AU TO R AL D IR EI TO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O PE LA LE ID E AVM FACULDADE INTEGRADA Por: Roberta Gomes de Sousa Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço D O C U M EN TO PR O TE G ID RENOVAR A ÁGUA É RENOVAR A VIDA Rio de Janeiro 2014 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA RENOVAR A ÁGUA É RENOVAR A VIDA Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em QSMS/GSI Por: Roberta Gomes de Sousa 3 AGRADECIMENTOS ....aos meus pais, em especial ao meu pai Francisco que sempre lutou para que nunca deixássemos de estudar e buscar novos conhecimentos, e que talvez não esteja mais entre nós no término dessa etapa; minha irmã Renata que muito me ajudou nas pesquisas e meu esposo Luiz Carlos sempre ao meu lado não me deixando desistir mesmo quando o tempo parecia seguir o caminho contrário. 4 DEDICATÓRIA .....dedico ao meu pai Francisco, minha mãe Olympia, meu esposo Luiz Carlos e minha filha Lívia. 5 RESUMO O reuso de água residuária é uma prática de gestão sustentável dos recursos hídricos. Seu principal benefício é a redução da demanda por água potável, mitigando a pressão sobre os mananciais. Esta redução decorre da aplicação das águas de reuso às finalidades que podem ser atendidas por águas com características menos restritivas do que às características exigidas para consumo humano. Devido aos riscos tanto à saúde pública quanto ao meio ambiente, decorrentes da prática do reuso de água residuária. O objetivo desta intervenção será maximizar os benefícios auferidos com a prática e reduzir os associados à sua gestão. Este trabalho tem como objetivo discutir a reutilização das águas cinzas pelas indústrias como forma de contribuir para a preservação das reservas. Para tanto, procedeu-se à revisão bibliográfica do conceito de reuso de água, abordando seus tipos e aplicações, elencando, ainda, as finalidades de aplicação das águas de reuso. A revisão bibliográfica também teve como objetivo o levantamento das legislações referentes ao reuso de água no Brasil. A partir do conceito de reuso de água pode ser estabelecida a relação entre a prática do reuso de água e os objetivos preconizados pela Política Nacional de Recursos Hídricos. 6 METODOLOGIA A metodologia utilizada para a presente pesquisa baseou-se em pesquisas bibliográficas de livros, na web – em sites relacionados ao tema – e artigos científicos. Foi feita pesquisa bibliográfica e documental de natureza exploratória com o intuito de demonstrar como o reaproveitamento de águas cinzas numa indústria pode contribuir para a preservação das reservas de água em nosso país. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Reuso da Água 11 CAPÍTULO II - Sistemas de Tratamentos Utilizados Para o Reuso da Água 25 CAPÍTULO III – Aspectos Legais 43 CONCLUSÃO 48 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49 ÍNDICE 53 FOLHA DE AVALIAÇÃO 54 8 INTRODUÇÃO De acordo com o World Water Development Report, relatório sobre a crise da água elaborado pela Organização das Nações Unidas e divulgado no 3° Fórum Mundial das Águas, que ocorreu entre 16 e 23 de março de 2003 no Japão, cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo consomem água contaminada. Outros milhares não conseguem água suficiente para suas plantações ou para o desenvolvimento industrial. O documento da ONU se destaca entre outros relatórios sobre o tema porque, além de apontar os futuros transtornos que serão causados pela crise da água, traz estudos que mostram como esse problema já afeta e mata milhares de pessoas. A poluição, o crescimento populacional e as mudanças no clima da Terra são indicados como os fatores que mais agravam a crise. Por dia, duas toneladas de lixo (industrial, químico, agrícola e de origem humana) são despejadas nas reservas de água limpa do planeta. Como apenas um litro de água contaminada basta para poluir 8 litros de água pura, a poluição atinge níveis que crescem em altas proporções. A situação afeta sobretudo os países em desenvolvimento, onde cerca de 50% da população está exposta a fontes de água poluídas. Na crise que se apresenta, a escassez é apenas parte do problema; a contaminação e a degradação dos ecossistemas aquáticos são as maiores causas de vítimas. Por ano, mais de 5 milhões de pessoas são atingidas por males decorrentes da ingestão de água contaminada, do contato com insetos vetores que habitam as águas poluídas e de infecções e verminoses, comuns em locais onde a água é insuficiente até para a higiene básica. Contra esse tipo de doença não existe vacina: a única proteção é a prevenção. A escassez da água é uma questão cada vez mais preocupante em todo mundo. O esgotamento dos recursos hídricos tornou-se realidade em algumas regiões do planeta, de modo que muitos países já sofrem 9 extremamente com o problema. Estima-se que 18% da população mundial não tenham água disponível para suprir suas necessidades e em 2050 as estimativas são ainda mais catastróficas: caso a situação atual não se altere, três quartos dos habitantes da Terra não terão acesso a este recurso essencial à vida. Embora vivamos num planeta composto quase que totalmente por este líquido precioso, 97,5% dele encontra-se nos mares e oceanos. A água doce representa apenas 2,5% e, deste percentual, apenas 22% podem ser diretamente aproveitados, por meio de rios, lagos e aquíferos subterrâneos. O restante está acumulado nas geleiras e montanhas. Conforme a dinâmica natural, mesmo esta pequena parcela de água consumível não deveria se esgotar, uma vez que, através do seu ciclo, segue em contínua renovação. Acontece que a ação humana vem degradando-a através da poluição ambiental, do mau uso e do desperdício, o que acaba sendo acentuado pelo crescimento demográfico e, por consequência, pelo aumento do consumo. Porém a questão da falta de água não se dá somente em consequência da ação antrópica. A distribuição deste recurso não ocorre de maneira igualitária em todas as regiões da Terra. Sem dúvida, a má utilização da água e a poluição são os grandes responsáveis por esse problema, sendo possível destacar a parcela de culpa da agropecuária e da atividade industrial. Este segundo consome cerca de 24% da água do planeta, além de poluir lagos e rios, causando também perda de biodiversidade. As consequências são realmente alarmantes, e o assunto é tema amplamente discutido atualmente em noticiários, escolas, pelos gestores públicos, frente às mudanças climáticas onde as estações climáticas não encontram-se bem definidas, as chuvas têm se tornado mais escassas diminuindo os índices pluviométricos consideravelmente, o que prejudica a 10 produção de alimentos, a economia em geral, e provoca um alto índice de contaminação humana. Este trabalho de pesquisa pretende abordar os mecanismos necessários para a reutilização das águas residuais, elucidando a viabilidade ou não da reutilização no processo industrial e analisar os custos e benefícios do reuso da água. O capítulo I abordada a real necessidade do reuso das águas cinzas, assim como a conceituação de reuso, os tipos, a classificação e as finalidades da aplicabilidade do reuso de águas. O capítulo II trata de explicar os sistemas de tratamentos utilizados para reuso de águas cinzas. Já no capítulo III faz-se uma abordagem dos aspectos legais exigidos para o reuso de águas cinzas. O estudo deste trabalho concentrou-se na verificação da necessidade, nos processos necessários e nas exigências legais quanto ao reuso das águas cinzas, para que possamos visualizar os benefícios que uma indústria pode oferecer ao meio ambiente, trabalhando de forma mais limpa e protegendo os recursos naturais de nosso planeta. 11 CAPÍTULO I REUSO DA ÁGUA ...Água recurso natural não renovável. A água é essencial para a sobrevivência da população, insumo básico de quase todos os processos industriais. A cada dia que passa podemos dizer que este recurso natural vai ficando mais escasso. O termo água de reuso passou a ser mais utilizado a partir da década de 80, quando as águas de abastecimento foram se tornando cada vez mais caras. Uma alternativa para a atividade industrial é a utilização da água de reuso, dessa maneira o aumento do valor da água de abastecimento não onera o preço do produto final. Diversos processos foram desenvolvidos visando à redução de custos, conforme (MANCUSO et al.) que diz: Evidentemente, toda decisão final quanto aos instrumentos, mecanismos e tecnologias a serem adotados no trato de qualquer problema ou no estudo e solução empregados, depende do imprescindível conhecimento dos custos associados. (MANCUSO, 2003, introdução XVI). 