Competências Operacionais Cumulativas em Empresas Brasileiras Autoria: Luiz Artur Ledur Brito, Marcia Regina Santiago Scarpin, Ely Laureano Paiva Resumo O objetivo deste estudo é analisar o efeito cumulativo das competências operacionais em empresas brasileiras. Para tanto, foi realizada uma pesquisa quantitativa com 160 respondentes de empresas de diversos ramos de atividades. Empregou-se a técnica de Regressão Linear Múltipla. Como principais resultados, observaram-se quatro grupos de competências cumulativas, o primeiro: qualidade como variável dependente, entrega e inovação como variáveis independentes; o segundo, flexibilidade como variável dependente e inovação como variável independente; o terceiro, custo como variável dependente, qualidade e inovação como variáveis independentes, e o quarto, inovação como variável dependente, flexibilidade e custo como variáveis independentes. 1 INTRODUÇÃO A discussão sobre prioridades competitivas inicia-se com Skinner (1969) em que o autor relata que as empresas precisam estabelecer quais são seus critérios de sucesso. Para o autor, o sistema de produção inevitavelmente envolve definir em quais critérios competitivos a empresa concentrará seus esforços organizacionais para se diferenciar de seus concorrentes e ganhar vantagem competitiva, não sendo possível obter alto nível de competição em vários critérios competitivos e, ainda, possuir o menor custo de fabricação simultaneamente (Schmenner & Swink, 1998). Hayes e Wheelwright (1984) acredita ser arriscado, a empresa tentar competir em todas as dimensões já que poderia acabar sendo a segunda melhor em cada uma delas, visto que outras empresas estariam dedicando mais recursos em uma específica dimensão, desenvolvendo vantagem competitiva sobre ela. Complementarmente ao trabalho seminal de Skinner (1969), Wheelwright (1984) estabelece os critérios competitivos que orientam a estratégia a ser seguida pela área de operações, sendo eles custo, qualidade, confiabilidade e flexibilidade. Uma das vantagens na definição dos critérios competitivos é compreender seus reflexos nas decisões estruturais e táticas da organização, pois uma vez definidos, o papel da produção é gerenciá-los e reforçálos. Porém, considerando o advento da tecnologia, Ferdows & De Meyer (1990) alertaram sobre a complexidade da relação entre trade-offs e competências operacionais. Para os autores, dependendo da complexidade das competências, estas podem se alterar ou mesmo reforçar umas as outras, tornando-se cumulativas. O trabalho seminal de Ferdows e De Meyer (1990) apresentam as competências cumulativas fazendo uma metáfora a um cone de areia, elas seriam desenvolvidas de forma sequencial, em que uma reforçaria a outra e as organizações deveriam considerar dois fatores: (i) a competência mais baixa teria que estar bem desenvolvida para passar a focar na próxima, dentro da sequência e; (ii) passando para a próxima, o foco não deviria ficar só nela, mas também continuar a desenvolver as competências anteriores. Isto aconteceria ao longo de toda a sequência, assim seria possível que a organização não só desenvolvesse diversas competências ao mesmo tempo, mas também que elas fossem duradouras. Com isso, uma vez que a qualidade fosse estabelecida, as demais competências iriam ocorrendo simultaneamente. Essa sequência estabelecida pelos autores é denominada o modelo do ‘cone de areia’ e inicia-se pela qualidade, segue para entrega, flexibilidade e finaliza com custos. As competências cumulativas da área de operações permite que organizações desenvolvam vantagens duradouras frente aos seus concorrentes. Ferdows e De Meyer (1990) mostraram que plantas que desenvolvem a qualidade e a cofiança de entrega, respondem mais rápido ao mercado e ainda conseguem obter menores custos. Os achados dos autores aliados ao desempenho das empresas japonesas da década de 80 reforçam a discussão da possibilidade de as organizações desenvolverem competências de forma cumulativa. No início, as pesquisas sobre competências operacionais focavam em comprovar seu efeito cumulativo. Com o passar dos anos, a questão passou a ser a existência ou não de uma sequência ideal para compor as competências. Deesde a apresentação