Uso de mídias sociais nas empresas paulistas de transporte público: uma pesquisa exploratória Fernando Nogueira ([email protected]), Mário Aquino Alves ([email protected]) e Eduardo Henrique Diniz ([email protected])1 Introdução O desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas últimas décadas é apontado como uma das principais causas das rápidas transformações pela qual o mundo passou no fim do século XX e início do século XXI. Dentre as tecnologias, poucas se mostraram tão disruptivas e impactantes quanto a internet, também conhecida como world wide web. Sua ampla disseminação como rede mundial de computadores foi acompanhada por uma constante evolução tecnológica e conceitual, resultando no que muitos chamam de “web 2.0”. Esta versão atualizada da rede traz novas possibilidades de comunicação na sociedade contemporânea. Entre as principais inovações pode-se incluir a maior centralidade no usuário, a flexibilidade e a possibilidade de adaptação das ferramentas às demandas de cada pessoa e a ênfase nas conexões e comunicações multi-direcionais entre usuários e criadores dos sites (MERGEL; SCHWEIK e FOUNTAIN, 2009). Entre as diferentes ferramentas e plataformas que tangibilizam a web 2.0 estão as mídias sociais como Twitter, Facebook e Orkut. Ao permitir novos arranjos de redes e relações sociais, essa abordagem vem transformando a forma como pessoas e organizações se comunicam. Como isso tem afetado a relação entre cidadão e governo? Em princípio, essa maior proximidade e horizontalidade na comunicação parecem ser desejáveis do ponto de vista de um estado simultaneamente mais eficiente e democrático na relação com a sociedade. Muitas perguntas poderiam ser feitas a partir desse foco. Como as ferramentas vêm sendo utilizadas? Por quais órgãos ou esferas do governo? Com quais objetivos? Como vêm sendo implementadas? Qual seu impacto em termos de custos, eficiência, efetividade na prestação de serviços / accountability? A aplicação dessas ferramentas demanda ou leva a transformações organizacionais relevantes? Levantamentos preliminares apontam que tais questões já começam a formar um campo de pesquisa relevante nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como se verá adiante. No entanto, pouco se encontrou no Brasil referente a esses assuntos. Para começar a explorar tais questões, propõe-se aqui centrar a discussão em torno do uso das mídias sociais em empresas públicas paulistas tendo como base os conceitos de comunicação pública e democracia eletrônica. A lógica dessas escolhas será apresentada adiante, nas seções teóricas e na metodológica. A pergunta que orienta o desenvolvimento desse artigo é: “Como as empresas paulistas de transporte público vêm utilizando as mídias sociais em suas práticas de comunicação?” . Secundariamente, espera-se também começar a entender quais os possíveis impactos que a adoção de tais ferramentas pode ter na relação entre cidadão e governo. 1 Este trabalho faz parte de uma pesquisa em progresso e apresenta resultados preliminares. Os autores se colocam à disposição para discutir quaisquer aspectos teóricos ou de desenho metodológico que venham a contribuir para futuras versões. 1 Justificativa Como já citado, em primeiro lugar esse estudo se justifica pela falta de pesquisas no Brasil sobre o impacto das ferramentas da web 2.0 na comunicação pública. Essa lacuna se torna ainda mais relevante quando se nota a quantidade já considerável de estudos desse tipo em outros países. Além disso, o estudo ganha relevância ao combinar as diferentes perspectivas fornecidas por correntes teóricas como e-Gov, democracia eletrônica e comunicação pública. O que se encontra como ponto comum a esses temas é o potencial de uma maior efetividade na ação pública do estado combinada a uma participação mais ampla da sociedade no planejamento, implementação e controle das políticas públicas. Ainda que diversos autores apontem o risco de se considerar as TICs uma panacéia para uma nova utopia democrática e participativa, a maioria apresenta vantagens potenciais que merecem maior atenção, seja como pesquisa, seja como experiência empírica (BRITO, 2006; CUNHA e MIRANDA, 2008; CHADWICK, 2009). Outro aspecto que esse estudo pode ajudar a destacar é a importância da comunicação pública como prática fundamental na busca de um governo mais democrático e efetivo. As pesquisas que tratam do tema (a comunicação pública) costumam se situar nos extremos: do meramente instrumental (técnicas de comunicação específicas, geralmente discutidas em um contexto de empresas privadas) a perspectivas teóricas amplas (direito à informação pública, processos comunicativos na esfera pública etc.). Faltam pesquisas que reconheçam mais explicitamente de forma simultânea as dimensões técnicas e políticas da comunicação pública2. O artigo começa com as discussões teóricas e conceituais em torno dos temas de comunicação pública, e-democracia e web 2.0. Em seguida, são apresentados a metodologia do estudo e os dados encontrados. Finalmente, são feitas as análises a partir das mensagens publicas pelas três empresas estudadas e conclui-se com as considerações finais. TICs – linkando comunicação e democracia? O trabalho proposto pode ser abordado por diferentes correntes teóricas. Uma primeira a se analisar é o uso das TICs no governo, também conhecido amplamente como e-Gov. De forma geral, o governo