entrevista Usos e aplicações do BSC, segundo André Coutinho A B R I L 1 2 BENS & SERVIÇOS Fecomércio 2 0 0 6 Revista da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul agenda estratégica Sociedade unida pelo futuro do Rio Grande do Sul expediente Fecomércio BENS & SERVIÇOS sumário Publicação mensal do Sistema Fecomércio-RS Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul Rua Alberto Bins, 665 – 11º andar Centro – CEP 90030-142 Porto Alegre/RS – Brasil Fone: (51) 3286-5677 Fax: (51) 3286-2143 www.fecomercio-rs.org.br [email protected] 18 Presidência: Flávio Roberto Sabbadini Vice-presidência: Antônio Trevisan, Ary Costa de Souza, Darci Alves Pereira, Flávio José Gomes, Ivo José Zaffari, Jorge Ludwig Wagner, José Alceu Marconato, José Vilásio Figueiredo, Julio Ricardo Mottin, Luiz Caldas Milano, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suarez, Moacyr Schukster, Olmiro Lautert Walendorff, Renato Turk Faria, Valcir Scortegagna, Zildo De Marchi Diretoria: Adelmir Freitas Sciessere, Airto José Chiesa, Albino Arthur Brendler, Alécio Lângaro Ughini, Arnildo Eckhardt, Arno Gleisner, Carlos Raimundo Calcagnotto, Celso Ladislau Kassick, Dagoberto de Oliveira Machado, Derli Neckel, Edson Luis da Cunha, Eroci Alves dos Santos, Eugênio Arend, Francisco Amaral, Francisco de Paula Cantaluppi, Francisco José Franceschi, Gilberto Antônio Klein, Gilberto José Cremonese, Gisele Machado de Oliveira, Hans Georg Schreiber, Hélio Berneira, Hélio José Boeck, Henrique Gerchmann, Ibrahim Muhud Ahmad Mahmud, Ildoíno Pauletto, Itamar José Oliveira, Ivar Anélio Ullrich, João Francisco Micelli Vieira, João Oscar Aurélio, Joarez Miguel Venço, Joel Carlos Köbe, Joel Vieira Dadda, Jorge Alberto Macchi, Jovir Pedro Zambenedetti, Julio Roberto Lopes Martins, Lauro Fröhlich, Leonardo Ely Schreiner, Leonides Freddi, Levino Luiz Crestani, Liones Bittencourt, Lucio Flávio Bopp Gaiger, Luis Antônio Baptistella, Luis Fernando de Mello Dalé, Luis Zampieri, Luiz Alberto Rigo, Luiz Henrique Hartmann, Marcos Rodrigues, Marice Fronchetti Guidugli, Maurício Eduardo Keller, Nelson Lídio Nunes, Nilton Luiz Bozzetti, Níssio Eskenazi, Olemar Antônio F. Teixeira, Pascoal Bavaresco, Paulo Roberto Käfer, Paulo Roberto Kopschina, Paulo Saul Trindade de Souza, Regis Luiz Feldmann, Renzo Antonioli, Ricardo Machado Murillo, Ricardo Pedro Klein, Ricardo Tapia da Silva, Roberto Simon, Robson Athaydes Medeiros, Rodrigo Selbach da Silva, Rogério Fonseca, Rudolfo José Mussnich, Rui Antônio dos Santos, Sergio José Abreu Neves, Sérgio Luiz Rossi, Sérgio Roberto H. Corrêa, Sírio Sandri, Susana Gladys C. Fogliatto, Valdo Dutra Alves Nunes, Vilmar Alves Vieira, Walter Seewald Conselho Editorial: Antonio Trevisan, Derly Cunha Fialho, Everton Dalla Vecchia, Flávio Roberto Sabbadini, Ivo José Zaffari, José Paulo da Rosa, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suarez, Moacyr Schukster e Zildo De Marchi Assessoria de Comunicação: Catiúcia Ruas, Fernanda Romagnoli, Simone Barañano, Aline Guterres e Everton Ataídes. Juliana Maiesky (estagiária) Produção e Execução: Fone: (51) 3346-1194 www.tematica-rs.com.br Edição: Fernanda Reche (MTb 9474) e Svendla Chaves (MTb 9698) Reportagem: Cristiano Vieira, Marianna Senderowicz, Renata Giacobone Colaboração: Anton Karl Biedermann, Edgar Vasques, Francine de Souza, Mariana S.Thiago, Moacyr Scliar Revisão: Flávio Dotti Cesa Edição de Arte: Silvio Ribeiro Tiragem: 25 mil exemplares É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. agenda estratégica O Estado que nós queremos O projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos está traçando os rumos do Estado para os próximos anos. Uma série especial de matérias avalia as condições do Rio Grande do Sul 24 economia 28 30 gestão pública De bolso vazio O gargalo da riqueza infra-estrutura Os rumos da produção sumário guia de gestão Profissionais do futuro 32 O estágio pode ser uma boa alternativa para as empresas e também para os estudantes. Como toda relação de trabalho, no entanto, existem regras que devem ser cumpridas 7 palavra do presidente razão social notícias & negócios Parcerias pelo sorriso O programa Sorrindo para o Futuro, do Sesc-RS, vem beneficiando milhares de crianças, levando prevenção e tratamento odontológico a diversas cidades do Estado comunidade Prato cheio para a saúde 27 38 Com um projeto diferenciado de merenda saudável, a prefeitura de Dois Irmãos conseguiu melhorar o índice nutricional de seus estudantes opinião eu,empreendedor 42 44 idiomas Apostando na comunicação O Multilínguas do Senac permite que executivos, estudantes e interessados tenham acesso ao ensino de diversas línguas estrangeiras 45 pesquisa para ler Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS 36 visão econômica visão política 40 8 12 entrevista Sustentabilidade André Coutinho é diretor da Symnetics, consultoria responsável pela metodologia do projeto Agenda Estratégica do RS. Coutinho explica os fundamentos e características da ferramenta Balanced Scorecard 49 48 crônica agenda 50 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 34 6 espaço do leitor 5 espaço do leitor “Acabo de ler a revista Bens & Serviços de março de 2006. Excelente em todos os aspectos. Parabéns pelo trabalho.” David Iasnogrodski Escritor – Porto Alegre/RS “Com cordiais cumprimentos, acuso o recebimento da revista Bens & Serviços, referente ao mês de janeiro deste ano. Agradeço a gentileza do envio e ressalto a importância das matérias abarcadas nesta revista para serem co- nhecidas e debatidas no cenário jurídico nacional.” Rodrigo Tolentino de Carvalho Collaço Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros Mensagens podem ser enviadas para o e-mail [email protected], fone (51) 3284-2143, fax (51) 3346-1194 ou para Rua “Tive o prazer de receber a revista Bens & Serviços e, como sou proprietário de farmácia, encontrei ali informações importantes e fundamentais para meu crescimento profissional, bem como de meus colaboradores.” Larry Beltrame Empresário – Porto Alegre/RS Alberto Bins, 665/11° andar – Centro – CEP 90030-142 – Porto Alegre/RS, com o assunto “Revista Bens & Serviços”. Acrescente à sua carta nome completo, formação ou atividade que exerce e cidade em que reside. Por motivo de espaço, os textos poderão sofrer cortes. A paixão e a vontade to tem como base a vontade coletiva e não o interesse individual de uma minoria. É desta forma, deixando as agendas pessoais em favor da coletiva, que iremos visualizar o Rio Grande do jeito que cada gaúcho deseja. Educação, economia, segurança e todas as questões que passam pelo anseio da sociedade serão tratadas com prioridade e apresentadas aos candidatos ao governo do Estado com responsabilidade e critérios. Não tenho dúvida de que a iniciativa será um marco. No entanto, mais importante que isso, representará um ponto de partida para traçarmos o futuro do Estado, onde nossos filhos e as gerações do amanhã possam viver com mais dignidade, mais oportunidades de crescimento e melhores condições para trabalhar e gerar empregos e renda. Precisamos mudar este modelo que hoje existe e não ficar inertes a tudo o que nos desagrada. Tenho a certeza de que mais do que enriquecer os debates da próxima eleição, a iniciativa propõe mudar o curso das realizações no Rio Grande do Sul. Vamos todos desenhar o cenário desse futuro. Flávio Roberto Sabbadini Presidente do Sistema Fecomércio-RS FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS palavra do presidente P Número 12 – Abril 2006 ensar em um Estado promissor, com desenvolvimento, equilíbrio financeiro, qualidade de vida e justiça social pode parecer utópico para algumas pessoas. No entanto, o que a maioria dos gaúchos mostrou, participando do seminário do projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos foi uma visão bem mais otimista. Os 10,5 milhões de habitantes do Estado foram representados por mais de 850 líderes presentes ao encontro. O que se viu foram cidadãos conscientes de suas responsabilidades e sabedores de seus deveres. A mudança tem que ser enérgica e imediata, e, além dos propósitos que norteiam os ideais dos gaúchos, há que se ter método e paixão pelas causas. É isso que irá garantir o pleno sucesso deste projeto, cujo esforço coletivo resultou em uma grande união de idéias. Percebe-se, pela preocupação maciça da sociedade, que mesmo com os sérios problemas do Estado os esforços de todos poderão alavancar a estrutura atual. Este proje- Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS dos gaúchos 7 notícias & negócios Edgar Vasques Senac inaugura unidade nas Missões Número 12 – Abril 2006 Leandro Perasolo/Senac-RS O Senac-RS teve mais uma unidade inaugurada, desta vez em São 8 Luiz Gonzaga, na região das Missões. A nova escola possui capacidade para atender aproximadamente 110 alunos em cada turno e terá como opções de qualificação as áreas de informática, idiomas e comércio e gestão. A inauguração ocorreu no dia 17 de março e a unidade também atenderá os municípios de Bossoroca, Roque Gonzáles, São Nicolau, Caibaté, São Miguel e Santo Antônio das Missões. O investimento foi de cerca de R$ 300 mil na reestruturação do prédio e aquisição de novos equipamentos. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS O preço do turismo Pesquisa promovida pelo Ministério do Turismo apontou que 40% dos brasileiros realizam pelo menos uma viagem nacional por ano. Na apresentação do levantamento, o ministro Walfrido dos Mares Guia destacou a necessidade de se reduzirem os custos do turismo dentro do país, pois mais da metade dos turistas brasileiros que se dirigem ao exterior afirmaram que fariam viagens no Brasil se os preços fossem menores. A pesquisa também registrou um acréscimo na preferência do avião como meio de transporte, embora o carro próprio ainda seja o veículo mais usado pela população (48,5% dos entrevistados). A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas ouviu pessoas de 30 mil domicílios nas cinco regiões do país. notícias & negócios Atrações de chocolate Aniversário cultural O Sesc-RS está completando 60 anos e já definiu a programação cultural para comemorar o seu aniversário. Durante todo o ano de 2006, os trabalhadores do comércio de bens e de serviços e a comunidade em geral dos quatro cantos do Estado poderão contar com diversas atividades da área cultural. Entre os destaques, estão o Festival Palco Giratório Brasil – Porto Alegre e o projeto Rio Grande no Palco, com espetáculos teatrais gaúchos e de outros estados, atividades especiais da Orquestra Sinfônica e do Coral do Sesc e feiras do livro no interior do Rio Grande do Sul. Um CD com 12 músicas gravadas pela Orquestra Sinfônica da entidade será lançado em setembro, mês de aniversário do Sesc. Acompanhe a programação no site www.sesc-rs.com.br. com o próprio alimento. A equipe de Moda da Faculdade de Tecnologia Senac-RS ficará responsável pela produção dos “looks”. Mais informações sobre o evento no site www.chocofest.com.br. Nova incubadora da PUCRS A incubadora Raiar, vinculada à PUCRS (www.pucrs.br/agt), tem agora uma nova unidade em Viamão. Com as obras concluídas em março, o grande atrativo da unidade é o baixo custo na taxa de administração. A PUCRS promete inaugurar também um terceiro espaço no Campus de Uruguaiana, ainda no primeiro semestre. Hoje, 17 empresas estão abrigadas na Raiar Porto Alegre, somando 130 postos de trabalho e faturamento de R$ 1,6 milhão. As incubadoras têm por objetivo oportunizar estrutura para novas e pequenas empresas que se destinam a produzir inovações tecnológicas. A força das marcas Promovida pelo Jornal do Comércio e pela QualiData, a pesquisa Marcas de Quem Decide chegou à sua oitava edição, apresentando no dia 7 de março as marcas mais lembradas e preferidas pelos empresários, executivos e profissionais liberais gaúchos. A pesquisa contempla 100 categorias de produtos, serviços e empresas e aponta também, em uma categoria especial, a Grande Marca Gaúcha – neste ano tendo, pela sexta vez, a Gerdau como indicada. A cerimônia reuniu 900 empresários, executivos, profissionais liberais, publicitários, entidades e imprensa. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 Divulgação/Sesc-RS nária, workshops e ainda um desfile de moda, o Senac-RS estará presente durante toda a 12ª Chocofest, que acontece entre os dias 31 de março e 16 de abril, em Canela. Como não po- deria deixar de ser, as oficinas de culinária terão como base o chocolate, sem dúvida o alimento mais lembrado nesta época. O desfile também será inspirado no chocolate, e as vestimentas serão feitas Luiz Ávila/Divulgação JC Por meio de oficinas gratuitas de culi- 9 notícias & negócios O empresário Daniel Tevah está organizando uma missão empresarial para os Estados Unidos, a ser realizada em junho. A expectativa é levar 40 lojistas gaúchos a Miami, para conhecer o comércio local e dividir informações com empreendedores americanos. A viagem está prevista para o período de 13 a 21 de junho. Informações e reservas pelo e-mail [email protected]. Número 12 – Abril 2006 Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS Hunter em Gramado 10 O consultor norteamericano James Hunter vai participar de dois eventos em solo gaúcho no mês de maio. A terceira edição do Congresso Mundial de Administração e o Encontro Sul-Americano de Recursos Humanos (ESARH) acontecem em Gramado, entre os dias 16 e 20 do próximo mês. Hunter discutirá o conceito de “liderança servidora”, explicitado no livro O Monge e o Executivo, sucesso de vendas entre empresários e executivos. Além do consultor, também farão parte dos eventos conferencistas e palestrantes do Brasil, Chile, Colômbia, Venezuela e México. O encontro de RH ainda terá como destaque o lançamento do Prêmio ESARH 30 anos, que vai laurear práticas relacionadas a recursos humanos e responsabilidade social. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS A hora do leão Vai até o dia 28 de abril o prazo para entrega da Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física 2006 (ano-base 2005). Com o reajuste de 10% sobre a tabela do imposto, devem declarar os contribuintes que obtiveram no ano passado rendimentos tributáveis acima de R$ 13.968. Quem teve rendimentos não-tributáveis de mais de R$ 40 mil ou possuía patrimônio superior a R$ 80 mil até 31 de dezembro de 2005 também pre- cisa declarar. A declaração pode ser feita por meio de programa disponível para download no site da Receita Federal (www. receita.fazenda.gov.br), em disquete no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal, e ainda em formulários, nos Correios. Sesc inaugura 35º Centro de Atividades O Sesc-RS inaugurou, no dia 7 de março, seu 35º Centro de Atividades no Rio Grande do Sul. A cidade de Taquara, localizada no Vale do Paranhana, passou a contar com a infra-estrutura da entidade na rua Júlio de Castilhos, 2843. Com 578,74 metros quadrados, o Sesc Taquara oferece academia de ginástica (musculação, aerojump, dança e speening), biblioteca e clínica odontológica, além de serviços na área do Turismo Social e promoção de atividades recreativas e culturais. Mais informações podem ser obtidas no site www.sesc-rs.com.br. Valdemir Bitencourt/Sesc-RS Gaúchos em Miami notícias & negócios legislação Ricardo Stuckert/ABr Elias Eberhardt/Sebrae-RS O Prêmio Prefeito Empreendedor Loureiro da Silva 2005, promovido pelo Sebrae-RS, foi entregue ao prefeito de Tupandi, José Hilário Junges. Com um projeto vencedor entre os 71 inscritos para a premiação, Junges vai representar o Rio Grande do Sul na etapa final do prêmio, que está programada para ocorrer em Brasília, no dia 25 de abril. A iniciativa do Sebrae tem por objetivo destacar os administradores públicos que mais contribuíram para a criação e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas. A premiação gaúcha foi entregue pelo presidente do Sistema Fecomércio-RS e do Conselho Deliberativo do Sebrae, Flávio Sabbadini (foto). Otimismo político O Instituto QualiBest de Pesquisas On-Line, especializado em pesquisas de mercado pela internet, realizou uma enquete para conhecer a opinião de internautas de todo o país sobre a situação política do Brasil em 2005 e as expectativas para este ano. A pesquisa, realizada entre dezembro e fevereiro com 3 mil pessoas, mostrou que apesar da corrupção exposta aos brasileiros durante o segundo semestre do ano passado, boa parte dos internautas acredita na possibilidade de melhorias para este ano. A exposição da corrupção através da imprensa brasileira elevou a avaliação positiva do trabalho dos jornalistas, que recebeu notas entre 8 e 10 de 41% dos respondentes. A política externa foi bem avaliada e ainda apresenta expectativas positivas. Os impostos foram um ponto indicado como muito negativo em 2005 e não se acredita que vá melhorar em 2006, ao contrário dos salários, para os quais se espera um significativa incremento neste ano. Sistema S Conforme decreto presidencial assinado no dia 16 de março (foto), os trabalhadores deverão integrar os conselhos deliberativos do Sesc e do Senac, entre outras entidades. A inclusão é um dos resultados do Fórum Nacional do Sistema S, que trabalha para a integração dos “S”, bem como a otimização de seus serviços. Serão criados cerca de 300 assentos, em nível nacional e estadual, nos colegiados das nove instituições que integram o Sistema. Domésticas e o IR O presidente da República lançou, no dia 6 de março, a Medida Provisória 284/06, que permite que os empregadores descontem de seu Imposto de Renda o valor pago ao INSS em função da contratação de empregadas domésticas. A dedução é válida para apenas uma empregada por contribuinte, sobre o valor de um salário mínimo mensal, a partir de abril. A medida ainda deve passar pelo Congresso. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 Gestor de Tupandi é Prefeito Empreendedor 11 Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS entrevista Número 12 – Abril 2006 André Coutinho 12 Diretor da Symnetics – consultoria responsável pela metodologia do projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos –, André Coutinho é economista e atua em programas de gestão e implementação da estratégia em organizações públicas e grupos empresariais. No projeto gaúcho, Coutinho cuidará da implementação de uma ferramenta muito utilizada em sistemas de gestão: o Balanced Scorecard (BSC). FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS entrevista Investindo na sustentabilidade C o u t i n h o O Balanced Scorecard é um sistema de gestão desenvolvido nos últimos dez anos para mobilizar e alinhar uma organização em torno da implementação de suas estratégias. Os princípios desse instrumento e da Organização Focada na Estratégia dizem respeito à liderança executiva, como força comprometida com a realização de uma visão estratégica, e à tradução da estratégia de forma clara, transformando-a em objetivos, indicadores, metas e iniciativas balanceadas em várias perspectivas que contemplem aspectos financeiros e não financeiros. Tais princípios também dizem respeito ao alinhamento de todos na organização, incluindo aí acionistas, clientes, fornecedores e parceiros ao redor da estratégia, à motivação das pessoas na direção estratégica e à estratégia como um processo contínuo e permanente de controle e aprendizado. B S Quais os aspectos contemplados pela ferramenta (fluxos internos, clientes, concorrência, marketing, finanças etc)? C o u t i n h o Como a metodologia prevê uma abordagem balanceada, são incluídos, de forma holística, os vários aspectos da estratégia do negócio: objetivos e desafios B S Como um sistema de administração pode ser aplicado tanto em empresas quanto na gestão pública, considerando que o governo não tem por objetivo o lucro? C o u t i n h o A gestão focada em objetivos estratégicos também pode e deve ser aplicada na gestão pública e no terceiro setor. No caso da gestão pública, o BSC e o Mapa Estratégico fornecem às entidades maior visibilidade dos resultados dos diversos programas e projetos. No longo prazo, aumentam a probabilidade de impacto social e econômico destas FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 B S O que é e como funciona o BSC? econômico-financeiros; proposta de valor ao cliente e objetivos de mercado; foco dos processos operacionais e das atividades críticas para agregar valor ao cliente; desenvolvimento de novos negócios e da inovação para o crescimento; objetivos para implantar uma atuação socialmente responsável e voltada para a conservação do meio ambiente e objetivos para fortalecimento dos recursos humanos, de modernização da tecnologia da informação, da mudança cultural, entre outros. Se o BSC for aplicado no setor público ou em entidades sem fins lucrativos, certamente incluiremos uma perspectiva relacionada aos resultados para a sociedade e à responsabilidade financeira. 13 entrevista iniciativas: com eles é possível fazer, por exemplo, um balanço periódico dentro de uma prefeitura sobre os resultados atingidos pelos programas e projetos municipais e redirecionar esforços de forma objetiva, seja com a definição de novos projetos ou com o fortalecimento de projetos atuais. Em última instância, também se podem definir novas estratégias e novos projetos para o município. B S Qual a diferença do BSC em relação aos demais mecanismos de administração? C o u t i n h o Em relação ao orçamento, o BSC significou um avanço da administração na direção a longo prazo, aumentando, portanto, a sustentabilidade dos negócios. Além disso, trouxe melhorias claras na gestão baseada em aspectos não financeiros do negócio, como na relação com clientes, no fortalecimento da marca, nos processos, na política de pessoal e de qualidade etc. Com relação ao Plano Estratégico, o BSC foi criado para tornar os planos estratégicos mais operacionais, com maior visibilidade e compreensão para todos e com a possibilidade de ser gerenciado por uma equipe executiva. Já no que diz respeito aos sistemas da qualidade, incorporou a noção de que estratégia se faz com mudanças (novos processos, novos produtos, novos negócios, novas competências). Sob esse ponto de vista, a ferramenta traça de forma objetiva o caminho e o ritmo dessas mudanças. A gestão da qualidade, por sua vez, é fundamental para sustentar a eficiência e eficácia dos novos processos, dos novos produtos, dos novos negócios... O BSC modifica processos, enquanto a qualidade sustenta a melhoria contínua desses. B S A ferramenta auxilia na implantação de programas de qualidade? Número 12 – Abril 2006 C o u t i n h o Sem dúvida. Temos percebido que ela auxilia na definição dos focos dos programas de qualidade e produtividade. A discussão do Mapa Estratégico, por exemplo, nos leva a definir focos de processos, apontando em quais devemos ser mais competitivos, e a partir daí ficam fortalecidos os programas de qualidade (como o TQM e o 6 Sigma) em processos críticos. A grande questão colocada aos programas de qualidade é de fato se a melhoria contínua está nos levando a patamares competitivos superiores dentro de uma estratégia de negócio. 14 “A gestão focada em objetivos estratégicos pode e deve ser aplicada B S Como é o retorno da gestão com a utilização do BSC? na gestão pública e no terceiro setor.” C o u t i n h o Em um primeiro momento, o maior benefício está no alinhamento organizacional, na melhor co- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS entrevista B S Como essa ferramenta consegue avaliar numericamente objetivos não quantitativos, como a satisfação de clientes ou público? C o u t i n h o O BSC trabalha com a idéia de que, para implantar uma gestão da estratégia, é necessário cuidar dos intangíveis, como marca, tecnologias, conhecimento e competências. De fato, a gestão desses elementos é motivo de grande preocupação: nos EUA, 85% do valor das empresas corresponde a ativos intangíveis, segundo estudo recente do Brookings Institute. Já aqui no Brasil, em 2005 foi feita uma pesquisa pela Fundação Getulio Vargas sobre a percepção do investidor, que apontou os fatores não financeiros, como governança, estratégia e inovação, como mais importantes que o lucro na avaliação do valor. Desta forma, ao definir indicadores surgirão medidores mais qualitativos, como pesquisa sobre qualidade da imagem e da marca, pesquisas sobre o clima organizacional, avaliação da satisfação de clientes e análise do balanço social. A partir do Balanced Scorecard, as empresas terão, portanto, que começar a medir efetivamente os seus elementos intangíveis. B S Quais os custos para a implantação do instrumento? de consultoria. Cabe às organizações selecionarem a melhor forma de assimilar os conceitos e as práticas do Balanced Scorecard. No ano passado, a Symnetics lançou, em parceria com 15 organizações brasileiras, um livro chamado Gestão da Estratégia: experiências e lições de empresas brasileiras (Editora Campus/Elsevier). Lendo o depoimento de representantes dessas empresas, estamos todos convencidos de que investir em gestão da estratégia com o BSC é investir na sustentabilidade dos negócios. B S Esse instrumento pode ser aplicado em empresas de micro e pequeno portes? “O BSC significou um avanço da administração, aumentando a sustentabilidade dos negócios.” C o u t i n h o A metodologia está bem disseminada no Brasil através de seminários, cursos, grupos de empresas e FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 municação e na motivação e envolvimento das pessoas (sobretudo quando se sabe aonde se quer chegar). Em seguida vêm as vantagens em virtude de decisões mais acertadas, alinhadas e coerentes com a estratégia: as organização colhem benefícios significativos do ponto de vista financeiro, de mercado, de clientes e de processos. Unibanco, Companhia Siderúrgica Tubarão e Suzano Petroquímica são exemplos de organizações brasileiras que demonstraram estes resultados expressivos nos últimos anos. 15 entrevista C o u t i n h o Trata-se de uma forma interessante de explicitar as idéias dos micro e pequenos empresários sobre o negócio, visto que a estratégia costuma ficar muito na cabeça dos empreendedores. Diversas pequenas empresas têm participado de alguns de nossos cursos de capacitação na metodologia e, logo depois, acabam implantando seus mapas estratégicos. O segredo é manter o processo do BSC simples, de fácil entendimento e aplicação, senão ele pode perder força. B S De que forma o BSC envolve os integrantes de uma empresa, governo ou entidade? Os colaboradores fazem parte do processo? Número 12 – Abril 2006 C o u t i n h o A construção do BSC, que engloba o mapa estratégico de objetivos, os indicadores, metas e iniciativas, pode ser realiza- 16 “Nos EUA, 85% do valor das empresas corresponde a ativos intangíveis.” FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS da de forma ampla e participativa, como também pode estar restrita a um grupo de executivos dentro de uma empresa. No caso da Agenda Estratégica do RS, por exemplo, são 3 mil pessoas representando toda a sociedade gaúcha. Nós, da Symnetics, acreditamos no envolvimento do máximo de pessoas possível para o desenho de um Balanced Scorecard, pois é do processo de construção que nasce o compromisso com a efetiva implantação. Na construção do BSC as pessoas se sentem “proprietárias” do mapa estratégico e responsáveis pelo seu sucesso. B S Como um governo pode definir claramente seus objetivos? Por que, até hoje, há tão poucos casos de sucesso na gestão pública? C o u t i n h o Em primeiro lugar, em muitos casos faltam método e ferramentas de gestão. O setor privado administra os negócios usando metodologias como Planejamento Estratégico, BSC, Gestão da Qualidade, Benchmarking e 6 Sigma, mas o mesmo não acontece com a administração pública, que carece de gestão. Além