1.1 – Demanda de consumo de água A água, durante o ciclo hidrológico, sofre alterações em sua qualidade e quantidade. Isso ocorre nas condições naturais em razão das inter-relações dos componentes do sistema do ambiente, quando os recursos hídricos são influenciados devido ao uso para suprimento das demandas dos núcleos urbanos, das indústrias, da agricultura e das alterações do solo. Os recursos hídricos têm capacidade de diluir e assimilar esgotos e resíduos, mediante processos físicos, químicos e biológicos, que proporcionam a sua autodepuração, influenciando seu aspecto qualitativo. Entretanto, essa 12 capacidade é limitada em face da quantidade e qualidade de recursos hídricos existentes (SETTI et al., 2001). Podemos dizer que os três principais fatores que contribuíram para o aumento na demanda de água durante o século passado foram o crescimento demográfico, o desenvolvimento industrial e a expansão do cultivo irrigado. De acordo com (WETZEL, 1983), citado em Recursos Hídricos do Planeta (2002), a quantidade total de água doce armazenada em lagos e rios é de 126.200 km³ e o seu tempo de renovação pode alcançar até 100 anos. Calculando-se a razão entre a quantidade total de água doce em rios e lagos, e a quantidade utilizada pelo homem, chegamos a um tempo de circulação próximo de 44 anos. Esse resultado é bastante inferior ao tempo de renovação em escala global, o que indica uma tendência desse recurso se tornar cada vez mais escasso. Estima-se que o uso de água na agricultura irrigada, por exemplo, gera um desperdício em torno de 60% de toda a água utilizada (ÁGUA WEB SITE, 2002). Tal fato deve-se à aplicação de água em excesso, fora do período de necessidade da planta, em horários de maior evaporação, e ao uso de técnicas de irrigação inadequadas ou, ainda, à falta de manutenção nos sistemas de irrigação. Portanto, apenas 40% da água adicionada ao solo são realmente utilizados no desenvolvimento das culturas irrigadas. Relativo aos sistemas de abastecimento, em torno de 15% ou mais de água são perdidas devido a vazamentos nas tubulações, inclusive dentro de nossas casas (ÁGUA WEB SITE, 2002). Nas residências os principais desperdícios devem-se aos vazamentos de torneiras, aos usos de válvulas de descargas em vez de caixas de descargas acopladas, à lavagem de calçadas e automóveis, à irrigação de jardins etc. 13 No que diz respeito ao uso de água na indústria, torna-se mais fácil aplicar formas mais econômicas de utilização, evitando desperdícios, através da recirculação ou reuso. Por exemplo, na refrigeração de equipamentos, na limpeza das instalações etc. Essa água reciclada pode ser usada na produção primária de metal, nos curtumes, nas indústrias têxteis, químicas e de papel. Segundo a Agenda 21, Capítulo 18, os recursos de água doce constituem um componente essencial da hidrosfera da Terra e parte indispensável de todos os ecossistemas terrestres. O meio de água doce caracteriza-se pelo ciclo hidrológico, que inclui enchentes e secas, cujas consequências se tornaram mais extremas e dramáticas em algumas regiões. A mudança climática global e a poluição atmosférica também podem ter um impacto sobre os recursos de água doce e sua disponibilidade e, com a elevação do nível do mar, ameaçar áreas costeiras de baixa altitude e ecossistemas de pequenas ilhas. A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar que se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população do planeta, ao mesmo tempo em que se preservam as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza e combatendo vetores de moléstias relacionadas com a água. Tecnologias inovadoras, inclusive o aperfeiçoamento de tecnologias nativas, são necessárias para aproveitar plenamente os recursos hídricos limitados e protegê-los da poluição. Com o crescimento populacional, aumentou a necessidade de água para abastecimento, agricultura de maior escala para alimentar a crescente população, criação de mais indústrias que consomem mais água. O mesmo é a força motriz que arrasta consigo todo um leque de usos de água, consultivos ou não, que necessita de uma gestão integrada, de forma que haja água de boa qualidade e em quantidade suficiente para todos, assim como para as futuras gerações. 1.2 – A necessidade de reaproveitar as águas cinzas 14 Todos os dias nós e milhares de pessoas utilizam a água de maneira inconsciente. Diversas são as situações de desperdício de água no nosso diaa-dia, seja no exagero de tempo durante o banho, ao escovar os dentes ou ao lavar as mãos deixando a torneira aberta, ao lavar roupas na máquina de lavar utilizando vários enxagues, ao lavar carros e calçadas. Da mesma forma a indústria gera água altamente poluída nos processos de produção sem demonstrar preocupação com os recursos hídricos. A distribuição deste recurso não ocorre de maneira igualitária em todas as regiões da Terra. Sem dúvida, a má utilização da água e a poluição são os grandes responsáveis por esse problema, sendo possível destacar a parcela de culpa da agropecuária e da atividade industrial. Este segundo consome cerca de 24% da água do planeta, além de poluir lagos e rios, causando também perda de biodiversidade. Um dos pilares do uso eficiente da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios, no caso do Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um sistema de abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal tratar água para irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por água reciclada (MORELLI, 2005). Como o reaproveitamento dessa água, as chamadas águas cinzas, pelas indústrias pode contribuir para a preservação das reservas hídricas em nosso país? Essa é uma questão que já faz parte dos assuntos do dia-a-dia de muitos cidadãos. As novas gerações crescem com a preocupação da preservação da água. Esse assunto já é inserido na realidade das crianças desde a educação infantil nas escolas. A indústria também está despertando para a reutilização da água como mecanismo de preservação. A principal 15 vantagem é a economia com o gasto da água que em algumas indústrias podem chegar até 70%. Além das indústrias que ganham reduzindo seus gastos, nós e o meio ambiente também ganhamos. A nível industrial a reciclagem de água já é uma realidade, pois é economicamente viável em função da redução dos custos envolvidos com a própria água e para reduzir o volume de efluentes lançados num recurso hídrico. A água na indústria é um componente vital sendo utilizada para resfriamento, lavagem, processamento e aquecimento, bem como para solvente e na composição do produto acabado (matéria prima), daí a necessidade da preservação deste recurso de extrema importância 1.3 – Conceituação de reuso O reuso de água consiste no reaproveitamento de determinada água que foi insumo ao desenvolvimento de uma atividade humana, a chamada água cinza. Este reaproveitamento ocorre a partir da transformação da água residuária gerada em determinada atividade em água de reuso. O conceito de “água cinza” ou água residuária nada mais é do que aquela que contém resíduo de atividade humana (ABNT: NBR 7229, 1993, p. 2). Água de reuso é a água residuária tratada, cujos padrões conferidos pelo tratamento atendem a determinada finalidade de aplicação. A prática do reuso de água consiste na captação de uma água que foi insumo ao desenvolvimento de uma atividade humana, tratamento e reaproveitamento em uma atividade humana, diversa ou não da primeira. Em feliz síntese, Lavrador Filho (1987) conceitua reuso de água como o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em 16 alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Portanto, a prática do reuso de água é sistêmica: seu insumo (input) são as águas residuárias e seu produto (outputs) são tanto as águas de reuso quanto os lodos provenientes do tratamento. As exigências atinentes a cada finalidade de aplicação das águas de reuso é que estabelecerão o nível de tratamento a ser conferido às águas residuárias. Caso o sistema forneça água de reuso para mais de uma finalidade, as características observadas devem ser as exigidas para a finalidade mais restritiva (BRAGA, 2009). As águas de reuso são classificadas em classes de utilidades e padrões de qualidade 1.4 – Tipos de reuso de águas Tomando-se por base os aspectos do aumento do consumo, a diminuição das reservas disponíveis e o crescente aumento da poluição dos recursos hídricas, vem à tona o tema “reuso ou reutilização de águas residuais”. O reuso de águas residuais pode ser conduzido de quatro maneiras diferentes: • Reuso indireto não planejado da água: a água utilizada em atividades humanas é descarregada no meio ambiente e reutilizada, a jusante, de forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Ao caminhar até o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita a diluição e depuração; • Reuso indireto planejado da água: neste caso, os efluentes, depois de tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizados a jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico. O 17 reuso indireto planejado admite que existe algum controle sobre as novas descargas que ocorrem durante o caminho, não alterando, portanto, os requisitos de qualidade de reuso objetivado; • Reuso direto planejado da água: os efluentes, após tratamento, são jogados diretamente no local de reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso de maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria, irrigação, recarga de aquíferos ou água potável; • Reciclagem da água: é o caso mais comum de reuso interno da água, antes mesmo de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição. Este é um caso particular de reuso direto planejado como por exemplo o reuso de água internamente às instalações industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição (WHO, 1973). 