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PARTE I | DOIS PROJETOS AMBICIOSOS | A NOVA LUSITÂNIA
A
VIDA DE EMPRESÁRIO DO AÇÚCAR NOS
A atividade prosperou com dificuldades em torno da área
central da Capitania. Décadas se passariam até o estabelecimento
TEMPOS DA COLÔNIA
de todos os grandes engenhos do século XVI e início do XVII.
O
tipo de empreendimento implantado por Duarte Coelho
exigia a presença constante do proprietário em período de
trabalho integral. Dessa forma, esse proprietário necessitava
Alguns deles denominam bairros do Recife de hoje: Engenho
Madalena, Engenho Torre, Engenho Casa Forte, Engenho
Apipucos, Engenho Camaragibe e Engenho do Meio.
morar dentro da própria empresa, criando relações sociais entre
Já o donatário tinha mais poder de manobra em termos
serventes e servidos que se tornaram o molde mais fortemente
políticos e econômicos. Ele podia sempre subestabelecer o direito
gravado na sociedade nordestina. Segundo Gilberto Freyre,
sobre a terra que lhe era entregue pelo rei. As capitanias
hereditárias eram estabelecimento de uso para o donatário,
O escravocrata terrível, que só faltou transportar da África para a
América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca,
a população inteira de negros, foi, por outro lado, o colonizador
europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores.
O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em
grande parte, pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia
européia nos trópicos: escasseava-lhe, para tanto, o capital, senão
em homens, em mulheres brancas. Mas, independente da falta ou
escassez de mulher branca, o português sempre pendeu para o contato
voluptuoso com mulher exótica.
concedido pelo rei na tradição medieval de lealdades e de
honrarias distintas. Lotes de terras eram concedidas pelo capitão
a pequenos e grandes “proprietários” (os sesmeiros), que ficariam
à sua mercê, dividindo os trabalhos e garantindo a posse da
capitania. Quem recebia ficava devendo lealdade. Ao longo do
tempo, as relações sociais entre apaniguados, agregados e
protegidos vão reproduzindo os mesmos princípios de favores,
lealdade e usufruto de propriedades “indiretas”.
Freyre, 1999, p. 189.
As responsabilidades de um senhor de engenho eram
muitas. Incluíam:
1. Comprar escravos, que eram geralmente pagos com parte da
própria produção. No mais das vezes, o escravo era comprado
com dinheiro tomado de empréstimo junto a financiadores
autorizados — ou não! — pelo rei e pelo donatário, com juros
elevados devido ao alto risco do empreendimento.
2. Manter esses escravos às próprias custas: alimentação, moradia,
vestimenta e “assistência” na doença. Havia o que chamaríamos
hoje de um turnover excessivo, devido a doenças e mortes. Os
custos ficavam dentro do orçamento da empresa, sem subvenções
públicas.
3. Tentar evitar a propagação das pragas que destruíam a
plantação.
4. Arcar com as conseqüências financeiras de naufrágios, ataques
de índios, pilhagens, quebra de safras.
5. Policiar com os seus as terras do engenho e aplicar as
penalidades aos crimes cometidos.
6. Facilitar o trabalho dos catequizadores, inclusive com donativos.
7. Pagar impostos sobre a produção e a exportação.
O Caminho dos Engenhos, da Avenida
Caxangá, relembra a história e mostra
como nasceram vários bairros da capital
pernambucana.
PARTE I | DOIS PROJETOS AMBICIOSOS | A NOVA LUSITÂNIA
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CAMINHO DOS ENGENHOS DA
AVENIDA CAXANGÁ
A antiga Estrada de Caxangá, atualmente avenida de
mesmo nome, hoje, por iniciativa da Prefeitura da Cidade
do Recife/Empresa de Urbanização do Recife, apresenta,
ao longo do seu percurso, em seus canteiros centrais, totens
que sintetizam a história dos engenhos do Recife. Abaixo,
seguindo a seqüência cidade-subúrbio, a transcrição dos
textos dessa louvável iniciativa pública.
1| ENGENHO DA MADALENA
Construído no século XVI por Pedro Afonso Duro, casado
com Madalena Gonçalves.
O bairro da Madalena originou-se desse engenho,
conhecido como Engenho da Madalena ou Engenho
Mendonça, por pertencer a João Mendonça, em 1630. No
fim do século XVIII, teve como proprietário João Rodrigues
Colaço e família, até ser extinto como engenho de açúcar.