do modelo cone de areia proposto por Ferdows & De Meyer (1990), diversos autores tais como Noble (1995); Flynn & Flynn (2004); Schoroeder, Shah & Peng (2011) buscam responder a esta questão. Outra questão apontada pela literatura, é a relação das competências operacionais com o ambiente macroeconômico, nesse sentido, Schoenherr et al. (2012) conduziram pesquisas em países industrializados, emergentes e em desenvolvimento, e concluíram que em 2 países industrializados, mesmo sendo consideradas importantes para manter a vantagem competitiva, as competências operacionais já alcançaram um nível de maturidade, possuindo menos valor como recurso valoroso, raro e inimitável. Contrastando com o que ocorre nos países menos desenvolvidos, em que a assimetria de informação é elevada e, empresas que conseguem desenvolver adequadamente suas competências operacionais criam e sustentam vantagem competitiva, impactando no desempenho de seu negócio. Diante do exposto, o objetivo deste estudo é analisar o efeito cumulativo das competências operacionais em empresas brasileiras. O texto está estruturado em cinco seções. Na introdução são apresentadas a contextualização do trabalho, a problematização, o objetivo e a justificativa da pesquisa. Em seguida, será apresentado o referencial teórico que servirá de base para a discussão dos resultados. A terceira parte contém os aspectos metodológicos e a caracterização da população de pesquisa. As etapas, quatro e cinco, contêm a discussão de resultados e as considerações finais, respectivamente. 2. DEFINIÇÕES CONCEITUAIS Esta seção apresentará a evolução das competências cumulativas, bem como sua operacionalização em estudos empíricos. 2.1 Competências cumulativas O modelo de competências cumulativas surgiu como uma alternativa a teoria de trade-off (Skinner, 1969). Porém, na década de 80, as empresas Japonesas começam a atingir altos desempenhos focando em mais de uma competência ao mesmo tempo (Schroeder, Shah & Peng, 2011). Na década seguinte, Ferdows & De Meyer (1990) questionaram a lei do trade-off alertando sobre a complexidade da relação que envolvem as competências operacionais, alertando sobre a possibilidade de alterar ou mesmo reforçar umas as outras. Assim, uma vez que a qualidade é estabelecida, as demais competências vão ocorrendo simultaneamente. Desta forma, a sequência estabelecida pelos autores denominada o modelo do ‘cone de areia’ inicia-se pela qualidade, segue para entrega, flexibilidade e finaliza em custos, conforme visualizado na Figura 1. Custo Flexibilidade Entrega Qualidade Figura 1 – Modelo Cone de Areia Autores: Ferdows and De Meyer (1990) Ressalta-se que os autores em nenhum momento negam a existência de trade-offs, mas sim, propõem que a melhoria de uma competência pode impactar na evolução de outra, e assim sucessivamente. 3 Conforme Figura 1, o modelo do cone de areia demonstra que a melhora no desempenho em qualidade é uma pré-condição para todas as outras competências da área de manufatura, instalada na base do modelo. Uma vez que os esforços na melhoria da qualidade ocorrer e continuar se expandindo, o foco deve se em um processo de produção mais confiável (entrega). A seguir, a preocupação deve ser na melhoria da velocidade (o quão rápido a produção pode responder a demandas de novos consumidores, mudando volume de produção, introdução de novos produtos etc.). Seguidas, finalmente da eficiência de custo. Com isso, a melhoria de custo seria mais duradoura e a companhia desfrutaria de uma melhora no desempenho em qualidade, entrega, flexibilidade e custo, simultaneamente. (De Meyer, 1990). 