1.5 – Classificação das águas residuárias 1.5.1. Águas residuárias domésticas. As águas residuárias domésticas são as águas residuárias provenientes de atividades de higiene ou de limpeza (ABNT: NBR 7229, 1993, p. 2). Como geradores de águas residuárias domésticas temos as residências, os comércios, shoppings etc. Segundo a Word Health Organization (2006), as águas residuárias domésticas classificam-se em: • Águas cinzas: águas residuárias provenientes pias de cozinha e máquinas de lavar louça, chuveiro e/ou lavanderia (incluindo máquinas de lavar roupa), além de outras fontes que não contenham concentrações significativas de excretas; e 18 • Águas negras: Águas residuárias provenientes da drenagem de vasos sanitários e mictórios, contendo altas concentrações de bactérias e contaminantes orgânicos, além de microrganismos causadores de doenças e produtos químicos ingeridos (ex: produtos farmacêuticos). Esta classificação prevê o reuso das águas classificadas como cinzas e o descarte para os sistemas convencionais de esgotamento sanitário das águas negras. 1.5.2. Águas residuárias não domésticas. As águas residuárias não domésticas classificam-se em: • Efluentes líquidos de estações de tratamento de esgoto: efluente tratado proveniente de estações de tratamento de esgotamento sanitário; • Efluentes líquidos industriais: água que será reutilizada internamente ou exportada, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte suplementar de abastecimento do uso original. Diferem do tipo de reuso reciclagem, pois exigem tratamento prévio (EPA, 2004). O lançamento em corpos hídricos das águas residuárias não domésticas são objeto da Resolução CONAMA N°430, de 13 de maio de 2011, que alterou a Resolução CONAMA N° 357 de 17 de março de 2005. Esta resolução estabelece as características que os efluentes líquidos devem 19 possuir para serem lançados em corpos hídricos. Essas características estão diretamente relacionadas à classe na qual se enquadra o corpo hídrico receptor (RODRIGUES, 2005). As águas de reuso são classificadas em classes de utilidades e padrões de qualidade. 1.6 – Finalidades de aplicação das águas de resíduo O reuso de água não potável pode ser feito objetivando suprir a demanda em locais que, costumeiramente, utilizavam água potável, com diferentes necessidades de aplicações. Entre elas, citam-se: • Reserva de proteção contra incêndio; • Sistemas decorativos aquáticos como fontes e chafarizes, espelhos d´água; • Descarga de sanitários públicos, edifícios comerciais e industriais; • Lavagem de trens e ônibus públicos; • Controle de poeira em movimento de terra; • Irrigação de jardins ao redor de edifícios, residências e indústrias, parques, centros esportivos, campos de futebol, quadras de golfe, gramados, árvores e arbustos ao longo de avenidas e rodovias; • Torres de resfriamento; • Caldeiras; • Construção civil e compactação de solos; • Lavagens de pisos, de galpões industriais e de algumas peças mecânicas; • Utilização em processos industriais; e • Recarga de aquíferos. 20 As águas residuais são, em sua grande parte, efluentes de indústrias, de hospitais, de esgotos domésticos e de campos agropecuários de atividades intensivas. Os maiores avanços quanto ao tratamento e reuso dessas águas têm ocorrido no setor industrial. Por ocorrer, nesse caso, um grande consumo que é ao mesmo tempo, concentrado em pequeno espaço, torna-se mais fácil e menos dispendioso a operacionalização dessas atividades. Nas instalações industriais, o reuso de águas, após o devido tratamento, tem significado grandes economias para as empresas que optam por esse tratamento. 1.7 – Reuso industrial Atualmente a indústria brasileira está submetida a dois importantes instrumentos de pressão. Um deles são as restrições associadas ao meio ambiente e à saúde pública, impostas por regulamentações comerciais, nacionais e internacionais, e o outro são as imposições legais, impostas recentemente no Brasil, particularmente as relativas à cobrança pelo uso da água. (PIO, 2005). Visando uma rápida adaptação a este novo cenário as indústrias buscam otimizar seus processos produtivos, desenvolver sistemas de gestão para atender às imposições de mercado, tanto nacionais como internacionais e implementar sistemas e procedimentos para reduzir a demanda de água e gerar quantidades menores de efluentes. Esses fatores, associados aos custos elevados da água tem levado as indústrias a avaliar as possibilidades internas de reuso e a considerar ofertas das companhias de saneamento para a compra de efluentes tratados, a preços inferiores aos da água potável dos sistemas públicos de abastecimento. A “água de utilidade” produzida através de tratamento de efluentes secundários e distribuída por adutoras que servem 21 um agrupamento significativo de indústrias se constitui, atualmente, em um grande atrativo para abastecimento industrial a custos razoáveis. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, o custo da água posta à disposição da indústria está em torno de R$ 10,00 por metro cúbico, enquanto que a água de utilidades apresenta um custo marginal por metro cúbico inferior a R$ 2,00. Este custo varia, evidentemente, com as condições locais, tanto em termo dos níveis de tratamento adicionais necessários, como aqueles relativos aos sistemas de distribuição. A existência de estações de tratamento de esgotos nas proximidades de áreas de zonas industriais contribui para a viabilização de programas de reuso, uma vez que aumenta o potencial de viabilizar sistemas de distribuição de águas de reuso compatíveis com a demanda industrial. Nas indústrias, a água é frequentemente reutilizada para a mesma finalidade, sem necessidade de ser submetida a qualquer tipo de tratamento. Quando muito, apenas uma adição de certo volume da mesma água, para repor perdas por evaporação. Isto é o que se designa como reciclagem da água, cujo exemplo prático mais importante é o caso da água de arrefecimento (ERSAR, 2008). Os padrões de qualidade da água para reutilização industrial vai depender de vários fatores como: o ramo de atividade, capacidade de produção, condições climáticas da região, disponibilidade de água, método de produção, idade das instalações, práticas operacionais, cultura da empresa, inovação tecnológica, investimentos em pesquisas etc. Alguns usos requerem água de elevada qualidade, como a produção de vapor, outras são compatíveis com águas com tratamento inferior, como a construção. De acordo com Mattio (1999), indústrias que não necessitam de água de processo com qualidade potável são as que têm maior potencial para o reaproveitamento. Segundo o autor, o principal parâmetro para se projetar um 22 sistema de tratamento que seja econômico e eficiente é identificar qual é a qualidade requerida para cada tipo de reuso. Dependendo das características dos efluentes e da eficiência de remoção dos poluentes que se deseja obter, é definido um nível de tratamento a ser atingido no processo de reuso. A fase inicial de um programa de reuso industrial deve se concentrar, inicialmente, às torres de resfriamento, por apresentarem, em geral, as maiores demandas da indústria e por necessitarem de níveis de tratamento relativamente menores. Outros usos que podem ser considerados nas fases posteriores incluem água para lavagem de reatores, produção de vapor para lavagem de gases de chaminés e para processos industriais específicos, tais como manufatura de papel e papelão, indústria têxtil, de material plástico e produtos químicos, petroquímicas, curtumes, construção civil etc. Essas modalidades de reuso envolvem sistemas de tratamento avançados e demandam, consequentemente, níveis de investimento elevados. A conservação de água, visualizada como gestão da demanda, deve, também, ser estimulada nas indústrias, através de utilização de processos industriais modernos e de sistemas de lavagem com baixo consumo de água, assim como em estações de tratamento de água para abastecimento público, através da recuperação adequada e reuso das águas de lavagem de filtros e de decantadores. Os principais tipos de indústrias com grande potencial de reuso são: carvão, petróleo, produção primária de metal, curtumes, têxteis, químicas e de papel celulose. Nesses tipos de indústrias destacam-se os usos em torres de resfriamento, caldeiras, construção civil, irrigação de áreas verdes de instalações industriais e lavagens de pisos e peças, (SILVA et al., 2003). De modo geral, pode-se dizer que a água encontra as seguintes aplicações na indústria: (HESPANHOL; GONÇALVES, 2005): 23 • Consumo humano: água utilizada em ambientes sanitários, vestuários, cozinhas e refeitórios, bebedouros, lavagens de pisos e alguns tipos de peças, principalmente na indústria mecânica, equipamentos e emergência (lava-olhos, por exemplo) ou em qualquer atividade doméstica com contato humano direto. • Matéria-prima: como matéria-prima, a água pode ser incorporada ao produto final, a exemplo do que ocorre nas indústrias de cervejas e refrigerantes, de produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica, de cosméticos, de alimentos e conservas e de fármacos, ou então, a água é utilizada para a obtenção de outros produtos: por exemplo, o hidrogênio por meio de eletrólise da água. • Uso como fluido auxiliar: a água, como fluido auxiliar, pode ser utilizada em diversas atividades, destacando-se a preparação de suspensões e soluções químicas, compostos intermediários, reagentes químicos, veículos, ou ainda, para as operações de lavagem. • Uso para geração de energia: para esse tipo de aplicação, a água pode ser utilizada por meio da transformação da energia, potencial ou térmica, da água, em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica. • Uso como fluído de aquecimento e/ou resfriamento: nestes casos, a água é utilizada como fluido de transporte de calor para remoção do calor de misturas reativas ou outros dispositivos que necessitam de resfriamento devido à geração de calor, ou então, devido às condições de operação estabelecidas, pois a elevação de temperatura pode comprometer o desempenho do sistema, bem como danificar algum equipamento. 