eletrônico reúne um conjunto de ações que visam modernizar a administração pública por meio das tecnologias de informação e comunicação: Isso inclui a melhoria dos processos da administração pública, aumento da eficiência, melhor governança, elaboração e monitoramento das políticas públicas, integração entre governos, e democracia eletrônica, representada pelo aumento da transparência, da participação democrática e accountability dos governos (DINIZ et al, 2009, p. 27). Diferentes autores sugerem diferentes formas de categorizar as iniciativas em e-gov. Cunha e Miranda (2008) apresentam três diferentes tipos, ainda que bastante relacionados e de difícil demarcação entre si: e-adminsitração pública (o uso de tecnologia nas políticas públicas e na gestão do governo), eserviços públicos (a prestação de serviços e informações por meios eletrônicos) e e-democracia (a ampliação da práxis democrática, promovendo participação e maior accountability com o uso das 2 Entre os raros exemplos encontrados na pesquisa preliminar que tratam da importância da comunicação na efetividade das políticas públicas, pode-se mencionar o estudo de Cruz e Silva (2010). 2 TICs)3. Já Diniz et al (2009) sugerem que se relacione o estudo das políticas de e-gov ao ciclo de políticas públicas, que passa da elaboração à implementação e avaliação das ações do estado. Por último, Brito (2006) afirma que o governo eletrônico atua simultaneamente em três dimensões da relação entre governo e cidadão: plano informacional (fornecimento de informações online), de serviços (prestação de serviços) e comunicacional (de forma direta, online e interativa). O autor mostra-se bastante otimista ao relacionar comunicação pública, tecnologia e democracia: A atitude de propiciar mais informações e novos canais virtuais para os cidadãos por meio das novas TICs, sem intermediários burocratizantes ou filtros ideológicos, implica uma postura diferente das antigas práticas dos governos, acentuando o eGov como democrático, eficiente e com maior credibilidade (BRITO, 2006, p. 115) Nesse momento, cabe perguntar: de que forma deve-se entender comunicação pública e democracia eletrônica? Não há resposta fácil para se entender o primeiro conceito: há muitas definições para o que é comunicação pública, conforme Brandão (2009). A primeira tentação é simplificar a questão, reduzindo o conceito a qualquer comunicação feita por órgão estatal. Outra visão é tomar a expressão como sinônimo de qualquer comunicação que se dá em espaço público, não importa a origem do emissor – pública ou privada. Em abordagem semelhante, outros autores simplesmente entendem como sucedâneos comunicação pública e comunicação corporativa, usando o primeiro termo para estudar como as empresas se comunicam com seus diferentes públicos. Finalmente, outra possível aproximação se dá com o marketing político, entendendo comunicação pública como os esforços de defender idéias e candidatos a cargos eletivos. No entanto, neste trabalho se preferirá a visão da citada autora, que mostra que um “ponto comum de entendimento [entre as diferentes definições] é aquele que diz respeito a um processo comunicativo que se instaura entre o Estado, o governo e a sociedade com o objetivo de informar para a construção da cidadania” (BRANDÃO, 2009, p. 9). Essa abordagem também se mostra interessante por se aproximar mais do conceito de esfera pública de Habermas (CHADWICK, 2009). Deve-se agora explicitar o sentido da expressão democracia eletrônica, e aqui é utilizado o instigante texto de DIJK (2000), Models of Democracy and Concepts of Communication. Sua primeira e ampla definição é que a democracia virtual é aquela em que se tenta praticar a democracia sem os limites de tempo, espaço e outras condições físicas, viabilizado pelo uso das TICs. Decorre dessa definição que: 1) a democracia virtual é ainda uma tentativa, uma experiência em curso; 2) é no entanto uma mudança radical, ao possibilitar novas práticas de política e gestão. Chadwick (2009) detalha algumas dessas potenciais mudanças: a e-democracia enfatizaria o aspecto deliberativo (já que no limite toda a população pode participar diretamente no processo político) e ampliaria as formas de engajamento cidadão. No entanto, o autor tempera o “e-entusiasmo” com a análise de diferentes práticas de democracia eletrônica, mostrando que nem sempre as expectativas de uma participação cidadã maior e mais esclarecida se cumpriu. Esse ciclo de entusiasmo conceitual seguido de questionamento pelas análises empíricas parece ter se dado também no Brasil. Assim, há diversos textos que analisam a distância entre a promessa de maior 3 Um exemplo de estudo baseado nesse último conceito – o de e-democracia – pode ser encontrado em CUNHA e POZZEBON (2010), em que é feita uma análise do uso da Internet como meio para ampliar a participação cidadã no Orçamento Participativo da cidade de Belo Horizonte. 