2.2 Evolução do conceito de competências cumulativas Uma questão muito discutida é se existe uma sequência ideal para compor as competências operacionais. Desde a apresentação do modelo cone de areia proposto por Ferdows & De Meyer (1990) no qual a sequência ideal para desenvolvimento das competências cumulativas seguia a ordem de qualidade, entrega, flexibilidade e custo, diversos autores tais como Noble (1995); Flynn & Flynn (2004); Schoroeder, Shah & Peng (2011), buscam responder se esta pode ser considerada uma sequência universal ou mesmo se existe uma única ou ideal sequência para o modelo, porém, até o momento não se conseguiu um consenso sobre o assunto. Um dos motivos esta relacionado ao ambiente competitivo que a empresa encontra-se estabelecida. A escolha estratégia das empresas localizadas em diferentes países tende a influenciar a sequência do modelo (Noble, 1995). Flynn & Flynn (2004) relatam que a competição global em que as empresas estão inseridas inevitavelmente afetará a forma como as mesmas acumulam suas competências operacionais, levando diferentes países a iniciativas estratégicas distintas. Os fatores contingenciais dificultam uma sequência ideal, pois contingências ambientais interferem nos padrões das competências cumulativas. Além disso, o tipo de indústria em que a empresa está inserida poderá diferenciar os seus fatores competitivos, alterando também esta sequência. Flynn & Flynn (2004), no entanto, não pretendem dizer quer não exista uma sequência ideal que gere vantagem competitiva, mas que ela dependerá das diferenças contingenciais e que será muito improvável a mesma sequência consiga atender todas as circunstâncias geradas pelo mundo organizacional. Mesmo assim, os autores encontraram uma forte evidência linkando competência cumulativa e desempenho da fábrica, entendo ser importante o acumulo das competências, mas não necessariamente na sequência proposta por Ferdows & De Meyer (1990), não podendo este ser considerado um fenômeno universal. Schoroeder, Shah & Peng (2011) também testaram o modelo cone de areia em 189 empresas e chegaram a resultados similares ao Flynn & Flynn (2004). Os autores concluíram que nem todas as empresas seguem o modelo proposto, e que a sequência estaria ligada as escolhas estratégicas, bem como aos fatores contingenciais (teoria da contingência) inerentes de cada empresa. Ainda, segundo os autores quando considerado a intensa competitividade e o avanço da tecnologia de produção, as competências cumulativas são adequadas (Noble, 1995, Schoroeder, Shah & Peng, 2011). Mas, quando a produção esta próxima da fronteira de eficiência, particularmente quando ela é estática, a teoria de trade-off é mais apropriada. Corroborando com a ideia de Schoroeder, Shah & Peng (2011), Schmenner & Swink (1998, p. 107) afiram que trade-offs e competências cumulativas são duas propostas distintas. Trade-offs ocorrem na comparação entre plantas em um determinado ponto no tempo, enquanto as competências cumulativas é prognosticada no melhoramento dentro das fábricas ao longo do tempo. Portanto, não são conflituosas. 4 As competências operacionais são únicas, não facilmente imitáveis e de difícil acesso pelos concorrentes, por ser gerada de uma forma não padronizada e idiossincrática (Schroeder, Bates & Junttila, 2002). Estudos sobre as competências operacionais no ambiente interno da firma são recorrentes, mas Swink & Way (1995) identificaram uma lacuna de estudo sobre como as contingências ambientais afetam as competências cumulativas. Com objetivo de verificar esta relação Flynn & Flynn (2004) realizam uma pesquisa em 165 fábricas de 5 países diferentes, em que identificaram diferenças nos padrões das competências cumulativas entre países, indicando que as contingências ambientais aliadas as escolhas estratégicas interferem na sequência em que as mesma serão relacionadas. Este foi um dos diversos estudos sobre competências em países industrializados, pois muito se discute sobre sua formação ou uma sequência ideal para elas, porém, pesquisas vêm negligenciando o contexto dos países em desenvolvimento e emergentes (Schoenherr et al., 2012). Pesquisa realizada em países industrializados - Australia, Austria, Canada, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Itália, Suécia, Suíça e EUA, emergentes - Brasil, China, Hungria, Coreia do Sul, Mexico, Polônia e Taiwan, e em desenvolvimento - Albania, Ghana, Macedonia e Nigeria, Schoenherr et al. (2012) observaram que em países industrializados, mesmo sendo consideradas importantes para manter a vantagem competitiva, as competências já alcançaram um nível de maturidade na natureza das competências e com isso elas possuem menos importância como um recurso valoroso, raro e inimitável. Contrário ao que ocorre nos países menos desenvolvidos, em que ainda elas são consideradas como um recurso poderoso e pode servir como salto qualitativo no desenvolvimento sócio econômico ambiental. Nestes países a influência das quatro competências operacionais - qualidade, entrega, flexibilidade e custo – possuiu um impacto maior sobre o desempenho do negócio da fábrica. Estes achados demostram que os decision makers precisam considerar questões locais dessa natureza para apoiarem suas decisões estratégicas. 