Foram entrevistados para a reportagem “O que está por vir?”, publicado na edição 66 da Revista do AviSite os seguintes profissionais: Rodrigo Terra Celidonio, Gerente de Produto da Cobb-Vantress Brasil, as pesquisadoras da Embrapa Suínos e Aves, Jane de Oliveira Peixoto e Mônica Corrêa Ledur e Tércio Michelan Gerente de Produto da Aviagen América Latina. 1) A metodologia na coleta de informações dos planteis tende a evoluir? Existe como melhorar a eficiência do método tradicional para que exista uma maior ganho genético com ciclo de seleção? Mônica: Se estivermos pensando na casa genética, sem dúvida houve uma grande evolução na maneira de coletar, registrar e armazenar as informações dos planteis. No início de tudo uma folha dividida em colunas a ser preenchida a mão deve ter sido suficiente para controlar um número pequeno de características para um número também pequeno de aves. Com o passar dos anos mais características foram sendo introduzidas para a avaliação de aves candidatas a pedigree e sua efetiva escolha. Aquelas planilhas preenchidas a mão não atendem a atual demanda do melhoramento genético. Jane: O computador teve impacto crucial na evolução genética e abriu novos horizontes e trouxe maior eficácia na seleção genética. Computadores de maior capacidade de memória e velocidade de processamento de dados serão necessários para garantir a demanda de evolução futura. Rodrigo: Sim. Nos programas de melhoramento genético de aves, a coleta de informações fenotípicas nos plantéis puros estão sob constante evolução para tornar a seleção mais eficiente e promover maior ganho genético anual. Assim, tecnologias que permitam avaliações precisas das principais características de carcaça e da qualidade da carne nos animais vivos são de extrema utilidade. Observa-se tendência de automação na obtenção das mensurações, como acontece nos modernos sistemas que permitam obtenção da conversão alimentar individual dentro de grupos. Outra clara tendência é a utilização de diagnóstico por imagem. Atualmente, com o uso do ultrassom e de software de interpretação de imagens, pode-se aferir todas estas mensurações (comprimento, largura e profundidade do peito do frango, por exemplo). Com esse avanço tecnológico, novas características estão sendo adicionadas ao processo seletivo, como é o caso da profundidade de peito. No futuro, dados de expressão gênica e novos fenótipos poderão ser incorporados. Tércio: Se a ciência não pára de disponibilizar novas técnicas e metodologias, então sempre vai ocorrer evolução na coleta, processamento de dados e seleção dos animais. O melhoramento genético animal é uma das áreas de produção de carne que mais tem se beneficiado da evolução tecnológica. Não há método tradicional de melhoramento genético, há, sim, um progresso contínuo da metodologia de seleção e as empresas de genética trabalham com as mais avançadas tecnologias. Na década de 60 e anteriores se fazia seleção massal apenas para peso corporal, isto é, os geneticistas entravam no galpão e selecionavam os animais mais pesados e pronto. À medida que as aves foram evoluindo em produtividade ocorreu a necessidade de incluir novas características. Foi como ter uma pizza apenas para uma pessoa – à medida que a evolução surgiu, mais pessoas passaram a se alimentar daquela pizza. Isto significou que o pedaço de pizza, para cada pessoa, foi ficando cada vez menor. Traduzindo para o processo de seleção, quer dizer que à medida que se acrescenta mais características como critério de seleção, menos progresso se consegue em cada uma. A introdução de novas tecnologias fez com que a “pizza” ficasse maior e então pode-se acrescentar mais características sem diminuir tanto o progresso genético em cada uma. Rodrigo: A eficiência do método tradicional pode ser melhorada com a inclusão de novos fenótipos, metodologias mais acuradas de mensuração das características e dos avanços obtidos nas metodologias de avaliação genéticas. Esses fatores permitem que ganhos contínuos sejam obtidos utilizando-se do melhoramento convencional. Ganhos adicionais poderão ser obtidos com o uso da seleção genômica aliada à seleção tradicional, que é baseada somente no fenótipo. 2) Existe alguma tecnologia prevista para reduzir o custo do melhoramento das linhagens puras? Rodrigo: A evolução da ciência e do estudo do DNA, e seu conhecimento, já possibilitaram para bovinos e suínos a aplicação de marcadores genéticos em seu melhoramento. Esta tecnologia já esta sendo estudada em avicultura e será aplicada para melhorar a precisão e velocidade na evolução e certas características, sejam elas de influência econômica, como Conversão Alimentar, ou mesmo de saúde animal, como resistência a certas doenças específicas ou imunidade inata. O conhecimento da composição genética das aves possibilitou o reconhecimento de genes, ou DNA, que estão conectados a certas características. Estes DNA’s foram identificados como “marcadores”. A pesquisa destes marcadores, sua existência nos indivíduos envolvidos na seleção genética irá auxiliar na seleção das aves de linhas puras ou candidatos a pedigree e melhorarão a precisão e mesmo a velocidade da evolução de certas características, que possibilitem o uso desta ferramenta. A possível redução do custo poderá vir em longo prazo, pois estamos na introdução de mais uma tecnologia de seleção que apresenta alto custo no seu desenvolvimento. Tércio: Todas aquelas que proporcionarão avaliar um animal de forma mais precisa e com menos custo. Um exemplo é a tecnologia que permite medir o consumo de alimento dos animais candidatos à seleção em grupos, embora com custo de investimento alto, ela permitiu mais informações de melhor qualidade por mais tempo de vida do animal com menos mão de obra, compensando em muito os gastos com os investimentos. Mônica: Sobre o custo do melhoramento das linhagens puras, as metodologias serão cada vez mais caras e sofisticadas. Contudo, esses custos elevados não inviabilizarão a prática do melhoramento. Visando a diminuição dos custos e aumento da eficiência da seleção, a grande expectativa da indústria de genética avícola é a implementação da seleção genômica em complemento a seleção tradicional. Com essa metodologia será possível aumentar os ganhos genéticos anuais, realizar a seleção em idades mais precoces e também reduzir o número de características avaliadas no futuro. Até o momento, a seleção genômica está em fase experimental nas empresas de genética avícola. Atualmente, as técnicas de genotipagem estão evoluindo e tornando-se mais acessíveis, favorecendo o uso da genômica nos programas de melhoramento genético.