ENSINO SUPERIOR
Grandes escolas de negócios abraçam o novo ensino online
A internet teve um efeito radical sobre a maneira como as escolas de negócios ensinam. Ela as permite
oferecer cursos on-line e, desse modo, interagir com os alunos de localidades distantes. No entanto,
também abriu as portas para que outras ofereçam aulas sem a existência de um campus. Mas isso está
apenas no começo.
Após a corrida para disponibilizar conteúdo gratuito na internet por meio dos cursos on-line abertos
(Moocs, na sigla em inglês), várias grandes escolas de negócios desenvolveram programas que
combinam o ensino a distância com reuniões no campus – ou interações virtuais que reproduzem as
discussões que podem ocorrer nos auditórios das universidades.
Muitas escolas também estão percebendo que precisam cobrar por seu conteúdo e serviços de ensino.
“O potencial para alcançar novos públicos e integrar plataformas significa que a educação on-line
chegou para ficar”, diz David Smith, da consultoria Simon-Kucher & Partners. No entanto, acrescenta
ele, as escolas ainda precisam encontrar os modelos certos e sustentáveis.
Algumas tentam adaptar seus métodos de ensino tradicionais para colocá-los na internet. Mas outras
querem reinventar o mercado. Provedoras de Moocs como a Coursera e a edX abriram novos caminhos
com modelos puramente virtuais, em que o conteúdo é gratuito e a receita é gerada pelos usuários que
pagam por itens como certificados de reconhecimento. Parte das escolas já disponibilizam cursos em
plataformas Moocs, mas muitas estão criando modelos próprios para oferecer versões on-line de seus
programas – o que ajuda a conter a ameaça de empresas do Vale do Silício no setor.
O resultado disso tudo é um conjunto de cursos administrados por escolas de negócios que combinam
o ensino online e o off-line. Eles se baseiam no princípio de que o ensino a distância não é uma
atividade passiva, e sim uma chance de interagir com professores e outros estudantes por meio de
conferências pela internet. Um exemplo é a plataforma HBX de ensino digital da Harvard Business
School. Ela fornece conteúdo on-line, mas representa uma ruptura com as plataformas Mooc por
envolver um processo de admissão seletivo e o pagamento de mensalidades pelos matriculados.
O primeiro programa da HBX, chamado Credential of Readiness (ou Core, na sigla em inglês), consiste
de três cursos sobre análises empresariais, contabilidade e economia administrativa, que são
ministrados pelo corpo docente da Harvard Business School.
Um projeto-piloto, iniciado no ano passado, limitou-se aos alunos de graduação baseados em
Massachusetts – que podiam ser monitorados física e virtualmente. Agora, porém, já são aceitas
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inscrições de todas as partes do mundo para 600 locais em um curso de dez semanas que custa US$
1.500. “Fizemos um esforço consciente para não seguir o caminho dos Moocs”, explica Bharat Anand,
diretor do corpo docente da HBX.
“Queríamos que ele fosse algo mais que assistir um vídeo por 25 minutos. A HBX significa interação.”
O piloto confirmou que o Core era financeiramente viável e mostrou que a estrutura do HBX foi bemsucedida onde os Moocs falharam em termos de envolvimento dos estudantes. Cerca de 90% dos
alunos que iniciaram o programa foram até o fim, observa o professor Anand – algo parecido com os
cursos presenciais de Harvard. “No mundo dos Moocs, o índice de retenção dos alunos fica na faixa de
um dígito.”
Em sua opinião, o problema com as plataformas abertas é que elas não valorizam os pontos fortes de
Harvard.
“Nosso método de ensino por estudos de casos é intenso. Todo mundo se envolve, de modo que não
há distinção entre o professor e o aluno.”
Os candidatos ao próximo Core já apresentam um perfil mais variado que os cursos tradicionais
presenciais, indo de alunos da graduação – que a Harvard Business School quer “preparar para os
negócios” – a pessoas nas faixas dos 40 e 50 anos, que têm outras motivações. “São profissionais que
estão mudando de carreira e precisam desenvolver habilidades, empreendedores ou pessoas que
querem ser empreendedoras, e pessoas que vêm de ambientes acadêmicos e não voltados para o
lucro”, diz. O futuro, segundo o professor, será a “multiplataforma”, envolvendo o virtual e o presencial.
Na Califórnia, a Stanford Graduate School of Business lançou um curso on-line certificado de ensino de
negócios chamado Lead (learn, engage, accelerate and disrupt; algo como aprender, empenhar-se,
acelerar e inovar).
Direcionado para executivos, ao custo de US$ 16 mil, o Lead é bem mais caro que o programa virtual
oferecido por Harvard.
De acordo com Dave Weinstein, diretor de ensino executivo de Stanford, o ensino de negócios precisa
ser mais flexível, pois as grandes empresas, que costumavam bancar os programas de MBA de seus
executivos, estão menos dispostas a permitir que esses profissionais passem longos períodos longe de
suas atribuições para estudar. Além disso, fundadores de startups, que têm pouco tempo disponível,
não podem se dar ao luxo de se afastar dos negócios para fazer um MBA. “Cabe a nós encontrar os
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meios adequados para oferecer ensino às pessoas que não podem frequentar um campus
universitário”, diz.
A proximidade do campus de Stanford com as maiores empresas de tecnologia do mundo é uma
vantagem. “O ambiente on-line é o do Vale do Silício, onde você experimenta e falha com muita rapidez.
Isso está no nosso DNA”. A experimentação no ensino virtual de negócios deverá continuar. A única
certeza que existe até agora, porém, é que ninguém provou que seu modelo é o definitivo.
Fonte: Valor Econômico
Data: 11 de março
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