2.3 Estudos sobre competências cumulativas Evidências apoiando ou contestando o modelo do cone de areia são encontradas nos estudos de Kathuria (2000), Corbett e Whybark (2001), Rosenzweig e Roth (2004), Größler e Grübner (2006), Amoako-Gyampah e Meredith (2007), Hallgren, Olhager e Schroeder (2011), Liu, Roth e Rabinovich (2011), Schoenherr et al. (2012). Corbett e Whybark (2001) comparando empresas de alto e baixo desempenho, concluíram que ambas, ainda que as de alto desempenho apresentem maiores níveis de gestão, seguem a mesma sequência do modelo do cone de areia. No mesmo sentido, Rosenzweig e Roth (2004) e Größler e Grübner (2006) apresentaram evidências empíricas de que as competências cumulativas acontecem de forma progressiva, e que individualmente, elas podem afetar indiretamente umas as outras, como no caso da qualidade que afetou positivamente a flexibilidade. Por outro lado, Kathuria (2000) apresentou três clusters de competências cumulativas. O chamado ‘Efficient Conformers’ que apresenta uma ênfase significativa em custo e qualidade. O ‘Speedy Conformers’ que foca igualmente em entrega e qualidade e, por fim o ‘Do All’ que se apresenta atuante nas quatro competências operacionais. Diferenças na sequência do modelo também foram encontradas nos estudos de Hallgren, Olhager e Schroeder (2011), os autores desenvolveram um modelo híbrido, no qual a qualidade é base para a entrega, mas que a partir deste ponto poder-se-ia desenvolver tanto flexibilidade quanto custo, não necessariamente nesta mesma ordem, mas sim de forma paralela. Ao considerar o fator contingencial no impacto do efeito cumulativo, AmoakoGyampah e Meredith (2007) testaram o modelo do cone de areia em Gana. Os resultados 5 encontrados suportaram o modelo, porém, com uma altercação significante em sua sequência. Na base do modelo foi identificada a qualidade seguida de custo e, no topo, entrega acompanhando flexibilidade. Segundo os autores, a diferença é recorrente das condições econômicas do país, no qual o custo é um dos principais componentes estratégicos para as empresas instaladas no país. Para comparar o comportamento das competências operacionais por grupos de países, Schoenherr et al. (2012) conduziram uma pesquisa em países industrializados, emergentes e em desenvolvimento. Os principais resultados identificaram que em países industrializados, mesmo consideradas importantes, as competências já alcançaram um nível de maturidade possuindo menos importância como fonte de vantagem competitiva, contrário ao que ocorre nos países menos desenvolvidos, em que elas ainda são consideradas um recurso valioso e pode servir como salto qualitativo no desenvolvimento sócio econômico do país. A partir dos estudos analisados, percebe-se que o cone de areia não é um modelo universal. Por exemplo, Schroeder, Shah e Peng (2010) demonstraram que 33% de sua amostra não seguiram o modelo cumulativo, enquanto que 67% poderiam futuramente desenvolvê-lo. Além disso, Liu, Roth e Rabinovich (2011) defendem que o modelo cumulativo e de trade-off não são excludentes, podendo ambos serem evidenciados no mesmo processo operacional, só que em tempos diferentes, no caso do modelo cumulativo ligados a boas práticas operacionais e no de trade-off relacionado a fronteira de desempenho no ciclo de inovação. 