Ponto Final
O controle da Salmonella e as
mudanças que devem surgir
A
salmonelose é uma enfermidade
economicamente importante, amplamente difundida no sistema de
produção avícola, de controle bastante
complexo. Exige conhecimento epidemiológico para a tomada de decisões estratégicas de intervenção, além de investimentos
e dedicação. Mesmo assim, nem sempre os
resultados alcançados são aqueles desejados, sendo em muitas vezes até frustrantes.
Paulo Lourenço
Silva
É médico veterinário,
graduado pela Escola
de Veterinária da
Universidade Federal
de Minas Gerais
(EVUFMG) em 1978.
É mestre em
Medicina Veterinária
Preventiva e Doutor
em Biologia
Molecular. Desde
1981, atua como
Professor Associado
da Universidade
Federal de
Uberlândia, MG.
Atualmente, também
é Consultor Técnico
de empresas avícolas
98 Produção Animal | Avicultura
Trabalhos publicados no Centers for Disease Control and Prevention (CDC) mostram que
o número de patógenos envolvidos com doenças transmitidas por alimentos caiu para
9,4 milhões em 2010, comparado aos 14 milhões registrados em 1999. As internações e
mortes também diminuíram, para 55.961 internações e 1.351 mortes por ano em comparação às 60.000 internações e 1.800 mortes
em 1999 (CDC, 2010).
Na Europa, em 2008, a salmonelose foi
novamente a segunda mais frequente zoonose relatada, representando 131.468 casos humanos confirmados. A tendência decrescente estatisticamente da taxa de notificação de
casos de salmonelose humana continuou na
União Europeia pelo quinto ano consecutivo. Em particular, os casos humanos causados por S. enteritidis diminuíram acentuadamente a partir de 2008, enquanto foi
observado um aumento nos casos de S.
typhimurium (EFSA Journal, 2010).
O que tem mudado nos últimos anos? De
meados para o final dos anos de 1990, os estudos com base nos programas de redução de
patógenos (APPCC, BPF, PPHO, rastreabilidade e programas especiais – redução de patógenos, resíduos biológicos,...), evidenciaram
em média 20% de positividade para Salmonella na produção de frangos de corte nos
principais países produtores do mundo. Nos
últimos anos o status desta bactéria na indústria de frangos de corte mundial gira em
torno de 11% a 13%.
Por que ocorreu esta redução? Provavelmente devido às melhorias significativas nos
programas estratégicos de controle da Salmonella na cadeia de produção avícola. Basica-
mente, estes programas são bastante similares em todo o mundo e
estão fundamentados no controle
(ausência) deste patógeno nos
plantéis de reprodutoras e de sua
progênie, eliminação de lotes de
reprodutoras positivos, controle
(eliminação) de Salmonella na ração, programa de vigilância ativa
para monitorar o status em todos
os níveis da cadeia produtiva e
ações governamentais em todo o
processo.
Seria possível erradicá-la no
novo modelo de produção e saúde avícola?
Na realidade atual é muito difícil. Tecnicamente e economicamente se tem comprovado que a erradicação é inviável.
Desta forma, o objetivo principal é a redução da prevalência por meio das boas práticas de manejo para o controle (eventual vacinação das reprodutoras e compulsória de
poedeiras; aquisição de pintos livres de Salmonella; exclusão competitiva; programa de
controle de insetos e roedores; controle de
tráfego de veículos e movimentação de pessoas; controle de qualidade dos ingredientes
da ração e tratamento da ração; controle de
qualidade da água de bebida e programas de
higienização na granja, no incubatório, e veículos e caminhões, entre outras).
A experiência adquirida nas últimas duas
décadas tem demonstrado três passos importantes no controle do patógeno: (1) prevenir
sua entrada; (2) impedir sua disseminação; e
(3) determinar a fonte.
Vale lembrar que o controle de Salmonella é um programa de trabalho a longo prazo. A ubiquidade desta bactéria não permite
esperar resultados significativos a curto prazo.
No futuro, os mercados continuarão seguindo cada vez mais exigentes e tenderão à
Salmonella zero. As normas e regulamentos
têm assumido importância crescente. Para
atender as exigências do consumidor nacional e do mercado internacional, há a necessidade contínua de implementação de programas que garantam elevado padrão de
qualidade sanitária dos plantéis de reprodutoras, frangos de corte, poedeiras e dos ovos
de mesa e dos produtos à base de ovo.
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