Vantagens e desvantagens da pecuária no
Brasil segundo atores da cadeia produtiva de
carne bovina
Advantages and disadvantages of livestock farming in Brazil,
according to beef chain actors
Resumo
Este estudo objetivou identificar as vantagens e desvantagens de se produzir carne bovina para o mercado doméstico e
para exportação, segundo a percepção dos atores da cadeia produtiva no Brasil. Para tanto, foi utilizada a metodologia
qualiquantitativa do Discurso do Sujeito Coletivo, ferramenta que possibilita representar a opinião coletiva sobre um dado
tema. A pesquisa de campo baseou-se em uma amostra de trinta e quatro indivíduos, de ambos os sexos, em sua maioria
com alto grau de escolaridade, pertencentes a cinco diferentes categorias de atores relacionadas à atividade pecuária
de corte no Brasil: pecuaristas, frigoríficos, empresas certificadoras, associações de classe e órgãos governamentais de
regulação e inspeção. Os resultados indicaram que os pecuaristas percebem mais desvantagens do que vantagens em se
produzir carne bovina para exportação, especialmente pelo fato de que são os frigoríficos que estabelecem os preços nas
transações domésticas. Além disso, sugerem também que a carne bovina brasileira destinada ao mercado doméstico é pior
do que aquela destinada à exportação, reconhecendo-se também a segmentação do mercado interno, com exigências de
qualidade diferenciadas.
Palavras-chave: Carne. Indústria Agropecuária. Legislação.
Abstract
This study aimed at identifying the advantages and disadvantages of beef production for the domestic market and for export
according to the perception of the production chain actors in Brazil. For that purpose, the qualiquantitative methodology
of the Collective Subject Discourse was used. This tool allows the representation of a collective opinion about a specific
subject. The field survey sample was composed of thirty-four individuals, both male and female, most of them with high
education background, belonging to five different actor categories related to cattle growing in Brazil: farmers, slaughter
houses, certifying companies, class associations and regulatory governmental entities. The results indicated that farmers
perceive more disadvantages than advantages in producing beef for export, especially due to the fact that the slaughter
houses establish the prices in the domestic transactions. Besides that, the results suggest that the Brazilian beef for the
domestic market is worse than that for export. A segmentation of the domestic market is also known, with differentiated
quality requirement.
Keywords: Meat. Livestock Industry. Legislation.
# Baseado na tese “Furquim NR. Alimento seguro: análise do ambiente institucional para oferta de carne bovina no Brasil. São Paulo:
Universidade de São Paulo; 2012”. Orientadora: Denise Cavallini Cyrillo.
* Engenheiro de Alimentos. Doutor em Nutrição Humana Aplicada – PRONUT/USP. Professor Assistente Doutor do curso de Administração (Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – CCSA) e do curso de Nutrição (Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS) da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo-SP, Brasil. E-mail: [email protected]
** Economista. Livre-docente. Professora Associada do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Departamento de Economia.
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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Artigo Original • Original Paper
Denise Cavallini Cyrillo**
O Mundo da Saúde, São Paulo - 2013;37(3):321-328
Nelson Roberto Furquim*
Introdução
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Problemas relacionados à segurança de alimentos, associados à saúde animal, como a gripe
aviária e a “doença da vaca louca” (Encefalopatia
Espongiforme Bovina - BSE), ganharam destaque
a partir dos anos 1990 e acabaram por influenciar não apenas a percepção dos consumidores
acerca da qualidade de produtos alimentícios
derivados de animais, mas também a política de
comércio internacional de vários países. A União
Europeia (UE), por exemplo, criou uma série de
exigências a serem cumpridas pelos produtos importados pela região, em virtude dos episódios
internacionais que envolveram a comercialização de carne bovina contaminada1.
Nesse contexto é que o Brasil, para exportar para países que exigem rastreabilidade na
cadeia produtiva de carne bovina, desenvolveu
e implantou, em 2002, o Sistema Brasileiro de
Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bubalinaa: o SISBOV1,3,4.
A adesão ao SISBOV é obrigatória para exportadores de carne bovina a países que exigem
rastreabilidade e voluntária para os produtores
voltados para outros mercados, inclusive para o
nacional3. A adesão implica investimentos em
um conjunto de controles e de tecnologias de informação no elo de criação de animais da cadeia
produtiva da carne bovina, elevando a complexidade da gestão da atividade pecuária e seus custos no âmbito dos pecuaristas. O funcionamento
do sistema, por outro lado, necessita de coordenação e controle em nível nacional, tendo-se em
conta o tamanho do rebanho, a heterogeneidade
da produção e a sua distribuição geográfica, dadas as dimensões continentais do país5.
