Competências Operacionais Cumulativas em Empresas Brasileiras
Autoria: Luiz Artur Ledur Brito, Marcia Regina Santiago Scarpin, Ely Laureano Paiva
Resumo
O objetivo deste estudo é analisar o efeito cumulativo das competências operacionais em
empresas brasileiras. Para tanto, foi realizada uma pesquisa quantitativa com 160
respondentes de empresas de diversos ramos de atividades. Empregou-se a técnica de
Regressão Linear Múltipla. Como principais resultados, observaram-se quatro grupos de
competências cumulativas, o primeiro: qualidade como variável dependente, entrega e
inovação como variáveis independentes; o segundo, flexibilidade como variável dependente e
inovação como variável independente; o terceiro, custo como variável dependente, qualidade
e inovação como variáveis independentes, e o quarto, inovação como variável dependente,
flexibilidade e custo como variáveis independentes.
1 INTRODUÇÃO
A discussão sobre prioridades competitivas inicia-se com Skinner (1969) em que o
autor relata que as empresas precisam estabelecer quais são seus critérios de sucesso. Para o
autor, o sistema de produção inevitavelmente envolve definir em quais critérios competitivos
a empresa concentrará seus esforços organizacionais para se diferenciar de seus concorrentes
e ganhar vantagem competitiva, não sendo possível obter alto nível de competição em vários
critérios competitivos e, ainda, possuir o menor custo de fabricação simultaneamente
(Schmenner & Swink, 1998). Hayes e Wheelwright (1984) acredita ser arriscado, a empresa
tentar competir em todas as dimensões já que poderia acabar sendo a segunda melhor em cada
uma delas, visto que outras empresas estariam dedicando mais recursos em uma específica
dimensão, desenvolvendo vantagem competitiva sobre ela.
Complementarmente ao trabalho seminal de Skinner (1969), Wheelwright (1984)
estabelece os critérios competitivos que orientam a estratégia a ser seguida pela área de
operações, sendo eles custo, qualidade, confiabilidade e flexibilidade. Uma das vantagens na
definição dos critérios competitivos é compreender seus reflexos nas decisões estruturais e
táticas da organização, pois uma vez definidos, o papel da produção é gerenciá-los e reforçálos.
Porém, considerando o advento da tecnologia, Ferdows & De Meyer (1990)
alertaram sobre a complexidade da relação entre trade-offs e competências operacionais. Para
os autores, dependendo da complexidade das competências, estas podem se alterar ou mesmo
reforçar umas as outras, tornando-se cumulativas. O trabalho seminal de
Ferdows e De Meyer (1990) apresentam as competências cumulativas fazendo uma metáfora
a um cone de areia, elas seriam desenvolvidas de forma sequencial, em que uma reforçaria a
outra e as organizações deveriam considerar dois fatores: (i) a competência mais baixa teria
que estar bem desenvolvida para passar a focar na próxima, dentro da sequência e; (ii)
passando para a próxima, o foco não deviria ficar só nela, mas também continuar a
desenvolver as competências anteriores. Isto aconteceria ao longo de toda a sequência, assim
seria possível que a organização não só desenvolvesse diversas competências ao mesmo
tempo, mas também que elas fossem duradouras. Com isso, uma vez que a qualidade fosse
estabelecida, as demais competências iriam ocorrendo simultaneamente. Essa sequência
estabelecida pelos autores é denominada o modelo do ‘cone de areia’ e inicia-se pela
qualidade, segue para entrega, flexibilidade e finaliza com custos.
As competências cumulativas da área de operações permite que organizações
desenvolvam vantagens duradouras frente aos seus concorrentes. Ferdows e De Meyer (1990)
mostraram que plantas que desenvolvem a qualidade e a cofiança de entrega, respondem mais
rápido ao mercado e ainda conseguem obter menores custos. Os achados dos autores aliados
ao desempenho das empresas japonesas da década de 80 reforçam a discussão da
possibilidade de as organizações desenvolverem competências de forma cumulativa.
No início, as pesquisas sobre competências operacionais focavam em comprovar seu
efeito cumulativo. Com o passar dos anos, a questão passou a ser a existência ou não de uma
sequência ideal para compor as competências. Deesde a apresentação do modelo cone de areia
proposto por Ferdows & De Meyer (1990), diversos autores tais como Noble (1995); Flynn &
Flynn (2004); Schoroeder, Shah & Peng (2011) buscam responder a esta questão.
