entrevista
Usos e aplicações do BSC, segundo André Coutinho
A B R I L
1 2 BENS & SERVIÇOS
Fecomércio
2 0 0 6
Revista da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul
agenda estratégica
Sociedade unida pelo
futuro do Rio Grande do Sul
expediente
Fecomércio
BENS & SERVIÇOS
sumário
Publicação mensal do Sistema Fecomércio-RS
Federação do Comércio de Bens e Serviços
do Rio Grande do Sul
Rua Alberto Bins, 665 – 11º andar
Centro – CEP 90030-142
Porto Alegre/RS – Brasil
Fone: (51) 3286-5677
Fax: (51) 3286-2143
www.fecomercio-rs.org.br
[email protected]
18
Presidência: Flávio Roberto Sabbadini
Vice-presidência: Antônio Trevisan, Ary Costa de Souza, Darci
Alves Pereira, Flávio José Gomes, Ivo José Zaffari, Jorge Ludwig
Wagner, José Alceu Marconato, José Vilásio Figueiredo, Julio
Ricardo Mottin, Luiz Caldas Milano, Luiz Carlos Bohn, Manuel
Suarez, Moacyr Schukster, Olmiro Lautert Walendorff, Renato Turk
Faria, Valcir Scortegagna, Zildo De Marchi
Diretoria: Adelmir Freitas Sciessere, Airto José Chiesa, Albino
Arthur Brendler, Alécio Lângaro Ughini, Arnildo Eckhardt, Arno
Gleisner, Carlos Raimundo Calcagnotto, Celso Ladislau Kassick,
Dagoberto de Oliveira Machado, Derli Neckel, Edson Luis da
Cunha, Eroci Alves dos Santos, Eugênio Arend, Francisco Amaral,
Francisco de Paula Cantaluppi, Francisco José Franceschi,
Gilberto Antônio Klein, Gilberto José Cremonese, Gisele
Machado de Oliveira, Hans Georg Schreiber, Hélio Berneira,
Hélio José Boeck, Henrique Gerchmann, Ibrahim Muhud Ahmad
Mahmud, Ildoíno Pauletto, Itamar José Oliveira, Ivar Anélio
Ullrich, João Francisco Micelli Vieira, João Oscar Aurélio, Joarez
Miguel Venço, Joel Carlos Köbe, Joel Vieira Dadda, Jorge Alberto
Macchi, Jovir Pedro Zambenedetti, Julio Roberto Lopes Martins,
Lauro Fröhlich, Leonardo Ely Schreiner, Leonides Freddi, Levino
Luiz Crestani, Liones Bittencourt, Lucio Flávio Bopp Gaiger, Luis
Antônio Baptistella, Luis Fernando de Mello Dalé, Luis Zampieri,
Luiz Alberto Rigo, Luiz Henrique Hartmann, Marcos Rodrigues,
Marice Fronchetti Guidugli, Maurício Eduardo Keller, Nelson Lídio
Nunes, Nilton Luiz Bozzetti, Níssio Eskenazi, Olemar Antônio F.
Teixeira, Pascoal Bavaresco, Paulo Roberto Käfer, Paulo Roberto
Kopschina, Paulo Saul Trindade de Souza, Regis Luiz Feldmann,
Renzo Antonioli, Ricardo Machado Murillo, Ricardo Pedro Klein,
Ricardo Tapia da Silva, Roberto Simon, Robson Athaydes
Medeiros, Rodrigo Selbach da Silva, Rogério Fonseca, Rudolfo
José Mussnich, Rui Antônio dos Santos, Sergio José Abreu Neves,
Sérgio Luiz Rossi, Sérgio Roberto H. Corrêa, Sírio Sandri,
Susana Gladys C. Fogliatto, Valdo Dutra Alves Nunes, Vilmar
Alves Vieira, Walter Seewald
Conselho Editorial: Antonio Trevisan, Derly Cunha Fialho,
Everton Dalla Vecchia, Flávio Roberto Sabbadini, Ivo José Zaffari,
José Paulo da Rosa, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suarez, Moacyr
Schukster e Zildo De Marchi
Assessoria de Comunicação: Catiúcia Ruas, Fernanda Romagnoli,
Simone Barañano, Aline Guterres e Everton Ataídes.
Juliana Maiesky (estagiária)
Produção e Execução:
Fone: (51) 3346-1194
www.tematica-rs.com.br
Edição: Fernanda Reche (MTb 9474) e Svendla Chaves (MTb 9698)
Reportagem: Cristiano Vieira, Marianna Senderowicz,
Renata Giacobone
Colaboração: Anton Karl Biedermann, Edgar Vasques, Francine
de Souza, Mariana S.Thiago, Moacyr Scliar
Revisão: Flávio Dotti Cesa
Edição de Arte: Silvio Ribeiro
Tiragem: 25 mil exemplares
É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte.
Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do veículo.
agenda estratégica
O Estado que nós queremos
O projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande
que Queremos está traçando os rumos do Estado para
os próximos anos. Uma série especial de matérias
avalia as condições do Rio Grande do Sul
24
economia
28
30
gestão pública
De bolso vazio
O gargalo da riqueza
infra-estrutura
Os rumos da produção
sumário
guia de gestão
Profissionais do futuro
32
O estágio pode ser uma boa alternativa para as empresas e
também para os estudantes. Como toda relação de trabalho,
no entanto, existem regras que devem ser cumpridas
7
palavra do presidente
razão social
notícias & negócios
Parcerias pelo sorriso
O programa Sorrindo para o Futuro, do Sesc-RS, vem
beneficiando milhares de crianças, levando prevenção e
tratamento odontológico a diversas cidades do Estado
comunidade
Prato cheio para a saúde
27
38
Com um projeto diferenciado de merenda
saudável, a prefeitura de Dois Irmãos
conseguiu melhorar o índice nutricional de
seus estudantes
opinião
eu,empreendedor
42
44
idiomas
Apostando na comunicação
O Multilínguas do Senac permite que executivos,
estudantes e interessados tenham acesso ao ensino de
diversas línguas estrangeiras
45
pesquisa
para ler
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
36
visão econômica
visão política
40
8
12
entrevista
Sustentabilidade
André Coutinho é diretor da Symnetics, consultoria
responsável pela metodologia do projeto Agenda
Estratégica do RS. Coutinho explica os fundamentos
e características da ferramenta Balanced Scorecard
49
48
crônica
agenda
50
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
34
6
espaço do leitor
5
espaço do leitor
“Acabo de ler a revista Bens & Serviços de março de
2006. Excelente
em todos os aspectos. Parabéns
pelo trabalho.”
David Iasnogrodski
Escritor – Porto Alegre/RS
“Com cordiais cumprimentos, acuso
o recebimento da revista Bens & Serviços, referente ao mês de janeiro deste ano. Agradeço a gentileza do envio
e ressalto a importância das matérias
abarcadas nesta revista para serem co-
nhecidas e debatidas no cenário jurídico nacional.”
Rodrigo Tolentino de Carvalho Collaço
Presidente da Associação
dos Magistrados Brasileiros
Mensagens podem ser
enviadas para o e-mail
[email protected],
fone (51) 3284-2143, fax (51)
3346-1194 ou para Rua
“Tive o prazer de receber a revista Bens
& Serviços e, como
sou proprietário de
farmácia, encontrei
ali informações importantes e fundamentais para meu crescimento profissional, bem como de meus colaboradores.”
Larry Beltrame
Empresário – Porto Alegre/RS
Alberto Bins, 665/11° andar –
Centro – CEP 90030-142 –
Porto Alegre/RS, com o assunto
“Revista Bens & Serviços”.
Acrescente à sua carta nome
completo, formação ou
atividade que exerce e cidade
em que reside. Por motivo de
espaço, os textos poderão
sofrer cortes.
A paixão e a vontade
to tem como base a vontade coletiva e não o interesse individual de uma minoria. É desta forma, deixando as agendas pessoais em favor da coletiva, que iremos visualizar o
Rio Grande do jeito que cada gaúcho deseja. Educação,
economia, segurança e todas as questões que passam pelo
anseio da sociedade serão tratadas com prioridade e apresentadas aos candidatos ao governo do Estado com responsabilidade e critérios.
Não tenho dúvida de que a iniciativa será um marco. No entanto, mais importante que isso, representará um ponto de partida para traçarmos o futuro do Estado, onde nossos filhos e as gerações do amanhã possam viver com mais dignidade, mais oportunidades de
crescimento e melhores condições para trabalhar e gerar empregos e renda. Precisamos mudar este modelo
que hoje existe e não ficar inertes a tudo o que nos
desagrada. Tenho a certeza de que mais do que enriquecer os debates da próxima eleição, a iniciativa propõe mudar o curso das realizações no Rio Grande do
Sul. Vamos todos desenhar o cenário desse futuro.
Flávio Roberto Sabbadini
Presidente do Sistema Fecomércio-RS
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
palavra do presidente
P
Número 12 – Abril 2006
ensar em um Estado promissor, com desenvolvimento,
equilíbrio financeiro, qualidade de vida e justiça social pode parecer utópico para algumas pessoas.
No entanto, o que a maioria dos
gaúchos mostrou, participando do
seminário do projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos
foi uma visão bem mais otimista. Os
10,5 milhões de habitantes do Estado foram representados por mais de
850 líderes presentes ao encontro.
O que se viu foram cidadãos conscientes de suas responsabilidades e
sabedores de seus deveres. A mudança tem que ser enérgica e imediata, e, além dos propósitos que
norteiam os ideais dos gaúchos, há
que se ter método e paixão pelas
causas. É isso que irá garantir o pleno sucesso deste projeto, cujo esforço coletivo resultou em uma
grande união de idéias.
Percebe-se, pela preocupação
maciça da sociedade, que mesmo
com os sérios problemas do Estado
os esforços de todos poderão alavancar a estrutura atual. Este proje-
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
dos gaúchos
7
notícias & negócios
Edgar Vasques
Senac inaugura
unidade nas Missões
Número 12 – Abril 2006
Leandro Perasolo/Senac-RS
O Senac-RS teve mais uma unidade inaugurada, desta vez em São
8
Luiz Gonzaga, na região das Missões. A nova escola possui capacidade para atender aproximadamente 110 alunos em cada turno e
terá como opções de qualificação as áreas de informática, idiomas e
comércio e gestão. A inauguração ocorreu no dia 17 de março e a
unidade também atenderá os municípios de Bossoroca, Roque Gonzáles, São Nicolau,
Caibaté, São Miguel
e Santo Antônio das
Missões. O investimento foi de cerca de
R$ 300 mil na reestruturação do prédio
e aquisição de novos
equipamentos.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
O preço do turismo
Pesquisa promovida pelo Ministério do Turismo
apontou que 40% dos brasileiros realizam pelo menos uma viagem nacional por ano. Na apresentação do levantamento, o ministro Walfrido dos Mares Guia destacou a necessidade de se reduzirem
os custos do turismo dentro do país, pois mais da
metade dos turistas brasileiros que se dirigem ao
exterior afirmaram que fariam viagens no Brasil se
os preços fossem menores. A pesquisa também registrou um acréscimo na preferência do avião como
meio de transporte, embora o carro próprio ainda
seja o veículo mais usado pela população (48,5% dos
entrevistados). A Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas ouviu pessoas de 30 mil domicílios
nas cinco regiões do país.
notícias & negócios
Atrações de chocolate
Aniversário cultural
O Sesc-RS está completando 60 anos e já definiu a programação cultural para comemorar
o seu aniversário. Durante todo o ano de 2006,
os trabalhadores do comércio de bens e de
serviços e a comunidade em geral dos quatro
cantos do Estado poderão contar com diversas atividades da área cultural. Entre os destaques, estão o Festival Palco Giratório Brasil –
Porto Alegre e o projeto Rio Grande no Palco, com espetáculos teatrais gaúchos e de outros estados, atividades especiais da Orquestra Sinfônica e do Coral do Sesc e feiras do
livro no interior do Rio Grande do Sul. Um
CD com 12 músicas gravadas pela Orquestra
Sinfônica da entidade será lançado em setembro, mês de aniversário do Sesc. Acompanhe
a programação no site www.sesc-rs.com.br.
com o próprio alimento.
A equipe de Moda da Faculdade de Tecnologia Senac-RS ficará responsável pela produção dos “looks”.
Mais informações sobre o evento no
site www.chocofest.com.br.
Nova incubadora da PUCRS
A incubadora Raiar, vinculada
à PUCRS (www.pucrs.br/agt),
tem agora uma nova unidade
em Viamão. Com as obras concluídas em março, o grande
atrativo da unidade é o baixo
custo na taxa de administração.
A PUCRS promete inaugurar
também um terceiro espaço no
Campus de Uruguaiana, ainda
no primeiro semestre. Hoje, 17
empresas estão abrigadas na
Raiar Porto Alegre, somando
130 postos de trabalho e faturamento de R$ 1,6 milhão. As
incubadoras têm por objetivo
oportunizar estrutura para novas e pequenas empresas que
se destinam a produzir inovações tecnológicas.
A força das marcas
Promovida pelo Jornal do
Comércio e pela QualiData, a pesquisa Marcas de
Quem Decide chegou à sua
oitava edição, apresentando no dia 7 de março as
marcas mais lembradas e preferidas pelos empresários, executivos
e profissionais liberais gaúchos. A pesquisa contempla 100 categorias
de produtos, serviços e empresas e aponta também, em uma categoria
especial, a Grande Marca Gaúcha – neste ano tendo, pela sexta vez, a
Gerdau como indicada. A cerimônia reuniu 900 empresários, executivos, profissionais liberais, publicitários, entidades e imprensa.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
Divulgação/Sesc-RS
nária, workshops e ainda um desfile
de moda, o Senac-RS estará presente
durante toda a 12ª Chocofest, que
acontece entre os dias 31 de março e
16 de abril, em Canela. Como não po-
deria deixar de ser, as
oficinas de culinária terão
como base o chocolate, sem dúvida
o alimento mais lembrado nesta época.
O desfile também será inspirado no
chocolate, e as vestimentas serão feitas
Luiz Ávila/Divulgação JC
Por meio de oficinas gratuitas de culi-
9
notícias & negócios
O empresário Daniel Tevah está organizando uma missão empresarial para os
Estados Unidos, a ser realizada em junho. A expectativa é levar 40 lojistas
gaúchos a Miami, para conhecer o comércio local e dividir informações com
empreendedores americanos. A viagem está prevista para o período de
13 a 21 de junho. Informações e reservas pelo e-mail [email protected].
