Março 2015 • Director: Hernâni Almeida • “Notícias que marcam” é uma publicação da Funchalense, Empresa Gráfica, S. A. N.º 7 UM PERCURSO HISTÓRICO DA COMUNICAÇÃO IMPRESSA Dossier História da Imprensa HERNÂNI ALMEIDA // P. 7 Concorrências leais e desleais // P. 2 CONCURSO PAPIES 2015 FALECEU FUNDADOR Estão abertas as inscrições para o concurso Papies 2015, que em 2015 se organiza sob o mote «Liberdade de Criar». O jornalista fundador da revista «Visão», Daniel Ricardo, morreu na manhã do dia 13 de Fevereiro. // P. 4 // P. 15 DA REVISTA «VISÃO» 2 | NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 A FUNCHALENSE EDITORIAL CONCORRÊNCIAS LEAIS E DESLEAIS No meu último editorial no «Notícias que Marcam», referi a necessidade de nos deixarmos de lamechices e trabalhar, no sentido de enfrentar as dificuldades que são colocadas a nível económico nacional e ao nível do sector editorial. Num país onde os jornais se vêm confrontados com todo o tipo de obstáculos, a quem são sucessivamente retirados apoios, a luta é quase desigual, sobretudo no que respeita aos jornais regionais. Não bastaria já a «guerra» que por vezes estes têm necessidade de travar entre si, quando se implementam numa mesma área geográfica, no que à conquista de publicidade diz respeito, na maior parte das vezes o seu único sustentáculo, como se veêm ainda na eminência de lutar contra “jornais” (que o não são), suportados por interesses que nada têm a ver com comunicação social. Vem isto a propósito de uma publicação editada por uma cadeia de supermercados, que se iniciou como um meio de divulgar as promoções nas respectivas lojas e agora se apresenta praticamente como um “jornal” regional de distribuição gratuita em vários distritos, e que inclusive se compara, pasme-se, com os jornais generalistas de distribuição nacional. Não haveria problema se o mesmíssimo “jornal”, se limitasse a publicitar os seus produtos, e lhe juntasse além de meia dúzia de notícias “requentadas”, uma ou outra receita culinária (onde os produtos que comercializam são utilizados, claro está), e alguns “conselhos para o lar”. Só que está também, literalmente, a sugar mercado publicitário aos jornais já ali implementados. Perante um grande grupo económico, com fundos estrangeiros, que vende espaço publicitário ao «preço da chuva», que hipóteses podem ter os restantes jornais? Mas a culpa é também dos investidores, que na sua maior parte procuram os jornais regionais para divulgarem as suas iniciativas, mas depois adjudicam a sua publicidade a este tipo de “jornais”, que lhes oferecem um preço baixo e têm meios para realizarem uma tiragem mais elevada e uma distribuição mais alargada. Sabemos que várias queixas foram apresentadas à Entidade Reguladora da Comunicação Social sobre este tipo de «tubarões» que desta forma parecem pretender acabar com a imprensa local e regional. Esperamos que quando esta entidade finalmente actue, não seja já tarde demais para salvar ou proteger os órgãos de comunicação social locais e regionais. Hernâni Almeida Empresa Gráfica Funchalense PERGUNTA & RESPOSTA P: Que papel desempenha este sector na empresa? R: O sector da Logística, revela-se muito importante no contributo diário que dá para o sucesso da nossa empresa. É aqui que se faz a gestão operacional (plano de aquisição, recepção, armazenagem e distribuição) de todos os materiais e matérias-primas e que vão desde as várias qualidades, larguras e gramagens de papel para a impressão dos jornais, às tintas, chapas, cautchus, materiais de embalamento, etiquetas e fitas para a colagem das bobinas de papel, aos mais variados químicos, etc… Tratamos de todo o desperdício de papel que vai para a reciclagem e fazemos também a entrega dos jornais locais e regionais aos nossos clientes, resumidamente são estas as funções da Logística. • MÁRIO PEREIRA • RESPONSÁVEL DO SECTOR DE LOGISTICA seria de estranhar que grande parte dos nossos clientes que estavam a imprimir com papel de qualidade superior, enveredassem pela redução de custos, optando por imprimir com papel de qualidade inferior, mas o que se tem vindo a assistir nos últimos anos é que o número de clientes a optar por papel de P: Em relação aos clientes, qualidade superior, subiu. nota alguma alteração de peP: Na sua opinião, o jornal em didos em termos de qualidade, suporte de papel tem tendência face à crise? R: Há 5 anos atrás imprimía- para acabar? R: Com o surgimento da intermos cerca de 30 jornais locais / regionais e apenas 5 deles é que net e o acesso fácil à informação estavam a imprimir com papel disponibilizada por esta, temos de elevada qualidade. Estamos vindo a presenciar uma dimia falar de um produto de nome nuição nas tiragens e também GraphoBright de 52 gramas que na paginação dos jornais a cada tem uma brancura de 72 % com ano que passa. Há 15 anos atrás resultados de impressão exce- as tiragens dos jornais nacionais eram o triplo do que temos aclentes. Actualmente estamos a impri- tualmente e o jornal em suporte mir cerca de 50 jornais locais / digital tem vindo a ganhar cada regionais, sendo que 10 desses vez mais terreno, ao contrário do jornais estão a imprimir com jornal em suporte de papel, mas papel GraphoBright de 52 gra- acredito que este ultimo não irá mas e temos ainda 2 clientes acabar definitivamente, porque que imprimem com um papel existem ainda muitos leitores (e GraphoCrystal de 60 gramas vão continuar a existir) que não que tem uma brancura de 75 %, trocam o jornal em papel pelo mas a grande maioria dos nos- jornal digital. Penso que num fusos clientes imprime com papel turo próximo ficarão um reduzide 45 gramas em que o papel é do número de jornais nacionais mais fino e a brancura é de ape- com suporte em papel, com tiragens muito pequenas. nas 60 %. Face à conjuntura actual, não FICHA TÉCNICA DIRECTOR: Hernâni Almeida • e-mail: [email protected] PROPRIEDADE: Empresa Gráfica Funchalense, S.A. | TLF. 219 677 450 • FAX 219 677 459 | Morada: Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, n.