MEU CONSULTÓRIO… em tempos imprevisíveis
A Faculdade terminou! Finalmente estou formada, sou uma profissional!
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Mas… e agora? Ao mesmo tempo em que me sinto feliz e aliviada, vejo um imenso vazio
à minha frente, onde procuro encontrar o caminho que me levará à prática do que
aprendi nesses anos de estudos… e a ganhar dinheiro com isso, é claro!
Aos poucos meus olhos vão se acostumando à escuridão desse vazio e então vejo uma
palavra que vem ao meu encontro e logo passa voando por mim: “CONSULTÓRIO”.
Lógico! Sou terapeuta, então a primeira coisa que vou precisar é de um consultório, um
local onde eu possa atender as pessoas.
“Vou ter que alugar uma sala” – penso – “E comprar alguns móveis para colocar lá… Que
móveis?… Vou pesquisar!… Que bom! Já tenho por onde começar!”
Visito os consultórios dos meus professores, de alguns colegas formados há mais tempo;
falo com muita gente, terapeutas e não terapeutas... E finalmente chego à conclusão de
que vou precisar basicamente de duas poltronas e uma mesinha entre elas, se possível
com uma gavetinha para guardar um bloco de notas, caneta, etc... e um armário onde
eu possa guardar diferentes tipos de coisas.
Se houver mais condições, posso ter também uma mesa e duas cadeiras… e um tapete,
para deixar o ambiente mais acolhedor! Sim, porque desejo que meu consultório seja um
lugar agradável, onde meus pacientes se sintam bem e percebam que não estão diante
apenas de um profissional, mas de um ser humano que trabalha por prazer e se sente
feliz em poder ajudá-los.
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Isto me faz pensar que não desejo que meu consultório seja um consultório qualquer,
mas que seja o MEU Consultório. Para isto, provavelmente vou precisar de algo mais,
além de móveis e tapete. E embora ainda não esteja totalmente claro para mim o que é
esse “algo mais”, é bem óbvio que ele tem a ver comigo, com a minha forma de ser.
Deixo essa idéia amadurecer, enquanto vou tratando das coisas materiais necessárias
para montar o Meu Consultório.
Aos poucos vou me instalando e recebendo um ou outro paciente. Estes vão me
ajudando a testar meus próprios conhecimentos e, principalmente, meu talento para
lidar com os mais diversos tipos de pessoas. Pois logo descubro que cada caso é um caso,
mesmo quando se enquadra num tipo “padrão”.
E assim, cada atendimento me inspira novas formas de trabalhar; e estas, por sua vez,
me pedem novos materiais, nova organização do espaço… e percebo que Meu Consultório
não pode ser uma coisa estática, pois deve refletir a minha própria personalidade
criativa, em constante mudança e aprimoramento.
- “Este é o ‘algo mais’!!!” – penso.
Liberto, então, completamente a minha imaginação e criatividade, permitindo que elas
criem asas e voem por campos exóticos e inexplorados, trazendo-me idéias fantásticas.
E a cada idéia associo objetos simbólicos que me ajudam a levá-las para o universo
particular dos pacientes, de modo que possam surtir o efeito desejado. E os resultados
são incríveis!
Com isso, acabo comprando mais um armário para o Meu Consultório, porque aquele
primeiro já não é mais suficiente para todo o meu material de atendimento. E também
mando fazer uma estante só para os livros, pois a todo instante é publicado um livro
mais interessante, que não posso deixar de ter à mão para utilizar no momento
oportuno. Troco uma das poltronas por um divã… o paciente vai se sentir mais
confortável e relaxado. Compro uma maca dobrável e deixo-a num canto, atrás da
minha poltrona… para uma eventual aplicação de Reiki ou outra técnica que ajude o
paciente a se abrir para a cura. E – muito importante! – instalo uma pequena prateleira
junto à minha mesa, onde coloco meus incensos, velas, cristais e tudo que preciso para
manter o ambiente energeticamente limpo, pois nunca se sabe que tipo de energia vem
junto com as pessoas que entram e saem de lá.
