A AÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM UM CONTEXTO SOCIAL PRECÁRIO LONGO, Paula Fernanda – PUCPR [email protected] KOGUT, Maria Cristina – PUCPR [email protected] ALMEIDA, Luiz Otávio do Carmo de – PUCPR [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo A educação física tem fundamental importância no processo educacional do aluno, desenvolvendo nele capacidades físicas, motoras, cognitivas e sócio-afetivas, que auxiliam na sua vida cotidiana. Este trabalho teve como objetivo identificar as ações pedagógicas desenvolvidas pelo professor de Educação Física, do ponto de vista dos professores, pedagogos e gestores, em um contexto social precário; identificar a percepção que os alunos desenvolvem sobre as aulas e compreender o planejamento desenvolvido pelo professor e as ações desempenhadas pelo mesmo contribuindo para o aluno assimilar e compreender os conhecimentos aprendidos com sua atuação na sociedade. Para isso foi realizado um estudo de caso com profissionais docentes atuantes em duas escolas municipais e duas escolas estaduais localizadas em uma região precária de Curitiba, especificamente com a 4ª e a 5ª série do ensino fundamental. Foram desenvolvidos questionários aos docentes com perguntas abertas, buscando saber sobre: a comunidade próxima a escola; formação continuada; ações pedagógicas e metodologia; e a importância da educação física no ambiente escolar. Após a análise dos resultados, notamos que tanto os professores quanto os pedagogos e gestores da escola percebem a importância da educação física no ambiente escolar e em especial para o aluno. Porém, os mesmo acreditam que isso só é possível quando existe um trabalho sério e comprometido, com objetivos claros e pré-definidos pelo profissional. Nota-se assim, que é necessário o professor contextualizar os conhecimentos aplicados nas aulas de educação física, transformando-os em significativos para seus alunos, mostrando sua aplicabilidade na comunidade em que vivem e sua importância para o aluno como cidadão. Palavras-chave: Escola. Professor. Educação Física. Sociedade. 3984 Introdução Nos dias de hoje, um dos maiores desafios da sociedade tem sido a Educação, a busca por uma educação de qualidade e transmissora de valores. Muitas vezes as crianças aprendem na escola vários conteúdos impostos pelos professores sem entender para quê, por que e como os mesmos serão aproveitados na sua vida como cidadão. São obrigados a estudar muito, tirar notas altas e reproduzir fielmente aquilo que lhes foi passado. Para Borgonovi (2000, p. 126): As escolas se especializaram em transmitir conhecimentos e esqueceram - se de ensinar a viver. Transmitem conhecimento e capacitam as crianças e jovens para o trabalho, mas não ensinam como utilizar o conhecimento adquirido como ferramenta na construção de uma vida mais harmoniosa e feliz. Existe uma preocupação muito grande no que diz respeito ao ensino público no país, em função das dúvidas existentes quanto qual é o papel da escola no mundo atual? Como a educação tem lidado com a violência e as diferenças sociais em sala de aula? Qual o “modelo” de cidadão a escola está ajudando a formar? Quais os valores estão sendo ensinados? E muitas dessas perguntas refletem a situação que o ensino público se encontra atualmente e que infelizmente não é das melhores. Primeiramente é importante frisar quais seriam os elementos básicos participantes dessa problemática: a família e a escola. A família como sendo base de princípios, valores, referências de ser do aluno, de onde refletirá muito da cultura e dos costumes de cada um. E a escola, que por ser uma instituição social de ensino tem como um dos deveres e responsabilidades o de educar, ensinar e proporcionar ao aluno orientação e conhecimento do mundo de uma forma geral. Porém, nos últimos tempos a escola tem ultrapassado o seu papel de única e exclusivamente educar e ensinar os jovens, ela tem absorvido cada vez mais o papel da família, que seria o de transmitir e consolidar valores. No Brasil, assim como em vários outros países do mundo, a criança e o adolescente têm previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente alguns direitos e deveres estabelecidos em lei. Dentre esses, encontra-se um de fundamental importância que é o direito à Educação. Na proposta da UNESCO através da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, a educação tem quatro pilares a serem buscados como meta (UNESCO, 2003): “aprender a conhecer”; “aprender a fazer”; “aprender a viver”; e “aprender a ser”. 