24 • Outros usos: utilização de água para combate a incêndio, Irrigação de áreas verdes nas instalações industriais, ou incorporação em diversos subprodutos gerados nos processos industriais, seja na fase sólida, líquida ou gasosa. A indústria (particularmente a de alimentos e bebidas) é o segundo maior consumidor das reservas de água doce do mundo (ABRAMOVITZ, 1996). De várias maneiras a reutilização das águas residuais tem sido adotada para uso industrial, humano e agrícola. A tabela 5 apresenta dados sobre o reuso de água na produção de alimentos e bebidas. No Brasil, a maioria dos projetos é desenvolvida nas universidades. Algumas empresas foram obrigadas a tratar seus efluentes após a Resolução CONAMA nº 20 de 1986, que impõe limites para emissão de efluentes nos corpos hídricos superficiais, a qual é fiscalizada pelos órgãos ambientais das três esferas governamentais – federal, estadual e municipal. Por exemplo, o Frigorífico Marba Ltda passou a tratar seus dejetos industriais gerados, tanto na produção dos alimentos, como dos efluentes sanitários. Para atender as exigências da legislação, bastava o tratamento de lodo ativado, porém, após análise econômica, verificou-se que seria viável o prolongamento do tratamento para posterior reutilização dos efluentes na lavagem da fábrica e resfriamento de caldeiras. O processo representou uma economia de 60% dos gastos com água (Visita Técnica). Em algumas áreas da região metropolitana de São Paulo, os efluentes de esgotos vêm sendo tratados objetivando uso não potável para indústrias. O custo da água posta à disposição da indústria está em torno de R$ 8,00m³, enquanto que a água de utilidades apresenta um custo em torno de R$ 4,00m³. O custo varia de acordo com o tratamento aplicado e com os fatores relativos ao sistema de distribuição (HESPANHOL, 2003). 25 CAPÍTULO II SISTEMAS DE TRATAMENTO UTILIZADOS PARA REUSO DA ÁGUA Um aspecto importante a ser avaliado quando da seleção dos sistemas de tratamento de efluentes para viabilizar a prática de reuso é a compatibilidade da qualidade do efluente disponível com os padrões de qualidade da água exigidos para o uso correspondente. Em certos casos pode ser possível utilizar efluentes de um determinado processo sem a necessidade de tratamento, ou então, com apenas um tratamento simplificado. Havendo opção por tratamento, é necessário que se faça uma análise criteriosa dos aspectos técnicos e econômicos, considerando as vazões e a qualidade requerida de cada efluente, como condição para selecionar o tipo de sistema ao qual o efluente deve ser submetido para a obtenção de água de reuso. Fatores como vazão disponível e sua variação, subprodutos do tratamento, disponibilidade de área, desempenho e consumo de energia, entre outros, são importantes e devem ser considerados na ocasião da escolha do sistema de tratamento. O tratamento necessário para a recuperação de águas residuais está intimamente relacionado com as especificações de aplicação de reuso associado à qualidade de água requerida. Os sistemas de tratamento envolvem a aplicação de processos de separação de misturas do tipo sólidolíquido e, também, a desinfecção. Em alguns casos, podem-se aplicar tratamentos que envolvam uma combinação de processos físicos, químicos e biológicos. Em muitos casos, a água que é reciclada ou reusada necessita ser tratada para melhorar suas qualidades, particularmente, quando esta entrará em contato com alimentos ou produtos de bebidas ou é usada para a limpeza 26 de superfícies que terá contato com esses produtos. Entre outras exigências o guia da CODEX (2000), citado por (CARR, 2000), especifica as seguintes: • O reuso da água deve ser seguro para seu uso intencionado e não deve afetar a segurança do produto através da introdução de contaminantes químicos, microbiológicos ou físicos em quantidades que representem um alto risco para o consumidor; • O reuso da água não deve adversamente afetar a qualidade do produto (sabor, cor, textura); • O reuso de água intencionado para a incorporação em produtos alimentícios deve, pelo menos, juntar as especificações microbiológicas e químicas, supostos necessários para a água potável. Em certos casos as especificações físicas podem estar apropriadas; • O reuso de água deve sugerir monitoramento e testes para assegurar e garantir sua segurança e qualidade. As frequências do monitoramento e do teste são ditadas pela origem da água ou por suas condições e intenção de reuso. As aplicações críticas requerem normalmente maior nível de recondicionamento que os usos menos críticos; • O sistema de tratamento escolhido deve ser semelhante àquele que prevê o nível de recondicionamento apropriado para o reuso de água intencionado; • A própria manutenção do sistema de recondicionamento é crítica; • O tratamento da água deve empreender-se com o conhecimento dos tipos de contaminantes da água adquirida e suas previsões de uso; e • Os depósitos de água fria devem ser sanitarizados (cloro) devido sempre existir possibilidade de contaminação do produto. 27 Segundo (ADIN E ASANO, 1998), citados por (TRINIDAD et al., 2001), podem-se identificar vários níveis de tratamentos para as águas residuais. São eles: • Tratamento preliminar, através do qual se remove os sólidos grosseiros e matéria mineral sedimentável. As grades e desarenadores podem ser empregados nesta etapa. • Tratamento primário, através do qual se remove de 20 a 40% da DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e 40 a 60% dos sólidos em suspensão sedimentáveis (materiais flutuantes tais como óleos e graxas emulsionados ou não, e parte da matéria orgânica em suspensão). O emprego de decantadores primários e de unidades API são muito utilizados em sistemas de tratamento primário; • Tratamento secundário supõe de fato empregar e acelerar os processos naturais de eliminação dos resíduos. Na presença de oxigênio, as bactérias aeróbicas convertem a matéria orgânica em formas estáveis, como CO2, H2O, nitratos e fosfatos, assim como outras matérias orgânicas. Nesse tratamento se reduz a DBO em até 85% e os sólidos em suspensão de 85 a 90% (Wilson et al., 1998). Os processos biológicos anaeróbios e aeróbios seguidos de sedimentação e posterior tratamento do lodo produzido, são largamente utilizados. Dentre eles destacam-se as lagoas de estabilização, os sistemas de lodos ativados, filtros biológicos, os reatores anaeróbios, os sistemas de bio-membranas e os métodos de disposição de efluentes sobre o solo; • Tratamento terciário, é empregado para eliminar nutrientes ou organismos patogênicos, mais de 99% dos sólidos em suspensão e a DBO em valores semelhantes. Os sólidos dissolvidos são eliminados por osmose reversa e pela eletrodiálise. A eliminação do Amoníaco, a desnitrificação e a precipitação dos fosfatos podem reduzir o conteúdo de nutrientes. 28 Segundo (CROOK et al., 1994), os tratamentos terciários como a filtração granular dos diluentes secundários e outros tratamentos físicoquímicos tais como: coagulação/floculação e sedimentação, nitrificação, denitrificação, remoção de fósforo, adsorção em carvão ativado e sistemas de membranas filtrantes, são utilizados quando as águas de reuso exigem padrões de qualidade mais elevados. Os sistemas mais usuais empregados como tratamento terciário para reuso são os de filtração em meio granular. (METCALF & EDDY, 2003) descrevem que as principais funções desses sistemas são: • Remover os sólidos em suspensão residuais dos efluentes secundários, para a otimização dos processos subsequentes de desinfecção; • Reduzir a concentração de matéria orgânica que possa reagir com desinfetantes e; • Reduzir a turbidez dos efluentes para melhorar o seu caráter estético. Os sistemas de filtração podem ser classificados de várias maneiras, podendo ser quanto ao sentido da vazão (ascendente, descendente, radial, horizontal, fluxo duplo, fino-grosso, grosso-fino), quanto ao tipo de enchimento (areia, carvão ou antracito, carvão e areia, multicamadas, enchimento misto, ou terra diatomácea) ou ainda pela taxa de aplicação de vazão (filtros lentos de areia: 0,1 a 0,2 m³ /m².h, filtros rápidos de areia: 2,4 a 4,9 m³/m².h e filtros de alta taxa: 7,3 a 36,7 m³/m².h). As taxas de remoção de turbidez e de sólidos são diretamente relacionadas ao tipo de filtração adotada, coagulantes utilizados e respectivas dosagens, e ao modo de operação, com ou sem a utilização polímeros como auxiliares de filtração. 