EDIÇÃO 20 • ANO 5 • MARÇO/ABRIL/MAIO DE 2012 R E V I S TA D A A S S O C I A Ç Ã O B R A S I L E I R A D E L I N F O M A E L E U C E M I A FERTILIDADE UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL A SER DISCUTIDA RETRATOS DA VIDA LINFOMA OS VENCEDORES DO 4º CONCURSO DE FOTOGRAFIAS DA ABRALE DOENÇA DE GIANECCHINI DEU VISIBILIDADE A ESSE TIPO DE CÂNCER POUCO CONHECIDO AJUDA GRATUITA PARA QUEM ESTÁ NA LUTA CONTRA O CÂNCER NO SANGUE! O diagnóstico de uma doença grave como o câncer é um dos momentos mais complicados de ser enfrentado, em especial porque, na maior parte dos casos, o assunto é desconhecido. MAS VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO! Desde 2002, a ABRALE atua em prol dos pacientes de cânceres no sangue (leucemia, linfoma, mieloma múltiplo e mielodisplasia), com a missão de alcançar a excelência e humanização do tratamento e qualidade de vida em todo o Brasil, por meio de pesquisa, produção e divulgação de conhecimento, mobilização política e apoio ao paciente e seus familiares. CONTAMOS COM UMA SÉRIE DE SERVIÇOS GRATUITOS, SEMPRE DISPONÍVEIS A TODOS. ENTRE ELES ESTÃO: n Psicólogos para atender pacientes e seus familiares, e advogados para orientar sobre os direitos existentes perante a lei. n Profissionais capacitados para esclarecer dúvidas pelo 0800-773-9973 ou [email protected]. n Palestras com médicos dos centros de tratamento mais renomados do Brasil. n Materiais com informações para que o paciente conheça a doença e saiba como tratá-la. n Programas que visam à qualidade de vida e à obtenção do melhor tratamento, como o Programa Dodói, realizado em parceria com o Instituto Mauricio de Sousa, com o objetivo de facilitar a comunicação e a integração entre a criança com câncer e a equipe de cuidadores. n Apoio na busca de doadores nos bancos internacionais e nacional de medula óssea para aumentar as chances de o paciente encontrar um doador. n Atuação política diretamente com o Ministério da Saúde, Anvisa, Inca e Secretaria Estadual da Saúde, com o compromisso de incentivar mu danças na legislação que beneficiem os pacientes onco-hematológicos. ENTRE EM CONTATO PARA USAR ESTES E OUTROS SERVIÇOS OFERECIDOS PELA ABRALE! LIGUE PARA O 0800-773-9973 OU MANDE UM E-MAIL PARA [email protected]. MAIS INFORMAÇÕES EM WWW.ABRALE.ORG.BR. 2 0 1 1 S E T E M B R O / O U T U B R O / N O V E M B R O R E V I S TA D A A B R A L E n 3 DEZ ANOS DE ABRALE CARO(A) AMIGO(A), O ano de 2012 será muito especial para a ABRALE, pois comemoramos dez anos de existência. Para celebrar, estamos preparando muitos programas e projetos especiais durante todos os meses! Isso me fez lembrar do dia de nossa fundação, quando conseguimos reunir quase 80 pacientes e familiares de todo o Brasil. Alguns meses de trabalho antecederam essa reunião. Ligamos para médicos dos principais centros de tratamento do país contando nosso sonho de organizar uma associação para dar voz às necessidades dos pacientes com leucemia, linfoma, mieloma múltiplo e mielodisplasia. A ideia tinha sido apoiada pelo então ministro da Saúde, José Serra, que, ao me receber como representante da ABRASTA, frisou a importância de somarmos esforços para conquistarmos uma força política relevante. Sem a intenção de presidir aquela iniciativa, eu e minha companheira desde então, Claudia Velozzo, ligamos para inúmeros pacientes que nos foram indicados, expondo em detalhes nossa intenção e convidando-os para participar da reunião no dia 10 de setembro de 2002 no L’Hotel, em São Paulo. Muitos amaram e também queriam fazer algo em prol dos outros pacientes. Outros, ainda em fase inicial do tratamento, queriam estar presentes para saber as novidades, renovar suas forças e se atualizar quanto às informações de tratamentos. Na reunião, consolidamos nossos pensamentos e definimos algumas prioridades. Como as pessoas vieram de várias capitais, fixamos uma diretoria com representantes em diferentes cidades. E foi nesse dia que plantamos a “florzinha” da ABRALE. Descobrimos que a troca seria riquíssima e que teríamos muitos aliados, além de um trabalho intenso pela frente. Nessa semeadura, os amigos queridos Juares (do qual vemos a história em “Superação”, nesta edição) e Claudia tiveram, e ainda têm, um papel imprescindível e imensurável. Sempre sorridentes, firmes, amorosos, dedicados, incansáveis, dando um toque e brilho especial. Com a ajuda fundamental de médicos e profissionais da saúde que aceitaram colaborar com grande entusiasmo, ao longo desta quase década percorremos um caminho de muito trabalho, dedicação e incontáveis conquistas ao lado de milhares de pacientes e familiares. Hoje transbordamos de alegria, porque estamos certos de que quem busca informação e ajuda certamente será acolhido por uma equipe muito preparada e amorosa. Por outro lado, os desafios também crescem à medida que avançamos, e novos pacientes e familiares devem assumir FERNANDO MARTINHO/PARALAXIS EDITORIAL responsabilidades e colaborar ativamente com sugestões para o aprimoramento de nossos programas. Aproveito para agradecer os incontáveis apoios que recebemos diariamente e que nos permitem, com otimismo, perseverar no sonho de “alcançar excelência e humanização do tratamento e qualidade de vida de pessoas com câncer do sangue no Brasil, por meio de pesquisa, produção e divulgação de conhecimento, mobilização política e apoio ao paciente e seus familiares”. “Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!”, registrou e nos inspira Mario Quintana. Se você ainda não faz parte deste trabalho, venha nos ajudar da forma que puder. Você certamente será muito ajudado. Esperamos o seu contato! Carinhoso abraço, MERULA STEAGALL Presidente da ABRALE e da ABRASTA 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E 5 EDITORIAL UM EXEMPLO DE DESPRENDIMENTO é dos atores mais bem-sucedidos da televisão brasileira, reunindo qualidades de interpretação que encantam pessoas de todas as idades, em especial as moças românticas. Fora das luzes da TV, ele sempre foi amável e atencioso com todo mundo, de forma a transformar em amigos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Agora, ele é capa da Revista da ABRALE, dando força e esperança a todos os leitores da nossa publicação, envolvidos de alguma maneira com as doenças do sangue. Essa atitude de Gianecchini é exemplar, por procurar beneficiar aqueles que enfrentam a mesma doença com um depoimento em que se sobressai a confiança, na certeza de que problemas como o dele podem ter evolução favorável. Vindo de uma pessoa como ele, parece natural tal atitude, mas é bom lembrar que a postura que o ator adotou leva em conta o interesse das pessoas que podem ser beneficiadas, tendo ele esquecido de si próprio. É claro que seria mais fácil, para uma pessoa conhecida e querida como ele, passar a viver de uma forma mais reservada, sem grande divulgação do mal que o aflige. Ele preferiu vir a público, descortinar sua vida particular com o mesmo sorriso aberto, refletindo um pensamento positivo que não o abandona. REYNALDO GIANECCHINI 6 RENATO STOCKLER/NA LATA ■ SUMÁRIO 8 ESPECIAL REYNALDO GIANECCHINI 8 Ator alerta para o diagnóstico do linfoma Em seguida, ele fala dos primeiros sintomas da doença, não para deixar alguém assustado, mas destacando a importância do alerta direto da ABRALE na campanha “Se toca!”. Depois, detalha sua peregrinação até a confirmação do diagnóstico, que sempre começa com uma alegada suspeita de virose. A divulgação do linfoma do ator é importante para maior esclarecimento do público em relação a esse tipo de câncer – pouco conhecido, mas cuja incidência aumenta no Brasil. Gianecchini foi além, revelando com igual simplicidade quais foram suas reações quando soube da doença, e a forma natural como encarou esse roteiro que nada tem de ficção, ao contrário do que acontece nas novelas. Um depoimento que vai ajudar muita gente, numa revista que tem diversas outras coisas importantes para ler. Virando a página, você vai descobrir. ROBERTO MUYLAERT RMC Editora R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 44 48 Como lidar com as dores da perda GASTRONOMIA 16 DO-IN 20 O poder do toque milenar MENTE COMPORTAMENTO 24 Crenças e mitos prejudicam o tratamento 28 Retratos da Vida ÉTICA MÉDICA SUPERAÇÃO A luta vale a pena O edamame chega às mesas brasileiras Fertilidade, uma questão delicada ESPÍRITO LUTO CORPO CONCURSO 38 28 38 ENFOQUE VIDA NOTAS BALANÇO ABRALE BALANÇO ALIANZA LATINA CONGRESSO HEMO 2011 FÓRUM LATINO-AMERICANO DR. EXPLICA DIREITOS DOS PACIENTES 52 54 57 58 61 62 63 E MAIS NOTAS PARCERIAS ARTIGO CARTAS AGENDA 14 60 64 65 66 CAPA FILIPE REDONDO ENDEREÇO: Rua Pamplona, 518 – 5º andar – Jardim Paulista 01405-000 – São Paulo/SP – (11) 3149-5190/0800-773-9973 www.abrale.org.br [email protected] www.abrasta.org.br [email protected] EDIÇÃO 20 • ANO 4 • MARÇO/ABRIL/MAIO DE 2012 CONSELHO EDITORIAL: Merula A. Steagall, Roberto Muylaert, Douglas Guerchfeld, Tatiane Mota e Carolina Cohen A ABRALE e a ABRASTA são entidades beneficentes sem fins lucrativos, fundadas em 2002 e 1982, respectivamente, por familiares e pacientes com cânceres no sangue e talassemia (uma anemia rara). Ambas têm como missão divulgar informações e oferecer suporte a portadores dessas patologias, mobilizando parceiros pela melhoria da qualidade de vida e das condições de tratamento no país. A Revista da ABRALE é uma publicação trimestral da ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e da ABRASTA (Associação Brasileira de Talassemia) distribuída gratuitamente a médicos especialistas, profissionais da saúde, parceiros, pacientes e familiares. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo sem a prévia autorização dos editores e da ABRALE e ABRASTA. A Revista da ABRALE não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos ar tigos assinados. Matérias, ar tes e fo to grafias não solicitadas não serão devolvidas. EDIÇÃO E PRODUÇÃO: RMC Editora Ltda. Rua Deputado Lacerda Franco, 300 – 19º andar – 05418-000 São Paulo/SP – Tel.: (11) 3030-9360 – Fax: (11) 3030-9370 [email protected] [email protected] PRÉ-IMPRESSÃO: Retrato Falado IMPRESSÃO: IBEP TIRAGEM: 30 mil exemplares AO ADOTAR OS CONCEITOS EMITIDOS NAS MATÉRIAS DESTA EDIÇÃO, LEVE EM CONSIDERAÇÃO SUAS CONDIÇÕES FÍSICAS E A OPINIÃO DO SEU MÉDICO 2 0 1 1 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 7 ■ E N T R E V I S TA DIAGNOSTICADO CO M UM LINFOMA RARO, O ATOR RETORNA A O PALCO APÓS UM TRANSPLANTE DE MEDULA E DIZ QUE A DOENÇA FEZ DELE U M SER HUMANO MELHO R POR VERIDIANA MORAIS N O GRANDE SENTIDO DA VIDA 8 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 MARCOS LOPES REYNALDO GIANECCHINI este mês de março, ele volta ao palco em São Paulo para viver novamente o vilão da peça Cruel, após meses de internação para tratamento de um linfoma de célula T e um transplante de medula óssea (leia o quadro “Linfoma, esse desconhecido”, na página seguinte). Em breve, ele também deve retornar às gravações de novelas na Rede Globo. Aqui, ele dá seu depoimento à ABRALE ao participar da campanha Movimento contra o Linfoma, desenvolvida pela entidade para incentivar a identificação precoce do linfoma. Se esse tipo de câncer for diagnosticado logo e tratado, as chances de cura aumentam em 85% -- percentual suficiente para convencer as pessoas da importância do autoexame: apalpe a região do pescoço e outras áreas onde há gânglios linfáticos, como virilha e axilas. Caso sinta algum nódulo ou inchaço, mesmo indolor, busque um especialista – nesse caso, um hematologista (médico que trata das doenças do sangue). É o próprio Gianecchini quem narra sua história para que ela sirva de alerta. 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 9 ■ E N T R E V I S TA HÁ DIVERSOS TIPOS DE LINFOMA, COM PROGNÓSTICOS C O M P L E TA M E N T E DIFERENTES UNS DOS OUTROS “Nunca pensei que pudesse ter câncer, pois sou muito alegre – dizem que quem tem câncer são pessoas que guardam muitas mágoas... É difícil saber como começaram os sintomas. Minha resistência caiu e eu tive conjuntivite. Nos dois últimos anos, sempre tive alguma coisinha chata: comecei a desenvolver umas alergias, depois operei uma hérnia na virilha e deu uma infecção. Aí começaram a sair vários gânglios na região do pescoço, mas tudo indicava que era uma virose. Houve até suspeita de dengue. É difícil chegar ao diagnóstico. Os gânglios foram piorando e fiz todos os testes para todas as viroses e bactérias – tudo deu negativo. Chegou-se a um impasse: nada batia com nada. Os gânglios eram bem sutis, mas depois começaram a crescer. Foi quando fiz o PET scan e o resultado mostrou que havia vários gânglios pelo corpo. E gânglio é sinal de que alguma coisa está errada. Pode ser algo supersimples, mas tínhamos que tirar a dúvida. 10 Foi quando retiraram alguns gânglios para fazer a biópsia. No meu caso, o diagnóstico demorou um mês e pouco, pois parecia que era linfoma, mas não sabiam de que tipo. Ou, se era, a doença não evoluía de forma agressiva, pois eu tomava cortisona e sumia tudo. A patologista achava que era uma espécie de linfoma, mas era preciso determinar o tipo. Não basta saber que você tem linfoma, pois existem vários subtipos. Essa doença tem nome e sobrenome, e se você não souber de que tipo é, não dá para começar um tratamento. Depois de passar por diversos laboratórios, inclusive dos EUA, finalmente veio a resposta: era um linfoma de célula T, um tipo raro. Parece que escolhi a dedo. O diagnóstico assusta, além do que o câncer é um estigma: até pouco tempo atrás, as pessoas não falavam nem o nome da doença. Para mim, foi muito maluco, em nenhum momento eu me senti revoltado. Recebi a notícia de forma natural. Não sou de fazer drama. Tenho comigo que é um percalço, preciso seguir, tirar minhas lições e aprender. A parte mais difícil é contar para as pessoas de quem você gosta e não ter rodeios: “Eu tenho câncer”. Não dá para ficar floreando. O mais complicado foi contar para os meus pais. Minha mãe veio do interior me fazer companhia. Não tive medo de encarar. Acho importante não ter medo da palavra câncer. Depois, quis saber tudo sobre a doença e como deveria me preparar para ela. No período em que fiquei esperando os resultados, em vez de fazer drama, achar que estava indo para ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 o buraco ou ficar deprimido, parti para o lado oposto, e isso foi uma dádiva. É uma oportunidade de repensar a vida, de ter uma experiência que nos ilumina e nos apresenta os fatos de uma forma que não estávamos enxergando. A doença é a ponta de um iceberg, temos de enxergar por trás e para além dela, e aprender com ela durante todo o tratamento. Nesse período, a minha família foi se iluminando, buscando uma força que nós não sabíamos que tínhamos. Sou uma pessoa de fé, mas uma coisa é ter fé em teoria, e outra na prática. É precisar buscar um contato maior com a sua energia vital, sua fé, sua religião. E foi muito bom saber que, na prática, eu estava perseguindo essa busca, acordando iluminado todos os dias. Com otimismo e vendo a beleza nas pequenas coisas que aconteciam. Depois que tudo foi divulgado, recebi um amor tão grande das pessoas, um amor tão tocante... As manifestações chegavam até mim, e o amor foi compartilhado. Pessoas das mais variadas religiões vinham falar comigo, do rabino ao evangélico, passando pelo espírita... Todos rezaram para mim, e cheguei a uma conclusão: religião é a força que resvala no amor, compartilha, busca a caridade, a cura. É preciso ter fé para encontrar esse caminho. Durante todo o tempo, o que me manteve superotimista foi ver essa beleza. Na verdade, só consegui ver coisas boas, não me senti doente. Ao contrário, eu me sentia e me sinto curado. Uma postura importante é não ficar passivo com relação à doença. LINFOMA, ESSE DESCONHECIDO O linfoma afeta diretamente o sistema de defesa do organismo. Ele é caracterizado pelo crescimento desordenado dos linfócitos agrupados nos gânglios linfáticos. O sistema linfático funciona paralelamente ao sistema circulatório e é composto por uma vasta rede de vasos semelhantes a veias, os vasos linfáticos. Eles correm por todo o corpo: da cabeça, passam pelo pescoço (as amídalas), tórax (onde está o timo) e seguem até os pés. Há uma concentração maior de vasos nas áreas do pescoço, nas axilas e virilha. Por essa verdadeira rede corre a linfa, substância semelhante ao sangue, na qual existem glóbulos brancos. Qualquer alteração cancerosa nesse sistema é chamada de linfoma, conforme esclarece o hematologista Carlos Chiattone, chefe da disciplina de Hematologia e Oncologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e membro do Comitê Científico da ABRALE. Há diversos linfomas, com comportamentos clínicos e prognósticos completamente diferentes uns dos outros. Os linfomas podem se dividir em linfoma de Hodgkin (LH) e linfomas não-Hodgkin (LNH). Sob a nomenclatura LNH, são agrupadas cerca de 60 doenças com manifestações clínicas muito distintas. Nesse grupo há, por exemplo,os linfomas de evolução clínica indolente, que algumas vezes não necessitam de tratamento por anos, ou mesmo pelo resto da vida. O paciente convive com o linfoma, tendo boa qualidade de vida. Por outro lado, entre os LNH encontramos doenças muito agressivas e de rápida evolução. Quanto às células de origem, os LNH podem se dividir em linfomas B ou linfomas T, como no caso de Gianecchini. Os linfomas T – cerca de 20 diferentes entidades – têm, em geral, um prognóstico mais delicado. São linfomas mais resistentes, e para eles não existe ainda um anticorpo que possa ser utilizado. Conhecer o tipo específico de estrutura – se é B ou T – mostra-se funda- mental para a condução do procedimento. O tratamento da maioria dos linfomas B é feito com quimioterapia associada ao anticorpo monoclonal. Essa associação determinou uma melhoria significativa do prognóstico desses pacientes. Para se ter uma ideia, no linfoma B mais frequente, o chamado linfoma difuso de grandes células B, o emprego do anticorpo associado à quimioterapia aumentou a taxa de cura em cerca de 20%, determinando que atualmente seja curado um grande número desses pacientes. O hematologista Carlos Chiattone afirma que, independentemente do tipo de linfoma, essa é a área da oncologia que registrou os maiores avanços nos últimos anos. “Existem inúmeras novas drogas sendo testadas, e nos próximos anos teremos muitas novidades no tratamento”, esclarece o médico. Nesse campo, uma nova esperança é o plerixafor, droga da farmacêutica Genzyme com o nome comercial de Mozobil. Ele aumenta o número de células-tronco em circulação no sangue, o que é necessário para que possa ser adotada outra técnica de tratamento: o transplante de medula óssea, cujo nome técnico é “transplante de células-tronco hematopoéticas”. Ele é indicado quando há falhas no tratamento primário do linfoma. “O chamado transplante é um truque para que se possa realizar uma quimioterapia com doses muito elevadas”, esclarece o dr. Carlos Chiattone. A alta administração de quimioterápicos é eficaz, mas tem como efeito colateral a lesão irreversível da medula óssea. Para evitar isso, as células-tronco são coletadas previamente e reinfundidas após a quimioterapia. As célulastronco vão então repovoar a medular óssea e, em poucas semanas, o sangue volta a ser produzido normalmente. Além da sua utilização quando o tratamento primário falha, em alguns linfomas para os quais a quimioterapia ainda não é adequada se usa o transplante como reforço do tratamento inicial. Isso ocorre na maior parte dos linfomas T, como foi o caso do ator Reynaldo Gianecchini. 