A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA OS SUJEITOS DAS ESCOLAS DE JUARA
Ely Alves Miguel (mestranda MeEL/UFMT – [email protected])
Maria Rosa Petroni (Docente MeEL/UFMT – [email protected])
Resumo: O artigo discute a leitura, a partir do levantamento de como alguns gêneros textuais
(escolares ou não) estão sendo trabalhados em sala de aula, tendo como referência a forma
professores e alunos concebem a leitura. Para obtermos informações,
escolhemos duas
escolas do município de Juara, um grupo de alunos e professores das respectivas instituições.
Utilizamos, para coleta de dados, questionários com questões abertas e fechadas. Serviram de
referência para aprofundamento teórico das informações levantadas e analisadas, autores
como Juvêncio (1994), Solé (1998), Neder e Possari (2001), Kleiman (2004), entre outros.
Os resultados demonstraram um grande número de alunos que se consideram leitores, porém,
normalmente, as preferências leitoras não correspondem aos materiais que possuem no lar.
Todos consideram a leitura importante, os docentes entrevistados revelaram preocupação com
a diversificação textual e a leitura de distração é também priorizada nas práticas pedagógicas,
entendida como positiva pelos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Textos, Leitura, compreensão.
ABSTRACT
The article discusses the reading from some survey genres as textual (scholar or not) are
being worked in the classroom, with reference to the way teachers and students design the
reading. To get information, we selected two schools in the Juara county, a group of students
and teachers of the respective institutions. It was used for data collection, questionnaires with
open and closed questions. Served as a reference for further theoretical information raised and
examined, authors as Juvêncio (1994), Solé (1998), and Neder Possari (2001), Kleiman
(2004), among others. The results showed a large number of students who consider
themselves readers, but usually do not match the preferences readers to materials which have
at home. All of them consider important to read, the teachers interviewed showed concern
about the textual diversification and reading for distraction is also prioritized in teaching, seen
as positive by the students.
KEYWORDS: Texts, Reading, understanding.
INTRODUÇÃO
Tornar os alunos leitores competentes e capazes de utilizar gêneros textuais que atendam as
necessidades especifica de comunicação, adequando-os às situações comunicativas, é um
dos grandes desafios de estudiosos e educadores da educação. O processo de leitura envolve o
ser humano em todos os aspectos de sua individualidade.
Assim, ao ler, o leitor projeta no texto seus conhecimentos de mundo, lingüístico e de
estrutura textual, mobilizando estratégias de leitura consoantes com os objetivos pretendidos.
Para garantirmos que na sociedade haja leitores capazes de utilizar os processos de leitura
participando ativamente no contexto social, visando à transformação da mesma, precisamos
repensar as práticas de leitura escolar e transformar nossas intenções em ações que alterem
este quadro negativo de não leitores que temos no país.
Assim, é fundamental apresentar propostas textuais que auxiliem no processo de construção e
compreensão dos textos. Isso significa selecionar diferentes gêneros textuais que circulam
socialmente, redimensionando o olhar sobre as possibilidades oferecidas pelo texto.
A idéia da pesquisa surgiu ao reconhecermos a importante função dos diversos gêneros
textuais para o aprendizado e desenvolvimento eficaz da língua materna, já que concordamos
que, “auxiliar o aluno a tornar-se um leitor autônomo e um produtor competente de textos é
compromisso de nosso oficio” (PLATÃO e FIORIN, 2002, p. 3). Assim, saber como tais
textos vêm sendo trabalhados em sala de aula constitui-se interessante objeto de estudo. Para
isso elaboramos questões direcionadas para investigarmos dois grupos de alunos do III ciclo
do Ensino Fundamental, de escola distinta, e alguns docentes, todos eles com vários anos de
experiência educacional.
I A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
1.1 CONCEPÇÕES DE LEITURA
Muitos autores definiram o conceito de Leitura, a maioria deles tentando responder às
especificidades do momento em que a produção foi realizada. Para Solé (1998), a leitura
envolve interação entre leitor e o texto. Isso significa que há a presença de um leitor ativo que
examina o texto, extraindo informações que atenda seus objetivos. Assim, o significado
obtido pelo leitor não é a réplica do sentido pretendido pelo autor, considerando que no
processo de compreensão são ativados conhecimentos prévios (lingüístico, textual e de
mundo), os quais estão ligados à experiência individual de quem lê o texto.
Para Orlandi (1983) apud Neder e Possari (2001, pág. 18), “a leitura não é simples
decodificação de sinais, mais a busca de significações marcadas pela interlocução entre autor
e produtor do discurso”. Neste processo, há desencadeamento da compreensão textual,
assegurado pelo sujeito que interfere diretamente no conteúdo, posicionando criticamente
diante do exposto.
Para Neder e Possari (2001), a leitura tida como processo de interlocução implica em diálogo
(que pressupõem troca) entre autor e leitor. Isso porque no texto, o produtor de discurso
evidencia sua visão de mundo, oportunizando ao leitor compartilhar também de sua realidade,
em uma relação envolvente.
Assim podemos dizer que “o amor e a leitura tem em comum o prazer, requerem um exercício
diário de conquista, de envolvimento, de diálogo com o outro” (Gurgel, 1999, p. 299 e 210.).
Além do mais, “através da leitura, portanto, reconhecemo-nos parte da humanidade e não
seres isolados, somos capazes de tecer a própria individualidade a partir do e com o outro”
(Gurgel, 1999, p. 210).