3985 Dentre todas as disciplinas presentes no currículo escolar, a Educação Física - assim como todas as outras disciplinas - tem como base dos seus conteúdos o propósito de trabalhar o homem em desenvolvimento, através dos aspectos motor, afetivo, cognitivo e social, ou seja, fazer com que os alunos tenham conhecimento de si mesmo e do meio em que vivem. Para Ferreiro e Teberoski, citado por Mattos e Neira (2005, p. 14) “o homem se assume, cria e constrói o conhecimento em função de um meio que ao longo da vida lhe impõe necessidades, motivações, interesses e conflitos. É nessa dinâmica que as conquistas humanas devem ser entendidas e respeitadas.” Portanto, é imprescindível identificar como o professor planeja seu trabalho, buscando no mesmo o desenvolvimento do aluno e como esse trabalho contribui na percepção do educando sobre sua cidadania. É necessário também identificar as ações pedagógicas desenvolvidas pelo professor de Educação Física que melhor podem auxiliar o aluno no aprendizado dos conteúdos, na compreensão e aplicação no seu contexto social, segundo a visão dos próprios professores de educação física, pedagogos e gestores da escola, além de compreender o planejamento do professor e suas opções na escolha dos objetivos e conteúdos. Procurou-se perceber as diversas ações docentes do professor de Educação Física (metodologias, ações didáticas), assim como esclarecer o contexto social dos alunos de uma comunidade carente, identificando a percepção dos mesmos em relação à educação física e como ela contribui no entendimento de sua cidadania, a partir da perspectiva do professor, do pedagogo e dos gestores. Desenvolvimento A escola e o contexto social Dentre todas as funções e objetivos que a escola vem desempenhando no decorrer dos anos, um dos principais e de fundamental importância é o de educar para a convivência em sociedade. Etchepare, Pereira e Teixeira (2005, p.1) afirmam que: A preparação dos homens para suas responsabilidades sociais, de acordo com sua posição na sociedade, seu preparo para um bom desempenho de suas funções de cidadão, o desenvolvimento de seu senso de moralidade, enfim, a formação de um “bom caráter”, inclui-se entre as funções da escola. 3986 A partir disso, é visto que o acesso aos conhecimentos e à educação deve constituir-se em direito e instrumento de transformação individual e coletiva do homem. Na busca da superação das desigualdades sociais presentes fortemente nos dias de hoje, vê-se a necessidade de praticar e aplicar ações como o exercício da justiça e da liberdade, a constituição de atitudes éticas de cooperação e de solidariedade para uma melhor convivência em harmonia e respeito com o ser humano presente na sociedade. Para isso a escola precisa conhecer vários aspectos sobre o aluno, como o meio social em que vive, suas necessidades e seus conhecimentos prévios que serão a base para a elaboração do trabalho pedagógico. O aluno Vivenciamos um desafio histórico de avançarmos na concepção de uma escola para poucos. Agravando ainda mais essa problemática, a escola tem se tornado um ambiente individualista, de interesses únicos, não somente por parte da Instituição, mas muitas vezes por parte dos próprios alunos, criando assim, pessoas que visam apenas o bem próprio ao invés do bem comum. Em determinados momentos a própria sociedade influência atitudes como essa, já que a mesma está em constante transformação. Para Ferreiro e Teberoski (1986 apud MATTOS, NEIRA, 2005, p. 25): O homem se assume, cria e constrói o conhecimento em função de um meio que ao longo da vida lhe impõe necessidades, motivações, interesses e conflitos. É nessa dinâmica que as conquistas humanas devem ser entendidas e respeitadas. É importante frisar que nesse contexto, a Educação assume um papel fundamental, pois, “uma de suas tarefas [...] nas sociedades tem sido a de mostrar que os interesses individuais só se podem realizar plenamente através dos interesses sociais” (MEKSENAS, 1990, p.36). Em outras palavras, a educação, ao socializar o indivíduo, mostra a este que, sozinho, o ser humano não sobrevive (MEKSENAS, 