CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA DA UFSM: CAMINHOS PERCORRIDOS PELA GESTÃO DE TUTORIA Andréa Forgiarini Cechin - UFSM Vanessa dos Santos Nogueira- UFSM Esse trabalho pretende analisar alguns aspectos da organização do trabalho de tutoria no Curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentando suas especificidades, como ocorre o planejamento da ação e a formação continuada de seus tutores. Em primeiro lugar, fala um pouco sobre o processo de seleção dos nossos tutores, considerando as peculiaridades do trabalho desenvolvido no Curso. Em seguida, procura situar quem são os nossos tutores, qual sua formação e que funções assumem no cotidiano da Pedagogia EaD. Apresentamos a forma como as ações desenvolvidas em conjunto pelo grupo de tutores foi se constituindo a partir das reuniões e pesquisas, que culminaram com a organização de um espaço no Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA) – Moodle, recentemente inaugurado para este grupo de tutores, pensando o processo de formação continuada desses profissionais. Para viabilizar o desenvolvimento deste estudo realizamos uma revisão bibliográfica com autores que versam sobre o tema, realizamos pesquisas e deserções tanto no AVEA da formação continuada, como no ambiente do Curso de Pedagogia, além da reflexão sobre as ações voltadas para a implementação e desenvolvimento de um grupo de cento e quarenta tutores que busca efetivar um trabalho de qualidade e coerente com a proposta pedagógica do Curso. Palavras - Chave: Educação a Distância. Gestão de Tutoria. Formação Continuada. INTRODUÇÃO A educação a distância vem alterando o contexto do ensino formal da universidade e que essa transformação no cenário atual provoca uma mudança de percepção temporal, geográfica e humana. Hoje há a possibilidade de uma comunicação interativa com pessoas de diversos lugares do mundo com interesses e objetivos em comum. Apesar do início da história referente a EAD ser antiga, tendo início no Brasil na década de vinte com rádio e nas décadas de trinta e quarenta pelo ensino por correspondência, somente na década de noventa que a modalidade a distância é contemplada pelas políticas públicas para a educação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996). No ano de 2005, foi criado o Decreto Federal nº. 5.622/2005 (BRASIL, 2005) que regulamenta o artigo 80 da Lei Nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que versa sobre a Educação a Distância no Brasil, definindo, em seu artigo 1°, a EAD como “[...] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação [...]” (BRASIL, 1996). Existem muitos paradigmas emergentes a serem superados no processo de implementação da modalidade de Ensino a Distância. O sujeito é compreendido em função de seu constante processo de construção, transformando-se a partir de suas ações sobre o mundo, havendo intercâmbio com o meio, mediante processos interativos, onde sujeito e objeto são organismos vivos, ativos e abertos. O ser que se constrói a partir das relações com o mundo físico e social dando a dimensão sócio-cultural a possibilidade de transformação e autonomia. Na modalidade a distância o tutor vai se construindo a partir de suas escolhas com relação ao lugar apropriado e metodologia de aplicação da tecnologia e das relações estabelecidas com os outros sujeitos envolvidos nesse contexto. Essas escolhas são fundamentais para que o professor possa conquistar, gradativamente, domínio dessas ferramentas, tendo a sensibilidade ética e social de que esse curso que estão inseridos forma professores que vão atuar na formação de outros professores para nossas escolas. Nesse sentido, podemos considerar que: “ Aprender e ensinar com tecnologias, a distância e/ou em ambiente virtual de aprendizagem é o cenário motivador desta reflexão e impregna a discussão de algumas questões pedagógicas na proposição de experiências e atividades, na concepção do trabalho docente como trabalho interativo, com e sobre o outro, nas relações de tempo e espaço no trabalho curricular, nos efeitos que exerce sobre suas relações, ações e identidade profissional ” (FIORENTINI, 2009, p.137). As tecnologias estão aqui, no tempo presente, e não vão embora. Nossa tarefa como educadores é assegurar que, ao entrar na instituição de ensino, ela esteja lá por razões políticas, econômicas e educacionalmente criteriosas. Devemos