1. 2 IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO PRÉVIO NA LEITURA
No processo de compreensão do texto, o leitor utiliza conhecimentos prévios que lhe permite
fazer inferências importantes para o atendimento global. Para Kleiman (2004, p. 13), “pode-se
dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá
compreensão”. Dessa forma, entram vários níveis de conhecimento (lingüístico, textual e de
mundo), os quais interagem entre si, para que o leitor atribua sentido ao que lê.
O conhecimento lingüístico é extremamente importante para a compreensão. Envolve vários
níveis da organização lingüística que as pessoas utilizam para produzirem e compreenderem
enunciados. Segundo Kleiman (2004, p. 13), “é aquele conhecimento implícito, não
verbalizado, nem verbalizável na grande maioria das vezes que faz com que falemos
português”. Abrange conhecimentos de pronúncia das palavras, vocabulários, normas e usos
da língua. A ausência de conhecimento sobre fobia, por exemplo, pode comprometer o
entendimento de partes importantes do discurso.
O conhecimento de mundo (ou enciclopédico) são aqueles construídos ao longo da
experiência de vida e adquiridos formalmente ou informalmente (através da experiência e
convívio social.). São esses conhecimentos que ajudam a entender informações
extralingüísticas ou implícitas, porque quando necessitamos, ativamos o conteúdo arquivado
na memória para compreender a mensagem, fazendo as inferências necessárias.
O conhecimento Textual desempenha papel importante na compreensão de textos. Dá conta
de como a informação é organizada em gêneros textuais. Quando nos deparamos com um
texto, acionamos o conhecimento que temos da organização textual, facilitando a
compreensão do mesmo.
Para Solé (1994, p. 22), “os textos que lemos também são diferentes e oferecem diferentes
possibilidades e limitações para transmissão da informação escrita”. Dessa forma, o conteúdo
em função do texto escolhido, obrigando o leitor a compreender os modos de organização
textual, mesmo que intuitivamente.
“Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior sua exposição a todo
tipo de texto mais fácil será sua compreensão, pois o conhecimento de estruturas
textuais e de tipos de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em
relação aos textos, expectativas estas que exercem um papel considerável na
compreensão” (Kleiman, 2004, p. 20).
É importante ressaltar que os três conhecimentos prévios são ativados constantemente para
consolidar a compreensão dos textos, no entanto, normalmente não são percebidos pelo
operador do discurso.
Dessa forma, sobre leitura compartilhamos com as considerações de kleiman (2004).
Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior sua exposição a todo
tipo de texto mais fácil será sua compreensão, pois o conhecimento de estruturas
textuais e de tipos de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em
relação aos textos, expectativas estas que exercem um papel considerável na
compreensão” (Kleiman, 2004, p. 20).
Assim, convém dizer que se tornar leitor pressupõe envolvimento integral do ser humano,
considerando que, nessa relação, a sua individualidade é constitutiva do sujeito histórico que
constrói um novo discurso (melhorado) a partir do conhecimento comum entre leitor e autor.
1. 3 OBJETIVOS DE LEITURA
Toda atividade de leitura precisa considerar a significatividade para o individuo, oferecendolhe, inclusive, desafios que o leve a insistir na leitura do texto. No entanto, os objetivos e
propósitos são fundamentais para garantir a compreensão do texto.
Para Solé (1999, p. 93), “o bom leitor não lê todos os textos que circulam socialmente da
mesma maneira. Neste caso, os objetivos com relação a um texto podem ser muito variados”.
Kleiman (2004) destaca que no contexto escolar não há prática de estabelecimento de
objetivos e propósitos claros para a leitura.
“Encontramos o paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente
capaz de planejar as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo,
elogiar alguém para conseguir um favor), quando se trata de leitura, de interação a
distância através do texto, na maioria das vezes esse estudante começa a ler sem ter
idéia de onde quer chegar, e, portanto, a questão de como irá chegar lá nem se quer se
põe” (p. 30).
Diferentes contextos, portanto, geram objetivos distintos de leitura, os quais devem ser todos
considerados nas situações de ensino. Solé (1999, pág. 92 a 100), elenca alguns objetivos
utilizados cotidianamente:
- Obter uma informação precisa ou especifica: localização de um dado de interesse,
desprezando outros, leitura seletiva, (busca de um número telefônico em uma lesta, consulta
de um dicionário).
- Seguir instruções: chamada de leitura funcional, na qual é preciso ler todo texto para realizar
a ação (receitas, instruções de jogos, regras de funcionamento, orientação geográfica).
- Obter informação geral: é uma leitura guiada pela necessidade do leitor, feita quando se quer
saber do que trata o texto, o chamado processo “scanning” (leitura de jornal, por exemplo).
- Aprender:consiste em ampliar conhecimentos, auto-interrogando sobre o que lê,
estabelecendo relações com o que já sabe, revendo novos termos, recapitulando, elaborando
resumos e sínteses.
- Revisar um texto: para perceber a adequação do texto, melhorando-o para que o leitor
compreenda a mensagem.
- Prazer: importar experiência emocional do leitor, considerando que o prazer é algo
absolutamente pessoal.
- Comunicar um texto a um auditório: exige o uso de uma série de recursos para que as
pessoas compreendam a mensagem (discurso, sermão, participação em conferência).
- Verificar se houve compreensão: significa responder perguntas conscientes sobre o texto.
Assim, a formação de bons leitores no contexto escolar exige do docente planejamento,
diversificação de atividade e textos variados, principalmente, entendimento de que o
individuo deve ser preparado para enfrentar situações reais da vida.