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 11 ■ E N T R E V I S TA Quis ter uma participação ativa na minha cura. Estive e ainda estou na mão de ótimos médicos. Fazer quimioterapia é chato, mas não é tão absurdo assim quando você tem a postura de viver um dia de cada vez, com calma. Eu cuidei de outras coisas, da cabeça. Acordava todo dia para meditar ou rezar – algo que me alimenta com bons pensamentos –, ler muito, como histórias de pessoas que tiveram câncer e como elas poderiam me ajudar. Cuidar da alimentação é fundamental: quando você está doente, a alimentação é um remédio. Então Então, fui buscar coisas nutritivas, que me deixassem saudável e, principalmente, alimentos funcionais para quem faz tratamento contra o câncer. Busquei uma alimentação propícia, com nutrientes, deixei de comer junk food. Tem de ter uma certa disciplina para se ajudar. É importante também o exercício físico, pois é fácil ficar derrubado na cama, só deitado. Me esforcei fazendo caminhadas. Claro que não dá para malhar, mas procurei ter vida normal. Adotei uma postura ativa em busca da cura. Não considero a doença um castigo, uma punição por estar no caminho errado. Ao contrário, nunca fui relapso em minhas atitudes, sempre busquei a harmonia. Acho que há coisas que não têm explicação, cada um tem o seu caminho, existem coisas reservadas para nós que fogem à nossa compreensão. Talvez lá na frente sejamos capazes de entender perfeitamente as razões e vamos agradecer muito. A gente não tem controle nenhum sobre a vida, achamos que é por 12 aqui e a vida fala: não, é por ali. Todas as vezes que eu tentei fazer planos, a vida me mostrou que não era exatamente aquilo. Fui flexível para aceitar e nunca me arrependi. Sempre entendi por que a vida havia me levado para o outro lado, como foi tão bom, e como descobri tanta coisa. Essa talvez seja uma visão meio espiritualista. Durmo todas as noites agradecendo muito e me sinto feliz: afinal, tem tanta coisa boa que vem junto. Tenho uma leveza tão grande, acredito tanto na cura que me sinto feliz todas as noites, me sinto abençoado e agradeço. Desde que souberam da doença, muitas pessoas vieram prestar solidariedade, muitas delas eram pes- soas que tiveram câncer, e eu de fato acho importante compartilhar experiências. Toda vez que vou ao hospital, passo pelos quartos de várias pessoas e converso com muita gente. Aprendo muito com cada sorriso, com cada uma das histórias. Estive com muitas crianças, porque fiquei numa ala onde há crianças com leucemia – é de cortar o coração. Mas, quando visito essas crianças, fico muito mais forte: elas têm uma força, um sorriso... Acho importante conversar com aquelas que estão deprimidas, ser solidário. Isso molda a gente para o futuro, nos torna mais humanos e nos leva a entender que é para isso que estamos aqui, esse é o grande sentido da vida.” ■ A PREVENÇÃO É POSSÍVEL? Quando falamos de doenças graves, sempre nos questionamos: é possível evitar que elas apareçam? Tratando-se de linfomas, é muito complicado falar em prevenção. Isso porque ainda não se sabe a causa da maioria deles; assim, fica difícil adotar alguma medida preventiva, ao contrário de outros tipos de câncer. Porém, o hematologista Carlos Chiattone alerta: manter hábitos saudáveis é sempre uma atitude bem-vinda para a saúde como um todo. Nesse ponto, é importante ressaltar os malefícios do tabagismo. A orientação do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indica o consumo regular de verduras e frutas. Elas podem ter efeito protetor contra os linfomas não-Hodgkin. Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença incluem um sistema de defesa comprometido e exposição química ou a altas doses de radiação. Já as pessoas com deficiência de imunidade estão mais propensas ao desenvolvimento de linfoma. Isso inclui os portadores de doenças genéticas hereditárias, os que usam drogas imunossupressoras ou os portadores do HIV, o vírus da Aids. Para alguns tipos de linfoma, também foi identificada uma tendência maior entre portadores dos vírus Epstein-Barr ou HTLV1 e da bactéria Helicobacter pylori, que infesta o estômago e pode causar gastrites e úlceras. A exposição a certos agentes químicos, incluindo pesticidas, solventes, fertilizantes, herbicidas e inseticidas, tem sido relacionada ao surgimento de linfomas em estudos com agricultores e outros grupos que se expõem a altos níveis desses agentes. ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 ■ N O TA S SEU PRATO SAUDÁVEL BIOPROTEÇÃO PARA CÉLULAS SAUDÁVEIS Um balão biodegradável que separa as células cancerosas dos tecidos saudáveis é um novo recurso para reduzir os efeitos colaterais da radioterapia no câncer de próstata, como diarreia, dor e sangramento. O dispositivo desenvolvido por pesquisadores israelenses é implantado com um procedimento simples e evita que a radiação atinja tecidos que não sejam o do tumor. Composto de polímeros biodegradáveis, dissolve-se no organismo em três meses. O projeto norte-americano MyPlate, que lembra os consumidores de fazer escolhas saudáveis ao montar as refeições, ganhou uma versão brasileira, lançada pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor/FMUSP). O programa Meu Prato Saudável, patrocinado pela GRSA – Soluções em Alimentação e em Serviços de Suporte e pela Qualicorp, traz sugestões de receitas e combinações de alimentos para o dia a dia no site www.meupratosaudavel.com.br, além de um guia prático e cartilhas com o selo de qualidade do Incor. “Pretendemos delinear um modelo nutricional para servir como referência nacional de alimentação saudável, pelo qual as pessoas possam identificar os melhores ingredientes e a quantidade de cada ingrediente”, explica a médica Elisabete Almeida. Uma pesquisa da Universidade de Colúmbia (EUA), patrocinada pelo Banco Mundial, prevê que em 2020 o Brasil será o campeão mundial em mortes por causas cardiovasculares. PROFISSÃO: CUIDADOR O projeto de lei que regulamenta a profissão de cuidador foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público em novembro e seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. O texto da proposta define o cuidador como o “responsável por cuidar da pessoa doente ou dependente, facilitando o exercício de suas atividades diárias, tais como alimentação, higiene pessoal, além de aplicar a medicação de rotina e acompanhá-la junto aos serviços de saúde (...)”. Para Cláudia Mancini, diretora da agência de cuidadores Life Angels, a regulamentação ajudará a definir as responsabilidades e limites da atuação dos profissionais. “A lei deverá separar o joio do trigo, fazendo com que a atividade seja devidamente respeitada”, diz. Para exercer esse trabalho, remunerado a partir do piso de um salário mínimo e meio, será preciso ter ensino fundamental e médio completos e ser aprovado em curso regular na área. “O bom preparo mina o terreno para pretensos cuidadores que protagonizam casos de maus-tratos. Os cursos dão uma visão geral dos aspectos emocionais, sociais e até mentais, base para lidar com as mazelas da profissão”, diz Cláudia. ENERGIA MAIS BARATA PARA PACIENTES Pessoas com deficiência, ou com doenças que requeiram o uso constante de equipamentos médicos, agora fazem parte do público beneficiado pela Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE), que concede desconto no pagamento da eletricidade. Quem consome até 30 quilowatts-hora (kWh) por mês terá desconto de 65%; de 31 kWh até 100 kWh, 40%; acima de 100 kWh, 10%. Para ter acesso ao benefício, as famílias devem estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico) e possuir renda mensal de até três salários mínimos. O responsável pela unidade consumidora ou o próprio portador da doença ou deficiência poderá, a qualquer tempo, requerer a TSEE às concessionárias. 14 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 MÚSICA E INTELIGÊNCIA LADO A LADO Aprender a tocar um instrumento durante a infância pode ser uma boa atividade para turbinar o cérebro, segundo concluiu uma pesquisa da York University e do Royal Conservatory of Music de Toronto. Nove em cada dez crianças acompanhadas pelos pesquisadores apresentaram melhorias no conhecimento de vocabulário, tempo de reação e precisão. O estudo envolveu 49 crianças de 4 a 6 anos que receberam lições duas vezes por dia, em sessões de uma hora, ao longo de 20 dias. O pediatra Marcelo Reibscheid, do Hospital e Maternidade São Luiz, cita ainda outros benefícios: “Crianças que ouvem ou estudam música com frequência normalmente têm um raciocínio mais rápido e maior facilidade de ganho verbal. Também sabemos que a música pode auxiliar em quadros depressivos infantis e até em sintomas de dores físicas”, conta. COMO SUPERAR O CÂNCER Estima-se que existam cerca de 24,4 milhões de casos no mundo. Em 20 anos, a incidência deve aumentar em cerca de 50%. São milhões de pessoas que, muitas vezes, se sentem desamparadas e desinformadas na jornada do tratamento. O livro Como Superar o Câncer, coordenado pelo médico brasileiro Paulo Hoff – um dos principais oncologistas do mundo – em parceria com Artur Katz, Paulo Chapchap e a equipe do Hospital Sírio-Libanês, é um guia para pacientes e familiares que explica o surgimento da doença, terapias e efeitos colaterais, reações emocionais, vida sexual e fertilidade, o papel das atividades físicas e os direitos dos pacientes, entre outros temas. Publicada por Saúde, da Editora Abril, e à venda nas principais bancas e livrarias por 24,90 reais, a obra mostra que, com pequenos ajustes no estilo de vida, a rotina de um paciente é tão proveitosa como a de qualquer outro indivíduo. QUALIDADE DE VIDA CADA VEZ MAIOR O diagnóstico de câncer, na maioria dos casos, provoca uma série de temores, mas não deve ser encarado como um bicho de sete cabeças. Hoje, o tratamento pode seguir por diversos caminhos, cada vez mais distantes dos efeitos colaterais. O médico Enaldo Lima, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia (Sboc), ressalta que o tratamento passou a ser domiciliar nos últimos dez anos e a envolver drogas aplicadas oralmente. “Os medicamentos atuais apresentam efeitos colaterais menos intensos, como queda de cabelos, enjoos, fraqueza, vômitos, e contam com eficácia bem superior”, diz. Uma das novidades é a doxorrubicina lipossomal peguilada (DLP), substância utilizada em tumores de mama e ovário que atua diretamente nas células doentes e não afeta outras regiões do organismo. No caso do câncer de próstata, há alternativas como a leuprorrelina, aplicada de forma menos incômoda. “Com as novas descobertas, tratamentos individualizados e drogas mais avançadas e específicas, as taxas de remissão ou cura são hoje uma realidade incontestável. A qualidade de vida do paciente é cada vez maior”, comenta o oncologista Anderson Silvestrini, atual presidente da Sboc. 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 15 CORPO ■ GASTRONOMIA EDAMAME POR PENHA MORAES VOCÊ SABE QUE ALIMENTO É ESTE? CONSUMIDO HÁ SÉCULOS PELOS ORIENTAIS, ELE AGORA TRAZ SEUS INÚMEROS BENEFÍCIOS AO CARDÁPIO E À SAÚDE DOS BRASILEIROS A textura é macia e o sabor, suave. Os grãos e as pequenas vagens são de um verde tenro, fresco e apetitoso. Esse é o edamame, originário da China e consumido desde 200 a.C. No Japão, a primeira referência ao vegetal data de 1275, e consta de um bilhete escrito por um monje agradecendo a um fiel o presente de edamame deixado no templo. Em japonês, a palavra significa literalmente “galho de feijão” (eda, galho, e mame, feijão) e batiza a soja verde, colhida antes que amadureça. A mesma palavra designa as vagens servidas como aperitivo ou acompanhamento, ou os grãos cozidos, usados não apenas como tira-gosto, mas como ingrediente de inúmeros pratos. Além de japoneses e chineses, os coreanos também consomem o vegetal chamado por eles de kong – um termo geralmente usado para nomear todos os tipos de feijão. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos define edamame como grãos de soja que podem ser comidos frescos, conhecidos por seu alto valor nutritivo. 16 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 17 CORPO ■ GASTRONOMIA COMO SERVIR O EDAMAME A nutricionista Célia Mara Garcia aponta várias opções: Edamame temperado Em 1/2 litro de água fervente, cozinhe o edamame congelado por 3 minutos. Escorra a água em uma peneira. Adicione sal ou um molho com 2 a 3 colheres (sopa) de azeite com ervas, como salsinha, cebolinha ou nirá (cebolinha japonesa) e shoyu a gosto. Edamame com tahine Ingredientes: 1 colher (sopa) de tahine 1 colher (chá) de missô Prepare o edamame cozido em água e sal ou no vapor, e sirva com uma pasta de tahine (creme de gergelim) e missô (pasta de soja fermentada). Se quiser, adicione 1 colher (sobremesa) de azeite de oliva e salsinha crua bem picadinha Massas com edamame Retire os grãos de edamame das vagens e cozinhe-os, ou use os grãos congelados. Misture-os com rúcula, tofu ao curry ou ricota e manjericão, temperando a gosto. Sirva como molho de penne ou farfale integral. Outras sugestões Os grãos de edamame também podem ser adicionados ao arroz integral, juntamente com brócolis, e ao risoto de salmão e abobrinha. Os pratos ficam uma delícia! 18 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 Do ponto de vista nutricional, a soja verde é excelente fonte de proteína, carboidratos, fibras e minerais. Contém vitaminas, principalmente do complexo B e a vitamina C (não encontrada nos grãos de soja maduros). Ela também apresenta grãos maiores, mais saborosos, macios e de cozimento rápido. Com todos esses aspectos positivos, por que o edamame apenas agora chegou à nossa mesa? Quem responde é a nutricionista Célia Mara Garcia: “Nos últimos dez ou 15 anos, aumentou muito o consumo de comida japonesa no Brasil, bem como o acesso aos diferentes hábitos desse povo. Foi a partir daí que nós, brasileiros, passamos a incorporar à nossa cozinha as al- gas, o tofu e vários outros ingredientes orientais, e até mesmo descobrimos a praticidade de alguns utensílios usados por eles, como a panela elétrica japonesa para preparar arroz”. Mesmo sendo o Brasil o segundo maior produtor mundial de soja, perdendo apenas para os EUA, o grão ainda não aparece em larga escala em nossa mesa. No passado, um dos entraves à sua inclusão entre nossos hábitos alimentares parece ter sido o gosto. Entretanto, nos últimos 15 anos, com a descoberta de suas propriedades funcionais e o surgimento de produtos saborosos preparados à base do grão, a imagem da soja vem mudando entre os brasileiros, e hoje ela já é vista como um alimento nutritivo, saudável e gostoso. Por outro lado, nossa soja verde, resultado de pesquisas de melhoramento genético, é desenvolvida e lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), mais especificamente a Embrapa Soja, e apresenta sabor suave e mais adocicado (ela não contém a enzima responsável pelo travo amargo), sendo digerida com mais facilidade. Agora, o edamame pode ser encontrado em feiras e supermercados, fresco (em galhos ou na vagem) ou congelado (descascado, como ervilhas). “A única restrição do alimento é para pessoas que tenham alergia a soja. Elas devem se lembrar de que o edamame é soja, embora consumida de outra maneira”, adverte a nutricionista Priscila Rosa, da Equilibrium Consultoria. “Alguns também associam o edamame à redução de peso, mas não existe nenhum estudo conclusivo sobre esse assunto ou contraindica- PERGUNTE AO NUTRICIONISTA Há contraindicações ao consumo de edamame pelos pacientes em tratamento de câncer? A nutricionista Célia Mara Garcia responde: “Todos podem incluir o edamame no cardápio, com exceção daqueles sensíveis à soja ou aos fitoestrogênios contidos em seus grãos. Também recomendo às pessoas que quando consumirem edamame acompanhem a refeição com uma boa quantidade de verduras verde-escuras, ricas em iodo. Além de auxiliar a digestão, elas promovem o melhor aproveitamento dos benefícios da soja sem prejudicar a tireoide – glândula que necessita de iodo. A soja em excesso, sem a ingestão concomitante de iodo, pode sobrecarregá-la”. ção”, esclarece Andrea Andrade, nutricionista da RG Nutri Consultoria Nutricional. Porém, na hora de petiscar, é uma boa escolha como aperitivo ou salada por conter diversos nutrientes. “Seu consumo, associado a uma dieta equilibrada e a um estilo de vida saudável, pode fazer parte de uma dieta de emagrecimento, como uma opção de grão”, observa Andrea. Existem várias formas de incluir o edamame no cardápio da família. As extremidades das vagens podem ser cortadas antes de fervê-las ou cozinhá-las no vapor. O modo de preparo mais comum usa o sal, que pode tanto ser dissolvido na água antes de se adicionar as vagens, quanto salpicado após o cozimento. O edamame é servido normalmente depois de esfriar, mas também pode ser consumido ainda quente. No Japão, o sal usado nesse prato é o marinho. ■ A SOJA VE R D E É FONTE D E PROTEÍNAS , CARBOIDR AT O S , FIBRAS, VITAMINAS E MINERAI S VOCÊ SABIA? OUTROS INGREDIENTES ADAPTADOS RECENTEMENTE À CULINÁRIA BRASILEIRA: Chia Originária do México, Argentina e Bolívia, é uma semente que foi muito consumida por civilizações antigas. Quinua Grão oriundo da região dos Andes. 