3 efetividade, democracia e accountability em iniciativas públicas ou sociais de e-democracia e os resultados, em geral muito aquém do esperado (AMARAL e PINHO, 2008; OLIVEIRA e HUERTAS, 2010; CUNHA e POZZEBON, 2009). Pelo levantamento da literatura internacional, no entanto, parece que o entusiasmo volta a se apresentar, agora alimentado pelas promessas de inovações da “web 2.0”. Este novo modelo de internet pode ser entendido como “[...] a set of economic, social and technological trends, that collectively form the basis for the next generation of the Internet – a more mature, distinct medium characterized by user participation, openness, and network effects” (O’REILLY’S, 20054, apud MERGEL; SCHWEIK E FOUNTAIN, 2009). Assim, os autores ressaltam que a web 2.0 se destaca por aproveitar a capacidade produtiva coletiva dos usuários de um determinado site ou serviço online, com um trabalho de espírito aberto e cooperativo e cujas inovações têm como foco o usuário. As mídias ou redes sociais atuais (como Twitter e Facebook) são uma das formas mais tangíveis e relevantes dessa nova versão da web, ao permitir com que os usuários mantenham diferentes formas e níveis de comunicação com diferentes pessoas, grupos de pessoas ou organizações. Quer seja focado nas mídias sociais ou também em outras expressões do fenômeno, há já alguns estudos fora do Brasil relacionando web 2.0, e-gov e democracia virtual, entre os quais se pode destacar Mergel; Schweik e Founatin (2009), Chadwick (2009) e Osimo (2008). Além de apontar potenciais benefícios no uso dessas novas ferramentas, os autores apontam interessantes desafios nesse processo. Por exemplo, haveria um potencial paradoxo do uso de web 2.0 pelo setor público – a abertura e a flexibilidade do novo modelo entraria em choque com a cultura mais rígida, hierárquica e burocrática do setor – até pela confidencialidade e cuidado que é necessário ter com muitas das informações públicas (MERGEL; SCHWEIK E FOUNTAIN, 2009) A partir dos diferentes conceitos explicados, é possível mostrar agora qual sua relação e como dão base à investigação exploratória aqui realizada. Diferentes padrões de comunicação Para estudar a questão proposta, pretende-se utilizar um modelo de comunicação pública apresentando por Dijk (2000). É um modelo condizente com as definições apresentadas acima e que foi desenvolvido tendo em conta a preocupação com a efetivação da e-democracia, ao dar ênfase na importância do sentido e da direção da informação e da comunicação entre os atores do sistema político – em especial governantes e governados. São apresentados assim quatros padrões de tráfego de informação: alocução (allocution), consulta (consultation), registro (registration) e conversa (conversation), detalhados no quadro abaixo: Padrão Alocução Características - típico da mídia de massa tradicional - unidirecional, e o poder de decisão é concentrado em um centro (por ex., por um órgão Exemplos - campanhas públicas de amplo alcance - em e-Gov: campanhas públicas 4 O'Reilly, T. (2005). What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. 09/30/2005. Retrieved from http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web20.html 4 de governo) - a demanda pelas informações vem do nível local, Consulta consultado fontes públicas e/ou altamente disponíveis - coleta de informação por um centro (que toma as decisões sobre o que importa e como o registro Registro é feito) - unidades locais são a fonte das informações - troca de informações por duas ou mais unidades locais, por mídias compartilhadas (não mais Conversa centralizadas), que têm a capacidade de determinar o que importa e como é feita a comunicação Quadro 1: modelo dos padrões de tráfego informacional Fonte: adaptado de DIJK, 2000 com uso de mídias virtuais - livros, revistas, diário oficial etc. - em e-Gov: sistemas públicos de informação de massa - questionários impressos, voto em urnas - em e-Gov: referendos eletrônicos, pesquisas virtuais - discussões políticas em locais públicos, audiências públicas etc. - em e-Gov: chats, listas de discussão, sistemas de apoio à decisão pública O que se percebe com o modelo é um aumento crescente no nível de interação entre os atores e a descentralização do poder de decisão, ou uma maior autonomia por parte dos cidadãos em decidir como, com quem, onde e quando falar sobre o assunto de seu interesse. Assim, ao se utilizar esse modelo para avaliar como tem se dado a comunicação entre as empresas de transporte paulistas e os cidadãos, será interessante observar se as mídias sociais são usadas apenas como “muros virtuais”, onde se colocam cartazes, ou se realmente vem sendo explorada sua potencialidade de promover conversar mais horizontais e democratizantes na prestação de serviços e na definição de políticas públicas. O entendimento dos padrões também é importante, segundo o autor, para compreender que modelo de comunicação será o dominante no desenvolvimento da internet (DIJK, 2000): 1) Modelo de mercado: aqui, a ênfase é na alocução, com um centro (empresas, governos) decidindo o que e como deve ser comunicado às pessoas, com um fraco mecanismo de feedback que dê voz aos cidadãos. É o modelo que mais representa as mídias de massa atuais; 2) Modelo infocrático: neste, a ênfase é em registro – os centros utilizam-se das TICs para coletar as informações que julgam importantes, de forma pouco aberta e transparente, dando poder às infocracias nas estruturas burocráticas. Abriga o potencial de formas mais amplas de participação, desde pesquisas de opinião até formas diretas de votação online. No limite, a busca pelo controle leva a uma sociedade de vigilância plena, autoritária. 