Além disso, é importante lembrar que o prazer de ler é extremamente pessoal, pois o tipo de
texto ideal para um indivíduo pode ser detestável para outro.
1. 4 IMPORTÂNCIA DOS GÊNEROS TEXTUAIS NO PROCESSO DE LEITURA
Por meio da linguagem, o indivíduo insere-se na sociedade absorvendo conhecimentos
construídos historicamente e trocando experiências. Para atingir seus objetivos, os agentes dos
discursos utilizam diferentes modelos discursivos, entendendo que cada situação exige uma
formulação textual específica para transmitir seu pensamento.
Assim, é fundamental que a escola proponha diferentes atividades privilegiando os diferentes
gêneros textuais para que o aluno perceba os mecanismos lingüísticos presentes nos textos,
utilizando-os adequadamente em função de seus interesses.
“É sabido que o aluno, com base em sua experiência de usuário da língua, já tem
percepção das características dos gêneros textuais e das situações de comunicação em
que se realizam, embora não seja um conhecimento formalizado. Cabe a escola
apresenta-lo a diferentes gêneros textuais, usados em diferentes situações e com
objetivos diversos, de modo a ampliar sua competência comunicativa. Isso significa
afirmar que, na sua prática docente, o professor deve desenvolver no aluno
competências que o levem a reconhecer que a pluralidade de discursos contribui para
o desenvolvimento de sua alta estima, seu sentido de cidadania e seu papel social”.
(Pereira et alii, 2006, p. 29 )
A diversificação de gêneros textuais será fundamental no processo de formação de leitores,
considerando que assim haverá uma desescolarização da leitura, ou seja, os docentes
oportunizarão compreensão de que a leitura não está apenas associada aos livros,
principalmente aos didáticos e literários, consagrados como referência de leitura.
Isso significa que diferentes gêneros textuais serão escolhidos em função das seguintes
características materiais e sociais do contexto situacional: tempo e
lugar; relação entre
interlocutores; características e papel social do enunciador e do receptor; grau de formalidade
da situação (Pereira et alii, 2006, p.30).
“Os gêneros textuais são tanto quanto as intenções comunicativas: telefonema, bilhete,
cartas, receita, horóscopo, bula de remédio, lista de compras, edital de concurso,
formulários, aula expositiva, carta eletrônica, bate papo por computador, entre outros
inúmeros textos que circulam socialmente” (Pereira et alii 2006, p. 30) .
Conviver com diferentes gêneros textuais aguça a capacidade de distingui-los e de entender
seu funcionamento. No entanto, a tarefa de graduar esses textos é atribuição do professor, que
não pode esquecer o compromisso político de favorecer o desenvolvimento das competências
específicas de leitura.
II REFLETINDO SOBRE A LEITURA NO CONTEXTO PEDAGÓGICO DAS
ESCOLAS DE JUARA/MT
2. 1 DELINEANDO A METODOLOGIA DA PESQUISA
Considerando o interesse em aprofundar algumas questões relacionadas à leitura, escolhemos
duas escolas do município de Juara (uma próxima ao centro da cidade e outra em um bairro
periférico), para obter dados importantes sobre o tema escolhido.
Os elementos de pesquisa foram dois grupos de alunos do III ciclo do Ensino Fundamental: 1ª
fase e 3ª fase 1 . Além disso, responderam aos questionamentos docentes das duas escolas,
todos com experiências significativas na educação.
A investigação representou um olhar sobre a importância da leitura para alunos e docentes
de diferentes instituições. Talvez um olhar “simplório”, considerando o contato esporádico
com a realidade e a propostas de intervenção protocolada. Em contrapartida, realizamos uma
análise séria, respeitadora e com reflexões importantes sobre a leitura no contexto
investigado.
1
No Mato Grosso há uma organização por ciclos de formação humana, na qual o Ensino Fundamental
e dividido em três ciclos. O III ciclo corresponde aos três últimos anos do EF.
Em termos de procedimentos, utilizamos, para coleta de dados, questionários com questões
abertas e fechadas para alunos e professores das instituições escolhidas. Além disso, fizemos
observações assistemáticas nas escolas e coletamos dados importante, com ajuda de perguntas
não-estruturadas, sobre a historia da instituição, destacando a infra-estrutura atual para
compreendermos se existe espaços reservados para incentivar a leitura e se há materiais
diversificados que auxiliem neste processo de formação de leitores.
De posse dos dados, sistematizamos as informações e transformamos no texto final, o qual
apresenta fundamentos teóricos a respeito da leitura, metodologia da pesquisa e os resultados
da investigação refletidos com pareces relevantes e fundamentados, frequentemente, com
afirmações de autores para dar sustentabilidade às considerações.
2. 2 ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA DOCENTES DAS
ESCOLAS INVESTIGADAS
Investigar as concepções docentes sobre a leitura foi fundamental para compreender alguns
apontamentos feitos pelos alunos nos questionários utilizados para levantar dados sobre as
implicações da leitura no contexto pedagógico e como está a relação do grupo entrevistado
com a mesma. Assim, os docentes manifestaram algumas informações importantes para nossa
investigação, as quais serão apresentadas e refletidas, inclusive com fundamentos de autores
que abordam a leitura de diferentes maneiras.