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 19 CORPO ■ DO-IN BEM-ESTAR NA PONTA DOS DEDOS A T É C N I C A S E G U E O S P RINCÍPIOS DA MILENAR ME D I C I N A C H I N E S A , Q U E VÊ O SER HUMANO COMO U M T O D O N O Q U A L O S ASPECTOS MENTAIS, E M O C I O N A I S E F Í S I C O S ESTÃO INTERLIGADOS P O R E D N A VA I R O L E T T I 20 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 U m toque com a ponta dos dedos. Uma pressão mais forte ou movimentos suaves. É dessa forma simples, mas que exige técnica e conhecimento, que se aplica o do-in, uma automassagem milenar que segue os princípios da medicina tradicional chinesa, segundo a qual a saúde está relacionada com a condição energética do nosso corpo e nossos órgãos. O do-in guarda a visão de que somos únicos e que o corpo é um todo. Os aspectos mentais, emocionais e físicos estão interligados por canais chamados de meridianos, alinhados verticalmente e duplicados dos dois lados do corpo, pelos quais circula a energia vital, conhecida como qi. Nesses trajetos se localizam quase mil pontos, ordenados entre si e que precisam estar livres para que a energia possa fluir. Às vezes eles têm de ser estimulados. Outras vezes, sedados, para que fiquem em sintonia. Um descompasso ou bloqueio nesse sistema pode afetar a saúde e o bem-estar. O do-in busca, justamente, restabelecer o equilíbrio nessas vias energéticas, pois, quando há excesso ou escassez de energia nos pontos, a imunidade diminui, gerando um distúrbio no organismo. Assim, a doença é explicada como a concentração da desarmonia do fluxo energético em alguma parte do nosso corpo. “Com essa circulação de energia se evita o acúmulo da força yang ou a deficiência da força yin. A falta de equilíbrio de tais forças é a etiopatogenia, ou seja, a origem das doenças”, detalha Sidney Donatelli, massoterapeuta, professor de movimento consciente e fundador e diretor da escola Amor. Os pontos utilizados no do-in repetem os da acupuntura. “São técnicas irmãs. Só que o do-in, em vez de agulhas, utiliza as pontas dos dedos para estimular os pontos. Na acupuntura, atingem-se níveis energéticos mais profundos e se delega a responsabilidade da aplicação para o terapeuta – além de ser possível combinar, simultaneamente, vários pontos, potencializando os efeitos buscados. Já no do-in, trabalha-se um ponto de cada vez e é possível se automassagear, desde que se aprenda onde estão localizados os diferentes pontos e como manipulá-los corretamente”, explica João Julio Diogo de Almeida, fisioterapeuta, massagista e acupunturista da Humaniversidade e Companhia Zen. Sidney comenta que o aperfeiçoamento do ato de tocar requer um desenvolvimento da sensibilidade e técnica, o que envolve o conhecimento dos meridianos. “O toque deve estar conectado com os limites acessíveis do corpo, para que este 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 21 CORPO ■ DO-IN O D O - I N V I S A A O F O R TA L ECIMENTO D A S R E S I S T Ê N C I A S O R G ÂNICAS, A U X I L I A N D O E C O M P L E M ENTANDO O T R ATA M E N T O O N C O L Ó GICO tenha uma resposta produtiva, estabelecendo-se assim um diálogo através da linguagem do tato e de movimentos como uma forma de ‘ler’ o corpo do massageado, e de expressar um estímulo adequado dosando profundidade, tempo, ritmo e velocidade. Uma prática completa dura aproximadamente uma hora, mas pode ser feita no cotidiano com toques mais breves.” Introdutor do do-in no Brasil e divulgador das técnicas e do pensamento chinês, Juracy Cançado é praticante da automassagem há 40 anos. “Nos anos 70, os princípios da medicina chinesa eram de difícil entendimento. Hoje a própria ciência reconhece seus resultados positivos. Costumo dizer que, em algum momento de nossa vida, todos deveriam fazer uma varredura pelos meridianos, uma faxina, para eliminar conexões interrompidas que causam o adoecimento.” Juracy explica que a própria expressão do-in – que pode ser traduzida como “caminho suave”, “caminho de casa” ou “caminho interno” – reflete um pouco desse cuidado com nós mesmos. “Num sentido mais amplo, a técnica induz um olhar para dentro, para nosso próprio crescimento, à medida que praticamos uma autoterapia.” Ao comparar a sabedoria milenar 22 ■ oriental com nosso atual universo tecnológico, Juracy diz que os meridianos podem ser visualizados como uma rede, um sistema autônomo com portas de acesso: os pontos. Com o toque, essas portas podem ser abertas e atingidas, e assim é possível dissolver a energia acumulada e eliminar o bloqueio existente, permitindo um fluxo normal de conexões livres. “Se um ponto estiver rígido ou dolorido, é sinal de que está desconectado da rede, não deixando a energia fluir. Com o tempo, essa interrupção pode se transformar num problema de saúde.” O do-in cria, portanto, uma gama de possibilidades para que os pontos sejam trabalhados. Juracy explica que “se o propósito é sedar, a pressão do dedo no ponto é contínua, sem movimento, o que acalma e reduz a excitação causada pelo excesso de energia. Se, ao contrário, houver deficiência energética, é sinal de que a atividade do órgão está em baixa. A proposta nesse caso é tonificar o ponto com toques repetidos. A dor, ao se tocar no ponto, sinaliza que há um bloqueio”, ensina. Em geral, os sintomas do excesso de energia são dor, inflamação, contração e aquecimento. Já os de deficiência incluem hipotensão (pressão baixa), flacidez, suor frio e inchaço. Para Paulo Minoru Minazaki Jú- R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 nior, terapeuta corporal, não existe uma “receita de bolo”. “Não se pode considerar que determinado ponto traga benefícios apenas para um problema, pois a dor num local nem sempre tem a mesma origem. É muito importante tratar o ramo, mas é fundamental tratar a raiz. Por exemplo, quando se tem dor de cabeça, usualmente as pessoas tomam um medicamento. Isso trata a dor, mas não a causa da dor. Com a massagem e a acupuntura, a medicina chinesa atua não só na dor, mas na sua causa. Porém, é importante também visitar o médico e fazer exames de imagem para averiguar se existe alguma razão mais grave para essa dor de cabeça”, detalha. tomados remédios não prescritos”, defende João Julio. “Existem casos em que não mexer é a melhor opção”, alerta o terapeuta Paulo Minazaki Júnior, que cita duas situações. “A primeira é uma fratura. Não se faz massagem no membro fraturado, mas, enquanto se locomove o ferido para o hospital ou se espera por socorro, pode-se usar algum ponto de analgesia que não esteja na região lesionada, para promover o alívio da dor. A segunda é a gravidez. Há pontos que não devem ser aplicados na gestante. Existe a hora certa para eles. A antecipação desse momento pode provocar um aborto.” DO-IN E O CÂNCER COM CRITÉRIO Sem o propósito de curar, o do-in é encarado como um tratamento preventivo, lembra o fisioterapeuta João Julio. “Muitas aflições cotidianas podem ser aliviadas, como cefaleias tensionais e cólicas menstruais, nas quais a causa é um desarranjo passageiro”, exemplifica. “Embora qualquer pessoa possa automassagear os pontos, a procura de um terapeuta é importante em casos complexos, pois o profissional está mais preparado para orientar os trajetos adequados, indicar os pontos de efeito mais abrangente e, sobretudo, os que se aplicam melhor naquele momento.” A técnica também é recomendada nos primeiros socorros. “Numa emergência, por exemplo, é uma alternativa para se fazer algo enquanto o profissional especializado não chega. Usando os pontos de doin com conhecimento, o risco de erros e de efeitos colaterais será muito menor do que quando são Juracy, autor de diversos livros sobre a técnica, observa que é preciso estar consciente de que, em alguns casos, o do-in significa uma ajuda secundária – no caso de uma infecção causada por bactérias, por exemplo. “O do-in considera que o câncer provoca uma desorganização da rede que já atingiu um nível de degeneração, com o crescimento indesejável das células doentes. Nesse caso, a prática servirá de complementação dos recursos tecnológicos e medicamentos a serem ministrados no tratamento convencional. As drogas alteram as condições naturais do organismo e seu fluxo energético, gerando incômodos como dores de cabeça, enjoos etc. Esses efeitos colaterais poderão ser amenizados com a massagem nos pontos mais adequados.” Paulo Minazaki Júnior lembra que estudos recentes têm comprovado que a acupuntura pode ajudar a modular o sistema imunológico, diminuindo efeitos indesejáveis da quimioterapia. No entanto, como muitas pessoas são resistentes às agulhas, o do-in pode ser muito útil, uma vez que atua por meio da digitopressão (pressão com os dedos) e da massagem. “Existe um ponto muito pesquisado, o PC6 (Pericardio 6), localizado na região do antebraço, que vem sendo utilizado para tratar enjoos provocados por medicamentos como os quimioterápicos, pela gravidez ou as náuseas sentidas em viagens de barco e avião. A pressão forte nesse e em outros pontos pode diminuir a sensação de mal-estar.” No que se refere ao quadro clínico dos pacientes oncológicos, o terapeuta corporal não acha recomendável o doente se automassagear. “Há alguns cuidados que precisam ser respeitados nesse grupo. Não se deve promover o fluxo sanguíneo nem o da energia qi através dos meridianos. É para evitar que ocorra maior proliferação das células doentes, ou, popularmente falando, que o câncer se espalhe.” E adverte: “Mesmo com pequeno risco, um ponto ou manobra errada podem provocar efeito colateral. Por isso, deve-se ter consciência da prática, pois, ao invés de exteriorizar um agente patogênico, a manipulação incorreta do ponto pode fazer com que esse agente se aprofunde. É apenas uma questão de cuidado, e não uma restrição”, enfatiza. Em suas experiências na oncologia, na maioria dos casos com pacientes terminais e usando diferentes técnicas da medicina chinesa, Paulo diz que a ideia é sempre proporcionar melhor qualidade de vida. “A proposta está em auxiliar o paciente a lidar melhor com a situação e com os efeitos colaterais do tratamento. A receptividade depende de cada um. Tive pacientes revoltados com a doença e em quem, mesmo em coma, percebia-se a rejeição às práticas. Minha mãe se recusava a receber acupuntura, a melhor indicação para aliviar suas dores agudas. Por outro lado, vivi uma experiência fantástica com um garoto de 13 anos, com leucemia, que teve rejeição ao transplante de medula. Apesar da gravidade do problema e da pouca idade, deu uma resposta muito importante durante todo o processo. O que conseguimos foi melhorar sua qualidade de vida no período de internação, já que o caso era grave e foi irreversível.” O massoterapeuta e escritor Sidney Donatelli diz que o princípio do do-in visa ao fortalecimento das resistências orgânicas, auxiliando e complementando o tratamento oncológico. “Já atendi vários pacientes com câncer e não é possível mensurar o efeito dos diversos métodos, pois não existe uma pesquisa pontual. Mas as aplicações são fundamentais para a estabilidade, permitindo uma tomada de consciência do processo pelo qual se está passando. Cito aqui um depoimento: ‘Os oito meses que antecederam a decisão sobre a minha cirurgia de grave câncer em 1998 e, depois de cinco anos, a nova batalha contra o tumor que voltou tiveram nas nossas sessões paralelas ao tratamento médico uma grandiosa estabilidade emocional’. Tal afirmação foi feita por um paciente meu de 81 anos.” Independentemente da complexidade dos recursos tecnológicos e medicamentos avançados, ou da simplicidade do toque do do-in, o desafio é trazer o alívio das manifestações incômodas da doença, seja ela grave, crônica ou emergencial. ■ 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 23 MENTE ■ C O M P O R TA M E N T O CRENÇAS POPULARES, INIMIGAS SILENCIOSAS S E M R E S PA L D O DA CIÊNCIA, ELAS PODEM P R E J U D I C A R O D I A G N ÓSTICO PRECOCE, INTERFERIR N O T R ATA M E N T O E REDUZIR AS CHANCES D E C U RA DO CÂNCER P O R PAT R Í C I A L I M A O que fazer com um sintoma que pode apontar a existência de câncer? Como agir diante de um diagnóstico que comprova aquilo que tanto se temia? Quando a realidade se torna difícil demais de ser enfrentada com calma e prudência, rever crenças escondidas há gerações no baú das memórias coletivas pode ser um alento, uma esperança para um futuro espinhoso e desconhecido. Câncer? Só quem tem histórico familiar. Nódulos, gânglios inchados, dores? 24 ■ Um chá pode melhorar. É maligno? Uma cirurgia espiritual resolverá. Mitos e crenças populares podem ser, segundo especialistas, inimigos do paciente oncológico. Todas as respostas às perguntas ao lado e acima seriam maravilhosas caso tivessem, comprovadamente, eficácia contra a doença. O problema é que acreditar apenas em curas milagrosas ou em receitas caseiras pode retardar o diagnóstico ou até interferir no tratamento, prejudicando a qualidade de vida do paciente. R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 Ao perceber esse problema, o Instituto do Câncer de São Paulo lançou um alerta sobre os mitos que dificultam o diagnóstico da doença (veja quadro nas páginas seguintes). Em um cenário em que a descoberta e o tratamento precoce são fundamentais, fatores que retardem o início dos procedimentos médicos representam riscos reais à saúde de quem sofre de qualquer tipo de câncer. A chave para amenizar esses riscos, de acordo com os especialistas, é a informação. O chefe da Oncolo- gia Clínica do Instituto Nacional de Câncer, Daniel Herchenhorn, afirma: é fundamental separar a crença do que é cientificamente comprovado. Daí a importância de se buscarem informações em fontes confiáveis, chanceladas por estudos e avaliadas pelas agências reguladoras da saúde no país. “É claro que a ciência não é capaz de explicar tudo, mas precisamos basear o tratamento em evidências médicas, em estudos que comprovem que determinado medicamento é eficaz”, afirma Daniel. Mais do que os mitos sobre prevenção, sintomas e causas do câncer, a cura para a doença é o que costuma provocar as teorias mais inusitadas, as receitas mais inesperadas. Babosa, cartilagem de tubarão, casca de banana, romã, chás – dietas, enfim. Seria impossível contabilizar quantas receitas milagrosas ou tratamentos alternativos já apareceram. A jornalista Cristiane Segatto conta, em uma de suas colunas, que em conversa com o ex-vice-presidente José Alencar durante uma de suas muitas internações para o tratamento de um câncer, ela viu sua caixa de e-mails. Como ocorria todos os dias, ele havia recebido mais uma receita milagrosa, dessa vez à base de graviola. A espiritualidade dos pacientes e familiares também é uma parte fundamental do processo de tratamento. Conhecidos de quem lida com a realidade do câncer, os benefícios da fé podem ser, muitas vezes, comprovados. Estudos já apontaram: pessoas que acreditam em forças superiores, independentemente 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 25 MENTE ■ C O M P O R TA M E N T O MITOS E VERDADES MITOS Uso de desodorante pode causar câncer de mama. ■ Somente quem tem histórico familiar está sujeito a desenvolver a doença. ■ A ingestão de leite prejudica o tratamento do câncer. ■ O consumo de adoçantes provoca o surgimento da doença. ■ Falta de higiene nas regiões íntimas não está relacionada ao câncer. ■ Câncer é uma doença contagiosa. ■ Pessoas negras não têm câncer de pele. ■ Segurar a urina dá câncer de bexiga. ■ A prática de relações sexuais sem preservativo não aumenta o risco de desenvolvimento da doença. ■ Implantes de silicone podem provocar câncer de mama. ■ Alimentos preparados no micro-ondas podem provocar câncer. ■ Um câncer pode ser causado por uma pancada. ■ Todo nódulo ou tumor se transformará em câncer. ■ Toda leucemia surge a partir de uma anemia. ■ VERDADES A falta de vitamina D pode aumentar os riscos de desenvolvimento de câncer de mama. ■ O vírus HPV está relacionado ao desenvolvimento de tumores no ânus e nos órgãos da região da cabeça e do pescoço. ■ O consumo de álcool e tabaco eleva as chances de desenvolvimento da doença. ■ Ter filhos mais tarde (após os 30 anos) aumenta os riscos de desenvolvimento de câncer de mama. ■ Quanto maior a idade, maiores as chances de desenvolvimento de um câncer. Mas isso não significa que os jovens não estejam sujeitos à doença. ■ Homens também podem ter câncer de mama. ■ Câncer tem cura. Quanto mais cedo for diagnosticado, maiores são as chances de curá-lo. FONTE: INSTITUTO DO CÂNCER DE SP ■ 26 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 da orientação religiosa, podem enfrentar o tratamento de forma mais otimista e positiva, o que contribui para a qualidade de vida do paciente. O ator Reynaldo Gianecchini, diagnosticado recentemente com um linfoma, recorreu a uma cirurgia espiritual (sem abandonar o tratamento convencional, claro) como parte de sua busca pela cura. Segundo Daniel Herchenhorn, do Inca, não existem estatísticas precisas, mas estima-se que algo em torno de 80% dos pacientes oncológicos recorram a tratamentos alternativos no combate à doença. “Normalmente, isso não é um problema. Ruim mesmo é quando a pessoa retarda o diagnóstico, posterga ou até abandona o tratamento por alguma promessa milagrosa ou à base de ingredientes naturais ou ainda desconhecidos da ciência”, sentencia. Por mais incrível que possa parecer, não são incomuns os casos de pessoas que trocam o tratamento convencional