º 50 - Morelena 2715-028 Pêro Pinheiro - Portugal CONCEPÇÃO: Paginação - Sofia Rosa • Jornalista - Carmo Torres DEPÓSITO LEGAL n.º 270578/08 | Isento de registo no ICS ao abrigo do artigo 9º da Lei de Imprensa n.º 2/99 de 13 de Janeiro NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 | 3 NOTÍCIAS DE IMPRENSA 7.ª EDIÇÃO DO PRÉMIO DIGNITAS DE JORNALISMO Estão abertas até ao dia 31 de Março as candidatura à 7.ª edição do Prémio Dignitas de jornalismo, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Deficientes. Ao primeiro prémio é atribuído um valor de 4 mil euros. O Prémio Dignitas, da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), com o apoio da MSD e da Escola Superior de Comunicação Social, destina-se a premiar os melhores trabalhos, publicados ou difundidos nos órgãos de comunicação social portugueses, realizados por profissionais da comunicação social, subordinados ao tema da deficiência e que promovam a dignidade das pessoas com deficiência, os seus direitos humanos e a sua inclusão social. As candidaturas deverão ser formalizadas até ao dia 31 de Março de 2015, junto da sede da APD, pessoalmente ou por correio. Podem concorrer profissionais da comunicação social portugueses ou resi- dentes em Portugal e as candidaturas poderão ser individuais ou colectivas. Podem igualmente candidatar-se ao Prémio Dignitas estudantes de Comunica- tadas em português. Ao 1º Prémio é atribuído um valor pecuniário de 4.000,00 euros e às restantes categorias 2.000,00 euros a cada uma (Imprensa, Rádio, Televisão e Jornalismo Digital). No caso do Prémio Dignitas Jornalismo Universitário, o prémio é de 1.500,00 euros. O Júri poderá ainda atribuir Menções Honrosas. Fonte: Sindicato dos Jornalistas ção das Escolas Superiores e Faculdades de todo o País. Os trabalhos nas categorias de Jornalismo e de Estudante não são acumuláveis. Criado em 2009, o Prémio Dignitas assinala este ano a sua sétima edição. As matérias a concurso, publicadas em 2014, terão necessariamente que ser edi- ABERTAS CANDIDATURAS AOS PRÉMIOS GAZETA «AS NOVAS GERAÇÕES DE JORNALISTAS EM PORTUGAL» O estudo «As Novas Gerações de Jornalistas em Portugal» foi lançado no dia 18 de Fevereiro, da autoria de uma equipa coordenada por José Rebelo, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, no Salão Ideal, em Lisboa. A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, apresentou o estudo, que revelou que 63 por cento dos jovens jornalistas já admitiram abandonar a profissão. O estudo é o resultado de uma investigação sobre os jornalistas que entraram na profissão depois do ano 2000, que revelou que 63 por cento dos jovens jornalistas já admitiram abandonar a profissão. Após a apresentação do livro, foi apresentada a ante-estreia em Portugal do documentário «Os Cartoonistas – Soldados de Infantaria da Democracia», filme de Stéphanie Valloatto que integrou a selecção oficial do Festival de Cannes e foi nomeado para o César de Melhor Documentário de 2015. A sessão apresentação do livro e ante-estreia do filme foi organizada pela Editora Mundos Sociais, pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) e pela Midas Filmes, com o apoio da Casa da Imprensa. Fonte: Sindicato dos Jornalistas O Clube de Jornalistas abriu as candidaturas aos Prémios Gazeta 2014. Os trabalhos a concurso devem ter sido publicados durante o ano de 2014 e os seus autores devem possuir carteira profissional de jornalista. Serão atribuídos oito Prémios Gazeta de Jornalismo: Mérito, Imprensa, Televisão, Rádio, Fotografia, Multimédia, Revelação e Imprensa Regional. Todos os trabalhos concorrentes devem ser enviados por correio, ou entregues por mão própria, na sede do Clube de Jornalistas, até ao dia 30 de Abril de 2015. Os Prémios Gazeta de Jornalismo, instituídos pelo Clube de Jornalistas evocam, na sua designação, o primeiro jornal português, a «Gazeta», cuja publicação se iniciou em 1641. Fonte: Clube dos Jornalistas 4 | NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 NOTÍCIAS DE IMPRENSA CONCURSO PAPIES 2015 Estão abertas as inscrições para o concurso Papies 2015, que em 2015 se organiza sob o mote «Liberdade de Criar». O concurso dirige-se a profissionais ligados à indústria gráfica e tem inscrição gratuita. Os trabalhos podem ser submetidos à apreciação do júri até ao dia 3 de Abril de 2015. Os Papies surgem para premiar a criatividade e execução dos melhores projetos gráficos, criados por profissionais e empresas portuguesas. São mais de 20 as categorias a concurso, onde se incluem os jornais, as revistas, as embalagens, os rótulos, os displays ponto-de-venda e as brochuras. Categorias que refletem objetos com que todos nos deparamos diariamente e que surgem da mestria de um profissional gráfico. Não faltam ainda as distinções para a inovação gráfica, para