Número 12 – Abril 2006
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
Hunter em Gramado
10
O
consultor norteamericano James Hunter vai participar de dois
eventos em solo gaúcho
no mês de maio. A terceira edição do Congresso Mundial de Administração e o Encontro Sul-Americano de
Recursos Humanos (ESARH) acontecem
em Gramado, entre os dias 16 e 20 do próximo mês. Hunter discutirá o conceito de
“liderança servidora”, explicitado no livro
O Monge e o Executivo, sucesso de vendas entre empresários e executivos. Além do consultor, também farão parte dos eventos conferencistas e palestrantes do Brasil, Chile,
Colômbia, Venezuela e México. O encontro de RH ainda terá como destaque o lançamento do Prêmio ESARH 30 anos, que
vai laurear práticas relacionadas a recursos
humanos e responsabilidade social.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
A hora do leão
Vai até o dia 28 de abril o prazo
para entrega da Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física
2006 (ano-base 2005). Com o reajuste de 10% sobre a tabela do imposto, devem declarar os contribuintes que obtiveram no ano passado rendimentos tributáveis acima de R$ 13.968. Quem teve rendimentos não-tributáveis de mais
de R$ 40 mil ou possuía patrimônio superior a R$ 80 mil até 31 de
dezembro de 2005 também pre-
cisa declarar. A declaração pode
ser feita por meio de programa
disponível para download no
site da Receita Federal (www.
receita.fazenda.gov.br), em disquete no Banco do Brasil ou na
Caixa Econômica Federal, e ainda em formulários, nos Correios.
Sesc inaugura
35º Centro de Atividades
O Sesc-RS inaugurou, no dia 7 de março, seu 35º Centro de Atividades no Rio Grande do Sul. A cidade de Taquara, localizada no
Vale do Paranhana, passou a contar com a infra-estrutura da entidade na rua Júlio de Castilhos, 2843. Com 578,74 metros quadrados, o
Sesc Taquara oferece academia de ginástica (musculação, aerojump,
dança e speening), biblioteca e clínica odontológica, além de serviços
na área do Turismo Social e promoção de atividades recreativas e culturais. Mais informações podem ser obtidas no site www.sesc-rs.com.br.
Valdemir Bitencourt/Sesc-RS
Gaúchos
em Miami
notícias & negócios
legislação
Ricardo Stuckert/ABr
Elias Eberhardt/Sebrae-RS
O Prêmio Prefeito Empreendedor Loureiro da Silva 2005, promovido pelo Sebrae-RS, foi entregue ao prefeito de Tupandi, José Hilário Junges. Com um projeto vencedor entre os 71 inscritos para a
premiação, Junges vai representar o Rio Grande do Sul na etapa final
do prêmio, que está programada para ocorrer em Brasília, no dia 25
de abril. A iniciativa do Sebrae tem por objetivo destacar os administradores públicos que mais
contribuíram para a criação
e o desenvolvimento das
micro e pequenas empresas. A premiação gaúcha
foi entregue pelo presidente do Sistema Fecomércio-RS e do Conselho
Deliberativo do Sebrae,
Flávio Sabbadini (foto).
Otimismo político
O Instituto QualiBest de Pesquisas On-Line, especializado
em pesquisas de mercado pela internet, realizou uma enquete
para conhecer a opinião de internautas de todo o país sobre a situação política do Brasil em 2005
e as expectativas para este ano.
A pesquisa, realizada entre dezembro e fevereiro com 3 mil
pessoas, mostrou que apesar da
corrupção exposta aos brasileiros
durante o segundo semestre do
ano passado, boa parte dos internautas acredita na possibilidade
de melhorias para este ano. A exposição da corrupção através da
imprensa brasileira elevou a avaliação positiva do trabalho dos
jornalistas, que recebeu notas entre 8 e 10 de 41% dos respondentes. A política externa foi bem
avaliada e ainda apresenta expectativas positivas. Os impostos foram um ponto indicado como
muito negativo em 2005 e não se
acredita que vá melhorar em
2006, ao contrário dos salários,
para os quais se espera um significativa incremento neste ano.
Sistema S
Conforme decreto presidencial assinado no dia 16 de março (foto), os trabalhadores deverão integrar os conselhos
deliberativos do Sesc e do Senac, entre outras entidades. A inclusão é um
dos resultados do Fórum Nacional do
Sistema S, que trabalha para a integração dos “S”, bem como a otimização
de seus serviços. Serão criados cerca
de 300 assentos, em nível nacional e estadual, nos colegiados das nove instituições que integram o Sistema.
Domésticas e o IR
O presidente da República lançou, no
dia 6 de março, a Medida Provisória
284/06, que permite que os empregadores descontem de seu Imposto de
Renda o valor pago ao INSS em função da contratação de empregadas domésticas. A dedução é válida para apenas uma empregada por contribuinte,
sobre o valor de um salário mínimo
mensal, a partir de abril. A medida ainda deve passar pelo Congresso.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
Gestor de Tupandi
é Prefeito Empreendedor
11
Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
entrevista
Número 12 – Abril 2006
André Coutinho
12
Diretor da Symnetics – consultoria responsável pela metodologia do projeto Agenda Estratégica
do RS – O Rio Grande que Queremos –, André Coutinho é economista e atua em programas de
gestão e implementação da estratégia em organizações públicas e grupos empresariais.
No projeto gaúcho, Coutinho cuidará da implementação de uma ferramenta muito utilizada
em sistemas de gestão: o Balanced Scorecard (BSC).
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
entrevista
Investindo na
sustentabilidade
C o u t i n h o O Balanced Scorecard é um sistema de gestão desenvolvido nos últimos dez anos para mobilizar e
alinhar uma organização em torno da implementação de
suas estratégias. Os princípios desse instrumento e da
Organização Focada na Estratégia dizem respeito à liderança executiva, como força comprometida com a realização de uma visão estratégica, e à tradução da estratégia de
forma clara, transformando-a em objetivos, indicadores,
metas e iniciativas balanceadas em várias perspectivas que
contemplem aspectos financeiros e não financeiros. Tais
princípios também dizem respeito ao alinhamento de todos na organização, incluindo aí acionistas, clientes, fornecedores e parceiros ao redor da estratégia, à motivação das
pessoas na direção estratégica e à estratégia como um processo contínuo e permanente de controle e aprendizado.
B S Quais os aspectos contemplados pela ferramenta
(fluxos internos, clientes, concorrência, marketing,
finanças etc)?
C o u t i n h o Como a metodologia prevê uma abordagem
balanceada, são incluídos, de forma holística, os vários
aspectos da estratégia do negócio: objetivos e desafios
B S Como um sistema de administração pode
ser aplicado tanto em empresas quanto na
gestão pública, considerando que o governo
não tem por objetivo o lucro?
C o u t i n h o A gestão focada em objetivos estratégicos também pode e deve ser aplicada
na gestão pública e no terceiro setor. No caso
da gestão pública, o BSC e o Mapa Estratégico fornecem às entidades maior visibilidade
dos resultados dos diversos programas e projetos. No longo prazo, aumentam a probabilidade de impacto social e econômico destas
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
B S O que é e como funciona o BSC?
econômico-financeiros; proposta de valor ao
cliente e objetivos de mercado; foco dos processos operacionais e das atividades críticas
para agregar valor ao cliente; desenvolvimento
de novos negócios e da inovação para o crescimento; objetivos para implantar uma atuação socialmente responsável e voltada para a
conservação do meio ambiente e objetivos
para fortalecimento dos recursos humanos, de
modernização da tecnologia da informação,
da mudança cultural, entre outros. Se o BSC
for aplicado no setor público ou em entidades
sem fins lucrativos, certamente incluiremos uma
perspectiva relacionada aos resultados para a
sociedade e à responsabilidade financeira.
13
entrevista
iniciativas: com eles é possível fazer, por
exemplo, um balanço periódico dentro de
uma prefeitura sobre os resultados atingidos
pelos programas e projetos municipais e redirecionar esforços de forma objetiva, seja
com a definição de novos projetos ou com o
fortalecimento de projetos atuais. Em última
instância, também se podem definir novas estratégias e novos projetos para o município.
B S Qual a diferença do BSC em relação aos
demais mecanismos de administração?
C o u t i n h o Em relação ao orçamento, o BSC
significou um avanço da administração na direção a longo prazo, aumentando, portanto,
a sustentabilidade dos negócios. Além disso,
trouxe melhorias claras na gestão baseada em
aspectos não financeiros do negócio, como
na relação com clientes, no fortalecimento da
marca, nos processos, na política de pessoal e de qualidade etc. Com relação ao Plano Estratégico, o BSC foi
criado para tornar os planos estratégicos mais operacionais, com maior visibilidade e compreensão para todos e
com a possibilidade de ser gerenciado por uma equipe
executiva. Já no que diz respeito aos sistemas da qualidade, incorporou a noção de que estratégia se faz com
mudanças (novos processos, novos produtos, novos negócios, novas competências). Sob esse ponto de vista, a
ferramenta traça de forma objetiva o caminho e o ritmo
dessas mudanças. A gestão da qualidade, por sua vez, é
fundamental para sustentar a eficiência e eficácia dos novos processos, dos novos produtos, dos novos negócios...
O BSC modifica processos, enquanto a qualidade sustenta a melhoria contínua desses.
B S A ferramenta auxilia na implantação de programas
de qualidade?
Número 12 – Abril 2006
C o u t i n h o Sem dúvida. Temos percebido que ela auxilia na definição dos focos dos programas de qualidade e
produtividade. A discussão do Mapa Estratégico, por
exemplo, nos leva a definir focos de processos, apontando em quais devemos ser mais competitivos, e a partir
daí ficam fortalecidos os programas de qualidade (como
o TQM e o 6 Sigma) em processos críticos. A grande
questão colocada aos programas de qualidade é de fato se
a melhoria contínua está nos levando a patamares competitivos superiores dentro de uma estratégia de negócio.
14
“A gestão focada em objetivos
estratégicos pode e deve ser aplicada B S Como é o retorno da gestão com a utilização do BSC?
na gestão pública e no terceiro setor.”
C o u t i n h o Em um primeiro momento, o maior benefício está no alinhamento organizacional, na melhor co-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
entrevista
B S Como essa ferramenta consegue avaliar numericamente objetivos não quantitativos, como a satisfação de
clientes ou público?
C o u t i n h o O BSC trabalha com a idéia de que, para
implantar uma gestão da estratégia, é necessário cuidar
dos intangíveis, como marca, tecnologias, conhecimento e competências. De fato, a gestão desses elementos é
motivo de grande preocupação: nos EUA, 85% do valor
das empresas corresponde a ativos intangíveis, segundo estudo recente do Brookings Institute. Já aqui no
Brasil, em 2005 foi feita uma pesquisa pela Fundação
Getulio Vargas sobre a percepção do investidor, que
apontou os fatores não financeiros, como governança,
estratégia e inovação, como mais importantes que o
lucro na avaliação do valor. Desta forma, ao definir
indicadores surgirão medidores mais qualitativos,
como pesquisa sobre qualidade da imagem e da marca, pesquisas sobre o clima organizacional, avaliação
da satisfação de clientes e análise do balanço social. A
partir do Balanced Scorecard, as empresas terão, portanto, que começar a medir efetivamente os seus elementos intangíveis.
B S Quais os custos para a implantação do instrumento?
de consultoria. Cabe às organizações selecionarem a melhor forma de assimilar os conceitos e as práticas do Balanced Scorecard.
No ano passado, a Symnetics lançou, em
parceria com 15 organizações brasileiras,
um livro chamado Gestão da Estratégia: experiências e lições de empresas brasileiras (Editora
Campus/Elsevier). Lendo o depoimento de
representantes dessas empresas, estamos todos convencidos de que investir em gestão
da estratégia com o BSC é investir na sustentabilidade dos negócios.
B S Esse instrumento pode ser aplicado em
empresas de micro e pequeno portes?
“O BSC significou um avanço
da administração, aumentando a
sustentabilidade dos negócios.”
C o u t i n h o A metodologia está bem disseminada no Brasil através de seminários, cursos, grupos de empresas e
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
municação e na motivação e envolvimento das pessoas
(sobretudo quando se sabe aonde se quer chegar). Em
seguida vêm as vantagens em virtude de decisões mais acertadas, alinhadas e coerentes com a estratégia: as organização colhem benefícios significativos do ponto de vista financeiro, de mercado, de clientes e de processos. Unibanco, Companhia Siderúrgica Tubarão e Suzano Petroquímica são exemplos de organizações brasileiras que demonstraram estes resultados expressivos nos últimos anos.
15
entrevista
C o u t i n h o Trata-se de uma forma interessante de explicitar as idéias dos micro e pequenos empresários sobre o negócio, visto que a
estratégia costuma ficar muito na cabeça dos
empreendedores. Diversas pequenas empresas têm participado de alguns de nossos cursos de capacitação na metodologia e, logo depois, acabam implantando seus mapas estratégicos. O segredo é manter o processo do
BSC simples, de fácil entendimento e aplicação, senão ele pode perder força.
B S De que forma o BSC envolve os integrantes de uma empresa, governo ou entidade?
Os colaboradores fazem parte do processo?
Número 12 – Abril 2006
C o u t i n h o A construção do BSC, que engloba o mapa estratégico de objetivos, os indicadores, metas e iniciativas, pode ser realiza-
16
“Nos EUA, 85% do valor
das empresas corresponde a
ativos intangíveis.”
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
da de forma ampla e participativa, como também pode
estar restrita a um grupo de executivos dentro de uma
empresa. No caso da Agenda Estratégica do RS, por exemplo, são 3 mil pessoas representando toda a sociedade
gaúcha. Nós, da Symnetics, acreditamos no envolvimento do máximo de pessoas possível para o desenho de um
Balanced Scorecard, pois é do processo de construção
que nasce o compromisso com a efetiva implantação. Na
construção do BSC as pessoas se sentem “proprietárias”
do mapa estratégico e responsáveis pelo seu sucesso.
B S Como um governo pode definir claramente seus
objetivos? Por que, até hoje, há tão poucos casos de sucesso na gestão pública?
C o u t i n h o Em primeiro lugar, em muitos casos faltam
método e ferramentas de gestão. O setor privado administra os negócios usando metodologias como Planejamento Estratégico, BSC, Gestão da Qualidade, Benchmarking e 6 Sigma, mas o mesmo não acontece com a
administração pública, que carece de gestão. Além disso, muitos dos objetivos e iniciativas da gestão pública
são definidos para um horizonte de quatro anos, duração do mandato público, o que gera uma distorção, na
medida em que a maioria dos programas estratégicos (em
educação e infra-estrutura, por exemplo) devem produzir resultado em um horizonte acima desse prazo. O Rio
Grande do Sul tem bons exemplos de gestão aplicada à
administração pública, basta ver o caso da prefeitura de
Porto Alegre: em 2005, o prefeito José Fogaça e seus
secretários inauguraram a gestão do município com um
mapa estratégico, indicadores e metas para a cidade e
priorizaram os projetos e ações das secretarias municipais frente ao mapa estratégico.
entrevista
B S Pode-se dizer que um governo também depende de
estratégias para uma boa gestão?
C o u t i n h o Em gestão, os recursos financeiros, humanos e técnicos são sempre limitados. Nos governos,
em especial no Rio Grande do Sul, a capacidade de
investimento do Estado nunca esteve tão prejudicada.