Furquim e Cyrillo6 já demonstraram que a
estrutura do SISBOV pode gerar os dados e as documentações exigidas pelas regras da UE e demais
mercados que exigem rastreabilidade na cadeia
produtiva de carne bovina. Contudo, sua existência
não impediu o embargo das exportações de carne
brasileira em 2005 pela UE7, nem a queda do nível
das exportações nacionais desse produto na segunda metade da década de 20008. Tampouco impediu
o questionamento da qualidade da carne brasileira,
e o anúncio de suspensão das importações por par-
te do Japão, África do Sul e China ante a constatação de um caso isolado de animal contaminado
pela BSE, no Paraná, em 2010, comprovado, entretanto, somente no final de 20129.
Fato é que a pecuária brasileira é desenvolvida em um ambiente institucional complexo,
que busca facilitar o acesso à informação, visando ao aumento da participação no comércio
internacional, com uma baixa adesão dos pecuaristas brasileiros ao SISBOV10. Nesse contexto,
a pergunta relativa às razões dessa baixa adesão
está em aberto. Seria a carne brasileira de baixa
qualidade, e não competitiva para atender a demanda internacional? Não haveria vantagens na
produção para exportação? Seria o SISBOV um
sistema inadequado, do ponto de vista dos pecuaristas? O presente trabalho investigou a opinião dos atores econômicos envolvidos na cadeia produtiva de carne bovina acerca das duas
primeiras questões, ficando para outra oportunidade o exame da opinião desses atores acerca
do papel do SISBOV.
Assim, o objetivo deste estudo foi identificar
vantagens e desvantagens da atividade pecuarista
de corte, para o mercado doméstico e internacional, segundo a opinião dos principais atores da
cadeia produtiva no Brasil, a saber: pecuaristas,
frigoríficos, empresas certificadoras, associações
de classe e órgãos de inspeção e regulação.
MÉtodo
O presente estudo baseou-se na aplicação
da metodologia qualiquantitativa do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC), que consiste em uma maneira de representar a opinião coletiva sobre um
dado tema ou fenômeno presente em determinada formação sociocultural11.
Assim, para se obter o pensamento coletivo,
os indivíduos são convocados individualmente a
exporem sua opinião, isento da pressão psicossocial do grupo. Para essa finalidade, a metodologia do DSC opera a categorização das respostas
obtidas, por meio da identificação de temas ou
assuntos, com as seguintes figuras metodológicas: Expressão-chave (EC) e Ideia Central (IC),
utilizadas no processamento dos depoimentos e
na obtenção dos Discursos do Sujeito Coletivo11.
a. Atualmente, esse sistema é denominado Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos2, com a mesma sigla.
Resultados
O estudo baseou-se em uma amostra de 34
indivíduos (cerca de 8,0% do total de convites
enviados), pertencentes a cinco diferentes categorias de atores relacionadas à atividade pecuária de corte no Brasil. Dentre os respondentes,
85% eram do sexo masculino, 47,0% eram pecuaristas, e 97% possuíam nível superior ou mais,
denotando um alto grau de escolaridade, reiterado pela formação profissional dos mesmos, em
Vantagens e Desvantagens de ser um
pecuarista
O primeiro aspecto investigado referiu-se
a percepção dos participantes acerca das vantagens e desvantagens de ser um pecuarista no
Brasil. A pergunta proposta foi: “O que o Sr(a).
pode dizer sobre as vantagens e desvantagens de
ser um produtor de carne bovina para exportação
e para o mercado doméstico?”. Das 34 respostas recebidas, foi possível extrair 60 ideias, que
foram agrupadas em cinco categorias de Ideias
Centrais (IC), 43,0% relacionadas a uma visão
desfavorável acerca da pecuária de corte para exportação e 30,0% favorável. Em relação ao mercado doméstico, a maior proporção foi relativa à
percepção positiva (13,3% do total de respostas),
e apenas 6,7% das respostas foram interpretadas
como visão negativa da atividade voltada para o
mercado doméstico.
Os discursos construídos em torno de cada
uma das categorias de IC identificadas sobre as
vantagens e desvantagens da atividade são reproduzidos a seguir, bem como a respectiva Frequência Absoluta (FA) e Frequência Relativa (FR)
das respostas.