29 A nitrificação, conversão biológica da amônia em nitritos e posteriormente nitratos, é um processo que não remove significativas quantidades de nitrogênios dos efluentes, apenas convertendo-os em outra forma molecular (USEPA, 2004). A nitrificação efetuada em sistemas de tratamento biológico (em suspensão ou aderidos) é obtida em sistemas convencionais de lodos ativados ou suas variantes através do controle do tempo de detenção de sólidos, evitando o arrastem das bactérias nitrificantes. A denitrificação, que em geral é precedida da nitrificação, é um processo de conversão biológica dos nitratos em nitrogênio gás que é liberado para a atmosfera. A denitrificação se desenvolve em sistemas anaeróbios, empregando às vezes, fontes de carbono externo, como o metanol, e utilizando matéria orgânica carbonácea para a atividade biol. Segundo a (USEPA 2004), a remoção de fósforo pode ser obtida por métodos químicos ou biológicos ou uma combinação dos dois. O método químico consiste na precipitação do fósforo por adição de sais de ferro, alumínio ou cálcio. O método biológico consiste na utilização de bactérias que estocam o excesso de fósforo quando expostas a condições anaeróbias seguidas de aeróbias, sendo posteriormente removidas do sistema junto ao descarte de lodo. O tratamento por adsorção em carvão ativado é um dos mais eficazes processos para a remoção de compostos orgânicos biodegradáveis ou refratários, podendo reduzir em até 85% as concentrações de compostos orgânicos sintéticos (USEPA,2004). Em geral, os tratamentos de águas residuais, adotados atualmente, não levam em conta a conservação dos nutrientes presentes nesses efluentes. Esses tratamentos eliminam somente os microrganismos e componentes indesejáveis, necessitando, portanto, de tecnologias mais adequadas para tal objetivo. O tratamento utilizado deve garantir a retirada dos seres patogênicos e, consequentemente, assegurar que a saúde dos consumidores e dos 30 trabalhadores, que terão contato com a água reutilizada, não será ameaçada. Sendo assim, para (BAHRI, 1999), o tratamento proposto requer proteção da saúde pública, tecnologia apropriada, confiabilidade, usos da água, aceitação e participação do público, e deve ser economicamente e financeiramente viável. A qualidade da água de reuso, a ser alcançada, está intimamente relacionada com os tipos de obstáculos existentes no processo de tratamento adotado. Essas barreiras impostas, como dito anteriormente, representam a coerência da qualidade da água adquirida com as de reutilização. O panorama representativo do processo e operações unitárias usadas em reformas de águas está mostrado na Tabela 4, a qual apresenta, ainda, a descrição de cada processo e suas respectivas aplicações. A seguir são apresentadas algumas das principais tecnologias utilizadas para o tratamento de águas residuárias destacando-se que tais processos devem ser aplicados em conjunto, de acordo com a necessidade de reuso. 2.1. Reatores UASB Os reatores de fluxo ascendente designados por RAFA (Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente) ou UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket Reactor) são compostos das seguintes partes principais: câmara de digestão, separador de fases, zona de transição, zona de sedimentação e zona de acumulação de gás. Esses reatores são, geralmente, aplicados em estações de tratamento onde há necessidade de remoção relativamente eficiente de DBO e custo relativamente baixo. Embora boa parte das unidades instaladas não seja seguida de tratamento posterior, pelo fato de não apresentarem efluentes com concentração mínima de DBO de 60 mg/L, conforme especificado pelos órgãos de controle ambiental, alguns reatores UASB já possuem tratamento complementar, através de lagoas de estabilização fotossintética. Outros reatores UASB são concebidos para utilizarem 31 tratamento biológico aeróbio complementar. O lodo gerado nesta fase complementar é encaminhado para estabilização nos próprios reatores UASB. São exemplos pioneiros desses tratamentos complementares os seguintes sistemas: • Os filtros biológicos percoladores; • Os sistemas de lodos ativados; • Os filtros aerados submersos. Segundo o (PROSAB, 2001) existe hoje grande tendência na utilização de reatores UASB seguidos de sistemas biológicos aeróbios para a remoção de matéria orgânica (DBO efluente inferior a 30 mg/L) e mesmo para a nitrificação do efluente final (N-amoniacal < 5 mg/L). Uma das maiores objeções ao uso dos reatores UASB em zonas urbanas é o possível odor resultante dos processos anaeróbios. Embora seja possível minimizar o problema de odores, cobrindo os reatores e tratando o gás produzido, várias das unidades já implantadas não cuidaram adequadamente do controle de odores gerados, fato que já vem produzindo alguma rejeição ao uso desses reatores junto a áreas urbanas. Um cuidado especial a ser tomado em relação aos reatores UASB é o relativo à corrosão das estruturas de concreto, próximo e acima do nível interno do líquido. Várias unidades implantadas, sem a devida proteção do concreto, já se apresentam bastante comprometidas. 2.2. SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS Os sistemas de lodos ativados são bastante utilizados no tratamento de despejos domésticos e industriais, onde há necessidade de tratamento de vazões elevadas em áreas relativamente pequenas. Esses sistemas requerem mão de obra especializada para a operação e demandam consumo de energia elétrica relativamente alta. Consiste, basicamente, de um decantador primário, 32 de uma câmara de aeração, de um decantador secundário, de um sistema de recirculação do lodo e de um sistema de tratamento complementar para adensamento, condicionamento e desague do excesso de lodo produzido. No reator ocorrem as reações bioquímicas de remoção da matéria orgânica e, em alguns casos, da matéria nitrogenada (VON SPERLING, 2002). Existe no Brasil, uma tendência para a utilização da combinação de processos anaeróbios, particularmente UASB, e processos aeróbios, permitindo a obtenção de um efluente com as características equivalentes a de sistemas de tratamento biológico, unicamente aeróbios, ou seja, com DBO < 20 a 30 mg/L, sólidos suspensos totais < 30 mg/L e, se necessário, Namoniacal < 5mgN/L. Segundo dados do PROSAB (2001), em comparação a uma ETE biológica convencional, constituída de decantador primário, seguido de tratamento biológico aeróbio (lodos ativados, filtro biológico percolador, biofiltro aerado submerso ou biodisco), com os lodos primário e secundário passando por adensadores de lodo e por digestores anaeróbios, antes do desague, uma ETE constituída de reator UASB seguido do tratamento biológico aeróbio, com o lodo secundário encaminhado para digestão no próprio reator UASB e daí, direto para o desaguamento, pode apresentar as seguintes vantagens: • Os decantadores primários, adensadores de lodo e digestores anaeróbios podem ser substituídos, com todos os seus equipamentos, por reatores UASB, que dispensam equipamentos; • Pelo fato do reator UASB apresentar eficiência de remoção de DBO de cerca do dobro dos decantadores primários, o volume dos reatores biológicos aeróbios (tanque de aeração, ou filtro biológico, ou biofiltro aerado submerso, ou biodisco) poderá ser reduzido para cerca de metade do volume dos tanques ou reatores das ETEs convencionais; 33 • No caso de sistemas de lodos ativados convencional, o consumo de energia para aeração cairá cerca de 45 a 55%, quando não se tem nitrificação, e para cerca de 65% a 70%, quando se tem nitrificação quase total; • O custo de implantação de ETE com reator UASB seguido de tratamento biológico aeróbio será, no máximo, de 80% daquele de uma ETE convencional e o custo operacional, devido à maior simplicidade e menor consumo de energia do sistema combinado, anaeróbio-aeróbio, pode apresentar vantagens ainda maiores. 2.3. Sistemas biológicos para remoção combinada de nitrogênio e fósforo Alguns sistemas biológicos são baseados na utilização de diversos reatores com características específicas permitindo a remoção combinada de nitrogênio e fósforo em porcentagens significativas (METCALF; EDDY 2004). Constituem-se, basicamente em sistemas de lodos ativados modificados através da combinação de reatores, anaeróbios, anóxicos e aeróbios. Os mais comumente empregados, são os A2/O (Anaeróbio/Anóxico/Aeróbio), o Bardenpho de 5 estágios, desenvolvido na África do Sul, o UCT, desenvolvido na Universidade de Cape Town, na África do Sul e o VIP, desenvolvido na Virginia Initiative Plant, em Norfolk, nos Estados Unidos. O processo Bardenpho, por exemplo, corresponde a uma combinação de reatores, compreendendo uma pré-desnitrificação e uma pós-desnitrificação, além da zona de reaeração final. A eficiência de remoção de nitrogênio é bastante elevada, já que os nitratos não removidos na primeira zona anóxica e têm uma segunda oportunidade de serem removidos adicionalmente, na segunda zona anóxica. O fósforo é acumulado através de assimilação por alguns tipos de bactérias que se desenvolvem sob condições especiais de potencial redox em sistemas de lodos ativados e que são posteriormente removidas como parte do excesso de lodo. A desvantagem desses sistemas é a necessidade de utilizar reatores com um volume total maior do que aqueles utilizados em sistemas 34 convencionais de lodos ativados. No entanto, caso sejam necessárias elevadas eficiências de remoção de nitrogênio e fósforo, não se deve considerar este aspecto como uma desvantagem, mas sim como um requisito essencial ao processo de tratamento. 2.4. Sistemas de filtros biológicos Os sistemas de filtros biológicos se constituem em unidades de decantadores e de filtros construídos geralmente em concreto, contendo em seu interior um leito formado de material de enchimento que podem ser pedras ou anéis ou peças especiais de plástico que apresentam elevadas áreas específicas. O efluente, ao atravessar o material de enchimento, propicia o crescimento de uma população microbiana, mantida principalmente em condições aeróbias, consumindo a matéria orgânica presente. Se cuidadosamente operado e monitorado o efluente poderá ser reusado em casos em que a demanda bioquímica do oxigênio solúvel não seja um parâmetro crítico (MANCUSO E SANTOS, 2003). 