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44 ANOS ACOMPANHANDO O EDUCADOR
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ANO 44 . Nº 382
SETEMBRO . 2011
EXPEDIENTE
EDITORIAL
Capa de Renata Pimenta
Fotos: arquivo pessoal de Nita Freire
Nina Alexandrina
SETEMBRO . 2011 . Nº 382
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Nosso jeito de ser – A revista AMAE Educando é uma publicação da
Fundação AMAE para Educação e Cultura. Escrita por professores para
professores, com uma abordagem ligada à realidade vivida em sala de
aula, a revista diferencia-se das publicações acadêmicas pela linguagem
clara e objetiva, voltada, principalmente, para educadores de Educação
Infantil e Ensino Fundamental. Suas oito edições anuais (quatro em cada
semestre) são comercializadas por assinaturas.
Há quem diga que o Brasil é um país sem memória, onde não existe espaço para valorizar e preservar os
fatos, os objetos, os personagens que, cotidianamente,
tecem a trama da nossa história. Em relação à educação
brasileira, a revista AMAE Educando faz a sua parte e
relembra a trajetória histórica do grande educador Paulo Freire, no mês em que comemoramos os 90 anos de
seu nascimento. Desde a concepção de uma nova seção – Memória – até a diagramação das páginas 8 a 18,
muitos foram os momentos de pesquisas na internet, de
leituras de textos impressos, de elaboração de matérias,
de convites para o envio de material, de solicitações de
fotos, de identificação de fontes, de contatos por telefone e e-mail, etc. Foi aprendendo mais sobre o trabalho
de Paulo Freire que nos veio a certeza de que, se não tivemos o privilégio de conviver com ele, cabe-nos, pelo
menos, o dever de difundir um pouco de suas ideias,
para que a educação popular mantenha, no alto do mastro, a bandeira empunhada por ele de uma educação realmente transformadora, a que leva à liberdade.
Acreditando que é desde os primeiros anos escolares que as crianças aprendem a fantástica arte de
viajar pelo tempo, como pequenos historiadores, publicamos alguns projetos que despertam a curiosidade, envolvendo os alunos em interessantes pesquisas
(p.27). Todavia, há os que, chegando ao final do Ensino
Fundamental, preferem realizar experiências e se preparar para outro tipo de pesquisa – as que revelam os
segredos da Física. Para eles, vale guiar-se pela matéria
da página 36. Com um olhar plural, podemos trabalhar
também com conteúdos que parecem não ter muita coisa em comum: números, palavras e arte. “Buscamos,
num universo de possibilidades, aquela que promoveria a integração e transitasse pelos universos temáticos
sem perder a essência”, afirmam as autoras na matéria
da página 42.
Mas é setembro. Mês verde e amarelo. Dia da
pátria. À página 41, Valderez Valle reúne, com a sensibilidade de sempre, algumas palavras que nos falam
sobre o que é pátria. Lição para grandes e pequenos,
para professores e alunos. Arte para ser compartilhada
com toda a comunidade escolar.
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
3
NESTA EDIÇÃO
Andreia Pereira e Cláudia Freitas
36
41
COMEMORAÇÕES
42
RELATO DE EXPERIÊNCIA
BOLETIM
Notas sobre educação e cultura
A compreensão
do mundo a partir
de experiências
que demonstram a
Física no cotidiano
MEMÓRIA
Um roteiro sobre
a trajetória de
Paulo Freire e seu
revolucionário método de
alfabetização, algumas
ideias que embasam
a pedagogia freireana,
as leituras de mundo
e as possibilidades de
aprendizagens mútuas
em sala de aula,
numa homenagem ao
educador brasileiro que
completaria 90 anos
neste mês de setembro
19
EDUCAÇÃO INFANTIL
27
HISTÓRIA
Arquivo Nita Freire
4
Um modelo contemporâneo de comunicação em sala de
aula
CIÊNCIAS
NATURAIS
Poesia para lembrar o que é pátria
Língua Portuguesa, Matemática e Arte, em perfeita
harmonia
A transmissão de conteúdo em segundo plano,
quando o que se pretende é um fazer pedagógico que
transforme a realidade
Como ensinar História a crianças que iniciam sua vida
escolar?
32
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
EDUCAÇÃO INFANTIL
Projeto mostra como matar
a curiosidade dos alunos
com atividades instigantes e
esclarecedoras
ENCARTE
Conte um conto
Dia de chuva
Dia de sol
Maria Aparecida V. Lodi
5
6
8
EM FOCO
MEMÓRIA
PAULO FREIRE –
O EDUCADOR DO POVO,
UM CIDADÃO DA HISTÓRIA
Cristina Ministerio é jornalista, pósgraduada em Jornalismo e Práticas Contemporâneas (Belo Horizonte – MG).