3) Modelo da internet: por último, aparecem as ênfases em consulta e conversa – não há centros únicos e claros, há comunicação em todos os sentidos e com alto grau de interatividade. É o modelo da utopia e-democrática, baseada em uma estrutura de internet barata, amplamente acessível e livre de controles centralizados. Não há restrições sobre quem pode conversar e qual o assunto a ser discutido, e há informação pública fartamente disponível para municiar tais diálogos. Os três modelos podem ser representados da seguinte forma: 5 Figura 1: três possíveis modelos de comunicação Fonte: adaptado de DIJK, 2000 Os modelos – tipos ideais – não são estanques, mas devem se misturar: “The actual future of politics and democracy on the information superhighway is likely to be a mixture of characteristics char of these three ideal types which were constructed for the purpose of clarification. It is still open which will acquire the strongest est impact [...]” (DIJK, 2000). O autor termina alertando que a cultura política de cada país influencia as possíveis combinações entre os modelos. Para explorar como esses processos vêm acontecendo na prática, passa-se p a seguir à seção em que se explicam as escolhas metodológicas do estudo. O passo a passo da pesquisa Para estudar a questão proposta, planejou-se uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo. Mais especificamente, fez-se uma pesquisa documental em três diferentes mídias sociais potencialmente utilizadas pelas empresas públicas de transporte do Estado de São Paulo. Pesquisa documental A técnica de coleta utilizada neste este artigo é a pesquisa e análise documental. Segundo Raupp e Beuren (2003), diferentemente iferentemente da pesquisa bibliográfica, em que o foco são autores já validados do ponto de vista acadêmico, a pesquisa documental baseia-se baseia se em documentos que não foram a priori tratados analítica ou sistematicamente. O princípio fundamental é o de, a partir de dados em estado bruto, extrair deles alguma informação a partir de um objetivo de pesquisa previamente determinado e, assim, conferir-lhe lhe algum valor acadêmico. acadêmico Entre as diferentes questões associadas à pesquisa documental, deve-se deve se prestar especial atenção ao tipo de fontes pesquisadas (escrita, visual, sonora, entre outros), à origem dos documentos (se pública ou privada, ivada, por exemplo), como estão organizados organiza (catalogados ou desorganizados) desorganizados e o contexto em que foram produzidos (histórico, político, social, econômico). Além disso, para que o uso dos documentos contribua à pesquisa, é fundamental criar categorias de análise análise que sirvam como 6 referência para a leitura crítica dos documentos selecionados. Essa última etapa deve se apoiar na revisão teórica que embasa o estudo, que fornecerá os conceitos e elementos a serem extraídos dos documentos analisados (RAUPP & BEUREN, 2003; CELLARD, s.d.). Mídias sociais escolhidas A idéia inicial era trabalhar com mensagens criadas em três das mídias sociais mais amplamente utilizadas no Brasil – Twitter, Facebook e Orkut. Todas apresentam as características de ferramentas da web 2.0 descritas anteriormente. Ademais, apesar de serem plataformas privadas, a maioria das trocas se dá de forma pública, facilitando a captação das mensagens e conteúdos informacionais para a pesquisa. A realidade, como sempre, se mostrou menos previsível do que o planejamento de pesquisa. Das três mídias, a presença institucional das empresas estudadas é forte apenas no Twitter, como se detalhará adiante. Assim, a ênfase das análises recairá nesta plataforma, complementadas com algumas poucas evidências coletadas no Facebook e no Orkut. Organizações selecionadas O foco de estudo selecionado foram as três empresas paulistas que lidam com o transporte metropolitano: a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, responsável pelos trens), a EMTU (Empresa Metropolitana de Transporte Urbano, que cuida do transporte de ônibus entre cidades) e o Metrô (responsável pelo metrô da cidade de São Paulo). Todas fazem parte da estrutura organizacional da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos e mostraram-se adequadas para esse estudo por algumas razões: - são organizações de grande visibilidade no dia a dia dos cidadãos ao prestar um serviço público essencial; - todas têm grande escala e impacto: cada sistema conta com alguns milhões de usuários (STM, 2010); - são empresas onde se pode encontrar os diferentes desafios de comunicação (prestação de informação pública, canais de sugestões / críticas, possibilidade de participação e debate nas políticas públicas de transporte etc). Procedimentos de coleta e análise de dados Em primeiro lugar, o autor entrou em cada uma das mídias previstas e procurou, nos mecanismos de busca disponíveis, se havia uma identidade oficial das empresas EMTU, Metrô e CPTM na mídia, utilizando-se de diferentes versões, siglas e abreviações dos nomes de cada organização. Após um certo tempo, chegou-se à conclusão que as três empresas estavam oficialmente no Twitter, mas não claramente no Orkut e no Facebook. O quadro abaixo sintetiza os resultados dessa pesquisa: Mídia Twitter Orkut Facebook http://twitter.com/emtu_of icial identidade oficial da empresa no Twitter: emtu_oficial http://www.orkut.com.br/ Main#Community?cmm=39 0119 comunidade de funcionários da empresa, com 287 membros, última atualização em 29 de http://www.facebook.com/ #!