Quando questionados se lêem freqüentemente a maioria (92%) respondeu que sim e os
demais afirmaram que raramente se dedicam à leitura. Os dados revelam um compromisso
docente com a própria postura profissional, entendendo que a leitura é fundamental para
melhoramento da prática. Sem contar que os docentes precisam ser exemplos neste processo
sendo leitores competentes, conhecedores de acervos e dominar estratégias de trabalhos com
diferentes textos que circulam socialmente.
“Para formar leitores, é indispensável que o formador-mediador-professor seja, ele também
um leitor de muitos textos, com conhecimentos teóricos, gosto pela leitura e reconhecimento
da importância dos textos, em formato de livro ou não”(Costa, 2006, p. 9 ).
Perguntamos ainda sobre a quantidade de livros lidos pelos entrevistados no ano de 2006, no
entanto nem todos responderam numericamente. A maioria optou por citar alguns livros lidos.
Dentre os que citaram o número de livros, tivemos um caso que leu mais de dez (10)
exemplares. Já os demais que citaram, leram de três a cinco obras no ano.
Pelas respostas foi possível constatar que as leituras estiveram mais centradas em livros de
auto-ajuda e literários. Tivemos citação de duas revistas (Nova Escola e Mundo Jovem), de
alguns livros relacionados aos saberes pedagógicos (Sedução na relação Pedagógica de Maria
Aparecida Morgado e Psicologia social crítica) e outros específicos, (de área de
conhecimento), sendo os dois últimos timidamente citados.
Ao serem indagados se consideram a leitura importante, todos os profissionais responderam
afirmativamente, inclusive destacaram motivos para tais respostas. A docente L justifica a
importância da leitura alegando que é “única maneira de comunicar de igual para igual”. Está
implícito nesta afirmação que o indivíduo leitor tem facilidade de escolher textos que levem
em conta a finalidade da comunicação. Além disso, o contato com diferentes textos possibilita
inclusão em diversas situações comunicativas, considerando sua instrumentalização para
interagir com seus pares.
Temos outros depoimentos que destacam a importância da leitura para os entrevistados:
“ Aprofunda conhecimentos.” ( C )
“Amplia limites do próprio conhecimento.” ( I )
“Traz conhecimentos, amplia horizontes.” ( H )
“Ampliar e ter visões diferentes dos fatos e acontecimentos ocorridos em
nosso mundo.” ( E )
“ Amplia universo cultural.” ( F )
“Manter-se atualizada, ampliar horizontes.” ( G )
“Aperfeiçoa nossa compreensão de mundo”. ( D )
Gostaríamos de chamar atenção para alguns verbos utilizados pelos docentes nas respostas
acima: aprofunda, amplia, citados por cinco (5) pessoas, e aperfeiçoa. Praticamente todos
estão no tempo presente do Modo Indicativo, indicando que o conteúdo do enunciado é
tomado pelo falante, como certo, revelando suas convicções perante o fato.
Outra característica importante é que todos estes vocábulos, citados por sete (7) docentes, e
que representa mais de 50% dos entrevistados, são iniciados pela vogal a, o que,
simbolicamente, pode representar que a leitura é o gênesis de tudo, tem valor ou importância,
em suas vidas.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2001), define as palavras destacadas como:
Ampliar. v.t.d. 1. Tornar ( mais ) amplo. 2. Reproduzir em formato maior. 3.
Aumentar ( ... ) 4. Tornar-se ( mais ) amplo. ( p. 47 ).
Aperfeiçoar: v.t.d. 1. Tornar ( mais ) perfeito ( ...) 2. Tornar-se
(mais ) perfeito. 3. Adquirir maior grau de instrução ou aptidão.
(p. 58 ).
Aprofundar: v.t.d. 1. Tornar ( mais ) fundo. 2. Examinar ou investigar a fundo. 3.
Tornar-se ( mais ) fundo. 4. Penetrar, Adentrar ( - se ).
5. Investigar, ou examinar, assunto, tema, etc, a fundo. ( p. 61 ).
Temos a explicitação do termo tornar o qual repete-se dando significatividade similar as três
palavras principais. Isso significa que, mesmo inconsciente, os docentes entrevistados
atribuem significados semelhantes para a importância da leitura, identificando-se nas
concepções.
Analisando o significado dos elementos acima, percebemos a grandeza das acepções
atribuídas, algumas ampliadas com o operador mais que, semanticamente, dá intensidade,
agrega valor intrínseco ao individuo que o cita.
Ainda temos outras afirmações, como a da docente A, que evidencia a leitura como
imprescindível para “a construção e interpretação do mundo que nos cerca”, e da professora I
que aponta a leitura como fundamental para a análise da realidade em que vivemos. Isso nos
remete a funcionalidade da leitura, a qual não pode restringir-se apenas ao ambiente escolar.
Ela precisa acrescentar elementos para que o indivíduo consiga compreender o mundo.
A entrevistada B coloca a leitura como “fonte de informação e desenvolvimento”,
considerando o crescimento intelectual/cultural proporcionado pelo contato com diferentes
gêneros textuais. Com isso, o ser humano desenvolve habilidades importantes para
convivência em sociedade.
Para a docente K, a leitura “permite analisar o sistema educacional e na tomada de novas
posturas”. A entrevistada faz uma análise da leitura enfatizando sua importância para
entendimento das questões pedagógicas e na melhoria da própria prática, pois é a partir de um
bom referencial teórico que o profissional conseguirá avançar em suas concepções.
As docentes H e F destacam a leitura como fonte de diversão e indicada para aliviar o strees.
Com isso, apresentam a leitura como algo prazeroso que inclusive, cura. Surge nesta situação
a leitura de prazer. Aquela que está diretamente relacionada às escolhas afetivas do indivíduo.