No ano em que comemoramos
os 90 anos do nascimento de Paulo
Freire, relembrar um pouco da sua
trajetória torna-se programa quase
obrigatório. Trata-se, afinal, da vida
de um modesto nordestino que chegou a conhecer a fome, mas ganhou
o respeito internacional. Que, preocupado com os pobres, os oprimidos,
os cativos pela ignorância política,
com o descompasso entre a educação
ofertada e o processo de humanização, abole as cartilhas convencionais,
posiciona-se contra a educação chamada por ele de bancária, investe no
conceito de palavras geradoras e cria
um revolucionário e libertador método de alfabetização de adultos. É perseguido, preso e exilado pelo golpe
militar de 1964. Pesava sobre ele a
seguinte acusação: alfabetizar para a
conscientização e participação política na sociedade. Entra para a história
mundial como um dos mais importantes e polêmicos filósofos da educação
do século 20.
Luta sem trégua – Na Faculdade de Direito do Recife, sua terra
natal, fortaleceu a formação humanista. No Setor de Educação e Cultura do
Sesi/PE, teve os primeiros contatos
com a realidade da educação brasileira, percebendo a desvantagem dos
menos favorecidos na busca pela cidadania. Firme na sua crença de que
todo ato de educação é um ato político, Paulo Freire, sem pregar o uso de
armas, mas com otimismo, coragem
e disposição para enfrentar as injustiças sociais, passou a perseguir uma
educação realmente transformadora e
a dedicar-se à luta contra o analfabetismo. Um combate travado por toda a
sua vida, primeiro no Brasil, depois na
América do Sul, na Europa, na África.
Fora do seu país, ele obteve os primeiros reconhecimentos públicos desse
trabalho, sendo homenageado de diversas maneiras por diferentes instituições internacionais. Paulo Freire
marcou a cultural mundial e nunca
mais “os saberes necessários à prática
educativa” foram os mesmos. Nunca
mais um projeto de educação de jovens e adultos deixou de considerar as
ideias do incansável educador.
Eterna herança – Doutor Ho-
8
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
noris Causa por 34 instituições acadêmicas, cidadão honorário do Distrito
Federal, do estado do Ceará e de 12
cidades brasileiras, Paulo Freire empresta seu nome a cerca de 300 escolas brasileiras, além de inúmeros
diretórios acadêmicos, anfiteatros,
bibliotecas, centros de pesquisas, praças, ruas e conjuntos habitacionais.
Aclamado como um dos mais importantes pensadores brasileiros do século 20, seu legado é tema de pesquisas,
monografias e teses, sua vida, inspiração para uma geração de professores.
Sua vasta obra literária, traduzida para
muitas línguas, renovou os conceitos
da época e tornou-se uma espécie de
bandeira para os que se sentiam abandonados pelo poder público. Seus
escritos revelam a crença de que a
escola deveria ser o local do diálogo,
onde professores e alunos aprendem
juntos, praticando uma educação problematizadora e de grandes transformações, onde o educando, conectado
à sua realidade, recebesse as armas
necessárias para uma liberdade trazida pelo conhecimento – delineava-se
a Pedagogia da libertação. Sua obra
é atemporal. É objeto, ainda hoje,
de estudos em muitas instituições de
pesquisa , faculdades de educação e
Valéria Abras
“O Painel Paulo Freire inspira-se no meio rural,
onde Paulo Freire desenvolveu seu método de alfabetização de adultos, sob o tórrido sol do semi-árido. À
esquerda, há uma trabalhadora do campo, que tem um
livro sob o braço direito e carrega uma enxada, seu instrumento de trabalho, sobre o ombro esquerdo. Trata-se
do adulto trabalhador a ser alfabetizado. No fundo, há
casas típicas, à esquerda e à direita do mestre, que está
no centro da composição, em atitude pensativa (imaginando as relações entre o universo do trabalho e o saber
elaborado). Ele apóia o cotovelo direito sobre livros, que
aqui representam o saber erudito, em meio ao universo
popular. À direita, uma única árvore, sob a qual uma
menina brinca com uma boneca de pano, remetendo-nos
universidades. O livro mais famoso, o
Pedagogia do oprimido foi publicado
primeiramente em língua inglesa, nos
Estados Unidos, em 1970. No Brasil,
foi publicado em 1974, pela Editora
Paz e Terra.
Exercício da esperança – Em
entrevista concedida ao jornalista Edney Silvestre, em 1997, na Universi-
a uma história contada pelo próprio Paulo Freire, sobre
a filha do intelectual e a filha do operário, que sabia
fazer bonecas. Trata-se de uma metáfora a respeito da
cultura popular e da erudita. Também à direita, no primeiro plano, uma composição com uma enxada, uma boneca e um livro: o mundo do trabalho, a infância e a cultura erudita; diferentes universos a serem conciliados.
Todos estão descalços, pois, para entender e vivenciar
Paulo Freire, é necessário os pés no chão.”
Luiz Carlos Cappellano – educador e artista, autor do painel
localizado no CEFORTEPE / Secretaria Municipal de Educação de
Campinas / SP
dade de Havard, nos Estados Unidos,
Paulo Freire disse: “Quero ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os
bichos, as árvores, as águas, a vida”.