Outra questão apontada pela literatura, é a relação das competências operacionais
com o ambiente macroeconômico, nesse sentido, Schoenherr et al. (2012) conduziram
pesquisas em países industrializados, emergentes e em desenvolvimento, e concluíram que em
2 países industrializados, mesmo sendo consideradas importantes para manter a vantagem
competitiva, as competências operacionais já alcançaram um nível de maturidade, possuindo
menos valor como recurso valoroso, raro e inimitável. Contrastando com o que ocorre nos
países menos desenvolvidos, em que a assimetria de informação é elevada e, empresas que
conseguem desenvolver adequadamente suas competências operacionais criam e sustentam
vantagem competitiva, impactando no desempenho de seu negócio.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é analisar o efeito cumulativo das
competências operacionais em empresas brasileiras.
O texto está estruturado em cinco seções. Na introdução são apresentadas a
contextualização do trabalho, a problematização, o objetivo e a justificativa da pesquisa. Em
seguida, será apresentado o referencial teórico que servirá de base para a discussão dos
resultados. A terceira parte contém os aspectos metodológicos e a caracterização da população
de pesquisa. As etapas, quatro e cinco, contêm a discussão de resultados e as considerações
finais, respectivamente.
2.
DEFINIÇÕES CONCEITUAIS
Esta seção apresentará a evolução das competências cumulativas, bem como sua
operacionalização em estudos empíricos.
2.1 Competências cumulativas
O modelo de competências cumulativas surgiu como uma alternativa a teoria de
trade-off (Skinner, 1969). Porém, na década de 80, as empresas Japonesas começam a atingir
altos desempenhos focando em mais de uma competência ao mesmo tempo (Schroeder, Shah
& Peng, 2011). Na década seguinte, Ferdows & De Meyer (1990) questionaram a lei do
trade-off alertando sobre a complexidade da relação que envolvem as competências
operacionais, alertando sobre a possibilidade de alterar ou mesmo reforçar umas as outras.
Assim, uma vez que a qualidade é estabelecida, as demais competências vão ocorrendo
simultaneamente. Desta forma, a sequência estabelecida pelos autores denominada o modelo
do ‘cone de areia’ inicia-se pela qualidade, segue para entrega, flexibilidade e finaliza em
custos, conforme visualizado na Figura 1.
Custo
Flexibilidade
Entrega
Qualidade
Figura 1 – Modelo Cone de Areia
Autores: Ferdows and De Meyer (1990)
Ressalta-se que os autores em nenhum momento negam a existência de trade-offs,
mas sim, propõem que a melhoria de uma competência pode impactar na evolução de outra, e
assim sucessivamente.
3 Conforme Figura 1, o modelo do cone de areia demonstra que a melhora no
desempenho em qualidade é uma pré-condição para todas as outras competências da área de
manufatura, instalada na base do modelo. Uma vez que os esforços na melhoria da qualidade
ocorrer e continuar se expandindo, o foco deve se em um processo de produção mais
confiável (entrega). A seguir, a preocupação deve ser na melhoria da velocidade (o quão
rápido a produção pode responder a demandas de novos consumidores, mudando volume de
produção, introdução de novos produtos etc.). Seguidas, finalmente da eficiência de custo.
Com isso, a melhoria de custo seria mais duradoura e a companhia desfrutaria de uma
melhora no desempenho em qualidade, entrega, flexibilidade e custo, simultaneamente. (De
Meyer, 1990).
2.2 Evolução do conceito de competências cumulativas
Uma questão muito discutida é se existe uma sequência ideal para compor as
competências operacionais. Desde a apresentação do modelo cone de areia proposto por
Ferdows & De Meyer (1990) no qual a sequência ideal para desenvolvimento das
competências cumulativas seguia a ordem de qualidade, entrega, flexibilidade e custo,
diversos autores tais como Noble (1995); Flynn & Flynn (2004); Schoroeder, Shah & Peng
(2011), buscam responder se esta pode ser considerada uma sequência universal ou mesmo se
existe uma única ou ideal sequência para o modelo, porém, até o momento não se conseguiu
um consenso sobre o assunto. Um dos motivos esta relacionado ao ambiente competitivo que
a empresa encontra-se estabelecida.