/pages/EmpresaMetropolitana-deTransportes-Urbanos-deSaoPaulo/108084609219230 página não-oficial, com Empresa EMTU 7 Metro http://twitter.com/metrosp _oficial identidade oficial da empresa no Twitter: metrosp_oficial setembro de 2010; praticamente inativa http://www.orkut.com.br/ Main#Community?cmm=25 8576 comunidade de usuários, com 8384 membros, era bastante ativa até meados de 2007 dados do site wikipedia.org http://www.facebook.com/ ?ref=logo#!/pages/SaoPauloMetro/105484129485316 página não-oficial, com dados do site wikipedia.org http://www.facebook.com/ pages/CPTM/10642651939 http://twitter.com/CPTM_o 2437#!/pages/Companhiaficial Paulista-de-TrensCPTM identidade oficial da Metropolitanos/107948129 empresa no Twitter: 233673 CPTM_oficial página não-oficial, com dados do site wikipedia.org Quadro 2: presença das empresas nas mídias sociais – endereços e descrição resumida Fonte: autoria própria http://www.orkut.com.br/ Main#Community?cmm=91 288712 comunidade fechada, com 1119 membros, aparentemente de usuários É importante ressaltar que até onde foi possível perceber, não há presença oficial nas mensagens trocadas nas comunidades no Orkut ou na páginas do Facebook, estas muito superficiais e que reproduzem apenas uma descrição básica das empresas a partir de dados da wikipedia. A comunidade da CPTM no Orkut, apesar de fechada – ou seja, com acesso restrito apenas a membros – tampouco dá a entender que seja um veículo oficial da empresa, por sua descrição. A partir daí, resolveu-se focar no Twitter5. Dado o caráter exploratório da pesquisa e os limites de tempo do autor, decidiu-se seguir os três perfis pelo período de 31 dias corridos, de 13 de outubro a 12 de novembro. Todas as mensagens publicadas em cada perfil nesses dias foi copiada e armazenada em uma planilha, sendo posteriormente analisadas e classificadas. A escolha por essa duração teve como objetivo observar um mínimo de regularidade e funcionamento normal da comunicação dessas empresas, sem almejar no entanto uma pretensão de exaustividade. Em futuras pesquisas, pode ser interessante prolongar esse tempo, de forma a estudar variações sazonais na comunicação e fenômenos possivelmente importantes como férias, feriados, lançamentos de serviços novos (como uma nova linha de trem ou metrô) ou situações de crises agudas. Foram coletadas 288 mensagens, das quais 140 do Metrô, 123 da CPTM e apenas 25 da EMTU. É possível ver no gráfico a seguir quando as mensagens foram publicadas. 5 Apesar de seus esforços de pesquisa, o autor não afirma categoricamente que não existem páginas ou presença oficial de qualquer uma das empresas citadas no Facebook ou no Orkut. No entanto, há duas evidências que reforçam essa hipótese. Em primeiro lugar, contrasta-se a facilidade com que se encontrou as páginas oficiais no Twitter com as seguidas pesquisas frustradas nas outras mídias. Além disso, há menção do Twitter oficial do Metrô e da CPTM em suas respectivas páginas na web (em www.metro.sp.gov.br e www.cptm.sp.gov.br), não havendo qualquer menção semelhante relacionada ao Facebook ou ao Orkut. 8 Gráfico 1: mensagens publicadas no Twitter de cada empresa por dia, de 13 de outubro a 12 de novembro Fonte: autoria própria,, com base em pesquisa no site www.twitter.com As mensagens foram categorizadas em relação a forma de publicação, padrão de tráfego de informação e assunto principal, conforme confor explicado no quadro abaixo. Fundamentalmente, pretendepretende se entender como as mensagens foram emitidas dentro da lógica da mídia, qual seu sentido comunicacional e sobre o que versavam. Categoria Forma de publicação Alternativas • mensagem própria • resposta a mensagem de terceiros • re-publicação de mensagem de terceiros Padrão de tráfego de informação • • • • alocução consulta registro conversa • eventos • institucional Assunto principal • operação • expansão • integração Explicação A mensagem própria é a emitida originalmente pela empresa. A mensagem do tipo resposta é a precedida pelo sinal @ (arroba), cria uma conexão (um link)) entre a resposta da empresa empre e a mensagem original da outra pessoa. A re-publicação, publicação, chamada no site de “retweet”, é precedida da sigla RT e reproduz fielmente a mensagem original de um terceiro. Buscou-se se classificar segundo os padrões propostos por DIJK (2000) e explicados anteriormente. Essencialmente subjetivas, essas categorias foram criadas após a leitura de algumas dezenas de mensagens e agrupam com razoável precisão os principais temas abordados. Eventos: manifestações culturais, esportivas ou sociais que acontecem nas estações de algumas lgumas das empresas ou a que se pode chegar usando o transporte público Institucional:: assuntos ou políticas institucionais da empresa de forma ampla Operação:: informações específicas sobre a operação do sistema de transporte Expansão: questões ligadas ao planejamento de cada empresa, como informações sobre prazos de expansões e futuras linhas Integração: divulgação de ações conjuntas entre as três empresas Quadro 3:: categorias de classificação e análise das mensagens coletadas Fonte: autoria própria 9 Passa-se agora à apresentação dos dados encontrados e de sua análise Análise dos dados: pouco caracteres, muito a dizer As mensagens do Twitter têm algumas características básicas – seu pequeno tamanho (com até 140 caracteres), seu estilo informal e a possibilidade de criar diálogos ao mesmo tempo privados e públicos. Privados, pois geralmente se dão entre conhecidos, que “seguem-se” uns aos