disso, muitos dos objetivos e iniciativas da gestão pública são definidos para um horizonte de quatro anos, duração do mandato público, o que gera uma distorção, na medida em que a maioria dos programas estratégicos (em educação e infra-estrutura, por exemplo) devem produzir resultado em um horizonte acima desse prazo. O Rio Grande do Sul tem bons exemplos de gestão aplicada à administração pública, basta ver o caso da prefeitura de Porto Alegre: em 2005, o prefeito José Fogaça e seus secretários inauguraram a gestão do município com um mapa estratégico, indicadores e metas para a cidade e priorizaram os projetos e ações das secretarias municipais frente ao mapa estratégico. entrevista B S Pode-se dizer que um governo também depende de estratégias para uma boa gestão? C o u t i n h o Em gestão, os recursos financeiros, humanos e técnicos são sempre limitados. Nos governos, em especial no Rio Grande do Sul, a capacidade de investimento do Estado nunca esteve tão prejudicada. A fórmula, todos nós sabemos, é aumentar a poupança pública e privada e realizar o “choque de gestão”, tão necessário à otimização das despesas e equilíbrio das contas públicas. Mas não é só por aí. Sem estratégia, os governos vão continuar fazendo de tudo para todos e tendo como resultado “muito pouco para poucos”. Estamos falando de falta de foco, e daí entra a idéia de competitividade no governo. Precisamos tratar os municípios, regiões, estados e países como se fossem empresas competitivas. Sem foco estratégico e noção de que os serviços públicos precisam agregar valor à sociedade, continuaremos perdendo pontos no ranking de competitividade no Fórum Econômico Mundial (foram seis pontos perdidos em três anos) e nos índices de desenvolvimento humano da ONU. B S É possível traçar cenários e objetivos para daqui a duas décadas usando o BSC? C o u t i n h o A Shell, por exemplo, define objetivos e metas para 30 anos, enquanto a Irlanda e a Coréia do Sul mobilizaram sociedade e governo para definir estratégias para 20 anos. Quanto maior o espaço de tempo para realização das metas, maior a necessidade de articulação, compromisso e fortalecimento da liderança. No caso do projeto gaúcho, isto será feito com a criação de uma ONG, que servirá como observatório do desempenho econômico e social do Estado, além de ter o papel de órgão articulador de propostas e ações para um Rio Grande do Sul melhor. C o u t i n h o Ele será a base de um sistema de monitoramento permanente e sistemático do desempenho econômico e social do Estado. O projeto Agenda Estratégica do RS prevê a criação de uma governança apropriada para articulação e monitoramento dos indicadores e ações de longo prazo, como através de uma ONG, de um Conselho e de Fóruns Temáticos. A cobrança por resultados, a prestação de contas e a pressão da sociedade serão definitivas a partir deste sistema de gestão, que tem como princípios transparência de resultados, inclusão da sociedade na formulação e gestão e existência de uma metodologia, que seria o próprio Balanced Scorecard. “Quanto maior o espaço de tempo para realização das metas, maior a necessidade de articulação.” FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 B S Qual o uso do BSC na Agenda Estratégica do RS? 17 Número 12 – Abril 2006 agenda estratégica agenda estratégica 18 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS agenda estratégica O Estado que nós queremos Por Marianna Senderowicz e Cristiano Vieira os dias 8 e 9 de março, Porto Alegre foi sede de uma iniciativa histórica para o crescimento do Estado, dentro do projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos. Quase 900 pessoas estiveram reunidas, durante dois dias inteiros, para analisar os pontos fracos da economia gaúcha e discutir ações que podem alavancar a volta do crescimento na região. A partir daí, diversos grupos de trabalho foram montados com a função de definir caminhos para alcançar as metas estipuladas durante os debates. As alternativas apontadas pelos participantes se transformarão em uma agenda estratégica que deve ser concluída em agosto e entregue aos candidatos ao governo do Estado. ”Estamos começando um processo de mudança”, celebrou o presidente da Fiergs, Paulo Tigre, na abertura do evento. A mobilização, que surgiu principalmente devido ao fraco desempenho da economia estadual no último ano, está provando que não apenas os empresários, mas toda a população gaúcha está cansada de esperar por ações que resultem em uma melhoria das condições de vida no Rio Grande do Sul. “Precisamos de um novo modelo de governabilidade e de gestão, e para isso a sociedade tem um N papel decisivo, porque quando ela se organiza todos ganham”, declara o deputado Vilson Covatti. “O que precisaremos é de um Poder Executivo que tenha coragem para colocar essa agenda em prática”, complementa o presidente da Federasul, Paulo Afonso Feijó. Para o vice-prefeito de Gravataí, Décio Vicente Becker, a iniciativa já nasceu vitoriosa por superar os entraves entre o público e o privado: “Se tivéssemos uma gestão pública mais próxima do que acontece no setor empresarial, certamente teríamos outros rumos neste país. Enquanto entes públicos, temos que aprender muito com a iniciativa privada”, sugere o político. “O Rio Grande que queremos está começando com a participação de toda a sociedade gaúcha. Estamos todos incentivados e ninguém mais quer receber pacotes prontos. Então, através desse esforço que começa agora, diremos aos nossos governantes o que a sociedade gaúcha quer”, concorda Mauro Bessa, presidente da FCDL. Alessandra Schneider, coordenadora do Escritório Antena da Unesco no Rio Grande FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 A conscientização de que o desenvolvimento do Estado pode partir da própria sociedade foi o grande mote do evento que abriu a discussão sobre o Rio Grande do Sul que queremos para os próximos 15 anos 19 Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS agenda estratégica fatores como educação, saneamento e saúde pública, que afetam diretamente a geração de renda e, por conseqüência, a economia de uma forma geral. Estamos presenciando uma situação de falência financeira”, analisa Tiago Wickstrom Alves, professor de economia da Unisinos. “Não existe governo no mundo que resolva sozinho as questões mais importantes para o desenvolvimento humano e social de sua população. É decisiva a contribuição da sociedade civil para a ampliação dos programas governamentais, para sua capilaridade e sustentabilidade”, completa Alessandra. do Sul, também elogia o interesse da sociedade em participar do desenvolvimento estadual: “A integração da sociedade nas mais diversas formas, seja como ONGs, por meio do voluntariado ou de iniciativas comunitárias locais, tem contribuído para a criação e manutenção de políticas públicas que mudaram a história para melhor”. Além da necessidade de se atingir a autosuficiência de energia, de reduzir a carga tributária, de encontrar alternativas para a desvalorização do dólar e de aumentar a renda per capita dos gaúchos, um dos temas mais debatidos durante o evento foi a importância do desenvolvimento humano para um Rio Grande do Sul mais forte. “O grande problema do Estado é a falta de investimento em A ilusão dos índices O Rio Grande do Sul é considerado a quarta economia do Brasil pelo tamanho de seu Produto Interno Bruto (PIB), que atingiu a cifra de R$ 152,7 bilhões em 2000, correspondendo a 7,8% do valor nacional. Para encher ainda mais os olhos, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, o Estado melhorou suas posições na última década, passando de 0,753 em 1991 para 0,814 em 2000 (quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida). Considerando a média mensal das pessoas com rendimento, teríamos a quinta melhor do Brasil, com um valor de R$ 799,85, acima da média nacional de R$ 768,83. Entretanto, esses números não estão sendo sentidos por quem depende deles e têm se mostrado inverossímeis no dia-a-dia: dados da Fiergs apontam que, devido ao câmbio e à quebra na safra, o Índice de Desempenho Número 12 – Abril 2006 Este é o nosso Rio Grande “Se o governo investir junto conosco, empresários, trabalhadores e ONGs na busca por um novo pacto federativo que acabe com a concentração de renda na União, acho que vamos avançar na luta contra a falência do Estado.” Cláudio Janta, presidente da Força Sindical do RS “Acredito que o Estado precisa voltar a ser referência em educação, como já foi há muito tempo, valorizando mais o ensino e replanejando todo o sistema educacional. Para isso, uma boa atitude seria aumentar o número de escolas técnicas.” Arlene Lubianca, arquiteta FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS 20 “Certamente podemos melhorar a saúde e a educação básica, que são os fulcros do desenvolvimento, e acho que nos próximos anos o Estado e o governo deveriam fornecer uma educação continuada para todos, porque isso é qualidade, inovação e progresso, que é o que queremos.” Joaquim Clotet, reitor da PUCRS agenda estratégica Em busca do remédio Na saúde pública, a situação também preocupa: filas, sucateamento de hospitais e falta de médicos e de leitos Esperança para o Estado “Saí do Rio Grande do Sul em 1999 porque, pelo meu ponto de vista, o