A escolha estratégia das empresas localizadas em diferentes países tende a
influenciar a sequência do modelo (Noble, 1995). Flynn & Flynn (2004) relatam que a
competição global em que as empresas estão inseridas inevitavelmente afetará a forma como
as mesmas acumulam suas competências operacionais, levando diferentes países a iniciativas
estratégicas distintas. Os fatores contingenciais dificultam uma sequência ideal, pois
contingências ambientais interferem nos padrões das competências cumulativas. Além disso,
o tipo de indústria em que a empresa está inserida poderá diferenciar os seus fatores
competitivos, alterando também esta sequência.
Flynn & Flynn (2004), no entanto, não pretendem dizer quer não exista uma
sequência ideal que gere vantagem competitiva, mas que ela dependerá das diferenças
contingenciais e que será muito improvável a mesma sequência consiga atender todas as
circunstâncias geradas pelo mundo organizacional. Mesmo assim, os autores encontraram
uma forte evidência linkando competência cumulativa e desempenho da fábrica, entendo ser
importante o acumulo das competências, mas não necessariamente na sequência proposta por
Ferdows & De Meyer (1990), não podendo este ser considerado um fenômeno universal.
Schoroeder, Shah & Peng (2011) também testaram o modelo cone de areia em 189
empresas e chegaram a resultados similares ao Flynn & Flynn (2004). Os autores concluíram
que nem todas as empresas seguem o modelo proposto, e que a sequência estaria ligada as
escolhas estratégicas, bem como aos fatores contingenciais (teoria da contingência) inerentes
de cada empresa. Ainda, segundo os autores quando considerado a intensa competitividade e
o avanço da tecnologia de produção, as competências cumulativas são adequadas (Noble,
1995, Schoroeder, Shah & Peng, 2011). Mas, quando a produção esta próxima da fronteira de
eficiência, particularmente quando ela é estática, a teoria de trade-off é mais apropriada.
Corroborando com a ideia de Schoroeder, Shah & Peng (2011), Schmenner & Swink
(1998, p. 107) afiram que trade-offs e competências cumulativas são duas propostas distintas.
Trade-offs ocorrem na comparação entre plantas em um determinado ponto no tempo,
enquanto as competências cumulativas é prognosticada no melhoramento dentro das fábricas
ao longo do tempo. Portanto, não são conflituosas.
4 As competências operacionais são únicas, não facilmente imitáveis e de difícil acesso
pelos concorrentes, por ser gerada de uma forma não padronizada e idiossincrática
(Schroeder, Bates & Junttila, 2002). Estudos sobre as competências operacionais no ambiente
interno da firma são recorrentes, mas Swink & Way (1995) identificaram uma lacuna de
estudo sobre como as contingências ambientais afetam as competências cumulativas. Com
objetivo de verificar esta relação Flynn & Flynn (2004) realizam uma pesquisa em 165
fábricas de 5 países diferentes, em que identificaram diferenças nos padrões das competências
cumulativas entre países, indicando que as contingências ambientais aliadas as escolhas
estratégicas interferem na sequência em que as mesma serão relacionadas. Este foi um dos
diversos estudos sobre competências em países industrializados, pois muito se discute sobre
sua formação ou uma sequência ideal para elas, porém, pesquisas vêm negligenciando o
contexto dos países em desenvolvimento e emergentes (Schoenherr et al., 2012).
Pesquisa realizada em países industrializados - Australia, Austria, Canada, Finlândia,
Alemanha, Irlanda, Itália, Suécia, Suíça e EUA, emergentes - Brasil, China, Hungria, Coreia
do Sul, Mexico, Polônia e Taiwan, e em desenvolvimento - Albania, Ghana, Macedonia e
Nigeria, Schoenherr et al. (2012) observaram que em países industrializados, mesmo sendo
consideradas importantes para manter a vantagem competitiva, as competências já alcançaram
um nível de maturidade na natureza das competências e com isso elas possuem menos
importância como um recurso valoroso, raro e inimitável. Contrário ao que ocorre nos países
menos desenvolvidos, em que ainda elas são consideradas como um recurso poderoso e pode
servir como salto qualitativo no desenvolvimento sócio econômico ambiental. Nestes países a
influência das quatro competências operacionais - qualidade, entrega, flexibilidade e custo –
possuiu um impacto maior sobre o desempenho do negócio da fábrica. Estes achados
demostram que os decision makers precisam considerar questões locais dessa natureza para
apoiarem suas decisões estratégicas.