1990, p.36). Além do desenvolvimento social e político, “os processos de ensino-aprendizagem devem considerar as características dos estudantes em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, estética e de relação interpessoal” (Brasil, 2006, p. 72). Os estudantes devem 3987 aprender conhecimentos técnicos, mas, além disso, apreciá-los criticamente, analisá-lo, recriálos e saber discutir suas regras e estratégias. Aprendizagem Para abordar essa problemática, Weisz (2001) fala sobre o “processo ensinoaprendizagem, onde o processo de ensino é desenvolvido pelo professor e o de aprendizagem pelo aluno”. São dois processos que se comunicam, mas um é independente do outro. O professor terá que perceber qual o caminho de aprendizagem o aluno está percorrendo para poder identificar assim, as informações e as atividades que permitam ele avançar seu conhecimento, pois, segundo Weisz (2001, p. 60) “O aprendiz é um sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que vai produzir a transformação, que converte informação em conhecimento próprio.” Para aprender é preciso entender o sentido daquilo que se aprende, e no contexto escolar, a função do professor é criar condições para que o aluno possa exercer sua ação de aprender participando de situações que favoreçam isso. “O modelo de ensino atualmente relacionado à construção do conhecimento chama-se aprendizagem pela resolução de problemas e pressupõe uma intervenção pedagógica de natureza própria” (WEISZ, 2001, p.34), onde o professor coloca desafios, obstáculos na aula que façam seu aluno partir da resolução de um determinado problema para chegar a entender o sentido daquilo que está sendo aprendido. Borges (1998, p.47) entende que: Na prática, a resolução de um problema depende muito de sua problematização e estruturação, ou seja, da forma como ele aparece colocado em um determinado contexto. E isso não é, necessariamente, um problema técnico. Quem sabe caracteriza-se como um problema de ordem política, social ou filosófica? Ou seja, o professor direcionará o sentido do seu ensinamento e o aluno aprenderá conforme o ambiente escolar ou social em que está inserido. Segundo Perrenoud (2000, p.65) “para exercitar a transferência (de conhecimento), o ideal seria reconstruir, durante a escolaridade, situações próximas daquelas do mundo do trabalho, da vida fora da escola, quer seja das crianças, dos adolescentes ou dos adultos que se tornarão.” 3988 Se o professor não consegue estabelecer um espaço nas suas aulas ou proporcionar situações para que essas idéias apareçam, “não consegue construir uma verdadeira situação de aprendizagem, pois não permite que se crie um problema sobre o qual depois o aluno precise pensar” (WEISZ, 2001). Na educação física, pode-se dizer uma maneira de relacionar a aprendizagem à experiência seria “criar espaços e tempos, definir regras do jogo que autorizem os alunos a evocar o que significa para eles, em seu próprio itinerário e no que percebem em seus próximos” (PERRENOUD, 2000) as aprendizagens propostas na escola. Desse modo, o professor percebe a verdadeira importância do ensino-aprendizagem o sentido além do ambiente escolar, proporcionando ao seu aluno uma percepção mais clara sobre o verdadeiro sentido do conhecimento, sua aplicabilidade no meio social em que vive, pois, “esse trabalho de ampliação é vital quando se quer que os conhecimentos instalem-se e integrem-se ao olhar global que um sujeito lança sobre o mundo” (PERRENOUD, 2000, p. 67). Ações pedagógicas do professor de Educação Física Visando a real situação em que a educação encontra-se - em especial a Educação Física - percebe-se a necessidade de uma “revolução” no ensino, desde o ensino infantil até o ensino superior, seja ela no contexto técnico, político, filosófico ou cultural. “Toda realidade que requer mudanças, transformações, precisa de movimento. E ninguém melhor do que a Ciência do Movimento para ser a mola propulsora de um movimento motivador, transformador e emancipador da sociedade” (AHLET, 2007, p. 9). Como a Educação Física tem a possibilidade de auxiliar nessa mudança, as atribuições incumbidas ao professor são de extrema importância, sendo o mesmo um referencial e modelo de conduta para os alunos. Para Darido e Rangel (2005, p.42), “são diversas as atribuições ao papel do professor: modelo de