Pronto! Agora sim, Meu Consultório está com a minha cara! Tudo o que posso imaginar
em termos de tratamento terapêutico está ali, ao alcance das minhas mãos! Meu
Consultório está completo!
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Entretanto, alguma coisa não está caminhando bem… minha vida pessoal anda muito
desarmonizada… e de repente algo acontece que me desestrutura emocional e
financeiramente. Ao mesmo tempo, os pacientes começam a rarear e os poucos que
sobram não conseguem me pagar apropriadamente porque também estão passando por
momentos difíceis. Isto só complica as coisas.
De uma hora para outra, parece que toda a minha vida virou de cabeça para baixo!
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E então, percebo que não consigo lidar com minhas próprias crises! Preciso de ajuda,
urgente!!! Mas… a quem recorrer? Sempre fui aquela que resolvia o problema dos outros,
nunca estive na posição de ser ajudada… Isto é novo para mim!
O que terá acontecido? Como foi que de repente as coisas se inverteram?
Ponho a culpa no Meu Consultório… Deve ter alguma coisa errada com ele e que está se
refletindo na minha vida. Lembro-me, então, que uma amiga terapeuta me falou de uma
consultora de Feng Shui que a ajudou a harmonizar as energias do seu consultório, numa
época em que sua vida estava totalmente fora do eixo.
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É disso que eu preciso! Entro em contato com a tal Consultora e dois dias depois a
recebo em meu consultório. Nosso primeiro contato é muito agradável e harmonioso,
mas, ao contrário do que eu imaginava, ela não sugere nenhuma grande modificação na
decoração ou disposição dos móveis do Meu Consultório. Parece nem estar muito atenta
a esses detalhes…
Tanto nesse encontro, quanto nos dois ou três seguintes, nossas conversas giram em
torno do meu trabalho, dos meus interesses, da minha vida pessoal e, principalmente,
dos meus sonhos… não só os sonhos-desejos, mas mais especificamente, os sonhos que a
gente tem quando está dormindo.
Embora esse não fosse o tipo de conversa que eu esperava ter com uma Consultora de
Feng Shui, algo me diz que estou no caminho certo, pois cada assunto que abordamos
acaba gerando um sonho ou insight – não só da minha parte, mas da parte dela também –
que vêm esclarecer um pouco mais determinadas questões e nos mostram novas formas
de encará-las.
Mas algumas situações mais problemáticas não se resolvem tão rapidamente quanto eu
gostaria, e isso me incomoda muito, pois desejaria que tudo voltasse ao normal o mais
rápido possível.
Então um dia, numa conversa com a Consultora, ela sugere que eu reflita sobre esse
meu desejo… até que ponto é bom que as coisas voltem a ser como eram? E nessa noite
tenho um sonho…
Estou sentada num banco de jardim, conversando com um dos meus professores da
faculdade. Estamos falando justamente sobre os problemas que estou enfrentando.
- “Será que algum dia as coisas vão voltar ao normal?” – pergunto, desconsolada.
Ele pensa, pensa… e então diz:
- “Você tem reparado quantas pessoas estão passando por momentos de reviravolta total
em suas vidas? Já observou que todo o planeta está sofrendo mudanças significativas em
todas as áreas? Até a natureza parece estar fugindo daquilo que considerávamos
normal…”
Faz uma pausa, como a dar um tempo para que eu reflita sobre isso, e continua:
- “Então, será que não é o momento de reconsiderarmos nosso conceito de ‘NORMAL’?”
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Será que tudo o que está acontecendo nas nossas vidas e à nossa volta não tem um
propósito maior, que não estamos conseguindo enxergar do nosso ponto de vista
limitado, já que estamos mergulhados nesses problemas?”
- “E qual seria esse propósito?” – pergunto… e logo arrisco uma resposta:
- “Tenho lido e ouvido falar que a humanidade está evoluindo para um nível mais
elevado de consciência… Se é assim, os padrões que mantivemos até agora, em todos os
segmentos da vida, provavelmente não são compatíveis com essa nova consciência e por
isto precisamos mudar nossa forma de pensar, de agir, de ser…”
Antes que eu possa completar o raciocínio, o professor conclui:
- “E como temos certa resistência às mudanças, a própria vida se encarrega disso… às
vezes de maneira um tanto drástica, não é?”