2.3 Estudos sobre competências cumulativas
Evidências apoiando ou contestando o modelo do cone de areia são encontradas nos
estudos de Kathuria (2000), Corbett e Whybark (2001), Rosenzweig e Roth (2004), Größler e
Grübner (2006), Amoako-Gyampah e Meredith (2007), Hallgren, Olhager e Schroeder
(2011), Liu, Roth e Rabinovich (2011), Schoenherr et al. (2012).
Corbett e Whybark (2001) comparando empresas de alto e baixo desempenho,
concluíram que ambas, ainda que as de alto desempenho apresentem maiores níveis de gestão,
seguem a mesma sequência do modelo do cone de areia. No mesmo sentido, Rosenzweig e
Roth (2004) e Größler e Grübner (2006) apresentaram evidências empíricas de que as
competências cumulativas acontecem de forma progressiva, e que individualmente, elas
podem afetar indiretamente umas as outras, como no caso da qualidade que afetou
positivamente a flexibilidade.
Por outro lado, Kathuria (2000) apresentou três clusters de competências
cumulativas. O chamado ‘Efficient Conformers’ que apresenta uma ênfase significativa em
custo e qualidade. O ‘Speedy Conformers’ que foca igualmente em entrega e qualidade e, por
fim o ‘Do All’ que se apresenta atuante nas quatro competências operacionais.
Diferenças na sequência do modelo também foram encontradas nos estudos de
Hallgren, Olhager e Schroeder (2011), os autores desenvolveram um modelo híbrido, no qual
a qualidade é base para a entrega, mas que a partir deste ponto poder-se-ia desenvolver tanto
flexibilidade quanto custo, não necessariamente nesta mesma ordem, mas sim de forma
paralela.
Ao considerar o fator contingencial no impacto do efeito cumulativo, AmoakoGyampah e Meredith (2007) testaram o modelo do cone de areia em Gana. Os resultados
5 encontrados suportaram o modelo, porém, com uma altercação significante em sua sequência.
Na base do modelo foi identificada a qualidade seguida de custo e, no topo, entrega
acompanhando flexibilidade. Segundo os autores, a diferença é recorrente das condições
econômicas do país, no qual o custo é um dos principais componentes estratégicos para as
empresas instaladas no país.
Para comparar o comportamento das competências operacionais por grupos de
países, Schoenherr et al. (2012) conduziram uma pesquisa em países industrializados,
emergentes e em desenvolvimento. Os principais resultados identificaram que em países
industrializados, mesmo consideradas importantes, as competências já alcançaram um nível
de maturidade possuindo menos importância como fonte de vantagem competitiva, contrário
ao que ocorre nos países menos desenvolvidos, em que elas ainda são consideradas um
recurso valioso e pode servir como salto qualitativo no desenvolvimento sócio econômico do
país.
A partir dos estudos analisados, percebe-se que o cone de areia não é um modelo
universal. Por exemplo, Schroeder, Shah e Peng (2010) demonstraram que 33% de sua
amostra não seguiram o modelo cumulativo, enquanto que 67% poderiam futuramente
desenvolvê-lo. Além disso, Liu, Roth e Rabinovich (2011) defendem que o modelo
cumulativo e de trade-off não são excludentes, podendo ambos serem evidenciados no mesmo
processo operacional, só que em tempos diferentes, no caso do modelo cumulativo ligados a
boas práticas operacionais e no de trade-off relacionado a fronteira de desempenho no ciclo de
inovação.