DSC A – Desvantagens em produzir carne
bovina para exportação (FA: 26; FR: 43,3%)
Não vejo vantagem em exportar, não pagam
mais por isso, raramente são oferecidos sobrepreços, inclusive para animais rastreados.
O produtor não recebe subsídios como em
outros países, não é valorizado perante os
frigoríficos, que não compram no quilo vivo
e muitas vezes enfeitam os preços, mas não
existe diferencial. Eventualmente, ocorreu
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sua maioria médicos veterinários / zootecnistas
(41,0%), seguidos por engenheiros (24,0%).
A amostra possuía, portanto, as qualificações e conhecimentos necessários para discutir
as questões propostas sobre as vantagens e desvantagens da produção de carne bovina para o
mercado doméstico e para exportação, e acerca
da qualidade da carne brasileira.
Em seguida, são apresentados os discursos
construídos a partir das respostas enviadas eletronicamente pelos atores, que concordaram em
participar do estudo.
Vantagens e desvantagens da pecuária no Brasil segundo atores da cadeia produtiva de carne bovina
Foram definidos, intencionalmente, os seguintes grupos de agentes econômicos envolvidos na atividade pecuária de exportação, que
constituíram uma amostra não probabilística12,
de conveniência13, por adesão espontânea:
pecuaristas donos de propriedades rurais de
qualquer tamanho; criadores de gado de corte para fornecimento a frigoríficos; frigoríficos
afiliados à Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne (ABIEC); empresas certificadoras envolvidas na certificação de fazendas de gado de corte destinado à exportação;
associações e entidades de classe relacionadas
diretamente com atores da cadeia produtiva de
carne bovina; órgãos governamentais brasileiros voltados para inspeção e controle de alimentos, incluindo carnes e derivados, como o
MAPA e o MS.
Adotou-se como critério de exclusão para
esta pesquisa a eliminação de respostas que não
tivessem relação com a pergunta proposta, bem
como respondentes que não pertencessem às categorias selecionadas.
Fez-se uso da via eletrônica para envio do
convite à pesquisa e das informações e orientações para preenchimento do questionário, utilizando-se o software QLQT On-line, versão 1.0. A
participação dos entrevistados ocorreu nos meses
de outubro e novembro de 2011. No presente artigo, são analisadas as respostas às duas questões
relacionadas às vantagens e desvantagens da pecuária de corte no Brasil.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São
Paulo (USP), sob parecer CEP/FCF/146/2011,
protocolo CEP/FCF/595.
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no passado, mas ultimamente não tem havido compensações. Os preços estão sempre
‘na mão’ dos frigoríficos e das grandes indústrias habilitadas para exportação. O mercado externo é apenas para os que se dispuserem a ter seu gado ‘rastreável’, e isso traz
custos, como os custos de certificação, sem
contar a burocratização e a falta de preparo
da equipe governamental, além do fato de
que o boi brasileiro não está muito competitivo atualmente, devido ao alto custo Brasil.
DSC B – Vantagens em produzir carne bovina para exportação (FA: 18; FR: 30,0%)
Percebo vantagens na produção de carne
bovina para exportação, pois pode gerar
maiores margens e ter melhores preços.
Uma vez certificado, mais oportunidades de
colocar o meu produto em mais mercados,
atendendo às exigências da comunidade
europeia, um mercado sabidamente qualificado e que paga muito mais. Além disso,
ser exportador é prova de que a propriedade está de acordo com a legislação, que o
rebanho está sob controle, com maior nível
tecnológico e maior produtividade, com retorno financeiro.
DSC C – Desvantagens em produzir carne
bovina para o mercado doméstico (FA: 4; FR:
6,7%)
Não vejo vantagens em produzir carne bovina para o mercado doméstico, pois os
preços pagos pelos animais são baixos e influenciados por indústrias de grande porte,
as margens de lucro são pequenas, e não há
valores diferenciados para cortes nobres da
carne.
DSC D – Vantagens em produzir carne bovina para o mercado doméstico (FA: 8; FR: 13,3%)
Vejo vantagem em produzir carne bovina
para o mercado interno por ser um mercado disponível a todos os produtores, com
sistema de produção mais simples e com
menores custos, menos exigências e menos controles. Posso dizer também que no
mercado interno os abates são feitos em
frigoríficos de pequeno e médio porte, há
garantia de estabilidade do preço da arroba do animal e há menos riscos de calotes.
DSC E – Não opinou (FA: 4; FR: 6,7%)
Não posso dizer nada acerca das vantagens
e desvantagens de produzir carne bovina
para exportação e para o mercado doméstico, pois não sou produtor de carne bovina.
