SÍNTESE CUBANA
CASA DE AMIZADE BRASIL‐CUBA
ASSOCIAÇÃO CULTURAL JOSÉ MARTÍ
RIO GRANDE DO NORTE – BRASIL
EDIÇÃO Nº 102 – ANO II
Intervenção militar estadunidense: quanto mais
guerras, melhores negócios
O coronel-aviador da Força Aérea
Brasileira, Sued Castro Lima, avaliou a
intervenção militar estadunidense na
América Latina. As ações dos estados
serão intensificadas com a instalação,
agora em setembro, de sete bases militares na Colômbia. Para Sued, “os sucessivos conflitos bélicos em que o país
tem se envolvido confirmam a avaliação de que quanto mais guerras, melhores negócios”.
Sued Lima é graduado em Engenharia Civil e membro fundador do Observatório das Nacionalidades, entidade de
pesquisa ligada à Universidade Federal
do Ceará (UFC) e à Universidade Estadual do Ceará (Uece). Já participou de
diversas missões militares nos EUA, Israel, Argentina, Chile e Rússia. Deixou
o serviço ativo em 1998. Confira a primeira parte (de duas) da entrevista que
o coronel concedeu à Adital.
Adital – Como o senhor avalia a atual
intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina?
Sued Castro Lima – Avalio essas intervenções como coerentes com todo o histórico de ações militares e políticas que
têm caracterizado a trajetória dos Estados Unidos nas relações internacionais,
desde o século 19. São cerca de três dezenas de intervenções armadas e
incontáveis ações golpistas para destituir ou tentar destituir governos de países latino-americanos que eventualmente não atendam os interesses imperiais da grande potência. Cuba é a campeã de intervenções armadas sofridas,
com pelo menos seis casos, inclusive
após a vitória da Revolução de Fidel.
Refiro-me à tentativa de invasão da ilha,
no ataque à Baia dos Porcos, em 1961.
Algumas dessas intervenções redundaram em anexação de extensas regiões,
como no caso do México, em 1846, que
perdeu metade de seu território, a parte mais rica, hoje os estados da Califórnia, Novo México e Texas.
Adital – Em sua avaliação, essa intervenção militar está relacionada a aspectos como intervenção econômica e
política? De que modo?
Sued Castro Lima – Os governos norte-americanos sempre atuaram, em
maior ou menor escala, para atender os
interesses do poder econômico do país.
Em 1961, o presidente Dwight Eisenhower, general e herói de guerra, reconheceu publicamente que o chamado complexo militar-industrial influenciava
decididamente nas políticas interna e
externa dos Estados Unidos. Os sucessivos conflitos bélicos em que o país
tem-se envolvido confirmam a avaliação de que “quanto mais guerras, melhores negócios”. São guerras que têm
três sentidos destacados: testar novos
tipos de armamentos, fazer o marketing
desses produtos e impor os interesses
globais da grande potência imperial. Há
uma declaração de um general dos
marines (fuzileiros navais), Smedley D.
Butler, feita em tom de ironia, já em
1935, que responde bem à pergunta:
“Nos 33 anos que passei no serviço ati-
vo, atuei na maioria das vezes como um
gângster a serviço do capitalismo. ‘Ajudei’ a tornar o México um lugar seguro
para os interesses petrolíferos norteamericanos, ‘ajudei’ a tornar o Haiti e
Cuba um lugar decente para os rapazes
do National City Bank recolherem rendas, ‘ajudei’ a purificar a Nicarágua para
a casa bancária dos Irmãos Brown, ‘limpei’ a República Dominicana para os interesses açucareiros e ‘ajudei’ a endireitar Honduras para as companhias norte-americanas de frutas.”
Adital – Algo mudou na política
intervencionista dos EUA a partir da
posse de Barack Obama?
Sued Castro Lima – Até o momento,
não está visível um novo rumo na política externa dos EUA. O governo Obama pouco tem feito de efetivo para conter o genocídio do povo palestino pelo
estado de Israel, reproduzindo o comportamento dos governos republicanos,
em que os presidentes falavam muita
coisa e pouco faziam; amplia a guerra
no Afeganistão; mantém tropas no
Iraque; desenvolve retórica intervencionista contra a Coréia do Norte e o Irã;
não atua firmemente contra o golpe
militar que depôs o presidente hondurenho Manuel Zelaya; e amplia sua presença militar na América do Sul, com
as bases na Colômbia e no Peru. Devese considerar, em verdade, que a margem de manobra de qualquer governo
progressista norte-americano é bastante estreita em face do poderio da indústria de armamento, e correlatas, e dos
conglomerados financeiros, que impõem seus interesses com firmeza e
despudor.
Adital – O que representa, para a América Latina, a instalação das bases militares na Colômbia? E para o Brasil?
Sued Castro Lima – Segundo o pensador francês Michel Foucault, um dos
instrumentos do exercício do poder resulta da presença física do dominador.