comportamento, transmissor de conhecimento, técnico, executor de rotinas, planejador ou estrategista, pessoa que toma decisões ou que resolve problemas.” Logo, é fundamental que o professor em suas aulas traga contribuições no sentido da ampliação das percepções, caracterizando desta forma um plano de estudo orientado à construção da autonomia, estimulando a elaboração de argumentos que coloquem 3989 os alunos em condições de interferir na própria realidade social (DARIDO; RANGEL, 2005, p.44). Os alunos possuindo clareza da importância da Educação Física no cotidiano, cabe ao professor propor diversidade e variações nas suas aulas. Para Abib (1998, p. 03): A função da escola deveria ser a de eleger junto com o grupo de alunos, quais são as atividades valorizadas culturalmente naquele grupo, para então propiciar essa base motora que permite ao aluno, a partir da prática, compreender, usufruir, criticar e transformar elementos da chamada Cultura Corporal. A escolha vai depender, portanto, do grupo, do bairro, da cidade e da própria comunidade, que elege suas atividades mais significativas. Assim, compreender a Educação Física sob um contexto mais amplo significa entender que ela é composta por interações que se estabelecem na materialidade das relações sociais, políticas, econômicas e culturais dos povos. Em grande parte, o resultado de um aprendizado escolar depende da maneira como o professor conduz o ensino, sua forma de planejar as aulas, objetivos estipulados e métodos de ensino que refletirão no seu aluno, futuro transformador da Sociedade. Para Cunha (1989, p.36) “cada sujeito é único e com sua história própria que lhe permite dar significado à experiência e construir o cotidiano”. Relacionar as ações desenvolvidas pela escola através dos conteúdos e metodologias é uma das funções do professor, “uma vez que um dos objetivos da escola é levar os estudantes a formar representações adequadas do mundo em que vivem, o educador precisa ter como referência idéias preconcebidas do aluno para realizar sua tarefa satisfatoriamente” (DELVAL, 2008 apud ALMEIDA, 2008 p. 20), buscando assim, atender as necessidades dos alunos e estimulá-los a compreender que a sua cidadania é fundamentais para se ter uma sociedade mais justa em que todos tenham seus direitos atendidos. Procedimentos Metodológicos Para esse estudo optou-se desenvolver uma pesquisa de campo, utilizando para isso o estudo de caso que para Thomas e Nelson (2007, p. 34) objetiva determinar características únicas sobre o sujeito ou condição (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 188). A opção pelo estudo de caso deve-se ao fato de que essa pesquisa pretende estudar características de uma comunidade e de uma realidade específica. 3990 Foram considerados participantes da pesquisa quatro escolas da rede pública de ensino, sendo duas municipais e duas estaduais, com professores de educação física, pedagogos ou gestores atuantes com alunos do 4° e 5° ano do ensino fundamental. Inicialmente o estudo seria aplicado a 14 participantes, porém, devido à impossibilidade de participarem da pesquisa, não devolução de questionários e/ou falta de tempo, foram recolhidos apenas 04 questionários, sendo dois deles de coordenadoras do 5° ano, um de uma coordenadora do 4° ano e um de uma pedagoga também do 4° ano do ensino fundamental. A escolha dos participantes deveu-se ao fato que os alunos do 4º ano da região, na continuidade de seus estudos, são automaticamente transferidos para as escolas estaduais de 5º ano da mesma região. Portanto, foi utilizado como instrumento de coleta de dados uma entrevista padronizada para todos os participantes, possuindo questões abertas e fechadas relacionadas ao problema e objetivos de estudo em questão, adaptado de Labes (1998). O uso do gravador foi inutilizado, devido ao fato dos participantes não terem tempo disponível para participarem da entrevista pessoalmente, acarretando modificações na forma de coleta de dados. Resultados e Discussões Com as respostas, buscou-se perceber a visão que os profissionais pesquisados têm da educação física, sua importância no meio social em que vivem. A partir seria possível saber quais ações são ou deveriam ser tomadas pelos professores de educação física para melhor assimilação dos conteúdos das aulas na prática social de