A casa-grande, conhecida como Sobrado Grande da
Madalena, pertenceu ao Conselheiro João Alfredo de
Oliveira, no século XIX. Hoje, abriga o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.
2| ENGENHO DA TORRE
Fundado no século XVI, era conhecido como Engenho
Marcos André. Passou a ser chamado de Engenho da Torre
em alusão à torre da capela, do engenho, dedicada a Nossa
Senhora do Rosário.
O bairro da Torre originou-se desse engenho. Em 1653, os
holandeses dominaram o engenho e construíram uma
fortaleza para atacar o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus.
Com a derrota holandesa, em 1654, o engenho foi destruído.
Restaurado por seu proprietário, Antonio Borges Uchoa,
posteriormente pertenceu à família Rodrigues Campelo, até
ser extinto como engenho de açúcar. Hoje, no local da casagrande, funciona o Grupo Escolar Martins Júnior.
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3| ENGENHO DE AMBRÓSIO MACHADO
Localizado no atual bairro do Zumbi, o Engenho de
Ambrósio Machado, assim chamado em alusão a seu
proprietário, situava-se na margem direita do Rio
Capibaribe. Durante a ocupação holandesa, o engenho foi
abandonado, tendo seu proprietário se refugiado na Bahia,
em 1635. Uma parte das terras do engenho foi, então,
incorporada aos bens da Companhia das Índias Ocidentais.
A outra parte, após 1654, foi ocupada por João Cordeiro
de Medanha, ajudante de ordens do Governador João
Fernandes Vieira.
4| ENGENHO CASA FORTE
Fundado no século XVI, por Diogo Gonçalves, deu origem
ao bairro de Casa Forte. A casa do engenho e a capela de
Nossa Senhora das Necessidades ficavam numa campina,
onde está situada, atualmente, a Praça de Casa Forte.
Em 17 de agosto de 1645, ocorreu a Batalha da Casa
Forte, para libertar senhoras pernambucanas presas pelos
holandeses, na casa-grande, pertencente a Ana Paes. Em
1810, o engenho foi adquirido pelo Padre Roma, uma das
figuras da Revolução Republicana de 1817. Em 1911, no
local da casa-grande, a Congregação da Sagrada Família
fundou um colégio, em funcionamento até hoje.
5| ENGENHO DE SÃO PANTALEÃO MONTEIRO
Existente desde o século XVI, o Engenho de São Pantaleão
do Monteiro situava-se na margem esquerda do Rio
Capibaribe, lugar de origem do bairro do Monteiro.
Pertencia a Manuel Vaz e sua mulher, Maria Rodrigues.
Foi vendido, em 1577, a Jorge Camelo e sua mulher, Isabel
Cardoso. Em 1593, foi adquirido por Maria Gonçalves
Raposo. Em 1606, tinha como proprietário Francisco
Monteiro Bezerra, passando a ser conhecido como
Engenho do Monteiro. No Largo Monteiro, existem, até
hoje, a coluna e a mureta, em ruínas. São os últimos
resquícios do Engenho de São Pantaleão do Monteiro.
6| ENGENHO DO CORDEIRO
Formado por partes das terras do Engenho de Ambrósio
Machado, local onde se originou o bairro do Zumbi, o
Engenho do Cordeiro deu origem ao bairro do Cordeiro.
Nome em alusão ao seu proprietário, o capitão João
Cordeiro de Medanha, ajudante-de-ordens do Governador
João Fernandes Vieira, que passou a ocupar as terras
depois de 1654. Em 1707, seu proprietário, José Campelo
Pessoa, incorporou as terras desse engenho às do Engenho
de São Pantaleão do Monteiro, local do Bairro do Monteiro.
7| ENGENHO DE APIPUCOS
Surgido no final de 1577, originário do desdobramento
das terras do Engenho de São Pantaleão do Monteiro,
situava-se na margem esquerda do Rio Capibaribe, dando
origem ao bairro de Apipucos. Seu proprietário era
Leonardo Pereira. Pertenceu a Jerônima de Almeida e
posteriormente a Gaspar de Mendonça, seu proprietário
em 1630, época da ocupação holandesa. Em 1645, os
holandeses saquearam a capela do engenho, destruíram
as imagens, as alfaias, os paramentos e os móveis. O gado
e as mercadorias foram levados para o Engenho Casa
Forte, pertencente a Ana Paes.