Talvez nos pareça pouco, diante de
uma vida tão cheia de realizações.
Talvez seja difícil respeitar um desejo tão humilde, vindo de tão grande
mestre, afinal, são muitos os pedago-
gos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos, quase todos ligados
a partidos de esquerda, que cultivam
a esperança de que ele seja lembrado
como Patrono da Educação Brasileira
– Projeto de Lei nº 5.418/05, de autoria da deputada Luiza Erundina, que
aguarda a sanção da presidente Dilma
Rousseff. Estará o Brasil, finalmente,
fazendo justiça a Paulo Freire?
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
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Arquivo Konvyt
Leituras
do tempo
1921 – Nasce no dia 19 de setembro no Recife, Paulo Reglus Neves Freire, filho do oficial da Polícia Militar de Pernambuco Joaquim Themístocles Freire e Edeltrudes Neves
Freire, prendas domésticas.
1925 – Inicia sua vida escolar.
1956 – É nomeado membro do Conselho Consultivo de
Educação do Recife.
1959 – Apresenta à Universidade do Recife a tese Educação e atualidade brasileira, para a obtenção do título de doutor em Filosofia e História da Educação.
1960 – Engaja-se em movimentos de educação popular
surgidos no Nordeste, sendo um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, onde faz as
primeiras experiências públicas do seu método de alfabetização para adultos.
1960 – Presta concurso público para catedrático efetivo da
cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de
Belas Artes da Universidade do Recife, sendo aprovado em
2º lugar e obtendo o título de doutor.
1937 – Inicia o ginásio no Colégio 14 de Julho, concluindoo no Colégio Oswaldo Cruz, ambos no Recife.
1961 – Toma posse da cadeira de História e Filosofia da
Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade do Recife.
1941 – Inicia sua carreira de professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, realizando o sonho da adolescência de ser professor.
1962 – Recebe o diploma de livre-docente da Escola de
Belas Artes da Universidade do Recife.
1943 – Ingressa na Faculdade de Direito do Recife, concluindo o curso quatro anos depois.
1962 – Colabora na criação e torna-se diretor do Serviço de
Extensão Cultural (SEC) da Universidade do Recife, onde
sistematiza e aperfeiçoa o seu método de alfabetização.
1947 – Exerce o cargo de assistente da Divisão de Divulgação, Educação e Cultura do setor de Educação e Cultura do
Sesi-PE. No mesmo ano é promovido a diretor da Divisão
de Educação e Cultura.
1947 – Inicia-se na docência do Ensino Superior, lecionando na Escola de Serviço Social, posteriormente anexada à
Universidade do Recife.
1952 – É nomeado professor catedrático interino da cadeira
de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife.
1954 – Torna-se diretor superintendente do Departamento
Regional do Sesi-PE.
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1955 – Funda, no Recife, com mais duas educadoras, o Instituto Capibaribe, uma instituição privada de ensino.
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
1963 – É escolhido, pelo então governador de Pernambuco
Miguel Arraes, como um dos 15 conselheiros pioneiros do
Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, por seu
“notório saber e experiência em matérias de educação e cultura”.
1963 – Organiza e dirige a Campanha de Alfabetização de
Angicos, por iniciativa do governo do Rio Grande do Norte, quando, graças ao sucesso na alfabetização de 300 adultos, torna-se conhecido como o educador do povo.
1964 – Assiste à adoção, pelo MEC, do “Método Paulo
Freire” para integrar o Programa Nacional de Alfabetização
(PNA) que previa a formação em massa de educadores para
alfabetizar cinco milhões de adultos para a conscientização
1980 – Torna-se professor da Universidade Estadual de
Campinas – Unicamp.
e participação política através do voto.
1964 – É acusado de subversivo pelo governo militar de
1964, que proibiu o “Método de Alfabetização Paulo Freire” por considerá-lo perigoso. É preso e, posteriormente,
exilado.
1967 – Publica, no Brasil, seu primeiro livro – Educação
como prática de liberdade (Ed. Paz e Terra), resultado de
modificações feitas em sua tese Educação e atualidade brasileira.
1980 – Retorna ao Brasil e ao Recife, depois de 16 anos no
exílio.
1980 – Filia-se, em São Paulo, pela primeira vez, a um partido político – o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual
é um dos fundadores e supervisor do programa do partido
para a alfabetização de adultos.
1989 – É nomeado para o cargo de secretário municipal
de Educação de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina,
quando concebe o Movimento de Alfabetização de Jovens
e Adultos (Mova), programa público de apoio a salas comunitárias de educação de jovens e adultos.
1997 – Dá sua última aula na Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo.
1997 – Morre no dia 2 de maio em São Paulo, Paulo Reglus
Neves Freire, de enfarte agudo do miocárdio, no Hospital
Albert Einstein.