seus alunos, levando-se em consideração a região precária e de baixa renda à qual as escolas se localizam. Os participantes foram questionados quanto à experiência profissional no decorrer da sua vida docente e sobre a experiência que tiveram nos diversos ramos educacionais e/ou níveis escolares. Os dois primeiros participantes foram unânimes em apontar no máximo três anos de experiência no ensino infantil e a maior parte no ensino fundamental, tendo o primeiro 18 anos de prática docente no ensino fundamental e o segundo participante 25 anos. O participante três e o participante quatro optaram por não responder essa pergunta. Borges (1998, p.51) esclarece que: “são saberes que o professor adquire através de sua experiência profissional e constituem os fundamentos de sua competência, fornecendo a base para modelos de excelência profissional”, percebendo-se assim a importância da experiência 3991 profissional e dos conhecimentos adquiridos nesse processo que auxiliam o profissional em sua prática diária de trabalho. Respondendo a questão sobre qual o papel da escola onde essa comunidade está localizada dois dos participantes responderam que a socialização é um papel importante desempenhado pela escola, seria nela que os estudantes passam a maior parte do tempo. Um dos participantes acredita ainda que “é nela que se constrói o conhecimento, o crescimento cultural e a possibilidade de um futuro melhor”. O terceiro participante complementa dizendo que “é na escola que eles se preparam para a vida, aprendem a ser cidadãos autônomos com capacidade de realização, aprendem os conceitos que servirão em sua vida prática”. Porém, que a escola não pode substituir a função dos pais, de encarregados pela educação dos filhos, onde o papel da escola ainda é “complementar a função pedagógica dos pais”. Segundo Regimento da Escola (1991 apud BORGES, 1998, p. 125) é visto que: A escola tem por filosofia preparar o educando para a vida, de maneira que ele possa ser útil a si mesmo e à comunidade onde está inserido, possibilitando-lhe assumir posições que o levem a um constante questionamento de tudo aquilo que impliquem em tomada de decisões, procurando fazer com que os alunos aprendam a analisar julgar e decidir responsavelmente. Nesse momento do questionário, a intenção maior era obter dos docentes sua opinião a respeito da formação continuada dos professores. Sabendo-se que a Prefeitura e a Secretaria do Estado fornecem cursos e capacitações aos profissionais da educação da rede pública e estadual de ensino, foi questionado a eles qual o nível de interesse cada um tem em relação a esses cursos e qual área lhes interessa mais. Dos quatro participantes, apenas dois responderam essa questão, sendo que o primeiro acredita que a maioria dos professores “não demonstra muito interesse” por esses cursos, mas, que diferentemente dos outros, ele se interessa e busca maior conhecimento nas “questões de aprendizagem (dificuldades e defasagens)”. O segundo participante foi objetivo em dizer que participa dos cursos sempre que possível e busca áreas “diversificadas”. Como dizia Freire (1999, p. 32) “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, ou seja, a necessidade do aluno aprender está em igual importância à necessidade do professor estudar, manter-se informado e atualizado. Sobre as metodologias utilizadas durante as aulas de educação física, procurou verificar quais são os procedimentos adotados para atingir os objetivos relacionando-os com o “ser”, o “saber” e o “fazer” do aluno. O segundo participante por sua vez enriqueceu a 3992 pesquisa falando que “trabalha essa questão a partir das representações dos alunos, dos erros e obstáculos na aprendizagem deles”. Diz também que é importante conceber e administrar situações-problemas, assim como “avaliar os alunos em situações reais de aprendizagem”, de acordo com uma abordagem formativa. Para atingir os objetivos relacionados com o “ser” do aluno, o participante acredita que “desenvolvendo a cooperação, o trabalho mútuo, apoio integrado, o trabalho com alunos portadores de grandes dificuldades” é possível suprir esses objetivos durante as aulas. Afirmando que o planejamento constitui um processo de racionalização, organização e coordenação docente, procurou saber no questionamento seguinte, qual o nível de contribuição