Ciclismo e Promoção da Saúde BMJ 2000;320:888 ( 1 April ) Editorial Ciclismo e promoção da saúde Um ambiente viário mais seguro e mais lento é a chave. O consenso de que o exercício físico regular é uma parte vital da manutenção da saúde e do bem estar existe há pelo menos uma década. 1 O corpo humano é feito para se exercitar, entretanto nossa crescente existência motorizada implica em que hoje andemos uma média de oito milhas a menos do que nossos antecedentes 50 anos atrás.2 O ciclismo demonstrou uma queda semelhante: em 1949 34% das milhas percorridas utilizando-se modalidades mecânicas eram através da bicicleta; hoje somente 1-2%.2 O carro, pesando quase uma tonelada e geralmente comportando apenas uma pessoa e uma maleta, é um modo de transporte bastante ineficiente. A fumaça produzida por carros é causadora de grande mortalidade 3 e a maior contribuidora ao efeito estufa. O excessivo uso dos carros segrega comunidades e faz com que modos ativos de transporte como caminhar e pedalar tornem-se mais difíceis. Ainda, 70% de todas as viagens feitas por carro são para percursos de menos de 5 milhas e eminentemente compatíveis com pedalar ou caminhar. O exercício regular tem efeitos valorosos sobre vários fatores de risco cardiovasculares, redução da pressão arterial de 10/8 mm Hg entre pacientes hipertensos 4 e de 3/3 mm Hg em pessoas normotensa. 5 Hoje 70% dos britânicos se exercitam menos de uma vez ao mês. 6 Embora as mudanças referentes aos fatores de risco pareçam pequenas diante de uma perspectiva individual, em termos populacionais elas poderiam reduzir em um quarto as mortes por doenças cardiovasculares.7 Quando inseridos nas atividades diárias o caminhar e o pedalar apresentam uma maior chance de serem mantidos do que os exercícios baseados em esquema de academia. 8 Nós possuimos mais bicicletas do que nunca estimados em 27 milhões no Reino Unido então por que não as usamos ? O mais importante dissuasor expressado por não ciclistas é o medo do tráfego motorizado. O medo é exagerado se comparado com a probabilidade estatística de lesão, 9 mas reduzir o limite de velocidade nas cidades para 20 mph seria o modo correto de diminuir este medo. Setenta por cento dos motoristas geralmente excedem o limite de 30 mph quando o tráfego está fluindo livremente. A recente revisão governamental de segurança nas estradas passou a responsabilidade das reduções de velocidade para as autoridades locais 10 sem recurso extra para implementá-las. Compondo este quadro houve a anunciação pela Associação dos Oficiais Chefes de Polícia de que iria passar o limite de 30 mph para 37 mph. Isto pode estar refletindo a real política das estradas britânicas, mas é irracional. Nós sabemos que a diferença entre 20 mph e 37 mph é quase literalmente vida e morte. 11 Aqueles com uma perspectiva clara sobre assuntos de segurança nas estradas continuam pressionando a respeito deste ponto. Mas a melhor regra é a conduta própria. Os médicos compraram o mito motorizado como ninguém, e é hora de mudar. Nós médicos adoramos nosso “status” do “indispensável uso do carro”, embora esta posição possa ser questionada para muitos de nós que só utilizam o carro para se deslocar ao trabalho. As dificuldades de um retorno ao ciclismo utilitário o qual seja, pedalar em jornadas comuns como para se deslocar ao trabalho ou para as compras são facilmente exageradas, assim como não é uma atitude comum. 12 O BMJ estará realizando um seminário sobre ciclismo e exercício aeróbio em 14 de maio seguido por um passeio ciclístico. Esperamos que este e outros eventos sobre ciclismo organizados para o Festival de Medicina do Milênio inspire mais do que uns poucos médicos para fazer a mudança. Afinal, “faça como eu faço” é mais eficiente do que “faça como eu digo." Douglas Carnall, associate editor. BMJ 1 Mersy DJ. Health benefits of aerobic exercise. Postgrad Med 1991;90:103.7, 110.12. 2 Hillman M. Cycling towards health and safety. London: BMA, 1994. 3 Anderson HR, de Leon AP, Bland JM, Bower JS, Strachan DP. Air pollu. tion and daily mortality in London: 1987.92. BMJ 1996;312:665.9. 4 Fagard RH. Prescription and results of physical activity. J Cardiovasc Pharmacol 1995;25:S20.7. 5 Kelley GA. Effects of aerobic exercise in normotensive adults: a brief meta.analytic review of controlled clinical trials. South Med J 1995;88:42.6. 6 Hillsdon M, Thorogood M. A systematic review of exercise promotion strategies. Br J Sports Med 1996;30:84.9. 7 RoseG.The strategy of preventative medicine. Oxford: Oxford Medical, 1992. 8 Hillsdon M, Thorogood M, Anstiss T, Morris J. RCTs of physical activity promotion in free living populations: a review. J Epidemiol Community Health 1995;49:448.53. 9 Powell KE, Heath GW, Kresnow M, Sacks JJ, Branche CM. Injury rates from walking, gardening, weightlifting, outdoor bicycling, and aerobics. Med Sci Sports Exerc 1998;30:1246.9. 10 Department of the Environment, Transport, and the Regions. To mo r r o w' s roads: safer for everyone. London: DETR, 2000. 11 Webster DC, Mackie AM. Review of traffic calming schemes in 20 mph zones. Crowthorne, Berks: Transport Road Laboratory, 1996. 12 Forester J. Effective cycling. 6th ed. Boston: MIT Press, 1996.