Por meio dessa presença, pode ostentar
a força destruidora que lhe é própria,
intimidando o mais fraco. Já o estrategista britânico Liddell Hart, que viveu
no século passado, considerava que um
dos maiores objetivos estratégicos do
comandante militar é o de ter acesso
prévio ao mais amplo grau de conhecimento sobre as forças do virtual inimigo, como ocupam o terreno, como pensam, quem são seus chefes, como se preparam, enfim, avaliar seus pontos fortes e suas vulnerabilidades. A presença
militar no território de potencial conflito armado ajuda a resolver bem tais
questões, pois possibilita a observação
e o acompanhamento dos acontecimentos que interessam ao potencial invasor,
abrindo-lhe acesso a informações
cruciais para o desencadeamento de
seus eventuais propósitos de intervenção militar. A concessão do governo de
Uribe à instalação em território colombiano de sete bases militares operadas
por milhares de soldados norte-americanos tem duplo efeito: fere a soberania de seu país e mina a União Sul-americana de Nações (Unasul), com seu
Conselho de Defesa, ainda embrionários, filhos diletos da política externa e da
estratégia de defesa regional desenvolvidas pelo governo Lula.
Fonte: Adital
Michael Moore pede o fim do
capitalismo em seu novo filme
A exibição no Festival de Cinema de
Veneza, na Itália, do documentário Capitalismo: uma história de amor, de Michael
Moore, repercutiu com toda a força que
se poderia esperar do engajado diretor de
Tiros em Columbine e Fahrenheit 11.
Sua primeira sessão para a imprensa
no Festival de Veneza, onde concorre ao
Leão de Ouro, teve fila começando mais
de meia hora antes de seu início, empurra-empurra e dezenas de jornalistas voltando para trás.
Ao final, o filme foi bastante aplaudido. Capitalismo: uma história de amor é polêmico e tem a marca de Moore. Ao seu
final, o diretor simplesmente faz uma profissão de fé contra o capitalismo – que,
segundo ele, “não pode ser regulado, tem
de ser eliminado e substituído por um sistema mais justo”.
O foco do filme é a grande crise econômica que abalou os mercados mundiais ao final de 2008, provocando a quebra
de instituições financeiras e a falência não
só de empresas, como de pessoas físicas
– milhares delas perderam suas casas, nos
EUA, por não poderem pagar suas hipotecas, que haviam sido refinanciadas para
adquirir novas casas.
Como de hábito nos filmes de Moore,
a pesquisa é consistente e registra casos
impressionantes, que visam retratar a ganância dos bancos e o resultado trágico,
segundo ele, de uma desregulamentação
do sistema financeiro. Além de acompanhar o despejo de alguns inadimplentes
com as hipotecas, Moore denuncia verdadeiros crimes, como empresas que fazem
apólices de seguro em favor de seus empregados e beneficiam-se delas, no caso
de sua morte, em prejuízo das famílias dos
mortos. O filme não se furta a indicar
mesmo os nomes de diversas grandes
empresas norte-americanas que usaram
ou ainda usam este expediente.
Michael Moore entrevista padres que
acreditam que o capitalismo é o anti-Cristo, porque ele falhou em proteger os pobres e encoraja a ganância. “Essencialmente temos uma lei que diz que apostar
é ilegal, mas nós permitimos Wall Street
fazer isso e eles jogaram com o dinheiro
das pessoas, levando-o para as áreas mais
loucas de derivativos”, disse Michael
Moore, em Veneza.
“Eles precisam mais do que só regulação. Nós precisamos nos estruturarmos de uma maneira diferente para criar
finanças e dinheiro, sustentar empregos,
negócios etc., para manter uma economia
saudável funcionando.”
Uma das sequências mais provocadoras de Capitalismo: Uma História de Amor
está em seu final, quando o próprio cineasta percorre diversos bancos em Nova
Iorque com um saco de pano na mão, com
a intenção declarada de “recuperar” dinheiro subtraído aos contribuintes. Impedido de fazer esta “coleta”, Moore arranja então um rolo da fita normalmente usada pela polícia norte-americana para isolar cenários de crimes, passando-a pela
porta dessas instituições.
Ao final, o cineasta propõe que cada
uma das pessoas que assistir ao filme também se rebele, seguindo os exemplos de
trabalhadores que ocuparam indústrias
desativadas ou alguns moradores que
reocuparam suas casas, desobedecendo às
ordens de despejo. Moore diz claramente
que os EUA hoje “não são” o país que o
falecido presidente Franklin Roosevelt
propunha, mas que ele não irá deixá-lo.
Moore repropõe, ao que parece, a boa e
velha desobediência civil.
“O capitalismo é mau e você não pode
regular a maldade. Você deve eliminá-lo
e substituí-lo por algo que é bom para todas as pessoas”, conclui o documentário.
Fonte: Folha de S. Paulo e yahoo.com.br
Síntese Cubana, boletim informativo da Associação Cultural José Martí/RN “Casa de Amizade Brasil–Cuba”, tem a finalidade de
difundir e preservar a amizade e defender os interesses do povo cubano e da América Latina em território brasileiro. Muito zelo
e técnica foram empregados nesta edição. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer das
hipóteses, assim como no caso de crítica, elogio ou sugestão de temas, solicitamos encaminhar e-mail para [email protected]
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