ESTUDO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO PARA EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA Autores: Fábio Bruno da Silva Marcos Paulo de Sá Mello Palavras-Chave: Custos, Formação de Preço, Economia Solidária INTRODUÇÃO O aumento crescente da camada da população que é atingida pela desigualdade na distribuição das riquezas tem agravado os problemas sociais vividos por grande parte dos brasileiros, que são excluídos pelo modelo capitalista convencional. A falta de emprego e renda cria a necessidade nos trabalhadores de buscarem alternativas que permitam o seu sustento e de sua família, bem como a busca por melhores condições de vida. Porém a escassez de recursos e o baixo nível de capacitação da maioria da população que necessita de buscar alternativas de sobrevivência, torna-se um fator agravante e que precisa ser superado, para que seja possível a busca por novas formas de produção que valorizem os trabalhadores e a sua mão-de-obra. Neste contexto podemos observar que a coletivização do trabalho é o caminho mais indicado a se seguir para que as dificuldades sejam minimizadas através da ajuda mútua entre os indivíduos, o que conseqüentemente gera uma nova forma de organização que surge na experiência prática de trabalhadores que ao longo da história, em diversos países, vêm procurando alternativas frente à desigualdade e à marginalização produzidas pela competição e relações de subordinação características do capitalismo. De acordo com SINGER (2000), esta nova forma de organização trazida pela Economia Solidária trata-se de um “modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar) marginalizados do mercado de trabalho”. A gestão dos empreendimentos coletivos solidários é um desafio para os trabalhadores que além de cuidar da produção precisam administrar o empreendimento e, na maioria das vezes, não possuem o conhecimento técnico necessário para desempenhar essa função. Além dessa falta de conhecimento técnico existe também a ausência de ferramentas que auxiliem no processo de gestão dos coletivos. Neste sentido a realização de estudos científicos relacionados com a gestão de custos é considerada um passo importante na busca por instrumentos gerenciais que possam ser aplicados nos processos internos dos empreendimentos coletivos com o objetivo de auxiliar na tomada de decisões, e também contribuir para que haja um entendimento por parte dos trabalhadores dos principais elementos que alteram o resultado final do seu trabalho, além de permitir uma análise voltada para a formação dos preços dos produtos comercializados. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caso focalizando a Cooperativa de Costureiras de São João Del Rei (COOPERCOSTURA) que é um coletivo que atua no setor de confecção e está localizado na mesorregião do Campo das Vertentes. Para o cumprimento dos objetivos do presente foram feitas pesquisas bibliográficas acerca de gestão de custos e formação de preços, enfocando exclusivamente seus aspectos relacionados aos empreendimentos da Economia Solidária. Quanto aos procedimentos técnicos DENCKER (2000), será utilizada a pesquisa em fontes de papel (bibliográfica e documental). Será utilizada a pesquisaação, DEMO (1995), CERVO e BERVIAN (1983). A pesquisa-ação é concebida e realizada em associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e participantes da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo. No dizer de SOUZA (1993) é forma recente e dinâmica de pensar e conduzir o processo de pesquisa. A pesquisa-ação se contrapõe, no seu entendimento, à pesquisa convencional no que diz respeito ao trato da população envolvida e também quanto aos objetivos. Na pesquisa convencional a população investigada é mera informante e, quanto aos objetivos “em geral, se encerram na quantificação empírica da realidade social, desconhecendo os elementos fundamentais da sua dinâmica”. Já na pesquisa-ação, “a comunidade é sujeito e objeto de conhecimento. Essa está envolvida na pesquisa porque esta responde a seus interesses e preocupações”. Segundo a procedência de dados DENCKER (2000), foram dois tipos: de dados primários, levantados junto à população coletiva sobre fluxo de produção na cadeia produtiva, matérias-primas, materiais e equipamentos, ferramentas utilizadas, clientela, articulações, fornecedores e injunções sofridas, ou forças internas e externas que pressionam o trabalhador. Ainda os dados secundários obtidos nos modelos de apuração de custos e formação de preços existentes. RESULTADOS A pesquisa desenvolvida na COOPERCOSTURA demonstrou claramente a dificuldade das costureiras em trabalhar as questões gerenciais, que inevitavelmente fazem parte do cotidiano não só das empresas capitalistas convencionais, mas também dos empreendimentos coletivos solidários. Sendo que estes últimos ainda se deparam com as dificuldades da falta de conhecimento e formação técnica para desenvolverem estudos que possam trazer direcionamentos sobre os resultados que estão sendo obtidos através das atividades desenvolvidas pelos cooperados. Segundo PADOVEZE (2008) o custo é uma conseqüência de administração da produção, do processo de fabricação, de gastos correntes e mínimos e eliminação de desperdícios. O custo dos produtos é conseqüência da correta avaliação das necessidades de recursos para produção. Diante disso podemos verificar a relevância do controle de custos no contexto dos empreendimentos coletivos, que em sua grande maioria dispõem de recursos escassos, e pelo fato de estarem inseridos no mercado, necessitam de enfrentar a concorrência imposta pelo sistema capitalista. O empreendimento estudado não utiliza nenhum método para apuração de custos e nem para a formação do preço de venda, o que retrata uma situação de total descontrole sobre informações gerenciais e que acaba por negligenciar a gestão do empreendimento. Apenas após o início dos trabalhos de pesquisa dentro do coletivo, que se iniciou uma nova postura por parte dos cooperados, que começaram a dar atenção a questões ligadas ao controle dos elementos que compõem o processo de produção. E principalmente por se encontrarem em um momento em que novas oportunidades no ramo de confecção começaram a surgir, através de uma proposta que previa que a cooperativa fosse responsável por fazer o acabamento em flanelas, para serem vendidas posteriormente em estabelecimentos comerciais. Porém como o coletivo já estava obtendo renda através da produção e venda de pijamas, e justamente por existir a falta de estrutura operacional para atender a demanda, o levantamento de informações para análise e tomada de decisões se constituiu para o empreendimento no principal elemento para se chegar a uma conclusão de qual caminho seguir. CONCLUSÃO Considerando-se que o objetivo principal do trabalho é desenvolver e propor uma metodologia para auxiliar na gestão de custos e na formação do preço de venda em empreendimentos coletivos solidários, acredita-se que a utilização de ferramentas gerenciais que auxiliem os cooperados não apenas na fixação dos preços de seus produtos, mas também na análise de custos, permite um melhor direcionamento das atividades desenvolvidas pela Cooperativa. Enfim, pode-se concluir que com a metodologia aplicada pode-se conhecer detalhadamente todos os fatores que realmente influenciam na gestão de custos e na formação do preço de venda, bem como quanto cada uma deles absorve deste preço e em que circunstâncias pode-se reavaliá-los e alterá-los visando tornar a organização mais forte e competitiva no que se refere ao preço de venda. REFERÊNCIAS CERVO, A. L. e BERVIAN, P. A . Metodologia científica. 3 ed. São Paulo: Ed.MC Graw- Hill, 1983. DEMO, P. Metodologia cientifica em ciências sociais. 3 ed. São Paulo: Atlas,1995. DENCKER, A. F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 2000. PADOVEZE, C. L. Contabilidade Gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. São Paulo: Atlas, 2008. SINGER, P. e SOUZA, A. R. A Economia Solidária no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2000. SOUZA, M. L. Desenvolvimento de comunidade e participação. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 1993.