Termodinâmica e Estrutura da Matéria 2013/14 (LMAC, MEFT, MEBiom) Responsável: João P. Bizarro Práticas: Eduardo V. Castro e Vítor Cardoso Departamento de Física, Instituto Superior Técnico Resolução de exercícios propostos Semana 21 25/10/2013 Reif 4.1 a) Comecemos por calcular a variação de entropia da água. A massa de água é mag = 1 kg , e o seu calor especíco, que assumiremos independente da temperatura entre os 0 ◦ C e 100 ◦ C, é cag = 4.18 JK −1 g −1 . Sendo a entropia uma função de estado a variação só depende do estado inicial e nal podemos sempre escolher uma processo quase-estático que leve o sistema de Ti = 0◦ C a Tf = 100◦ C. Se a evolução é quase -estática é válida a relação dS = δQ/T , sendo a variação de entropia dada por ˆ ˆ δQ . ∆Sag = dS = T Precisamos de saber a relação entre a quantidade innitesimal de calor δQ e a variação innitesimal de temperatura dT para calcular o integral. O calor especíco é, por denição, a quantidade de calor necessária para aumentar a temperatura em 1 grau por unidade de massa (ou por mol): c= 1 δQ ⇒ δQ = mcdT . m dT Substituindo no integral acima obtém-se, ˆ Tf ˆ Tf dT Tf dT ∆Sag = mag cag = mag cag = mag cag ln = 1306 J/K. T T Ti Ti Ti Por sua vez, a variação de entropia do reservatório de calor é QR , ∆SR = TF onde QR é o calor absorvido pelo reservatório. Por conservação de energia temos QR + Qag = 0, vindo então Qag . ∆SR = − Tf O calor absorvido pela água é ˆ ˆ Tf ˆ Tf Qag = δQ = mag cag dT = mag cag dT = mag cag (Tf − Ti ) = 4.18 × 105 J, Ti Ti obtendo-se para a variação de entropia do reservatório ∆SR = − 4.18 × 105 J = −1122 J/K. 373 K A variação de entropia total é então ∆Stot = ∆Sag + ∆SR = 184 J/K. 1 b) A variação de entropia da água é a mesma. Recordemos, a variação de entropia só dependo dos estados inicial e nal, e esses são os mesmos: ˆ Tf ˆ Tf Tf dT dT ∆Sag = = mag cag = mag cag ln = 1306 J/K. mag cag T T Ti Ti Ti A variação de entropia dos reservatórios é ∆SR = ∆SR,50 + ∆SR,100 , onde ∆SR,50 = ∆SR,100 = QR,50 mag cag (T50 − Ti ) 100 × 4.18 × 50 J =− =− = −648 J/K T50 T50 323 K QR,100 mag cag (T100 − T50 ) 100 × 4.18 × 50 J =− =− = −561 J/K , T100 T100 373 K e portanto ∆SR = −1209 J. A variação de entropia total é ∆Stot = 1306 − 1209 J = 97 J. c) Notemos que a variação de entropia do sistema total é menor quando usamos dois reservatórios. Podemos então conjecturar que a variação do entropia é tanto menor quanto maior o número de reservatórios usados com temperaturas intermédias entre Ti e Tf . De facto, a variação nula de entropia é indicação de um processo reversível, e para tal é necessário uma evolução quase-estática durante a qual o sistema se encontra em equilíbrio a todos os instantes. Se usarmos um número sucientemente elevado de reservatórios o sistema está, a cada instante, em equilíbrio com o reservatório que está a ser usado. Façamos as contas. Para M reservatórios vem (a expressão que se segue obtém-se generalizando a situação onde usámos dois reservatórios), ∆SR = M M M X X X Qn mag cag (Tn − Tn−1 ) Tn − Tn−1 =− = −mag cag , T T Tn n n n=1 n=1 n=1 onde Qn = −mag cag (Tn − Tn−1 ) é o calor absorvido pelo n−ésimo reservatório de calor, que por conservação de energia é o simétrico do calor