2.4 Competências cumulativas e desempenho
Tracey, Vonderembse & Lim (1999) demonstraram que altos níveis de competências
operacionais levam a um melhor desempenho, mediados pela satisfação do cliente e pelo
desempenho de marketing. Kathuria (2000) enfatizou que empresas que utilizam as quatro
prioridades competitivas há mais tempo possuem melhor desempenho na satisfação do cliente
do que as iniciantes. Flynn & Flynn (2004) encontraram evidencias que competências
cumulativas estão relacionadas ao desempenho da fábrica. Staughton & Johnston (2005)
concluíram que os critérios tradicionais de desempenho operacional precisam ser ampliados
para “formas de trabalho” e “ambiente competitivo”. Pen, Schroeder & Shah (2008)
sugeriram que o conjunto interno de rotinas – também consideradas competências – está
positivamente relacionado ao desempenho operacional, sendo este conjunto de difícil imitação
e, portanto, fonte de vantagem competitiva para a organização. E finalmente, Avella,
Vazquez-Bustelo & Fernandez (2011) identificaram que as competências de manufatura
podem acontecer de forma progressiva sem incompatibilidades ou trade-offs. Mais
especificamente, foi encontrada uma relação direta, positiva e significativa entre qualidade e
entrega. No mesmo sentido, resultados similares foram observados para as outras relações
diretas entre as competências. Outro ponto foi que a pesquisa suportou a hipótese de que a
flexibilidade tem um efeito direto, positivo e significativo em relação à proteção ambiental, o
que ocorreu também com relação a essas práticas e custo. Por último, os resultados indicaram
que as competências não adjacentes têm um efeito indireto em suas subsequentes, reforçando
a sequência do cone de areia.
3.
METODOLOGIA
Este estudo se caracteriza como uma pesquisa quantitativa com natureza descritiva.
6 3.1 Desenvolvimento do instrumento
O desenvolvimento do instrumento de coleta de dados foi baseado numa revisão
detalhada da literatura por um grupo de pesquisadores nos principais periódicos da área. Os
artigos selecionados passaram por uma avaliação em seus abstracts a fim de retirar aqueles
que não abordavam o tema operation capability. Permaneceram 89 (oitenta e nove) artigos, os
quais passaram por uma nova avaliação, restando 31artigos que foram analisados em detalhes,
considerando suas referencias, seus construtos e suas métricas. As etapas seguintes passaram
por purificação, incluindo Q-sort. No final ficaram 06 itens com 4 perguntas cada.
A população deste estudo são as indústrias brasileiras de transformação, definida a
partir da tabela do CNAE de três dígitos. Foram 500 empresas contatadas por telefone, com
uma amostra de 160 respostas. Os setores investigados foram: Abate e preparação de produtos
de carne; Moagem, fabricação de produtos amiláceos; Fabricação e refino de açúcar;
Fabricação de outros produtos alimentícios; Fabricação de bebidas; Tecelagem - inclusive
fiação e tecelagem; Confecção de artigos do vestuário; Fabricação de produtos de madeira,
cortiça; Fabricação de papel, papelão liso, cartolina; Edição; edição e impressão; Produção de
álcool; Fabricação de produtos farmacêuticos; Fabricação de produtos e preparados químico;
Fabricação de produtos de plástico; Fabricação de produtos cerâmicos; Produção de ferrogusa e de ferroligas; Fabricação de produtos diversos de metal; Fabricação de máquinas e
equipamentos; Fabricação de peças e acessórios para veículos; Fabricação de artigos do
mobiliário.
O viés de não-respondente foi avaliado pela ANOVA para cada item, comparando a
primeira metade dos respondentes com a segunda metade, sendo encontrados resultados
satisfatórios (Armstrong & Overton, 1977).
3.2 Variância comum ao método
Para reduzir a ameaça da variância comum ao método, conforme Podsakoff e outros
(2003) foram adotadas as seguintes medidas: assegurou-se o anonimato e confidencialidade
dos entrevistados; foram utilizadas diferentes escalas para as variáveis dependentes e
independentes, foi aplicado o método Q-Sort para reduzir a ambiguidade dos itens e o teste de
fator único de Harman (Podsakoff & Organ, 1986), realizando-se uma análise fatorial em
todos os itens para ver se existe um fator geral. Foram encontrados sete fatores com
eigenvalue maior que 1(um) e o primeiro fator explicou apenas 33,1% da variância total.
4.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Modelos de mensuração
A análise descritiva dos itens não demonstrou desvios relevantes da normalidade
univariada. O índice de assimetria variou de -0,523 a 0,722, e o de curtose entre -0,892 e
0,389. Kline (2005, p. 49, 50) sugere valores máximos permitidos de 3 e 10 para assimetria e
curtose respectivamente, portanto, os dados deste estudo se mostram dentro de um padrão de
normalidade.