pelo alternativo. É o que revela Sérgio Jobim de Azevedo, chefe do serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. De acordo com ele, na maioria dos casos o médico consegue destituir o paciente da ideia arriscada de apostar unicamente em terapias alternativas. “Os modismos chegam com força ao consultório, prometendo milagres. Lembro das ondas da cartilagem de tubarão e da babosa. Normalmente, essas alternativas não fazem mal, desde que sejam sempre discutidas com o médico e que o paciente não interrompa o tratamento convencional”, alerta. A maioria dos médicos, segundo Sérgio, não se opõe aos tratamentos alternativos, desde que eles não interfiram na terapia prescrita. No entanto, as crenças tornam-se prejudiciais ao paciente quando substituem os medicamentos e procedimentos já estudados e com eficiência comprovada cientificamente. Ele também observa que a fé em tratamentos milagrosos ou curas espirituais extrapola o nível cultural do paciente. Mesmo os mais escolarizados e intelectualizados buscam essas fórmulas extraconsultório, que podem ou não ser benéficas, dependendo das escolhas do paciente. “O próprio Steve Jobs reconheceu, em sua biografia, que durante anos buscou terapias alternativas para o câncer”, comenta. NEM TÃO INOFENSIVOS Lembra quando a sua avó chegava com aquela xicarazinha de chá, convencendo você a beber o líquido fumegante já que, se não ajudasse a curar a sua gripe, ao menos mal não iria fazer? Pois quando o assunto é o tratamento do câncer, o papo da vovó não é bem assim. Aquele chazinho que o seu vizinho lhe receitou como infalível pode não ser tão inofensivo. Substâncias químicas presentes em muitas ervas podem, sim, interferir no efeito dos medicamentos ou potencializar reações colaterais. Durante o tratamento de um de seus pacientes, o hematologista Flavo Beno Fernandes, da Oncologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, percebeu que a resposta aos medicamentos estava bem mais lenta do que o esperado. Ao UMA DICA UNÂNIME DO S PROFISSIONAIS: TODOS O S TRATAMENTOS ALTERNATIVOS D E V E M SER DISCUTIDOS COM OS MÉ D I C O S investigar as causas, ele se deparou com uma série de chás que o doente tomava diariamente, com o objetivo de complementar o tratamento. Ao seguir a recomendação médica e suspender o uso dos chás, o paciente logo apresentou melhora. Esse é somente um dos exemplos trazidos pelo médico de como um “inocente” fitoterápico pode interferir no processo. Ele comenta ainda que os milagreiros de plantão, que prometem curas espirituais ou remédios supereficientes (que teriam sido escondidos do público pela indústria farmacêutica para evitar que fosse descoberta a cura completa do câncer), têm uma responsabilidade (ou irresponsabilidade!) com relação às pessoas a quem tentam convencer. Iludir um paciente oncológico com a promessa de cura pode significar o retardo no início do tratamento. “Como estamos falando de uma doença em que o diagnóstico precoce é a maior esperança, coisas desse tipo são realmente prejudiciais”, alerta Flavo. Uma dica unânime dos profissionais é que todas as formas de tratamentos alternativos sejam discutidas com o médico. Normalmente, os oncologistas não desaconselham a espiritualização dos pacientes nem a maior parte das terapias alternativas, como dietas e fitoterápicos. No entanto, é importante que eles conheçam exatamente as substâncias que estão sendo usadas pelos pacientes paralelamente ao tratamento convencional. Assim, evitam interações químicas indesejáveis e ainda mantêm uma conexão com o paciente, conhecendo o seu estado emocional. PREVENIR AINDA É A MELHOR TERAPIA Pesquisar novas substâncias e testá-las para que se tornem uma opção de tratamento confiável custa tempo e dinheiro, lembra Daniel Herchenhorn, do Inca. Dessa forma, muitas substâncias que são, de fato, promissoras, acabam demorando anos para se tornar remédios. Por isso, a melhor terapia ainda é a prevenção. Manter hábitos saudáveis de vida, como controlar a alimentação e praticar exercícios físicos, é um passo importante. Evitar drogas, cigarro e álcool e realizar os exames preventivos também é a garantia de uma saúde melhor. “O homem que faz o exame na próstata e a mulher que realiza a mamografia estão cuidando bem mais da saúde do que quem toma pílulas milagrosas. Se os primeiros tiverem câncer, descobrirão a doença em fase inicial e suas chances de cura serão muito grandes. A prevenção é, comprovadamente, a melhor estratégia contra o câncer”, afirma. ■ 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 27 MENTE ■ CONCURSO PROFISSIONAIS DA FOTOGRAFIA 1º ISSO AQUI É UM POUQUINHO DO BRASIL AUTOR: RAPHAEL FREIRE ALVES, MANAUS/AM O título da foto de Raphael – que também venceu a edição anterior do concurso – emprestou versos de Isto Aqui, o Que É?, de Ary Barroso. A imagem mostra, para continuar na letra da música, um povo que “não tem medo de fumaça e não se entrega”. Fotógrafo há dez anos, Raphael retratou as palafitas construídas sobre os igarapés do bairro de São Jorge, na zona oeste de Manaus. “Era um dia cinzento, e o colorido da bandeira chamou minha atenção”, conta. “É um retrato da vida sofrida e da luta do povo brasileiro.” Povo que, apesar de tudo, “canta e é feliz”. RETRATOS DA VIDA 2º A HORA DO BANHO 3º SALA DE AULA AUTOR: RENATO VIEIRA SOARES, SÃO PAULO/SP POR PENHA MORAES As 40 fotos selecionadas pelos jurados do 4º Concurso Nacional de Fotografias – Retratos da Vida, promovido pela ABRALE, ABRASTA e Senac, apresentam a vida a partir dos mais diferentes olhares de profissionais da fotografia, pacientes e familiares, profissionais da saúde e do público em geral. Além do tema, a novidade desta edição do concurso foi a votação popular: 3,6 mil pessoas de todo o Brasil escolheram três fotografias para serem expostas na agenda e no calendário de 2012 da ABRALE. “Quando soube que fiquei em segundo lugar no júri popular, com 490 votos, vibrei de emoção. Eu me sinto vencedora por estar viva e poder me inscrever no concurso”, conta Alline Mikaela Pereira, portadora de mielodisplasia que se submeteu a um transplante de células-tronco de cordão umbilical em 2010. Depois de integrarem exposições itinerantes na cidade de São Paulo, as primeiras colocadas em cada categoria ganham, agora, as páginas da Revista da ABRALE. 28 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 AUTOR: JOÃO MIGUEL PINHEIRO, OLINDA/PE 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 29 MENTE ■ C O N C U R S O PA C I E N T E S E FA M I L I A R E S 2º CAMINHOS DE FLORES AUTORA: ALESSANDRA FAUDT, SÃO PAULO/SP 3º 1º RETRATOS DA CORAGEM, ESPERANÇA, AMOR E VIDA! AUTORA: VANESSA TEIXEIRA DA SILVA BARBOSA, JUNDIAÍ/SP Ana Julia, filha de Vanessa, tinha 3 anos de idade e estava em tratamento contra a leucemia quando posou para a foto Felicidade, terceira colocada no primeiro concurso da ABRALE, em 2008. Hoje, aos 6 anos, ela e a família comemoram os rumos dessa história. “Com muito suor, superamos a doença”, lembra a mãe. “Tiramos uma nova foto para mostrar que sempre há uma luz no fim do túnel.” O retrato antigo foi pendurado na parede da sala, e um vídeo no Youtube narra cada passo até a cura. O título: Ana Julia, uma História de Vitória. 30 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 PERUCA. POR QUE NÃO? AUTORA: MÔNICA RIBEIRO BITTENCOURT, RIO DE JANEIRO/RJ 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 31 MENTE ■ CONCURSO PROFISSIONAIS DA SAÚDE 2º 1º AUTOR: MARCELO NUNES DO NASCIMENTO VIEIRA, RIO DE JANEIRO/RJ MENINAS NA JANELA AUTORA: MARIA DO SOCORRO RODRIGUES, NATAL/RN Entretidas em suas brincadeiras, como se a vida fosse uma festa sem hora para acabar, as gêmeas Maria Clara (à frente) e Analuz, de 6 anos, pararam na janela por uma fração de segundo para a foto tirada pela mãe, a enfermeira Maria do Socorro. Era fim de tarde, a família estava em férias, e as duas se divertiam nos brinquedos de madeira de um parquinho. “Foi uma cena muito espontânea, elas estavam bem à vontade. Isso chama a atenção, pois a foto fica muito mais bonita e verdadeira”, diz a mãe. 32 O AMOR NOS TEMPOS DE CÓLERA ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 3º ABRAÇANDO A VIDA AUTOR: ROGÉRIO PIMENTA LIMA, IRECÊ/BA 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 33 MENTE 1º ■ CONCURSO PÚBLICO EM GERAL COLORES 3º UM INFINITO OLHAR AUTOR: JEAN ROSA NUNES, CHAPADA DOS GUIMARÃES/MT SUPERANDO DESAFIOS AUTOR: EVANDRO BALBINO DOS SANTOS FRANCO, SUZANO/SP Desde a juventude, Evandro, hoje aos 38 anos, convive com um vício – o álcool – e uma paixão – a fotografia. “Uma de minhas frustrações foi não trabalhar na área. Mas fiz disso um hobby para me ajudar a superar o alcoolismo”, explica o autor da imagem, que atuou por muito tempo em indústrias. O retrato foi feito durante um passeio com a mulher na linha do trem, na região da Represa Taiaçupeba, em Suzano/SP. Evandro já frequentou aulas de fotografia em duas ocasiões e se prepara para a próxima. “Já me inscrevi no curso do Senac, um dos prêmios do concurso”, conta. 34 2º ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 AUTORA: VERA LUCIA MESSIAS MARQUES, ARAÇATUBA/SP 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 35 MENTE 1º ■ CONCURSO JURI POPULAR TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA: A VIDA RENASCE 3º RETRATOS DA CORAGEM, ESPERANÇA, AMOR E VIDA! AUTOR: ALLINE MIKAELA PEREIRA, UMUARAMA/PR ANJOS DA ALEGRIA AUTOR: ZELOI APARECIDA MARTINS SANTOS, CURITIBA/PR Em tratamento de leucemia linfoide aguda desde maio de 2011, Lívia sempre registrou sua rotina de internações em imagens e textos para tranquilizar amigos e familiares. “A vida dentro de um hospital não é só tristeza. A pessoas estão lá para ficar bem e queríamos passar isso com a foto”, explica a mãe Zeloi. Logo na primeira internação no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, a paciente recebeu a visita de um grupo de voluntários – “Anjos da Alegria” – que encheu o quarto de sorrisos. “É o retrato de alguém que verdadeiramente ama a vida”, acredita Zeloi. 36 2º ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 AUTOR: VANESSA TEIXEIRA DA SILVA BARBOSA, JUNDIAÍ/SP 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 37 MENTE ■ ÉTICA MÉDICA FERTILIDADE UMA QUESTÃO A SER DISCUTIDA C O M A E L E VA Ç Ã O D O S Í NDICES DE CURA DO CÂNCER, A P R E S E R VA Ç Ã O D A F E R T I L IDADE É IMPOR TANTE PARA QUE O S PA C I E N T E S L E V E M V I DA NORMAL APÓS A REMISSÃO P O R E D N A VA I R O L E T T I S e os atuais tratamentos oncológicos oferecem maior expectativa de cura e melhoram a qualidade de vida, ainda é inevitável deixar de considerar que também produzem efeitos importantes capazes de interferir no futuro de homens e mulheres com planos de ter filhos e constituir uma família. A infertilidade surge como uma questão delicada, e preservar a chance de, após o câncer, gerar um bebê é um desafio para o paciente e para a equipe médica, mesmo que o doente ainda seja uma criança. 38 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 “Os diferentes tipos de câncer, que por si sós podem interferir na fertilidade de mulheres e homens, são os que afetam diretamente o aparelho reprodutor, como ovários, testículos, útero, quer seja pela extirpação desses órgãos, quer pela necessidade de tratamento local – com radioterapia, por exemplo. Entretanto, o aparelho reprodutor masculino ou feminino pode ser comprometido não apenas pela própria doença, mas pelas consequências do tratamento instituído, relacionadas à dosagem e a drogas recomendadas para outros tipos de câncer, como leucemias e linfomas”, explica o prof. dr. Wilson Carrara, ginecologista e obstetra doutorado pela FMUSP e médico do Hospital Israelita Albert Einstein. Como a ação das drogas ocorre nas células tumorais, mas também A INFER TIL I D A D E DEPENDE D O T I P O DE CÂNCE R E DO TRATAM E N T O REALIZADO atinge as normais, quaisquer delas que estiverem em proliferação – como as reprodutivas, sempre em constante multiplicação – podem ser afetadas pela quimioterapia e interferir na fertilidade, em grau parcial ou total. Porém, a questão é distinta para cada sexo, pelas próprias peculiaridades fisiológicas, explica a dra. Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A.C. Camargo. “No homem, a produção de espermatozoides ocorre durante toda a vida, com a formação habitual de milhares desses gametas. Já a mulher apresenta uma quantidade de óvulos predeterminada desde seu nascimento, não havendo ‘renovação dos mesmos’. Isso acarreta diferenças na abordagem da preservação da fertilidade”, compara. Segundo a especialista, há alguns estudos que apontam quais são as probabilidades de ocorrer a infertilidade, mas esse risco vai depender do tipo de tumor e do tratamento realizado. “São estimativas, pois não há como definir, individualmente, tal chance. Sabe-se que, em menor ou maior grau, a fertilidade é afetada pela quimioterapia, 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 39 MENTE ■ ÉTICA MÉDICA ESCOLHAS POSSÍVEIS mas em muitos casos não se trata de uma situação definitiva, podendo haver reversão para um estado de fertilidade após algum tempo.” Segundo o dr. Carrara, os tratamentos poliquimioterápicos (com a combinação de várias drogas), a radioterapia e ainda a concomitância deles comprometem muito mais a fertilidade, pois os ovários e testículos podem ser afetados em até 100%, com a destruição das células germinativas, substituídas por áreas de fibrose. Já com os monoquimioterápicos (com o uso de apenas uma determinada droga), muito raramente ocorre, em ambos os sexos, comprometimento irreversível dos órgãos reprodutivos, principalmente quando são usados tratamentos preventivos. Embora a idade e o sexo não alterem os riscos da infertilidade, mas sim o tipo de câncer e o tratamento prescrito, tanto no homem quanto na mulher – e mesmo nas crianças – há peculiaridades que precisam ser consideradas. A dra. Solange diz que “as mulheres mais jovens podem ter o comprometimento de sua prole pela redução da fertilidade e, naquelas com idade acima de 35 anos, a esse fator soma-se outro: o envelhecimento natural e normal dos óvulos. Quanto aos homens, como a produção de espermatozoides é renovada a cada ejaculação, o impacto existe, mas não é tão significativo”. Em mulheres jovens, o câncer da mama pode se agravar, principal- 40 Embora nem todo paciente possa se beneficiar dos métodos de preservação da fertilidade, é essencial ter essa conversa para sanar todas as dúvidas no momento certo, e não no futuro, quando pouco se poderá fazer, gerando uma situação de maior ansiedade e transtornos, especialmente para os que têm chances de uma vida longa pela frente, com qualidade para gerar filhos. Mesmo diante de uma área em constante desenvolvimento, com métodos testados e alguns experimentais, a escolha precisa ser avaliada caso a caso. “A fertilização in vitro com congelamento de embriões – especialmente para os que já possuem uma vida conjugal –, a criopreservação (congelamento) de óvulos e espermatozoides e o uso de análogos do hormônio GnRH (aplicações de injeções, mensalmente, antes de iniciar e durante todo o tratamento) são recomendados após a puberdade”, enumera o dr. Carrara. Nas crianças do sexo masculino, que ainda não atingiram a maturidade do sistema reprodutor, a criopreservação do tecido testicular é possível, porém ainda não é bem definida, comenta o especialista. “Em situações em que se antevê a possibilidade da infertilidade masculina e se deseja a preservação dos gametas, a coleta para o congelamento dos espermatozoides é realizada por meio de um procedimento simples. Já as mulheres precisam ser estimuladas a ovular, e os óvulos são colhidos por meio de procedimentos invasivos, antes do congelamento”, detalha a dra. Solange. Algumas medicações com o objetivo de proteger os ovários ainda estão em estudo. Se o tratamento for a radiote- ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 rapia nas áreas dos órgãos reprodutores, a transposição ovariana, isto é, o deslocamento cirúrgico dos ovários para uma área não irradiada, surge como opção, porém não é realizada rotineiramente por ser muito invasiva. Por outro lado, a radiação tem caráter cumulativo e não localizado, podendo comprometer estruturas próximas, alerta o dr. Carrara, observando que a criopreservação pode ser melhor alternativa. O benefício de cada método é possibilitar a gravidez após o tratamento do câncer. No caso dos homens, mesmo que se tenha perdido a capacidade para produzir os espermatozoides, e, na mulher, ela tenha o número de óvulos reduzido ou zerado, o material coletado e preservado poderá ser utilizado com sucesso. Para o ginecologista e obstetra, é preciso ter claros os métodos mais adequados e viáveis em cada diagnóstico, pois, caso a fertilidade não seja preservada por nenhuma técnica, a opção no futuro será somente a fertilização in vitro recorrendo a doadores. Ou, ainda, a adoção. A dra. Solange ressalta que, atualmente, os profissionais vêm sendo estimulados e preparados para ter uma abordagem global do câncer, mostrando seus efeitos a médio e longo prazo, como os riscos da infertilidade. “É importante lembrar que, com os melhores índices de cura, a questão da preservação da fertilidade é muito importante para uma vida normal após o tratamento. E isso diz respeito à realização de projetos como a maternidade e a paternidade quando eles se incluem nos anseios do paciente e há a indicação de fazê-los.” mente quando se trata de estrogênio dependente, isto é, que cresce rapidamente na presença do hormônio feminino. Nesse caso, a gravidez é desaconselhável. No câncer do ovário, do endométrio (camada que reveste internamente o útero) e do colo uterino, não são raras as cirurgias que, após a doença, podem gerar dificuldades para engravidar naturalmente, sendo necessário recorrer a uma inseminação. Caso a opção seja a radioterapia para tratamento de outras partes do corpo que não os órgãos reprodutores, como a laringe, por exemplo, raramente a fertilidade será afetada, observa o dr. Carrara. “O maior risco é