outros6; públicos, pois é uma plataforma de comunicação aberta e há diversos mecanismos de busca e referenciação que fazem com que cada mensagem vá fazendo parte de diálogos e fóruns mais amplos, compondo um quadro de tendências e seleção de assuntos de grande repercussão na sociedade em rede. Criado em 2006, o site já tem hoje 175 milhões de usuários, que juntos publicam 96 milhões de mensagens diariamente (TWITTER, 2010). No período de 13 de outubro a 12 de novembro, 288 dessas mensagens foram publicadas pelas empresas aqui estudadas – Metrô, EMTU e CPTM. A tabela abaixo apresenta algumas estatísticas desse processo: Tabela 1: estatísticas básicas da publicação de mensagens pelas empresas pesquisadas no Twitter Empresa Metrô CPTM EMTU Total Indicador total de mensagens mensagens por dia no período total (31 dias) dias com mensagens 140 123 25 288 4.5 4.0 0.8 9.3 20 20 16 21 dia útil sem nenhuma mensagem média de mensagens por dia com mensagens dias com 10 mensagens ou mais 1 1 5 0 7.0 6.2 1.6 13.7 4 4 0 13 dias com apenas 1 mensagem 1 1 12 0 máximo de mensagens por dia 21 18 5 38 10787 3724 1337 15848* seguidores (em 3/12) segue quantos (em 3/12) 59 58 34 151* Fonte: autoria própria obs: * pode haver seguidores e seguidos em comum entre as três empresas Como se vê, o Metrô e a CPTM apresentam números bastante semelhantes entre si e muito diferentes da EMTU, que claramente usa a ferramenta de forma mais tímida e esparsa. Apenas em um indicador o Metrô se distancia da CPTM, com quase o triplo de seguidores. Quanto ao perfil de quem as empresas seguem, geralmente são identidades corporativas, principalmente de outros órgãos, empresas e secretarias do governo estadual. O gráfico apresentado na seção metodológica permite complementar essa análise de forma visual, percebendo que há dias mais movimentados do que outros, e que invariavelmente nenhuma empresa publica mensagens em dias de fim de semana. 6 Pelo funcionamento do site, ao se colocar como “seguidor” (“follower”) de uma outra identidade do Twitter, o perfil de quem segue passa a receber todas as mensagens de quem é seguido. 10 Para aprofundarmos a análise quanto à presença das três empresas no site, é interessante observar qual o padrão típico de publicação – com mensagens originais, dialogando com outros usuários ou republicando mensagens de terceiros, como se vê na tabela 2. Tabela 2: forma de publicação da mensagem Empresa Indicador Metrô CPTM EMTU Total mensagens próprias 85 75 21 181 mensagens republicadas (RT – total) 13 15 4 32 42 33 0 75 140 123 25 288 mensagens respondidas a alguém (@) total Fonte: autoria própria Para ilustrar as diferentes formas de publicação, seguem alguns exemplos: Mensagem própria do Metrô: “Use estacionamentos E-FÁCIL, perto de estações. Vc estaciona por 12h e tem direito a 2 viagens de Metrô/CPTM/SPTrans http://bit.ly/c3kVsO quarta-feira, 13 de outubro de 2010 09:18:17 via web” Mensagem republicada pela EMTU: “RT governosp Governo e prefeituras da Baixada Santista assinam convênio para o Sistema Integrado Metropolitano - http://migre.me/1zqNh 12:50 PM Oct 14th via CoTweet Retweeted by emtu_oficial and 5 others” Mensagem respondida pela CPTM: “@douglas_87 Olá, A L7 opera c redução de veloc. entre Perus e Vl. Clarice devido à defeito na sinalização/Técnicos trabalham p solucioná-lo quarta-feira, 27 de outubro de 2010 11:19:16 via TweetDeck in reply to douglas_87” Em média, as empresas publicam acima de 60% de mensagens próprias, mas novamente a EMTU se diferencia – nesse caso, 84% são mensagens próprias, possivelmente indicando um maior uso como meio de alocução do que de conversa, como se debaterá adiante. Outro dado interessante é que das 32 mensagens republicadas, quase metade (47%) foram emitidas originalmente por uma das duas outras empresas – ou seja, ocasião por exemplo em que o Metrô republicou uma informação do Twitter da CPTM, ou da EMTU. Isso pode indicar algum grau de coordenação de estratégia de comunicação inter-organizacional. Além da forma de publicação, cabe entender quais os principais assuntos tratados nas mensagens. Tabela 3: classificação das mensagens por assunto e por empresa Empresa Metrô CPTM EMTU Total Indicador eventos 62 32 7 101 institucional 29 45 12 86 operação 35 31 0 66 expansão 10 10 4 24 integração 4 5 2 11 total 140 123 25 288 Fonte: autoria própria 11 Novamente, seguem alguns exemplos que podem ser considerados típicos: Assunto evento, publicado pela CPTM: “Vc sabia q aos sábados a vista ao Museu da Língua Portuguesa é gratuita? Vá de trem! É do lado da Estação da Luz http://ow.ly/2U2Zi sexta-feira, 15 de outubro de 2010 11:13:28 via HootSuite” Assunto institucional, publicado pela EMTU: “EMTU/SP publica edital de licitação p/ concorrência internacional do SIM da Baixada Santista http://ow.ly/33Gdp quarta-feira, 3 de novembro de 2010 10:19:48 via HootSuite “ Assunto operação, publicado pelo Metrô: “@nesimachado Não houve registro de falha no horário/Há movimento p causa da op. assistida q inicia às 8h30. + info enc. p http://ow.ly/2VWyI terça-feira, 19 de outubro de 2010 14:52:12 via HootSuite in reply to nesimachado” Assunto expansão, publicado pela CPTM: “@ffiurst Olá, eles serão trocados. Já foram adquiridos 36 trens novos para a L8. Os primeiros começam a chegar no 2° sem. de 2011 sexta-feira, 22 de outubro de 2010 16:52:51 via TweetDeck in reply to ffiurst” Assunto