A fórmula, todos nós sabemos, é aumentar a poupança pública e privada e realizar o “choque de gestão”,
tão necessário à otimização das despesas e equilíbrio
das contas públicas. Mas não é só por aí. Sem estratégia, os governos vão continuar fazendo de tudo para
todos e tendo como resultado “muito pouco para poucos”. Estamos falando de falta de foco, e daí entra a idéia
de competitividade no governo. Precisamos tratar os municípios, regiões, estados e países como se fossem empresas competitivas. Sem foco estratégico e noção de
que os serviços públicos precisam agregar valor à sociedade, continuaremos perdendo pontos no ranking de
competitividade no Fórum Econômico Mundial (foram
seis pontos perdidos em três anos) e nos índices de
desenvolvimento humano da ONU.
B S É possível traçar cenários e objetivos para
daqui a duas décadas usando o BSC?
C o u t i n h o A Shell, por exemplo, define objetivos e metas para 30 anos, enquanto a Irlanda e a Coréia do Sul mobilizaram sociedade e governo para definir estratégias para 20
anos. Quanto maior o espaço de tempo para
realização das metas, maior a necessidade de
articulação, compromisso e fortalecimento da
liderança. No caso do projeto gaúcho, isto
será feito com a criação de uma ONG, que
servirá como observatório do desempenho
econômico e social do Estado, além de ter o
papel de órgão articulador de propostas e
ações para um Rio Grande do Sul melhor.
C o u t i n h o Ele será a base de um sistema de monitoramento permanente e sistemático do desempenho
econômico e social do Estado. O projeto Agenda Estratégica do RS prevê a criação de uma governança apropriada para articulação e monitoramento dos indicadores e ações de longo prazo, como através de uma
ONG, de um Conselho e de Fóruns Temáticos. A cobrança por resultados, a prestação de contas e a pressão da sociedade serão definitivas a partir deste sistema de gestão, que tem como princípios transparência de resultados, inclusão da sociedade na formulação e gestão e existência de uma metodologia,
que seria o próprio Balanced Scorecard.
“Quanto maior o espaço de tempo
para realização das metas, maior a
necessidade de articulação.”
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
B S Qual o uso do BSC na Agenda Estratégica do RS?
17
Número 12 – Abril 2006
agenda estratégica
agenda estratégica
18
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
agenda estratégica
O Estado que nós
queremos
Por Marianna Senderowicz e Cristiano Vieira
os dias 8 e 9 de março, Porto Alegre foi
sede de uma iniciativa histórica para o
crescimento do Estado, dentro do projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos. Quase 900 pessoas estiveram reunidas, durante dois dias inteiros, para analisar os pontos fracos da economia gaúcha e discutir ações que podem alavancar a volta do crescimento na região. A partir daí, diversos grupos de trabalho foram montados com a função de definir caminhos para alcançar as metas estipuladas durante os debates. As alternativas apontadas pelos participantes se transformarão em
uma agenda estratégica que deve ser concluída em agosto e
entregue aos candidatos ao governo do Estado. ”Estamos
começando um processo de mudança”, celebrou o presidente da Fiergs, Paulo Tigre, na abertura do evento.
A mobilização, que surgiu principalmente devido ao
fraco desempenho da economia estadual no último ano,
está provando que não apenas os empresários, mas toda a
população gaúcha está cansada de esperar por ações que
resultem em uma melhoria das condições de vida no Rio
Grande do Sul. “Precisamos de um novo modelo de governabilidade e de gestão, e para isso a sociedade tem um
N
papel decisivo, porque quando ela se organiza
todos ganham”, declara o deputado Vilson
Covatti. “O que precisaremos é de um Poder
Executivo que tenha coragem para colocar essa
agenda em prática”, complementa o presidente
da Federasul, Paulo Afonso Feijó.
Para o vice-prefeito de Gravataí, Décio
Vicente Becker, a iniciativa já nasceu vitoriosa por superar os entraves entre o público e o
privado: “Se tivéssemos uma gestão pública
mais próxima do que acontece no setor empresarial, certamente teríamos outros rumos
neste país. Enquanto entes públicos, temos
que aprender muito com a iniciativa privada”,
sugere o político. “O Rio Grande que queremos está começando com a participação de
toda a sociedade gaúcha. Estamos todos incentivados e ninguém mais quer receber pacotes prontos. Então, através desse esforço
que começa agora, diremos aos nossos governantes o que a sociedade gaúcha quer”,
concorda Mauro Bessa, presidente da FCDL.
Alessandra Schneider, coordenadora do
Escritório Antena da Unesco no Rio Grande
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
A conscientização de que o desenvolvimento do Estado pode partir da própria
sociedade foi o grande mote do evento que abriu a discussão sobre o Rio Grande do
Sul que queremos para os próximos 15 anos
19
Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
agenda estratégica
fatores como educação, saneamento e saúde pública, que
afetam diretamente a geração de renda e, por conseqüência, a economia de uma forma geral. Estamos presenciando
uma situação de falência financeira”, analisa Tiago
Wickstrom Alves, professor de economia da Unisinos.
“Não existe governo no mundo que resolva sozinho as
questões mais importantes para o desenvolvimento humano e social de sua população. É decisiva a contribuição da
sociedade civil para a ampliação dos programas governamentais, para sua capilaridade e sustentabilidade”, completa Alessandra.
do Sul, também elogia o interesse da sociedade em participar do desenvolvimento
estadual: “A integração da sociedade nas mais
diversas formas, seja como ONGs, por meio
do voluntariado ou de iniciativas comunitárias
locais, tem contribuído para a criação e manutenção de políticas públicas que mudaram a
história para melhor”.
Além da necessidade de se atingir a autosuficiência de energia, de reduzir a carga
tributária, de encontrar alternativas para a desvalorização do dólar e de aumentar a renda
per capita dos gaúchos, um dos temas mais
debatidos durante o evento foi a importância
do desenvolvimento humano para um Rio
Grande do Sul mais forte. “O grande problema do Estado é a falta de investimento em
A ilusão dos índices
O Rio Grande do Sul é considerado a quarta economia do Brasil pelo tamanho de seu Produto Interno Bruto
(PIB), que atingiu a cifra de R$ 152,7 bilhões em 2000,
correspondendo a 7,8% do valor nacional. Para encher
ainda mais os olhos, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, o Estado melhorou suas posições na última década, passando de 0,753
em 1991 para 0,814 em 2000 (quanto mais próximo de 1,
melhor a qualidade de vida). Considerando a média mensal das pessoas com rendimento, teríamos a quinta melhor
do Brasil, com um valor de R$ 799,85, acima da média
nacional de R$ 768,83.
Entretanto, esses números não estão sendo sentidos
por quem depende deles e têm se mostrado inverossímeis no dia-a-dia: dados da Fiergs apontam que, devido
ao câmbio e à quebra na safra, o Índice de Desempenho
Número 12 – Abril 2006
Este é o nosso Rio Grande
“Se o governo investir junto conosco, empresários,
trabalhadores e ONGs na busca por um novo pacto federativo
que acabe com a concentração de renda na União, acho que
vamos avançar na luta contra a falência do Estado.”
Cláudio Janta, presidente da Força Sindical do RS
“Acredito que o Estado precisa voltar a ser referência em
educação, como já foi há muito tempo, valorizando mais o
ensino e replanejando todo o sistema educacional. Para isso,
uma boa atitude seria aumentar o número de escolas técnicas.”
Arlene Lubianca, arquiteta
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
20
“Certamente podemos
melhorar a saúde e a
educação básica, que são
os fulcros do
desenvolvimento, e acho
que nos próximos anos o Estado e o
governo deveriam fornecer uma
educação continuada para todos,
porque isso é qualidade, inovação e
progresso, que é o que queremos.”
Joaquim Clotet, reitor da PUCRS
agenda estratégica
Em busca do remédio
Na saúde pública, a situação também preocupa: filas,
sucateamento de hospitais e falta de médicos e de leitos
Esperança para o Estado
“Saí do Rio Grande do Sul em 1999 porque, pelo meu ponto
de vista, o Estado vinha se tornando um local de poucas oportunidades de crescimento para quem quisesse empreender. Era tudo
muito difícil, ao mesmo tempo em que outras regiões do país
acenavam com possibilidades muito melhores, como no CentroOeste, onde moro atualmente. Hoje, depois de mais de cinco
anos fora, vejo nessa iniciativa de Agenda Estratégica o resgate da
índole mais empreendedora e da força pragmática que pode levar
o Rio Grande do Sul a se tornar, um dia, um Estado de alto crescimento econômico. A idéia é excelente, mas ainda sou cético em
relação ao sucesso que ela pode provocar. O grande desafio é ultrapassar a parte mais fácil, que foi reunir mais de 800 pessoas, e chegar
a um acordo. O difícil é exatamente cumprir esse acordo.”
Eduardo Starosta, economista
fazem parte da rotina de quem não tem condições de pagar pelo serviço particular: pacientes precisam ser transferidos de cidade em
busca de atendimento médico e vários são
obrigados a voltar para casa sem qualquer esclarecimento. Aliado a isso, faltam remédios
nos postos de saúde e crianças crescem desnutridas por falta de orientação aos pais e por
problemas de saneamento básico.
Há alguns anos, a saúde era o setor que
mais se destacava no Índice de Desenvol-
“Precisamos investir em tecnologia para a
produção de alimentos, papel para o qual o Rio
Grande do Sul tem tradição. São necessários
grandes investimentos para buscar esse caminho
através da biotecnologia, para inibir o uso de
venenos, aumentar a produtividade e eliminar
os fatores adversos ao desenvolvimento
da agricultura e da
“O Rio Grande do Sul tem muita facilidade de olhar no
agropecuária
gaúchas.”
retrovisor, ver o passado. Isso é importante como
Almir Rebello, presidente do Clube de
cultura, mas não nos leva longe: mais urgente é
“Para impulsionar o desenvolvimento do Estado é
preciso investir mais adequadamente em educação e
infra-estrutura, reduzir a carga tributária e dar mais
segurança à população. Temos que iniciar já, porque
estamos crescendo menos que o resto do mundo.”
Valter José Potter, presidente da Federarroz
vislumbrar o que vem pela frente.”
Alfredo Fedrizzi, publicitário
Amigos da Terra de Tupanciretã e vicepresidente do sindicato rural
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
Industrial do Rio Grande do Sul caiu 5% em 2005, enquanto o déficit nas contas públicas chegou a R$ 755 milhões
no ano passado. “Para voltar a crescer, o Estado precisa
encontrar uma forma de desatrelar a sua economia do câmbio. E o Brasil deve se preocupar em elevar o seu nível de
poupança interna”, argumenta o economista Marcelo Portugal, que palestrou na abertura do projeto. “Não podemos mais suportar um governo que só gasta e não retribui
o que repassamos para ele”, desabafa Anton Karl Biedermann, presidente do Conselho de Administração da Pólo
RS. “Estamos vivenciando uma série de problemas, mas o
principal, para mim, é a educação”, acrescenta, lembrando
que o sistema de ensino brasileiro está cada vez mais longe
do que queremos.
“Se não nos dermos conta da importância da educação de qualidade, continuaremos primando o ensino excludente e gerando uma sociedade também excludente”,
afirma Iara Wortmann. “O aluno tem que ter disponível um
conhecimento que lhe possibilite ser um empreendedor.
Esse é o grande mote que temos que ter na educação”, acredita a ex-secretária da Educação, segundo a qual é premente
a necessidade de se criar um modelo de escola em que o
aluno aprenda a pensar, em vez de apenas reproduzir o que
ouve do professor ou lê nos livros. “Se não conseguirmos
isso em pleno século 21, não teremos mais solução.”
21
agenda estratégica
Número 12 – Abril 2006
vimento Sócio-Econômico do Estado (Idese), mas
em 2001 e 2002 (últimos
anos de medição até agora) os números começaram a cair. Em 2001, de
0,853 para 0,848 (0,51%),
e em 2002 para 0,844
(0,45%). Se o problema
fosse a falta de recursos,
seria mais compreensível.
Entretanto, muitas vezes
o dinheiro existe, mas a falta de planejamento
e de controle adequado prejudica a manutenção das unidades de saúde e não contribui para a qualificação dos profissionais,
além de sobrecarregar o atendimento em algumas comunidades devido à incapacidade
de outras de atender às suas demandas ambulatoriais ou hospitalares.
“Vejo o Rio Grande do Sul como um expoente nacional na assistência da saúde e não
percebo nenhum outro Estado com o nosso
nível de prestadores de serviço em nível ambulatorial, laboratorial e hospitalar. Se tivéssemos condições de ter um secretário para
administrar única e exclusivamente o SUS,
teríamos resultados muito melhores”, afirma
o deputado estadual Pedro Westphalen.
22
No caso do saneamento, o fornecimento no Estado
está quase totalizado, apesar de registrarmos uma perda
de aproximadamente 40% da água canalizada, contra
uma média internacional de 15%. Fora isso, cerca de
80% dos municípios gaúchos enfrentam problemas
com água e esgoto, apenas 10% do esgoto é tratado
adequadamente e 90% dos dejetos acabam nos mananciais, segundo dados da Famurs. Como conseqüência, a
população coleciona casos de diarréia e parasitoses intestinais que podem chegar à desidratação, principalmente em crianças.
Com a mão na massa
“Os indicadores brutos até mostram que as coisas estão andando, mas se entrarmos em detalhes vamos ver
que as condições de vida não são as melhores. O investimento federal na agricultura familiar, por exemplo, foi muito significativo, assim como a criação dos programas
assistenciais são esforços importantes, mas muito pequenos ainda para tirar as pessoas da miséria e dar condições para o desenvolvimento. Mas o que vemos na vida
real é que não devemos idolatrar um número, e sim
analisar o que está acontecendo para reverter o problema”, ensina o sociólogo técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Salvatore Santagada. “Uma
questão-chave para fazer avançar o desenvolvimento
humano é o compartilhamento de responsabilidades e
a busca de sinergia entre os três setores: o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil, valorizando a
“Há necessidade de se desenvolver a poupança pública e
também a privada, além de se resolver o problema da carga
tributária, que é extremamente significativa e compromete em
certa medida o crescimento estadual.”
Anízio Pires Gavião Filho, procurador de Justiça
“Nunca se propôs, explicitamente, um movimento tão amplo
de negociação e de discussão. Acho que esse é um processo
longo, mas todo processo longo exige um primeiro passo.”
Marcos Rolim, ex-deputado e consultor em
Segurança Pública e Direitos Humanos
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
“O Estado tem um
potencial enorme de
desenvolvimento, que
precisa ser viabilizado de
maneira equilibrada e
com uma política forte de crescimento
da indústria, porque essa é a maneira
de buscarmos a inclusão social.”
