Quarta-feira, 2 de setembro de 2015 7 ENTREVISTA MP do Futebol traz gestão transparente aos clubes A presidente Dilma Rousseff sancionou no dia 5 de agosto com 36 vetos, a Medida Provisória 671, que prevê a responsabilidade fiscal e financeira dos clubes de futebol e detalha regras para parcelamento de dívidas. A matéria foi aprovada pelo Congresso Nacional em julho. Ao sancionar a MP, entra em vigor o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). A medida tem por objetivo promover a gestão transparente e democrática, além do equilíbrio financeiro dos clubes. O valor estimado dos débitos dos clubes é de R$ 4 bilhões. Além de refinanciar as dívidas, há estímulo à profissionalização e modernização, ao exigir contrapartidas. “Na prática, cada clube terá de cumprir uma série de requisitos, alguns pontos devem ser analisados sob o desígnio contábil. Avaliações técnicas devem ser elaboradas com o devido aprofundamento sobre cada requisito”, diz o mestre em Contabilidade e Controladoria, sócio e responsável pela área técnica da UHY Moreira-Auditores e especialista em auditoria de clubes de futebol, Carlos Aragaki. Aragaki destaca que “a nova lei trouxe pontos polêmicos, como a criação do futebol feminino, que por um lado cria condições de trabalho para as mulheres, mas por outro aumenta as despesas dos clubes, cuja receita não existe para esta categoria, além de elevar os riscos de processos trabalhistas”. Os clubes terão três meses para decidir se irão aderir ou não ao Profut. JC Contabilidade - Os clubes terão de passar por quais mudanças para ficarem de acordo com as regras de governança, transparência e responsabilidade fiscal da MP do Futebol? Carlos Aragaki - Os clubes deverão fortalecer suas áreas contábil e financeira para a elaboração de demonstrações financeiras completas à luz do requerido já pela Lei Pelé (Lei 9.615, de 1998), em seu artigo 46 A. Também deverão apresentar os passivos atualizados e se adequar à MP 671 (MP do Futebol) no que se refere a investir em contratações no limite máximo do percentual da receita bruta dos clubes. Terão que buscar geração de novos negócios para aumentar as receitas e redução dos custos. Redução essa que enquadra uma revisão para os clubes sociais, cujos gastos em alguns clubes são maiores do que as UHY MOREIRA/DIVULGAÇÃO/JC Aragaki explica que exigências em gestão profissional são iguais às das empresas receitas com as mensalidades, levando tais clubes a utilizar verbas do futebol para suprir o déficit. Adicionalmente, deverão monitorar, juntamente com o departamento jurídico, as decisões da administração que possam acarretar processos trabalhistas e cíveis. Contabilidade - As exigências passam a ser iguais às de uma empresa então, ou há especificidades? Aragaki - As exigências passam a ser iguais às empresas, no quesito gestão profissional, para que os clubes realizem seus objetivos. Contabilidade – Qual o impacto esperado para a indústria do futebol brasileira? Você acredita que essa intervenção servirá para profissionalizar ainda mais o negócio, trazer melhores condições de trabalho aos jogadores e investimentos em infraestrutura de estádios e outros? Aragaki - Na prática, a mudança para a indústria do futebol é pequena, pois substancialmente a MP 671 se trata de uma nova forma de refinanciar os passivos dos clubes do futebol brasileiro e não traz qualquer menção, por exemplo, à infraestrutura de estádios. Entretanto, a nova lei trouxe pontos polêmicos, como a criação do futebol feminino, que por um lado cria condições de trabalho para as mulheres, mas por outro aumenta as despesas dos clubes, cuja receita não existe para esta categoria, além de elevar os riscos de processos trabalhistas. Com relação aos atletas profissionais, no ponto de vista das condições de trabalho, a boa notícia foi que a presidente Dilma Rousseff vetou alguns itens, como o artigo que acabava com a multa de 100% do contrato caso um jogador fosse dispensado de um clube. Contabilidade – Atenção à transparência e a accountabili- ty já existem no futebol desde as leis 10.672, de 2003, e Timemania, de 2007, com a obrigatoriedade de elaboração de demonstrações financeiras, divulgação e/ou publicação dessas demonstrações e auditoria independente. O que a MP do Futebol traz de diferente dessas duas matérias? Aragaki - As grandes novidades são a responsabilização dos dirigentes por gestão temerária e do teto máximo para os clubes gastarem nas contratações de atletas (80% da receita bruta). Isso não existia e agora traz um grau de responsabilidade maior para os clubes. Outro ponto importante é que um dirigente na gestão atual não poderá antecipar facilmente as receitas futuras como da televisão, por exemplo, em prejuízo das próximas gestões. Contabilidade - Que tipo de punições os clubes podem sofrer caso não cumpram as novas regras? Os dirigentes podem ser responsabilizados? Aragaki - Sim, a gestão temerária será punida. Inclusive, com casos graves como destituição dos dirigentes por 10 anos e outras obrigações. Resta saber, como e quem exercerá essa punição. Contabilidade - Há prazos para adequação? Aragaki - Os clubes terão três meses para decidir se irão aderir ou não ao Profut. E, atualmente, é o que as diretorias, junto com as áreas jurídicas, financeiras e contábeis dos clubes estão debruçadas para a tomada de decisão. Contabilidade – Por fim, como funcionará o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut)? Aragaki - Na prática, são contrapartidas para que os clubes consigam financiar suas dívidas fiscais em 240 meses.