Medidas de ajuste absoluto foram empregadas nas dimensões selecionadas, tais como
Qui-quadrado da razão de verossimilhança (χ2) e a raiz do resíduo quadrático médio, com a
finalidade de certificar a representação adequada do conjunto inteiro de relações causais.O
valor do Qui-quadrado de 260,841, com 179 graus de liberdade, é estatisticamente
significante no nível de 0,000. O que se busca é um valor de Qui-quadrado não significativo,
dado que H0 indica que os dados se ajustam ao modelo. Porém, é possível dividir o valor Qui7 quadrado pelos graus de liberdade (χ²/GL) resultando no valor de 1,45, medida esta menor
que 3 e por isso aceitável conforme Kline (2005).
Também foram realizadas medidas de ajuste incremental (RMSEA, CFI, IFI e NFI) a
fim de demonstrar os níveis de qualidade de ajuste do modelo. As cargas de todos os
indicadores em seus respectivos construtos foram positivas e estatisticamente significativas (p
< 0,001). Os baixos valores das correlações entre as variáveis latentes sugerem validade
discriminante e convergente. O bom ajuste do modelo e o processo de geração do instrumento
fundamentado na literatura específica indicam a unidimensionalidade dos construtos e
contribuem para a validade de conteúdo.
Considerando o ajuste do modelo e a precisão na escolha dos itens, pode-se afirmar
que as escalas são validadas e confiáveis, garantindo que as escalas utilizadas representam
adequadamente os construtos latentes. Os dados foram analisados por meio de Regressão
Linear Múltipla, com a utilização do software estatístico SPSS (Statistical Package for the
Social Sciences) versão 22. A seguir serão detalhados os dados da pesquisa.
4.2 Análises dos resultados
Tabela 1 - Dados da empresa
Tamanho da empresa
Frequência
Percentual
com até 19 empregados
6
3.75%
De 20 a 99 empregados
72
45%
De 100 a 499 empregados
79
49.38%
Mais de 500 empregados
3
1.87%
160
100%
Total
Fonte: dados da pesquisa
A Tabela 1 demonstra que a maioria dos respondestes pertencem a empresas de 20 a
99 empregados (45%) e de 100 a 499 empregados (49,38%), pode-se concluir pelos dados
apresentados que amostra é predominantemente de pequenas e médias empresas. A Tabela 2
apresenta dos dados dos respondentes.
Tabela 2 - Dados dos respondentes
Cargo
Frequência
Percentual
Presidente
0
0%
Diretor
38
23.8%
Gerente Geral
2
1.3%
Gerente de produção
31
19.4%
Gerente industrial
89
55.5%
Total
160
100,0%
Fonte: dados da pesquisa
Conforme mostra a Tabela 2, a maioria dos entrevistados é classificada como
gerentes de produção e/ou industrial (74,9%). Em segundo lugar, com 23,8% encontram-se os
8 de posição de diretoria. Esse é um aspecto importante, uma vez que são cargos de liderança e
poder de decisão no processo operacional.
Tabela 3 - Tempo de trabalho na empresa
Tempo de trabalho na empresa
Frequência
Percentual
Até 2 anos
17
10.62%
2.1 – 3.0
7
4.37%
3.1 – 5.0
14
8.75%
5.1 – 10.0
28
17.5%
Mais que 10.0
94
58.76%
Total
160
100%
Fonte: dados da pesquisa
O tempo de trabalho na empresa é representado pela Tabela 3. O que se observa é
que os entrevistados, em sua maioria, são funcionários antigos, com 58,76% com mais de 10
anos de atuação e, 17,5% entre 5 e 10 anos.
Tabela 4 - Tempo no cargo
Tempo no cargo
Frequência
Percentual
Até 2 anos
46
28.75%
2.1 – 3.0
17
10.62%
3.1 – 5.0
25
15.62%
5.1 – 10.0
34
21.25%
Mais que 10.0
38
23.76%
Total
160
100%
Fonte: dados da pesquisa
Com relação ao tempo no cargo, a amostra de respondentes se manteve equilibrada,
pode-se inferir que ainda que os respondentes tenham alto índice de tempo de casa, quase que
metade deles está ocupando suas funções há pouco tempo.