Estado vinha se tornando um local de poucas oportunidades de crescimento para quem quisesse empreender. Era tudo muito difícil, ao mesmo tempo em que outras regiões do país acenavam com possibilidades muito melhores, como no CentroOeste, onde moro atualmente. Hoje, depois de mais de cinco anos fora, vejo nessa iniciativa de Agenda Estratégica o resgate da índole mais empreendedora e da força pragmática que pode levar o Rio Grande do Sul a se tornar, um dia, um Estado de alto crescimento econômico. A idéia é excelente, mas ainda sou cético em relação ao sucesso que ela pode provocar. O grande desafio é ultrapassar a parte mais fácil, que foi reunir mais de 800 pessoas, e chegar a um acordo. O difícil é exatamente cumprir esse acordo.” Eduardo Starosta, economista fazem parte da rotina de quem não tem condições de pagar pelo serviço particular: pacientes precisam ser transferidos de cidade em busca de atendimento médico e vários são obrigados a voltar para casa sem qualquer esclarecimento. Aliado a isso, faltam remédios nos postos de saúde e crianças crescem desnutridas por falta de orientação aos pais e por problemas de saneamento básico. Há alguns anos, a saúde era o setor que mais se destacava no Índice de Desenvol- “Precisamos investir em tecnologia para a produção de alimentos, papel para o qual o Rio Grande do Sul tem tradição. São necessários grandes investimentos para buscar esse caminho através da biotecnologia, para inibir o uso de venenos, aumentar a produtividade e eliminar os fatores adversos ao desenvolvimento da agricultura e da “O Rio Grande do Sul tem muita facilidade de olhar no agropecuária gaúchas.” retrovisor, ver o passado. Isso é importante como Almir Rebello, presidente do Clube de cultura, mas não nos leva longe: mais urgente é “Para impulsionar o desenvolvimento do Estado é preciso investir mais adequadamente em educação e infra-estrutura, reduzir a carga tributária e dar mais segurança à população. Temos que iniciar já, porque estamos crescendo menos que o resto do mundo.” Valter José Potter, presidente da Federarroz vislumbrar o que vem pela frente.” Alfredo Fedrizzi, publicitário Amigos da Terra de Tupanciretã e vicepresidente do sindicato rural FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 Industrial do Rio Grande do Sul caiu 5% em 2005, enquanto o déficit nas contas públicas chegou a R$ 755 milhões no ano passado. “Para voltar a crescer, o Estado precisa encontrar uma forma de desatrelar a sua economia do câmbio. E o Brasil deve se preocupar em elevar o seu nível de poupança interna”, argumenta o economista Marcelo Portugal, que palestrou na abertura do projeto. “Não podemos mais suportar um governo que só gasta e não retribui o que repassamos para ele”, desabafa Anton Karl Biedermann, presidente do Conselho de Administração da Pólo RS. “Estamos vivenciando uma série de problemas, mas o principal, para mim, é a educação”, acrescenta, lembrando que o sistema de ensino brasileiro está cada vez mais longe do que queremos. “Se não nos dermos conta da importância da educação de qualidade, continuaremos primando o ensino excludente e gerando uma sociedade também excludente”, afirma Iara Wortmann. “O aluno tem que ter disponível um conhecimento que lhe possibilite ser um empreendedor. Esse é o grande mote que temos que ter na educação”, acredita a ex-secretária da Educação, segundo a qual é premente a necessidade de se criar um modelo de escola em que o aluno aprenda a pensar, em vez de apenas reproduzir o que ouve do professor ou lê nos livros. “Se não conseguirmos isso em pleno século 21, não teremos mais solução.” 21 agenda estratégica Número 12 – Abril 2006 vimento Sócio-Econômico do Estado (Idese), mas em 2001 e 2002 (últimos anos de medição até agora) os números começaram a cair. Em 2001, de 0,853 para 0,848 (0,51%), e em 2002 para 0,844 (0,45%). Se o problema fosse a falta de recursos, seria mais compreensível. Entretanto, muitas vezes o dinheiro existe, mas a falta de planejamento e de controle adequado prejudica a manutenção das unidades de saúde e não contribui para a qualificação dos profissionais, além de sobrecarregar o atendimento em algumas comunidades devido à incapacidade de outras de atender às suas demandas ambulatoriais ou hospitalares. “Vejo o Rio Grande do Sul como um expoente nacional na assistência da saúde e não percebo nenhum outro Estado com o nosso nível de prestadores de serviço em nível ambulatorial, laboratorial e hospitalar. Se tivéssemos condições de ter um secretário para administrar única e exclusivamente o SUS, teríamos resultados muito melhores”, afirma o deputado estadual Pedro Westphalen. 22 No caso do saneamento, o fornecimento no Estado está quase totalizado, apesar de registrarmos uma perda de aproximadamente 40% da água canalizada, contra uma média internacional de 15%. Fora isso, cerca de 80% dos municípios gaúchos enfrentam problemas com água e esgoto, apenas 10% do esgoto é tratado adequadamente e 90% dos dejetos acabam nos mananciais, segundo dados da Famurs. Como conseqüência, a população coleciona casos de diarréia e parasitoses intestinais que podem chegar à desidratação, principalmente em crianças. Com a mão na massa “Os indicadores brutos até mostram que as coisas estão andando, mas se entrarmos em detalhes vamos ver que as condições de vida não são as melhores. O investimento federal na agricultura familiar, por exemplo, foi muito significativo, assim como a criação dos programas assistenciais são esforços importantes, mas muito pequenos ainda para tirar as pessoas da miséria e dar condições para o desenvolvimento. Mas o que vemos na vida real é que não devemos idolatrar um número, e sim analisar o que está acontecendo para reverter o problema”, ensina o sociólogo técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Salvatore Santagada. “Uma questão-chave para fazer avançar o desenvolvimento humano é o compartilhamento de responsabilidades e a busca de sinergia entre os três setores: o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil, valorizando a “Há necessidade de se desenvolver a poupança pública e também a privada, além de se resolver o problema da carga tributária, que é extremamente significativa e compromete em certa medida o crescimento estadual.” Anízio Pires Gavião Filho, procurador de Justiça “Nunca se propôs, explicitamente, um movimento tão amplo de negociação e de discussão. Acho que esse é um processo longo, mas todo processo longo exige um primeiro passo.” Marcos Rolim, ex-deputado e consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS “O Estado tem um potencial enorme de desenvolvimento, que precisa ser viabilizado de maneira equilibrada e com uma política forte de crescimento da indústria, porque essa é a maneira de buscarmos a inclusão social.” Francisco Antonio Brandão, secretário-substituto de Energia, Minas e Comunicações a g e n doa Estado estratégica Prioridades para Os 11 temas estratégicos priorizados durante o evento são: 1) Desenvolvimento do Mercado Interno e Exportações 2) Inovação e Tecnologia (Pesquisa e Desenvolvimento) 3) Meio Ambiente/Responsabilidade Social 4) Desenvolvimento de Setores Econômicos Estratégicos 5) Gestão Pública e Reforma do Estado (Equilíbrio fiscal/Capacidade de investimento/Transparência/Poupança Pública e Privada) 6) Planejamento Estratégico/Qualidade/Gestão/Competitividade 7) Ambiente Institucional (Carga Tributária/Justiça e Ética/Segurança Pública/Políticas Agrícolas) 8) Educação (Melhoria da qualidade/Aproximação entre empresas e centros de pesquisas/Escolas técnicas) 9) Infra-Estrutura (Matriz Energética/Logística) 10) Saúde e Habitação 11) Liderança e Cidadania (Participação da sociedade civil/ governança/representação política) Entre esses temas, três foram identificados como objetivos: 1) Qualidade de vida – não há crescimento econômico sem o social 2) Crescimento econômico – o Estado precisa voltar a inspirar confiança para novos investimentos 3) Eqüidade regional e social – o desenvolvimento precisa beneficiar todos os gaúchos ”Precisamos investir em educação, não há desenvolvimento sem educação. Melhorar a qualidade do ensino básico e aumentar a oferta do ensino superior. O Rio Grande do Sul tem as melhores universidades do Brasil, esse é um grande diferencial competitivo.” Jairo Jorge da Silva, secretário executivo do MEC “Para que possa haver uma transformação, é preciso criar uma visão abrangente que possa envolver empresários, trabalhadores e cidadãos em prol de uma agenda comum. É preciso uma uma visão instigante que toque a todos, sem exceção.” Ângela Baldino, secretária do Turismo de Porto Alegre “A questão tributária é fundamental. Se não mudarmos a maneira de cobrar os impostos, vamos continuar remando sem sair do lugar. Este planejamento estratégico vai propor, certamente, que haja uma folga maior para o consumidor, que é quem paga a conta dos tributos.” Fernando Bertuol, presidente da Associação da Classe Média de Porto Alegre FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 cultura e as ações locais e evitando políticas públicas pasteurizadoras”, analisa a representante da Unesco. Uma ONG está sendo criada pelo projeto da Agenda Estratégica para acompanhar as metas de desenvolvimento do Estado apontadas pelos participantes. A entidade terá o mesmo nome utilizado para designar o encontro. “A ONG O Rio Grande que Queremos trabalhará no monitoramento e na transparência para a sociedade civil”, enfatiza o presidente do sistema Fecomércio-RS, Flávio Sabbadini. Para ampliar ainda mais a participação da sociedade na construção de uma agenda estratégica para o Rio Grande do Sul entre 2006 e 2020, o projeto disponibiliza no site do movimento (www.agendars2020.org.com.br) um Fórum de Debates. No link, as pessoas podem opinar sobre os principais temas que estão sendo tratados na Agenda e que foram levantados durante o primeiro encontro coletivo. Além disso, a comunidade também pode enviar sugestões para a Caixa Postal 7010, Porto Alegre, RS, CEP 91110-970 e participar do Banco de Idéias do site, agregando sugestões aos documentos produzidos durante a abertura do projeto. “Nós, presidentes das federações, cumprimos o nosso papel de mobilizar a sociedade e setores da economia gaúcha para iniciarmos um trabalho. As propostas, do nosso ponto de vista, não deverão se pautar exclusivamente em análises de governos passados. Não vamos fazer críticas ou procurar culpados, queremos é pensar no futuro”, conclui o presidente da Farsul, Carlos Sperotto. 