as medidas ambientais ou para as empresas e personalidades que mais de destacaram. Os Papies são organizados anualmen- «CONVERSAS SEM GRAVATA» O Sindicato dos Jornalistas irá promover um ciclo de debates sobre o estado do jornalismo em Portugal, para impulsionar a reflexão sobre o estado da profissão, que serão transmitidos pela TSF. O primeiro «Conversas Sem Gravata» foi dedicado ao tema «Segredos» e contou com a participação de João Aibéo, procurador-geral-adjunto, São José Almeida, presidente do conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas e Eduardo Dâmaso, director-adjunto do Correio da Manhã. Sofia Branco, presidente da Direcção do SJ, foi a moderadora. Os debates, de entrada livre, realizam-se na sede nacional do SJ (Rua dos Duques de Bragança, 7E, ao Chiado), cumprindo um dos compromissos da nova direcção: convocar os sócios à reflexão e abrir o sindicato a quem não é sócio e à sociedade em geral. As «Conversas Sem Gravata» acontecem uma vez por mês, sempre às 21h00, na sede ou nas delegações do SJ. O essencial dos debates será transmitido pela TSF no dia seguinte, quinta-feira, depois do noticiário das 21h00. Fonte: Sindicato dos Jornalistas te e funcionam como uma montra do melhor trabalho de designers, agências de comunicação, publicidade e marketing, gráficas e empresas que se dedicam aos acabamentos. É o reconhecimento para uma indústria que trabalha nos bastidores para fazer brilhar as peças de comunicação de concurso e conhecer os responsáveis pela todas as outras. O concurso culmina com execução das mesmas. uma grande noite de gala, que este ano deFonte: Do Papel corre no Casino da Figueira da Foz, a 28 de Maio, onde se podem apreciar as obras a DOIS JORNALISTAS FRANCESES DETIDOS E EXPULSOS DE MARROCOS Dois jornalistas franceses foram detidos, no mês de Fevereiro, em Rabat, nas instalações da Associação Marroquina dos Direitos Humanos (AMDH), onde estavam se encontravam a realizar uma entrevista. Os dois jornalistas foram depois deportados para França, alegadamente por falta de autorização para filmarem em Marrocos. Jean-Louis Perez e Pierre Chautard, jornalista e repórter de imagem da agência Premières Lignes, estavam a fazer um documentário para a France 3 sobre a economia de Marrocos. O equipamento foi também apreendido por parte dos agentes de polícia, incluindo os telemóveis, segundo referiu à agência de notícias francesa AFP um responsável da AMDH, Youssef Rissouni, que explicou terem sido contactados antes para que entregassem os dois jornalistas, o que se recusaram a fazer. Os polícias «não mostraram qualquer identificação ou mandado de captura, mas disseram-nos que os jornalistas não tinham autorização legal para filmar em Marrocos», precisou. Os jornalistas tinham pedido há várias semanas uma autorização em Rabat, mas não obtiveram resposta, o que os levou a crer que podiam trabalhar de forma legal. A detenção dos dois repórteres ocorreu no dia seguinte ao da visita a Marrocos do ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, após um ano de conflitos diplomáticos entre os dois países e a suspensão da cooperação judiciária, que só foi restabelecida no final de Janeiro, após um acordo entre os dois Governos. Fonte: TVI24 NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 | 5 6 | Março 2015 NOTÍCIAS QUE MARCAM NOTÍCIAS QUE MARCAM DOSSIER IMPRENSA HISTÓRIA DA Março 2015 | 7 DI EÇA “A imprensa é composta de duas ordens de periódicos: DE QUEIROZ os noticiosos e os políticos.” Principal veículo para a difusão das ideias durante os últimos quinhentos anos, a imprensa está ligada a todas as esferas da actividade humana. Nenhum evento político, constitucional, eclesiástico e económico, nem movimentos sociais, filosóficos e literários podem ser compreendidos sem levar em conta a influência da imprensa sobre eles. O conceito de jornalismo como «quarto poder» surgiu no contexto das revoluções liberais, da luta da burguesia contra o Absolutismo e o poder da nobreza, especificamente na Inglaterra do final do século 18. O ideal liberal iluminista pressupunha, além da liberdade de expressão individual, uma imprensa independente, livre da censura do Estado, formadora da opinião pública e exercendo o papel de «con- trapoder» em relação aos três poderes concebidos por Montesquieu: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A imprensa evoluiu também com a modernização dos processos tecnológicos, que melhoraram os processos de impressão por razões comerciais dos impressores ou editores ou, devido a mudanças sociais, incluindo mudanças no gosto do público leitor e na moda. 8 | Março 2015 DOSSIER IMPRENSA NOTÍCIAS QUE MARCAM A IMPRENSA ATRAVÉS DOS TEMPOS As primeiras reproduções da escrita foram obtidas sob um suporte de cera ou de argila com os selos cilíndricos e cunhas, encontrados nas mais antigas cidades da Suméria e da Mesopotâmia do século XVII a. C. A primeira publicação regular de que se tem notícia foi a Acta Diurna, que o imperador Augusto mandava colocar no Fórum Romano no século I d.C., gravada em tábuas de pedra, que foi fundada em 59 a.C. por ordem de Júlio César, trazendo a listagem de eventos ordenados pelo Ditador (conceito romano do termo). Na Roma Antiga e no Império Romano, a «Acta Diurna» era afixada nos espaços públicos, e trazia factos diversos, notícias militares, obituários, crónicas desportivas, entre outros assuntos. O primeiro jornal em