2.4 Competências cumulativas e desempenho Tracey, Vonderembse & Lim (1999) demonstraram que altos níveis de competências operacionais levam a um melhor desempenho, mediados pela satisfação do cliente e pelo desempenho de marketing. Kathuria (2000) enfatizou que empresas que utilizam as quatro prioridades competitivas há mais tempo possuem melhor desempenho na satisfação do cliente do que as iniciantes. Flynn & Flynn (2004) encontraram evidencias que competências cumulativas estão relacionadas ao desempenho da fábrica. Staughton & Johnston (2005) concluíram que os critérios tradicionais de desempenho operacional precisam ser ampliados para “formas de trabalho” e “ambiente competitivo”. Pen, Schroeder & Shah (2008) sugeriram que o conjunto interno de rotinas – também consideradas competências – está positivamente relacionado ao desempenho operacional, sendo este conjunto de difícil imitação e, portanto, fonte de vantagem competitiva para a organização. E finalmente, Avella, Vazquez-Bustelo & Fernandez (2011) identificaram que as competências de manufatura podem acontecer de forma progressiva sem incompatibilidades ou trade-offs. Mais especificamente, foi encontrada uma relação direta, positiva e significativa entre qualidade e entrega. No mesmo sentido, resultados similares foram observados para as outras relações diretas entre as competências. Outro ponto foi que a pesquisa suportou a hipótese de que a flexibilidade tem um efeito direto, positivo e significativo em relação à proteção ambiental, o que ocorreu também com relação a essas práticas e custo. Por último, os resultados indicaram que as competências não adjacentes têm um efeito indireto em suas subsequentes, reforçando a sequência do cone de areia. 3. METODOLOGIA Este estudo se caracteriza como uma pesquisa quantitativa com natureza descritiva. 6 3.1 Desenvolvimento do instrumento O desenvolvimento do instrumento de coleta de dados foi baseado numa revisão detalhada da literatura por um grupo de pesquisadores nos principais periódicos da área. Os artigos selecionados passaram por uma avaliação em seus abstracts a fim de retirar aqueles que não abordavam o tema operation capability. Permaneceram 89 (oitenta e nove) artigos, os quais passaram por uma nova avaliação, restando 31artigos que foram analisados em detalhes, considerando suas referencias, seus construtos e suas métricas. As etapas seguintes passaram por purificação, incluindo Q-sort. No final ficaram 06 itens com 4 perguntas cada. A população deste estudo são as indústrias brasileiras de transformação, definida a partir da tabela do CNAE de três dígitos. Foram 500 empresas contatadas por telefone, com uma amostra de 160 respostas. Os setores investigados foram: Abate e preparação de produtos de carne; Moagem, fabricação de produtos amiláceos; Fabricação e refino de açúcar; Fabricação de outros produtos alimentícios; Fabricação de bebidas; Tecelagem - inclusive fiação e tecelagem; Confecção de artigos do vestuário; Fabricação de produtos de madeira, cortiça; Fabricação de papel, papelão liso, cartolina; Edição; edição e impressão; Produção de álcool; Fabricação de produtos farmacêuticos; Fabricação de produtos e preparados químico; Fabricação de produtos de plástico; Fabricação de produtos cerâmicos; Produção de ferrogusa e de ferroligas; Fabricação de produtos diversos de metal; Fabricação de máquinas e equipamentos; Fabricação de peças e acessórios para veículos; Fabricação de artigos do mobiliário. O viés de não-respondente foi avaliado pela ANOVA para cada item, comparando a primeira metade dos respondentes com a segunda metade, sendo encontrados resultados satisfatórios (Armstrong & Overton, 1977). 3.2 Variância comum ao método Para reduzir a ameaça da variância comum ao método, conforme Podsakoff e outros (2003) foram adotadas as seguintes medidas: assegurou-se o anonimato e confidencialidade dos entrevistados; foram utilizadas diferentes escalas para as variáveis dependentes e independentes, foi aplicado o método Q-Sort para reduzir a ambiguidade dos itens e o teste de fator único de Harman (Podsakoff & Organ, 1986), realizando-se uma análise fatorial em todos os itens para ver se existe um fator geral. Foram encontrados sete fatores com eigenvalue maior que 1(um) e o primeiro fator explicou apenas 33,1% da variância total. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Modelos de mensuração A análise descritiva dos itens não demonstrou desvios relevantes da normalidade univariada. O índice de assimetria variou de -0,523 a 0,722, e o de curtose entre -0,892 e 0,389. Kline (2005, p. 49, 50) sugere valores máximos permitidos de 3 e 10 para assimetria e curtose respectivamente, portanto, os dados deste estudo se mostram dentro de um padrão de normalidade. Medidas de ajuste absoluto foram empregadas nas dimensões selecionadas, tais como Qui-quadrado da razão de verossimilhança (χ2) e a raiz do resíduo quadrático médio, com a finalidade de certificar a representação adequada do conjunto inteiro de relações causais.O valor do Qui-quadrado de 260,841, com 179 graus de liberdade, é estatisticamente significante no nível de 0,000. O que se busca é um valor de Qui-quadrado não significativo, dado que H0 indica que os dados se ajustam ao modelo. Porém, é possível dividir o valor Qui7 quadrado pelos graus de liberdade (χ²/GL) resultando no valor de 1,45, medida esta menor que 3 e por isso aceitável conforme Kline (2005). Também foram realizadas medidas de ajuste incremental (RMSEA, CFI, IFI e NFI) a fim de demonstrar os níveis de qualidade de ajuste do modelo. As cargas de todos os indicadores em seus respectivos construtos foram positivas e estatisticamente significativas (p < 0,001). Os baixos valores das correlações entre as variáveis latentes sugerem validade discriminante e convergente. O bom ajuste do modelo e o processo de geração do instrumento fundamentado na literatura específica indicam a unidimensionalidade dos construtos e contribuem para a validade de conteúdo. Considerando o ajuste do modelo e a precisão na escolha dos itens, pode-se afirmar que as escalas são validadas e confiáveis, garantindo que as escalas utilizadas representam adequadamente os construtos latentes. Os dados foram analisados por meio de Regressão Linear Múltipla, com a utilização do software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 22. A seguir serão detalhados os dados da pesquisa. 4.2 Análises dos resultados Tabela 1 - Dados da empresa Tamanho da empresa Frequência Percentual com até 19 empregados 6 3.75% De 20 a 99 empregados 72 45% De 100 a 499 empregados 79 49.38% Mais de 500 empregados 3 1.87% 160 100% Total Fonte: dados da pesquisa A Tabela 1 demonstra que a maioria dos respondestes pertencem a empresas de 20 a 99 empregados (45%) e de 100 a 499 empregados (49,38%), pode-se concluir pelos dados apresentados que amostra é predominantemente de pequenas e médias empresas. A Tabela 2 apresenta dos dados dos respondentes. Tabela 2 - Dados dos respondentes Cargo Frequência Percentual Presidente 0 0% Diretor 38 23.8% Gerente Geral 2 1.3% Gerente de produção 31 19.4% Gerente industrial 89 55.5% Total 160 100,0% Fonte: dados da pesquisa Conforme mostra a Tabela 2, a maioria dos entrevistados é classificada como gerentes de produção e/ou industrial (74,9%). Em segundo lugar, com 23,8% encontram-se os 8 de posição de diretoria. Esse é um aspecto importante, uma vez que são cargos de liderança e poder de decisão no processo operacional. Tabela 3 - Tempo de trabalho na empresa Tempo de trabalho na empresa Frequência Percentual Até 2 anos 17 10.62% 2.1 – 3.0 7 4.37% 3.1 – 5.0 14 8.75% 5.1 – 10.0 28 17.5% Mais que 10.0 94 58.76% Total 160 100% Fonte: dados da pesquisa O tempo de trabalho na empresa é representado pela Tabela 3. O que se observa é que os entrevistados, em sua maioria, são funcionários antigos, com 58,76% com mais de 10 anos de atuação e, 17,5% entre 5 e 10 anos. Tabela 4 - Tempo no cargo Tempo no cargo Frequência Percentual Até 2 anos 46 28.75% 2.1 – 3.0 17 10.62% 3.1 – 5.0 25 15.62% 5.1 – 10.0 34 21.25% Mais que 10.0 38 23.76% Total 160 100% Fonte: dados da pesquisa Com relação ao tempo no cargo, a amostra de respondentes se manteve equilibrada, pode-se inferir que ainda que os respondentes tenham alto índice de tempo de casa, quase que metade deles está ocupando suas funções há pouco tempo. Tabela 5 - Tempo no setor de atuação Tempo no setor de atuação Frequência Percentual Até 2 anos 2 1.25% 2.1 – 3.0 2 1.25% 3.1 – 5.0 7 4.37% 5.1 – 10.0 23 14.37% Mais que 10.0 126 78.76% Total 160 100% Fonte: dados da pesquisa 9 Entretanto, mesmo com pouco tempo no cargo (Tabela 4), a Tabela 5 indica que os entrevistados possuem mais que 10 anos de atuação no setor, demonstrando que os funcionários possuem experiência no setor em que atuam, habilitando-os para responder esta pesquisa. Tabela 6 - Médias, desvios padrões e correlações Mean SD qualidade entrega flexib. custo qualidade 4.03 0.64 entrega 3.65 0.81 0.509** flexibilidade 3.57 0.57 0.487** 0.283 custo 3.10 0.55 0.303* 0.232 0.199 inovacao 3.15 0.60 0.518** 0.331* 0.720** inovacao 0.347* Fonte: dados da pesquisa *p<0.10, ** p<0.05; ***p<0.01 As médias apresentadas na Tabela 6 sugerem que os construtos pesquisados foram devidamente observados pelos respondentes em seu local de trabalhado. Além disso, qualidade (4.03), entrega (3.65) e flexibilidade (3.57) obtiveram as maiores médias, seguindo o padrão do modelo ‘cone de areia’ de Ferdows e De Meyer (1990). 