Qualidade da carne brasileira
O segundo questionamento referiu-se à percepção dos participantes quanto às diferenças de
qualidade da carne produzida no Brasil, segundo
o mercado de destino. Para esse assunto a pergunta foi: “Como o Sr(a). compara a carne bovina
brasileira destinada ao mercado doméstico em
relação à carne para exportação?”.
Observa-se que, nessa pergunta, as respostas
foram mais objetivas, pois foram extraídas apenas
36 ideias (para 34 respondentes). O exame da tabela demonstra que existe uma avaliação negativa da qualidade da carne destinada ao mercado
interno – mais de 47,0% das respostas afirmaram
que a carne para exportação é melhor do que a
comercializada domesticamente. Uma proporção significativa, porém, admitiu uma igualdade
da qualidade dos produtos para os dois mercados
(38,9%).
A seguir, são apresentados os DSCs construídos a partir das falas que compõem as seis
categorias de IC derivadas das respostas sobre a
qualidade da carne produzida, bem como a Frequência Absoluta (FA) e Frequência Relativa (FR)
das respostas.
DSC A – A carne bovina brasileira destinada
ao mercado doméstico é melhor que a carne bovina para exportação (FA: 1; FR: 2,8%)
A carne bovina ofertada no mercado interno, para mim, tem qualidade. Para exportação envia-se qualquer animal, sem qualidade alguma de carcaça.
DSC B – A carne bovina brasileira destinada ao mercado doméstico é igual à carne bovina
para exportação (FA: 14; FR: 38,9%)
Em minha opinião, a carne é a mesma, não
há diferença. Tanto uma como outra são de
ótima qualidade e seguras, a única diferença
está nos cortes e na embalagem. O Brasil,
Posso dizer que a carne destinada ao mercado doméstico é inferior à exportada, com
certeza. Uma é de grife e a outra é de cantina. As exigências aplicadas à carne destinada ao mercado interno, como ocorre em
qualquer país menos desenvolvido, são bem
menores se comparadas àquelas aplicadas à
carne destinada à exportação para a UE. A
carne exportada é melhor e mais padronizada. Já no mercado interno o fator preço
pesa mais que qualidade. Para o consumo
interno não fica coisa boa, e o que fica é
destinado para grandes centros, como São
Paulo e Rio de Janeiro. Os frigoríficos envolvidos com exportação possuem elevado nível tecnológico, devido ao atendimento às
exigências dos países importadores. No mercado doméstico, metade do abate nacional
é feito em frigoríficos que não possuem nem
sequer a Inspeção Federal, portanto, não se
sabe como são fiscalizados o abate e a produção, tampouco com que critérios os animais são comprados. A qualidade deveria
ser para todos. O brasileiro tem de aprender
a ser mais exigente com o que lhe é ofertado. Há muitos mercados internacionais e
muitos padrões de exportação, com diferentes características e exigências. Acredito
que no Brasil também se poderiam usufruir
as vantagens de se comprar carne com garantia de origem, assim como ocorre com os
europeus. Para isso, basta vontade política,
associada ao atendimento dos interesses
DSC D – O mercado doméstico possui dois
segmentos, um em que a qualidade da carne é
melhor e outro em que é pior (FA: 2; FR: 5,6%)
No mercado interno há produtos com diferentes níveis de qualidade, que atendem
consumidores de diferentes classes sociais
e exigências. Portanto, não considero que o
mercado de carne bovina seja segmentado
em apenas duas cadeias, uma para exportação e outra para o mercado interno. É importante que a cadeia da carne evolua para
um padrão mínimo de qualidade, independentemente de atender ao mercado interno
ou ao externo. Se o setor quer evoluir, não
pode mais conviver com produtos que são
comercializados em feiras livres, sem origem
e controle sanitário. Poder comer carne já
representa um importante progresso para
muitos consumidores brasileiros. Consumidores com maior nível de escolaridade e
maior poder aquisitivo exigem produtos de
melhor qualidade.
DSC E – Sem opinião sobre a carne bovina
brasileira destinada ao mercado doméstico em
relação à carne bovina para exportação (FA: 2;
FR: 5,6%)
Não posso opinar, pois não conheço a carne exportada e nunca comi carne destinada
à exportação. Mas tenho absoluta certeza
de que toda produção brasileira poderia ser
destinada à UE. Com avanços genéticos e
investimentos na melhoria do gado, pode-se
atingir qualquer mercado, desde que com
regras claras.