papel, sob o título «Notícias Diversas», foi publicado como um panfleto manuscrito a partir de 713 d.C., em Kaiyuan, Pequim. Kaiyuan era o nome dado ao ano em que o jornal foi publicado. Em 1041, também na China, foi inventado o tipo móvel. O alfabeto chinês, entretanto, por ser ideográfico e não fonético, utiliza um número de caracteres muito maior que o alfabeto latino europeu. No ano de 1908, os chineses comemoraram o milenário do jornal Ta King Pao (Gazeta de Pequim), apesar de a informação não ter comprovação absoluta. Em 1440, Johannes Guttenberg desenvolve a tecnologia da prensa móvel, utilizando caracteres avulsos gravados em blocos de madeira ou chumbo, que eram rearrumados numa tábua para formar palavras e frases do texto. Na Baixa Idade Média, as folhas escritas com notícias comerciais e económicas eram muito comuns nas ruidosas ruas das cidades burguesas. Em Veneza, as folhas eram vendidas pelo preço de uma «gazeta», moeda local, de onde surgiu o nome de muitos jornais publicados na Idade Moderna e na Idade Contemporânea. Esta arte propagou-se com uma ra- pidez impressionante pelo vale do Rio Reno e por toda a Europa. Entre 1452 e 1470, a imprensa conquistou nove cidades germânicas e várias localidades italianas, bem como Paris e Sevilha. Dez anos depois, registava-se a existência de oficinas de impressão em 108 cidades; em 1500 o seu número era de 226. Durante o século XVI os centros mais produtivos eram as cidades universi- tárias e as cidades comerciais. Veneza continuou a ser a capital da imprensa, seguida de perto por Paris, Frankfurt e Antuérpia. A Europa tipográfica começava a deslocar-se de Itália para os países do Norte da Europa, onde funcionava como elemento difusor do humanismo e da Reforma oriunda das cidades italianas. DOSSIER IMPRENSA NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 | 9 IMPRESSÃO PELO MUNDO Há 565 anos, Johannes Gutenberg imprimiu o primeiro exemplar da Bíblia, em tipos móveis, o que viria a revolucionar a impressão em massa e abrir caminho para a imprensa. No entanto, a técnica de imprimir com caracteres móveis é, na verdade, asiática, e muito mais antiga. Tudo começou com a criação do papel, obra de chineses no ano 105 da era cristã. O novo material abriu caminho para a produção artesanal de um maior número de livros, que se tornaram mais prácticos para manusear e muito mais baratos. Desde tempos imemoriais que o Homem tentou deixar a sua marca por escrito. Das pinturas rupestres à gravação em pedra, tudo servia para transmitir as mensagens às futuras gerações. No Oriente surgiu a xilografia, praticada principalmente na China e, depois, na Coreia e no Japão do século VII, usando uma placa de madeira para gravar imagens e textos, que podiam ser reproduzidos por estampagem. A técnica foi aperfeiçoada no século XI, com ensaios de impressão por meio de caracteres móveis, só que de terracota, e que não podiam voltar a ser utilizados. Entre 1041 e 1048, os caracteres foram sendo aprimorados pelo chinês Bi Sheng, ferreiro e alquimista, mas o custo destes continuava a ser bastante elevado. Quase 200 anos depois, a Coreia tomou a dianteira no processo, já com incentivo público. Os caracteres móveis metálicos disseminaram-se e, em 1377, foi publicado o primeiro livro impresso nesse padrão. No século XV, o monarca coreano Htai-Tjong investiu na ideia e promulgou um decreto cujo texto é uma homenagem à informação: «Para governar, é preciso propagar o conhecimento das leis e dos livros de modo a satisfazer a razão e endireitar o coração dos homens. Quero que se fabriquem caracteres de cobre que sirvam para a impressão, a fim de ampliar a difusão de livros: será uma vantagem sem limites». A história da impressão por tipos móveis, da tipografia, pode ser dividida em três períodos: 1) 1450-1550, o século criativo, que testemunhou a invenção e o começo de tudo o que caracteriza as modernas peças de impressão. 2) 1550-1800, a era da consolidação, que desenvolveu e refinou o acabamento do período precedente com espírito predominantemente conservador. 3) 1800 até nossos dias, período de tremendo avanço tecnológico, com mudanças radicais nos métodos de produção e distribuição, bem como nos hábitos dos produtores e leitores. PAI DA TIPOGRAFIA PRENSA DE GUTENBERG Johannes Gutenberg (1400-1468) ganhou o direito de ser intitulado como o pai da tipografia . O primeiro fruto do seu trabalho foi uma bíblia impressa em Mogúncia, entre 1425 e 1456, o primeiro livro produzido na Europa com a ajuda de caracteres móveis, com tiragem de 180 exemplares dos quais ainda existem 48 conservados em museus e bibliotecas. Desde o primeiro livro impresso por esse processo, até o final do século XV, o invento espalhou-se pela Europa civilizada, multiplicando-se as edições, sobretudo de livros religiosos e autores clássicos. Só em Veneza havia mais de 200 tipografias, entre outras a famosa Aldina, cujas impressões de qualidade notável abrangeram em poucos anos quase todos os autores gre- gos, além dos latinos e hebraicos. Johannes Gutenberg, filho de uma família abastada alemã, teve inúmeras oportunidades de aprender o maior número de coisas que estavam ao seu alcance. Desde jovem revelou ter uma forte inclinação pela leitura, na altura livros escritos à mão, por monges, alunos e escribas, que demorava meses a ser preparado, sendo o seu preço elevadíssimo e impossível de suportar para a maioria das