23 Número 12 – Abril 2006 RP2 Fotografia agenda estratégica 24 Apesar dos índices que apontam o desenvolvimento humano gaúcho como um dos mais altos do Brasil e da colocação do Estado como a quarta economia nacional, o Rio Grande do Sul continua dando sinais de enfraquecimento e tirando o sono da população e dos empresários De bolso vazio É melhor você respirar fundo antes de ler esta matéria, porque o que vem pela frente não é nada animador e prova que a sociedade gaúcha precisará de muito trabalho para remediar a economia estadual. Os últimos 12 meses têm sido marcados pela queda no Produto Interno Bruto (PIB), pela redução das exportações e pelo decréscimo do desenvolvimento industrial, sem falar no resultado direto no bolso da população: diminuição do poder aquisitivo e, conseqüentemente, da qualidade de vida. Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE), o Produto Inter- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS no Bruto gaúcho sofreu uma queda de 4,8% em 2005, atingindo o valor de R$ 152,7 bilhões. O PIB per capita, por sua vez, decresceu 5,8%, alcançando R$ 14,1 mil. Isso significa que a movimentação financeira do ano passado só não caiu mais que a de 1990 (-6,6%) e de 1995 (-5,0%). Para piorar o problema, a soma do valor das exportações nos dois primeiros meses de 2006 diminuiu quase 8% em comparação ao mesmo período de 2005, totalizando US$ 1,37 bilhão, contra US$ 1,48 bilhão em janeiro e fevereiro do ano passado. E os números da indústria, cujos prejuízos foram causados principalmente por quem antes sustentava o setor, apontam um decréscimo de 2% no total de janeiro, mês em que o setor gaúcho caiu pela quinta vez consecutiva, conforme pesquisa do IBGE. agenda estratégica Onde está o problema? De acordo com a pesquisa da FEE, o setor agropecuário, com uma participação de 15,93% na economia estadual em 2004, foi o destaque negativo de 2005, com uma queda em seu VAB estimada em 15,2%. Isso porque, pelo segundo ano consecutivo, o Estado foi atingido por uma estiagem, afetando diretamente as culturas de lavoura e, por tabela, a indústria de máquinas agrícolas. Já o setor de serviços foi o mais estável em comparação a 2004, apresentando uma taxa de -0,5% no total. Para o coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Fundação, a grande responsável pelo enfraquecimento da economia gaúcha é a desigualdade de desempenho, seja no plano regional ou no setorial. “Algumas regiões vão muito bem, especialmente o Nordeste e, em particular, a Serra. A Metade Sul, por outro lado, vai mal há tempos, é um problema secular”, analisa o economista. “Esse problema tem a ver com a má distribuição da terra, com a falta de diversificação produtiva, com a concentração de renda e com os padrões de sociabilidade, pois quando as principais culturas da região, como a pecuária de corte e o arroz, foram perdendo competitividade, não houve uma iniciativa empresarial para substituir ou diversificar.” Somente pela seca dos dois últimos verões, as lavouras registraram decréscimos generalizados dentro do Estado. De acordo com a FEE, das 14 culturas investigadas, 13 apresentaram queda na produção, destacando-se o milho (-56%), a soja (-55,9%), o trigo (-20,1%), o fumo (-10,9%), a mandioca (-8,8%) e o arroz (-3,7%). Sob essa perspectiva, aliada à crescente desvalorização do dólar, o setor de máquinas agrícolas não calcula grandes lucros para este ano: nos dois primeiros meses de 2006, as exportações de máquinas e equipamentos tiveram queda de 20% em relação a igual período de 2005, sendo que, entre janeiro e maio do ano passado, o setor já registrava 2 mil demissões. economia FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 Somente na produção de máquinas e equipamentos, que eram uma das alavancas industriais no Estado, o IBGE indica uma diminuição de 19,8% no primeiro mês de 2006. Essa porcentagem, juntamente com a redução de 18,5% no refino de petróleo e produção de álcool e de 5,1% na produção de calçados e artigos de couro, fez com que o Rio Grande do Sul fosse o segundo estado com maior queda na indústria em 2005, perdendo apenas para o Paraná. Analisando o desempenho total do ano passado, a indústria também registrou um desempenho negativo de 4,8% em contraste com 2004, quando teve um crescimento de 6,4% em seu Valor Adicionado Bruto (VAB). “Apesar de tantas quedas em relação aos anos anteriores, de uma maneira geral o Rio Grande do Sul exibe um desempenho relativamente bom dentro do país. Temos mantido a nossa participação na economia nacional, fato que não é trivial, devido ao aumento da participação de áreas do Centro-Oeste. Acontece que, com o processo de abertura comercial generalizada, acabamos perdendo algum espaço competitivo, especialmente para as regiões Sudeste e Nordeste, e um conjunto de setores afetado pela concorrência não está conseguindo sobreviver”, afirma o coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da FEE, Carlos Aguedo Paiva. O economista cita como exemplo as indústrias conserveiras de Pelotas, que produziam uma grande diversificação de enlatados, mas agora sofrem com a competição. “Os setores pecuário e arrozeiro da Metade Sul também vêm sentindo as conseqüências da integração com o Mercosul. Claro que tem a ver com a carga tributária nacional, que hoje em dia é uma das mais altas do mundo, mas não é só isso. Quando se trata de produtos de exportação, por exemplo, os nossos impostos são praticamente zerados. O problema é que a nossa produção pecuária e arrozeira é pouco competitiva, tendo em vista as condições da região do Prata ou do Centro-Oeste.” 25 Número 12 – Abril 2006 agenda estratégica 26 “A agropecuária é a base econômica de 70% dos municípios gaúchos. Registrando um baque como esse, causado por um motivo isolado e passível de ser prevenido, afeta mais da metade dos municípios e, por conseqüência, o resto da economia gaúcha. O problema também atinge a área social, porque as pessoas deixam de vender e de receber, perdem seu poder aquisitivo, se endividam e fazem parar de girar a economia”, ressalta Rafael Bernardini, pesquisador da FEE. “Podemos até ser a quarta economia do Brasil, mas a distribuição de renda não se modificou quase nada”, observa Salvatore Santagada, sociólogo técnico que também trabalha na FEE. “Nota-se um pequeno aumento da distribuição entre os mais pobres, enquanto a classe média acabou perdendo renda”, comenta. Segundo ele, os últimos dez anos registraram um favorecimento político a setores que não ajudam no desenvolvimento estadual e são voltados para o pagamento de contas internas e externas. “Em vez de se dar prioridade ao setor produtivo, o que notamos é o favorecimento do sistema bancário e financeiro, porque tudo gira em torno de conseguirmos pagar o débito que já chega a R$ 1 trilhão. Quando o esforço do governo está focado em manter juros altos para pagar os próprios juros, se entra em círculo vicioso, e isso afasta muitos dos investimentos que poderiam ser canalizados para gerar mais empregos. É inevitável que uma parte da população brasileira esteja muito mal”, lamenta o sociólogo. “O Estado está ruim, sim. O fato de uma economia cair 5% de um ano para outro não pode ser um ponto excluído no momento de se medir a qualidade de uma região”, acrescenta Bernardini. “O mercado já se mostra altamente globalizado, e o governo, para piorar, manFECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS tém a política de controle da inflação em cima do câmbio. Para uma economia como a nossa, que é muito dependente das exportações, essa é uma decisão mortal”, concorda Paiva, que vai mais longe: “Muitos pensam que o problema do Estado também é a baixa poupança interna, mas temos uma taxa de poupança superior à nacional e financiamos atividades no resto do país, o que significa dizer que financiamos os compradores externos. O que falta, na verdade, é ter horizontes para investir aqui dentro, recanalizando a poupança para dentro do Estado”. Investimentos equivocados Para Paiva, as empresas