se for aplicada nas regiões próximas ou diretamente nos órgãos reprodutores, pois causará esterilidade. Se houver a combinação de outros tratamentos, o comprometimento ocorrerá pelo somatório das ações”, enfatiza a dra. Solange. O dr. Carrara explica que a tomada de decisão sobre que tipo de quimioterápico utilizar deve levar em conta o estadiamento da doença, o local comprometido, se já há metástase local (ou a distância), padrão histológico e imuno-histoquímico, entre outros fatores, que devem ser avaliados como um procedimento válido para todos os tipos de câncer. Nas considerações da dra. Solange, como o medicamento quimioterápico age de forma sistêmica, não é tarefa fácil assegurar menor NÃO SE PODE PRESER VAR A FER TILIDADE DEIXANDO DE COMBATER O CÂNCER COM O MELHOR TRATAMENTO risco de infertilidade no caso de um câncer de mama ou de próstata, por exemplo. “O tratamento leva em conta a melhor opção para a cura do câncer. Caso seja com menor toxicidade e eficácia igual, a conduta é escolher o de menor toxicidade, mas não podemos preservar a fertilidade deixando de combater o câncer com o melhor tratamento. Portanto, a prioridade é a doença, e a alternativa, incorporar técnicas para preservação de fertilidade sempre que possível e desde que isso não comprometa o resultado final do tratamento.” ALERTA CONSCIENTE Mas quando a questão da preservação da fertilidade deve ser discutida? Para a oncologista do A.C. Camargo, o momento único para essa abordagem é na programação inicial do tratamento, pois ela ocorre antes que qualquer dano ocorra no organismo. “É a hora em que o planejamento pode ser feito sem prejuízo para o tratamento do câncer. É preciso que se explique para o paciente tudo o que será realizado, a expectativa dos resultados, a toxicidade com as complicações que possam ocorrer e as medidas para contornar esse cenário, antes que se dê início ao tratamento.” Esse processo demanda o envolvimento de todos os profissionais de saúde, destaca a dra. Solange. “A conversa deve ser iniciada pelo oncologista responsável pelo planejamento terapêutico. Ele trabalha em conjunto com um especialista em medicina reprodutiva, que deve estar atualizado sobre as necessidades específicas do paciente e sua busca pela preservação da fertilidade.” O dr. Carrara reforça que, por falta de conhecimento das técnicas de preservação da fertilidade e despreparo, muitos médicos deixam de alertar para as possibilidades existentes. “No caso de crianças, deve-se agir como com os adultos, orientando e indicando métodos de preservação adequados para a idade, sexo e tratamento a ser instituído. O desafio é a urgência, pois há pouco tempo para se realizarem esses procedimentos antes do início efetivo do tratamento. Na maioria dos casos, entre 15 a 30 dias, para se evitar que haja atraso no uso da medicação prescrita para a doença.” 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 41 MENTE DEPOIS DE VENCER O CÂNCER, SEU PACIENTE PODE GANHAR MAIS QUE UMA NOVA VIDA. ■ ÉTICA MÉDICA O D I Á L O G O M É D I C O - PA C IENTE ENVOLVE I N Ú M E R O S A S P E C T O S A SEREM DISCUTIDOS N U M C U R T O E S PA Ç O D E TEMPO A dra. Solange comenta que, muitas vezes, os médicos podem estar tão envolvidos com a gravidade da situação e tão focados no tratamento oncológico que não abordam essa questão. Na verdade, o diálogo médico-paciente envolve muitos aspectos significativos – a comunicação do diagnóstico, prognóstico, tratamento, efeitos colaterais das drogas, consequências no longo prazo, entre elas a interferência na fertilidade e métodos para sua preservação – num período de tempo pequeno, quando várias decisões precisam ser tomadas. E tudo isso com uma carga emocional muito grande para o paciente. “Realmente, se não houver cura ou controle prolongado, UM FILHO, POR EXEMPLO. não podemos falar em preservação de fertilidade. Para propor essas técnicas há a necessidade de que se levem em consideração vários fatores, e o principal é a potencialidade de cura da doença. Mas, nos casos em que a preservação da fertilidade é uma realidade, deve ser obrigatoriamente levada em conta e discutida.” ■ Os tratamentos para o câncer podem trazer consequências importantes para a fertilidade. Por isso, é fundamental oferecer alternativas aos pacientes. Pense com eles o melhor caminho a seguir. Merck Serono é uma divisão da Merck. SAC Merck Serono: 0800.113320 ESPÍRITO ■ SUPERAÇÃO D A LUTA VALE A PENA ES S A C O N C L U S Ã O É D E J UARES PIRES D E S O U S A , H Á Q U A S E 20 ANOS CO M B AT E N D O U M A L E U C E MIA MIELOIDE C R Ô N I C A . H O J E , N E G AT I VADO, JOGA FU T E B O L , T E M T E M P O PA R A A NETINHA MARIA EDUARDA E É V I C E - P R E S I D E N T E D A ABRALE POR DENISE MIRÁS F O T O S T E FA N S C H M E L I N G JUARES: a vitória da fé, do pensamento positivo, da disciplina, da preparação física e da medicina 44 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 aqui a pouco serão duas décadas desde que Juares Pires de Sousa levou seu primeiro grande susto. Foi quando soube que tinha leucemia mieloide crônica (LMC), bateu o carro em uma árvore e quase morreu. Foram anos de luta até poder brincar com a neta Maria Eduarda, hoje com 4 anos – seu “chiclete”, como diz o funcionário da Unicamp aposentado e vice-presidente da ABRALE. Foi por ter emagrecido 6 quilos e também por ter algum conhecimento (trabalhava na Faculdade de Ciências Médicas da universidade, em Campinas, desde os 15 anos, quando entrou como office boy) que Juares decidiu por conta própria ir atrás de um exame de sangue por imaginar que estivesse com anemia. Com o resultado na mão, não gostou do que leu. Na hora do almoço, no refeitório, decidiu mostrar os papéis para um médico amigo. Nem chegaram a comer: dali seguiram para fazer uma biópsia. Mais três horas e o diagnóstico estava fechado. “Eu teria um tempo entre seis meses e dois anos, em média. Estava com dois filhos pequenos, de 4 e 9 anos... Nem sei como bati o carro na árvore. Tinha saído do pronto-socorro e para lá me levaram de novo. Foi bem feio. Quase morri”, conta Juares, que também era praticante e professor de artes marciais. Em centros de referência, como Curitiba e Porto Alegre, Juares confirmou o diagnóstico, retornando para a biblioteca da Unicamp para estudar tudo sobre a LMC, uma doença genética. Precisava de um doador de medula e foi cadastrado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde a relação de doadores tinha apenas em torno de cem nomes, nenhum compatível. Juares diz que hoje, no Brasil, há cerca de 1,2 milhão de doadores inscritos; no mundo, esse número sobe para 6 milhões. Na época, 1993, o caminho seria fazer o cadastro internacional e arcar com custos bem altos. Numa segunda fase, seria preciso pagar exames mais apurados de tipagem de prováveis doadores, “cada um deles custando 500, 600, 700 dólares”. Mas Juares não tinha dinheiro. Familiares e amigos foram para as ruas em Campinas, fizeram campanhas de arrecadação. Em 1995, com o tempo correndo contra (já estava no prazo médio de dois anos para entrar na chamada fase aguda da LMC), outro choque, tão grande 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 45 ESPÍRITO ■ SUPERAÇÃO “P O S S O D I Z E R Q U E L U T E I PARA NÃO IR, COMO SE ALGUÉM M E P U X A S S E PA R A F O R A DO CORPO E O U T R O PA R A D E N T R O ” quanto os anteriores – só que, dessa vez, um choque de felicidade: “Ligaram para minha casa para informar que alguém com dinheiro abraçaria a minha causa e que, a partir dali, eu não precisaria me preocupar com os custos do tratamento. E assim foi. Ele não quer ser identificado. Posso dizer que é abençoado – e muito humilde”. Juares chegou a ir em 1996 para a Universidade de Massachusetts, em Boston, com a mulher, Odila, atrás de um transplante a partir de um provável doador encontrado. Mas lá descobriu simplesmente que o exame de sua própria tipagem de sangue estava errado. Sua medula, na verdade, não tinha compatibilidade com a daquele doador. Nesse tempo todo, a busca tinha sido por tipagens que não eram compatíveis. “Eu estava cada vez mais preocupado com o prazo antes de entrar na fase aguda da doença.” Juares corria atrás de tudo, a família ficava “meio abandonada”. “Minha filha, então com 10 anos, parecia ter 20. Eu tinha de pagar conta de água, luz, telefone... Mas a cura de uma doença também passa pela nossa cabeça. Acho que 50%. 46 Porque se a pessoa se fecha, se entrega... Eu, por exemplo, não estaria aqui, agora, com minha netinha de 4 anos.” Em março de 1996, foi internado para colher a própria medula, que seria congelada para fazer o autotransplante. Mas, sem defesa, com zero de imunidade, Juares pegou um fungo que atacou todos os órgãos internos e a pele. A doença é rara, e os dois pacientes de que se tinha notícia haviam morrido. Foram oito meses de tratamento com remédios importados, porque os rins não suportavam mais as drogas. “Até o fungo sair do coração, dos pulmões, dos rins, da pele. Ainda ficou no baço. Até pensaram em tirar o órgão.” Como paciente, atingiu o peso de 30 quilos. Os médicos chegaram a comunicar a Odila que ele não passaria de determinada noite. Mas Juares passou por aquela noite e, às 7 horas da manhã seguinte, sentouse na cama e disse que queria tomar banho. “Foi aquela correria, fio para todo lado, aquele chororô geral!” Nesse tempo todo no hospital, vinha lutando mentalmente. “Eu tinha me dedicado à busca da cura, ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 mantinha o pensamento firme. Posso dizer que naquela noite tive uma experiência de luta mesmo, para não ir, como se alguém me puxasse para fora do corpo e outro para dentro. Minha mulher disse que, na véspera, quando foi à capela, conversou com Jesus e também sentiu que eu não iria morrer, como o médico havia dito. Pessoas chegaram para orar por mim – depois soube que rezaram a noite toda.” A disciplina, o autocontrole, o pensamento firme e mesmo a preparação física adquirida com as artes marciais ajudaram, diz Juares, que também fala da fé em Deus: “Há sempre uma esperança”. Tinha a medula congelada, sua “âncora” – que depois se viu não estar com o fungo. Juares prosseguiu tomando os remédios importados, mais caros. Em 1999, passou a sentir “uma dorzinha”. Em 2000, era muita dor nos ossos, de gritar, e o médico constatou que a doença de Juares tinha “agudizado”. Fez a proposta para que seu paciente tentasse o STI – com o remédio Glivec, que em 2000 ainda vinha dos Estados Unidos. “Ele é chamado ‘medicamento inteligente’ porque vai direto ao alvo: no caso, o cromossoma Philadelphia. É como tiro certo.” O medicamento deu resultado. Em 2002, Juares estava negativado. E não parou de tomar o Glivec, um por dia “e sempre com o estômago cheio, para não ter náusea”, como descobriu. Faz exames periódicos. Em 2002, foi um dos fundadores da ABRALE. Voltou ao futebol. Aposentado, tem tempo para Maria Eduarda. “E há gente que pensa em se suicidar! Pois eu digo que a luta vale a pena.” ■ ESPÍRITO ■ LUTO DORES DA PERDA POR QUE ENFRENTÁ-LAS SOZINHO? C O M O A P O I O D E P R O F I S SIONAIS ESPECIALIZADOS, A E X P E R I Ê N C I A D O L U T O L EVA A UMA COMPREENSÃO DO CICLO D O S E R H U M A N O E A U M A RECONCILIAÇÃO COM A VIDA POR VERIDIANA MORAIS 48 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 O luto é uma experiência da qual ninguém escapa, é universal. A finitude da vida é uma certeza, mas, fora das esferas da dramaturgia e da poesia, esse é um assunto sempre evitado. Considerada uma das experiências mais desorganizadoras, a morte nos leva a repensar nosso dia a dia, rever planos e crenças. A maioria de nós acredita que essa é uma fase que temos de enfrentar sozinhos, mas isso não é verdade. Há pessoas especializadas em trabalhar com enlutados e doentes em fase terminal, ou mesmo com pessoas muito idosas que não aceitam o ciclo da vida. Fenômeno biológico – um coração que deixa de bater, um corpo que para de funcionar, um cérebro que se desliga –, a morte tem, entretanto, profundas e indeléveis implicações sociais, psicológicas, culturais e religiosas. Por esse motivo, o amparo psicológico ajuda na aceitação da morte. LUTO E PESAR O luto é um processo, e a questão da morte somente vem à tona quando ela está junto de nós ou atinge uma pessoa próxima. Há uma diferença entre o pesar e o luto, conforme explica a psicóloga Maria Helena Pereira Santos, do Quatro Estações Instituto de Psicologia, especializado em acompanhar pessoas que passam por essa experiência. O pesar é a vivência interna do luto, o conjunto de emoções, pensamentos e sentimentos ligados à perda. Já o luto é a expressão dessa dor, que pode ou não ser compartilhada por outras pessoas. É chorar, dividir lembranças, comemorar datas especiais tendo a dor da saudade. Na área da psiquiatria, foi a médica suíça Elizabeth Kübler-Ross quem sistematizou, na década de 60, as chamadas fases pelas quais passa uma pessoa que lida com a perda, morte ou tragédia (não necessariamente com desfecho fatal). O modelo de KüblerRoss afirma que há cinco etapas nesse processo, conhecidas como “os cinco estágios do luto”. São eles: negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação. A negação acontece nos primeiros instantes ao se ter a notícia da morte de um ente querido ou ao se receber um diagnóstico de doença terminal, o chamado luto antecipatório. Junto com o isolamento, a negação nada mais é do que um mecanismo de defesa contra a dor psíquica diante da morte. A duração vai depender da proximidade com a pessoa que morreu e as circunstâncias em que ela se foi. Muitos experi- mentam um certo “torpor psicológico”, como se estivessem anestesiados. Por esse motivo é que os ritos – como velório e enterro – são importantes para “despertar” o enlutado. A negação e o isolamento podem ser seguidos pela raiva, com hostilização de pessoas e revolta. Já a fase da negociação é comum em doentes graves ou em estágio terminal, que tentam barganhar com Deus um período maior de permanência vivos. A depressão talvez seja a fase mais popular, na medida em que está sempre associada aos processos dolorosos de perdas. Nesse estágio, pode haver isolamento, lamentações e um desinteresse pelos assuntos cotidianos. Então, é esperada a aceitação do fato e uma compreensão maior do ciclo do ser humano. Embora amplamente aceito, o modelo dos cinco estágios não deve ser interpretado ao pé da letra como uma sequência pela qual todos os indivíduos passam. Na realidade, o estudo da psiquiatra suíça revelou muito mais uma tendência, pois nem todas as pessoas apresentam sinais claros das fases enumeradas. Mas há sempre uma manifestação de, ao menos, duas delas. Maria Helena Pereira Santos reforça esse alerta e pondera: “As emoções podem se seguir umas às outras, com intervalos curtos, com até mesmo duas ou mais emoções presentes ao mesmo tempo. Cada pessoa fica enlutada à sua maneira, não havendo formas melhores ou piores, nem uma sequência rígida que normatiza o processo. O luto é uma experiência pessoal e única”. ESPÍRITO ■ LUTO ONDE BUSCAR AJUDA: RECONCILIAÇÃO Há uma ideia amplamente disseminada de que o enlutado precisa, o mais rápido possível, superar a dor. O recolhimento é visto com preocupação. E, as lágrimas, como fraqueza. Ao falar sobre essa questão, Maria Helena Pereira Santos afirma que é uma característica das sociedades ocidentais modernas encorajar a pessoa a deixar para trás, de maneira muitas vezes prematura, o luto. Isso pode levar o indivíduo a abandonar a experiência sem completar o ciclo, gerando a nociva repressão das emoções. O ideal é que a pessoa tenha o tempo necessário para elaborar essa experiência. É preciso enfrentá-la, ao invés de fugir dela. O grande problema é que nem sempre isso é possível, devido às imposições sociais e aos compromissos profissionais. Mascarar ou evitar as emoções que orbitam em torno do luto pode gerar depressão, angústia e ansiedade. Por isso é ainda mais importante um acompanhamento psicológico especializado. Após a morte de alguém, fala-se muito em superação da dor. Clinicamente, entende-se a finalização do ciclo com a reorganização da vida cotidiana. Por isso mesmo, Maria Helena Pereira Santos prefere o termo reconciliação para designar essa fase final. “Tal palavra pode ter um significado mais apropriado do processo vivido. Não significa passar pelo luto, mas sim crescer por meio dele. A palavra reconciliação expressa melhor aquilo que ocorre, na medida em que o enlutado integra a nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu”, explica. A pessoa precisa reconhecer que, embora difícil de ser enfrentada, a dor faz parte da vida. 50 ■ ABRALE- Departamento de Psicologia [email protected] Grupo Vila Av. Presidente Bandeira, 487 Alecrim, Natal/RN Tel. (84) 4002-2535 www.grupovila.com.br 4 Estações Instituto de Psicologia R. Caçapava, 130 – Jd. Paulista São Paulo/SP Tel. (11) 3891-2576 www.4estacoes.com AB Clínica de Psicologia e Apoio ao Luto Av. Carlos Gomes, 141, cj. 609 Auxiliadora, Porto Alegre/RS Tel. (51) 3276-8200 www.abclinicadoluto.com.br PSICO-ONCOLOGIA Pacientes de câncer e seus familiares contam com uma área de estudos que envolve tanto a psicologia da saúde como a oncologia, a psicooncologia, dedicada a analisar a influência dos fatores psicológicos sobre a doença e o tratamento dos portadores. O objetivo é usar a intervenção psicológica para auxiliar no processo de enfrentamento do câncer e de suas etapas difíceis e estressantes, como intervenções dolorosas, efeitos colaterais de remédios e variação dos ânimos e emoções. Embora a ligação entre os fatores psicológicos e o aparecimento de doenças seja estudado desde a Grécia antiga, foi esquecida durante muitos séculos, até Sigmund Freud lançar a obra Estudos sobre a Histeria, no fim do século 19, abrindo caminho para o estabelecimento do mo- R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 delo que relaciona os acontecimentos psíquicos às consequências orgânicas. Desde então, surgiram inúmeros estudos sobre a inter-relação entre aspectos biológicos, psicológicos e sociais. E a compreensão