Francisco Antonio Brandão,
secretário-substituto de Energia, Minas
e Comunicações
a g e n doa Estado
estratégica
Prioridades para
Os 11 temas estratégicos priorizados durante o evento são:
1) Desenvolvimento do Mercado Interno e Exportações
2) Inovação e Tecnologia (Pesquisa e Desenvolvimento)
3) Meio Ambiente/Responsabilidade Social
4) Desenvolvimento de Setores Econômicos Estratégicos
5) Gestão Pública e Reforma do Estado (Equilíbrio fiscal/Capacidade
de investimento/Transparência/Poupança Pública e Privada)
6) Planejamento Estratégico/Qualidade/Gestão/Competitividade
7) Ambiente Institucional (Carga Tributária/Justiça e Ética/Segurança
Pública/Políticas Agrícolas)
8) Educação (Melhoria da qualidade/Aproximação entre empresas e
centros de pesquisas/Escolas técnicas)
9) Infra-Estrutura (Matriz Energética/Logística)
10) Saúde e Habitação
11) Liderança e Cidadania (Participação da sociedade civil/
governança/representação política)
Entre esses temas, três foram identificados como objetivos:
1) Qualidade de vida – não há crescimento econômico sem o social
2) Crescimento econômico – o Estado precisa voltar a inspirar
confiança para novos investimentos
3) Eqüidade regional e social – o desenvolvimento precisa
beneficiar todos os gaúchos
”Precisamos investir em educação, não há desenvolvimento sem
educação. Melhorar a qualidade do ensino básico e aumentar a
oferta do ensino superior. O Rio Grande do Sul tem as melhores
universidades do Brasil, esse é um grande diferencial competitivo.”
Jairo Jorge da Silva, secretário executivo do MEC
“Para que possa haver uma transformação, é preciso criar uma
visão abrangente que possa envolver empresários, trabalhadores e cidadãos em prol de uma agenda comum. É preciso uma
uma visão instigante que toque a todos, sem exceção.”
Ângela Baldino, secretária do Turismo de Porto Alegre
“A questão tributária é fundamental. Se
não mudarmos a maneira de cobrar os
impostos, vamos continuar remando sem
sair do lugar. Este planejamento estratégico
vai propor, certamente, que haja uma folga
maior para o consumidor, que é quem paga
a conta dos tributos.”
Fernando Bertuol,
presidente da Associação
da Classe Média de
Porto Alegre
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
cultura e as ações locais e evitando políticas públicas pasteurizadoras”, analisa a representante da Unesco.
Uma ONG está sendo criada pelo projeto da Agenda
Estratégica para acompanhar as metas de desenvolvimento do Estado apontadas pelos participantes. A entidade terá o mesmo nome utilizado para designar o
encontro. “A ONG O Rio Grande que Queremos trabalhará
no monitoramento e na transparência para a sociedade
civil”, enfatiza o presidente do sistema Fecomércio-RS,
Flávio Sabbadini.
Para ampliar ainda mais a participação da sociedade na
construção de uma agenda estratégica para o Rio Grande
do Sul entre 2006 e 2020, o projeto disponibiliza no site do
movimento (www.agendars2020.org.com.br) um Fórum
de Debates. No link, as pessoas podem opinar sobre
os principais temas que estão sendo tratados na Agenda e que foram levantados durante o primeiro encontro
coletivo. Além disso, a comunidade também pode enviar sugestões para a Caixa Postal 7010, Porto Alegre,
RS, CEP 91110-970 e participar do Banco de Idéias do
site, agregando sugestões aos documentos produzidos
durante a abertura do projeto. “Nós, presidentes das
federações, cumprimos o nosso papel de mobilizar a
sociedade e setores da economia gaúcha para iniciarmos um trabalho. As propostas, do nosso ponto de
vista, não deverão se pautar exclusivamente em análises
de governos passados. Não vamos fazer críticas ou procurar culpados, queremos é pensar no futuro”, conclui o presidente da Farsul, Carlos Sperotto.
23
Número 12 – Abril 2006
RP2 Fotografia
agenda estratégica
24
Apesar dos índices
que apontam o
desenvolvimento
humano gaúcho
como um dos mais
altos do Brasil e da
colocação do
Estado como a
quarta economia
nacional, o Rio
Grande do Sul
continua dando
sinais de
enfraquecimento e
tirando o sono da
população e dos
empresários
De bolso
vazio
É
melhor você respirar fundo antes de ler
esta matéria, porque o que vem pela
frente não é nada animador e prova que
a sociedade gaúcha precisará de muito trabalho para remediar a economia estadual.
Os últimos 12 meses têm sido marcados pela
queda no Produto Interno Bruto (PIB), pela
redução das exportações e pelo decréscimo
do desenvolvimento industrial, sem falar no resultado direto no bolso da população: diminuição do poder aquisitivo e, conseqüentemente, da qualidade de vida.
Segundo dados da Fundação de Economia
e Estatística do Estado (FEE), o Produto Inter-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
no Bruto gaúcho sofreu uma queda de 4,8% em 2005, atingindo o valor de R$ 152,7 bilhões. O PIB per capita, por
sua vez, decresceu 5,8%, alcançando R$ 14,1 mil. Isso significa que a movimentação financeira do ano passado só
não caiu mais que a de 1990 (-6,6%) e de 1995 (-5,0%).
Para piorar o problema, a soma do valor das exportações nos dois primeiros meses de 2006 diminuiu quase 8%
em comparação ao mesmo período de 2005, totalizando
US$ 1,37 bilhão, contra US$ 1,48 bilhão em janeiro e fevereiro do ano passado. E os números da indústria, cujos
prejuízos foram causados principalmente por quem antes
sustentava o setor, apontam um decréscimo de 2% no total
de janeiro, mês em que o setor gaúcho caiu pela quinta vez
consecutiva, conforme pesquisa do IBGE.
agenda estratégica
Onde está o problema?
De acordo com a pesquisa da FEE, o setor
agropecuário, com uma participação de 15,93% na economia estadual em 2004, foi o destaque negativo de
2005, com uma queda em seu VAB estimada em 15,2%. Isso porque, pelo segundo
ano consecutivo, o Estado foi atingido por
uma estiagem, afetando diretamente as culturas de lavoura e, por tabela, a indústria de
máquinas agrícolas. Já o setor de serviços
foi o mais estável em comparação a 2004,
apresentando uma taxa de -0,5% no total.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Fundação, a grande responsável pelo enfraquecimento da economia
gaúcha é a desigualdade de desempenho,
seja no plano regional ou no setorial. “Algumas regiões vão muito bem, especialmente
o Nordeste e, em particular, a Serra. A Metade Sul, por outro lado, vai mal há tempos,
é um problema secular”, analisa o economista. “Esse problema tem a ver com a má
distribuição da terra, com a falta de diversificação produtiva, com a concentração
de renda e com os padrões de sociabilidade, pois quando as principais culturas da região, como a pecuária de corte e o arroz,
foram perdendo competitividade, não houve uma iniciativa empresarial para substituir
ou diversificar.”
Somente pela seca dos dois últimos verões, as lavouras registraram decréscimos
generalizados dentro do Estado. De acordo com a FEE, das 14 culturas investigadas,
13 apresentaram queda na produção, destacando-se o milho (-56%), a soja (-55,9%), o
trigo (-20,1%), o fumo (-10,9%), a mandioca (-8,8%) e o arroz (-3,7%). Sob essa perspectiva, aliada à crescente desvalorização
do dólar, o setor de máquinas agrícolas não
calcula grandes lucros para este ano: nos dois
primeiros meses de 2006, as exportações
de máquinas e equipamentos tiveram queda
de 20% em relação a igual período de 2005,
sendo que, entre janeiro e maio do ano passado, o setor já registrava 2 mil demissões.
economia
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
Somente na produção de máquinas e equipamentos,
que eram uma das alavancas industriais no Estado, o IBGE
indica uma diminuição de 19,8% no primeiro mês de 2006.
Essa porcentagem, juntamente com a redução de 18,5% no
refino de petróleo e produção de álcool e de 5,1% na produção de calçados e artigos de couro, fez com que o Rio
Grande do Sul fosse o segundo estado com maior queda
na indústria em 2005, perdendo apenas para o Paraná. Analisando o desempenho total do ano passado, a indústria
também registrou um desempenho negativo de 4,8% em
contraste com 2004, quando teve um crescimento de 6,4%
em seu Valor Adicionado Bruto (VAB).
“Apesar de tantas quedas em relação aos anos anteriores, de uma maneira geral o Rio Grande do Sul exibe um
desempenho relativamente bom dentro do país. Temos
mantido a nossa participação na economia nacional, fato
que não é trivial, devido ao aumento da participação de
áreas do Centro-Oeste. Acontece que, com o processo
de abertura comercial generalizada, acabamos perdendo
algum espaço competitivo, especialmente para as regiões
Sudeste e Nordeste, e um conjunto de setores afetado
pela concorrência não está conseguindo sobreviver”, afirma o coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da FEE,
Carlos Aguedo Paiva.
O economista cita como exemplo as indústrias
conserveiras de Pelotas, que produziam uma grande
diversificação de enlatados, mas agora sofrem com a
competição. “Os setores pecuário e arrozeiro da Metade Sul também vêm sentindo as conseqüências da
integração com o Mercosul. Claro que tem a ver com
a carga tributária nacional, que hoje em dia é uma das
mais altas do mundo, mas não é só isso. Quando se
trata de produtos de exportação, por exemplo, os nossos impostos são praticamente zerados. O problema é
que a nossa produção pecuária e arrozeira é pouco competitiva, tendo em vista as condições da região do Prata ou do Centro-Oeste.”
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Número 12 – Abril 2006
agenda estratégica
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“A agropecuária é a base econômica de 70%
dos municípios gaúchos. Registrando um
baque como esse, causado por um motivo
isolado e passível de ser prevenido, afeta
mais da metade dos municípios e, por conseqüência, o resto da economia gaúcha. O
problema também atinge a área social, porque as pessoas deixam de vender e de receber, perdem seu poder aquisitivo, se endividam e fazem parar de girar a economia”, ressalta Rafael Bernardini, pesquisador da FEE.
“Podemos até ser a quarta economia do
Brasil, mas a distribuição de renda não se
modificou quase nada”, observa Salvatore
Santagada, sociólogo técnico que também
trabalha na FEE. “Nota-se um pequeno aumento da distribuição entre os mais pobres,
enquanto a classe média acabou perdendo
renda”, comenta. Segundo ele, os últimos
dez anos registraram um favorecimento político a setores que não ajudam no desenvolvimento estadual e são voltados para o
pagamento de contas internas e externas.
“Em vez de se dar prioridade ao setor produtivo, o que notamos é o favorecimento
do sistema bancário e financeiro, porque
tudo gira em torno de conseguirmos pagar o
débito que já chega a R$ 1 trilhão. Quando
o esforço do governo está focado em manter juros altos para pagar os próprios juros,
se entra em círculo vicioso, e isso afasta muitos dos investimentos que poderiam ser canalizados para gerar mais empregos. É inevitável que uma parte da população brasileira
esteja muito mal”, lamenta o sociólogo. “O
Estado está ruim, sim. O fato de uma economia cair 5% de um ano para outro não
pode ser um ponto excluído no momento
de se medir a qualidade de uma região”,
acrescenta Bernardini.
“O mercado já se mostra altamente
globalizado, e o governo, para piorar, manFECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
tém a política de controle da inflação em cima do câmbio. Para uma economia como a nossa, que é muito
dependente das exportações, essa é uma decisão mortal”, concorda Paiva, que vai mais longe: “Muitos pensam que o problema do Estado também é a baixa poupança interna, mas temos uma taxa de poupança superior à nacional e financiamos atividades no resto do país,
o que significa dizer que financiamos os compradores
externos. O que falta, na verdade, é ter horizontes para
investir aqui dentro, recanalizando a poupança para dentro do Estado”.
Investimentos equivocados
Para Paiva, as empresas e os agentes internos que
estão com um desempenho favorável vendem para
outros países e estados e, quando recebem o pagamento, fazem inversões financeiras que ficam no centro
do país, porque não têm perspectivas de retorno em
investimentos locais. Talvez por isso, no ano passado,
as contas públicas tenham apresentado um déficit de
R$ 755 milhões, deixando o Rio Grande do Sul na frente apenas do Piauí quando se trata de capacidade de
investimento. “Precisamos de perspectivas de lucro que
mereçam inversão, e não de um aumento na poupança
interna em si. Seu eu fosse um empresário de calçados,
por exemplo, não reinvestiria hoje, e isso acaba gerando um círculo vicioso que deveria ser virtuoso: se houvesse mais investimentos, teríamos mais desenvolvimento. Entretanto, não há mais desenvolvimento porque não há onde investir.”
De acordo com o economista, para que essa perspectiva volte a aparecer é preciso que haja condições
de competir de novo no mercado mundial e nacional,
com uma produção mais ampla. “A sociedade civil tem
que tomar consciência dos seus interesses estratégicos
e sair em defesa deles. O governo, por sua vez, poderia
identificar alguns pontos de estrangulamento e fazer
políticas dirigidas para o enfrentamento desses pontos,
só que o governo do Estado, que tem o maior interesse, trabalha com limitação fiscal. E o federal, que não
tem feito uma política industrial ativa, adota um pensamento do tipo ‘que sobrevivam os mais fortes’”.
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agenda estratégica
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agenda estratégica
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O gigantismo
estatal do Rio
Grande do Sul
consome grande
parte das receitas
públicas,
reduzindo a
capacidade de
investimento
e aumentando
a cobrança
tributária.
É preciso um
choque de gestão
para colocar o
Estado de volta
nos trilhos
O gargalo da
riqueza
U
m dos quatro estados mais ricos do Brasil, o Rio Grande do Sul também possui
uma das maiores máquinas administrativas, gerando despesas cada vez maiores com
pessoal e manutenção da estrutura. O gigantismo estatal compromete a capacidade de investimento e reduz a qualidade dos serviços.
Os tributos são os principais componentes na receita do Estado. Em 2005, o governo
encerrou o ano com uma arrecadação recorde de R$ 11,3 bilhões. O desempenho significa um crescimento nominal – sem descontar a inflação – de 18% em relação a 2004,
quando o Poder Executivo elevou o ICMS
para o ano seguinte, resultando em incremen-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
to na arrecadação do imposto de R$ 400 milhões no fim do
exercício. A elevação das alíquotas ajuda a cobrir os R$ 350
milhões que o Estado reclama ter perdido com a estiagem.
O resultado possibilitou que a Secretaria da Fazenda
não precisasse repetir a antecipação do pagamento do
ICMS de janeiro e também significou mais dinheiro para
os prefeitos. Apesar dos números aparentemente satisfatórios, quando se analisa a outra ponta, a dos resultados finais, o
cenário é preocupante: a economia gaúcha sofreu uma queda de 4,8% no PIB em 2005. Especialistas deduzem que,
mesmo com a elevação na arrecadação, o Estado gasta mal.