Como a leitura é trabalhada em sala de aula foi outro questionamento feito. Todos
responderam que privilegiam a diversidade textual. Isso significa que o processo não está
apenas centrado em reproduzir textos dos livros didáticos, inclusive a docente J destacou que
na escolha dos textos considera aquele que proporcione análise e reflexão da realidade.
Esta afirmação nos remete as sábias palavras de Paulo Freire (1994) quando cita sua
experiência de leitura destacando que “a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais
significou uma ruptura com a leitura do mundo” (p.15). Ou seja, os fatos do mundo, as
experiências de vida de cada criança devem ser consideradas para que ela consiga, a partir da
constituição do sujeito (que tem uma vida, uma história e que é considerada também pela
escola), inferir sobre a realidade em que vive.
Alguns docentes destacaram que proporcionam momentos de leituras individuais e coletivas
com interpretação dirigida em alguns momentos.
Segundo relatos, oportunizam reescritas do texto, dramatização e reprodução do texto lido
(iconográfica e oral). Além disso, as professoras L e F disseram que propiciam momentos
para que os alunos façam as próprias escolhas, ou seja, é dada a liberdade para que os livros
escolhidos sejam de acordo com suas preferências. Já as docentes B e K enfatizam a
importância de o professor ler para os alunos dando oportunidade para que eles também leiam
e discutam o texto.
É salutar para a formação de bons leitores a concepção que o docente tem sobre leitura, pois
isso será elemento desencadeador de experiências educativas importantes para que o ensino e
a aprendizagem se tornem mais prazerosos e produtivos.
Para Solé (1998, p. 90) “Ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de estratégias e
técnicas. Ler é, sobretudo, uma atividade voluntária e prazerosa, e quando ensinamos a ler
devemos levar isso em conta. As crianças e os professores devem estar motivados para
aprender e ensinar a ler”.
Neste contexto, o docente é o mediador das ações educativas e também precisa constituir-se
leitor experiente que propicia aos alunos certos desafios.
“Trata-se de conhecer e levar em conta o conhecimento prévio das crianças com
relação ao texto em questão e de oferecer a ajuda necessária para que possam construir
um significado adequado sobre ele - o que não deveria ser interpretado como explicar
o texto, ou seus termos mais complexos, de forma sistemática”. ( Solé, 1998, p.91 )
Dessa forma, toda tarefa de leitura precisa ser iniciada com alunos motivados para tal e que
sabem o que fazer e como, ou que pelo menos se sintam capazes de fazer, inclusive recebendo
ajuda para progredir.
Isso exige que o docente faça escolha de gêneros textuais adequados para o grupo de alunos
que atende considerando as especificidades da faixa etária dos envolvidos. Posteriormente, é
fundamental elaborar uma ficha técnica do texto e obedecer a etapas importantes do trabalho
com o texto, como momentos de pré-leitura, leitura, compreensão da função dos recursos
lingüísticos na constituição textual e produções diversas.
“Como podemos fazer diferentes coisas com a leitura, é necessário articular diferentes
situações - oral, coletiva, individual e silenciosa, compartilhada – e encontrar os textos
mais adequados para alcançar os objetivos propostos em cada momento. A única
condição é conseguir que a atividade de leitura seja significativa para as crianças,
corresponda a uma finalidade que elas possam compreender e compartilhar” ( Sole,
1998, p. 90).
Os entrevistados citaram vários gêneros textuais utilizados em sala de aula para formar alunos
leitores e produtores do discurso. Ganha destaque as histórias em quadrinhos e os literários
(poemas, crônicas, fábulas, lendas, contos, parlendas e adivinhações). Além disso, foram
citados receitas, poesias, letras de música (canção), notícias, entrevistas, reportagens, artigos
de opinião, textos de divulgação científica, gráficos, tabelas, imagens, entre outros.
Percebe-se que há preocupação em trabalhar com a diversidade textual no ambiente escolar.
Assim, desenvolver um trabalho que considere as especificidades do grupo de alunos,
enfatizando inicialmente, os textos mais familiares do grupo para depois explorar outros, é
compromisso de todo docente desejosos pela melhoria da situação de leitura no país,
principalmente.
Um dos exemplos mais utilizados são as histórias em quadrinhos, um gênero textual peculiar,
misto e lúdico, formado a partir de desenhos e diferente sinais gráficos, Contém também uma
narrativa com diálogos e é marcada por uma seqüência de imagens verbais e não-verbais,
combinadas ou apenas imagens visuais.
Para compreender o enredo da história em quadrinhos, o leitor precisa atentar para os gestos,
expressões corporais e faciais dos personagens, perceber mensagens implícitas e compreender
a função dos balões, onomatopéias e constituição dos quadrinhos. O gênero aparentemente
simples e rico que pode constituir-se como referência para desencadear o gosto pela leitura.
“As situações de leitura mais motivadoras também são as mais reais: isto é, aquelas
em que a criança lê para se libertar, para sentir o prazer de ler, quando se aproxima do
cantinho da biblioteca ou recorre a ela. Ou aquelas outras em que, com objetivo claro
resolver uma dúvida, um problema ou adquirir a informação necessária para um
determinado projeto - aborda um texto e pode manejá-lo à vontade sem a pressão de
uma audiência”. (Solé, 1998, p.91)
Assim, a leitura torna-se um instrumento importante para o aluno, inclusive de identidade, de
luta, de inclusão social, porque através dela o indivíduo “expressa sua linguagem, os seus
anseios, as suas inquietações, as suas reivindicações, os seus sonhos”( Freire, 1994, p.20 ).
