AS PALAVRAS QUE NOS MODELAM OU NOS DEFORMAM E eis que setembro vem ao nosso encontro! Cada tempo, cada dia, cada mês... com sua originalidade, novidade e surpresa, chamando-nos a fazer a travessia para descobrir o sentido da existência escondido na apressada rotina do cotidiano.Vivemos no tempo e desejamos a eternidade. Para compreender o tempo de cada coisa e dar respostas ao que a vida pede e espera de nós, a Igreja estabeleceu setembro como “mês da Bíblia”. A Palavra se faz tempo e se aproxima de nós, criando pontes, horizontes, chegando a lugares jamais imaginados ou tocados por nós. Por isso, setembro é momento oportuno para tomarmos consciência do sentido e do valor da palavra em nossa vida. É no encontro com a Palavra revelada que brotam palavras criativas, carregadas de esperança e de sentido. Por que será que o Criador usou da Palavra para se encarnar em nosso meio? Quê mistério e força contém a palavra para merecer tanta exclusividade diante da Encarnação do Filho de Deus? (“E a Palavra se fez carne...” – Jo, 1,14). “Nós somos palavras”. Temos respirado e respiramos palavras desde que nascemos. Basta abrir a boca que as palavras jorram. Povos de todos os tempos e lugares sempre chama-ram a atenção para o vínculo que existe entre as palavras e a vida. É graças à força das palavras que derrotamos o silêncio angustiante da solidão, derretemos o gelo da indiferença, aprendemos a partilhar o ser e o ter. De modo particular os poetas, os amantes, os místicos e os filósofos perceberam, desde sempre, a força e a sedução da palavra. No entanto, as palavras podem mudar a vida, para o bem ou para o mal. Há uma palavra que constrói e uma que destrói, uma palavra que comunica calor e luz, outra que semeia frieza, uma que infunde confiança e restitui o indivíduo a si mesmo e ao seu futuro, outra que o arrasa. (cf. 2Tim. 2,14-26) As palavras nos tocam e nos modelam; às vezes, elas nos tocam como brisa suave, às vezes como punhais, mas sempre nos deixando marcas profundas de estímulos ou de desânimo: sentimentos de alegria ou tristeza, de paz ou guerra, de tranqüilidade ou inquietação, de fé ou descrença, de amor ou ódio... Sinceras ou falsas, pensadas ou espontâneas... são um de nossos maiores tesouros. As palavras perdem força e criatividade quando não nascem do silêncio. O mundo está repleto de papos vazios, confissões fáceis, palavras ocas, cumprimentos sem sentido, louvores desbotados e confidências tediosas. Nós somos as palavras que escutamos e aquelas que foram silenciadas, negadas ou omitidas dentro de nós. Falamos apenas das palavras ditas, mas não podemos nos esquecer daquelas comunicadas no silêncio da censura, da cobrança, da recriminação, da humilhação... Ambivalentes como nós, palavras podem criar armadilhas ou abrir portas para largos horizontes, podem embalar ou derrubar, acolher ou matar dolorosamente. S. Lucas (4,16-30) nos relata como as pessoas “ficavam admiradas com as palavras cheias de encanto que saíam da boca de Jesus”. Tal situação nos ajuda a considerar o mistério escondido naquela palavra que sai de nossa boca e de nosso coração de forma afirmativa, redentora... bendita. Quando assim conseguimos comportar com nossas palavras, estamos contribuindo, literalmente, para a “edificação humana” do outro. Com isso, estamos falando de um ser mais saudável, equilibrado, integrado em suas dimensões (psíquica, social, corpórea, espiritual). É extraordinário perceber como as palavras ditas com cuidado e amor (pedagogia de Jesus) produzem efeitos benéficos para o ser humano. Principalmente nos primeiros anos de vida. Como é importante para um adulto, um dia criança, ter escutado palavras ordenadoras de emoções, de auto-estima! Essas palavras são bem-aventuradas, pois se tornam capazes de fazer crescer, sustentar, enfim, edificar pessoas mais saudáveis no convívio social, humano-afetivo, espiritual. Formados e purificados pela própria Palavra no forno do silêncio, estaremos prontos para proferirmos palavras benditas, palavras que possuem um magnetismo especial, que libertam, acalentam, invocam emoções. Certas palavras nos acompanham durante muito tempo. Todos nos lembramos de palavras proferidas por pessoas especiais em momentos de dificuldade, que nos deram luz e força Portanto, na oração, cave palavras nas minas do seu silêncio, neste mês da Bíblia, e deixe que o Espírito lhe diga a “palavra” misteriosa, a “palavra diferente” reveladora de sua verdadeira identidade. Palavra divinizada que favorece o encontro, a proximidade e a acolhida mútua. Na oração: Percorrer as palavras proferidas, normalmente, ao longo do dia: são palavras que elevam? curam? animam? Palavras marcadas pela esperança? Palavras carregadas de sentido? Palavras criativas? FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana Rua Bambina, 115 - Botafogo – RJ – 22251-050 [email protected] / www.ceijesuitas.org.br