4.3 Análises da Regressão Tabela 7 – Regressão das competências operacionais Variáveis independentes Variáveis dependentes R2 qualidade 0.121 entrega 0.083 flexibilidade 0.246 custo 0.091 inovacao 0.281 qualidade entrega flexib. custo 0.161*** inovacao 0.161*** 0.245** 0.458*** 0.156* 0.222*** 0.473*** 0.250*** *p<0.10, ** p<0.05; ***p<0.01 A análise da regressão indica diferentes relações entre as competências cumulativas. Contrário aos resultados de Amoako-Gyampah e Meredith (2007), no qual as plantas em Gana tiveram relações positivamente significativas entre as quatro competências (custo, entrega, flexibilidade e qualidade), no Brasil essa relação não se apresentou linear. É possível perceber quatro grupos: 1º grupo: qualidade como variável dependente, entrega e inovação como variáveis independentes com níveis de significância <0.01. 2º grupo: flexibilidade como variável dependente e inovação como variável independente com nível de significância <0.05. 3º grupo: custo como variável dependente, qualidade e inovação como variáveis independentes com níveis de significância <0.10 e <0.01 respectivamente. 10 4º grupo: inovação como variável dependente, flexibilidade e custo como variáveis independentes com níveis de significância <0.01. Os resultados são discutidos a seguir, na próxima seção. 5. DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente, os artigos tinham como finalidade identificar se as empresas eram capazes de acumular as competências operacionais propostas por Ferdows & De Meyer (1990). Alguns estudos suportaram o modelo cone de areia totalmente, outros parcialmente e, houve aqueles que não encontraram resultados que o apoiassem. Em seguida, o foco dos estudos se voltou para a existência de uma sequencia ideal. Nesse ponto, estudos como Flynn & Flynn (2004), Amoako-Gyampah & Meredith (2007) e Schoroeder, Shah & Peng (2011) demonstraram que fatores contingenciais, bem como a estratégia adotada pela empresa interferem neste processo, e que dificilmente uma mesma sequencia poderia ser adotada de forma universal. Além disso, mesmo o efeito sendo cumulativo, ele sofre alterações conforme o tipo de empresa, setor ou país em que a empresa está hospedada. Kathuria (2000), por exemplo, apresentou três clusters de competências cumulativas em seu conjunto de empresas estudas na Índia. O chamado ‘Efficient Conformers’ que apresenta uma ênfase significativa em custo e qualidade. O ‘Speedy Conformers’ que foca igualmente em entrega e qualidade, e por fim o ‘Do All’ que se apresenta atuante nas quatro competências operacionais. Amoako-Gyampah e Meredith (2007) encontram resultados que suportaram o modelo cone de areia, porém, com uma diferença significante em sua sequência. Na base do modelo foi identificada a qualidade seguida de custo e, no topo, entrega acompanhando flexibilidade, esta diferença, segundo os autores, é recorrente as condições econômicas do país, em que o custo é um componente estratégico para as empresas. Diante do exposto, com o objetivo de analisar o efeito cumulativo das competências operacionais em empresas brasileiras, assim como os estudos de Kathuria (2000) e AmoakoGyampah e Meredith (2007), os resultados se mostraram cumulativos, mas não na mesma sequencia do modelo cone de areia. Os resultados encontrados foram divididos em quatro grupos: O primeiro qualidade, entrega e inovação. A variável entrega em alguns casos significa confiança no sistema de informação, por isso sua aproximação com o item qualidade. Quando se refere à entrega de produtos/serviços, essa também é uma relação lógica, pois se o produto for de qualidade inferior, este