estar conscientes, de que o futuro que a tecnologia promete para nossos estudantes é real, não fictício. É necessária a reflexão. Cada vez mais, é sentida a necessidade de se promover uma discussão mais ampla; uma formação acelerada de especialistas; um conhecimento maior sobre essa realidade do computador e da internet que está aí e, certamente, veio para ficar; uma delimitação de efeitos positivos e negativos do uso desse recurso na escola através de estudos e pesquisas. À medida que constrói a consciência da estreita comunhão do homem com a totalidade tecnológica, compreendendo-se como parte integrante do universo, o sujeito projeta-se como transcendente e co-responsável para construção da realidade futura. Assim, cabe a nós enquanto educadores assumirmos o papel de protagonistas da nossa própria formação, enfrentando novos desafios, buscando refletir sobre nossa própria prática para superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino – aprendizagem. Ao iniciar o percurso na modalidade de Ensino a Distância, estamos frente a muitas dúvidas, incertezas, descrenças e emoções. Se buscarmos na memória, algum fato que nos remeta atividades relacionadas a EAD dificilmente vamos encontrar algum, essa nova modalidade de ensino hoje sofre muitas mudanças, experimentações, construções e desconstruções. Os recursos tecnológicos são constantemente mutáveis e é o sujeito que vai escolhendo o que fazer com esses recursos. As novas tecnologias não são um fator isolado. Elas estão presentes nas transformações da vida, no meio sócio-político e cultural, no mercado de trabalho, nos relacionamentos, nos ideais, esperanças e sonhos. Nesse contexto de diversidades pedagógicas e tecnológicas: “Os professores desenvolvem suas próprias concepções na formação inicial e ao longo do exercício profissional, que podem ser tantas quantas forem os professores. As reações variam conforme cada uma das pessoas vivencia o processo, desde sua própria vida e circunstância, história social e cultural” (FIORENTINI, 2009 p.161). Para tanto, também precisamos nos apresentar, como educadores aprendentes e aceitar a necessidade de estar sempre nos renovando, e que ao ensinar aprendemos muito e essas duas constantes não caminham em vias separadas QUEM SÃO OS TUTORES? Considerando o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia EAD (2006) da Universidade Federal de Santa Maria, o tutor possui a função de assessorar o professor/formador, acompanhar os alunos e orientá-los em suas atividades, seja no que diz respeito ao conteúdo das disciplinas, a assuntos relacionados à organização e administração do curso ou a problemas de ordem pessoal ou emocional, orientando os professores/alunos no sentido de buscar as soluções cabíveis em cada caso. Também é tarefa da tutoria oportunizar o trabalho colaborativo e cooperativo entre professor/pesquisador, professor/formador e professor/aluno, promovendo o estudo em grupo e motivando-os durante o curso para evitar a evasão escolar. Tanto a definição quanto a orientação na execução de tais funções estão intimamente relacionados com a concepção de educação a distância no sentido de promover um processo de ensino e aprendizagem que promova uma efetiva formação de profissionais capazes de atuar na sua área de formação com autonomia e qualidade. A proposta do curso é que o tutor a distância, com 20 horas semanais, atenda, no máximo, 50 alunos de uma disciplina. Nesse contexto o tutor atua como mediador e orientador das atividades previstas em cada disciplina e acompanha o desenvolvimento de cada aluno e turma, especialmente através dos recursos e instrumentos oferecidos pela Plataforma Moodle. Em 2007, o Curso de Pedagogia EAD ofereceu duzentas e noventa vagas para nove polos no Estado do Rio Grande do Sul: Restinga Seca, Faxinal do Soturno, Sobradinho, Cruz Alta, Três Passos, Três de Maio, Tapejara, Santana do Livramento e São Lourenço do Sul. Nesta ocasião, foram selecionados quarenta e oito tutores, seis para cada disciplina oferecida no primeiro semestre. Estes tutores foram selecionados, através da análise de currículo e de entrevistas, pelos professores de cada disciplina, considerando a especifidade da mesma. Ao mesmo tempo, foram selecionados, através da análise de currículo, nove tutores presenciais para atuar com os alunos diretamente nos polos. Enquanto cada tutor a distância