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco ([email protected]),
Paulo Freire – uma história de vida (de Ana Maria Araújo Freire, Ed.
Villa das Letras, 2006), www.paulofreire.org, http://pt:wikipedia.org/
wikipaulo_freire
PENSAMENTO FREIREANO
- BASES EDUCACIONAIS -
Laércia Maria Bertulino de Medeiros é licenciada em Psicologia com habilitação em Psicologia Educacional, pós-graduada em Ciências da Sociedade e doutoranda em Ensino, Filosofia e História das Ciências; professora e líder do grupo de pesquisa Psicologia, Desenvolvimento e Educação do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba e Roberta Magna Silva Siqueira é estudante
do curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, bolsista de Iniciação Científica, participa do grupo de pesquisa
Psicologia, Desenvolvimento e Educação (Campina Grande - PB).
Autoras apontam algumas ideias de Paulo Freire consideradas, por elas, representativas da reflexão/ação/
reflexão freireana.
“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós
nos fazemos.”
Paulo Freire
Começamos esta breve incursão sobre algumas ideias de Paulo
Freire nos utilizando de uma frase na
Nota do Editor do livro Sobre educa-
ção: diálogos (1982, p.11): “Paulo
Freire (ainda é preciso dizer alguma
coisa?)”.
O pensamento de Paulo Freire
está embebido nas filosofias que tiveram o homem como centro. Seu pensamento está baseado no neotomismo,
no humanismo, no personalismo, no
existencialismo, na fenomenologia e
no neomarxismo.
Paulo Freire não se limitou a
teorizar, mas empenhou-se para que
estas questões tivessem repercussão
positiva na sociedade humana, em
geral, e na brasileira especificamente,
o que faz dele um homem profundamente comprometido com a sociedade, principalmente com as camadas
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
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populares. É por isso que Paulo Freire
constitui um caminho seguro para a
educação brasileira.
Formação docente e concepção de teoria e prática
Arquivo pessoal / Nita Freire
As ideias freireanas servem
como orientação para o processo de
formação docente no que se refere à
reflexão crítica da prática pedagógica
que implica em saber dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber
do educando e reconhece a identidade
cultural do outro.
Hoje, mais que em outras épocas, se exige do educador uma postura
alicerçada num processo permanente
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AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
de reflexão que leve a resultados inovadores no trato da educação. Sem
dúvida que as contribuições de Paulo
Freire levam o educador à consciência
de si enquanto ser histórico que, continuamente, se educa num movimento
dialético no mundo que o cerca. Não
é, pois, por acaso que as ideias freireanas se articulam com os interesses
na formação do educador, pois, não se
perde de vista o caráter histórico do
homem associado sempre à prática
social.
É por essa ótica, tomando-se
como critério de escolha a objetividade que explicita o pensamento pedagógico, antropológico e filosófico
freireano, que destacamos duas obras:
Pedagogia do oprimido e Educação
como prática da liberdade. Estas
obras mostram as ideias sobre educação que permeiam a construção do
educador, assim como atendem ao
critério de criticidade em relação à visão de homem, sociedade e educação,
aqui pretendida.
No livro Educação como prática da liberdade, Freire (1979) se refere à teoria como um “contemplar”,
certamente sendo fiel à etimologia da
palavra que vem do grego ( φεθράω ),
e significa ver. Daí o sentido de teoria como observar, contemplar, ver.
De fato, contemplar é uma expressão
que, apesar de carregada de conteúdo
místico, (embora se declarasse marxista, Paulo Freire era católico e estava profundamente ligado a entidades
de caráter religioso como o Conselho
Mundial das Igrejas – CMI), tem profundo sentido pedagógico, ao fazer
desse contemplar a cultura, o sujeito
da educação, o fenômeno educativo
e, principalmente, o homem e a sociedade, um passo fundamental do quefazer pedagógico. Isto é, na compreensão de Freire, teoria é um princípio
de inserção do homem na realidade
como ser que existe nela e, existindo,
promove a sua própria concepção da
vida social e política.
Ao enfatizar o caráter contemplativo da teoria, Paulo Freire garan-
te a inserção do homem na realidade.
Ele deixa claro que teoria é sempre a
reflexão que se faz do contexto concreto, isto é, deve-se partir sempre
de experiências do homem com a
realidade na qual está inserido, cumprindo também a função de analisar e
refletir essa realidade, no sentido de
apropriar-se de um caráter crítico sobre ela. Esse caráter de transformação
tem uma razão de ser, pois provém
antes de tudo, da sua vivência pessoal
e íntima numa realidade contrastante
e opressora, influenciando fortemente
todas as suas ideias. Compreende-se,
então, que teoria para Freire não será
identificada se não houver um caráter
transformador, pois só assim estará
cumprindo sua função de reflexão sobre a realidade concreta.