absorvida pela água quando a temperatura passa de Tn−1 para Tn . No limite em que M → ∞ e ∆T = Tn − Tn−1 se torna um innitésimo vem ˆ Tf M X Tf Tn − Tn−1 dT = −mag cag = −mag cag ln = −∆Sag , ∆SR = −mag cag lim M →∞ Tn T Ti Ti n=1 obtendo-se então ∆Stot = ∆Sag + ∆SR = ∆Sag − ∆Sag = 0 . Reif 4.2 a) Como o sistema está termicamente isolado podemos usar a conservação de energia para obter a temperatura nal de equilíbrio Tf . Sendo a variação de energia total nula vem ∆Etot = ∆Ecal + ∆Eag + ∆Eg = 0, 2 onde ∆Ecal = Qcal + Wcal é a variação de energia do calorímetro, ∆Eag = Qag + Wag é a variação de energia dos 200 g de água, e ∆Eg = Qg + Wg é a variação de energia do gelo. A variação de energia foi escrita à custa do calor Q absorvido por cada sub-sistema e do trabalho realizado sobre o mesmo. Mas na verdade não há trabalho realizado durante o processo; todos os volumes se mantêm em boa aproximação constantes (repare-se que a razão entre os volumes da mesma quantidade de água e de gelo é 0.917). Podemos então escrever Qcal + Qag + Qg = 0. Para o calor absorvido por cada sub-sistema vem Qcal = mCu cCu (Tf − Ti ) e Qag = mag cag (Tf − Ti ), onde Ti = 20◦ C é a temperatura inicial do calorímetro e da água. Para o gelo dividimos a absorção de calor em duas contribuições, Qg = ∆H + Qg,d , onde ∆H = mg L é o calor necessário para que a massa de gelo mg = 30 g passe do estado sólido ao estado líquido sem que ocorra aumento de temperatura, e Qg,d = mg cag (Tf − Tg ) é o calor absorvido pelo gelo derretido quando a sua temperatura passa de Tg = 0◦ C para Tf . Finalmente obtemos, mCu cCu (Tf − Ti ) + mag cag (Tf − Ti ) + mg L + mg cag (Tf − Tg ) = 0, ou seja, Tf = mCu cCu Ti + mag cag Ti − mg L + mg cag Tg ≈ 10◦ C. mCu cCu + mag cag + mg cag b) A variação de entropia devido a uma absorção de calor que decorre duma variação de temperatura ∆T = Tf − Ti é dada por (ver exercício 4.1) Tf ∆S = mc ln . Ti Para a variação de entropia do gelo há no entanto dois termos, Tf , ∆Sg = ∆Sf us + mg cag ln Tg onde ∆Sf us a variação de entropia devida à mudança de estado, neste caso fusão, ˆ ˆ ˆ δQ 1 ∆H mg L ∆Sf us = dS = = δQ = = . Tf us Tf us Tf us Tf us Finalmente vem ∆Stot = mCu cCu ln Tf Ti + mag cag ln Tf Ti Claramente o processo não é reversível. 3 L + mg + mg cag ln Tg Tf Tg ≈ 1.16 J/K . c) A energia necessária para repor T = 20◦ C é, Q = mCu cCu ∆T + (mag + mg )cag ∆T = 750 × 0.418 × 10 + 230 × 4.18 × 10 J = 1.28 × 104 J. Se usarmos um sistema que realiza trabalho sobre o sistema sem alterar o seu volume (por exemplo, um conjunto de pás rotativas), então teremos de realizar um trabalho W = 1.28 × 104 J sobre o sistema. Como o volume não varia a energia desse trabalho será absorvida sobre a forma de calor, dando origem à desejada variação de temperatura. Reif 4.3 Para a variação de entropia vem ˆ ∆S = ˆ δQ = T dS = ˆ Tf cV Ti dT + T ˆ Vf Vi p̄ dV. T Usando a equação de estado para uma mol de gás ideal, p̄ = RT /V ⇔ p̄/T = R/V, vem ˆ Tf ∆S = cV Ti dT +R T ˆ Vf Vi dV . V Assumindo cV independente da temperatura encontramos Tf Vf ∆S = cV ln + R ln . Ti Vi Este resultado depende apenas do estado inicial e nal do sistema, e não do processo que leva o sistema do primeiro para o segundo. 4