alguns. demais, atraindo mais empresas, tornando-as Se deve ser levado em consideração a mais competitivas e melhorando a renda de justificativa de que isso não prejudicará o todos. Deveriam saber que um dos principais desempenho das atividades, visto por outro entraves ao desenvolvimento se encontra ângulo, podemos concluir de que esses exatamente no setor público, em todos os funcionários estão sobrando no quadro, dado que Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É Diretor de Relações com o Mercado do IBG, professor e palestrante – 66 3423-2121 – [email protected] 03/08/2010 – Nº 159 – Ano 04 não fazem falta ou estão fazendo pouco uma vez que sobra tempo. O projeto aprovado irresponsavelmente pela Câmara Municipal, além de endossar a redução da produtividade pública, pode ainda contribuir para que a imagem dos servidores que de um modo geral já é ruim, tende a ficar ainda pior, mesmo sabendo que há excelentes profissionais nos seus quadros. Aliás, tenho sérias dúvidas de que os próprios funcionários públicos fiquem satisfeitos com tamanha humilhação ao permitir que recebam remuneração à custa da população, sem trabalhar, mesmo que legitimado por lei. É tão desastrosa a iniciativa que nem mesmo a organização que representa a categoria beneficiada era sabedora do teor do projeto ainda após aprovado. Muito interessante essa prática do legislativo, conceder sem ser requisitado e dar esmola com o dinheiro alheio. Isso induz ao cidadão comum como eu a acreditar em motivos não tão nobres na propositura do parlamentar ao mesmo tempo em que também fica evidente a falta de seriedade ou descaso dos demais vereadores, com exceção de um, em se opor a um projeto com forte apelo populista em época de campanha e assim, perderam a oportunidade de recolocar a razão como ponto central do debate político na câmara. Não entro no mérito da importância e relevância que o funcionalismo municipal possui, dada a estima e valor que gozam comigo. Sempre foram muito solícitos e prestimosos toda vez que necessitei do seu atendimento, o que de pronto não representa adicional de competência, apenas abonam com eficácia a sua condição de servidores municipais, agora na iminência de obter um privilégio dispensável e injustificável. Ao invés de uma esmola desnecessária ao funcionalismo seria muito mais útil um projeto que promovesse a melhora da qualidade do ambiente de trabalho ou oferecesse instrumentos de apoio técnico e por conseqüência melhorasse os indicadores de qualidade do serviço público. Do modo como está não vejo qualquer contribuição para o município. O legislativo precisa ter mais compromisso com a gestão pública, mais responsabilidade sobre o orçamento e a respectiva competitividade que um município precisa alcançar. A prefeitura é uma das principais empresas do município e como tal precisa ser administrada com esmero e atenção, buscando 66 3423-2121 – [email protected] melhorar o seu desempenho continuamente e para isso a câmara municipal tem papel fundamental. Quando os representantes políticos da sociedade iniciam um processo de queda na qualidade dos projetos, como é o caso, dando sinais evidentes de inanição criativa e produtiva, propondo questões irrelevantes e prejudiciais a questão pública está chegada a hora de renovar os seus quadros. Parece que entramos nessa rota. Outro aspecto que me choca é a capacidade de articular argumentos esdrúxulos para justificar o injustificável. Dizer que a Câmara Federal também está analisando projeto semelhante e por isso achar que somos evoluídos é no mínimo duvidar da inteligência dos eleitores e cidadãos. Precisamos sim fazer benchmarking. Aliás, a todo instante aproveitamos idéias de outros para melhorar as nossas atividades, mas devemos utilizar apenas as boas idéias, adaptando o que seja útil e deixar as futilidades eleitoreiras de lado. Precisamos prestar atenção, porque há outros municípios concorrentes em investimentos que estão sendo mais ágeis e eficazes nas suas proposituras, e ganhando terreno a passos largos. Como afirmava um anúncio, estes vereadores “precisam rever os seus conceitos”, neste caso, explicitamente sobre inovação, competitividade, avanço e também ética e compromisso com a sociedade. Com projetos dessa natureza também se torna mais interessante um assunto que está de volta a discussão, o do número de vereadores necessários para bem representar a população. Começo a acreditar firmemente que muito antes de discutir o número deveríamos estabelecer melhor os critérios de qualidade para aqueles que já temos. Por fim, os argumentos apresentados pelos vereadores para justificar a proposição e posteriormente a aprovação deste projeto de lei devem ser muito robustos para tentar me convencer de que essa lei traga alguma utilidade efetiva para o desenvolvimento da sociedade. Agora é torcer para que o Sr. Prefeito Municipal vete o projeto, fique com o ônus da farra legislativa, e na seqüência, os vereadores tenham mais juízo que da primeira oportunidade. Boa semana de Gestão & Negócios. Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É Diretor de Relações com o Mercado do IBG, professor e palestrante – 66 3423-2121 – [email protected]