e os agentes internos que estão com um desempenho favorável vendem para outros países e estados e, quando recebem o pagamento, fazem inversões financeiras que ficam no centro do país, porque não têm perspectivas de retorno em investimentos locais. Talvez por isso, no ano passado, as contas públicas tenham apresentado um déficit de R$ 755 milhões, deixando o Rio Grande do Sul na frente apenas do Piauí quando se trata de capacidade de investimento. “Precisamos de perspectivas de lucro que mereçam inversão, e não de um aumento na poupança interna em si. Seu eu fosse um empresário de calçados, por exemplo, não reinvestiria hoje, e isso acaba gerando um círculo vicioso que deveria ser virtuoso: se houvesse mais investimentos, teríamos mais desenvolvimento. Entretanto, não há mais desenvolvimento porque não há onde investir.” De acordo com o economista, para que essa perspectiva volte a aparecer é preciso que haja condições de competir de novo no mercado mundial e nacional, com uma produção mais ampla. “A sociedade civil tem que tomar consciência dos seus interesses estratégicos e sair em defesa deles. O governo, por sua vez, poderia identificar alguns pontos de estrangulamento e fazer políticas dirigidas para o enfrentamento desses pontos, só que o governo do Estado, que tem o maior interesse, trabalha com limitação fiscal. E o federal, que não tem feito uma política industrial ativa, adota um pensamento do tipo ‘que sobrevivam os mais fortes’”. Número 12 – Abril 2006 agenda estratégica FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS 27 Número 12 – Abril 2006 agenda estratégica 28 O gigantismo estatal do Rio Grande do Sul consome grande parte das receitas públicas, reduzindo a capacidade de investimento e aumentando a cobrança tributária. É preciso um choque de gestão para colocar o Estado de volta nos trilhos O gargalo da riqueza U m dos quatro estados mais ricos do Brasil, o Rio Grande do Sul também possui uma das maiores máquinas administrativas, gerando despesas cada vez maiores com pessoal e manutenção da estrutura. O gigantismo estatal compromete a capacidade de investimento e reduz a qualidade dos serviços. Os tributos são os principais componentes na receita do Estado. Em 2005, o governo encerrou o ano com uma arrecadação recorde de R$ 11,3 bilhões. O desempenho significa um crescimento nominal – sem descontar a inflação – de 18% em relação a 2004, quando o Poder Executivo elevou o ICMS para o ano seguinte, resultando em incremen- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS to na arrecadação do imposto de R$ 400 milhões no fim do exercício. A elevação das alíquotas ajuda a cobrir os R$ 350 milhões que o Estado reclama ter perdido com a estiagem. O resultado possibilitou que a Secretaria da Fazenda não precisasse repetir a antecipação do pagamento do ICMS de janeiro e também significou mais dinheiro para os prefeitos. Apesar dos números aparentemente satisfatórios, quando se analisa a outra ponta, a dos resultados finais, o cenário é preocupante: a economia gaúcha sofreu uma queda de 4,8% no PIB em 2005. Especialistas deduzem que, mesmo com a elevação na arrecadação, o Estado gasta mal. “Depois do Plano Real, as despesas estaduais cresceram, fazendo com que o Estado se tornasse agressivo na cobrança tributária para compensar o desequilíbrio financeiro”, explica o tributarista Ivar Piazzeta, da Pactum Con- agenda estratégica Choque de gestão Piazzeta cita como exemplo administrativo o caso de Minas Gerais, Estado no qual o governador Aécio Neves aplicou um choque de gestão para colocar as finanças em ordem. Houve diminuição do número de secretarias de 21 para 15, extinção de superintendências e diretorias, totalizando um corte de 3 mil cargos de confiança. Reduziram-se os vencimentos do governador, estabelecendose um teto salarial menor para o Poder Executivo, e, com o combate às fraudes, a despesa com pessoal foi reduzida de 72% para 59% da receita corrente líquida. A criatividade gerencial colocou em marcha programas para premiar os contribuintes que estão em dia com suas obrigações com o Fisco, evitando assim a sonegação. “O governador Aécio conseguiu na Assembléia Legislativa a aprovação de uma lei delegada, um instrumento constitucional que autoriza o Executivo a implementar certas reformas”, esclarece Piazzeta. Ele ressalta que o governo gaúcho já aplicou medidas como redução de secretarias, mas foram insuficientes porque há limitações constitucionais para realizar mudanças mais profundas, que exigiriam alterações na estrutura administrativa pública. “Precisamos aqui de uma revolução gerencial, uma reengenharia para ordenar o funcionamento do Estado”, sugere Piazzeta. Ele observa que os governantes estão anestesiados perante a crise que atinge um dos setores historicamente mais competitivos da economia gaúcha: a indústria calçadista, dizimada devido à concorrência com o produto chinês. Para Piazzeta, uma alternativa seria a criação de uma zona franca do calçado, com desoneração tributária e incentivos trabalhistas, com os quais a mão-de-obra estaria livre das contribuições que pesam na contratação. “São necessárias normas federais para um empreendimento assim, mas é disso que precisamos: medidas criativas que exigem coragem e determinação para executá-las”, alerta o advogado. Piazzeta explica que, na visão dele, o Rio Grande que queremos tem uma séria barreira a ser vencida: a desunião histórica, que coloca as posições político-partidárias acima dos interesses econômico e social. “Os mineiros conseguiram se unir, e nós corremos o risco, por constrangimento político, de ficar para trás”. Para o secretário do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Luis Roberto Ponte, o Estado tem priorizado ações de fomento ao desenvolvimento, como a receptividade aos megaempreendimentos empresariais que estão aportando em solo gaúcho, como Stora Enso e Votorantim (celulose), Ventos do Sul (energia), SAP (tecnologia) e Embaré (laticínios). Nos últimos três anos, segundo a Sedai, foram anunciados mais de 200 empreendimentos privados, com investimentos da ordem de R$ 30 bilhões, que devem gerar cerca de 50 mil empregos diretos. No geral, a economia gaúcha apresenta alguns sinais de melhora, como o superávit primário de 2005, que foi o maior da história fiscal do Estado, tendo chegado a R$ 500 milhões. Também a relação entre a dívida pública e o PIB está mais positiva, pois caiu de 22,6%, em 2002, para 19,4%, em 2004. Mas há necessidade de um esforço maior, contínuo – que não se limite a um governo –, objetivando o equilíbrio das finanças públicas do Estado, que deve ser conjugado com aumento nos investimentos públicos e maior qualidade nos serviços. “O desequilíbrio fiscal do Rio Grande do Sul, acumulado por antigas legislações que implantaram privilégios, intumesceram a estrutura e estabeleceram grande precocidade nas aposentadorias, só pode ser superado, paulatinamente, com as medidas corretas para a redução dos gastos e o aumento da produção”, completa Ponte. gestão pública FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 sultoria, salientando que as exportações são um dos motores responsáveis pelo crescimento de qualquer governo. Um dos maiores estados exportadores, o Rio Grande do Sul luta para incluir no orçamento federal de 2006 a compensação dos R$ 900 milhões a que o Estado tem direito, segundo a Lei Kandir, e que ainda estão bloqueados. No total, a União deve R$ 5,2 bilhões aos estados exportadores. 29 João Paulo/Porto do Rio Grande agenda estratégica Número 12 – Abril 2006 Os rumos da 30 Disputas políticas prejudicam os investimentos nas rodovias federais, mas setores como energia, portos e aeroportos melhoram a competitividade na logística do Estado produção O consenso é geral: sem adequada infraestrutura, não há desenvolvimento. Para o setor produtivo, o incremento nas receitas depende das rodovias, aeroportos, portos e do abastecimento energético. Conforme dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), todos os estados sofrem com a precariedade da infra-estrutura. O que varia é a natureza dos gargalos. As estradas esburacadas são um problema generalizado, mas em algumas regiões o problema ainda é maior: as rodovias do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste se encontram em situação bem mais precária que as do Sudeste e do Sul. Mesmo FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS assim, a concentração industrial no centro-sul do país exige investimentos constantes em infra-estrutura, devido à forte demanda logística. Um imbróglio que se arrasta desde 2002 é a concessão de 2 mil quilômetros de estradas federais para o Estado, que deveria realizar obras de manutenção e conservação nos trechos. A União repassou R$ 258 milhões para o governo gaúcho, que utilizou o montante para pagamento do 13º salário do funcionalismo. Como as obras não foram executadas, o Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes (DNIT) suspendeu os investimentos na recuperação das rodovias federais estadualizadas quatro anos atrás. Criou-se um dilema. “As dificuldades do nosso governo em superar este impasse refletem dire- agenda estratégica Via aquática Quarto maior terminal portuário do Brasil, o porto de Rio Grande possui uma das