A definição de prática em Paulo Freire está baseada, inicialmente,
na dialética hegeliana da relação entre
“consciência servil” e “consciência
do senhor”, ampliada para a conceituação de práxis colocada por Marx,
referindo-se à relação subjetividadeobjetividade. Para tanto, Freire diz
que é necessário não só conhecer o
mundo, é preciso transformá-lo, o que
coincide com Marx. Isto é significativo, visto que conhecer em Freire não
é um ato passivo do homem frente ao
mundo. É, antes de tudo, conscientização. Envolve intercomunicação,
intersubjetividade, que pressupõe a
educação dos homens entre si mediatizados pelo mundo, tanto da natureza
como da cultura. Então, a prática não
pode ater-se à leitura descontextualizada do mundo, ao contrário, vincula o homem nessa busca consciente
de ser, estar e agir no mundo num
processo que se faz único e dinâmi-
co, melhor dizendo, é apropriar-se da
prática dando sentido à teoria. Sobre
essa conceituação, assim se expressa
Freire “[...] a práxis, porém, é ação
e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (1983, p.40).
Portanto, a função da prática é a de
agir sobre o mundo para transformá-lo.
A relação entre teoria e prática
centra-se na articulação dialética entre ambas, o que não significa, necessariamente, uma identidade entre elas.
Significa, assim, uma relação que se
dá na contradição, ou seja, expressa
um movimento de interdependência
em que uma não existe sem a outra.
Assim, cada coisa exige a existência
do seu contrário, como determinação
e negação do outro; na superação,
onde os contrários em luta e movimento buscam a superação da contradição, superando-se a si próprios, isto
é, tudo se transforma em nova unidade de nível superior; e na totalização,
em que não se busca apenas uma compreensão particularizada do real, mas
coordena um processo particular com
outros processos, onde tudo se relaciona. Portanto, a relação teoria e prática, em Freire, não é apenas um jogo
de palavras, é reflexão teórica, pressuposto e princípio que busca uma postura, uma atitude do homem face ao
homem e do homem face à realidade.
A esse respeito reitera: “E é ainda o
jogo dessas relações do homem com
o mundo e do homem com os homens,
desafiando e respondendo ao desafio,
alterando, criando, que não permite
a imobilidade, a não ser em termos
de relativa preponderância, nem das
sociedades nem das culturas. E, na
medida em que cria, recria e decide,
vão se conformando as épocas históricas. É também criando e decidindo
que o homem deve participar destas
épocas” (Freire, 1993).
Na afirmação acima está a base
para entender teoria e prática na ação
pedagógica, pois a relação teoria e
prática se dá primeiro e antes de tudo
na relação homem/mundo. Esta relação busca coerência entre pensamento
e ação que é práxis. Do contrário, a
ação sem pensamento é ativismo e o
pensamento sem ação é verbalismo.
Com isso, a ênfase da relação
teoria e prática sobrepuja a visão dicotômica quando admite que: “É
preciso que fique claro que, por isto
mesmo que estamos defendendo a
práxis, a teoria do fazer, não estamos
propondo nenhuma dicotomia de que
resultasse que este fazer se dividisse
em uma etapa de reflexão e outra,
distante, de ação. Ação e reflexão e
ação se dão simultaneamente” (Freire, 1983, p.149).
A fundamentação, teoria e prática numa relação de unidade, impõese como uma relação dialética, pois se
a ação/reflexão/ação estiverem ausentes perde-se o ápice do processo de
conscientização onde o educador se
descobrirá autêntico com todo o significado profundo que essa descoberta
acarreta.
Diante dessas afirmações, é
esclarecedor e indispensável para o
educador considerar que nesta perspectiva se conseguirá superar a tendência tão frequente de trabalhar teoria e prática dissociadas entre si. Para
tanto, é necessário que o educador
compreenda que teoria e prática não
se separam, ou seja, o vínculo teoria
e prática forma um todo onde o saber
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
13
tem um caráter libertador.
Para tanto, o pensamento pedagógico de Paulo Freire aponta para
a comunicação, como princípio que
transforma o homem em sujeito de
sua própria história através de uma relação dialética vivida na sua inserção
na natureza e na cultura, diferenciando-o dos outros animais. Esse processo de integração interativa é significativo quando vinculado ao diálogo que
contém no seu cerne ação e reflexão,
levando o homem a novos níveis de
consciência e, consequentemente, a
novas formas de ação.
A fórmula que contém os elementos constitutivos para a análise
do diálogo é esta: teoria/prática; discurso/ação; pensar/agir; pensamento/
ato. A partir desta visão, observa-se
que a comunicação é possuidora de
um caráter problematizador que gera
consciência crítica e, através do diálogo como o dado da problematização,
busca-se o compromisso de transformação da realidade.