atendia, em média, quarenta e cinco alunos (um polo inteiro e metade de outro, dividida com um colega tutor), os tutores a distância atendiam uma média de vinte e cinco a trinta alunos. Com a possibilidade da coordenação de tutores manter aqueles que estivessem correspondendo as expectativas de seu trabalho surgiu o problema de termos profissionais de áreas bem distintas da do Curso, como por exemplo, da Informática, que tinham interesse em continuar desenvolvendo seu trabalho. Como essas pessoas demonstraram ser excelentes tutores, procuramos aloca-los em disciplinas não tão específicas, como Língua Portuguesa, Metodologia Científica e demos continuidade a esta parceria. Aqueles tutores de outras áreas que não deram conta de disciplinas afins a seu campo de estudo foram dispensados. No final de 2008, a coordenação do curso foi informada da necessidade dos polos de realizar uma segunda oferta do Curso, considerando a alta demanda de pessoas, naqueles municípios, que tinham interesse em cursar Pedagogia a distância. Neste momento, resolvemos repensar o processo de seleção de tutores e decidimos optar por selecionarmos apenas pedagogos e educadores especiais, estes últimos por serem de uma área afim e, principalmente, de um curso que tem um programa de ensino muito similar ao da Pedagogia. Selecionamos, então, mais quarenta e oito tutores. Procuramos inovar, também, na seleção dos tutores presenciais, por considerarmos que apenas a análise do currículo não dava conta de conhecer a pessoa e as habilidades que ela demonstra para desempenhar esta função. Portanto, além de realizarmos a análise dos currículos, fomos pessoalmente, aos nove polos, realizamos entrevistas e uma pequena atividade no computador, para descobrir se a pessoa tinha intimidade com algumas ferramentas como internet e e-mail. Esta foi uma experiência particularmente rica pela oportunidade de conhecer todos os polos e entender um pouco do contexto social e cultural em que nossos alunos estão inseridos. O sucesso da atividade no computador foi tão grande na seleção dos tutores presenciais que, em 2009, quando foi preciso selecionar quarenta tutores a distância para atuar em cinco polos (quatro antigos e um novo, Agudo) onde o curso será oferecido a partir de 2010, foi testado os conhecimentos e habilidades destas pessoas com a máquina. Neste processo seletivo, mantivemos como perfil desejado pedagogos ou educadores especiais, por considerarmos que a experiência da segunda turma foi bem sucedida. Para melhor operacionalizar a ação pedagógica, os tutores são distribuídos em grupos de cinco ou seis integrantes e procuramos mantê-los nesse grupo quando há troca de disciplina e semestre, preservando, assim, a dinâmica de trabalho da equipe. Caso um tutor não se sinta a vontade em seu grupo, ou a coordenadora de tutores, a partir das avaliações, conclua que o trabalho de um grupo não está ocorrendo a contento, estas pessoas podem ser remanejadas ou, até mesmo, o próprio grupo desfeito. A ideia de manter o mesmo grupo, de preferência com a mesma oferta, traz para estes tutores uma experiência única já que, ao permanecer por quatro anos no Curso, podem acompanhar o crescimento e o desenvolvimento acadêmico desses alunos até a sua formatura. Atualmente, sem considerarmos os selecionados para atuarem na terceira oferta, o grupo de tutores do Curso de Pedagogia a distância da UFSM é composto por noventa e seis tutores, sendo 79% pedagogos, 11% educadores especiais e 10% de profissionais com outra formação. Quanto ao trabalho com Educação a Distância, 64% já tinham experiência com essa modalidade de ensino antes de ingressar no grupo. Do total, 83% dos tutores desenvolvem outra atividade de trabalho além da tutoria, 56% tem pósgraduação completa e 44% estão cursando uma pós-graduação. Esse novo profissional da educação é presença constante no dia-a-dia dos alunos, reconhecemos que a distância geográfica não é barreira para a consolidação de uma relação de aprendizagem e afeto, podemos perceber isso na “fala” dos alunos retiradas dos fóruns de discussões do AVEA do Curso: O tutor foi sempre uma simpatia, procurando nos ajudar em dúvidas que surgiam, também foi o professor que tivemos mais contato, isso foi importante. A disciplina contribuiu muito para a minha formação como cidadã e educadora.