integração, publicado pelo Metrô: “Veja como fica a operação do Metrô, CPTM e EMTU neste feriado prolongado (Finados): http://bit.ly/c4zH7x quinta-feira, 28 de outubro de 2010 16:49:58 via TweetDeck ” Analisando a tabela acima, vê-se que os temas “eventos” e “institucional” são constantes entre todas as organizações, mas a EMTU – novamente – se destaca, não apresentando nenhuma mensagem nesses 31 dias ligados à operação de seu sistema de transporte. Em uma primeira análise, isso pode novamente revelar uma visão diferente quanto ao objetivo de uso do Twitter como estratégia de comunicação. A análise dos assuntos ganha relevância quando se faz uma relação entre o tema da mensagem e sua forma de publicação. No Metrô, por exemplo, apenas uma das 60 mensagens divulgando eventos é resposta a alguém (@) – o interesse das pessoas a quem a empresa respondeu recai principalmente em questões institucionais (12 mensagens), dúvidas quanto à operação do sistema (22 mensagens) e sua expansão (sete mensagens). Tal padrão se mantém na CPTM: enquanto uma de 33 mensagens divulgando eventos é resposta a alguém, os outros assuntos dominam as respostas – operação (13), institucional (11) e expansão (8). A partir desses dados, pode-se inferir que os assuntos que as empresas querem divulgar não é necessariamente o que mais interessa aos usuários, e que a abertura de canais de diálogo como o Twitter pode dar voz a tais preocupações. Os exemplos acima relacionados ajudam a ilustrar essa hipótese. A última categoria de análise diz respeito ao padrão de tráfego de informação. Aqui, foi muito fácil diferenciar alocução dos outros padrões. No entanto, foi muito difícil diferenciar o que é consulta do 12 que é conversa, razão pela qual se optou por fundir as duas alternativas em uma só. Além disso, não se encontrou nenhum exemplo de registro, como se vê na tabela abaixo. Tabela 4: classificação de padrão de tráfego de informação por empresa Empresa Metrô CPTM EMTU Total Indicador alocução 96 86 25 207 consulta / conversa 44 37 0 81 registro 0 0 0 0 Total geral 140 123 25 288 Fonte: autoria própria Por tudo o que foi já visto até aqui, não surpreende que o principal padrão seja o de alocução (próximo de 70% das mensagens publicadas). Padrão, este, que é o único seguido pela EMTU, como se pode ver nesta mensagem: “Mora na região de Campinas? Saiba + sobre o Corredor Sumaré-Campinas, da EMTU. São quase 33Km http://ow.ly/37BiC quarta-feira, 10 de novembro de 2010 15:10:13 via HootSuite” Quando se entra nos padrões mais ligados ao modelo da internet (conforme DIJK, 2000), consulta e conversa, mostrou-se a dificuldade de se diferenciar claramente um do outro. As mensagens típicas emitidas pelo Metrô e pela CPTM que promovem alguma forma de diálogo apresentam características de ambos os padrões. Inicialmente, parece que se está mais próximo da conversa, visto que as mensagens são trocadas em uma mídia compartilhada e descentralizada (ou seja, não exclusiva da empresa), visíveis de forma pública e que o assunto, a data e o ritmo da conversa não são totalmente controlados pela empresa. Porém, a empresa tem o poder de selecionar quais mensagens irá responder, o que tira o caráter igualitário que um real diálogo deveria ter. Assuntos possivelmente mais complicados ou polêmicos podem ser simplesmente evitados pela organização. Além disso, em muitos casos o diálogo não chega a se desenvolver – o Metrô ou a CPTM parecem usar a plataforma como intermediário para outros canais institucionais de relação com o usuário já existentes, como se vê no exemplo a seguir: “@rdlf001 Por favor, encaminhe todas suas dúvidas p: http://ow.ly/2W3ot ou [email protected]. Obrigado terça-feira, 19 de outubro de 2010 17:39:03 via HootSuite in reply to rdlf001” Além disso, muitas respostas acabam ganhando um caráter mais oficial, de resposta padrão, do que um caráter pessoal e específico que se esperaria de um diálogo. É interessante notar que a mensagem abaixo foi respondida com uma redação igual ou muito semelhante para 15 usuários no intervalo de 12 dias: “@rogsilva lá, a operação assistida do Metrô ainda não tem data definida p terminar. Assim q tivermos a data vamos informá-lo. Obrigado quarta-feira, 13 de outubro de 2010 12:44:22 via TweetDeck ” Assim, tais características fazem as mensagens se aproximarem de uma consulta, mais do que uma conversa – seria mais um canal em que um usuário pode tirar uma dúvida, com um nível um pouco maior de pessoalidade que um livro, um manual, uma página de perguntas freqüentes permitiria. Isso não quer dizer que não haja elementos de conversa, nem que as empresas não estejam testando formas novas de diálogo. Em muitos casos, as empresas inclusive se usam de mensagens alheias para 13 fornecer mais informações ou, de alguma forma, se legitimar com um comentário de um terceiro, como nos exemplos abaixo do Metrô: “Chegando gradativ.RT @viniciuszaz:Peguei vagão novo na linha 1 do @metrosp_oficial ! Legal! Parecido com o da linha verde. Quando tem mais? quinta-feira, 21 de outubro de 2010 13:38:02 via Panoramic moTweets” “Vá de Metrô, próx. Est. S. Bento RT @catracalivre: Um dos prédios + antigos de SP recebe artistas neste fim de semana http://bit.ly/bVXNQf sexta-feira, 22 de outubro de 2010 12:53:13 via TweetDeck” Outra razão pela qual é difícil classificar as trocas de mensagens como conversa se dá quanto à duração e à profundidade do