8| ENGENHO DOIS IRMÃOS
Foi levantado em terras que pertenciam ao Engenho de
Apipucos, pelos irmãos Antonio Lins Caldas e Tomás Lins
Caldas, no início do século XIX. Deu origem ao bairro de
Dois Irmãos. O engenho funcionou até o ano de 1875. A
Companhia do Beberibe, já extinta, adquiriu parte da
propriedade para utilizar as águas do Açude de Apipucos
e dos mananciais do Lago da Prata, garantindo, assim, o
abastecimento d’água do Recife. As residências dos antigos
proprietários do engenho foram reformadas para a
instalação da usina, que impulsionaria as águas com
pressão necessária.
09| ENGENHO BRUM-BRUM
Construído por volta de 1667, pelo Capitão Miguel Bezerra
Monteiro, que militou na guerra contra os holandeses, o
Engenho Brum-Brum situava-se na margem esquerda do
Rio Capibaribe, em frente à povoação de Caxangá. Suas
terras chegavam até a propriedade de Camaragibe.
Posteriormente foi herdado por sua sobrinha Sebastiana
de Carvalho. Ainda existia em 1882, quando pertencia
aos herdeiros de Bernardo Antonio de Miranda.
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10| ENGENHO DO MEIO
Situava-se na margem direita do Rio Capibaribe e deu
origem ao bairro do Engenho do Meio. Confiscado pelos
holandeses no século XVII, foi totalmente destruído,
restando apenas as terras. Posteriormente foi vendido a
Jacob Estacour e a João Fernandes Vieira, que reconstruiu
o engenho. Nas suas terras, em 1645, foi levantado um
forte de terra chamado Arraial Novo do Bom Jesus. Em
1686, pertencia a Maria Cezar, viúva de João Fernandes
Vieira. A casa-grande do engenho existiu até a década de
40. Situava-se no câmpus da Universidade Federal de
Pernambuco, quando foi demolida.
Visconde de Camaragibe, faleceu. O engenho foi vendido
em 1891. E, em 1893, construiu-se a Fábrica de Tecidos
de Camaragibe na propriedade. A casa-grande é o único
prédio que restou do antigo engenho, atualmente
pertencente a Maria Anita Amazonas MacDowell.
13| ENGENHO POETA
11| ENGENHO SANTO ANTONIO
Situava-se na margem direita do Rio Capibaribe, onde
hoje está localizado o Caxangá Golf & Country Club.
Durante os séculos XIX e XX, teve vários proprietários: as
famílias Amorim Rodrigues Campelo, Corrêa de Araújo,
Heráclito do Rego, Cleofas de Oliveira e Genésio Guerra.
Até 1942, ainda funcionava como engenho de açúcar. Em
1945, foi vendido ao Caxangá Golf & Country Club.
Conhecido como Engenho da Várzea do Capibaribe, deu
origem à povoação e paróquia do bairro da Várzea.
No local da antiga moenda do Engenho Poeta, funciona
hoje um restaurante.
Foi levantado por Diogo Gonçalves, casado com Isabel
Gonçalves Fróes, em meados do século XVI, em uma
extensa terra, que lhe fora doada pelo donatário da
Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho. Esse engenho,
hoje desaparecido, pertenceu aos descendentes de Diogo
Gonçalves e, antes de 1645, a João Fernandes Vieira, um
dos heróis das lutas contra os holandeses.
12| ENGENHO CAMARAGIBE
Construído no século XVI, nas terras doadas a Diogo
Fernandes, marido de Branca Dias, e seus sócios, Pedro
Álvares Madeira e Bento Dias de Santiago, originou o
município de Camaragibe.
O engenho funcionou até 1875, quando seu proprietário,
Pedro Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, o
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ENGENHO SÃO JOÃO
Situava-se na margem esquerda do Rio Capibaribe,
próximo ao bairro da Várzea. Pertenceu a João Fernandes
Vieira, herói das lutas contra os holandeses, entre 1645 e
1654. A partir do século XIX, passou a pertencer à família
Brennand.
Nessa área, em 1917, foi fundada a Cerâmica São João,
por Ricardo Brennand. Desativada em 1945, foi
reconstruída em 1971, pelo seu filho, o artista plástico
Francisco Brennand, que transformou o local em Oficina
Cerâmica. Em 2002, nas terras do engenho, Ricardo
Brennand, sobrinho do fundador, instalou o Instituto
Ricardo Brennand, onde acontecem exposições e eventos
culturais.
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