Discussão
Em relação às vantagens e desvantagens da
pecuária, constatou-se um discurso que indica
muito mais desvantagens em produzir para exportação (cerca de 43,0% das respostas) do que
para o mercado doméstico. O principal motivo
externado para essa posição é que não se paga
sobrepreço para os animais rastreados cuja carne é destinada ao mercado externo. Também são
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DSC C – A carne bovina brasileira destinada
ao mercado doméstico é pior que a carne bovina
para exportação (FA: 17; FR: 47,2%)
comerciais, legítimos, das grandes redes de
varejo no país.
Vantagens e desvantagens da pecuária no Brasil segundo atores da cadeia produtiva de carne bovina
pela própria pressão internacional, aprimorou e muito seu controle na segurança dos
alimentos, e o mercado brasileiro também
está cada vez mais exigente. Com isso, hoje,
as carnes destinadas aos dois mercados possuem a mesma qualidade. Todos os frigoríficos são fiscalizados pelo SIF, e todos aqueles
que estão habilitados a exportar também podem fornecer produtos para o mercado interno. Portanto, as carnes se equiparam em
relação a aspectos sanitários.
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apontados custos de produção adicionais, inerentes à rastreabilidade, em linha com a perspectiva discutida na literatura4,14.
Verificou-se, também, um discurso com
uma percepção positiva acerca da produção para
exportação, fundamentada na geração de maiores margens e melhores preços, pagos tanto aos
pecuaristas como aos frigoríficos. Tal visão parece característica de outros atores da cadeia produtiva e não de pecuaristas. Ou ainda, de produtores com maior poder de barganha junto aos
frigoríficos, ou seja, proprietários de empresas de
maior porte. Isso, de certa forma, é corroborado
por outro aspecto apontado, relacionado à gestão
mais eficiente da produção. Foi mencionado que
os produtores de carne habilitados para exportar
possuem maior controle sobre o rebanho e sobre
o processo produtivo, com ganho de produtividade e retorno financeiro. A esse respeito, em trabalho de revisão, alguns autores apontam os ganhos
de produtividade e de qualidade da carne derivados do aprimoramento das práticas de manejo,
corroborando implicitamente a ideia de que a
certificação das fazendas e a identificação individual dos animais promovem a diferenciação do
produto, com potencial aumento de valor15.
Em relação às vantagens da produção para o
mercado doméstico, dois discursos contraditórios
foram identificados. Um enaltecendo o mercado
interno justamente por ser acessível a todos os
produtores, menos exigente, com menos controles e menores custos – se comparado à produção
para exportação –, com garantia de estabilidade
do preço da arroba do animal vivo e menores
riscos de prejuízos. Outro, destacando o papel
oligopsonista dos frigoríficos, pressionando as
margens de lucro dos pecuaristas16,17.
É interessante notar que a queixa contra o
poder de mercado dos frigoríficos surge tanto em
relação à carne para exportação como para aquela destinada ao mercado doméstico. De fato, a
contradição dos discursos, provavelmente, se explica pela presença na amostra de atores antagônicos: pecuaristas e frigoríficos.
Aliás, em meados de 2012, o poder de mercado dos frigoríficos foi exposto em cartas de associações de classe de pecuaristas de algumas regiões brasileiras, denunciando o uso de dinheiro
b. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
público (financiamentos do BNDESb) como forma
de favorecer a concentração no segmento de frigoríficos, com implicações sobre a redução do
preço da arroba recebido pelos pecuaristas18,19.
No que tange à qualidade, aproximadamente 39,0% das respostas indicaram que as carnes
destinadas aos dois mercados são iguais, seguras
e têm a mesma qualidade, uma vez que o mercado brasileiro estaria cada vez mais exigente.
Segundo os respondentes, todos os frigoríficos
brasileiros são fiscalizados pelo SIF (Sistema de
Inspeção Federal), habilitando-os a produzir tanto para o mercado externo como para o mercado
doméstico, e, assim, a carne ofertada em ambos
os mercados se equipararia em termos sanitários.
Por outro lado, em 47,0% do total das respostas, os participantes apontam que a carne bovina ofertada no mercado doméstico é pior do
que aquela destinada à exportação. Na medida
em que o SISBOV, que, implicitamente, visa à garantia da qualidade, não é obrigatório para a produção doméstica, fica evidenciado que as exigências aplicadas à carne destinada a esse mercado
são menores, ao mesmo tempo em que a demanda interna privilegia o preço em detrimento da
qualidade. Outra característica do mercado doméstico mencionada pelos atores da amostra é a
ocorrência de abates clandestinos, realizados em
frigoríficos sem inspeção federal, o que, sem dúvida, não favorece uma oferta de carne de melhor
qualidade. Fato recorrente na imprensa nacional,
a interdição de matadouros clandestinos impacta
negativamente tanto a oferta doméstica, como as
exportações de carne bovina20.