o planejamento de ensino exerce na prática docente e no desenvolvimento do aluno. Três dos quatro participantes responderam, sendo unânime entre eles, o fato de o planejamento “dar condições ao professor obter uma visão geral do seu trabalho, podendo-se adequá-lo quando necessário”. Um deles percebe a importância do planejamento no desenvolvimento do aluno dizendo que o mesmo “é um instrumento que norteia o trabalho do professor, estabelecendo metas para o progresso do aluno”. O terceiro participante acrescenta que planejar “possibilita a discussão coletiva e conhecimento de ações desenvolvidas por outros professores”, que essas ações, se tendo um bom resultado, possam ser reproduzidas e utilizadas em outras situações. Continua dizendo que o planejar “dá sentido às ações do dia-adia do professor, reduzindo assim o improviso e a prática acaba tendo uma intencionalidade definida a partir dos objetivos que se pretende alcançar”. Percebe-se, portanto, na maioria das respostas, a importância do aluno desempenhar atividades, tarefas ou ações que possibilitem a ele desenvolver os aspectos afetivos, cognitivos e motores. Torna-se fundamental também que essas atividades precisam ter significado para ele, ser contextualizada para sua realidade, que se tornem situações reais de aprendizagem, onde o professor possa também atingir seu objetivo como educador, pois, como explica Weisz (2001, p. 22) “nas concepções que consideram o processo de aprendizagem como resultado da ação do aprendiz, a função do professor é criar as condições para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender participando de situações que favoreçam a isso.” Uma das questões respondidas pelos participantes procurou identificar qual a importância das aulas de educação física. Dos dois participantes que responderam, um deles disse ser de “suma importância”, enquanto que o outro participante ressaltou que quando é 3993 trabalhada com “coerência e comprometimento” a educação física fornece praticamente “todo embasamento físico necessário a todas as disciplinas”. Quanto à maneira que a educação física é vista na escola e qual importância é dada a ela, os dois participantes que responderam a questão mostram que os alunos vêem a disciplina de forma lúdica ou sem importância comparada as demais matérias. Um deles diz que os “alunos acham que é apenas um horário de lazer” e o outro complementa dizendo que é vista como “uma aula recreativa, que eles não vêem importância mesmo ela estando inserida no seu cotidiano”. É preocupante saber que os próprios alunos que participam da aula de educação física, gostam dela não por toda gama de conhecimento que ela pode proporcionar ao indivíduo, mas, somente pelo seu caráter lúdico, recreativo e de diversão, desconhecendo a importância da mesma para o seu cotidiano, mesmo usando-a diariamente. Para Darido e Rangel (2005, p. 39) “o aluno deverá apropriar-se dos conhecimentos que justificam a presença e importância da Educação Física na escola”, pois, o principal papel da educação física não é apenas a atividade física por si só, mas sim, fazer com que “as vivências corporais utilizem a diversidade cultural, étnica, física e de gênero como elemento enriquecedor das relações escolares e da vida social que se quer democrática” (DARIDO e RANGEL, 2005, p. 39) Surge a função do docente em desenvolver aulas que façam com que o aluno perceba o significado daquilo que está sendo ensinado, um planejamento com objetivos e propostas educativas adequadas as características de seus alunos, pois, o acesso aos conhecimentos da educação física deve constituir-se em direito e instrumento de transformação individual e coletiva, na busca da superação das desigualdades sociais, do exercício da justiça e da liberdade, da constituição de atitudes éticas de cooperação e de solidariedade. (DARIDO; RANGEL, 2005, p. 38) Os participantes que responderam as questões acima, afirmam que é possível trabalhar noção de respeito, cooperação, comunicação, postura, vida saudável e outros fatores necessários à vida em sociedade no ambiente escolar. Conclusão Vive-se um momento em que a instituição escolar mais do que nunca necessita buscar um ensino de qualidade e transformador, mostrar aos seus alunos a importância do que 3994 aprendem na escola e sua aplicabilidade no mundo ao qual eles