2.5. Sistemas de Wetlands Sistemas de Wetlands, também designados como áreas úmidas ou alagados, são ecossistemas naturais que se caracterizam por apresentarem águas rasas ou solos saturados, durante grande parte do ano. Nestes ecossistemas ocorre a lenta decomposição de vegetação, com conseqüente acumulação de solos orgânicos. A vegetação encontra-se adaptada às condições de saturação dos solos. São exemplos de wetlands naturais os pântanos, os brejos, as várzeas, os manguezais etc. São designados de wetlands construídos os sistemas projetados para determinadas condições de vazão e de qualidade de efluente a ser tratado, constituindo-se em áreas alagadas com profundidades típicas inferiores a 0,60 m. Durante a passagem de efluentes através do sistema ocorre o 35 desenvolvimento de biofilmes e microrganismos associados. Ao mesmo tempo, ocorre a liberação de nutrientes pela decomposição dos materiais presente na água, estimulando o crescimento das macrófitas - vegetais adaptados às condições saturadas de água, com suas raízes afogadas. O enchimento do sistema é efetuado com um material inerte, de fácil aquisição e que promova a sustentação mecânica das macrófitas. Sua escolha deve levar em conta a finalidade do tratamento, as características do efluente, a disponibilidade na região e as espécies de macrófitas utilizadas. Os materiais de enchimento mais usuais são areia, pedregulho, pedra britada e cascalho. O tratamento de efluentes sanitários e industriais através dessas unidades vem sendo empregado na Europa desde os anos 50 e nos Estados Unidos desde os anos 70. Um levantamento efetuado recentemente relaciona a existência de 176 sistemas de wetlands para tratamento de efluentes nos Estados Unidos. Desses sistemas, 21% são naturais e 79% construídos. A operação de sistemas de wetlands é relativamente simples, consistindo na poda periódica do material vegetal. Esse manejo é imprescindível para a retirada de nutrientes e matéria orgânica acumulada, impedindo seu retorno ao meio líquido após a morte das macrófitas. A poda causa distúrbios programados no sistema, permitindo que as plantas estejam sempre na sua fase de crescimento, onde sua exigência nutricional é maior quando comparada a um indivíduo maduro. 2.6. Sistemas de bio-membranas São sistemas mistos, constituídos por sistemas de lodos ativados e sistemas de membranas de microfiltração. Ocupam áreas muito menores que os sistemas de lodos ativados e produzem efluentes de qualidade elevada. O sistema de membranas é instalado no interior da unidade de aeração, ou externamente ao sistema, não havendo, portanto, a necessidade de um 36 decantador secundário. As vantagens desses sistemas em relação aos sistemas convencionais de lodos ativados são as seguintes: • Proporcionam uma concentração de biomassa na câmara de aeração bastante elevada, geralmente, entre 4.000 e 20.000 mg/L); • Não ocorre o fenômeno de bulking, que provoca problemas de sedimentação de lodos nos sistemas de lodos ativados convencionais; • Possui grande potencial para reuso direto dos efluentes produzidos para aplicação municipais e industriais; • Gera uma menor produção de lodo do que em sistemas de lodos ativados convencionais, devido à baixa relação alimento/microrganismos; • Possibilita uma maior retenção de sólidos do que em sistemas convencionais de lodos ativados. 2.7. Sistemas físico-químicos Para a obtenção de efluentes com qualidade elevada, esses sistemas são geralmente empregados em sequência aos tratamentos biológicos acima relacionados (com exceção dos sistemas de biomembranas que produzem efluentes com qualidade elevada). Os tratamentos físico-químicos mais utilizados em nível mundial são os seguintes: sistemas de coagulação/ floculação, sedimentação, filtração e desinfecção, sistemas de carvão ativado, sistemas de carvão biologicamente ativados, sistemas de troca iônica, sistemas de membrana e sistemas oxidativos avançados. 2.7.1. Sistemas de coagulação/floculação, sedimentação, filtração e desinfecção Consiste na remoção de sólidos e na precipitação de compostos pela adição de produtos químicos, seguidos de uma mistura rápida para dispersá- 37 los e uma mistura mais lenta para promover a formação de flocos sedimentáveis na unidade de decantação (MANCUSO E SANTOS, 2003). Os produtos químicos podem ser aplicados em diversos pontos do processo de tratamento para remoção da matéria inorgânica e orgânica solúvel ou em suspensão. Particularmente, a coagulação química é recomendada para efluentes de baixos teores de fósforo, de sólidos em suspensão e demanda bioquímica de oxigênio. A escolha do coagulante e do polímero depende de cada tipo de reuso e das características de cada sistema de tratamento (GUERRA FILHO, 2006). 2.7.2. Sistemas de adsorção em carvão ativado Sistemas de carvão ativado podem utilizar carvão sob a forma granular (em forma de leitos filtrantes) e/ou em pó, com aplicação efetuada logo após a filtração e/ou a cloração para minimizar a possibilidade de crescimento de bactérias anaeróbicas em sua superfície. Seu uso tem sido adotado em diversas fases do tratamento, como após o tratamento biológico por lodos ativados para remoção de matéria orgânica e/ou tóxicas, ou após tratamento físico-químico por coagulação, floculação, sedimentação e filtração. 2.7.3. Sistemas de carvão biologicamente ativado São sistemas compostos de unidades de clarificação (coagulação/floculação e filtração) seguidos por leitos de carvão ativado granular (CAG). Essas unidades são projetadas com profundidades entre 2 e 4 metros e tempo de detenção (com leito vazio) de 15 a 25 minutos e são alimentadas com doses adequadas de ozônio, ocorrendo, simultaneamente os processos de adsorção e biológicos. Na parte superficial ocorre adsorção no CAG e se inicia a aclimatação biológica em condições aeróbias proporcionada pela presença de ozona. A medida que o efluente desce pelos filtros a fase de 38 adsorção é exaurida e, com a cultura bacteriana aclimatada ocorre a oxidação biológica, reduzindo a concentração de carbono orgânico dissolvido, através da remoção de precursores, compostos inorgânicos, compostos causadores de odores e organismos patogênicos. Esse sistema produz efluentes de qualidade elevada permitindo o reuso para fins restritivos. 2.7.4. Sistemas de troca iônica Os sistemas de troca iônica são processos físico-químicos através dos quais íons são transferidos de uma fase sólida para uma fase líquida ou viceversa, através de resinas trocadoras de cátions ou de ânions. Íons retidos por forças eletrostáticas a grupos funcionais eletricamente carregados na superfície da resina, são trocados por outros íons de mesma carga elétrica, presentes na água, que entra em contato com a resina. Um exemplo dessa operação unitária consiste na troca seletiva dos íons de amônio presentes em uma resina mineral, pelos íons de cálcio, magnésio e sódio contidos em uma água que passa pelo leito de resina (GUERRA FILHO, 2006). Deve ser aplicada após uma pré-decantação e/ou filtração, usando um leito de até 2,5 m de espessura. A troca seletiva produz um efluente com alto nível de remoção de nitrogênio amoniacal, sendo, portanto, indicado para aplicações de reuso, onde se deseja baixas concentrações desse contaminante e de sólidos dissolvidos totais como descrito por Mancuso e Santos (2003). A maior aplicação de sistemas de troca iônica é relativa à remoção de dureza e em processos de desmineralização. 2.7.5. Sistemas de separação por membrana Os sistemas de separação por membranas são caracterizados por atuarem como uma barreira seletiva, (com exceção da osmose reversa, onde ocorre, também, difusão molecular), permitindo a passagem de determinados componentes, enquanto impedem a passagem de outros. (MIERZWA, 2005). Esses sistemas são divididos em microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, 39 osmose reversa e eletrodiálise. De modo geral, a diferença entre uma tecnologia e outra está relacionada ao diâmetro dos poros das membranas e suas respectivas pressões de operação. O uso de membranas tem se tornado mais comum com a popularização dos sistemas e redução dos custos em função do desenvolvimento da tecnologia e dos materiais que compõem as membranas. A prática de substituição das estações convencionais de tratamento de água e esgoto por sistemas compactos equipados com unidades de membrana está sendo muito difundida em nosso país. A tendência atual é a de substituir sistemas biológicos tradicionalmente utilizados (lodos ativados, filtros biológicos e reatores do tipo RAFA por sistemas de biomembranas, que apresentam custos competitivos, ocupam áreas menores e produzem efluentes de qualidade elevada, permitindo reuso para fins mais restritivos, como por exemplo, em torres de resfriamento, como água de make up. 2.7.6. Sistemas de oxidação avançada Os sistemas que empregam processos de oxidação avançada são utilizados para remover substâncias e compostos refratários, geralmente encontrados em efluentes de indústrias químicas. Permitem a redução de compostos orgânicos voláteis e semi-voláteis, substâncias húmicas, pesticidas e herbicidas, corantes e microorganismos. O processo se desenvolve através da geração do radical neutro hidroxila OH, empregando radiação luminosa na faixa da radiação ultra violeta (UV). Os sistemas mais comumente empregados são os de UV/oxidação, Fotólise com UV a vácuo, Foto Fentom e de Sensibilização, utilizando UV com corantes e UV com semicondutores. 