de algumas dessas inter-relações pode dar suporte emocional nos momentos em que se questiona o motivo da doença e também a razão da morte. TANATOLOGIA Existe um ramo de estudos médicos que trata da morte, ou melhor, da proximidade dela, chamado tanatologia – designação que teve origem no nome do deus grego Tânatos (que representava a morte) combinado com o termo logos (que significa estudo). Até o começo do século 20, esse tipo de pesquisa ainda era considerado tabu, justamente por lidar com a situação de pacientes próximos da morte. Após a 2ª Guerra Mundial e o trauma coletivo em milhares de pessoas que perderam entes queridos, as pesquisas nessa área ganharam força. Assim como a psicooncologia, a tanatologia é uma atividade multidisciplinar. O profissional que trabalha na área amplia seus conhecimentos para a medicina, psicologia, antropologia, sociologia, filosofia e até teologia. Ele se concentra, principalmente, em garantir o bem-estar do doente terminal. Mas o profissional da tanatologia não acredita que é no momento da morte que acaba seu trabalho. Ao contrário, ele vai além, estendendo-se ao luto dos parentes, com suporte psicológico adequado para evitar, por exemplo, a desestruturação da família após o choque da perda. ■ C M Y CM MY CY CMY K Novartis: uma empresa de cuidados com a saúde A Novartis Oncologia tem a missão de descobrir e desenvolver novos medicamentos para o tratamento do câncer. O portfólio da empresa conta com produtos inovadores para o tratamento da leucemia mieloide crônica (LMC), tumor estromal gastrointestinal (GIST), leucemia linfoide aguda (LLA), câncer de mama e tumores raros, como tumor neuroendócrino (TNE) e câncer renal avançado. A Novartis também oferece tratamento de suporte para metástases ósseas provenientes de vários tipos de câncer e para a sobrecarga de ferro, causada por consecutivas transfusões de sangue. Fevereiro/2011 ■ N O TA S LANÇADO O REDOME NET 5 ANOS DA REVISTA DA ABRALE A Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal inauguraram em novembro último o Hospital da Criança de Brasília José Alencar. A unidade deverá atender, gratuitamente, cerca de 2 mil pacientes em estado considerado de média e alta complexidade. O hospital foi construído por meio de doações recebidas pela Abrace e será administrado pelo Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe). As obras começaram em 2005 e a inauguração aconteceu em 23 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantojuvenil. Para ter direito ao atendimento, o paciente precisa ser encaminhado por um médico dos centros de saúde ou unidades do Programa Saúde da Família. Todas as consultas serão coordenadas pela Diretoria de Regulação da Secretaria de Saúde, como já ocorre com os leitos de unidades de terapia intensiva, e o paciente recebe um comunicado em casa informando o dia e o horário agendados. O novo sistema do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, o Redome Net, já está disponível para os mais de cem hemocentros e laboratórios do Brasil responsáveis pelo cadastramento, coleta e exames de compatibilidade dos doadores de medula óssea. O sistema foi desenvolvido com o objetivo de acelerar a localização de um doador e possibilita acompanhar o registro de voluntários e das coletas de sangue, além de mostrar o resultado do exame de antígenos leucócitos humanos e a compatibilidade entre doador e o receptor. O registro de doadores cresce a cada ano no Brasil, que atualmente conta com 2,2 milhões de voluntários. Quando não se encontra um doador compatível no país, busca-se nos bancos internacionais. Nestes cinco anos, a Revista da ABRALE já soma 19 edições. Distribuído gratuitamente aos cadastrados na associação, o veículo é voltado para pacientes, familiares e profissionais da saúde, sempre com o objetivo de mantê-los atualizados sobre as novidades do diagnóstico e LI NF OM A tratamento do câncer do sangue, e as políticas públicas que envolvem o tema. É com grande satisfação que em 2012 damos continuidade a esse trabalho, lembrando que a atualização de seus dados cadastrais é fundamental para que continue recebendo a revista. Ligue para 0800-773-9973 e atualize agora! 40 ANOS DE MEDICINA. O QUE MUDOU? O FUTURO DO TRATAMENTO ONCOLÓGICO Esse é o nome do livro lançado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em conjunto com o prof. dr. Adib Jatene, diretor-geral do HCor, no dia 15 de setembro, em São Paulo. 40 anos de Medicina. O Que Mudou? retrata a vida e a profissão dos autores. Nas páginas do livro, ambos falam de suas vidas, infância, a escolha pela medicina e a respeito da vida política com foco na saúde. O livro aborda um diálogo entre os dois médicos e traz detalhes da vida pessoal de cada um – um com 82 e o outro com 40 anos de idade –, revelando duas vidas repletas de coincidências, a infância, a mudança de um Estado para outro e um passado atuando no exercício da medicina. O 17º Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica foi realizado de 26 a 29 de outubro último em Gramado/RS, com o tema “A Era do Tratamento Humanizado e Personalizado”. Centenas de oncologistas estiveram presentes para discutir variados aspectos do diagnóstico e tratamento do câncer, com foco na humanização e individualidade, abordando as perspectivas para o futuro. 52 ■ SIMPÓSIO INTERNACIONAL “Economia da Saúde em Oncologia” foi o tema do 10º Simpósio Internacional de Economia da Saúde, ocorrido em Barretos/SP, em outubro último. Profissionais da saúde, produtores de insumos, acadêmicos, gestores, tomadores de decisões e formuladores de políticas públicas do SUS estiveram presentes para discutir os desafios e dilemas de decisão em um ambiente de recursos escassos. A presidente da ABRALE e ABRASTA, Merula Steagall, uma das palestrantes, falou sobre o trabalho realizado em prol de pacientes com câncer do sangue e talassemia de todo o Brasil, além de frisar a importância das políticas públicas para o desenvolvimento da saúde em nosso país. R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 VITOR MENEZES EM BRASÍLIA, O HOSPITAL JOSÉ ALENCAR EDIÇÃO 20 • ANO 5 • M ARÇO/AB RIL/MAIO D E 2012 R E V I S TA D A ASSOCIAÇÃ O BRASILEI RA DE LINFOMA E LEUCEMIA FERT ILIDA DE UMA QUES TÃO FUND AMEN TAL A SER DISCU TIDA RETR ATOS DA VIDA OS VENC EDOR ES DO 4º CONC URSO DE FOTO GRAF IAS DA ABRA LE DOEN ÇA DE GIAN A ESSE TIPO DE ECCH INI DEU VISIB ILIDA DE CÂNC ER POUC O CONH ECIDO ■ BALANÇO ABRALE O ANO DE 2011 FOI REPLETO DE CONQUISTAS PARA A ABRALE, ALCANÇADAS COM O SEU APOIO E UMA POLÍTICA ADEQUADA. SEGUEM ALGUMAS DAS NOSSAS PRINCIPAIS ATIVIDADES: PROGRAMAS E PROJETOS PROGRAMA DODÓI O Programa Dodói tem como objetivo facilitar a expressão de sentimentos, a comunicação e a integração entre a criança com câncer (de 3 a 14 anos) e a equipe de cuidadores, contribuindo, assim, para seu restabelecimento mais rápido e para a humanização dos tratamentos. Em 2011, foi implementado em cinco instituições: Gpaci, em Sorocaba/SP; Grendacc, em Jundiaí/SP; Hospital São Camilo, em São Paulo/SP; Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre/RS; e Ascomcer, em Juiz de Fora/MG. CONCURSO DE FOTOGRAFIA “RETRATOS DA VIDA” O concurso de fotografia, criado pela ABRALE em parceria com o Senac SP, tem como objetivo divulgar o trabalho da associação e a importância do diagnóstico precoce por meio da arte. Em 2011, o concurso foi realizado pelo quarto ano consecutivo, com mais de 2,8 mil fotos inscritas. A premiação dos 12 vencedores se deu em outubro, no auditório da ABRALE. As fotos vencedoras e as finalistas ilustrarão as agendas, cadernos e calendários da ABRALE em 2012. PROJETO DE VOLUNTARIADO O Projeto de Voluntariado da ABRALE foi criado, em 2006, com o objetivo de unir ainda mais talentos e esforços para a causa. Em 2011, adaptado para atender às novas demandas e estru- 54 ■ tura da ABRALE, foram criadas vagas e um canal mais direto de comunicação entre os voluntários e a associação, permitindo que todos ficassem mais envolvidos com suas atividades. R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 MISSÃO E VISÃO DA ABRALE Para traduzir de forma mais clara os objetivos da ABRALE, mudamos o texto da missão e visão para: MISSÃO – Alcançar a excelência e humanização do tratamento e qualidade de vida de pessoas com câncer do sangue no Brasil, por meio de pesquisa, produção e divulgação de conhecimento, mobilização política e apoio ao paciente e seus familiares. VISÃO – Ser um instituto de referência mundial e sustentável em educação e pesquisa, para a cura de pessoas com câncer do sangue. DOAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA A divulgação da Semana Municipal de Incentivo à Doação de Medula Óssea ocorreu de 14 a 21 de junho em São Paulo/SP. Em 2011, o foco da campanha foi a desatualização cadastral no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Para conscientizar a população de que é de extrema importância não só a doação de medula óssea, mas a atualização do cadastro, a ABRALE realizou uma campanha informativa com cartazes, fôlderes, spot e vídeo, além de palestra e chat com especialistas na área. O apresentador Rodrigo Faro foi o padrinho da campanha, que foi veiculada em diversos veículos de comunicação, garantindo que a mensagem tivesse grande visibilidade. EVENTOS SOCIAIS PROJETO ABRALE BELEZA CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO Em 2011, a campanha “Movimento contra o Linfoma. Se toca. Quanto antes você descobrir, melhor” teve continuidade. Uma série de vídeos informativos foi criada por meio do depoimento de nove pacientes e frases faladas por artistas. Nove personalidades participaram da campanha: Amandha Lee, Caco Ciocler, Camila Morgado, Drica Moraes, Marcelo Airoldi, Mateus Solano, Odilon Wagner e Sarah Oliveira, além do ator Reynaldo Gianechinni, que foi diagnosticado com linfoma em agosto. O ator deu seu depoimento para a ABRALE como paciente e sensibilizou milhares de brasileiros. A campanha foi divulgada intensamente nas mídias digitais, e os vídeos criados foram compartilhados e curtidos por mais de 700 mil pessoas nas redes sociais. Veículos como MTV, Globo, Record, Quem!, Contigo, UOL, Rádio Jovem Pan, Veja, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, entre muitos outros, divulgaram os vídeos e informações da campanha, garantindo que mais de 30 milhões de brasileiros tivessem acesso às informações sobre o linfoma. Mais informações sobre o Movimento contra o Linfoma podem ser vistas no site www.movimentocontraolinfoma.com.br. AJUDA GRATUITA DA ABRALE Para garantir que todos os pacientes e familiares conheçam e utilizem os serviços da ABRALE, foi criada uma campanha objetiva e direta, com a mensagem “Você está lutando contra algum câncer do sangue? Existe ajuda gratuita”, com o objetivo de chamar a atenção de todas as pessoas envolvidas na causa. Foram criados cartazes para serem divulgados em todos os centros de tratamento do Brasil. Esse projeto tem por objetivo resgatar a luz própria das pacientes com câncer, ajudando-as a enfrentar os obstáculos trazidos com o diagnóstico por meio da autopercepção e autoimagem. No dia 16 de abril, a ABRALE promoveu um evento no Clube do Champanhe, em Florianópolis, voltado ao público feminino. Mil e quinhentas mulheres de todas as idades compareceram ao local, e toda a renda foi revertida ao projeto. CASA COR SÃO PAULO Nos dias 17 e 30 de junho, a ABRALE e a ABRASTA, em parceria com a Casa Cor São Paulo, realizaram jantar beneficente no restaurante Badebec, localizado no Jockey Club. Foram sorteados diversos prêmios especiais aos convidados, e o evento teve como mestres de cerimônias as apresentadoras Astrid Fontenelle e Sarah Oliveira, e o ator Marcelo Airoldi. Foram cerca de 250 participantes, e toda a renda foi revertida aos projetos das associações. CASA COR FLORIANÓPOLIS No dia 29 de abril, a ABRALE, em parceria com a Casa Cor Santa Catarina 2011 e o Instituto Ric, promoveu um jantar solidário. O evento teve como mestres de cerimônias o ex-jogador da seleção brasileira de vôlei Renan e a jornalista Luiza Gutierrez. Duzentas pessoas participaram do evento. 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 55 ■ BALANÇO ABRALE ■ BALANÇO ABRALE ABRALE – COMITÊ CIENTÍFICO NÚMEROS ABRALE ATENDIMENTO NUTRICIONAL CADASTRO NACIONAL: 5.270 novos cadastrados, totalizando um público de 37.266 pessoas MIELOMA MÚLTIPLO ABRALE MÓVEL 1.307 cadastrados entre novos pacientes, familiares, médicos e profissionais de saúde Esse foi o slogan da campanha de conscientização realizada durante o mês de março para alertar a população a respeito dos sintomas e tratamento do mieloma múltiplo, um câncer que se desenvolve na medula óssea devido ao crescimento descontrolado de células plasmáticas. A campanha foi realizada em parceria com a Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica, com o objetivo de conscientizar os ortopedistas sobre os sintomas do mieloma múltiplo e garantir que encaminhem os pacientes para um diagnóstico certo e precoce. LINHA TELEFÔNICA 0800 5.838 ligações atendidas pelo 0800 (ligação gratuita) FALE CONOSCO 2.803 e-mails respondidos no “Fale Conosco” APOIO PSICOLÓGICO ■ 550 Assistências psicológicas (gratuitas) ■ Grupos terapêuticos – 42 pacientes atendidos presencialmente em 40 sessões ■ Assistência psicológica on-line (MSN e Skype) – 66 atendimentos ■ 48 atendimentos por telefone e 72 por e-mail VÍDEO INSTITUCIONAL O vídeo institucional, usado para divulgar A boa nutrição é importante para todos e, no tratamento contra o câncer, torna-se um dos principais componentes para que os resultados positivos sejam alcançados. Por isso, em 2011 a ABRALE deu início a um novo serviço extremamente importante aos pacientes onco-hematológicos: o apoio nutricional. O serviço se constitui no atendimento de pacientes na sede da associação, por nutricionistas que criam uma dieta personalizada e acompanham sua evolução, garantindo uma boa qualidade de vida e impedindo a perda de peso e a fadiga dos pacientes, sinais muito comuns no tratamento. Nesse ano, a ABRALE ofereceu dois dias de atendimento, e 11 pacientes receberam orientações e uma dieta personalizada. 56 ■ em eventos sociais, internet e eventos científicos os programas e o trabalho da ABRALE a todos os interessados na causa, também foi modernizado.Com uma edição dinâmica, todas as informações sobre os sinais e sin- tomas das doenças onco-hematológicas, além de informações sobre o trabalho da associação, são passadas de forma emocionante e envolvente por meio de depoimentos de pacientes, médicos e da presidente da ABRALE, Merula Steagall. CAMPANHA DE ALIANÇA ENTRE MÉDICOS E ASSOCIAÇÕES R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 Para reforçar à sociedade médica a importância da aliança entre médicos, pacientes e associações, a ABRALE desenvolveu uma campanha com foco nesses profissionais. A campanha foi divulgada por meio de fôlderes e banner no stand da ABRALE no Hemo 2011, o maior evento de hematologia e hemoterapia que acontece anualmente no Brasil. APOIO JURÍDICO 741 pacientes e familiares foram atendidos pessoalmente e por telefone, e 514 e-mails foram respondidos ENCONTROS DE PACIENTES No total, participaram 294 pacientes presencialmente e 3.924 on-line de todo o país. CHAT ABRALE Foram feitos 31 chats, com 1.046 participantes PORTAL ABRALE 656 mil acessos únicos REDES SOCIAIS A ABRALE está presente no Facebook (3.511 amigos), Twitter (848 seguidores) e Orkut – Comunidade ABRALE Oficial (684 amigos) REVISTA DA ABRALE Foram distribuídos 120 mil exemplares, gratuitamente DRA. ANA LÚCIA CORNACCHIONI (ITACI – INSTITUTO DE TRATAMENTO CONTRA O CÂNCER INFANTIL/SP) DRA. ALITA ANDRADE AZEVEDO (FUNDAÇÃO DE HE MATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE PERNAMBUCO/PE) DR. ÂNGELO MAIOLINO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) DR. BERNARDO GARICOCHEA (PUC-RS/ HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DR. CARLOS CHIATTONE (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA E SANTA CASA/SP) DR. CÁRMINO ANTÔNIO DE SOUZA (ASSOC. BRAS. DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA E UNICAMP/SP) DR. CELSO MASSUMOTO (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DRA. CLARISSE LOBO (HEMOCENTRO DO RIO DE JA NEI RO) DR. DANIEL TABAK (CENTRO DE TRATAMENTO ONCOLÓGICO/RJ) DR. EVANDRO MARANHÃO FAGUNDES (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) DR. FREDERICO DULLEY (HOSPITAL DAS CLÍNICAS/ TRANSPLANTE MEDULA ÓSSEA/ PRÓ-SANGUE/SP) DR. JACQUES TABACOF (CENTRO PAULISTA DE ONCOLOGIA/SP) DR. JAIRO JOSÉ DO NASCIMENTO SOBRINHO (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINS TEIN/SP) DR. JOSÉ ORLANDO BORDIN (HOSPITAL SÃO PAULO/SP) DR. JOSÉ SALVADOR R. DE OLIVEIRA (HOSPITAL SANTA MARCELINA/UNIFESP/SP) DR. JÚLIO CÉSAR VOLTARELLI (HEMOCENTRO DE RIBEIRÃO PRETO/SP) DRA. MARIA APARECIDA ZANICHELLI (HOSPITAL BRIGADEIRO/SP) DRA. MARIA LYDIA MELO DE ANDREA (HOSP. DARCY VARGAS/SP) DRA. MARIA DE LOURDES CHAUFFAILLE (ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA/SP) DRA. MONIKA CONCHON (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DR. NELSON HAMERSCHLAK (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DR. NELSON SPEC TOR (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RJ) DR. RENATO SAMPAIO (HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GO E HEMOLABOR/GO) DR. ROBERTO PASSETO FALCÃO (FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO/SP) DR. RONALD PALLOTA (CENTRAL DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA/BA) DRA. SILVIA MARIA MEIRE MAGALHÃES (SERVIÇO DE HEMATOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO WALTER CANTÍDIO/CE) DRA. VANIA HUNGRIA (SANTA CASA/SP) DR. VICENTE ODONE (HOSPITAL DAS CLÍNICAS/ HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/ HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DR. WALDIR VEIGA PEREIRA (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA/RS) DR. WELLINGTON AZEVEDO (SOCIEDADE BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA) DR. YURI VASCONCELOS (INSTITUTO GOIANO DE ONCOLOGIA E HEMOTERAPIA – INGO) COMITÊS MULTIPROFISSIONAIS CÉLIA DUARTE REDÓ (COORDENADORA DO COMITÊ DE SERVIÇO SOCIAL) LIVRO “MELHORES PRÁTICAS EM ARRECADAÇÕES DE FUNDOS” ELOISE C. B. VIEIRA (COORDENADORA DO COMITÊ DE ENFERMAGEM) JAMILE MARIA SALLUM DE LACERDA (COORDENADORA DO COMITÊ DE NUTRIÇÃO) LUIZ ALBERTO V. SOARES JÚNIOR (COORDENADOR DO COMITÊ DE ODONTOLOGIA) MARÍLIA BENSE OTHERO (COORDENADORA DO COMITÊ Com o apoio do especialista em captação Marcelo Estraviz (colocar País), os membros da Alianza Latina e demais organizações de apoio a pacientes compilaram as principais maneiras de se captar recursos para garantir que todos os projetos desenvolvidos em benefício dos pacientes com doenças hematológicas e oncohematológicas sigam em frente. O livro Melhores Práticas em Arrecadações de Fundos foi lançado no dia 3 de novembro, durante o 6º Fórum da Alianza Latina. DE TERAPIA OCUPACIONAL) MARIA TERESA VEIT (COORDENADORA DO COMITÊ DE PSICOLOGIA) ABRASTA – COMITÊ CIENTÍFICO DR. ADERSON ARAÚJO (HEMOCENTRO DE PERNAMBUCO – HEMOPE) DR. ANTONIO FABRON JR. (HEMOCENTRO DA FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA/SP) DRA. CLARISSE LOBO (HEMOCENTRO DO RIO DE JANEIRO – HEMORIO) DR. FERNANDO COSTA (UNICAMP – CAMPINAS/SP) DR. GIORGIO BALDANZI (HEMOCENTRO DO PARANÁ – HEMEPAR) DR. JULIANO DE LARA FERNANDES (CLÍNICA CAMPINAS/SP) DR. KLEBER FERTRIN (UNICAMP – CAMPINAS/SP) DRA. MONICA VERÍSSIMO (CENTRO INFANTIL BOLDRINI – CAMPINAS/SP) DR. NELSON HAMERSCHLAK (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DRA. SANDRA LOGGETTO (CENTRO DE HEMATOLOGIA DE SÃO PAULO) CHATS ALIANZA LATINA COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL Em 2011, essa ferramenta também foi implantada na Alianza Latina. Realizados mensalmente, os bate-papos apresentam temas focados na gestão para organizações de pacientes. No total, foram realizados sete chats, somando 93 participantes. DR. ALLAN COHEN (EUA) DR. ANTONIO PIGA (ITÁLIA) DRA. CATHERINA BORGNA-PIGNATTI (ITÁLIA) DR. FERNANDO TRICTA (CANADÁ) DR. JOHN WOOD (EUA) DR. NICOS SKORDIS (GRÉCIA) DR. RENZO GALLANELLO (ITÁLIA) DR. VASILIS BERDOUKAS (GRÉCIA) 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 57 ■ BALANÇO ABRALE ■ BALANÇO ABRALE ABRALE – COMITÊ CIENTÍFICO NÚMEROS ABRALE ATENDIMENTO NUTRICIONAL CADASTRO NACIONAL: 5.270 novos cadastrados, totalizando um público de 37.266 pessoas MIELOMA MÚLTIPLO ABRALE MÓVEL 1.307 cadastrados entre novos pacientes, familiares, médicos e profissionais de saúde Esse foi o slogan da campanha de conscientização realizada durante o mês de março para alertar a população a respeito dos sintomas e tratamento do mieloma múltiplo, um câncer que se desenvolve na medula óssea devido ao crescimento descontrolado de células plasmáticas. A campanha foi realizada em parceria com a Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica, com o objetivo de conscientizar os ortopedistas sobre os sintomas do mieloma múltiplo e garantir que encaminhem os pacientes para um diagnóstico certo e precoce. LINHA TELEFÔNICA 0800 5.838 ligações atendidas pelo 0800 (ligação gratuita) FALE CONOSCO 2.803 e-mails respondidos no “Fale Conosco” APOIO PSICOLÓGICO ■ 550 Assistências psicológicas (gratuitas) ■ Grupos terapêuticos – 42 pacientes atendidos presencialmente em 40 sessões ■ Assistência psicológica on-line (MSN e Skype) – 66 atendimentos ■ 48 atendimentos por telefone e 72 por e-mail VÍDEO INSTITUCIONAL O vídeo institucional, usado para divulgar A boa nutrição é importante para todos e, no tratamento contra o câncer, torna-se um dos principais componentes para que os resultados positivos sejam alcançados. Por isso, em 2011 a ABRALE deu início a um novo serviço extremamente importante aos pacientes onco-hematológicos: o apoio nutricional. O serviço se constitui no atendimento de pacientes na sede da associação, por nutricionistas que criam uma dieta personalizada e acompanham sua evolução, garantindo uma boa qualidade de vida e impedindo a perda de peso e a fadiga dos pacientes, sinais muito comuns no tratamento. Nesse ano, a ABRALE ofereceu dois dias de atendimento, e 11 pacientes receberam orientações e uma dieta personalizada. 56 ■ em eventos sociais, internet e eventos científicos os programas e o trabalho da ABRALE a todos os interessados na causa, também foi modernizado.Com uma edição dinâmica, todas as informações sobre os sinais e sin- tomas das doenças onco-hematológicas, além de informações sobre o trabalho da associação, são passadas de forma emocionante e envolvente por meio de depoimentos de pacientes, médicos e da presidente da ABRALE, Merula Steagall. CAMPANHA DE ALIANÇA ENTRE MÉDICOS E ASSOCIAÇÕES R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 Para reforçar à sociedade médica a importância da aliança entre médicos, pacientes e associações, a ABRALE desenvolveu uma campanha com foco nesses profissionais. A campanha foi divulgada por meio de fôlderes e banner no stand da ABRALE no Hemo 2011, o maior evento de hematologia e hemoterapia que acontece anualmente no Brasil. APOIO JURÍDICO 741 pacientes e familiares foram atendidos pessoalmente e por telefone, e 514 e-mails foram respondidos ENCONTROS DE PACIENTES No total, participaram 294 pacientes presencialmente e 3.924 on-line de todo o país. CHAT ABRALE Foram feitos 31 chats, com 1.046 participantes PORTAL ABRALE 656 mil acessos únicos REDES SOCIAIS A ABRALE está presente no Facebook (3.511 amigos), Twitter (848 seguidores) e Orkut – Comunidade ABRALE Oficial (684 amigos) REVISTA DA ABRALE Foram distribuídos 120 mil exemplares, gratuitamente DRA. ANA LÚCIA CORNACCHIONI (ITACI – INSTITUTO DE TRATAMENTO CONTRA O CÂNCER INFANTIL/SP) DRA. ALITA ANDRADE AZEVEDO (FUNDAÇÃO DE HE MATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE PERNAMBUCO/PE) DR. ÂNGELO MAIOLINO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) DR. BERNARDO GARICOCHEA (PUC-RS/ HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DR. CARLOS CHIATTONE (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA E SANTA CASA/SP) DR. CÁRMINO ANTÔNIO DE SOUZA (ASSOC. BRAS. DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA E UNICAMP/SP) DR. CELSO MASSUMOTO (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DRA. CLARISSE LOBO (HEMOCENTRO DO RIO DE JA NEI RO) DR. DANIEL TABAK (CENTRO DE TRATAMENTO ONCOLÓGICO/RJ) DR. EVANDRO MARANHÃO FAGUNDES (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS) DR. FREDERICO DULLEY (HOSPITAL DAS CLÍNICAS/ TRANSPLANTE MEDULA ÓSSEA/ PRÓ-SANGUE/SP) DR. JACQUES TABACOF (CENTRO PAULISTA DE ONCOLOGIA/SP) DR. JAIRO JOSÉ DO NASCIMENTO SOBRINHO (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINS TEIN/SP) DR. JOSÉ ORLANDO BORDIN (HOSPITAL SÃO PAULO/SP) DR. JOSÉ SALVADOR R. DE OLIVEIRA (HOSPITAL SANTA MARCELINA/UNIFESP/SP) DR. JÚLIO CÉSAR VOLTARELLI (HEMOCENTRO DE RIBEIRÃO PRETO/SP) DRA. MARIA APARECIDA ZANICHELLI (HOSPITAL BRIGADEIRO/SP) DRA. MARIA LYDIA MELO DE ANDREA (HOSP. DARCY VARGAS/SP) DRA. MARIA DE LOURDES CHAUFFAILLE (ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA/SP) DRA. MONIKA CONCHON (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/SP) DR. NELSON HAMERSCHLAK (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DR. NELSON SPEC TOR (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RJ) DR. RENATO SAMPAIO (HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GO E HEMOLABOR/GO) DR. ROBERTO PASSETO FALCÃO (FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO/SP) DR. RONALD PALLOTA (CENTRAL DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA/BA) DRA. SILVIA MARIA MEIRE MAGALHÃES (SERVIÇO DE HEMATOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO WALTER CANTÍDIO/CE) DRA. VANIA HUNGRIA (SANTA CASA/SP) DR. VICENTE ODONE (HOSPITAL DAS CLÍNICAS/ HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS/ HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DR. WALDIR VEIGA PEREIRA (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA/RS) DR. WELLINGTON AZEVEDO (SOCIEDADE BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA) DR. YURI VASCONCELOS (INSTITUTO GOIANO DE ONCOLOGIA E HEMOTERAPIA – INGO) COMITÊS MULTIPROFISSIONAIS CÉLIA DUARTE REDÓ (COORDENADORA DO COMITÊ DE SERVIÇO SOCIAL) LIVRO “MELHORES PRÁTICAS EM ARRECADAÇÕES DE FUNDOS” ELOISE C. B. VIEIRA (COORDENADORA DO COMITÊ DE ENFERMAGEM) JAMILE MARIA SALLUM DE LACERDA (COORDENADORA DO COMITÊ DE NUTRIÇÃO) LUIZ ALBERTO V. SOARES JÚNIOR (COORDENADOR DO COMITÊ DE ODONTOLOGIA) MARÍLIA BENSE OTHERO (COORDENADORA DO COMITÊ Com o apoio do especialista em captação Marcelo Estraviz (colocar País), os membros da Alianza Latina e demais organizações de apoio a pacientes compilaram as principais maneiras de se captar recursos para garantir que todos os projetos desenvolvidos em benefício dos pacientes com doenças hematológicas e oncohematológicas sigam em frente. O livro Melhores Práticas em Arrecadações de Fundos foi lançado no dia 3 de novembro, durante o 6º Fórum da Alianza Latina. DE TERAPIA OCUPACIONAL) MARIA TERESA VEIT (COORDENADORA DO COMITÊ DE PSICOLOGIA) ABRASTA – COMITÊ CIENTÍFICO DR. ADERSON ARAÚJO (HEMOCENTRO DE PERNAMBUCO – HEMOPE) DR. ANTONIO FABRON JR. (HEMOCENTRO DA FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA/SP) DRA. CLARISSE LOBO (HEMOCENTRO DO RIO DE JANEIRO – HEMORIO) DR. FERNANDO COSTA (UNICAMP – CAMPINAS/SP) DR. GIORGIO BALDANZI (HEMOCENTRO DO PARANÁ – HEMEPAR) DR. JULIANO DE LARA FERNANDES (CLÍNICA CAMPINAS/SP) DR. KLEBER FERTRIN (UNICAMP – CAMPINAS/SP) DRA. MONICA VERÍSSIMO (CENTRO INFANTIL BOLDRINI – CAMPINAS/SP) DR. NELSON HAMERSCHLAK (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN/SP) DRA. SANDRA LOGGETTO (CENTRO DE HEMATOLOGIA DE SÃO PAULO) CHATS ALIANZA LATINA COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL Em 2011, essa ferramenta também foi implantada na Alianza Latina. Realizados mensalmente, os bate-papos apresentam temas focados na gestão para organizações de pacientes. No total, foram realizados sete chats, somando 93 participantes. DR. ALLAN COHEN (EUA) DR. ANTONIO PIGA (ITÁLIA) DRA. CATHERINA BORGNA-PIGNATTI (ITÁLIA) DR. FERNANDO TRICTA (CANADÁ) DR. JOHN WOOD (EUA) DR. NICOS SKORDIS (GRÉCIA) DR. RENZO GALLANELLO (ITÁLIA) DR. VASILIS BERDOUKAS (GRÉCIA) 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 57 HEMO 2011 TERCEIRO MAIOR EVENTO EM HEMATOLOGIA NO MUNDO MÉDICOS, PROFISSIONAIS DA SAÚDE E ASSOCIAÇÕES DE PACIENTES DISCUTEM MELHORIAS NA ESPECIALIDADE P O R TAT I A N E M O TA D e 10 a 13 de novembro, foi realizado em São Paulo o Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia. Especialistas e profissionais da saúde do Brasil e do exterior apresentaram as mais recentes informações na área da hematologia e onco-hematologia. No total, mais de 4 mil pessoas participaram do evento, que, em seu primeiro dia, além de contar com uma programação educacional, também teve a presença do músico Toquinho, um dos ícones da MPB, para o show de abertura. O Programa Educacional de Hemoterapia foi um dos destaques do dia 11. O diretor administrativo da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, dr. Dante Langhi, foi quem ministrou a palestra “Transfusões de hemácias: sangue novo ou sangue estocado”, discorrendo sobre lesão de estoque, consequências clínicas do tempo de estoque das hemácias e efeitos nocivos para quem recebe a transfusão de sangue novo e velho. Segundo ele, baseado em dados atuais, ainda não é sensato promover qualquer alteração na prática transfusional com relação ao tempo das hemácias. “Quatro estudos que ain- 58 ■ da estão em andamento devem trazer mais informações importantes sobre o assunto”, disse o dr. Dante. No segundo dia, a dra. Donna Reece, professora e médica diretora do programa para mieloma múltiplo do Departamento de Oncologia e Hematologia do Princess Margaret Hospital, de Toronto, Canadá, palestrou sobre “O mieloma múltiplo pode vir a ser uma doença crônica/curável?”. Para a especialista, transformar uma doença incurável em doença crônica, ou seja, passível de tratamento por longos anos, ainda é um desafio para os médicos especializados nesse tipo de câncer do sangue. Em sua palestra, a dra. Donna explicou que um dos responsáveis por transformar o mieloma múltiplo em uma doença crônica passível de ser curada é a combinação entre duas drogas já conhecidas dos especialistas: lenalidomida e dexametasona. Ambos os medicamentos têm proporcionado uma vida mais longa aos pacientes, e com maior qualidade. Na palestra “Linfomas cutâneos/ papulose linfomatoide”, apresentada pelo dr. Flavio Augusto Vercillo Luisi, foi discutido o diagnóstico de ambas as doenças em crianças. R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 Raro, o surgimento do linfoma não-Hodgkin cutâneo na infância pode significar um linfoma primário da pele ou manifestação de disseminação da doença. “Os linfomas primários da pele são raros, com uma incidência de 0,1 a 0,3 por milhão de crianças e jovens com menos de 19 anos de idade”, disse o dr. Flavio. Sobre o diagnóstico da papulose linfomatoide (LyP, na sigla em inglês), o dr. Flavio fez um alerta. “A raridade da doença, lesões de pele multifocais e características malignas do exame de histopatologia podem produzir diagnóstico errôneo de malignidade e tratamento agressivo desnecessário”, salientou. No último dia, destaque para a palestra “Aspectos e diagnóstico da talassemia”, ministrada pelo médico italiano dr. Antonio Piga. Ele falou sobre a disfunção endócrina em pacientes com talassemia major, o tipo mais grave dessa anemia hereditária. Segundo Piga, diretor do Centro de Talassemia da Universidade de Turim, Itália, dentre os principais fatores para esse problema estão a sobrecarga de ferro no organismo, devido ao tratamento com transfusões de sangue, realizadas a cada 20 dias em média, por toda a vida, e a quelação de ferro com deferroxamina. Ainda no dia 13, o presidente do Hemo, dr. José Orlando Bordin, apresentou a todos os presentes um balanço do evento. O anúncio de que o congresso agora ocupa a terceira posição no ranking mundial nessa especialidade impressionou todos os presentes. “Somos 2,2 mil associados e estamos passando por um momento de plenas realizações, baseadas em uma entidade séria, sadia e respeitada pela comunidade e pelos gestores de saúde. A ABHH vai continuar seguindo seu modelo de apoio para a hematologia e hemoterapia no Brasil”, disse Bordin. Outro marco apresentado foi a pequena mudança no nome da entidade, além de sua nova diretoria. A agora Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular permanece sob a presidência do dr. Cármino Antonio de Souza e a vice-presidência do dr. Dimas Tadeu Covas. O dr. Dante Langhi continua como diretor administrativo e o dr. Ângelo Maiolino é o novo vice-diretor administrativo da associação. POR UM SANGUE MAIS SEGURO Durante o Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, aconteceu também o “1º Fórum de Instituições de Apoio a Pacientes Portadores de Doenças Hematológicas ou Onco-Hematológicas”, com o objetivo de promover uma discussão entre especialistas e associações de pacientes sobre os desafios relacionados à hematologia no Brasil. JACKSON SANTOS ■ CONGRESSO Entre os temas apresentados esteve a importância da segurança transfusional no país, garantida por meio da obrigatoriedade da implantação em toda a rede pública de saúde do Teste NAT (sigla em inglês para Teste de Ácido Nucleico), um dos principais na prevenção da transmissão de vírus como HIV e hepatites B e C durante a transfusão. No Brasil, 5% dos novos casos de HIV e cerca de 4,7 milhões das contaminações pelo vírus da hepatite C são detectados após a realização do procedimento. O NAT oferece uma segurança 84% maior que os outros testes, mas atualmente só está presente em alguns hospitais privados. Representantes da ABRALE e ABRASTA expuseram a todas as as- sociações presentes a importância da obrigatoriedade do exame no sistema de saúde e, ao lado da Ameo (Associação da Medula Óssea), IBraFHI, ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular), Instituto Espaço de Vida e Federação Brasileira de Hemofilia, promoveram o Manifesto do NAT. “É muito importante contarmos também com a adesão de toda a sociedade para que o poder público garanta às pessoas que dependem de doações de sangue uma transfusão mais segura”, disse Merula Steagall, presidente da ABRALE e ABRASTA. O documento será entregue ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Para assinar o Manifesto do NAT e garantir um sangue mais seguro a todos, acesse www.abrale.org.br. ■ 2012 MARÇO/ABRIL/MAIO R E V I S TA D A A B R A L E ■ 59 ■ PA R C E R I A S ■ 6º FÓRUM AMÉRICA LATINA EM MOVIMENTO ESPORTE DO BEM PELA PRIMEIRA VEZ, O BRASIL É SEDE DE EVENTO QUE DISCUTE MELHORIAS NO SISTEMA DE SAÚDE DO CONTINENTE P O R TAT I A N E M O TA HELENA QUINTANA MINCHIN O N o dia 10 de dezembro, às 19h30, aconteceu a tradicional corrida e caminhada Light the Night, na Avenida Escola Politécnica, Cidade Universitária, São Paulo. O que era para ser apenas uma atividade física noturna no coração econômico do país virou uma campanha para beneficiar pacientes com linfoma e leucemia em todo o Brasil. Com o apoio da Bristol-Myers Squibb, laboratório responsável por produzir medicamentos de alta eficiência para o tra- 60 ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 tamento da leucemia, o evento esportivo, realizado pela ABRALE em parceria com o Ideeia (Instituto de Desenvolvimento do Esporte, Entretenimento, Educação, Inclusão, Arte, Cultura e Sustentabilidade), ocorreu pela quarta vez no Brasil. Seu objetivo é disseminar a importância do diagnóstico precoce do câncer, uma das principais formas de se garantir resultados positivos no tratamento, possibilitar a remissão completa e manter a qualidade de vida. Em 2011, cerca de 1,2 mil pessoas se reuniram para literalmente correr em prol dos pacientes com câncer do sangue, como leucemia e linfoma. Toda a renda levantada será revertida para o Programa Dodói, criado para facilitar a expressão de sentimentos, a comunicação e a integração entre a criança com câncer e a equipe de cuidadores. 