pessoas. Em 1428 Gutenberg começa a trabalhar no desenho e fabrico de jóias, o que lhe permitiu aprender a desenhar sobre metais e pedras, começando, assim, a ponderar a possibilidade de criar uma máquina que conseguisse imprimir palavras automaticamente e fazer cópias de livros em série. De 1436 a 1460 Gutenberg dedicou-se inteiramente à invenção da prensa, embora enfrentando muitos problemas, mas persistiu na ideia de adaptar técnicas do trabalho em metal, tais como moldagem, corte preciso e carimbagem para a produção técnica de livros. Embora não sendo uma técnica nova (os chineses já a utilizavam), a forma como a utilizou é que foi inovadora: o molde das letras com tinta é colocado numa plataforma que desliza até à parte inferior de uma estrutura metálica; uma prensa é accionada através de uma barra que provoca a compressão, fazendo com que a estrutura que suporta o papel o «carimbe» com aquelas letras com toda a força, fazendo, 10 | Março 2015 assim, a impressão da letra no papel. Como as letras eram metálicas e amovíveis, cada caracter era separado e podia facilmente ser removido se se estragasse ou se houvesse necessidade de alterar algo no texto. Gutenberg inovava ao transpor para a prensa tabuleiros que continham todo o tipo de caracteres normalmente usados na escrita manual: letras maiúsculas e minúsculas, sinais de pontuação, abreviaturas, etc., postas em conjunto para formar palavras, linhas e páginas inteiras de texto impresso. Com tal estrutura montada, Gutenberg concluiu que seria perfeitamente possível imprimir cerca de 300 páginas por dia. Embora o desenho original da sua prensa permaneça ainda um mistério, os seus elementos básicos permaneceram quase inalterados em quase todas as impressões feitas desde a segunda metade do século XV até 1800. DOSSIER IMPRENSA A prensa de Gutenberg permitiu o renascer do interesse pela aprendizagem e pelos clássicos na época do Renascimento. Esta invenção mudou drasticamente o mundo: para além de aperfeiçoar a escrita e facilitar a leitura, os textos poderiam facilmente ser feitos de uma forma rápida e eficaz. O mundo começava, assim, a partilhar o seu conhecimento. A comprovar a magnificência deste inventor europeu do século XV, realiza-se anualmente, nos Estados Unidos da América, o «Festival Gutenberg», uma espécie de Feira de demonstrações e inovações nas áreas do desenho gráfico, da impressão digital, da publicação e da conversão de texto - que só comprova que a invenção do mestre Gutenberg consegue, ainda hoje, cultivar seguidores que, da sua experiência-base, tentam superar o invento e adaptar as tecnologias modernas às exigentes necessidades do mundo actual. NOTÍCIAS QUE MARCAM IMPRENSA REGULAR No século 17, na Alemanha, começam a circular as primeiras «Folhas Volantes», com informações oficiais do Governo, opiniões políticas e algumas notícias sobretudo de desporto. A primeira publicação impressa periódica regular (semanal), o «Nieuwe Tijdinghen», aparece em 1602, na Antuérpia. Os primeiros periódicos em alemão são fundados em 1609. São eles o «Relation aller fürnemmen und gedenckwürdigen Historien» (Relação de todas as notícias notáveis e rejubilantes), em Estrasburgo, e o Avisa Relation oder Zeitung. Em 1615, surge o Frankfurter Journal, primeiro periódico jornalístico, também semanal e em alemão. Em 1621, surgiu em Londres o primeiro jornal particular de língua inglesa, «The Corante». No ano seguinte, um pacto entre 12 oficinas de impressão inglesas, holandesas e alemãs determinou um intercâmbio sistemático de notícias, criando o que terá sido a primeira agência noticiosa do mundo. No mesmo ano, Nathaniel Butler fundou também em Londres o primeiro semanário: o «Weekly News», que, a partir de 1638, seria o primeiro jornal a publicar notícias internacionais. Antes disso, circulavam em Inglaterra os «Current», folhas com informação pagas pelo Governo. Em França, no ano de 1631, surge «La Gazette», de Théophraste Renaudot cujo primeiro número foi publicado em 30 de Maio, e na Holanda pelo «Courante uyt Italien ende Duytschlandt», em 1632. O jornal mais antigo do mundo ainda em circulação foi o sueco «Post-och Inrikes Tidningar», que teve início em 1645. Até então, estas publicações tinham periodicidade semanal, quinzenal, mensal ou irregular. Foi só a partir de 1650 que surgiu o primeiro jornal impresso diário do mundo, o «Einkommende Zeitungen» (Notícias Recebidas) fundado na cidade alemã de Leipzig. A primeira revista, em estilo almanaque, foi o «Journal des Savants» (Diário dos Sábios), fundado na França em 1665. No Novo Mundo, o primeiro jornal apareceu nas colónias britânicas da América do NOTÍCIAS QUE MARCAM Norte (futuros Estados Unidos), publicado em Boston: o «Publick Occurrences, Both Forreign and Domestick», que só teve uma edição. De 1702 a 1735 circulou o primeiro jornal diário em inglês, o «Daily Courant», de Samuel Buckley. Benjamin Franklin fundou em 1729, o «Pennsylvania Gazette», o primeiro jornal a manter-se através da venda de publicidade. No mesmo ano eram fundados a «Gaceta de Guatemala» e «Las Primicias de la Cultura de Quito», os primeiros jornais latino-americanos. Em 1728, é criado o «St. Peterburgo Vedomosti», o jornal mais antigo da Rússia, ainda em circulação. Nos Estados Unidos, Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst criaram grandes jornais destinados à venda em massa. Em 1833, foi fundado o «New York