2.7.7. Sistemas de desinfecção A desinfecção das águas para reuso pode ser realizada basicamente por dois grupos de desinfetantes: agentes químicos e agentes físicos. Os 40 agentes químicos constituem compostos com potencial de oxidação como o cloro e seus compostos, dióxido de cloro e ozônio, e são os mais empregados no tratamento de água. Além destes, peróxido de hidrogênio, ácido acético, bromo, iodo e permanganato de potássio constituem outros agentes químicos utilizados. Os agentes físicos, por sua vez, apresentam ação referenciada na energia de radiação, destacando-se a radiação UV, a radiação gama, radiação solar e, a nível domiciliar, a fervura. a) Desinfecção com cloro e cloraminas Como acima indicado, o cloro é um agente de oxidação que se apresenta em termos medianos, se comparado aos outros agentes desinfetantes. (LIBÂNIO 2005) afirma, ainda, que nos sistemas públicos de abastecimento de água, procura-se definir qual processo de desinfecção deve ser adotado, buscando-se a consecução dos seguintes objetivos: • Máximo desempenho do sistema; • Menor custo global; • Atendimento ao padrão de potabilidade vigente e/ou às condições de segurança sanitária, visando minimizar os riscos de transmissão de doenças; • Minimização da formulação de subprodutos com possíveis efeitos deletérios à saúde humana; • Máxima eficiência do desinfetante, considerando-se a amplitude de variação possível das características das águas e do tempo de contato, este decorrente das inevitáveis variações de vazão 41 afluentes às estações de tratamento. Outros aspectos, como infraestrutura disponível na região, restrições socioeconômicas relativas à implantação, operação e manutenção dos sistemas de desinfecção e as características da água a ser tratada, também são considerados na escolha do desinfetante a ser utilizado no tratamento de água para consumo humano. A eficiência do sistema de desinfecção, contudo, não depende apenas das características do agente desinfetante, mas de vários outros fatores, tais como dose e tempo de contato, tipo e concentração dos microrganismos, características físico-químicas da água, entre outros. Com relação às características físicas, o parâmetro turbidez mostra-se o mais importante na relação da eficiência da desinfecção, promovendo o denominado “efeitoescudo” sobre os microrganismos, protegendo-os da ação de desinfetante físico ou químico. Segundo Libânio (2005), além da turbidez, outras características da água interferem na eficiência da desinfecção, principalmente quando esta se efetua por meio de agentes químicos: presença de matéria orgânica, presença de compostos inorgânicos, como ferro e manganês, que reagem com o desinfetante, temperatura da água e o pH, principalmente quando do emprego dos compostos de cloro como desinfetante. De modo simplificado, o cloro reage com a amônia (se presente) para produzir uma série de compostos chamados cloraminas e, eventualmente, oxida a amônia em gás nitrogênio (N2). O mecanismo de reação é complexo e os produtos variam com o pH, com a razão entre cloro adicionado e a amônia presente e com o tempo de contato. 42 A monocloramina (NH2CL) e a dicloramina (NHCL2), denominadas cloro combinado, possuem poder desinfetante, inferior ao cloro livre (HOCL e OCL-), mas apresentam a vantagem de serem mais estáveis, permanecendo por tempos maiores nos sistemas de distribuição de água. As reações com outros compostos inorgânicos, como o sulfeto de hidrogênio (H2S), ocorrem imediatamente após a aplicação de cloro. Das reações com alguns compostos orgânicos (ácidos húmicos e fúlvicos) pode haver formação de trihalometanos (AISSE et al. 2003). d) Ozonização O ozônio pode reagir com muitas espécies de contaminantes que possuem duplas ligações, tipo C=C, C=N, N=N, e outras (GUERRA FILHO, 2006). Existem vários métodos de geração de ozônio e, dentre eles, o mais viável tem sido através de descargas elétricas em ar seco ou oxigênio (MANCUSO E SANTOS, 2003). Após sua geração, o Ozônio é emulsionado à água, onde sua eficiência pode ser aumentada quando se usa difusores porosos. É indicado em sistemas de reuso onde é desejável um alto índice de desinfecção, como também, o controle de compostos organoclorados. 43 CAPÍTULO III ASPECTOS LEGAIS A gestão dos Recursos Hídricos no Brasil teve início com o Decreto 24.643/1934, conhecido Código das Águas ou Lei das Águas, onde na época, as águas eram consideradas recursos naturais renováveis, assim sendo o importante era proporcionar o desenvolvimento industrial e agrícola do país, incentivando, principalmente, a produção de energia elétrica. Na década de oitenta, as necessidades de controle das águas impuseram novo entendimento e motivaram intensas discussões entre técnicos e especialistas brasileiros. Ocorreram debates internacionais e, como consequência trouxe o consenso da criação de um sistema integrado e descentralizado, gerando um novo modelo para uma gestão descentralizada a nível de bacias hidrográficas e tratando a água como um bem de valor econômico. A Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997 é o dispositivo legal que norteia a gestão dos recursos hídricos no país. Esta lei instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e preconiza que a gestão dos recursos hídricos deve ser sistemática e proporcionar o uso múltiplo das águas, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade. A referida política traça como objetivos da Política: • Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; • A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; 44 • A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (PNRH, Art. 2°, I; II). A partir de então é dado um novo enfoque para a questão hídrica. A ênfase legislativa incide na racionalização do uso da água, estabelecendo princípios e instrumentos para sua utilização. O reuso de água, em consonância com os objetivos preconizados pela PNRH, configura-se como uma alternativa de utilização racional dos recursos hídricos. Esta alternativa é racional uma vez que: • Promove a redução da água potável, reduzindo a pressão sobre os mananciais; • Possibilita a utilização dos recursos hídricos em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, preservando o uso de água potável para o fim mais nobre, o abastecimento humano; • Promove a redução da quantidade de esgotos domésticos a serem coletados e tratados, permitindo a redução dos custos associados a estes serviços. Em 2006, com base na mesma lei, foi criado o Plano Nacional de Recursos Hídricos, tendo como principal objetivo dar um tratamento gerencial, ratificando a prioridade da água para consumo humano. Embora o reuso de água não seja escopo direto da PNRH, esta prática atende perfeitamente os objetivos da política em comento e, portanto, deve ser considerado no âmbito da gestão de recursos hídricos. Normatizar a prática do reuso de água residuária é estabelecer: 45 a. As águas residuária passíveis de reutilização; b. As finalidades as quais serão destinadas as águas de reuso e; c. As características que o tratamento deve conferir às águas residuária. Esta normatização tem como objetivo a segurança sanitária da prática do reuso de água, mas precisa refletir o equilíbrio entre esta segurança e os custos dela decorrentes, de modo que a prática do reuso de água residuária não seja inviabilizada, em decorrência de aspectos financeiros. A única legislação existente no Brasil relativa a reuso de água é a Resolução n° 54 de 28 de novembro de 2005, emitida pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos- CNRH, que “estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso direto não potável de água em todo território nacional”. Segundo o Art. 3° da Resolução n° 54, o reuso não potável de água abrange as seguintes modalidades: reuso para fins urbanos, agrícolas e florestais, ambientais, industriais e aquicultura. Segundo esta norma, os Comitês de Bacia deverão integrar, no âmbito do Plano de Recursos Hídricos da Bacia, a prática de reuso com as ações de saneamento ambiental e de uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica. O valor econômico trouxe a cobrança pelo uso da água, como meio de controle racional do uso e, sobretudo, gerador de recursos para investimentos na gestão da água em cada bacia hidrográfica. Estas vieram a ser, a cada ano, o principal meio de sustentação do novo sistema decisório descentralizado e participativo. Os Comitês de Bacias hoje são compostas pelos representantes dos poderes públicos federal, estadual e municipal, usuários e da sociedade civil. 