Vê-se que Paulo Freire parte
sempre da análise do contexto da educação como um processo de humanização, ou seja, o caráter problematizador que se dá através do diálogo tem
base existencialista, visto que o diálogo “se impõe como caminho pelo
qual os homens ganham significação
enquanto homens” (Freire, 1983,
p.93). É fenomenológico, quando privilegia a palavra como objeto auxiliar
do pensamento, quando diz que, “não
existe uma linguagem sem um pensar
e ambos, linguagem e pensar, sem
uma realidade a que se encontrem
referidos” (Id, p.102). E político, na
medida em que permite uma compreensão crítica da prática social na
14
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
relação social, histórica e cultural na
qual o homem está inserido, ou seja,
conhecimento e transformação da
realidade são exigências recíprocas.
Assim sendo, todo ato pedagógico em
Freire é um ato político, assim como
a comunicação é uma relação social,
uma prática social transformadora e
eminentemente política.
Freire (1983, p. p. 94-97),
aponta matrizes necessárias para conquistar ou chegar à práxis através do
diálogo. São elas:
•O amor ao mundo e aos homens como um ato de criação e recriação.
•A humildade, como qualidade compatível com o diálogo.
•A fé, como algo que se deve
instaurar antes mesmo que o diálogo
aconteça, pois o homem precisa ter fé
no próprio homem. Não se trata, aqui,
de um sentimento que fica no plano
divinal, mas de um fundamento que
creia no poder de criar e recriar, fazer
e refazer, através da ação e reflexão.
•A esperança, que se caracteriza pela espera de algo que se luta.
•A confiança, como consequência óbvia do que se acredita enquanto se luta.
•A criticidade, que percebe a
realidade como conflituosa e inserida
num contexto histórico que é dinâmico.
É sobre esta base que Paulo Freire enfatiza o ato pedagógico,
como uma ação que não consiste em
comunicar o mundo, mas criar, dialogicamente, um conhecimento do
mundo, isto é, o diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade
e a aprofundar a sua tomada de consciência sobre ela até perceber qual
será sua práxis na realidade opressora
para desnudá-la e transformá-la. Neste sentido, é que, através do diálogo,
a relação educador/educando deixa
de ser uma doação ou imposição, mas
uma relação horizontal, eliminando as
fronteiras entre os sujeitos.
Educação problematizadora
x educação bancária
Freire não se limitou a analisar
como são a educação e a pedagogia,
mas mostra uma teoria de como elas
devem ser compreendidas teoricamente e como se deve agir através de
uma educação denominada libertadora. Para ele, educação é um encontro
entre interlocutores, que procuram, no
ato de conhecer, a significação da realidade e, na práxis, o poder da transformação. Entende-se por pedagogia
em Freire, a ação que pode e deve ser
muito mais que um processo de treinamento ou domesticação; um processo
que nasce da observação e da reflexão
e culmina na ação transformadora.
Em oposição à Pedagogia do
diálogo, Paulo Freire desnuda a concepção bancária de educação; é uma
crítica à educação que existe no sistema capitalista. Nessa concepção:
“O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que sabe; os educandos, os
que não sabem; o educador é o que
pensa; os educandos, os pensados;
o educador é o que diz a palavra; os
educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; o
educador é o que opta e prescreve sua
opção; os educandos os que seguem a
prescrição; o educador é o que atua;
os educandos, os que têm a ilusão de
que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, se
acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua
autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às
determinações daquele; o educador,
finalmente, é o sujeito do processo; os
educandos, meros objetos” (Freire,
1983, p.68).
Este desnudamento serve de
premissa para visualizar o poder do
educador sobre o educando e, como
consequência, à possibilidade de formar sujeitos ativos, críticos e não domesticados. A educação bancária se
alicerça nos princípios de dominação,
de domesticação e alienação transferidas do educador para o aluno através do conhecimento dado, imposto,
alienado.
De fato, nessa concepção, o conhecimento é algo que, por ser imposto, passa a ser absorvido passivamente: “Na visão ‘bancária’ da educação,
o ‘saber’ é uma doação dos que se
julgam sábios aos que julgam nada
saber. Doação que se funda numa das
manifestações instrumentais da ideologia da opressão - a absolutização
da ignorância, que constitui o que
chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra
sempre no outro” (Id. p. 67).
Como se vê, a opressão é o cerne da concepção bancária. Para analisar esta concepção que se fundamenta
no antidiálogo, Freire (1983) apresenta características que servem à opressão. São elas: a conquista, a divisão, a
manipulação e a invasão cultural.
•Conquista - a necessidade de
conquista se dá desde “as mais duras
às mais sutis; das mais repressivas às
mais adocicadas, como o paternalismo” (p.162).
•Divisão - “na medida em que
as minorias, submetendo as maiorias
a seu domínio, as oprimem, dividi-las
e mantê-las divididas são condições
indispensáveis à continuidade de seu
poder” (p.165).
•Manipulação - “através da
manipulação, as elites dominadoras
vão tentando conformar as massas
populares a seus objetivos. E quanto
mais imaturas politicamente estejam,
tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que
não podem querer que se esgote seu
poder” (p.172).
•Invasão cultural - “a invasão
cultural é a penetração que fazem os
invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão de
mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão”
(p.178).
