A prova de Língua Portuguesa costuma seguir sempre o mesmo padrão
estrutural: são apresentados três textos,
que mesclam questões de interpretação,
preenchimento de lacunas, ortografia, léxico (troca vocabular) e gramática. São
frequentes questões que exijam do aluno
a substituição de expressões presentes
nos textos por outras, perguntando se há
ou não alteração de significado. É de praxe, também, exigir do candidato que faça
a transcrição de trechos do texto para
outro discurso (do discurso direto para
o indireto, ou o contrário). É, ainda,
comum perguntarem quantas palavras
seriam alteradas, se o sujeito de uma frase passasse do singular para o plural, ou
processo inverso. Veja exemplos:
UFRGS 2014
Instrução: As questões de 01 a 11 estão relacionadas ao texto abaixo.
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O que havia de tão revolucionário na
Revolução Francesa? Soberania popular,
liberdade civil, igualdade perante a lei – as
palavras hoje são ditas com tanta facilidade
que somos incapazes de imaginar seu caráter
explosivo em 1789. Para os franceses do
Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a
desigualdade era uma boa coisa, adequada à
ordem hierárquica que fora posta na natureza
pela própria obra de Deus. A liberdade
significava privilégio – isto é, literalmente, “lei
privada”, uma prerrogativa especial para fazer
algo negado a outras pessoas. O rei, como
fonte de toda a lei, distribuía privilégios, pois
havia sido ungido como o agente de Deus na
terra.
Durante todo o século XVIII, os filósofos
do
Iluminismo
questionaram
esses
pressupostos, e os panfletistas profissionais
conseguiram empanar a aura sagrada da coroa.
Contudo, a desmontagem do quadro mental
do Antigo Regime demandou violência
iconoclasta,
destruidora
do
mundo,
revolucionária.
Seria ótimo se pudéssemos associar a
Revolução exclusivamente à Declaração dos
Passada a prova do Enem, partimos agora ao
encontro de novos desafios: os vestibulares de verão.
Cada universidade apresenta características específicas que norteiam a elaboração da prova de Redação, regra seguida pela UFRGS. Para entendermos
um pouco mais sobre como é corrigido o texto e o
que será exigido nessa instituição, segue um modelo
de Redação nota 10, do ano de 2010.
O tema exigia que o aluno explorasse incivilidades e infrações cometidas cotidianamente e abordasse a forma como elas afetam a sociedade.
Um mundo de cegos
Já afirmava Claude Levi-Strauss que “o mundo
começou sem o homem e poderá acabar sem ele”.
Nessa perspectiva, a sociedade atual demonstra um
paradoxo, visto que, apesar de a tecnologia corroborar
a capacidade técnica e intelectual do homem, continuamos cometendo infrações e incivilidades diariamente.
Lamentavelmente, muitas pessoas praticam incivilidades no cotidiano, as quais atestam o caráter
egocêntrico do homem: ocupar assentos especiais
em transportes coletivos, poluir o meio ambiente e
não coletar as fezes de nosso animal de estimação
são algumas das atitudes inconsequentes que manifestamos no dia a dia, as quais contribuem para
uma realidade hostil e desagradável. Nesse sentido,
a construção de uma sociedade sadia consiste em ter
discernimento de que o espaço de nosso próximo co-
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Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela
nasceu na violência e imprimiu seus princípios
em um mundo violento. Os conquistadores da
Bastilha não se limitaram a destruir um
símbolo do despotismo real. Entre eles, 150
foram mortos ou feridos no assalto à prisão e,
quando os sobreviventes apanharam o
diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na
por Paris na ponta de uma lança.
Como podemos captar esses momentos de
loucura, quando tudo parecia possível e o
mundo se afigurava como uma tábula rasa,
apagada por uma onda de comoção popular e
pronta para ser redesenhada? Parece incrível
que um povo inteiro fosse capaz de se
levantar e transformar as condições da vida
cotidiana. Duzentos anos de experiências com
admiráveis mundos novos tornaram-nos
céticos quanto ao planejamento social.
Retrospectivamente, a Revolução pode
parecer um prelúdio ao totalitarismo.
Pode ser. Mas um excesso de visão
histórica retrospectiva pode distorcer o
panorama de 1789. Os revolucionários
franceses não eram nossos contemporâneos.
E eram um conjunto de pessoas não
excepcionais em circunstâncias excepcionais.