fato afetará de forma negativa a entrega, que terá retrabalho e não conseguirá atender o cliente satisfatoriamente. Com relação a inovação, o curto ciclo de vida dos produtos e a velocidade em que novos produtos são criados e implementados poderá afetar sua qualidade, pois toda mudança necessita de adaptação e durante este processo de aprendizagem erros podem ocorrer, impactando no nível de qualidade estabelecido pela empresa. O segundo, flexibilidade e inovação. A flexibilidade pode ser usada de diversas formas, tais como volume de produção, mudança no sistema de produção, mudança no designer e customização de produtos. Com isso, inovação se aproxima muito do construto de flexibilidade, uma vez que seu conceito representa a rapidez e frequência que novos produtos são criados e introduzidos no mercado, dependendo da capacidade de flexibilidade da produção para obter bons resultados. O terceiro, custo, qualidade e inovação. Qualidade e inovação precisam de investimentos, estes aspectos no curto prazo podem impactar nos custos operacionais. Mas, por outro lado, estratégias de baixo custo e diferenciação são compatíveis em dois tipos de ambientes econômicos. No primeiro caso, empresas inseridas em uma economia emergente, 11 caracterizadas por alto crescimento, significante aprendizagem, economia de escala e potencial para diferenciação do produto. O segundo tipo de ambiente econômico, hospeda empresas maduras que testam mudanças tecnológicas. Neste ambiente as empresas buscam simultaneamente estratégias de baixo custo e diferenciação, buscando exaustivamente ultrapassar a curva de aprendizagem e alcançar posição de custo mínimo (Hill, 1988). O quarto, inovação, flexibilidade e custo. A relação entre inovação e flexibilidade já foi devidamente abordada, com relação ao custo, este representa um posicionamento da estratégia operacional da empresa, e está ligado à habilidade de minimizar o custo total de produção (mão de obra, materiais e custos operacionais) por meio de operações, processos e tecnologia eficiente e/ou economia de escala. Estar no mesmo grupo que inovação e flexibilidade, indicam que as empresas mais flexíveis e propensas à inovação podem ser mais afetadas pelo custo, uma vez que investimentos precisam ser constantes para que a empresa alcance bons resultados. É possível perceber que a inovação permeou todos os grupos, indicando ser uma competência operacional essencial para as empresas brasileiras, também é possível observar que ela está diretamente relacionada com qualidade e flexibilidade. Mesmo o efeito cumulativo apresentando-se viável em diversos estudos, há questões que começam a surgir e são sugestões para futuras pesquisas, primeiro, seria esta – qualidade, entrega, flexibilidade e custo - a composição correta das competências operacionais? O efeito cumulativo seria a melhor maneira de investigá-las? E, finalmente, quais os fatores que a empresa precisa focar para desenvolver as competências operacionais em seu processo produtivo? Outro ponto que chama atenção nos estudos investigados é que em sua maioria o método de pesquisa utilizado foi surveys, o que pode de alguma forma limitar os resultados encontrados. Desta forma, um estudo com uma abordagem qualitativa focando o modelo de competências operacionais poderia trazer achados que contribua com a evolução do tema na área de operações. REFERÊNCIAS Amoako-Gyampah, K.; Meredith, J. R. (2007). Examining cumulative capabilities in a developing economy. International Journal of Operations & Production Management, 27(9), 928-950. Armstrong, J. S; Overton, T. S. (1977). Estimating Nonresponse Bias in Mail Surveys. Journal of Marketing Research, 14(3), 396–402. Avella, L.; Vazquez-Bustelo, D.; Fernandez, E. (2011). Cumulative manufacturing capabilities: an extended model and new empirical evidence. International Journal of Production Research, 49(3), 707-729. Corbett, L. M; Whybark, D. C. (2001). Searching for the sandcone in the GMRG data. International Journal of Operations & Production Management, 21( 7), 965-980. Ferdows, K., & De Meyer, A. (1990). Lasting Improvements in Manufacturing Performance: In Search of a New Theory. 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