2. 3 SIGNIFICATIVIDADE DA LEITURA PARA ALUNOS DO CONTEXTO
PESQUISADO
Compreender como a leitura é concebida e qual sua importância na vida social, foram
objetivos que nos levaram a buscar como está a relação dos alunos com os universos que
exigem interpretação de informações registradas e
constatar
quais alternativas são
disponibilizadas no lar e no espaço educacional para estimular atitudes leitoras.
Para obter dados importantes que, inclusive, mantivesse fidedignidade à realidade
investigada, apresentamos um questionário (com perguntas abertas e fechadas) para alunos do
3º ciclo de duas escolas estaduais do município.
Assim, os alunos foram estimulados a responder sobre sua relação com a leitura, destacando:
hábitos de leitura em casa (sim ou não), gêneros textuais mais lidos no lar, o que gostam de
ler, se gostam de ler, a importância da leitura e como é trabalhada na escola. Nesta última, os
respondentes foram interpelados a mencionar as estratégias, propostas de diversificação
textual, usadas pelos docentes, e se existe preocupação em propor
leitura de distração
frequentemente.
Indagados sobre a existência do hábito de leitura em casa, quase todos os alunos (83%)
responderam afirmativamente. O curioso foi constatar que, dos nove (9) alunos que alegaram
não ter familiaridade com a leitura em casa, apenas um é do sexo feminino. Isso nos remete a
tabus instaurados na sociedade de que a leitura é coisa de mulher, sem muita importância.
Com relação aos gêneros textuais lidos no lar, a grande maioria citou revistas (33), histórias
em quadrinhos e bíblia (27). Outros gêneros também foram citados como panfletos/folhetos
(12), jornal (11), livros didáticos (9) e livros literários (6).
Em número menos expressivo aparecem os romances, livros diversos, bula de remédio e os
“importantes para o leitor”. Dois dos alunos entrevistados admitiram não ler nenhum gênero
textual em casa.
Com relação aos gêneros textuais lidos no lar, a grande maioria (63.5%) citou revistas, vinte e
sete (27) alunos (60%), histórias em quadrinhos e bíblia. Outros gêneros também foram
citados como panfletos/folhetos 12 alunos (23%), jornal 11 (21.15%), livros didáticos 9
(17.30%) e livros literários 5 (9.6%). Em número menos expressivo aparecem os romances,
livros diversos, bula de remédio e os “importantes para o leitor”. Dois dos alunos
entrevistados admitiram não ler nenhum gênero textual em casa.
Percebemos que as revistas estão presentes nos lares das pessoas, servindo como elemento
importante de leitura. Isso se dá porque há distribuição gratuita de exemplares de várias
revistas locais, as quais apresentam diferentes formatos. Já a popularidade das Histórias em
quadrinhos ocorreu, principalmente, em função da divulgação de ações educativas das
instituições governamentais como, por exemplo, Campanhas contra o mosquito da Dengue,
Fome Zero, entre outros. Além disso, o incentivo incansável de muitos docentes para que a
leitura constitua-se como importante nas famílias, contribuiu para que as crianças se
interessassem, pelo menos, por um tipo textual lúdico.
A Bíblia aparece como preferência similar a das histórias em quadrinhos, no entanto, “a
Bíblia é apontada como o único livro que possui lugar cativo na estante, nem sempre para ser
lida, mas como objeto cuja função simbólica é reafirmar e transmitir a idéia de que se é bom
cristão” (Cardoso, 2000, p.84).
Na verdade, os títulos lidos pelas crianças em casa, em sua maioria, não são comprados pelos
pais. Persiste no imaginário das famílias que a responsabilidade pela formação de leitores é,
exclusivamente, das instituições de ensino.
Embora a escola incentive e deseje a leitura, dificilmente forma o leitor, se não
tiver o apoio dos pais. Isto porque as relações sociais, na família, são espontâneas,
envoltas em emoções partilhadas e valores afirmados e/ou vivenciados por todos (
... ) Na escola há um currículo a ser cumprido, uma hierarquia, há direitos e
deveres, e a escola não consegue, de forma alguma, substituir a família na formação
de valores; pode colaborar com ela. (Horbatiuk, 2006,p.16).
Isso significa que a leitura envolve muito mais que aspectos cognitivos e na família esta
relação vai se revelando uma ação transformadora do modo de ser, de ver o mundo e de
interagir com ele, considerando a afetividade construída neste espaço de vivência.
Quando questionados se gostam de ler, 84.6% responderam que sim. 13.5% que não gostam e
1.9% não souberam responder. Os dados mostram que a maioria dos
alunos gosta de ler,
exceto alguns que admitiram ter ojeriza pela atividade. O curioso é que entre os não leitores
convictos temos muitos do sexo masculino, no entanto, há uma garota que afirma não gostar.
Os dados mostram que praticamente todos gostam de ler, exceto alguns que admitiram ter
ojeriza pela atividade. O curioso é que entre os não-leitores convictos temos muitos do sexo
masculino, no entanto, há uma garota com gosto semelhante.
Com relação aos que gostam de ler, muitos gêneros foram citados, alguns indefinidos quanto
à terminologia que o designe. Portanto, elencamos todos abaixo mantendo fidelidade aos
nomes que transcreveram no questionário, sem interferência das pesquisadoras.