Sun», o primeiro jornal “popular”, vendido a um centavo de dólar. Já o «The Guardian», um dos jornais mais vendidos do Reino Unido até hoje, surge em 1821. Acompanhando a industrialização ocidental, o Japão ganha o seu primeiro jornal em 1871, com o «Yokohama Shimbun» (Notícias Diárias de Yokohama). Actualmente, o Japão é o país com maior índice de circulação per-capita no mundo. O primeiro jornal português foi fundado em 1641, «A Gazeta da Restauração», um periódico mensal que durou seis anos. Anteriormente circulavam as «Relações de Novas Gerais» ou «Notícias Avulsas», surgidas em 1612. DOSSIER IMPRENSA Março 2015 | 11 MARCOS DA IMPRENSA Nos séculos XVIII e XIX, os líderes políticos tomaram consciência do grande poder que os jornais poderiam ter para influenciar a população e proliferaram os jornais de facções e partidos políticos. O «The Times», de Londres, começa a circular em 1785, com o nome de «The Daily Universal Register» passando ao nome actual três anos depois. No século XIX os empresários des- cobriram o potencial comercial do jornalismo como negócio lucrativo e surgiram as primeiras publicações semelhantes aos diários actuais. Depois da criação da prensa com caracteres móveis, por Gutenberg, um dos grandes marcos aconteceu com o início da Guerra Civil dos Estados Unidos, em 1861, pelas inovações técnicas e novas condições de trabalho. Repórteres e fotógrafos recebem credenciais para cobrir o conflito. De lá, desenvolvem o lead para assegurar que a parte principal da notícia chegará à redação pelo telégrafo. Os jornais inventam as manchetes, títulos em letras grandes na primeira página, para destacar as novidades da guerra. O primeiro jornal a enviar correspondentes para dois lados de uma guerra foi o The Guardian, de Manchester, na Guerra Franco-Prussiana, em 1871. Em 1844, a invenção do telégrafo por Samuel Morse revoluciona a transmissão de informações, e permite o envio de notícias a longas distâncias. Mas o telégrafo só ganharia um aumento exponencial da sua capacidade a partir da instalação dos cabos submarinos, na segunda metade do século XIX, que unem os continentes. Também aparecem novidades nas técnicas de impressão. A primeira rotativa começa a funcionar em 1847, nos EUA. No ano seguinte, o «The Times» de Londres cria uma rotativa que imprime dez mil exemplares por hora. O linótipo foi inventado em 1889, por Otto Merganthaler, revolucionando as técnicas de composição de página com o uso de tipos de chumbo fundidos para gerar linhas inteiras de texto. A fotografia começou a ser usada na imprensa diária em 1880. A Alemanha foi o primeiro país a produzir revistas ilustradas graficamente com fotografias. Em 1919, surge o «New York Daily News», o primeiro jornal em formato tablóide. Em 1962, o jornal norte-americano «Los Angeles Times» utiliza fitas perfuradas para agilizar a composição em linotipos. Naquele mesmo ano, entrou no ar o Telstar 1, primeiro satélite de telecomunicações específico para os média e sete anos depois, realizou-se a transmissão da chegada da missão Apollo 11à Lua. Em 1973, apareceram os primeiros terminais computadorizados para edição jornalística. A fotocomposição começava a substituir a linotipia. 12 | Março 2015 No jornal «Minneapolis Star» foi testado um sistema que possibilitava a paginação electrónica e o envio das páginas directamente para a impressão, eliminando o processo de composição manual. Com o advento da Internet, a imprensa DOSSIER IMPRENSA mundial começou a apresentar as suas notícias através deste meio, de forma livre ou com acesso pago, uma opção a que recorrem cada vez mais meios de imprensa, tendo em conta a diminuição de custos que esse meio implica. NOTÍCIAS QUE MARCAM Se isto significa o fim da imprensa em papel? Só o futuro o dirá. No entanto, se por um lado existem cada vez mais meios de acesso à notícia de forma imediata, muitos são os que não dispensam a leitura do seu jornal em formato de papel. Fontes: História Viva http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/gutenberg_nao_inventou_a_imprensa.html Wikipedia pt.wikipedia.org/wiki/Imprensa www.infopedia.pt NOTÍCIAS QUE MARCAM DOSSIER IMPRENSA Março 2015 IMPRENSA EM PORTUGAL A «Gazeta, em que se relatam as novas todas, que ouve nesta corte, e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641» foi o primeiro periódico a ser publicado em Portugal. A responsabilidade da redacção foi concedida a Manuel de Galhegos por privilégio real. A primeira edição data de Novembro de 1641, mas só veio a lume no mês seguinte. Esta primeira edição teve a marca tipográfica da Oficina de Lourenço de Anveres (Lourenço «GAZETA DE LISBOA» Foi no ano de 1715, que o primeiro jornal oficial português iniciou a sua publicação. Embora seja geralmente conhecido como «Gazeta de Lisboa», ao longo da sua publicação tem ostentado títulos muito diversos. No dia 10 de Agosto, o jornal apresentava o seu primeiro número com a denominação de «Notícias do Estado do Mundo». O seu redactor era José Freire | 13 de Antuérpia) (1599 - 1679) sediada em Lisboa. O seu objectivo era dar notícia dos acontecimentos da guerra com Espanha e da aclamação de D. João IV como Rei de Portugal, procurando igualmente auxiliar a consolidação da independência. Esta publicação tem também sido denominada como «Gazeta da Restauração». Em Julho de 1642, a «Gazeta» foi suspensa devido à lei promulgada a 19 de Agosto de 1642, que