“Depois do Plano Real, as despesas estaduais cresceram, fazendo com que o Estado se tornasse agressivo na
cobrança tributária para compensar o desequilíbrio financeiro”, explica o tributarista Ivar Piazzeta, da Pactum Con-
agenda estratégica
Choque de gestão
Piazzeta cita como exemplo administrativo o caso de
Minas Gerais, Estado no qual o governador Aécio Neves
aplicou um choque de gestão para colocar as finanças em
ordem. Houve diminuição do número de secretarias de
21 para 15, extinção de superintendências e diretorias,
totalizando um corte de 3 mil cargos de confiança. Reduziram-se os vencimentos do governador, estabelecendose um teto salarial menor para o Poder Executivo, e, com
o combate às fraudes, a despesa com pessoal foi reduzida
de 72% para 59% da receita corrente líquida. A criatividade gerencial colocou em marcha programas para premiar os contribuintes que estão em dia com suas obrigações com o Fisco, evitando assim a sonegação. “O governador Aécio conseguiu na Assembléia Legislativa a aprovação de uma lei delegada, um instrumento constitucional que autoriza o Executivo a implementar certas reformas”, esclarece Piazzeta.
Ele ressalta que o governo gaúcho já aplicou medidas
como redução de secretarias, mas foram insuficientes
porque há limitações constitucionais para realizar mudanças mais profundas, que exigiriam alterações na estrutura
administrativa pública. “Precisamos aqui de uma revolução gerencial, uma reengenharia para ordenar o funcionamento do Estado”, sugere Piazzeta. Ele observa que os
governantes estão anestesiados perante a crise que atinge um dos setores historicamente mais competitivos da
economia gaúcha: a indústria calçadista, dizimada devido
à concorrência com o produto chinês. Para Piazzeta, uma
alternativa seria a criação de uma zona franca do calçado,
com desoneração tributária e incentivos trabalhistas, com
os quais a mão-de-obra estaria livre das contribuições que
pesam na contratação. “São necessárias normas federais para
um empreendimento assim, mas é disso que precisamos:
medidas criativas que exigem coragem e determinação para executá-las”, alerta o advogado.
Piazzeta explica que, na visão dele, o Rio
Grande que queremos tem uma séria barreira a
ser vencida: a desunião histórica, que coloca as
posições político-partidárias acima dos interesses econômico e social. “Os mineiros conseguiram se unir, e nós corremos o risco, por constrangimento político, de ficar para trás”.
Para o secretário do Desenvolvimento e
Assuntos Internacionais, Luis Roberto Ponte, o Estado tem priorizado ações de fomento ao desenvolvimento, como a receptividade aos megaempreendimentos empresariais
que estão aportando em solo gaúcho, como
Stora Enso e Votorantim (celulose), Ventos
do Sul (energia), SAP (tecnologia) e Embaré
(laticínios). Nos últimos três anos, segundo a
Sedai, foram anunciados mais de 200 empreendimentos privados, com investimentos
da ordem de R$ 30 bilhões, que devem gerar
cerca de 50 mil empregos diretos.
No geral, a economia gaúcha apresenta
alguns sinais de melhora, como o superávit
primário de 2005, que foi o maior da história
fiscal do Estado, tendo chegado a R$ 500 milhões. Também a relação entre a dívida pública e o PIB está mais positiva, pois caiu de 22,6%,
em 2002, para 19,4%, em 2004. Mas há necessidade de um esforço maior, contínuo – que
não se limite a um governo –, objetivando o
equilíbrio das finanças públicas do Estado, que
deve ser conjugado com aumento nos investimentos públicos e maior qualidade nos serviços. “O desequilíbrio fiscal do Rio Grande do
Sul, acumulado por antigas legislações que implantaram privilégios, intumesceram a estrutura e estabeleceram grande precocidade nas aposentadorias, só pode ser superado, paulatinamente, com as medidas corretas para a redução dos gastos e o aumento da produção”,
completa Ponte.
gestão pública
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
sultoria, salientando que as exportações são um dos motores
responsáveis pelo crescimento de qualquer governo. Um
dos maiores estados exportadores, o Rio Grande do Sul
luta para incluir no orçamento federal de 2006 a compensação dos R$ 900 milhões a que o Estado tem direito, segundo a Lei Kandir, e que ainda estão bloqueados. No total, a
União deve R$ 5,2 bilhões aos estados exportadores.
29
João Paulo/Porto do Rio Grande
agenda estratégica
Número 12 – Abril 2006
Os rumos da
30
Disputas políticas
prejudicam os
investimentos
nas rodovias
federais, mas
setores como
energia, portos
e aeroportos
melhoram a
competitividade
na logística
do Estado
produção
O
consenso é geral: sem adequada infraestrutura, não há desenvolvimento. Para
o setor produtivo, o incremento nas
receitas depende das rodovias, aeroportos,
portos e do abastecimento energético. Conforme dados da Confederação Nacional dos
Transportes (CNT), todos os estados sofrem
com a precariedade da infra-estrutura. O que
varia é a natureza dos gargalos. As estradas esburacadas são um problema generalizado, mas
em algumas regiões o problema ainda é maior:
as rodovias do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste se encontram em situação bem mais
precária que as do Sudeste e do Sul. Mesmo
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
assim, a concentração industrial no centro-sul do país exige
investimentos constantes em infra-estrutura, devido à forte demanda logística.
Um imbróglio que se arrasta desde 2002 é a concessão de 2 mil quilômetros de estradas federais para o Estado, que deveria realizar obras de manutenção e conservação nos trechos. A União repassou R$ 258 milhões para o
governo gaúcho, que utilizou o montante para pagamento do 13º salário do funcionalismo. Como as obras não
foram executadas, o Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes (DNIT) suspendeu os investimentos na recuperação das rodovias federais estadualizadas quatro anos atrás. Criou-se um dilema. “As dificuldades
do nosso governo em superar este impasse refletem dire-
agenda estratégica
Via aquática
Quarto maior terminal portuário do Brasil, o porto de
Rio Grande possui uma das tarifas mais competitivas entre os portos do Sul do país, não tendo sofrido aumento
desde 1997. Recentemente, pela sua boa infra-estrutura,
agilidade nas operações e mão-de-obra qualificada, foi
eleito o porto mais eficiente do país em uma pesquisa
realizada pelo Instituto Coppead da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ).
O porto é um dos principais escoadouros da produção agrícola gaúcha. “Para este ano esperamos uma grande movimentação de cargas, visto que a safra 2005/2006
do Rio Grande do Sul deverá ser positiva, ao contrário
infra-estrutura
A força do vento
Na área de energia, a vedete do momento é o Parque Eólico de Osório, que já conta
com quatro aerogeradores riscando o céu do
litoral. Utilizando tecnologia de ponta, as 75
torres do parque irão gerar 150 MW de energia não poluente e renovável – quantidade
suficiente para abastecer por ano o consumo
residencial de cerca de 650 mil pessoas em
Porto Alegre –, a qual será adquirida pela Eletrobrás por um prazo de 20 anos.
O investimento é de capital privado, capitaneado pelo grupo espanhol Elecnor. Dos
R$ 670 milhões, 69% são financiados pelo
BNDES. Ao todo, estão sendo construídos
24 km de estradas no interior do empreendimento. Cerca de 40 empresas, a maioria gaúchas, foram contratadas para a execução das obras. “É uma energia limpa,
que reduz a emissão de gases poluentes que provocam o efeito estufa.
A implantação de uma usina eólica
causa pouco impacto ambiental, se
comparada com outros tipos de indústrias de energia”, afirma Telmo
Magadan, presidente da Ventos do Sul
Energia, empresa que toca o projeto.
Em janeiro de 2007 as torres devem
entrar em funcionamento.
Energia eólica é
renovável e não poluente
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Divulgação Ventos do Sul
Duplicação da estrada consome R$ 600 milhões
do ano passado, quando a estiagem ocasionou uma grande queda na produção de granéis agrícolas e prejudicou as exportações
deste segmento”, explica o superintendente
Vidal Áureo Mendonça. Apesar disto, o porto do Rio Grande, pelo 12º ano consecutivo,
continua ocupando o segundo lugar no
ranking nacional de movimentação de contêineres. O crescimento na movimentação deveu-se, principalmente, ao aumento de 16%
nas cargas refrigeradas, como o caso da maçã
e das carnes de frango, bovina e suína.
Número 12 – Abril 2006
Divulgação/DNIT
tamente na vida dos gaúchos que trafegam pelas rodovias
que estavam sendo recuperadas e cujas obras foram suspensas por uma decisão política unilateral”, reclama o secretário estadual dosTransportes Alexandre Postal.
No outro extremo, uma antiga reivindicação rodoviária
avança a passos largos. De acordo com o DNIT, mais de
20% da duplicação do trecho gaúcho da BR-101 foi concluída desde que iniciaram as obras, em janeiro de 2005.
Até o momento, o cronograma está sendo cumprido e há
previsão de que toda a rodovia esteja duplicada até o final
de 2007. Integrante do programa de obras de duplicação
dos Corredores do Mercosul, a ampliação da capacidade
da estrada, entre Palhoça (SC) e Osório (RS), com 345
km, vai permitir a ligação viária de Porto Alegre com o
centro do país em pista dupla. “A duplicação envolve
800 desapropriações no valor de R$ 30 milhões. Foram
investidos, até o momento, em torno de R$ 90 milhões”,
informa o engenheiro Marcos Ledermann, coordenador
regional do DNIT.
31
Arquivo Pólo RS
Desenvolvimento: idéias
para o Estado
Anton Karl Biedermann*
conquistar um resultado melhor. Descobrem que é viável
caminhar para um estágio mais eficaz de desenvolvimento. Criam estratégias e projetos para a sua cidade, região
ou Estado, e não para quem está no poder. Para o goverrimeiro, há de se ter confiança no Rio nante, fica claro que para ser bem-sucedido ele deverá
Grande do Sul. Temos bons motivos seguir o projeto que a sociedade desenhou e quer conpara crer: mão-de-obra talentosa, uni- quistar. A receita não é nova e deu certo não apenas em
versidades com excelentes centros de pesquisa cidades, mas até mesmo em países como a Irlanda e a
e grandes empreendedores que encaram e en- Coréia do Sul.
corajam novos empreendimentos. Em segunO Rio Grande do Sul pode ter várias Irlandas espalhado lugar, há de se tomar algumas providências: das por aqui. A partida aconteceu nos dias 8 e 9 de março,
sugerir o afastamento do conquando Farsul, FCDL, Fecomércio,
forto que emperra mudanças e
Federasul, Fiergs, Sebrae e Pólo
O desenvolvimento
criar generosas doses de ousaRS, reunidos com mais de 800 líderes
dia e coragem para romper com
representando a comunidade rio-grandeve ser
situações seculares de desamdense, iniciaram um trabalho inédito,
fundamentado na
bição e conformismo.
que irá contribuir decisivamente para
articulação de
Fundamental é espalhar
o desenvolvimento do Estado. Trataesforços
conjuntos
conceitos de crescimento, prinse da construção de agenda que devecipalmente aquele que diz que
rá apresentar, quando concluída no seo desenvolvimento deve ser
gundo semestre de 2006, o Rio Granfundamentado na articulação de esforços con- de do Sul que desejamos daqui a 15 ou 20 anos e como
juntos dos empresários, das universidades, do poderemos chegar até lá. Será “o Rio Grande que querepoder público e da sociedade civil organiza- mos”. De antemão sabe-se que arrojo, firmeza e cooperada. Um pensamento que tem conquistado ção devam ser ingredientes indispensáveis para alcançar
dezenas de cidades gaúchas mas que deve êxito neste trabalho. O projeto tem sido tratado com
alastrar-se muito mais, como planta forte e solicitude em todas as áreas da sociedade produtiva onde
saudável que se adapta facilmente em qual- tem sido apresentado. Com certeza também não faltará
quer lugar. As comunidades que seguem empenho de todos os gaúchos.
essas idéias percebem que, unidas num consenso, é possível aumentar a capacidade de * Presidente do Conselho de Administração da Pólo RS –
crescimento e variar as possibilidades para Agência de Desenvolvimento
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
opinião
P
27
guia de gestão
Número 12 – Abril 2006
No momento de
pensar no futuro,
é bom ter em
mente aqueles que
nele irão trabalhar.
Com processos
cada vez mais
concorridos,
os programas de
estágio são
responsáveis por
formar os
profissionais que
irão ditar os rumos
das empresas
32
Profissionais do
futuro
C
onsiderado fundamental para a obtenção de bagagem profissional e na formação de relações com o mercado, o
estágio é o primeiro passo para uma trajetória
de trabalho bem-sucedida. Além da experiência, o estágio muitas vezes traz benefícios
como a remuneração – que pode ser um grande auxílio nas despesas do estudante –, o crescimento no rendimento escolar e o possível
vínculo dos jovens com a empresa, já que boa
parte deles acaba sendo efetivada. Os programas de estágio ajudam a definir os contornos
dos profissionais do futuro.
Os estágios são regidos por legislação
específica (Lei 6.497/77 e Decreto Lei
87.497/82). Fora as facilidades de contratação, as empresas contam com estudantes
ávidos por adquirir experiência e sem vícios funcionais. Além disso, eles rejuvenes-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
cem a organização, criando um espírito de renovação
e oxigenação permanente, proporcionando um canal
eficiente para o acompanhamento de avanços tecnológicos e conceituais.
O jovem que ingressa em um programa de estágio tem
um desafio marcante em sua formação profissional. Terá
de um a dois anos para provar, a si e à organização, que
reúne competências suficientes para compor o time.
O desafio se inicia na seleção. Em grandes corporações,
ela envolve milhares de jovens que disputam poucas vagas, e os critérios de escolha incluem qualidade da formação e domínio de idiomas, entre outros requisitos. “O
estágio é uma das melhores fontes de recrutamento, uma
vez que você conhece o aluno desde cedo, avaliando itens
como caráter e desempenho funcional. Vamos assim aprimorando o futuro funcionário”, avalia Pedro Luiz Fagherazzi, vice-presidente da seccional gaúcha da Associação
Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS) e diretor
de RH da RBS. Ele salienta que o único ponto relevado é
a exigência de experiência. No mais, os processos de seleção são rígidos como os de qualquer outro profissional.
Para formar jovens competentes e capazes de se tornarem líderes mais tarde, é importante ter como um dos
focos principais o processo seletivo. Com uma seleção
eficiente e focada no que a empresa quer, as chances de
obter sucesso com os jovens é muito maior. Assim, programas de estágio bem estruturados são um instrumento
poderoso na geração de competência para as organizações.
Já na empresa, o estagiário atua com pessoas de ampla
vivência profissional, aprende o que a vida acadêmica não
ensina e se incorpora à organização, convivendo como
um postulante à vaga na equipe. Para obter sucesso ele
deve cultivar relações interpessoais centradas na humildade em aprender com aqueles que atuam há mais tempo, tornando-se um profissional que agrega ao meio.
O programa de estágio é percebido pelo jovem como uma
oportunidade que deve ser conquistada. Neste sentido,
uma das seleções mais disputadas no Estado é a da Copesul, com diversos testes e entrevistas. “O programa deles
é muito aprimorado, com concorrência altíssima, buscando os melhores mesmo”, conta Fagherazzi.