Ao contrário da educação libertadora, a concepção bancária de educação não exige a consciência crítica
do educador e do educando, assim
como o conhecimento não desvela os
porquês do que se pretende saber. Eis
porque a educação bancária oprime,
negando a dialogicidade nas relações
entre os sujeitos e a realidade. Educação, para Freire, é libertação. Nesta
concepção, o conhecimento parte da
realidade concreta do homem e este
reconhece o seu caráter histórico e
transformador. Freire ressalta a necessidade de o homem entender sua
vocação ontológica, como ponto de
partida para se obter, nessa análise,
uma consciência libertadora, isto é, o
homem só chegará à consciência do
seu contexto e do seu tempo na relação dialética com a realidade, pois
só desta maneira terá criticidade para
aprofundar seus conhecimentos e tomar atitudes frente a situações objetivas.
O comprometimento com a
transformação social é a premissa da
educação libertadora. Libertação que
não é só individual, mas principalmente coletiva, social e política. O
ponto de partida do pensamento de
Paulo Freire se dá a partir da visão de
uma realidade onde o homem já não
era sujeito de si próprio, ou como ele
mesmo se referia, se “coisificava”,
anulando o sentido de sua vocação
ontológica, ou seja, deixa de ser sujeito de seu agir e de sua própria história. Por essa análise, em Pedagogia
do oprimido, a dialogicidade como
essência da educação libertadora
Freire aponta características necessárias para que se concretize. São elas: a
colaboração, a união, a organização e
a síntese cultural.
•Colaboração - a ação dialógica só se dá coletivamente, entre
sujeitos, “ainda que tenham níveis
distintos de função, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação” (p.197).
•União - a classe popular tem
de estar unida e não dividida, pois
significa “a união solidária entre si,
implica esta união, indiscutivelmente,
numa consciência de classe” (p.205).
•Organização - “[...] é o momento altamente pedagógico, em que
a liderança e o povo fazem juntos o
aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como
um só corpo, buscam instaurar, com
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a transformação da realidade que os
mediatiza” (p.211).
•Síntese cultural - consiste “na
ação histórica, se apresenta como
instrumento de superação da própria
cultura alienada e alienante”. “[...]
faz da realidade objeto de sua análise
crítica” (p. p. 214 -215).
Por essa ótica, o modelo de
educação proposto por Paulo Freire
se diferencia da educação tradicional,
pois abomina, dentre outras coisas, a
dependência dominadora, que inclui,
entre outras, a relação de dominação
do educador sobre o educando. Na
ação educativa libertadora, existe uma
relação de troca horizontal entre educador e educando exigindo-se, nesta
troca, atitude de transformação da
realidade conhecida. É por isso que a
educação libertadora é, acima de tudo,
uma educação conscientizadora, na
medida em que além de conhecer a realidade, busca transformá-la, ou seja,
tanto o educador quanto o educando
aprofundam seus conhecimentos em
torno do mesmo objeto cognoscível
para poder intervir sobre ele.
Neste sentido, quanto mais
se articula o conhecimento frente ao
mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar respostas, e,
consequentemente, quanto mais incitados, mais serão levados a um estado
de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Esta relação dialética é cada vez mais incorporada na
medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo.
Bibliografia
FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sérgio. Sobre educação: diálogos. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982.
educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1993.
_______. Pedagogia do oprimido. 13.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
_______. Educação como prática da
liberdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1979.
_______. Conscientização: teoria e
prática da libertação. São Paulo: Moraes, 1999.
http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/
paulofreire/principal.jsp.Acesso
em:30 de julho 2011.
Contatos:
[email protected]
[email protected]
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
SALA
DE
AULA
- ESPAÇO DE APRENDIZAGENS MÚTUAS Cleidson Carneiro Guimarães é engenheiro civil, especialista em Astronomia, mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências,
coordenador dos cursos de Engenharia Mecânica, Elétrica e Civil do Senai (Feira de Santana-BA).
Uma reflexão, sempre oportuna, sobre o pensamento de Paulo Freire no que diz respeito às leituras do mundo
feitas pelos alunos.
Não é tarefa simples retomar
as reflexões daquele que considerou
a construção do conhecimento como
um processo de construção social no
qual ninguém constrói saberes sozi-
16
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
nho, mas na interação com o outro.
Ainda hoje há incompreensão, por
parte de alguns professores, quando Paulo Freire (1996) afirma que
“ninguém ensina ninguém e ninguém
aprende sozinho. As pessoas aprendem em comunhão.” Não são raros os
momentos em que ouvimos o professor repetir esta expressão ou afirmar,
em sala de aula, que não veio só ensi-
Segundo ele
“ (Paulo
Freire),
a nossa leitura
de mundo não
começa na escola
nem termina nela.