Tabela 5 - Tempo no setor de atuação
Tempo no setor de atuação
Frequência
Percentual
Até 2 anos
2
1.25%
2.1 – 3.0
2
1.25%
3.1 – 5.0
7
4.37%
5.1 – 10.0
23
14.37%
Mais que 10.0
126
78.76%
Total
160
100%
Fonte: dados da pesquisa
9 Entretanto, mesmo com pouco tempo no cargo (Tabela 4), a Tabela 5 indica que os
entrevistados possuem mais que 10 anos de atuação no setor, demonstrando que os
funcionários possuem experiência no setor em que atuam, habilitando-os para responder esta
pesquisa.
Tabela 6 - Médias, desvios padrões e correlações
Mean
SD
qualidade
entrega
flexib.
custo
qualidade
4.03
0.64
entrega
3.65
0.81
0.509**
flexibilidade
3.57
0.57
0.487**
0.283
custo
3.10
0.55
0.303*
0.232
0.199
inovacao
3.15
0.60
0.518**
0.331*
0.720**
inovacao
0.347*
Fonte: dados da pesquisa
*p<0.10, ** p<0.05; ***p<0.01
As médias apresentadas na Tabela 6 sugerem que os construtos pesquisados foram
devidamente observados pelos respondentes em seu local de trabalhado. Além disso,
qualidade (4.03), entrega (3.65) e flexibilidade (3.57) obtiveram as maiores médias, seguindo
o padrão do modelo ‘cone de areia’ de Ferdows e De Meyer (1990).
4.3 Análises da Regressão
Tabela 7 – Regressão das competências operacionais
Variáveis independentes
Variáveis
dependentes
R2
qualidade
0.121
entrega
0.083
flexibilidade
0.246
custo
0.091
inovacao
0.281
qualidade
entrega
flexib.
custo
0.161***
inovacao
0.161***
0.245**
0.458***
0.156*
0.222***
0.473***
0.250***
*p<0.10, ** p<0.05; ***p<0.01
A análise da regressão indica diferentes relações entre as competências cumulativas.
Contrário aos resultados de Amoako-Gyampah e Meredith (2007), no qual as plantas em
Gana tiveram relações positivamente significativas entre as quatro competências (custo,
entrega, flexibilidade e qualidade), no Brasil essa relação não se apresentou linear.
É possível perceber quatro grupos:
1º grupo: qualidade como variável dependente, entrega e inovação como variáveis
independentes com níveis de significância <0.01.
2º grupo: flexibilidade como variável dependente e inovação como variável
independente com nível de significância <0.05.
3º grupo: custo como variável dependente, qualidade e inovação como variáveis
independentes com níveis de significância <0.10 e <0.01 respectivamente.
10 4º grupo: inovação como variável dependente, flexibilidade e custo como variáveis
independentes com níveis de significância <0.01.
Os resultados são discutidos a seguir, na próxima seção.
5.
DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, os artigos tinham como finalidade identificar se as empresas eram
capazes de acumular as competências operacionais propostas por Ferdows & De Meyer
(1990). Alguns estudos suportaram o modelo cone de areia totalmente, outros parcialmente e,
houve aqueles que não encontraram resultados que o apoiassem.
Em seguida, o foco dos estudos se voltou para a existência de uma sequencia ideal.
Nesse ponto, estudos como Flynn & Flynn (2004), Amoako-Gyampah & Meredith (2007) e
Schoroeder, Shah & Peng (2011) demonstraram que fatores contingenciais, bem como a
estratégia adotada pela empresa interferem neste processo, e que dificilmente uma mesma
sequencia poderia ser adotada de forma universal. Além disso, mesmo o efeito sendo
cumulativo, ele sofre alterações conforme o tipo de empresa, setor ou país em que a empresa
está hospedada.
Kathuria (2000), por exemplo, apresentou três clusters de competências cumulativas
em seu conjunto de empresas estudas na Índia. O chamado ‘Efficient Conformers’ que
apresenta uma ênfase significativa em custo e qualidade. O ‘Speedy Conformers’ que foca
igualmente em entrega e qualidade, e por fim o ‘Do All’ que se apresenta atuante nas quatro
competências operacionais. Amoako-Gyampah e Meredith (2007) encontram resultados que
suportaram o modelo cone de areia, porém, com uma diferença significante em sua sequência.