Responsabilidade de ensinar
Ao demonstrar competência, o aluno pode abrir as
portas para a sua contratação pela empresa. Portanto, dedicação, iniciativa e compromisso são essenciais por parte do estagiário. Por outro lado, é importante observar o
nível de compromisso da empresa com o aspecto educacional. O estagiário é um aprendiz, e não se pode exigir
dele o mesmo que de um profissional. Muitas vezes, os jovens são aproveitados como forma de economizar com a
contratação de um profissional já capacitado. É um erro grave, pois não se oferecem oportunidades de aprendizagem e
se geram prejuízos para a empresa e para o estudante.
Os gestores que contam com estagiários nas suas equipes devem tratá-los de forma adequada, orientando-os
corretamente. Este “orientar” vai além de simplesmente
delegar as atividades e, na seqüência, exigir resultados.
Passa pela paciência no explicar, calma no corrigir, seriedade no cobrar e honestidade no avaliar. Para o aprendiz,
ser “orientado” também vai além de ser submisso e su-
jeito a fazer tudo que é mandado: ele deve
ter paciência no aprender, calma ao ser corrigido, seriedade no executar e honestidade no proceder.
A contratação de estagiários não é regida
pela CLT e não tem piso de remuneração
preestabelecido. A formalização dessas
contratações é regulamentada exclusivamente pelo contrato, fornecido pelo agente
integrador. O documento deverá ser assinado pela empresa, pelo aluno e pela instituição de ensino do estudante. A jornada
de trabalho não está vinculada a categorias profissionais ou acordos sindicais. Contudo, o horário de trabalho do estudante não
poderá prejudicar a sua freqüência às aulas.
O período de contratação, normalmente de
seis meses, pode ser rescindido a qualquer
momento através de simples notificação, sem
ônus para as partes. É permitida também a
renovação de contrato de estágio pelo prazo máximo de dois anos para cada empresa.
“Fora isto, desde o ensino médio até o curso
superior, é possível realizar diversos estágios,
desde que em companhias diferentes”, esclarece Fagherazzi.
Os chamados agentes integradores, como
a própria ABRH-RS e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), são os intermediários no processo de contratação dos estagiários. As vantagens são diversas. “É praticamente impossível ter contratos com todas
as escolas e universidades do Estado. O agente integrador faz essa ligação e as empresas
buscam os talentos diretamente nos cadastros dos agentes”, explica Fagherazzi. Além
disso, os agentes também realizam uma préseleção, enviando para as empresas um grupo de candidatos com o perfil desejado. “Isto
acaba diminuindo os custos, fazendo com que
as empresas trabalhem somente a parte final
da seleção”, completa.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
guia de gestão
33
razão social
Parcerias pelo
sorriso
Ao entrar no quarto ano, o projeto Sorrindo para o Futuro, do Sesc-RS,
busca promover a saúde bucal para crianças da educação infantil até a 4ª série
do ensino fundamental e deve atingir mais de 140 mil alunos em 2006
ançado como piloto em 2003, o Sorrindo para o Futuro é um projeto do
Sesc-RS que continua voando alto.
O objetivo é promover a saúde bucal para
crianças da educação infantil até a 4ª série do
ensino fundamental, idade em que elas estão
consolidando seus hábitos de higiene, intimamente ligados à saúde bucal.
Por meio de parcerias com o poder público, universidades, escolas e entidades da
Número 12 – Abril 2006
Divulgação/Sesc-RS
L
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FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
classe odontológica, o programa está ganhando mais
abrangência. Em 2003, o Sorrindo para o Futuro atendeu 16.278 alunos em 34 municípios gaúchos. No ano
passado o salto foi visível: quase 100 mil atendimentos
em 116 cidades do Estado. Além das metas superadas,
2005 também trouxe para o Sesc o reconhecimento
da iniciativa pelo meio empresarial, com a concessão
do Top de Marketing da ADVB-RS para o Sorrindo
para o Futuro.
“No começo, era apenas um projeto-piloto, que dependia dos nossos profissionais e tinha alcance reduzido. Com a participação das prefeituras e a capacitação
dos professores, transformou-se em um dos melhores
projetos de saúde pública que já presenciei”, conta a
dentista Aline Pilger, do Sesc de Novo Hamburgo, que
também estende o programa para os municípios de Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Araricá.
Inicialmente, apenas a força de trabalho dos odontólogos do Sesc foi utilizada. Por meio de convênios
com cada escola participante, foram distribuídos creme
dental e escovas, enquanto os profissionais do Sesc realizavam reuniões com os pais e capacitavam os professores para supervisionar a escovação das crianças.
Os resultados foram positivos, mas ainda era necessário desenvolver uma sistemática capaz de difundir o projeto no Estado sem, no entanto, alterar o
quadro de recursos humanos da instituição. Já existiam os professores capacitados, mas havia poucos dentistas. Foi preciso então solicitar estes profissionais à
rede pública dos municípios. “É muito importante o
apoio das prefeituras, já que elas contribuem para
a multiplicação dos atendimentos. A maioria delas tem
interesse em continuar com o projeto este ano”, comemora Aline.
Lado a lado nos municípios
O Sorrindo foi lançado oficialmente em maio de
2004, em um evento no qual estiveram presentes representantes de 69 prefeituras. Os convênios foram sendo
efetuados ao longo do ano. A proposta de parceria foi
realizada em visitas da equipe do Sesc aos municípios, e
a entidade ofereceu, além da capacitação, duas reposições de escovas dentais, creme dental, flúor e material
educativo. Ao município coube o fornecimento de
novas reposições dos materiais, além de disponibilizar o dentista e indicar as escolas onde as atividades
seriam realizadas. Os resultados têm sido cada vez
mais animadores.
Em cidades como Tapes e Santo Antônio das Missões, as prefeituras não dispunham de dentistas suficientes no seu quadro de pessoal e terminaram por contratar mais profissionais, resultando em ganho para as
comunidades locais. Em Espumoso, a prefeitura providenciou a construção de escovários nas escolas, para facilitar a rotina de higiene bucal. As carretas odontológicas do projeto OdontoSesc, desenvolvido em parceira
com as prefeituras, também têm sido de extrema valia na
divulgação do Sorrindo para o Futuro, já que a equipe
apresenta o projeto para as secretarias locais de saúde e
de educação quando visita os municípios.
Pesquisa realizada em 2004 com 267 professores
em 71 escolas de 12 localidades mostrou o entusiasmo dos agentes envolvidos. Dos professores entrevistados, 86,9% estavam satisfeitos com o projeto,
98,8% consideraram o projeto importante
face à realidade da escola e 91,8% deles
concluíram que houve melhora na saúde
bucal das crianças. “É diferente de projetos sociais do governo federal, por exemplo, que correm o risco de serem abandonados com a troca de governantes. Aqui
estamos insistindo para instalar definitivamente o ato da escovação no cotidiano dos
alunos”, relata Aline.
As estatísticas oficiais indicam a gravidade do problema. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2003, na região Sul do
Brasil, 57% das crianças de cinco anos já tiveram cárie, com média de 2,6 dentes de leite cariados por criança. Aos 12 anos, 63%
delas já apresentaram o problema e 5% dos
dentes cariados foram perdidos devido à doença. Com o aumento da faixa etária, a situação é pior. Dos adolescentes de 15 a 19 anos,
88% têm uma média de 5,7 dentes cariados.
Destes, 9% foram extraídos. Apenas 67% dos
jovens brasileiros ainda têm todos os dentes
aos 18 anos, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs para a virada
do século uma média de 80%.
“A auto-estima das crianças aumenta,
porque o próprio professor cobra delas a
escovação, postura que muitos pais não impõem em casa, até pela rotina difícil da
atualidade”, diz Aline, salientando que é
cena comum a aproximação dos alunos querendo mostrar os dentes quando percebem
a chegada dela na escola.
Em abril começam as atividades de 2006
do Sorrindo para o Futuro. A meta deste ano
é atingir 140 municípios, com 1.485 escolas
participantes e 140 mil alunos atendidos.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
razão social
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eu, empreendedor
Um jovem de
tirar o chapéu
Respeitar os mais velhos é um lema que todos conhecem, mas, em alguns casos, os
mais novos também fazem por merecer. Essa é a situação do jovem Cláudio
Goldsztein, novo presidente da ADVB-RS e diretor-geral da Embrace
C
Número 12 – Abril 2006
Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
om apenas 31 anos, Cláudio Goldsztein coordena uma importante empresa de marketing direto e de relacionamento, além de ser, desde janeiro deste
ano, presidente da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVBRS). Sua carreira começou cedo, antes mesmo de ingressar na universidade e talvez por
isso ele ainda nem tenha concluído os dois
cursos em que se matriculou: Direito e, posteriormente, Publicidade e Propaganda. “Fi-
36
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
nalmente estou prestes a me formar nos dois, que foram
realizados de forma bem pingada”, brinca o jovem empreendedor, que também divide seu tempo entre a administração de dois escritórios da Embrace – em Porto Alegre e
São Paulo – e o comando da Associação.
Pioneira na área em que atua, a Embrace foi inaugurada em agosto de 2000, seguindo a linha de assessoria
empresarial. Tendo sido criada para suprir uma necessidade interna da Goldsztein, construtora da família de Cláudio e na qual ele iniciou sua vida profissional, a empresa já
nasceu com um grande cliente e teve que manter a qualidade do serviço a fim de conquistar novos trabalhos.
A decisão de abrir uma empresa do gênero foi tomada aos poucos. Na época, Cláudio trabalhava no departamento jurídico da Goldsztein, mas a paixão pelo marketing já aparecia. “Meu papel era acompanhar o pósvenda, o que me proporcionou detectar oportunidades
para melhorar o relacionamento com o cliente”, revela
o futuro publicitário. “Então surgiu a idéia de um trabalho focado exclusivamente no relacionamento com cliente.” Com isso, ele e seu irmão Fernando foram buscar
um fornecedor para a ação. “Não encontramos nada no
Estado, motivo pelo qual comecei a pesquisar sobre empresas de marketing direto em São Paulo.”
Decisão tomada e empresa inaugurada, era hora de
botar a mão na massa para atrair novos clientes. “Apesar
de não ter sido fácil, principalmente por ser um modelo
de atividade novo no Estado, aos poucos a Embrace conseguiu construir a visão de que o marketing direto e o
uso de banco de dados completavam as estratégias e ajudavam no trabalho de uma forma geral”, afirma Cláudio.
Em meados de 2003 a Embrace foi procurada por
um dos maiores grupos de comunicação do mundo, o
Grey, que tinha interesse em trabalhar o mercado regional sem abrir um escritório aqui. A parceria acabou em
janeiro, com um saldo significativo para a empresa
gaúcha: “Aumentou bastante a nossa visibilidade no
Brasil e permitiu que desenvolvêssemos trabalhos em
conjunto com clientes de peso, aprendendo sobre
mercados mais aquecidos”, argumenta o empresário, que,
em janeiro de 2006, inaugurou a Embrace na capital paulista. “No total, já atendemos quase 40 empresas ao longo desses cinco anos, e hoje temos 14 clientes ativos das
mais diversas áreas e estados.”
Encarando o desafio
“Meu trabalho na ADVB começou porque a associação era cliente da Embrace”, explica o atual presidente,
que conhecia a entidade há bem mais tempo por freqüentar cursos e palestras por ela disponibilizados. “Há
pouco mais de um ano, Ângela Baldino, que presidia a
associação, nos procurou para desenvolver uma ação focada na busca de associados. Criamos uma série de campanhas de teste e, a partir disso, formatamos os novos
modelos para se tornar associado. Lá por setembro veio
o convite da Ângela para participação na próxima gestão, mas nunca pensei que era para assumir o lugar dela.”
“Fiquei muito surpreso e confesso que cogitei se
poderia aceitar o convite, principalmente por saber da
seriedade que significava esse cargo. Uma entidade com
43 anos merece respeito por si só, e, sendo mais velha
que eu, já é mais um motivo”, constata Cláudio, que não
se deixou intimidar e aceitou o desafio. De acordo com
ele, o atual plano para a ADVB é ousado: “A Ângela fez
um trabalho bárbaro de reestruturação e resgate do histórico financeiro. Ela assumiu a
entidade com R$ 2 milhões em dívidas e quase 600 títulos protestados, e mesmo que ainda tenha nos passado algumas pendências, estão todas bem administradas, negociadas ou
em negociação”.
Conforme o gestor, a estratégia agora é
investir na área de capacitação para que a associação tenha novas metodologias de treinamento e fixe parcerias por todo o Estado.
Fora isso, o grupo trabalha no Planejamento
Estratégico ADVB 2015, visando a um crescimento imediato e contínuo. “A ADVB é uma
marca muito forte que, mesmo tendo estado
um pouco arranhada, deve recuperar sua credibilidade”, destaca. “Nossa função é dar continuidade para isso, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade e para o enriquecimento dos profissionais de marketing e de
vendas do Estado e do país.” A nova gestão
deve realizar a reforma da sede atual e construir o Museu do Marketing Gaúcho e um
novo edifício no terreno.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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eu, empreendedor
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Fotos: Divulgação/Prefeitura de Dois Irmãos
comunidade
Número 12 – Abril 2006
Você já
imaginou seu
filho comendo
frutas e verduras,
sem reclamar,
durante todas
as refeições?
Em Dois Irmãos
isso já é uma
realidade, e não
foi difícil fazer
os vegetais
e as fibras
conquistarem
a gurizada
38
Prato cheio
para a saúde
O
projeto da merenda saudável, que conquistou o Troféu Gestor Eficiente do
MEC no ano passado, começou a ser
desenvolvido em 2003 em Dois Irmãos, município gaúcho de 30 mil habitantes localizado a 58 km de Porto Alegre. A Secretaria de
Educação da cidade (Semec) percebeu que os
hábitos alimentares das crianças que cursavam
o ensino fundamental não estavam adequados
às necessidades do organismo. No ano seguinte, estudando como estavam as atividades físicas dos alunos, o órgão ainda verificou um aumento gradativo do sobrepeso, principalmente pela má alimentação e pelo sedentarismo.
No mesmo ano, a secretaria introduziu na
merenda de todas as escolas municipais ali-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
mentos ricos em fibras, como o pão integral, e aumentou
a quantidade de frutas fornecidas aos alunos. Em 2005,
novos elementos naturais, como arroz integral, açúcar
mascavo, suco de uva e verduras orgânicas foram incorporados ao cardápio. A novidade acabou ajudando no
desenvolvimento econômico e social da região.
“Começamos a comprar alimentos de nossos pequenos produtores rurais por suas características orgânicas,
objetivando também o incentivo à agricultura familiar”,
conta a nutricionista da Semec, Rozane Triches, citando
produtos como hortaliças, sucos, doces de frutas, mel,
leite integral pasteurizado, ovos caipira e doce de leite.
Outras verduras passaram a ser produzidas em um horto
municipal, utilizando processo totalmente orgânico.