46 Outros dispositivos legais não tratam especificamente do tema reuso de água, entretanto, devem ser observados no desenvolvimento desta prática. São eles: • Resolução CONAMA 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes e; • Resoluções CONAMA 397/2008 e 430/2011, que alteram a Resolução 357/2005. Paralelamente aos dispositivos legais, temos dispositivos técnicos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a saber: • A norma NBR 7229:1993, que aborda o Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos e; • A norma NBR13969:1997, que aborda Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos – projeto construção e operação e complementa a parte referente ao tratamento e disposição dos efluentes de tanques sépticos da NBR 7229. Ainda que a competência para legislar sobre recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição seja concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, no âmbito estadual, não encontramos, no Brasil, iniciativas substanciais de normatização da prática do reuso de água cinza. Com base em várias referências teóricas, está claro que não existe uma política estabelecida, com base legal e institucional, ou parâmetros 47 estabelecidos para a prática de reuso no Brasil. Porém, conforme (FINK; SANTOS, 2002), a legislação em vigor, ao instituir os fundamentos da gestão de recursos hídricos, cria condições jurídicas e econômicas para a hipótese do reuso de água como forma de utilização racional e de preservação ambiental. Pode-se perceber que as leis que abordam o assunto são muito incipientes, pois não tratam do reuso de água com propriedade. Não se preocupam em definir finalidades específicas para reuso, não identificam um órgão ambiental para cadastrar usuários que praticam reuso de água e não traçam parâmetros mínimos atinentes à cada finalidade de reuso. Em âmbito Estadual e municipal, as normatizações apresentam o mesmo vício da normatização em âmbito Federal, ou seja: não estabelecem às águas residuárias passíveis de reutilização e as características atinentes à cada finalidade de reuso. Apesar de alguns municípios estarem na vanguarda da normatização do tema, ainda temos um longo percurso a seguir na busca de uma legislação eficaz que norteie os usuários e a indústria, de modo a obter uma proposta de lei específica para a prática do reuso de água, considerando a importância do tema. Estabelecida uma normatização, o poder público dará segurança, tanto ao proponente de um sistema de reuso de água cinza quanto à sociedade de que o desenvolvimento desta prática se dará de modo seguro e seus benefícios serão usufruídos principalmente pelo usuário de água cinza, mas também pela coletividade. 48 CONCLUSÃO Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontra-se coberta por água. No entanto, menos de 3% deste volume é de água doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras (geleiras polares e neves das montanhas), restando uma pequena porcentagem de águas superficiais para as atividades humanas. A água é de fundamental importância para a vida de todas as espécies. Aproximadamente 80% de nosso organismo é composto por água. Boa parte dos pesquisadores concorda que a ingestão de água tratada é um dos mais importantes fatores para a conservação da saúde, é considerada o solvente universal, auxilia na prevenção das doenças e proteção do organismo contra o envelhecimento. Porém, está havendo um grande desperdício desse recurso natural, além de seu uso ser destinado principalmente para as atividades econômicas. Atualmente, 69% da água potável é destinada para a agricultura, 22% para as indústrias e apenas 9% usado para o consumo humano. A poluição hídrica é outro fator agravante, os rios são poluídos por esgotos domésticos, efluentes industriais, resíduos hospitalares, agrotóxicos, entre outros elementos que alteram as propriedades físico-químicas da água. Diante os fatos o aumento da demanda pela água segue seu curso, é natural que alternativas para seu uso eficiente ou adequado sejam previstas. É nesse contexto que entra o reuso da água industrial, diminuindo a contaminação e ampliando o uso da água reciclada, bem como a comprovação das vantagens de seu aproveitamento. Nem sempre a economia é significativa em termos financeiros, porém com a escassez cada vez maior da água, o percentual encontrado é bem expressivo. 49 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BEEKMAN, G. B. Qualidade e conservação da água. In: ANAIS DO ENCONTRO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Brasília/DF, 1996. CARVALHO, P. F. de; BRAGA, R. Perspectivas de Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio Claro/ SP: LPM-UNESP, 2001. CARVALHO, A. R. de; OLIVEIRA, M. V. C. Princípios Básicos do Saneamento do Meio. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003. 400 p. CBH – Comitê de Bacias Hidrográficas. Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. IRRIGART – Engenharia e Consultoria em Recursos Hídricos e Meio Ambiente Ltda. Relatório Síntese do Relatório de Situação dos Recursos Hídricos das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivarí e Jundiaí 2002/2003, 2004. CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo: Prentice Hall, 5 ed, 2002. 242 p. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – Relatório de Qualidade das Água Interiores do Estado de São Paulo, 2005. Disponível em www.cetesb.sp.gov.br/. Acesso em 15/05/2014. CHRISTOFIDIS, D. Irrigação, a Fronteira Hídrica na Produção de Alimentos, SP. Revista Irrigação & Tecnologia Moderna. Nº 54. CROOK, J.; OKUN, D. A.; PINCIENCE, A. B. Water Reuse. Alexandria, VA: Camp Dresser & McKee Inc., 1994. 50 FILHO, D. G. Águas Residuárias: uma alternativa racional de reuso. Cadernos UniFOA, Volta Redonda / RJ, ano 1, n. 1, jul. 2006. Disponível em: < URL: http//www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/materias_ed1/17.html>. Acesso em 15/05/2014. FILHO, J. L. Contribuição para o entendimento do reuso planejado da água e algumas considerações sobre suas possibilidades no Brasil. Dissertação de mestrado – Escola Politécnica de São Paulo da USP. São Paulo, 1987. HESPANHOL, I. Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, indústria, município e recarga de aqüíferos. In: Reúso de Água. Barueri / SP: Mancuso e Santos, 2003. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (2000), Atlas de Saneamento, disponível em <URL: http://www.ibge.gov.br/home/estatística/populaçao/atlas_saneamento>. Acesso em 15/05/2014. KIPERSTOK, A.; TANIMOTO, A.H.; FONTANA, D.; SILVA, E.H.B.C.; MENDONÇA, J.; LACERDA, L.P.; PUSTILNIK, L.; CARDOSO, L.F.; KALID, R. A.; TEIXEIRA, A. Fundamentos da Produção Limpa. Prata da Casa: construindo produção limpa na Bahia. Bahia: Teclim/UFBA, 2008. cap. 1. KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. A Gestão Ambiental Como Vantagem Competitiva. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí. 2003. 16 p. LEAL, J. A. M. Reuso de água. Revista Meio Ambiente Industrial. Ed. Jul./ago, 1999. LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas, SP: Átomo, 2005. 51 MANCUSO, P. C. S, SANTOS, H. F. dos. Reuso de Água. Barueri, SP: Manole, 2003, 579 p. MARCOS, V. S. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte, MG. Editora UFMG, 1996. 243 p. MENDONÇA, P. A. O. Reuso de água em edifícios públicos. O caso da escola politécnica. Salvador / BA, 2004. 162 p. Dissertação do Mestrado em gerenciamento e tecnologias ambientais no processo produtivo – Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2004. ONU – Organização das Nações Unidas. World Water Development Report, 3° Fórum Mundial das Águas. Japão, 2003. PIO, A.A.B. Reflexos da Gestão de Recursos Hídricos para o Setor Industrial Paulista, dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, p. 164. São Paulo / SP; REDE DAS ÁGUAS. Os Planos de Recursos Hídricos. Disponível em: <URL: http://www.rededasaguas.org.br/ferramentas/plano.htm>. Acesso em 15/05/2014. ROSA, A. H; FACETO, L. F; MOSCHINI, V; ATTMED, C. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Porto Alegre, RS. Bookman, 2012. 408 p. SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Disponível em: <http:www.sabesp.com.br>. Acesso em 15/05/2014. SANTOS, D. C.; SAUNITTI, R.M.; BUSATO, R. O recurso água: promovendo a sustentabilidade do manancial através do uso de bacias sanitárias 52 economizadoras de água. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL – ABES, n. 21, 2001, João Pessoa – PB. CD-ROM. SCHNEIDER, R.P.; TSUTIYA, M. T. Membranas Filtrantes para o Tratamento de Água, Esgotos e Água de Reuso. São Paulo: ABES_SP, 2001. 234 p. SILVA, A. C. P. P. et al. Reuso de água e suas aplicações jurídicas. São Paulo: Navegar editora, 2003. 111 p. 53 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I REUSO DA ÁGUA 11 1.1 – Demanda de consumo de água 11 1.2 – A necessidade de reaproveitar águas cinzas 13 1.3 – Conceituação de reuso 15 1.4 – Tipos de reuso de águas 16 1.5 – Classificação das águas residuárias 17 1.5.1 – Águas residuárias domésticas 17 1.5.2 – Águas residuárias não domésticas 18 1.6 – Finalidades de aplicações das águas de reuso 19 1.7 – Reuso industrial 20 CAPÍTULO II SISTEMAS DE TRATAMENTO UTILIZADOS PARA REUSO DA ÁGUA 25 2.1 – Reatores UASB 30 2.2 – Sistemas de lodo ativados 31 2.3 – Sistemas biológicos para remoção combinada de nitrogênio e fósforo 33 2.4 – Sistema de filtros biológicos 34 2.5 – Sistemas de Wetlands 34 2.6 – Sistemas de bio-membranas 35 54 2.7 – Sistemas físicos-químicos 36 2.7.1 – Sistemas de coagulação/ floculação, sedimentação, filtração e desinfecção 2.7.2 – Sistemas de adsorção em carvão ativado 36 37 2.7.3 – Sistemas de carvão biologicamente ativado 37 2.7.4 – Sistemas de troca iônica 38 2.7.5 – Sistemas de separação por membrana 38 2.7.6 – Sistemas de oxidação avançada 39 2.7.7 – Sistemas de desinfecção 39 CAPÍTULO III ASPECTOS LEGAIS 43 CONCLUSÃO 48 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49 ÍNDICE 53