Balanço a cabeça afirmativamente e, ainda refletindo sobre o que acabamos de falar,
comento com certa melancolia:
- “Tudo que parecia estável, confiável, seguro está se desfazendo…”
Mas o professor não perde o ânimo:
- “Não será isto mais uma indicação de que precisamos encontrar novas bases para a
nossa vida? Ou talvez simplesmente nos deixarmos levar por este novo fluxo até que a
própria vida nos mostre o caminho?”
Acordo! Fico frustrada, porque gostaria de continuar a conversa, trocar mais idéias com
ele. Fecho os olhos, tento dormir e sonhar de novo… mas, nada!
O dia nem amanheceu ainda, mas já não tenho mais sono. Levanto-me e escrevo um email para a Consultora contando esse sonho e finalizando com uma frase desconsolada:
“Tudo parecia tão bem encaixado em seu devido lugar… e, de repente, nada mais se
enquadra em coisa nenhuma… nem mesmo o projeto do Meu Consultório, que parecia
tão perfeito…”
Sua resposta não tarda a chegar:
“Ele realmente era perfeito”! Esse projeto era perfeito para os ‘velhos tempos’, aqueles
tempos em que podíamos criar manuais e fórmulas para tudo, porque tudo era
relativamente previsível, tudo seguia certos padrões conhecidos, familiares.
Mas esses tempos passaram num piscar de olhos! Agora estamos vivendo tempos
imprevisíveis e o que vale para hoje pode não ser válido amanhã. Então temos que
encontrar um modo de viver harmoniosamente num momento destes.
Deve haver alguma coisa que seja permanente e confiável, no meio de toda esta
mutação. É isto que precisamos encontrar…”
Embora não tenha nenhum paciente marcado, vou até o consultório e deito-me no meu
divã, tentando relaxar e por minhas ideias em ordem.
Fico relembrando as palavras do Professor e da Consultora, tentando chegar a alguma
conclusão concreta sobre elas. De repente, meus pensamentos desaparecem, minha
mente fica totalmente vazia e me vem uma vontade incontrolável de ler alguma coisa
inspiradora. Estico o braço e pego o primeiro livro que alcanço na estante ao lado. É um
livro bem fininho, que não me lembrava de ter comprado… aliás, não me lembrava de
tê-lo visto antes em lugar nenhum, muito menos no Meu Consultório!
Sua capa me faz lembrar alguns livros de estórias infantis, cheio de estrelinhas de todas
as cores. Não sei bem por que, meu coração se enche de alegria!
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- “Alguma criança deve tê-lo deixado aqui” – penso – “E a faxineira guardou-o junto com
os outros, sem saber.”
Ponho os óculos para ler o título, pronta para me deliciar com um conto de fadas… Mas,
quando as letras começam a se definir melhor diante dos meus olhos, dou um pulo do
divã e quase caio sentada no chão!
“CRIANDO UM CONSULTÓRIO… EM TEMPOS IMPREVISÍVEIS”
- “Que brincadeira é esta?!” – falo, em voz alta, quase gritando!
- “Só posso estar sonhando!” – concluo e fico imóvel durante alguns segundos, sem saber
se abro ou não o livrinho… – “Bem, sonho ou não, quero ver o que tem aí dentro!”
Abro-o cuidadosamente… procuro o nome do autor, não encontro, assim como também
não encontro o nome da editora, o ano de publicação, o número do ISBN… A primeira
página está em branco e, pelo jeito, as outras também, porque dou uma folheada rápida
e não vejo nada escrito ali!
Fecho-o de novo, um tanto decepcionada, pois tudo o que eu queria, neste momento,
era saber como criar um consultório… nestes tempos imprevisíveis!
Ainda com uma pontinha de esperança, abro-o novamente, com muita cautela e
curiosidade… E o que vejo?
.........
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Meu consultório em tempos imprevisíveis_2011