Em alguns colégios também foram implantadas hortas escolares, onde os próprios alunos plantam e colhem
comunidade
Meninada satisfeita
A estudante Bárbara Berwian, de 12 anos, está satisfeitíssima com a mudança. “A gente se sente bem melhor
quando come frutas e verduras. Nunca fui muito de frituras, mas agora nem sinto falta de comer porcarias”, garante a menina, que estuda na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Arno Nienow. Cleiton Boufleuher, de 13 anos, também está animado: “Sempre gostei de comidas naturais, mas não tinha o hábito de comer
esse tipo de coisa. Agora até em casa a rotina está diferente, e para melhor”, assegura o aluno.
Para a diretora da escola, Márcia Saueressig, os resultados estão no rosto, na pele e na cabeça da meninada:
“Os professores comentam que as turmas estão mais dispostas, sem falar que melhorou a coloração da pele e o brilho dos cabelos da maioria das crianças. Não há como negar
tantos benefícios proporcionados somente com a mudança na alimentação”, analisa. “Nos surpreendemos com as
reações positivas dos alunos”, conta Rozane. “Acho que,
quando o assunto é uma alimentação saudável e sua palatibilidade, os maiores preconceituosos somos nós, adultos.”
Para a nutricionista, um dos principais focos do projeto já está sendo atingido. “Prevenindo o sobrepeso e
incentivando estilos de vida mais saudáveis,
não objetivamos reduzir a obesidade a curto
prazo, mas sim promover ações de saúde que
perdurem quando essas crianças crescerem”,
explica. “Acreditamos que as novas merendas
estão melhorando o aporte nutricional desses
escolares e incentivando o consumo de alimentos que antes eram vistos como ruins.”
E não é só dentro da escola que a ação
está colhendo seus frutos: a mudança alimentar já está incorporada em diversos lares de
Dois Irmãos, seja por influência de alunos,
professores ou até de funcionários dos colégios. Só na casa de Maria Helena Félix da Trindade, nove pessoas passaram a comer corretamente quando ela foi contratada como merendeira da instituição Arno Nienow. “Vim de
uma escola estadual e, no começo, estranhei
tantas comidas diferentes. Agora já estou acostumada e gosto muito dos pratos”, revela a
cozinheira, que periodicamente participa de
encontros promovidos pela prefeitura para
aprender a fazer novos pratos integrais.
Bom, bonito e saudável
cardápio das escolas de
Dois Irmãos é constituído de uma variedade de
doces e salgados: frutas, biscoitos coloniais, pães, bolos,
cucas e roscas integrais, mel,
doce de frutas, doce de leite
colonial, leite, sucos naturais,
arroz integral, polenta, massas, sopas, carnes (frango, gado, sardinha, fígado), feijão, lentilha,
hortaliças, tubérculos etc. “As frituras foram retiradas do cardápio, e não é incentivado o consumo de gorduras saturadas, açúcares simples e aditivos químicos, dando preferência a alimentos
menos processados, com cultivo orgânico e o mais integrais possível”, assegura a nutricionista da Semec.
O
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
as hortaliças que são preparadas na merenda, aumentando seu interesse em provar algo criado por eles mesmos.
Para que o gosto fosse tão agradável quanto a aparência
dos alimentos, a secretaria possibilitou às merendeiras
cursos de culinária integral, que facilitaram a diversidade
de ofertas gastronômicas saudáveis. Com isso, este ano
surgiram quitutes como cuca integral, rosca de polvilho e
bolo integral, além de granola.
De acordo com Rozane, tamanha variedade de alimentos favoreceu a aceitação por parte das crianças, que ficaram encantadas com o colorido do prato e não tiveram
por que reclamar do sabor da comida, salientado devido ao
uso de verduras frescas. “A introdução de alimentos integrais e orgânicos foi feita de forma gradual e, principalmente, visando conquistar o paladar. Não teríamos êxito se não
apostássemos também no sabor, por isso nossas merendeiras estão tendo a oportunidade de aprender a prepará-los
de forma a serem bem recebidos”, enfatiza a especialista.
39
Apostando na
comunicação
Número 12 – Abril 2006
idiomas
Atento às transformações mundiais e à proximidade cada vez maior das pessoas de
diferentes locais, o Estado conta agora com o Multilínguas Senac. Assim, pessoas dos 8 aos
80 anos têm a chance de aprender novos idiomas, entre eles, o russo e o mandarim
40
B
om dia. Bon jour. Buenos dias. Good
morning. Estas e outras fórmulas prontas nos permitem obter informações
básicas e trocar gentilezas com pessoas de diversos lugares do mundo. Em uma economia
de mercado baseada, em grande parte, na exportação, com a abertura de novos locais para
investimentos que não se imaginava possíveis
há 25 anos, além da entrada de produtos culturais vindos de fora do país, como música, cinema e mesmo literatura, dominar uma nova
língua passa a ser exigência para qualquer um.
Buscando proporcionar esta capacitação,
o Senac-RS vem investindo na qualificação do
ensino de idiomas, através de um centro situado em Porto Alegre, que coordena as atividades das escolas de idiomas do Senac em todo
o Estado, elaborando os planos de curso, que
são, posteriormente, analisados pelo Núcleo
de Educação Profissional. Voltadas para pessoas de todas as idades, são oferecidas aulas
de inglês, espanhol, alemão, russo, mandarim
e português para estrangeiros, cursos procurados pelas mais diferentes razões. “Inglês todo
mundo procura, desde a criança até a maturidade. No mandarim, a maior parte dos alunos
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
trabalha com comércio exterior. Espanhol é muito buscado por pessoas com mais de 50 anos. Português para estrangeiros é uma mistura de nacionalidades muito bonita
de ver, e o russo é procurado, na maioria das vezes, por
descendentes, que buscam laços com o passado da família”, conta André Stein, diretor da Faculdade Senac-RS,
onde está sediado o centro.
Stein explica que a metodologia de ensino do Senac é
baseada na abordagem comunicativa, respeitando a realidade dos alunos. “Uma situação muito comum no ensino de
línguas é a introdução de diálogos entre A e B. Aqui, procuramos adaptar os diálogos, personalizando-os de acordo
com os alunos”, demonstra. Para o diretor, o segredo está
em colocar o problema frente ao aluno, para que ele o resolva. Stein também ressalta que existe a preocupação em atender os alunos com bastante cuidado, e para isto as turmas
são formadas por, no máximo, 16 pessoas. “Assim, o professor pode fazer uma avaliação continuada.”
O Multilínguas Senac também trabalha com a apropriação de competências, via habilidades como fala, escrita e entendimento da língua. Nestes aspectos, cada aluno tem um ritmo de aprendizado, e é preciso estar atento
para a diversidade na sala. A instituição não trabalha com
uma linha de marketing comum nesta área, que é a promessa de domínio da língua em pouco tempo, no estilo
“la garantia soy yo”. “Não se pode dizer ‘aprenda inglês
idiomas
Até 2003, as línguas disponibilizadas pelo Senac-RS
eram o inglês e o espanhol. No final daquele ano, a entidade fez uma pesquisa com os alunos, para descobrir quais
outros idiomas seriam interessantes. Desta forma, foram
introduzidos os cursos de alemão e russo. Já o mandarim
foi instituído a partir de uma demanda de empresários.
“Neste caso, fomos aprendendo com o curso, porque
eram poucas entidades que ofereciam esta língua, o que
acontece até hoje. É difícil encontrar um local que ofereça mandarim com seriedade. A idéia é sempre oferecer
um curso real”, diz Ariel Berti, coordenador da Formação
Inicial e Continuada de Trabalhadores, do Senac.
Hoje, cerca de 80% dos alunos da unidade localizada
no centro de Porto Alegre cursam inglês, enquanto os
outros 20% estão divididos entre as outras línguas. “Quando se trabalha com idiomas, é possível descobrir coisas
básicas a respeito do funcionamento de cada um deles,
salvo quando se fala em línguas orientais, que requerem
um enfoque completamente diferenciado”, conta. Por aspectos que são encarados com uma
ótica inversa à ocidental, e também por
motivos básicos, como as questões alfabéticas, o ensino dessas línguas é diferenciado. “Em uma primeira aula de
qualquer língua ocidental, o professor
tende a iniciar ensinando o alfabeto. No
caso das orientais, isso não é possível,
pois o alfabeto não existe! É preciso começar estudando fonemas, coisas assim.
O russo, por exemplo, mistura números
que formam fonemas”, explica Berti.
Número 12 – Abril 2006
Viabilizando know-how
O mandarim tem potencial para, em cerca
de 20 anos, se tornar tão importante quanto o
inglês é hoje. Para trabalhar com esses idiomas, o Senac-RS utiliza um software especial,
que permite converter as palavras para russo e
mandarim. “Também trabalhamos no laboratório de informática, onde os alunos podem
acessar sites da China, da Rússia ou de outros
países ”, conclui Berti.
Outro diferencial é a adaptação para alunos com necessidades especiais. O curso de
espanhol, por exemplo, é oferecido totalmente em braile, graças a um convênio com a Fundação Luiz Braile e com a editora que produz
o material didático, oferecido gratuitamente
aos alunos. Até agora, dois já concluíram o curso, e um está no nível intermediário 2. “Também nos preocupamos com a inclusão. Por
isso, estes alunos freqüentam as mesmas salas
de aula que os demais, proporcionando, além
do estudo, a sociabilidade do portador de necessidades especiais.”
Presente em 30 municípios gaúchos, o Senac revoluciona o ensino de idiomas no Estado, com uma proposta inovadora e focada nas
necessidades dos alunos.
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
em um ano’. Só se pode falar em um ano o que se aprende
neste período, e a pessoa não pode achar que vai sair
falando tudo em inglês. A estrutura de cada curso foi bem
pensada e trabalhada, pedagógica e didaticamente, para
que a apropriação das habilidades seja concreta”, afirma.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
41
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
Planejamento
Número 12 – Abril 2006
visão econômica
Marcelo S. Portugal*
42
Estratégico
Nos últimos 20 anos, a capacidade de poupança do setor
público foi seriamente abalada. Mesmo antes disso, ainda
nos anos 70, uma parte significativa da acumulação de poupança pública decorria do endividamento externo. Para
o primeiro seminário do projeto O Rio crescer em um ritmo mais acelerado temos de poupar mais,
Grande que Queremos participaram cerca de e o principal esforço tem de vir do setor público, que atu900 líderes. O objetivo é reali- almente “despoupa” (déficit público). Outro elemento funzar uma construção coletiva que se torne um damental no processo de retomada de crescimento é a meprojeto da sociedade gaúcha. Neste artigo pre- lhoria do capital humano. O investimento em educação
tendo dar a minha singela participação neste básica é crucial neste sentido. Países como a Coréia, que
investiram pesadamente em educação
processo, questionando as causas
básica de qualidade, conseguiram
do baixo crescimento e as formas
crescer mais rapidamente e atingir um
de superação.
Um elemento
grau mais adequado de eqüidade disO crescimento econômico é
fundamental no
tributiva. Em média, um trabalhador
um processo associado à acumuprocesso de retomada
brasileiro tem cerca de 6,4 anos de
lação de fatores de produção e à
é a melhoria do
estudo e aproximadamente 30% da
elevação da produtividade, de
capital
humano
população sofre de analfabetismo funforma a aumentar a capacidade
cional. Note-se, contudo, que polítiprodutiva da economia. No crescas de investimento em educação bácimento econômico de longo
prazo, a questão principal não está circunscrita sica têm muito pouco efeito sobre a taxa de crescimento
à política macroeconômica de curto prazo. Nos econômico no curto prazo. Seus efeitos positivos são obúltimos 20 anos experimentamos distintos ar- servados no longo prazo, o que desestimula políticos que
ranjos de política econômica: câmbio adminis- não conseguem enxergar além do seu próprio mandato.
O mais complicado não é fazer o diagnóstico dos protrado e juros reais baixos (1986-1993); câmbio
(quase) fixo e juros reais muito elevados (1994- blemas, mas sim conseguir gerar um consenso social que
1998); e câmbio flutuante e juros apenas eleva- permita a implementação política das soluções. Se a sociedos (1999-2005). Em todas estas experiências dade estiver convencida quanto às políticas necessárias para
a taxa de crescimento média do PIB esteve pra- elevar a capacidade de crescimento do Brasil e do Estado,
ticamente inalterada, ao redor de 2,4% ao ano. os políticos estarão dispostos a implementá-las.
N
O crescimento depende da capacidade de
poupança interna e externa, pública e privada.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
* Consultor econômico da Fecomércio-RS
Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS
Empresários e visão
Número 12 – Abril 2006
visão política
Fernando Schüler*
44
de futuro
teve dificuldades em dialogar com os demais segmentos
sociais. O setor privilegiou a negociação com os governos,
em regra sobre questões de interesse prático e imediato.
Este pragmatismo, de certo modo, faz parte da lógica da
á razões que explicam o sucesso do mo- ação empresarial, cujo foco é, e deve ser, a ação de mercado.
vimento desencadeado com a iniciativa
A Agenda representa uma mudança qualitativa neste
da Agenda Estratégica do RS – O Rio posicionamento do setor empresarial. A prioridade foi dada
Grande que Queremos. Destaco duas delas.
para o diálogo com as universidades, com entidades de
A primeira é o foco definido para o movi- representação civil e com os sindicatos laborais. O enconmento: buscar um projeto de desenvolvimento tro de março, na Fiergs, serviu como um laboratório no
de longo prazo para o Rio Grande. Há muito qual linguagens e conceitos diversos, originários de segque o Estado tem sido gerido a partir da lógica mentos muito diferentes da sociedade, se intercruzaram e
do curto prazo, que é por exceaprenderam mutuamente.
lência a lógica do sistema polítiEm resumo: pensar no longo
co. Governos são eleitos para
prazo e pensar junto com a socieO principal resultado
mandatos de quatro anos. Qualdade. Mais do que mudanças objeda Agenda deve ser
quer planejamento que extrapotivas no perfil do gasto público, no
uma
ativa
contribuição
le este horizonte tem efetivamensistema tributário ou nas políticas sena
mudança
de
nossa
te muito pouco sentido político.
toriais, o principal resultado que se
A Agenda Estratégica inverpode esperar da Agenda Estratégicultura política
te esta lógica, a partir de um moca é uma ativa contribuição na muvimento de fora – ainda que não
dança de nossa cultura política. Uma
contraposto – ao sistema político. Assim con- sociedade conservadora muito dificilmente produzirá uma
tribui para a criação de um consenso social mais elite política modernizadora. Este tem sido, em última insamplo em questões que ultrapassam limites dos tância, o dilema do Rio Grande.
interesses partidários, corporativos e setoriais,
Realizar um giro estratégico para a sociedade, recusar
de dentro e fora da máquina pública. O argu- as soluções tecnocráticas geradas de cima para baixo, tudo
mento básico é: não existe desenvolvimento isto conforma um novo perfil da liderança empresarial no
sustentável sem fixação de metas de longo prazo. Estado, que pode servir como modelo para o país.
A segunda razão é o envolvimento da comunidade. Historicamente, o setor empresarial *Consultor político da Fecomércio-RS
H
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
pesquisa
pesquisa
Tendências
positivas
Com índice ainda negativo em fevereiro, as vendas no
comércio crescem a passos lentos. Contudo, o aumento
do nível de emprego dão sinais otimistas para o setor
tada não apenas pela pesquisa do Ifep realizada no comércio, mas também pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esse acréscimo, aliado à
possível elevação do salário mínimo em abril ou maio,
deve melhorar o poder de compra da população e trazer
novo ânimo para o setor.