Atenuando em certa medida a percepção de
um produto de pior qualidade para o mercado
doméstico, em 6,0% das respostas apareceram
comentários referentes à segmentação do mercado brasileiro, atendendo consumidores de diferentes classes sociais e diferentes níveis de exigência. Segundo esses respondentes, os próprios
consumidores, à medida que alcançam maior
poder aquisitivo e nível de escolaridade, demandam produtos com melhor qualidade. A melhora
da distribuição de renda, e a redução da população em extrema miséria como decorrência do
aumento real do salário mínimo e da expansão
de programas sociais como o Bolsa Família21, sem
Conclusão
A carne bovina tem destaque no agronegócio brasileiro, com elevada participação no PIB e
nas exportações brasileiras, além de ser um alimento de comprovada importância nutricional.
O objetivo deste estudo foi examinar a percepção dos atores da cadeia de carne bovina
acerca das vantagens e desvantagens de se produzir para o mercado doméstico e para o de exportação.
Por meio da pesquisa empírica conduzida,
de caráter qualiquantitativo, foi possível obter indicações de que os pecuaristas percebem mais
desvantagens do que vantagens em se produzir
carne bovina para exportação, especialmente
pelo fato de que são os frigoríficos que estabelecem os preços nas transações domésticas. Sugerem também que a carne bovina brasileira destinada ao mercado doméstico é pior do que aquela
destinada à exportação, reconhecendo-se ainda
a segmentação do mercado interno, com exigências de qualidade diferenciadas.
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chamar-se Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos – SISBOV. DOU, Brasília, 17 de dezembro de
2009. Seção 1, p. 19.
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de 2002. Seção 1, p. 6.
c. Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento.
d. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
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de estabelecer o preço da carne nas transações
domésticas, pois as informações sobre os preços
internacionais e sobre a demanda externa não alcançam os produtores ou simplesmente são desconsideradas nas transações domésticas pelo elo
mais forte.
De fato, o grande número de pecuaristas,
dispersos por todo o território brasileiro, ante o
número reduzido de frigoríficos10, configura uma
situação de oligopsônio17,25, que foi ressaltada
pelos respondentes, no tocante à formação do
preço doméstico.
Vantagens e desvantagens da pecuária no Brasil segundo atores da cadeia produtiva de carne bovina
dúvida, contribuíram para o desenvolvimento de
uma demanda por maior variedade e mais qualidade. Contudo, ainda existe uma parcela que
não tem acesso aos produtos de maior qualidade.
Essas visões se contrapõem à ação reguladora do Estado, responsável pelas normas técnicas
de segurança sanitária dos alimentos produzidos
no país. O Brasil possui ampla legislação tratando da fiscalização de alimentos22, de rotulagem23,
e de rastreabilidade3, porém os problemas de
fiscalização são frequentes, como apontado em
acusação feita pela Associação Brasileira dos Frigoríficos, contra a falta de fiscalização local24.
O MAPAc, assim como a ANVISAd, detém
a responsabilidade sobre as normas técnicas de
segurança sanitária dos alimentos ofertados no
Brasil, inclusive da carne bovina, revisando-as
constantemente, buscando o seu aprimoramento
e a garantia de alimentos seguros. As dificuldades
do setor talvez residam na falta de enforcement
da política. Uma fiscalização efetiva, com punições críveis e transparência, que superem a complexidade inerente da cadeia, desde a sua dispersão geográfica, aos problemas de assimetria
de informações entre os diferentes participantes,
especialmente entre pecuaristas e frigoríficos16,
é fundamental para o desenvolvimento do setor,
consolidação do país como grande exportador de
carne bovina, e para a garantia de carne segura
para o mercado interno.
É fato que essa assimetria foi abrandada na
perspectiva dos frigoríficos com o advento do
SISBOV, contudo foi acentuada na perspectiva
dos pecuaristas. Como fica claro pelos discursos, os pecuaristas que buscam a exportação ficam reféns dos frigoríficos, que possuem o poder
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Recebido em: 10 de abril de 2013.
Aprovado em: 13 de junho de 2013.
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