Quando as coisas se desintegraram, eles
reagiram a uma necessidade imperiosa de
dar-lhes sentido, ordenando a sociedade
segundo novos princípios. Esses princípios
ainda permanecem como uma denúncia da
tirania e da injustiça. Afinal, em que estava
empenhada a Revolução Francesa? Liberdade,
igualdade, fraternidade.
ao se compreender o sentido de “exclusividade” da expressão “especial”, fica-se
apenas com duas possibilidades: C e D.
O sentido de “empanar” não pode ser
“anular”, considerando-se que algo que
foi empanado não desapareceu, apenas
está encoberto, obscuro. Ainda na letra
C, “descrentes” é sinônimo de “céticos”.
Logo, o gabarito é a letra C.
UFRGS 2014
Instrução: As questões de 20 a 25 estão relacionadas ao texto abaixo.
Analisando-se a questão que exigia
conhecimento vocabular, percebe-se que,
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meça onde termina o nosso espaço. Assim, quando
prejudicamos o nosso entorno, estamos impedindo
que a cooperação minimize as mazelas latentes da
sociedade moderna.
As infrações que cometemos também prejudicam muito a construção de uma sociedade sadia:
a sonegação de impostos é uma atitude tão condenável quanto o ato do político se valer das finanças
públicas; a compra de produtos piratas engendra um
tráfico que se conecta a tantos outros, como o tráfico
de drogas e de armas, os quais aliciam desassistidos e vitimam inocentes; a ultrapassagem do sinal
vermelho é uma infração grave, uma vez que recrudesce o trânsito violento que verificamos atualmente.
Além disso, é imprescindível que mudemos o nosso
“mundo particular”, porque tal mudança se reflete no
“mundo coletivo”, do qual todos nós fazemos parte.
Caso contrário, só confirmaremos o que Manuel Bandeira escreveu “a existência humana é uma aventura,
de tal modo inconsequente”.
O escritor português José Saramago, em seu
livro “Ensaio sobre a Cegueira”, descreve uma sociedade que, paulatinamente, se torna cega. Metáforas
à parte, é exatamente isso o que acontece com nossa
sociedade, já que ignoramos que, não só infrações,
mas também incivilidades prejudicam a construção
de uma sociedade sadia, pois abdicamos de atitudes
abnegadas para sermos completamente egoístas,
cegos. Portanto, o mundo só atenuará suas mazelas
quando percebermos que tudo depende de esforços
coletivos, ou, como Saramago registrou, “se podes
olhar, vê; se podes ver, repara”.
(Fonte: caderno Vestibular de Zero Hora)
Autora do texto: Clarissa Both Pinto
Alguns comentários:
Assim como em outros vestibulares que nos
cercam, a UFRGS também exige que seja seguida a
ordem estrutural de um texto dissertativo:
Introdução – apresenta-se, com clareza e objetividade, o tema que será abordado (...apesar de a
tecnologia corroborar a capacidade técnica e intelectual do homem, continuamos cometendo infrações e
incivilidades diariamente.);
Desenvolvimento – exploram-se argumentos
consistentes e bem embasados, que sejam capazes
de defender a tese apresentada pelo autor do texto. Faz-se importante a presença de exemplos que
comprovem as ideias defendidas (...As infrações que
cometemos também prejudicam muito a construção
de uma sociedade sadia: a sonegação de impostos é
uma atitude tão condenável quanto o ato do político
se valer das finanças públicas; a compra de produtos
piratas engendra um tráfico que se conecta a tantos
outros, como o tráfico de drogas e de armas, os quais
aliciam desassistidos e vitimam inocentes; a ultrapassagem do sinal vermelho é uma infração grave, uma
Questão 07. Assinale a alternativa que
apresenta sinônimos para as palavras especial (l. 12), empanar (l. 20) e céticos (l.
45), no contexto em que ocorrem.