diálogo. A troca típica de informação feita com a CPTM e o Metrô no Twitter se limitam à resposta de uma pergunta pontual, ou ao encaminhamento a outros meios de atenção ao cidadão – ouvidorias, serviço de atendimento ao cidadão etc. Não se observa ainda o potencial da promoção de diálogos públicos em torno de questões mais abrangentes, que permiriam a participação dos internautas na formulação, planejamento, acompanhamento ou avaliação das políticas públicas de transporte, por exemplo. Quanto ao padrão do tipo registro, não se encontrou nenhuma mensagem, no período estudado, que se assemelhasse a algum pedido específico de opinião dos usuários ou seguidores das empresas no Twitter. Este é um possível caminho ainda a ser explorado pelas organizações em sua presença virtual. Passa-se agora às considerações finais do trabalho. Uma nova comunicação pública? Primeiras impressões A pesquisa aqui empreendida permite fazer algumas reflexões sobre o potencial da internet e, em especial, das mídias sociais na promoção de um novo tipo de comunicação entre cidadão e governo. Mais do que trazer respostas definitivas, pretende apenas apontar alguns caminhos iniciais de muitos pontos a serem explorados com outras pesquisas, outras perguntas de investigação, outras abordagens metodológicas. Retomando o conceito de comunicação pública apresentado inicialmente, parece razoável considerar as mídias sociais como mais um canal em que a comunicação entre estado, empresas e cidadão pode se dar, inclusive com o potencial de construção de cidadania previsto. Seja com informações mais claras e acessíveis sobre o funcionamento do sistema de transporte público, seja com a divulgação de eventos e projetos de interesse social e cultural, ou seja com mais um canal de prestação de contas ao cidadão (ainda que em nível mais incipiente), plataformas como o Twitter demonstram potencial em contribuir com uma melhor comunicação pública. Quando se olha a questão pelo lado do e-gov ou da e-democracia, podemos retomar os conceitos de Brito (2006), entendendo que uso das mídias sociais vem sendo propício para os planos informacionais e comunicacionais, mais do que de serviço, por enquanto. Os exemplos vistos aqui demonstram um esforço de aproximação de serviços públicos ao cidadão, inclusive no estilo informal adotado nas mensagens, com siglas e abreviações, mais próprio à mídia. Ao se aprofundar esse olhar nos termos da web 2.0, ainda se vê resultados pouco expressivos frente ao potencial das mídias sociais. Pouco se explorou dos potenciais colaborativos e de agregação de comunidades típicas dessas plataformas. 14 Talvez a principal expressão dos avanços importantes porém insuficientes das empresas públicas aqui estudadas frente ao potencial das mídias seja dada pelos conceitos de Dijk (2000). Aparentemente, a organização pública ainda é muito mais acostumada à comunicação unidirecional do que ao diálogo aberto e democrático que se esperaria numa esfera pública como a internet. Se o Metrô, a CPTM e (especialmente!) a EMTU são fluentes em alocução, mostram-se tentativos com outros padrões mais abertos de comunicação. O “sotaque” encontrado pode ser fruto de uma cultura de décadas (ou mesmo séculos) de uma comunicação pública de cima para baixo, formal, cartorial, oficialesca e refratária ao diálogo. Pode, ainda, ser evidência de um período de adaptação e experimentação, sendo possível nesse caso esperar que da alocução como referência se dê cada vez mais ênfase em consultas e conversas. Há ainda um potencial de registro por ser navegado, todas hipóteses merecedoras de novas pesquisas. De qualquer forma, queira a administração pública ou não, a internet representa mais uma expressão da esfera pública e, crescentemente, se desenvolve como espaço privilegiado de comunicação pública. A ausência de uma competente voz oficial não impede os cidadãos internautas de comunicarem a suas opiniões sobre as empresas estatais e seus serviços – opiniões essas nem sempre positivas, como se vê em duas mensagens publicadas recentemente no Twitter: “alex_lesk A #CPTM tem a cara de pau de falar que a linha 11 voltou ao normal as 9 horas, sendo que as 9 e 20 estavam falando que tinha 9 trens na fila. 9:14 AM Dec 2nd via Snaptu.com” q_alvarenga Quando eu tinha o outro twitter eu seguia o twitter da #CPTM, q nem sei mais se existe. E eles nunca respondiam ninguém. 12:41 PM Dec 2nd via Echofon Ganhar fluência na língua da e-comunicação pública parece cada vez menos uma opção, e cada vez mais um dever do gestor público – tanto na busca pela maior eficiência de seus serviços quanto na promoção de uma relação mais democrática e aberta entre estado e cidadão. Referências bibliográficas AMARAL, M. S. ; PINHO, J. A. G. . Sociedade da Informação e Democracia: Procurando a Accountability em Portais Municipais da Bahia. In: 32º Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, 2008, Rio de Janeiro. Anais do XXXII ENANPAD, 2008. BRANDÃO, E.P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, J. (org). Comunicação Pública: Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público. 2a ed. São Paulo: Atlas, 2009 BRITO, J.A.P. Cibercidadania: a virtualização na Comunicação Pública contemporânea. Organicom, ano 3, número 4, 1º semestre de 2006, pp. 107-123 15 CELLARD, André. A Análise Documental. Mimeo, s.d., 29 p. 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