proibia as gazetas «com notícias do reino ou de fora, em razão da pouca verdade de muitas e do mau estilo de todas elas. Mas na realidade, a «Gazeta» terá sido suspensa pelo poder régio devido ao «excesso de verdade», com informações que os regentes consideravam como podendo vir a ser utilizadas pelo inimigo castelhano. As seguintes publicações foram impressas na tipografia de Domingos Lopes Rosa um cristão-velho, filho de Simão Lopes e de Eulália Antunes. Quando tinha a idade de 40 anos, foi acusado de «impressão de carta sem licença do Santo Ofício», e sentenciado pelo auto-de-fé de 13 de Abril de 1647 com a suspensão, por um ano, do exercício de seu ofício de impressor, além de condenado a pagar 20 cruzados para despesas dos papéis impressos queimados e pagamento de custas. Foi preso em 27 de Março de 1647. Iniciou a sua actividade em 1641 e retirou-se em 1659. Com a trigésima edição da gazeta, em Setembro de 1647, terminou a publicação deste jornal que foi publicado com a dimensão2 de 20 cm x 14 cm. de Monterroio Mascarenhas, que dirigiu o jornal até à sua morte, em 1760. Em 17 de Agosto de 1715, o número dois aparecia já com o título de «Gazeta de Lisboa», título que se manteve até 30 de Dezembro de 1717. No ano de 1718, no dia 6 de Janeiro, o título passou para «Gazeta de Lisboa Ocidental» até 31 de Agosto de 1741. Em 7 de Setembro de 1741, retomou o título de «Gazeta de Lisboa», que perduraria até 31 de Janeiro de 1760. Durante este período, das muitas notícias que foram sendo publicadas, destacou-se a descrição, curiosamente bastante sóbria, do terramoto de 1755 que devastou Lisboa, bem como uma grande parte do Algarve. Em 22 de Julho de 1760, o título mudou para «Lisboa», sendo seu redactor o poeta Pedro António Correia Garção. Este título vai manter-se até 15 de Junho de 1762. Por ordem do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, o jornal esteve suspenso de Junho de 1762 a Agosto de 1778. Não se sa- bendo a causa imediata e concreta desta suspensão, todos os estudiosos da matéria invocam o desagrado do ministro com alguns artigos menos favoráveis à sua governação. O facto é que o jornal não voltou a publicar-se durante o reinado de D. José. No início do reinado de D. Maria I, no dia 4 de Agosto de 1778, a «Gazeta de Lisboa» reapareceu, conservando este título até 30 de Dezembro de 1820. Foi seu redactor inicial Félix António Castrioto. Durante o período que duraram as invasões francesas, era o Intendente Geral da Polícia, Pierre Lagarde, quem dirigia a «Gazeta», ditando em francês os artigos que eram depois traduzidos por oficiais portugueses às suas ordens. Foi ele igualmente quem mandou substituir as armas reais portuguesas no cabeçalho do jornal, pela águia imperial francesa. No ano de 1820, no início do governo liberal, entre os dias 16 de Setembro e 30 de Dezembro, publicaram-se simultaneamente a «Gazeta de Lisboa» e o «Diário do Governo». 14 | Março 2015 DOSSIER IMPRENSA NOTÍCIAS QUE MARCAM «DIÁRIO DO GOVERNO» O «Diário do Governo» publicou-se de 16 de Setembro de 1820 a 10 de Fevereiro de 1821. A 12 de Fevereiro de 1821, o jornal passou a «Diário da Regência», título que se manteve apenas até 4 de Julho do mesmo ano, dia do desembarque em Lisboa de D. João VI. Em 5 de Julho de 1821, foi retomado o título de «Diário do Governo» até 4 de Maio de 1823. Tendo sido derrubada a Constituição de 1822 pelo movimento que levou ao poder D. Miguel, o título do jornal oficial mudou de novo, passando a denominar-se, a partir do dia 5 de Junho de 1823, «Gazeta de Lisboa». Este título irá permanecer durante a década de governação miguelista, com vários redactores, até 23 de Julho de 1833. Em 25 de Julho de 1833, com o início da restauração constitucional, o jornal saiu com o título «Crónica Constitucional de Lisboa» que perdurou até 30 de Junho de 1834. De 1 de Julho a 4 de Outubro de 1834, o título vai ser alterado para “Gazeta Oficial do Governo”. Ainda nesse ano, entre 6 de Outubro e 31 de Dezembro, reapareceu o título de «Gazeta do Governo». A partir de 1 de Janeiro de 1835 e até 31 de Outubro de 1859, o jornal manteve o mesmo título «Diário do Governo». Em 1835, o escritor Alexandre Herculano foi seu redactor. De 1 de Novembro de 1859 a 31 de Dezembro de 1868, o título passou para «Diário de Lisboa». Em 2 de Janeiro de 1869 foi retomado o anterior título de «Diário do Governo», até 9 de Abril de 1976. Durante cento e sete anos, o jornal oficial manteve o seu título, que sobreviveu intacto à passagem da era monárquica para a era republicana. Desde 1 de Janeiro de 1914 que são publicadas três séries, destinadas a primeira às disposições legislativas, despachos, acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, de carácter genérico; a segunda, a disposições de carácter não genérico; e a terceira, a avisos, anúncios, etc. Em 10 de Abril de 1976, o título passou para «Diário da República» mantendo-se assim até aos dias de hoje. A «JORNALISTA DE FERRO» Pese embora o facto de que o jornalismo sempre foi considerado como profissão de homens, uma mulher marcou o mundo da imprensa de língua portuguesa. Antónia Gertrudes Pusich, conhecida como a «jornalista de ferro», nasceu na Ilha de São Nicolau (Cabo Verde), em 1805, e morreu em Lisboa em 1885, deixando uma carreira na área do jornalismo. Foi a primeira mulher a assinar o cabeçalho de um jornal português, desafiando o sistema ‘machista’ instalado. Até então, as mulheres que assinavam os ‘cabeçalhos’ dos jornais tinham que se esconder atrás de uma capa masculina, arranjando um pseudónimo. Numa época em que as mulheres estavam confinadas à família, à música e aos bordados, Antónia Pusich defendeu que deveriam também aprender a ler e a escrever para poderem participar na vida social e política do País. Através dos jornais que fundou despertou nas mulheres o sentido cívico que viria a ser uma realidaFontes: de nos séculos que se lhe seguiram. A vida de casada e os três casamentos, bem como as adversidades da vida, só lhe permitiram que publicasse pela primeira vez em 1841. A sua obra mais conhecida é «Olinda ou a Abadia de Comnor Place» de 1848, onde não faltam tradição, castelos, subterrâneos, ruínas, narcóticos, fugas, salteadores, mortes, tempestades e até um espectro. Antónia Gertudes Pusich também escreveu sobre membros da família real, que sempre dedicou à sua família e a ela própria uma grande amizade, sendo mesmo íntima amiga da in- fanta Isabel Maria. A longevidade da escritora permitiu-lhe atravessar diversos reinados - de D. Maria I até ao reinado de D. Luís. A sua obra literária é extensa e sabe-se que recorreu à escrita para custear as despesas da sua numerosa família. Grande sucesso obteve no Teatro com a pela «Constança ou o Amor Maternal», drama autobiográfico. Fundou os jornais «A Cruzada», «A Beneficência» e «A Assembleia Literária», que testemunham a sua intervenção na pedagogia e na vida social e política. https://nosmedia.wordpress.com/2007/04/17/antonia-pusich-a-jornalista-de-ferro/ Jornalismo em Portugal no alvorecer da modernidade Por Jorge Pedro Sousa http://www.leme.pt/biografias/pusich/ Biblioteca Nacional – Tesouros periódicos - Maria Fernanda Casaca Ferreira - Divisão de Serviços Especiais NOTÍCIAS QUE MARCAM Março 2015 | 15 NOTÍCIAS DE IMPRENSA «UM REPÓRTER INCONVENIENTE» Ex-repórter do «Jornal de Notícias» e antigo colaborador do Expresso, Aurélio Cunha lançou o livro «Um Repórter Inconveniente», no qual revela os bastidores dos primórdios do jornalismo de investigação em Portugal. Foi um dos grandes e porventura dos mais ousados e atrevidos repórteres portugueses da segunda metade do século XX. Quando ainda ninguém teorizava sobre jornalismo de investigação, sobretudo num país ainda em ditadura ou acabado de conquistar a liberdade, Aurélio Cunha assumiu como uma espécie de missão contar o que a todos escapava, narrar o inimaginável, destapar escândalos impensáveis, como a história do sangue contaminado no tempo FALECEU FUNDADOR DA REVISTA «VISÃO» O jornalista fundador da revista «Visão», Daniel Ricardo, morreu na manhã do dia 13 de Fevereiro, aos 73 anos de idade no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde esteve internado alguns dias, revelou a revista do grupo Impresa. Daniel Ricardo, nascido em 1941, desempenhava actualmente funções de editor executivo do gabinete editorial da «Visão». A Visão lembra que Daniel Ricardo entrou para o jornalismo em Fevereiro de 1968, quando interrompeu o curso de Direito da Universidade de Lisboa, onde estava no 4.º ano, para ingressar no jornal A Capital. Poucos anos depois, de acordo com o perfil disponível na página de Internet da revista, passou a desempenhar funções de chefia. Nessa época, trabalhou, como repórter, nas revistas «Flama» e «Século Ilustrado», e foi ainda chefe de redacção do «Diário de Notícias», editor de «O Diário», chefe de redacção e director adjunto do jornal Sete e editor-chefe de «O Jornal». Em 1993 fez parte da equipa fundadora da «Visão», onde se manteve até ao fim, tendo sido o autor do livro de estilo da revista. Daniel Ricardo era também membro do secretariado da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, tendo a carteira profissional número 78, sendo um dos mais antigos da profissão em Portugal. Fonte: Visão de Leonor Beleza como ministra da saúde, mas sempre com uma preocupação quase obsessiva: assegurar a veracidade dos factos, garantir a impossibilidade de ser desmentido. Aurélio Cunha, retirado há alguns anos, começou por escrever para publicações ligadas à Juventude Operária Católica, colaborou com o «Diário do Norte», um jornal muito ligado ao Estado Novo e onde acaba por lhe acontecer uma deliciosa história com a censura, e chega ao «Jornal de Notícias» em Março de 1973. Fonte: Expresso PRINTERIORS: A NOVIDADE DA FESPA Está a ser lançado um novo evento que vai decorrer ao mesmo tempo que a FESPA 2015, em Munique, entre 18 e 22 de Maio de 2015. O Printeriors pretende dar a conhecer o potencial da impressão na decoração de interiores, sublinhando o potencial criativo que se atinge quando se utiliza a impressão na decoração de espaços de comércio, corporativos e residenciais. Os visitantes vão poder apreciar um showcase físico com impressão em diferentes materiais, espalhado por vários espaços, representando as diferentes aplicações em decoração de espaços comerciais ou domésticos. As apresentações serão idealizados pelas diferentes empresas de impressão e/ou pelos seus clientes, com ênfase para a criatividade e a inovação das diferentes tecnologias envolvidas no processo. No dia 21 de Maio irá decorrer uma conferência sobre as aplicações em interiores, os materiais, o design, as técnicas, e a apresentação de alguns case-studies, dirigida por designers europeus. Fonte: PrintWeek 16 | Março 2015 NOTÍCIAS QUE MARCAM