participam como cidadãos e atuantes na busca de uma sociedade que supere as desigualdades sociais exercendo atitudes de respeito e justiça. A reflexão ora apresentada buscou evidenciar as ações desempenhadas pelo profissional de educação física na sua atuação docente que melhor auxiliam o aluno no aprendizado e compreensão dos conteúdos, procurando contextualizar a aprendizagem e identificar a aplicação da mesma no contexto social o qual o aluno se encontra. A partir de um questionário desenvolvido aos professores, pedagogos e gestores de determinadas escolas da rede pública de ensino, pode-se perceber qual a visão desses profissionais em relação à função da escola naquela determinada comunidade e a influência da educação física para o desenvolvimento social do aluno. Não se pode ignorar que no “discurso”, grande parte dos professores acredita que a escola é uma instituição detentora do poder de transformação social, ensina conhecimentos necessários para que seus educandos tomem suas próprias decisões, saibam fazer suas escolhas, utilizem da autonomia e da criticidade para construírem um futuro melhor. Porém, percebe-se que essa perspectiva de mudança perde-se no momento em que abordamos a questão de formação continuada dos profissionais, onde os mesmos recebem cursos e capacitações gratuitamente das instituições de ensino, mas, que ainda assim, há pouca procura, talvez por falta de tempo ou mesmo por falta de interesse. Pensar a formação do professor significa ter bem claro que modelo de homem que queremos formar, que tipo de mundo queremos habitar e que tipo de sociedade queremos construir. Em contrapartida, o ser humano não pode ser visto como uma simples máquina reprodutora de saberes e ser tratado como se estivesse em uma “linha de montagem de homem do sistema”. Ele é corpo, alma e coração. Acredita-se assim que para atingir esse homem, é necessário trabalhar com ele o “ser”, o “saber” e o “fazer”, onde nas aulas de educação física transferimos isso como um ser afetivo, cognitivo e motor. É possível perceber essas competências durante as aulas através dos objetivos estipulados pelo professor, onde se pode destacar a cooperação, os signos e símbolos, o respeito, a tomada de decisão, e muitas outras habilidades que desenvolvam normas, valores e percepção do aluno, o que vai muito além das capacidades físicas e motoras únicas e exclusivamente presentes na grande maioria das aulas de educação física. Proporcionar vivências que partam das representações dos próprios alunos, faz com que essas tenham significado e importância para suas realidades. 3995 Infelizmente os conflitos surgem quando a teoria está em incomum acordo com a prática, quando se percebe, através do ponto de vista de outros docentes, que a educação física é vista apenas como momentos lúdicos e de lazer, até mesmo pelos alunos que dela participam. Não percebem a mesma inserida no seu cotidiano. O corpo docente reconhece a importância fundamental que os conteúdos e as aulas de educação física refletem nas demais disciplinas, além da influência que podem inserir no que diz respeito às mudanças possíveis de serem alcançadas pelo trabalho da escola nessa comunidade. Mas isso só é possível quando se desenvolve um trabalho com coerência e comprometimento pelos profissionais de educação física. Percebeu-se, portanto, através desse estudo, que em um processo de aprendizagem, onde o resultado é a ação do aprendiz, a função do professor é criar condições para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender participando de situações que favoreçam isso. Surge a necessidade do docente em desenvolver aulas que façam com que o aluno perceba o significado daquilo que está sendo ensinado, um planejamento com objetivos e propostas educativas adequadas as características de seus alunos, pois, o professor deve estar ciente de sua capacidade de transformação social, de sua intensa participação na formação de valores para o caráter de seus alunos. A acomodação e falta de comprometimento com as obrigações como educador fazem com que as aulas de Educação Física se tornem pouco significativas para a formação dos alunos, e assim, têm sua importância questionada no ambiente escolar. REFERÊNCIAS ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. 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