Na base do modelo foi identificada a qualidade seguida de custo e, no topo, entrega
acompanhando flexibilidade, esta diferença, segundo os autores, é recorrente as condições
econômicas do país, em que o custo é um componente estratégico para as empresas.
Diante do exposto, com o objetivo de analisar o efeito cumulativo das competências
operacionais em empresas brasileiras, assim como os estudos de Kathuria (2000) e AmoakoGyampah e Meredith (2007), os resultados se mostraram cumulativos, mas não na mesma
sequencia do modelo cone de areia. Os resultados encontrados foram divididos em quatro
grupos:
O primeiro qualidade, entrega e inovação. A variável entrega em alguns casos
significa confiança no sistema de informação, por isso sua aproximação com o item
qualidade. Quando se refere à entrega de produtos/serviços, essa também é uma relação
lógica, pois se o produto for de qualidade inferior, este fato afetará de forma negativa a
entrega, que terá retrabalho e não conseguirá atender o cliente satisfatoriamente. Com relação
a inovação, o curto ciclo de vida dos produtos e a velocidade em que novos produtos são
criados e implementados poderá afetar sua qualidade, pois toda mudança necessita de
adaptação e durante este processo de aprendizagem erros podem ocorrer, impactando no nível
de qualidade estabelecido pela empresa.
O segundo, flexibilidade e inovação. A flexibilidade pode ser usada de diversas
formas, tais como volume de produção, mudança no sistema de produção, mudança no
designer e customização de produtos. Com isso, inovação se aproxima muito do construto de
flexibilidade, uma vez que seu conceito representa a rapidez e frequência que novos produtos
são criados e introduzidos no mercado, dependendo da capacidade de flexibilidade da
produção para obter bons resultados.
O terceiro, custo, qualidade e inovação. Qualidade e inovação precisam de
investimentos, estes aspectos no curto prazo podem impactar nos custos operacionais. Mas,
por outro lado, estratégias de baixo custo e diferenciação são compatíveis em dois tipos de
ambientes econômicos. No primeiro caso, empresas inseridas em uma economia emergente,
11 caracterizadas por alto crescimento, significante aprendizagem, economia de escala e
potencial para diferenciação do produto. O segundo tipo de ambiente econômico, hospeda
empresas maduras que testam mudanças tecnológicas. Neste ambiente as empresas buscam
simultaneamente estratégias de baixo custo e diferenciação, buscando exaustivamente
ultrapassar a curva de aprendizagem e alcançar posição de custo mínimo (Hill, 1988).
O quarto, inovação, flexibilidade e custo. A relação entre inovação e flexibilidade já
foi devidamente abordada, com relação ao custo, este representa um posicionamento da
estratégia operacional da empresa, e está ligado à habilidade de minimizar o custo total de
produção (mão de obra, materiais e custos operacionais) por meio de operações, processos e
tecnologia eficiente e/ou economia de escala. Estar no mesmo grupo que inovação e
flexibilidade, indicam que as empresas mais flexíveis e propensas à inovação podem ser mais
afetadas pelo custo, uma vez que investimentos precisam ser constantes para que a empresa
alcance bons resultados.
É possível perceber que a inovação permeou todos os grupos, indicando ser uma
competência operacional essencial para as empresas brasileiras, também é possível observar
que ela está diretamente relacionada com qualidade e flexibilidade.
Mesmo o efeito cumulativo apresentando-se viável em diversos estudos, há questões
que começam a surgir e são sugestões para futuras pesquisas, primeiro, seria esta – qualidade,
entrega, flexibilidade e custo - a composição correta das competências operacionais? O efeito
cumulativo seria a melhor maneira de investigá-las? E, finalmente, quais os fatores que a
empresa precisa focar para desenvolver as competências operacionais em seu processo
produtivo?
Outro ponto que chama atenção nos estudos investigados é que em sua maioria o
método de pesquisa utilizado foi surveys, o que pode de alguma forma limitar os resultados
encontrados. Desta forma, um estudo com uma abordagem qualitativa focando o modelo de
competências operacionais poderia trazer achados que contribua com a evolução do tema na
área de operações.
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