A preferência de leitura dos alunos que não gostam de ler gira em torno das histórias em
quadrinhos, revistas e jornais. Um deles mencionou que prefere o jornal porque o gênero
apresenta histórias reais. Este é o perfil de aluno em que a realidade, o hoje têm mais
importância. Talvez porque o que é noticiado faça parte de um universo que ele tenha acesso
às diferentes informações complementares do fato.
Todos entrevistados afirmaram que a leitura é importante e para isso apresentaram inúmeras
justificativas. A maioria dos alunos foca a importância da leitura no processo como um todo,
ou seja, o aluno leitor terá um bom desempenho em todas as áreas do saber.
Os termos “ajuda”, “desenvolve”, “melhora” e “aperfeiçoa” nos remete as
acepções
significativas no contexto pedagógico, pois nestes conceitos a leitura assume dimensão que
auxilia e ampara o indivíduo em situações interlocutivas. Além disso, propicia crescimento e
progressos acertados e sensatos na vida social, dada à possibilidade de decidir acertadamente,
em diversas situações, considerando a aptidão adquirida para concluir com esmero qualquer
opção.
Assim, os indivíduos deixam de ser meros expectadores para serem questionadores, capazes
de se situar conscientemente no contexto social, e ao mesmo tempo, capazes de acionar
processos de leitura aprendidos na escola, no sentido de participar da conquista de uma
convivência social mais feliz e menos injusta para todos, sendo, então, “uma pessoa melhor e
mais realizada”, conforme afirmam duas alunas.
Isso também incide na segunda justificativa, quando um bom número de alunos concorda que
a leitura é importante para a vida e para cada ser humano. Com isso, há uma desescolarização
da leitura, a qual ganha dimensão social, significando que o ato de ler não representa apenas
satisfação de desejos de um professor que fica o tempo todo cobrando empenho com os livros,
mas um compromisso de todos: professores que assumem esta expectativa social, alunos
compreendendo seu direito e pais assumindo também sua responsabilidade no processo. Pois
“ se os pais derem as mãos aos professores, aí sim, a escola se tornará mais família e a
família, mais escola.” ( HORBATIUK, 2006, p. 16 )
As demais justificativas citadas na tabela representam a complexidade e importância da
leitura para qualquer indivíduo. O fato de ela nos tornar informados revela que só através da
leitura podemos acompanhar os fatos, as evoluções ocorridas, evitando discursos arcaicos,
impróprios a algumas situações interativas.
Agora que ler muito melhora o desempenho é algo verídico, considerando a apropriação de
vocabulário que ajuda na decisão de quais discursos utilizar na situação em questão e uma
série de recursos próprios da dicção (entonação, pausas) que envolvem a leitura em si e estão
destinados a torná-la compreensível.
Realmente a leitura “traz mais conhecimento” e proporciona descobertas de coisas novas e
diferentes, conforme afirmação de vários alunos. Esta falas podem ser somadas a outro
depoimento solitário: “ler ajuda a interpretar o conhecimento”.
Quando lemos, agregamos às nossas leituras construídas as informações que consideramos
relevantes para nossa vida. Neste processo, muitas descobertas importantes são feitas e
elementos diferentes são incorporados à nossa experiência de leitura. Este arcabouço
construído nos ajudará na interpretação de outros conhecimentos que surgirão na história de
cada indivíduo. Vale lembrar que este processo é extremamente intrínseco e cada um constrói
sua trajetória a partir das experiências que teve.
Alguns alunos destacaram que a leitura desenvolve a fala (dialogar corretamente, expressar
bem), e a escuta, pois a ausência dela (leitura) minimiza a capacidade de ler e,
consequentemente, de escrever adequadamente.
Essas reflexões nos lembra o compromisso que temos nas instituições de ensino tentando
evitar números cada vez mais alarmantes de analfabetos funcionais (pessoas que passaram
pelo processo de escolarização, mas apresentam dificuldades extremas de leitura e escrita),
pois “por delegação histórica e social, cabe à escola favorecer o desenvolvimento das
competências específicas de leitura” (COSTA, 2006, p. 8).
Há uma tentativa de humanização da relação com a leitura revelada na afirmação “a leitura é
importante porque convivo com ela” e o entendimento de que ler é muito mais que um
contato leitor x livro: “a leitura proporciona viagens por vários lugares diferentes”. É através
da leitura que o indivíduo sai do mundo real e chega a mundos desconhecidos, mas que são
aproximados pela caracterização inventiva do leitor.
Solicitamos que os alunos descrevessem como a leitura é trabalhada pelo docente em sala, a
maioria se restringiu a dizer que é trabalhada a leitura e interpretação dos textos, sem
especificar como isso é feito. No entanto, alguns mencionaram que na interpretação dos textos
os docentes apresentam questões objetivas e subjetivas, visando ampliar a compreensão dos
textos lidos. Há propostas que envolvem exposições orais dos textos lidos; seminários e
teatros.
Em uma das escolas existe sala de leitura, a qual é freqüentada por todos os alunos mediante
planejamento organizado pela equipe docente e gestora da instituição. Muitos dos alunos
citaram como positivo este espaço de leitura.
Outros alunos apenas elogiaram a forma como os docentes conduzem o trabalho de leitura,
justificando que é “bem trabalhada”, inclusive de “um jeito bem proveitoso, pois a professora
está trazendo sempre coisas novas e diferentes”, enfim, “é ótimo”.