“
Para Paulo Freire (1988), o
conhecimento tem uma fronteira muito mais extensa. Segundo ele, a nossa
leitura de mundo não começa na escola nem termina nela. Antes de aprender a ler as palavras, aprendemos a ler
o mundo. É por meio da nossa leitura
do mundo que aprendemos a ler as
palavras e, depois, por meio da razão,
utilizamos as palavras para expressar
o mundo. Nessa perspectiva, os alunos que chegam à escola trazem leituras de mundo muito mais extensas do
que os limites das disciplinas impostos pela escola.
Se a compreensão do educador apresenta essa sensibilidade defendida por Paulo Freire, então, no
diálogo com sua turma, ele aprenderá:
•os valores construídos por
seus alunos em grupo;
•como eles interpretam os fenômenos ensinados em sua matéria;
•como lidar com pessoas em
grupo, liderar, motivar e inspirar
aprendizes;
•a estabelecer regras para o
bem comum;
•a habilidade de escutar;
Arquivo Konvyt
nar, mas, também, aprender. Todavia,
o professor, muitas vezes, não sabe ao
certo o que irá aprender com seus alunos e frequentemente ouve-se: “Afinal, o que vou aprender com o meu
aluno?” “Vou ensinar Química e sou
especialista na matéria, então o que
o meu aluno tem a me ensinar acerca
desta ou de outra disciplina?”
Certamente, quando Paulo
Freire afirma que a interação ensino/
aprendizagem não tem apenas um
sentido, originando-se no professor
e direcionado ao aluno, ele tem uma
compreensão de conhecimento muito
mais vasta do que o da disciplina que
o professor leciona. Se o educador
compreende que conhecimento
é apenas aquele expresso pelo
livro didático e presente no
currículo escolar, então poderá concluir que ele aprende
pouco com os seus alunos,
afinal, uma vez ou outra,
um deles lhe traz uma informação sobre a disciplina a qual ele ainda não
conhece.
AMAE educando - 382 . Setembro . 2011
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•a argumentar com base
nas ideias do outro;
•a gerenciar conflitos.
Os pontos destacados
podem ser considerados como
conteúdos? São competências
e habilidades importantes à
ação docente? Não pretendo
completar esta lista ou tecer
respostas aos questionamentos, mas trazê-las à reflexão,
no intuito de contribuir com o
educador para compreender a
sala de aula como um espaço
de construção de saberes que
jamais é unilateral, mas de mão
dupla. Nesse sentido, concordo com Cesar Coll (2000) ao
apontar que a escola deve ser
conteudista, pois o problema
não está no conteúdo, mas na
compreensão que temos acerca
deles. Portanto, a crítica não
está no conteúdo, mas na compreensão do que é ou não conteúdo. É ne-
Nina Alexandrina
de não ter aprendido nada, enquanto os aprendizes trazem
várias lições de vida e estão
dispostos a ensinar. Cabe-nos
ouvi-los e extrair deles o que
há de melhor e que possa nos
fazer viver mais felizes.
Bibliografia
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
autonomia: saberes necessários
à prática educativa. 18.ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. A importância
do ato de ler: em três artigos
que se completam. São Paulo:
Cortez, 1988.
Jovens portadores de “leituras” que vão além
das exigidas pela escola
cessário redimensionar o nosso entendimento ou, então, passaremos a vida
inteira na escola e teremos a sensação
COLL, César. Os conteúdos na
reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
CONVERSA COM O LEITOR
Prezado leitor, nós, da redação, criamos um espaço nas páginas de AMAE Educando para que você tenha voz.
Comunique-se conosco manifestando sua opinião.
[email protected] - (31) 3224-5400 - Av. Bernardo Monteiro, 861 - Sta. Efigênia - BH - MG - CEP: 30150-281
Fiquei encantada e tão feliz com
meu conto publicado na edição nº 380,
como se fosse a primeira vez que vocês
publicam trabalhos meus. Nossa revista
está cada vez mais rica de ensinamentos
e colaboração para o crescimento das escolas no Brasil. Que Deus abençoe todas
vocês! Um grande abraço.
ciso da edição 294, não consegui acessar
esta adição no site.
Obrigada.
Natália (por e-mail)
Maria Luísa Amorim (Brasília-DF)
A edição 294 (set.2000) está esgotada. Outros números mais recentes
podem ser obtidos pelo telefone (31)
3224-5400.
Gostaria de saber como posso conseguir uma edição antiga da revista. Pre-
Agradeço, sinceramente, a gentileza do envio da revista AMAE Educando
nº 381, de agosto de 2011. Expresso os
meus cumprimentos pela excelente qualidade da revista. Parabenizo toda a equipe
de brilhantes profissionais envolvidos
na preparação desse trabalho tão importante. Gentileza transmitir meus especiais
cumprimentos à Bárbara Diniz, aluna do
UniBH e estagiária de Jornalismo da revista. Parabéns! Obrigada e um grande
abraço.
Sueli Maria Baliza Dias
Reitora do UniBH (Belo Horizonte-MG)
Atenção ao novo e-mail da Fundação Amae: [email protected]
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44 ANOS ACOMPANHANDO O EDUCADOR