(A) notável – anular – descrentes
(B) maravilhosa – embaçar – desfavoráveis
(C) exclusiva – obscurecer – descrentes
(D) exclusiva – anular – incrédulos
(E) notável – obscurecer – desfavoráveis
Entre as situações linguísticas que o
português já viveu em seu contato com outras
línguas, cabe considerar uma situação que se
realiza em nossos dias: aquela em que ele é
uma língua de emigrantes. Para o leitor
brasileiro, soará talvez estranho que falemos
aqui do português como uma língua de
EMIGRANTES, pois o Brasil foi antes de mais
nada um país para o qual se dirigiam em
massa, durante mais de dois séculos, pessoas
nascidas em vários países europeus e
asiáticos; assim, para a maioria dos
brasileiros, a representação mais natural é a
da convivência no Brasil com IMIGRANTES
vindos de outros países. Sabemos, entretanto,
que, nos últimos cem anos, muitos falantes
do português foram buscar melhores
condições de vida, partindo não só de
Portugal para o Brasil, mas também desses
dois países para a América do Norte e para
vários países da Europa: em certo momento,
na década de 1970, viviam na região
parisiense mais de um milhão de portugueses
– uma população superior à que tinha então a
cidade de Lisboa. Do Brasil, têm ........ nas
últimas
décadas
muitos
jovens
e
trabalhadores, dirigindo-se aos quatro cantos
do mundo.
A existência de comunidades de imigrantes
é sempre uma situação delicada para os
próprios imigrantes e para o país que os
recebeu: normalmente, os imigrantes vão a
países que têm interesse em usar sua força
de trabalho, mas qualquer oscilação na
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economia faz com que os nativos ........ sua
presença como indesejável; as diferenças na
cultura e na fala podem alimentar
preconceitos e desencadear problemas reais
de diferentes ordens.
Em geral, proteger a cultura e a língua do
imigrante não é um objetivo prioritário dos
países hospedeiros, mas no caso do
português tem havido ........ . Em certo
momento, o português foi uma das línguas
estrangeiras mais estudadas na França; e, em
algumas cidades do Canadá e dos Estados
Unidos, um mínimo de vida associativa tem
garantido a sobrevivência de jornais editados
em português, mantidos pelas próprias
comunidades de origem portuguesa e
brasileira.
Adaptado de: ILARI, Rodolfo; BASSO,
Renato. O português como língua de emigrantes. In:___. O português da gente: a
língua que estudamos a língua que falamos.
São Paulo: Contexto, 2006. p. 42-43.
Questão 20. Assinale a alternativa que
preenche corretamente as lacunas das linhas 25, 35 e 43, nesta ordem.
(A) imigrado – incarem – exceções
(B) emigrado – incarem – exceções
(C) emigrado – encarem – exceções
(D) imigrado – encarem – excessões
(E) emigrado – encarem – exceções
Nesta questão, que exigia conhecimento ortográfico, inicialmente trabalhou-se
a diferença entre “imigrar” e “emigrar”
(Imigrar quer dizer entrar em um país estranho, a fim de morar nele. Ao contrário de
emigrar que significa sair de um país e ir
morar em outro.). Como o texto trata da
saída do Brasil para outros países, o correto é empregar a expressão “emigrar”.
As outras expressões são corretamente
escritas nas formas: “encarem” e “exceções”, portanto, letra C.
Fique de olho: Conjunções; Pronomes; Artigos; Tempos verbais; Voz passiva; Pontuação; Regência.
vez que recrudesce o trânsito violento que verificamos atualmente.)
Conclusão – ratifica-se o tema abordado, bem
como deve ser feito o fechamento do texto, reafirmando a tese anteriormente comprovada (...já que
ignoramos que, não só infrações, mas também incivilidades prejudicam a construção de uma sociedade
sadia, pois abdicamos de atitudes abnegadas para
sermos completamente egoístas, cegos.);
Observe que a linguagem utilizada apresenta
um equilíbrio entre leveza, clareza e rebuscamento: o uso da 1ª pessoa do plural (continuamos, cometemos...) torna o texto mais leve e inclui o autor
nas ideias abordadas; a utilização de conjunções e
pronomes, todos corretamente empregados (além
disso, já que, nesse sentido...), torna os enunciados
coesos, por isso claros e coerentes; a seleção lexical bem elaborada tornou a escrita rebuscada, sem
prejuízo à clareza (paradoxo, corroborar, realidade
hostil, engendra...).
Além do mais, tem-se nessa produção textual um
exemplo de correta abordagem de tema, respeitando todos os limites da proposta. O desenvolvimento
carrega argumentos suficientemente exemplificados,
tornando comprobatória a defesa da tese.
Para que o texto se tornasse mais atrativo, foram
empregadas, corretamente, citações que realmente
contribuíam com a argumentação pretendida.
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