Pelos comentários dos alunos, percebemos uma aprovação dos procedimentos utilizados pelos
docentes em sala de aula. Embora existam deferentes estratégias de trabalho com a leitura, é,
em sala de aula, que o docente com seu poder criativo, inventivo, tem a “mágica” de
transformar aversão em prazer.
Quando “por delegação histórica e social, cabe à escola favorecer o desenvolvimento das
competências específicas de leitura” (COSTA, 2006, p. 8).
As respostas analisadas também revelaram que os professores já perceberam a importância da
diversidade textual, que funciona como “iscas”, para formação de alunos leitores, pois
“somente o docente pode intuir o que convém fazer num determinado momento para ajudar o
aluno a aprender a ler” (Juvêncio,1994, p.138).
Em relação à propostas de leitura de distração feita pelos docentes, houve uma grande
incidência de afirmações positivas. Ou seja, os professores das turmas em questão estão tendo
a preocupação de apresentar a leitura
prazerosa e não apenas como sendo algo
essencialmente pedagógico.
Sobre isso, SOLÉ (1998) enfatiza que ler por prazer é algo extremamente pessoal, pois o que
conta nesta situação é a experiência emocional desencadeada pela leitura escolhida e alerta:
”Em geral, a leitura por prazer associa-se à leitura de literatura. É natural que isso
aconteça, pois os textos literários, cada um em seu nível e no nível adequado dos
alunos, poderão enganchá-los com maior probabilidade. Entretanto, também é
muito freqüente que a leitura do texto literário seja associada ao trabalho sobre
estes textos que, por outro lado, é totalmente necessário. Por isso seria útil
distinguir entre ler literatura só para ler e ler literatura.” (SOLÉ, 1998, p. 97 )
Para Juvêncio (1994), o objetivo da leitura de distração é o relaxamento, a evasão, a aventura,
o passa o tempo. É um tipo de leitura que requer uma disponibilidade afetiva e emocional do
leitor, sem nenhuma função utilitária.
Ela pode tornar a forma da leitura para espantar o tédio das salas de esperas, dos
percursos das viagens onde o leitor passa o tempo folheando uma revista ou outra
publicação, captando aqui e ali uma nota, um fato, uma notícia. É a leitura
desinteressada. É a leitura de evasão por excelência. (Juvêncio, 1994, p.122 ).
Quem sabe seja possível assegurarmos a todos os alunos bons referenciais de leitura, inclusive
de escolha pessoal, para que consigamos ver, brevemente, pessoas lendo em todos os espaços
e adquirindo material para leitura com o mesmo prazer que lutam para garantir seu aparelho
de telefonia celular, no mundo moderno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura é essencial para a formação e desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Assim, é de
suma importância que ela se faça presente na vida diária da pessoas como algo prazeroso,
agradável e necessário.
Assim, no processo de pesquisa, que resultou na elaboração deste texto (trabalho), partimos
do princípio de que a leitura envolve interlocução. Além disso, vários aspectos estão
envolvidos neste processo, inclusive os objetivos que mobilizam o leitor para tal e a
importância do conhecimento prévio para garantir a compreensão textual.
Assume grande relevância neste contexto, os gêneros textuais que, quando bem utilizados,
contribuem para garantir o gosto pela leitura e desescolarização desta, tão essencial para a
vida de qualquer individuo.
Percebemos que alunos e docente entendem que a leitura é fundamental para ter sucesso na
atual sociedade da informação e tecnológica. Dessa forma, perdem sentido as atividades
reprodutivas meramente mecânicas e ganham destaque atividades que estimulem
continuamente o pensamento e promovam o desenvolvimento de habilidades.
Embora nas escolas investigadas tenhamos encontrado um grande número de alunos que se
consideram leitores, normalmente, as preferências leitoras não correspondem aos materiais
que possuem no lar. Ou seja, há um número limitado de gêneros textuais em casa, os quais
não representam o que gostaria de ler.
Todos, alunos e professores, consideram a leitura importante, entendendo que ela é
fundamental para o melhoramento da atuação social do individuo. Isso significa dizer que ela
é a base da educação. Por isso quase todos docentes mencionaram que lêem frequentemente e
isso está expresso na quantidade de obras citadas.
Coincidentemente os docentes entrevistados revelaram preocupação com a diversificação
textual o que foi confirmado pelos alunos. Além disso, a leitura de distração é também
priorizada nas práticas pedagógicas dos entrevistados, o que também foi mencionado como
positivo pelos alunos.
Sabemos que comprovamos muitos resultados positivos sobre a importância da leitura nas
escolas pesquisadas e até identificamos trabalhos relevantes, que buscam melhorar este
quadro aversivo instaurado em nas instituições educacionais. No entanto, entendemos que há
muito por fazer ainda. Precisamos abandonar a preocupação exagerada com aspectos
estruturais do texto e incentivar a paixão pela leitura, que pode e deve ocorrer em qualquer
lugar, desmistificando concepções de que ler está associado apenas aos livros. É salutar
rompermos com a lógica fragmentada dos conteúdos e tornar a leitura compromisso de todos
na escola. Além disso, promover ações que levem também os pais, ao encantamento
proporcionado pela leitura.
Assim, finalizamos com a reflexão de FOUCAMBERT (1994): “A escola precisa de uma
reflexão muito mais fundamental. Precisa entender o que é leitura. Acho possível provocar
nos professores e nos pais uma tomada de consciência sobre o que é leitura, a partir de sua
própria prática” (p. 5).
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1998.
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a importância da leitura para os sujeitos das escolas de juara