6º Fórum Latino-Americano para Organizações de Apoio a Pessoas que Convivem com Doenças do Sangue, organizado pela Alianza Latina, ocorreu nos dias 3 e 4 de novembro pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Seu principal objetivo é fomentar a profissionalização e cooperação entre as instituições de apoio a pacientes com enfermidades hematológicas do continente. Estiveram presentes 60 representantes de 31 organizações de toda a América Latina. O evento teve início com a palestra “O que os governos latino-americanos estão fazendo para melhorar a saúde no continente”, ministrada pelo coordenador nacional do Mercosul, Alberto de Souza. Ele abordou a Proposta de Estratégia Regional de Política de Sangue e Hemoderivados, com foco na autossuficiência, segurança sanitária e acesso universal para toda a população. O responsável pelo tema “Como melhorar a projeção das associações de apoio e aumentar a captação de recursos”, René Steuer, consultor de gestão estratégica e captação de recursos da Alianza Latina, apresentou as principais maneiras para obter a continuidade no trabalho de apoio aos pacientes com doenças do sangue. Dentre elas estão projetar expectativas de captação financeira com aqueles que já apoiaram e planejar como será feita a abordagem daqueles que conhecerão o trabalho. “Os recursos financeiros são o oxigênio de nossas associações. Sem obter os valores de que necessitamos, teremos muitas dificuldades de mantê-las e criar novas ações”, disse. O segundo dia de evento começou com a palestra “Programas educacionais com acreditação universitária voltados aos pacientes”, ministrada pelo dr. Albert Jovel e Begoña Barragan, da Espanha. Eles apresentaram o Projeto Universitário de Saúde Global, que, já em andamento, tem como pilares informação, qualificação e pesquisas. A qualidade desses serviços é essencial, então o projeto prevê que todo o trabalho seja revisado por universidades e especialistas, para possibilitar que pacientes, familiares e profissionais da saúde tenham acesso a um conteúdo 100% seguro. Neemias Silva de Andrade, da Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária, abordou o “Registro de novos produtos biológicos”. “O registro de drogas, medicamentos e insumos farmacêuticos, dadas as suas características sanitárias, medicamentosas, profiláticas, curativas, paliativas ou para fins de diagnóstico, é sujeito, além do atendimento das exigências próprias, ao reconhecimento como seguro e eficaz para o uso a que se propõe. Também deve ter identidade, atividade, qualidade, pureza e inocuidade”, explicou Neemias. “As organizações têm um papel fundamental para contribuir com os governos, meios de comunicação e instituições públicas e privadas no avanço do tratamento aos pacientes do continente latino-americano. É muito importante que todas estejam sempre bem estruturadas para representar as necessidades do usuário do sistema de saúde pública. Precisamos empoderar os pacientes para impulsionar as mudanças idealizadas”, afirmou Merula Steagall, presidente da ABRALE e ABRASTA, membro do comitê diretivo da Alianza Latina e um de seus fundadores. O 6º Fórum Latino-Americano apresentou também “Os benefícios de um software de CRM para as organizações de apoio ao paciente”, “Entendendo os biossimilares” e “Ferramentas de gestão”. ■ 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 61 DR. EXPLICA D I R E I T O S D O S PA C I E N T E S ESPECIALISTAS DE CENTROS DE TRATAMENTO TIRAM SUAS DÚVIDAS SOBRE ONCO-HEMATOLOGIAS, TALASSEMIA E SEUS TRATAMENTOS Queria saber se as chances de cura da LMC em uma criança são iguais às de um adulto. THAIS Desde julho de 2011, o Glivec (medicamento usado no tratamento da LMC) passou a ser liberado aqui no Brasil para uso em crianças e adolescentes até 18 anos. As chances de controle da doença são as mesmas que as do adulto, mas como o uso é por tempo indeterminado e os efeitos colaterais ainda estão em processo de definição, as crianças com LMC Ph+ devem começar com Glivec. Porém, se for encontrado um doador compatível, o transplante de medula também entra em discussão. Se o PET scan é o exame mais indicado para detectar células anormais, por que os médicos acompanham apenas com a tomografia? FERNANDO O PET-CT é um exame que pode dar o chamado falso positivo, ou seja, muitas vezes mostra captação em áreas que não são decorrentes do linfoma, como as de inflamações, infecções e até áreas de recuperação dos tecidos. Mesmo quando um PET-CT dá positivo no controle, você só pode afirmar que houve recaída se refizer a biópsia para confirmar. Existe um prazo certo para se fazer terapia com a psicologia? JOSÉ DA SILVA A ABRALE trabalha com o modelo de Psicoterapia Breve Focal. Isso quer dizer que temos um objetivo definido e um prazo aproximado que é combinado antes do início do tratamento. De modo geral, gira entre oito e 12 semanas. Em alguns casos, podem ser feitos novos “contratos” de atendimento, para um novo grupo de encontros. Existe algum alimento que ajude a aumentar a imunidade do paciente? Minha irmã está com leucemia e se encontra muito vulnerável. GUSTAVO Os alimentos ricos em zinco e vitamina A ajudam na imunidade. É importante também que se mantenha uma boa higienização dos alimentos e no processo de preparação para prevenir contaminações. Evitar alimentos crus é extremamente importante. Entrei com uma ação judicial contra o Estado por não fornecer o medicamento solicitado. Qual o tempo médio para esse tipo de ação? ALICE Para conseguir por meios jurídicos um medicamento de alto custo, você precisa entrar com um pedido de liminar, que deve ser concedido em 48 horas. Contudo, quando o medicamento for importado, o tempo de entrega da Secretaria de Saúde é de até 60 dias. Por isso, mostrase fundamental que o pedido de liminar seja em caráter de urgência. Caso seu advogado não tenha solicitado, peça que peticione ao juiz seu direito de prioridade processual. Até quantos transplantes autólogos um paciente com mieloma múltiplo pode fazer? NATALIA Existem pacientes que realizaram três transplantes, mas tudo vai depender da doença, opções de tratamento e estado clínico do paciente. Consultoria: dra. Ana Lúcia Cornacchioni, membro do Comitê Científico da ABRALE; Giuliana Salatino, membro do Comitê de Nutrição da ABRALE; dr. Leandro de Pádua, hematologista dos Hospitais Bandeirante e São Camilo; dra. Maria Cristina Martins de Almeida, coordenadora do ambulatório de linfoma do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC); dra. Maria Teresa Veit, coordenadora do Departamento de Psicologia da ABRALE; dr. Paulo João Benevento, diretor jurídico da Rede Feminina de Combate ao Câncer; e dra. Rosana Wakim, membro do Comitê de Odontologia da ABRALE. • MANDE SUAS DÚVIDAS SOBRE AS ONCO-HEMATOLOGIAS (LINFOMAS, LEUCEMIAS, MIELOMA MÚLTIPLO E MIELODISPLASIA) E SEUS TRATAMENTOS PARA [email protected] OU CONSULTE O SITE WWW.ABRALE.ORG.BR. • MANDE SUAS DÚVIDAS SOBRE A TALASSEMIA E SEUS TRATAMENTOS PARA [email protected] OU CONSULTE O SITE WWW.ABRASTA.ORG.BR. 62 R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 DESATIVAÇÃO DE CENTRO DE TRANSPLANTE NO NORDESTE ATO VAI CONT RA OS PREC EI TOS C ONSTI TUCI ONAI S E O IN TER ESSE DA POPULAÇÃO D ados estatísticos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) demonstram que o Brasil dispõe de 245 leitos de transplante de medula óssea (TMO), distribuídos em 63 centros, e realiza aproximadamente 2 mil transplantes/ano. Estima-se que, de 10,2 mil casos/ano de patologias hematológicas, pelo menos 50% necessitem de um TMO como tratamento de primeira linha, sendo que apenas 30% desses terão doador aparentado e 70% dependerão de doadores voluntários cadastrados em bancos de medula. Esses dados demonstram que há um enorme déficit de leitos no Brasil, sobretudo na rede pública de saúde. O número de centros de transplantes é insuficiente, além de eles estarem concentrados apenas em algumas regiões, como a Sudeste. No Norte do país, por exemplo, não há uma unidade sequer. O Nordeste conta apenas cinco centros credenciados pelo SUS, mas só dois funcionam em unidades públicas de saúde, o Centro de Transplante de Medula Óssea do Hemope, de Pernambuco, e o Hospital das Clínicas, da Bahia. Em Pernambuco, segundo dados estatísticos do Inca, a estimativa é de 1.164 novos casos/ano, o que indica a necessidade de ao menos 31 leitos disponíveis, já descontando os nove existentes. No Estado, apenas três leitos estão em unidades públicas, cuja capacidade se vê ainda mais reduzida devido ao baixo investimento na área. Hoje, a lista única de espera para um leito registra mais de 70 pacientes. A qualidade dos serviços prestados pelo Centro de Transplante de Medula Óssea do Hemope tem motivado outras unidades da Federação a criar seus próprios centros, como é o caso do Ceará, Bahia e Amazonas. Sua eficiência pode ser apurada quando se analisam dados de 2006, época em que não havia restrição de recursos e foram realizados 17 transplantes com apenas três leitos disponíveis. Diante dessas evidências e sabendo-se que o CTMO do Hemope é o único serviço público de alta complexidade da região, que atende 16 pacientes por semana e que, mesmo em condições adversas, já fez mais de 70 transplantes, tornam-se inexplicáveis os motivos que levaram o governo do Estado a abandonar um serviço público considerado de excelência, investindo na contratação de hospitais particulares e conveniados, cujo compromisso maior é com o lucro. Considerando ainda que a saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme disposto no art. 196 da Constituição brasileira e nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.080, de 19/9/90, alertamos também para a violação do art. 160 da Constituição do Estado de Pernambuco, que determina: “Art. 160 – As ações e serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Estado e aos Municípios dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita, preferencialmente, através de serviços públicos que se expandirão proporcionalmente ao crescimento da população e, complementarmente, através de serviços de terceiros” (grifo do autor do artigo). O artigo 164 expõe categoricamente que as instituições privadas poderão participar de forma complementar do Sistema Único de Saúde mediante contrato. Concluímos que a desativação de um serviço público eficiente está na contramão dos preceitos constitucionais e do interesse da população. Dra. Antonieta Barbosa Coordenadora do Departamento Jurídico da ABRALE e ABRASTA 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E 63 ■ ARTIGO MARIA TERESA VEIT ■ C A R TA S PROMESSAS DE ANO-NOVO Q U A N T O M A I S I D E A L I Z A D AS E DISTANTES D O M U N D O R E A L , M A I S D IFÍCIL SERÁ CUMPRI-LAS T ermina um ano, começa outro e muitos de nós nos voltamos aos inevitáveis balanços do período que passou. Contabilizamos os sucessos, registramos o que não deu certo, e o resultado final pode ser gratificante ou frustrante. E, incorrigíveis, lançamo-nos a novas promessas que exprimem, no fundo, nossos desejos. É aí que “mora o perigo”. O que, realmente, nos move para as famosas promessas de ano-novo? Será algo de que verdadeiramente precisamos ou, quem sabe, aquilo que nos remete a figuras idealizadas sobre nós mesmos, tentativas de sermos ou nos tornarmos algo que vemos em outra pessoa? Porque o fato é que, quanto mais idealizadas e distantes do real forem nossas promessas, maiores os riscos de não conseguirmos cumprilas e, assim, irmos de encontro a frustrações e fracassos; balanço negativo à vista... O correto precisa ser perfeito? Por vezes, entendemos que só aquilo que é absolutamente perfeito faz sentido. Por outro lado, dissociamos a perfeição do mundo real. Por exemplo, ao observarmos uma linda rosa, cheia de viço e beleza, comentamos: tão bonita que nem parece real... Depois, ao contemplarmos uma flor artificial, 64 dizemos: tão perfeita que até parece verdadeira! O que acontece? Negamos a perfeição à rosa natural e também não aceitamos a perfeição do trabalho que a imita. Enfim, complicamos e confundimos as coisas quando esse ingrediente – a perfeição – entra em cena. E isso também acontece quando construímos sonhos e acalentamos projetos. Queremos atingir o ideal ao mesmo tempo em que não conseguimos (felizmente!) nos afastar da dimensão do real. ESPAÇO DOS LEITORES: ESTA PÁGINA É SUA. APROVEITE-A PARA FAZER COMENTÁRIOS SOBRE A REVISTA DA ABRALE, TIRAR SUAS DÚVIDAS, SUGERIR ASSUNTOS A SEREM EXPLORADOS NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES. BASTA ENVIAR CORRESPONDÊNCIA PARA A ABRALE: RUA PAMPLONA, 518, 5º ANDAR – 01405-000 JARDIM PAULISTA, SÃO PAULO/SP – e-mail: [email protected] Estejam certos de que Deus os criou com um sublime propósito: vocês são iluminados, e sei que em 2012 serão abençoados e recompensados por tudo. Muito obrigado por existirem e por fazerem a vida mais colorida para muitos daqueles que os admiram. Ajudarei sempre no que for possível! Beijos especiais. DANIEL CUNHA DE ARAÚJO Meu filho está curado de uma LMA há cinco anos. É o maior presente que um homem pode receber. Sei que, mesmo a distância, vocês fizeram parte disso. Obrigado. ALEXANDRE VLADIMIR SANTOS As promessas de ano-novo, afinal, valem a pena? Claro! Qualquer ação é precedida de um pensamento ou de uma intenção, até mesmo de um sonho. É parte da vida a construção de projetos que nos norteiam e impulsionam para novas experiências e realizações. Vamos a elas! Balanços à parte, podemos delinear o que queremos para o próximo período, seja ele o do próximo dia, da próxima semana ou do próximo ano. No entanto, vamos desejar por nós mesmos, pelos anseios do nosso mundo interior, não pelos falsos modelos que nos são impostos. Vamos ter carinho e respeito por nossos limites, enquanto reconhecemos as grandezas que fazem parte de nós. E que tenhamos todos um feliz ano, semana ou vida novos! ■ ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 EDIÇÃ PACIENTES E FAMILIARES INTERESSADOS EM PARTICIPAR DOS GRUPOS OFERECIDOS PELO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA ABR ALE DEVEM ENTR AR EM CONTATO PELO TELEFONE 0800-773-9972 OU E-MAIL [email protected]. PAR A MAIS INFORMAÇÕES, ACESSE WWW.ABRALE.ORG.BR. Gratidão por tudo que fizeram em defesa dos pacientes. A ABRALE nos honra! Alegrias e felicidades nessa jornada linda e abençoada. Abraços para toda a equipe. EMÍLIA MAGALHÃES Obrigada a todos da ABRALE! É bom termos pessoas que nos entendem e lutam conosco, somando alegrias e tristezas, mas, principalmente, esperança! Deus os abençoe, e que haja provisão em todas as áreas da vida de vocês. Abraços! O 18 • ANO 4 • SETE M BRO/O UTUBR ABRA E E M A K EL -A -W IS PA R H O/NOV EMBRO DE 201 1 R E V I S TA DA ASS OC IAÇÃO BRASIL EIRA D E LINF OM A E LE UCE MIA CER S O N H O IA R E A L IZ A S TERA IA S E M E RP G C O R R ID E N T E S O TEMP A CONTRA O LUCIA MARIE TAHARA TRANS Maria Teresa Veit ([email protected] ou 0800-773-9973) Coordenadora do Departamento de Psicologia da ABRALE e da ABRASTA PL D O C O R ANTE D O IR M D Ã O U M B IL IC CHANC ÃO NASCE A AL E DE MA R IA V IT Ó R IA 2 0 1 2 M A R Ç O / A B R I L / M A I O R E V I S TA D A A B R A L E ■ 65 ■ ARTIGO MARIA TERESA VEIT PROMESSAS DE ANO-NOVO Q U A N T O M A I S I D E A L I Z A D AS E DISTANTES D O M U N D O R E A L , M A I S D IFÍCIL SERÁ CUMPRI-LAS T ermina um ano, começa outro e muitos de nós nos voltamos aos inevitáveis balanços do período que passou. Contabilizamos os sucessos, registramos o que não deu certo, e o resultado final pode ser gratificante ou frustrante. E, incorrigíveis, lançamo-nos a novas promessas que exprimem, no fundo, nossos desejos. É aí que “mora o perigo”. O que, realmente, nos move para as famosas promessas de ano-novo? Será algo de que verdadeiramente precisamos ou, quem sabe, aquilo que nos remete a figuras idealizadas sobre nós mesmos, tentativas de sermos ou nos tornarmos algo que vemos em outra pessoa? Porque o fato é que, quanto mais idealizadas e distantes do real forem nossas promessas, maiores os riscos de não conseguirmos cumprilas e, assim, irmos de encontro a frustrações e fracassos; balanço negativo à vista... O correto precisa ser perfeito? Por vezes, entendemos que só aquilo que é absolutamente perfeito faz sentido. Por outro lado, dissociamos a perfeição do mundo real. Por exemplo, ao observarmos uma linda rosa, cheia de viço e beleza, comentamos: tão bonita que nem parece real... Depois, ao contemplarmos uma flor artificial, 64 dizemos: tão perfeita que até parece verdadeira! O que acontece? Negamos a perfeição à rosa natural e também não aceitamos a perfeição do trabalho que a imita. Enfim, complicamos e confundimos as coisas quando esse ingrediente – a perfeição – entra em cena. E isso também acontece quando construímos sonhos e acalentamos projetos. Queremos atingir o ideal ao mesmo tempo em que não conseguimos (felizmente!) nos afastar da dimensão do real. As promessas de ano-novo, afinal, valem a pena? Claro! Qualquer ação é precedida de um pensamento ou de uma intenção, até mesmo de um sonho. É parte da vida a construção de projetos que nos norteiam e impulsionam para novas experiências e realizações. Vamos a elas! Balanços à parte, podemos delinear o que queremos para o próximo período, seja ele o do próximo dia, da próxima semana ou do próximo ano. No entanto, vamos desejar por nós mesmos, pelos anseios do nosso mundo interior, não pelos falsos modelos que nos são impostos. Vamos ter carinho e respeito por nossos limites, enquanto reconhecemos as grandezas que fazem parte de nós. E que tenhamos todos um feliz ano, semana ou vida novos! ■ ■ R E V I S TA D A A B R A L E M A R Ç O / A B R I L / M A I O 2 0 1 2 PACIENTES E FAMILIARES INTERESSADOS EM PARTICIPAR DOS GRUPOS OFERECIDOS PELO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA ABR ALE DEVEM ENTR AR EM CONTATO PELO TELEFONE 0800-773-9972 OU E-MAIL [email protected]. PAR A MAIS INFORMAÇÕES, ACESSE WWW.ABRALE.ORG.BR. Maria Teresa Veit ([email protected] ou 0800-773-9973) Coordenadora do Departamento de Psicologia da ABRALE e da ABRASTA