Variação do nível de emprego (%)
Número 12 – Abril 2006
O
s índices do comércio varejista em fevereiro deixam clara uma recuperação
lenta do setor no Rio Grande do Sul.
De acordo com a Pesquisa Conjuntural do
Comércio Varejista da Região Metropolitana
de Porto Alegre – realizada pelo Instituto Fecomércio de Pesquisa (Ifep) –, o volume de
vendas em relação ao mesmo período do
ano passado caiu 2,28%.
“O maior entrave para que o setor reverta esta situação e passe a apresentar resultados positivos é a estagnação da renda”, aponta o economista Carlos Cardoso. Mesmo com
a elevação da oferta de crédito, os consumidores têm se mostrado cautelosos, evitando
contrair dívidas. Isto também se evidencia no
fato de que as compras à vista cresceram em
fevereiro, e a taxa de inadimplência apresentou retração no período.
Um dos fatores que dá margem a perspectivas otimistas para 2006 é o aumento do
nível de emprego. Depois de uma queda preocupante de 1,57% em janeiro, os empregos
subiram 0,95% em fevereiro, índice bem superior ao do mesmo período de 2005 (0,06%).
A melhora do quadro do emprego é manifes-
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
45
pesquisa
Volume de vendas
Detalhe sobre o volume de vendas
Variação do faturamento, deflacionado pelo IPCA/IBGE –
Região: Porto Alegre.
Grupos e Classes
Fev/06 Fev/06
Acum.
de Atividades
Jan/06 Fev/05 no Ano
Comércio Geral
-8,13% -2,28% -2,16%
Bens Duráveis
5,58% -1,03% -5,39%
Utilidades Domésticas
16,57% 20,75% 23,60%
Cine-Foto-Som
-10,84% 44,20% 35,43%
Ópticas
-20,26% 14,92% 27,32%
Informática
5,52% -18,46% -26,00%
Móveis e Decorações
6,69% -6,62% -13,15%
Bens Semiduráveis
-0,76% -3,77% -0,24%
Vestuário
-13,54% 14,33% 22,47%
Tecidos
-4,94% 40,16% 36,38%
Calçados
-4,03% -19,73% -20,45%
Livraria, Papelaria e Material
de Escritório
13,44% -12,06%
-9,53%
Bens Não-Duráveis
-11,99%
2,54%
2,39%
Supermercados
-5,06% 11,82%
2,82%
Massas, Frios, Laticínios
e Açougue
-32,70% -9,26%
2,72%
Farmácias e Perfumarias
-18,72%
6,01% 15,59%
Combustíveis, Lubrificantes e GLP -15,66% -8,75%
-3,41%
Comércio Automotivo
-13,49% -7,66% -7,59%
Concessionárias de Veículos
-15,97% -7,04%
-6,06%
Autopeças
-4,37% -9,97% -13,23%
Material
de Construção
-13,74%
-7,05%
*Variação
do faturamento
deflacionado pelo
IPCA/IBGE -8,45%
– Região Porto
Alegre
Número 12 – Abril 2006
Representatividade das formas de
pagamento no faturamento
46
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
As vendas do comércio varejista, mesmo
com uma elevação na oferta de crédito, vêm
apresentando sucessivos resultados negativos. O aparente impeditivo para a decolagem
do setor é a estagnação da renda dos trabalhadores. Há sinais, porém, que transmitem
otimismo ao mercado. Um deles é a redução
sucessiva da taxa Selic: as atas das últimas
reuniões do Copom deixam claro que as reduções devem continuar ao longo dos próximos meses. Outro fator é o aumento do nível de emprego, apontado pelo Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
A variação no volume de vendas frente a
fevereiro de 2005 foi negativa em 2,28%, sendo que o único grupo que apresentou resultado positivo foi o de bens não-duráveis
(2,54%). As atividades que apresentaram os
principais resultados positivos foram Cine-fotosom (44,2%), item influenciado positivamente pelo câmbio, pois grande parte desses produtos é importada, Tecidos (40,2%) e Utilidades domésticas (20,7%), sendo que estas duas
últimas atividades têm baixo peso na composição geral do índice.
Em comparação com janeiro, a queda no
volume de venda de 8,13% não surpreende,
é um resultado natural, pois fevereiro foi o
mês do carnaval e por isso teve uma significativa redução dos dias úteis. Os ramos que
apresentaram os maiores resultados positivos
em relação a janeiro, foram Livrarias, Papelarias e Material de Escritório (13,44%), principalmente por ser período de volta às aulas, e Utilidades domésticas (16,57%).
pesquisa
Formas de pagamento
Neste mês houve visível substituição das vendas a prazo pelas vendas à vista. As compras “pagas na hora” representaram, em janeiro, 43,3% do
faturamento das empresas. Em fevereiro, esse
percentual se elevou para 45,1%. As vendas a
prazo, por sua vez, caíram de 29,5% para 25,4%.
As liquidações, tradicionais do mês de fevereiro,
certamente influenciaram para este resultado, pois,
com preços mais atrativos, os consumidores preferiram comprar à vista.
Inadimplência nos cheques
Inadimplência
Nível de emprego
O nível de emprego no comércio varejista
apresentou elevação de 0,95% no mês de fevereiro. Percentual este acima do registrado pelo Caged, cuja variação apresentada no emprego formal da Região Metropolitana de Porto Alegre
foi de 0,21%. Em nossa pesquisa, os grupos que
apresentaram melhores desempenhos foram os
de bens semiduráveis (2,83%) e material de
construção (2,16%).
Nível de emprego
Variação do nível de emprego
Grupos e Classes
Jan/06
de Atividades
Comércio Geral
-1,57%
Bens Duráveis
-3,34%
Utilidades Domésticas
-8,02%
Cine-Foto-Som
0,44%
Ópticas
-1,34%
Informática
0,15%
Móveis e Decorações
-10,91%
Bens Semiduráveis
-5,05%
Vestuário
-2,51%
Tecidos
-5,75%
Calçados
-2,72%
Livraria, Papelaria e Material de Escritório -8,91%
Bens Não-Duráveis
-0,29%
Supermercados
-0,29%
Massas, Frios, Laticínios e Açougue
-2,40%
Farmácias e Perfumarias
-1,55%
Combustíveis, Lubrificantes e GLP
0,39%
Comércio Automotivo
0,26%
Concessionárias de Veículos
0,05%
Autopeças
1,04%
Material de Construção
-1,48%
Fev/06
0,95%
0,67%
-0,99%
-0,55%
1,29%
1,76%
0,00%
2,83%
0,00%
0,00%
4,05%
4,76%
0,18%
-1,19%
0,00%
5,10%
-0,15%
0,22%
0,11%
0,63%
2,16%
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
O índice de inadimplência – que mede, em percentual, o valor total dos cheques recebidos pelas
empresas que são devolvidos e não são reavidos –
teve queda de quase um ponto percentual. Neste
mês verificou-se que houve uma queda considerável no percentual de cheques que são devolvidos:
passou de 11,6% em janeiro para 7,5% neste mês,
o que levou a uma redução no índice de inadimplência de 2,4% em janeiro para 1,6% neste mês.
Índice inferior ao apresentado, em nível nacional,
pela Serasa. Para este órgão, no mês de fevereiro,
o índice de inadimplência foi de 2,01%. Porém, as
duas pesquisas têm metodologias diferentes.
47
os últimos anos, a dinâmica de
funcionamento das empresas vem
se alterando muito rapidamente. A todo
momento, companhias abrem, fecham, se fundem, se dividem e se revolucionam tecnologicamente, e
abordagens tradicionais já não funcionam mais neste cenário. Atentas a
isto, a professora da Standford University, Kathleen M. Eisenhardt, e a
consultora empresarial Shona L. Brown lançaram o livro Estratégia Competi-
N
Livro: Estratégia Competitiva
no Limiar do Caos
Autoras: Shona L. Brown e
Kathleen M. Eisenhardt
Editoras: Meio e Mensagem/Cultrix
311 páginas
Eu recomendo
tiva no Limiar do Caos – Uma visão dinâmi“O Profeta, de
ca para as transformações corporativas.
Kalil Gibran, encerra
Na obra, as autoras usam exemplos
vários pensamentos
reais, extraídos de entrevistas com mais sobre a vida diária de
de cem administradores, para defender
cada um de nós. Vai
a idéia de que a natureza dinâmica da dos significados do trabalho do homem
mudança promove um fluxo contínuo de
como instrumento de Deus à filosofia
vantagens competitivas, fazendo com
de vida do mundo contemporâneo.
que a competição no limiar do caos ven- É uma obra atemporal de um profundo
ça o desafio da mudança. Isto traz para ensinamento espiritual sobre o homem
as empresas grandes vantagens compee a sua essência. O Profeta é antes de
titivas, por mais imprevisíveis e rápidas
tudo um poema ao poder do Amor
que sejam as mudanças dos mercados.
Universal. Sua mensagem clama pela
Voltado a gestores interessados em união entre os homens, pelo respeito a
fazer da transformação uma aliada, pas- todas as formas de vida e pela absoluta
sando a ditar o ritmo do mercado, o linecessidade de continuidade.”
vro semeia idéias criativas para tirar proIvo Nesralla
veito de situações, a princípio, caóticas.
Diretor-presidente do Instituto de Cardiologia
Cristine Rochol/Ospa
para ler
Quando o caos é um aliado no mercado
crônica
Por Moacyr Scliar
O Rio Grande que
urante muito tempo, e em muitas sociedades, o setor público e o setor privado foram separados por uma imprecisa e mutável fronteira, um terreno minado
pela desconfiança, pela hostilidade e também
pela corrupção. O conflito latente ou aberto
que neste cenário ocorria era de natureza social, econômica, cultural e até psicológica.
Duas correntes de pensamento acabaram
por emergir, cada uma com suas idéias: os
privatizantes e os estatizantes. Os primeiros partiam do princípio de que o ser humano busca fundamentalmente seus interesses e que esta busca é um estímulo para
a atividade, para a criatividade, para a competição. Os estatizantes viam na competitividade a expressão do darwinismo aplicado à sociedade, que seria assim guiada
pelo princípio da sobrevivência do mais
apto. Contra isto propunham mecanismos
de apoio aos mais fracos, aos marginalizados. Tirem o Estado de nossas costas, bradavam os privatizantes. Paguem o preço da
riqueza, respondiam os estatizantes. Um
diálogo de surdos, cujo resultado era uma
esquizofrenia social.
Esta situação inquietou e desafiou os
pensadores desde a Antigüidade. A idéia
de um contrato social, sustentada por filósofos como Locke, Rousseau e John Rawls,
D
pretendia ser uma resposta para o dilema. E era, de
fato, em teoria. O problema era, e é, transformar esta
teoria em prática. Um problema candente, cujas soluções certamente variarão de um lugar para outro.
Neste momento existe, no Rio Grande do Sul, um
movimento de aproximação entre os setores público
e privado: o projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio
Grande que Queremos. É liderado por cinco importantes
federações: Farsul, FCDL, Fecomércio-RS, Federasul e Fiergs. O projeto, que é de longo prazo, é muito promissor. A começar pelo nome: agenda é algo
que faz parte do cotidiano e que supõe uma ordenação do tempo e do esforço; com a agenda, podemos
programar tarefas de forma organizada. Estratégia,
por outro lado, é uma forma organizada de abordar
problemas. E a expressão “o Rio Grande que queremos” é eloqüente. Primeiro porque fala de um Estado que tem em sua tradição o companheirismo, a lealdade, a solidariedade. E também porque o verbo querer está aí usado na primeira pessoa do plural. Não é
“o Rio Grande que eu quero”, como diria um ditador,
não é “o Rio Grande que
vocês querem”, como diria
um demagogo. “Queremos” expressa uma vontade
partilhada, um esforço comum. Não foi de outra maneira que a humanidade resolveu seus problemas.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Número 12 – Abril 2006
queremos
49
Abril
1
A
G
E
N
D
A
Futsal em Uruguaiana
Educação em pauta
Durante todo o mês de abril,
o Sesc Uruguaiana promove a
II Copa do Trabalhador Sesc, na
modalidade futsal. Informações:
(55) 3412-4624.
O evento Educação em Pauta será
realizado no Sesc Santo Ângelo.
Informações: (55) 3312-4411.
8
Convendas
O Senac-RS participa do II Congresso Gaúcho de Vendas do Setor
Atacadista e Distribuidor com a
peça O Elevador, em Porto Alegre.
Informações: (51) 3222-4338.
Formatura
Alunos de Pós-Graduação em
Educação Ambiental e Educação
a Distância apresentam os
trabalhos de conclusão, nas
Faculdades Senac. Informações:
(51) 3212-4444.
9
Páscoa
O Sesc Montenegro, em parceria
com a prefeitura local, promove o
Domingo de Páscoa no Parque.
Informações: (51) 3649-3403.
Número 12 – Abril 2006
12
50
13
Hora de conversar
O Sesc Santa Rosa promove o
encontro Falando de Educação.
Informações: (55) 3512-6044.
FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Grêmio Aquático de Carazinho,
com o apoio do Sesc da cidade.
Informações: (54) 3331-2451.
18
Arte em metal
Feiras do livro
As unidades do Sesc iniciam feiras de
livros em Encruzilhada do Sul (13/03),
Sinimbu (18/03), Rio Pardo (24/03) e
Lajeado (28/03). Mais informações nos
Centros de Atividades do Sesc-RS.
14
Arroz e gastronomia
A Expofeira – Feira da Gastronomia
do Arroz acontece entre os dias 14 e
16 e contará com um estande institucional do Senac Camaquã. Informações: (51) 3671-0363.
17
Pintura a óleo
Segue até o dia 17/04 a exposição
da artista plástica Iris Wendland na
Sala de Exposições do Sesc Santa
Rosa. Informações: (55) 3512-6044.
Amor e ensino
A palestra Pedagogia do Amor, com o
professor Gabriel Chalita, acontece no
24
O Sesc Santa Rosa promove, até o
dia 08/05, exposição do artista
plástico Jeferson Furtado. Informações: (55) 3512-6044.
19
Música no Estado
Lançamento do Circuito Sesc de
Música Gaúcha, no Sesc Ijuí.
Informações: (55) 3332-7511.
24
Bola na quadra
De 24 a 29/04, o Sesc Santa Rosa
realiza o Campeonato Municipal
Aberto/Comerciários de Voleibol.
Informações: (55) 3512-6044.
28
Soja
Vai de 28/04 a 07/05 a Fenasoja,
em Santa Rosa, com a participação
do Senac-RS. Informações: (55)
3512-6029.
Dia e noite
Inauguração do Senac 24h, no
Shopping Lindóia, em Porto
Alegre. A cerimônia acontece à meia-noite.
Informações: (51) 9701-2591.
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