(Aluno A) Ainda não pude te conhecer pessoalmente, mas como as demais colegas adorei passar esse tempo com você e adquirir tamanho aprendizado na tua Disciplina que só deixou-nos com muito mais vontade das novas descobertas. Foi muito bom ser tua aluna e perceber em pouco tempo que você foi uma pessoa e Professora super dedicada a nós e de muitas qualidades superiores, foi pouco tempo, mas com certeza semeou em cada um de nós uma semente que sempre estará em crescimento.(Aluno B) Fostes não somente profissional, mas também nossa amiga do peito deixando várias lembranças, alegrias e satisfação ao realizar cada atividade na tua disciplina.(Aluno C) O diálogo e a interatividade que nossos tutores vem conquistando com os alunos reforçam a nosso trabalho no sentido de ir “[...] apontando-se a necessidade de que os esforços se dirijam também aos processos de planejamento e gestão, os quais também terão impacto no aprendizado, na motivação de alunos e professores e nas taxas de evasão dos cursos” (PERRY et alli, 2006, p. 10). Não temos dúvida que a educação desenvolvida na modalidade a distância está ganhando mais espaço a cada dia em nossa sociedade, está sendo reconhecida e incorporada a nossa cultura e, quando feita com comprometimento e seriedade, não deixa nada a desejar quando comparada com o ensino presencial. FORMAÇÃO CONTINUADA Para desempenhar as funções de tutor a distância ou presencial, é obrigatório que os interessados participem de um curso de capacitação que aborda quais suas tarefas, qual seu papel e como se utiliza o AVEA, neste caso o Moodle. Considerando que este curso de capacitação envolve um número muito grande de pessoas, já que capacita os tutores para atuarem em todos os cursos a distância da UFSM, uma média de duzentas e cinquenta pessoas no início de 2009, nós, a partir deste ano, oportunizamos uma complementação a este curso. Reunimos alguns tutores da primeira oferta e organizamos pequenas turmas, sob a supervisão da coordenadora de tutores, para ensinar os novos tutores a utilizarem o Moodle e também para mostrar-lhes a importância de seu trabalho no contexto de formação do Curso. Além desta capacitação, o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia EAD prevê a formação continuada dos tutores com reuniões entre os professores e seus tutores e também com a Coordenação da Tutoria. Os encontros com os professores das disciplinas ocorrem semanalmente com o objetivo de aprofundar o conhecimento a respeito da disciplina, socializar experiências e manter uma unidade entre o que acontece na disciplina em cada pólo. Alguns professores incluem os tutores na preparação das atividades avaliativas propostas na disciplina, outros apenas solicitam que eles as realizem antes dos alunos para verificar se existem dúvidas ou pendências em relação ao conteúdo desenvolvido. De toda forma, estas reuniões servem para que o grupo tenha um discurso afinado e que questões pontuais a respeito do conteúdo ou das dificuldades dos alunos sejam tratados pela equipe de trabalho (professor, como responsável técnico e tutores, como assessores da disciplina). Bimestralmente, a Coordenação de Tutoria realiza reuniões com o grupo de tutores, também para tratar da unidade do trabalho de todos, das prioridades do Curso e de questões bem pontuais referentes a parte administrativa, por exemplo, como resolver a situação de uma aluna em licença gestante, ou com um aluno que está doente. Nessas reuniões era possível perceber uma série de angustias e incertezas que permeavam o fazer destes tutores, a partir daí começamos a pensar na efetivação de outra proposta do projeto pedagógico do Curso: a formação continuada dos tutores. Na Pedagogia, principalmente em função do grande número de pessoas envolvidas neste trabalho, precisávamos, o quanto antes, pensar em ampliar as condições de estudo, produção de conhecimento e trocas entre estes tutores. A partir daí, foi desenvolvida uma pesquisa de opinião para conhecer os anseios e sugestões de todos os tutores para o desenvolvimento da sua formação continuada. A seguir temos um recorte das respostas dos tutores a seguinte questão: O que você considera importante para melhorar o seu trabalho como tutor? Eu penso que poderíamos ter encontros entre tutores e professores, para colocarmos o que trazemos dos pólos, para juntos discutirmos e melhorarmos o nosso trabalho. (Tutor A) Maior interação entre os tutores. (Tutor B) Maior troca de experiências, maior diálogo com outros tutores de outras disciplinas, para a realização de um trabalho de conjunto. (Tutor C) Também seria interessante ocorrer além do Curso de Capacitação inicial, outros cursos ou mini-cursos e aperfeiçoamento. (Tutor D) Encontros/momentos de formação continuada sobre o processo de construção de conhecimentos através de ambiente de aprendizagem virtuais a fim de implementar estratégias pedagógicas na EaD. (Tutor E) Capacitação dos tutores, não apenas a nível técnico. (TutorF) Por esses registros é possível perceber a importância de termos momentos de troca de experiências e uma atualização permanente. Nesse sentido concordamos com Nóvoa (1992), ao afirmar que: […] uma perspectiva para a formação do professor é a formação-ação proposta: É preciso trabalhar no sentido diversificado dos modelos e das práticas de formação, instituindo novas relações dos professores com o saber pedagógico e cientifico. A formação passa pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por processos de investigação, diretamente articulados com as práticas educativas (p.28). A partir dessa pesquisa, nosso desafio foi organizar um planejamento de ações que fossem ao encontro das respostas obtidas na pesquisa. Num primeiro momento, pensamos em organizar um espaço no próprio AVEA que fosse de acesso exclusivo dos tutores e da coordenadora de tutoria, onde eles pudessem falar das suas inquietações, socializar conhecimentos, particularidades de seu trabalho, divulgar eventos, cursos e também um espaço de utilidade pública onde pudessem informar sobre alunos doentes, infrequentes no ambiente. Diante disto, organizamos uma palestra sobre EaD, ministrada pela professora Drª Adriana Moreira Maciel que destacou a relevância do dialogo e da autonomia dos sujeitos da EaD, nesse mesmo evento também apresentamos a Sala de Tutores (Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem para organizar as informações do curso e trabalhar a formação continuada dos tutores). Optamos por desenvolver essa proposta de formação continuada, utilizando o mesmo AVEA do Curso de Pedagogia, viabilizando assim ações que desenvolvam além da fluência tecnológica, o sentimento de pertencimento a esse grupo de profissionais responsáveis pela instigante tarefa de mediar o processo de ensino e aprendizagem. Apesar de a formação continuada ser necessária em qualquer nível ou modalidade de ensino, acreditamos que esta prática no âmbito da EaD é extremamente importante considerando a complexibilidade de estabelecer uma mediação significativa a partir do uso das tecnologias. Para complementar isto, percebemos que nossos tutores são um grupo de profissionais interessados em investir seu tempo na qualificação das suas ação enquanto educadores. Quando o profissional se revela flexível e aberto ao cenário complexo de interações da prática, a ‘reflexão-na-ação’ é o melhor instrumento de aprendizagem. No contato com a situação prática, não só se adquirem e constroem novas teorias, esquemas e conceitos, como se aprende o próprio processo dialético da aprendizagem (SCHÖN, 1993, p.104). Ao aliar a formação continuada a um espaço virtual buscamos também promover atividades em que os tutores possam refletir sobre sua ação e assim, pensar de forma colaborativa, estratégias não só para melhorar esse espaço, mas também as práticas desenvolvidas ao longo do curso. Nesse sentido, consideramos que os ambientes virtuais de ensino e aprendizagem segundo Vieira & Luciano (2006, on-line): São cenários que envolvem interfaces instrucionais para a interação de aprendizes. Incluem ferramentas para atuação autônoma e automonitorada, oferecendo recursos para aprendizagem coletiva e individual. O foco desse ambiente é a aprendizagem. Não é suficiente "escrever páginas", é preciso programar interações, reflexões e o estabelecimento de relações que conduzam a reconstrução de conceitos . Outro desafio enfrentado é explorar ao máximo os diversos recursos oferecidos pelo Moodle, aproveitando suas possibilidades e superando suas limitações. Assim, o planejamento e materialização das aulas se torna mais proveitoso, reduzindo os problemas técnicos encontrados nesse percurso. Em nossa opinião, trabalhar com os diversos recursos e tarefas disponíveis no Moodle, fazendo com os tutores também vivenciem o processo de construção e elaboração de atividades tende a facilitar o planejamento e execução das aulas junto ao professor da disciplina e aos alunos. Essa construção das atividades realizadas em nossa “Sala de Tutores” vem acontecendo com sugestões dos próprios tutores, por exemplo, com o auxílio de todos construímos instrumentos de avaliação do trabalho do tutor a serem aplicados aos alunos, aos professores responsáveis técnicos das disciplinas e aos colegas de equipe (outros tutores do grupo). Desta forma, teremos elementos bem pontuais que determinarão se este profissional continua em nossa equipe, ou não. É neste espaço, também, que divulgamos testemunhos de alunos sobre seus tutores, elogiando seu trabalho, ou o trabalho de uma equipe. Nesse sentido, buscamos desenvolver o sentimento de pertencimento ao grupo, a valorização de seu trabalho e a autonomia necessária para o trabalho de tutoria. ENCAMINHAMENTOS FINAIS Esta proposta de gestão de tutoria vivencia um processo de construção e reconstrução constante. Nosso desafio é buscar alternativas para tornar essa construção uma caminhada que realmente faça diferença na constituição desse grupo de tutores, pois acreditamos na proposta da EaD enquanto possibilidade de formação para aqueles que desejam se qualificar e encontram nessa modalidade a realização de um objetivo na sua vida. No trabalho em equipe, o movimento ação-reflexão-ação tem sido muito importante no desempenho da gestão de tutores e isto implica o constante planejamento e re-planejamento das ações de seleção e de formação desse grupo. Apesar da quantidade ainda limitada de referencias que temos na modalidade do ensino a distância, a forma que temos encontrado para desenvolver nosso trabalho e ter resultados positivos vem sendo trabalho de cooperação e colaboração constante e com todos os envolvidos. A necessidade de superar os modelos antigos de EaD e de começar a pensar para além dos conteúdos e disciplinas, passa a ser um desafio constante para aqueles que falam de lugar onde a EaD vem se consolidando e conquistando seu espaço, assim vamos nos distanciando cada vez mais do discurso desfavorável que um bom tempo vem sendo produzido acerca da modalidade de ensino a distância. No que se refere a “Sala de Tutores”, este se apresenta como um lugar onde podemos nos encontrar, identificar e fortalecer enquanto grupo, passando a ser referência para os nossos tutores. Até o momento tem apresentado bons resultados, agilizando a nossa comunicação, suprindo as dúvidas quanto ao ambiente e as questões especificas de cada semestre do curso. A educação a distância, muitas vezes vista com indiferença por aqueles que desconhecem como de fato é realizada, deve divulgar e promover suas ações. É na e pela educação que buscamos a completude da nossa constituição enquanto sujeitos atuantes e participativos social, cultural e politicamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9.394/96 - LDB. Brasília: MEC, 1996. ______. Decreto n.o 5.622 de 19 de dezembro de 2001. Regulamenta o artigo 80 da Lei n. 9394/96. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de dezembro de 2005. FIORENTINI, Leda Maria Rangearo. Aprender e ensinar com tecnologias, a distância e/ou em ambiente virtual de aprendizagem. In: FIORENTINI, Leda Maria Rangearo; SOUZA, Amaralina Miranda e RODRIGUES, Maria Alexandra Militão (orgs.). Educação superior a distância: Comunidade de Trabalho e Aprendizagem em Rede (CTAR). Faculdade de Educação-UnB - UAB, 2009. NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. Os professores e sua formação. Lisboa - Portugal : Dom Quixote, 1992. PERRY, G. T.; TIMM, M. I.; FERREIRA, R. C. F. ; SCHNAID, F.; ZARO, M. A. Desafios da gestão de EAD: necessidades específicas para o ensino científico e tecnológico. RENOTE: Revista Novas Tecnologias na Educação. V.4 Nº1, Julho, 2006. CINTED. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2006. SHÖN, D. A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (org.) Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1993. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, CENTRO DE EDUCAÇÃO. Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância. Santa Maria: PROGRAD, 2006. VIEIRA, M. B. ; LUCIANO, N. A. Construção e Reconstrução de um Ambiente de Aprendizagem para Educação à Distância. Disponível em <http://www2.abed.org.br/visualizaDocumento.asp?Documento_ID=28>. Acesso em 05 de agosto de 2008.