tarifas mais competitivas entre os portos do Sul do país, não tendo sofrido aumento desde 1997. Recentemente, pela sua boa infra-estrutura, agilidade nas operações e mão-de-obra qualificada, foi eleito o porto mais eficiente do país em uma pesquisa realizada pelo Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O porto é um dos principais escoadouros da produção agrícola gaúcha. “Para este ano esperamos uma grande movimentação de cargas, visto que a safra 2005/2006 do Rio Grande do Sul deverá ser positiva, ao contrário infra-estrutura A força do vento Na área de energia, a vedete do momento é o Parque Eólico de Osório, que já conta com quatro aerogeradores riscando o céu do litoral. Utilizando tecnologia de ponta, as 75 torres do parque irão gerar 150 MW de energia não poluente e renovável – quantidade suficiente para abastecer por ano o consumo residencial de cerca de 650 mil pessoas em Porto Alegre –, a qual será adquirida pela Eletrobrás por um prazo de 20 anos. O investimento é de capital privado, capitaneado pelo grupo espanhol Elecnor. Dos R$ 670 milhões, 69% são financiados pelo BNDES. Ao todo, estão sendo construídos 24 km de estradas no interior do empreendimento. Cerca de 40 empresas, a maioria gaúchas, foram contratadas para a execução das obras. “É uma energia limpa, que reduz a emissão de gases poluentes que provocam o efeito estufa. A implantação de uma usina eólica causa pouco impacto ambiental, se comparada com outros tipos de indústrias de energia”, afirma Telmo Magadan, presidente da Ventos do Sul Energia, empresa que toca o projeto. Em janeiro de 2007 as torres devem entrar em funcionamento. Energia eólica é renovável e não poluente FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Divulgação Ventos do Sul Duplicação da estrada consome R$ 600 milhões do ano passado, quando a estiagem ocasionou uma grande queda na produção de granéis agrícolas e prejudicou as exportações deste segmento”, explica o superintendente Vidal Áureo Mendonça. Apesar disto, o porto do Rio Grande, pelo 12º ano consecutivo, continua ocupando o segundo lugar no ranking nacional de movimentação de contêineres. O crescimento na movimentação deveu-se, principalmente, ao aumento de 16% nas cargas refrigeradas, como o caso da maçã e das carnes de frango, bovina e suína. Número 12 – Abril 2006 Divulgação/DNIT tamente na vida dos gaúchos que trafegam pelas rodovias que estavam sendo recuperadas e cujas obras foram suspensas por uma decisão política unilateral”, reclama o secretário estadual dosTransportes Alexandre Postal. No outro extremo, uma antiga reivindicação rodoviária avança a passos largos. De acordo com o DNIT, mais de 20% da duplicação do trecho gaúcho da BR-101 foi concluída desde que iniciaram as obras, em janeiro de 2005. Até o momento, o cronograma está sendo cumprido e há previsão de que toda a rodovia esteja duplicada até o final de 2007. Integrante do programa de obras de duplicação dos Corredores do Mercosul, a ampliação da capacidade da estrada, entre Palhoça (SC) e Osório (RS), com 345 km, vai permitir a ligação viária de Porto Alegre com o centro do país em pista dupla. “A duplicação envolve 800 desapropriações no valor de R$ 30 milhões. Foram investidos, até o momento, em torno de R$ 90 milhões”, informa o engenheiro Marcos Ledermann, coordenador regional do DNIT. 31 Arquivo Pólo RS Desenvolvimento: idéias para o Estado Anton Karl Biedermann* conquistar um resultado melhor. Descobrem que é viável caminhar para um estágio mais eficaz de desenvolvimento. Criam estratégias e projetos para a sua cidade, região ou Estado, e não para quem está no poder. Para o goverrimeiro, há de se ter confiança no Rio nante, fica claro que para ser bem-sucedido ele deverá Grande do Sul. Temos bons motivos seguir o projeto que a sociedade desenhou e quer conpara crer: mão-de-obra talentosa, uni- quistar. A receita não é nova e deu certo não apenas em versidades com excelentes centros de pesquisa cidades, mas até mesmo em países como a Irlanda e a e grandes empreendedores que encaram e en- Coréia do Sul. corajam novos empreendimentos. Em segunO Rio Grande do Sul pode ter várias Irlandas espalhado lugar, há de se tomar algumas providências: das por aqui. A partida aconteceu nos dias 8 e 9 de março, sugerir o afastamento do conquando Farsul, FCDL, Fecomércio, forto que emperra mudanças e Federasul, Fiergs, Sebrae e Pólo O desenvolvimento criar generosas doses de ousaRS, reunidos com mais de 800 líderes dia e coragem para romper com representando a comunidade rio-grandeve ser situações seculares de desamdense, iniciaram um trabalho inédito, fundamentado na bição e conformismo. que irá contribuir decisivamente para articulação de Fundamental é espalhar o desenvolvimento do Estado. Trataesforços conjuntos conceitos de crescimento, prinse da construção de agenda que devecipalmente aquele que diz que rá apresentar, quando concluída no seo desenvolvimento deve ser gundo semestre de 2006, o Rio Granfundamentado na articulação de esforços con- de do Sul que desejamos daqui a 15 ou 20 anos e como juntos dos empresários, das universidades, do poderemos chegar até lá. Será “o Rio Grande que querepoder público e da sociedade civil organiza- mos”. De antemão sabe-se que arrojo, firmeza e cooperada. Um pensamento que tem conquistado ção devam ser ingredientes indispensáveis para alcançar dezenas de cidades gaúchas mas que deve êxito neste trabalho. O projeto tem sido tratado com alastrar-se muito mais, como planta forte e solicitude em todas as áreas da sociedade produtiva onde saudável que se adapta facilmente em qual- tem sido apresentado. Com certeza também não faltará quer lugar. As comunidades que seguem empenho de todos os gaúchos. essas idéias percebem que, unidas num consenso, é possível aumentar a capacidade de * Presidente do Conselho de Administração da Pólo RS – crescimento e variar as possibilidades para Agência de Desenvolvimento FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 opinião P 27 guia de gestão Número 12 – Abril 2006 No momento de pensar no futuro, é bom ter em mente aqueles que nele irão trabalhar. Com processos cada vez mais concorridos, os programas de estágio são responsáveis por formar os profissionais que irão ditar os rumos das empresas 32 Profissionais do futuro C onsiderado fundamental para a obtenção de bagagem profissional e na formação de relações com o mercado, o estágio é o primeiro passo para uma trajetória de trabalho bem-sucedida. Além da experiência, o estágio muitas vezes traz benefícios como a remuneração – que pode ser um grande auxílio nas despesas do estudante –, o crescimento no rendimento escolar e o possível vínculo dos jovens com a empresa, já que boa parte deles acaba sendo efetivada. Os programas de estágio ajudam a definir os contornos dos profissionais do futuro. Os estágios são regidos por legislação específica (Lei 6.497/77 e Decreto Lei 87.497/82). Fora as facilidades de contratação, as empresas contam com estudantes ávidos por adquirir experiência e sem vícios funcionais. Além disso, eles rejuvenes- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS cem a organização, criando um espírito de renovação e oxigenação permanente, proporcionando um canal eficiente para o acompanhamento de avanços tecnológicos e conceituais. O jovem que ingressa em um programa de estágio tem um desafio marcante em sua formação profissional. Terá de um a dois anos para provar, a si e à organização, que reúne competências suficientes para compor o time. O desafio se inicia na seleção. Em grandes corporações, ela envolve milhares de jovens que disputam poucas vagas, e os critérios de escolha incluem qualidade da formação e domínio de idiomas, entre outros requisitos. “O estágio é uma das melhores fontes de recrutamento, uma vez que você conhece o aluno desde cedo, avaliando itens como caráter e desempenho funcional. Vamos assim aprimorando o futuro funcionário”, avalia Pedro Luiz Fagherazzi, vice-presidente da seccional gaúcha da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS) e diretor de RH da RBS. Ele salienta que o único ponto relevado é a exigência de experiência. No mais, os processos de seleção são rígidos como os de qualquer outro profissional. Para formar jovens competentes e capazes de se tornarem líderes mais tarde, é importante ter como um dos focos principais o processo seletivo. Com uma seleção eficiente e focada no que a empresa quer, as chances de obter sucesso com os jovens é muito maior. Assim, programas de estágio bem estruturados são um instrumento poderoso na geração de competência para as organizações. Já na empresa, o estagiário atua com pessoas de ampla vivência profissional, aprende o que a vida acadêmica não ensina e se incorpora à organização, convivendo como um postulante à vaga na equipe. Para obter sucesso ele deve cultivar relações interpessoais centradas na humildade em aprender com aqueles que atuam há mais tempo, tornando-se um profissional que agrega ao meio. O programa de estágio é percebido pelo jovem como uma oportunidade que deve ser conquistada. Neste sentido, uma das seleções mais disputadas no Estado é a da Copesul, com diversos testes e entrevistas. “O programa deles é muito aprimorado, com concorrência altíssima, buscando os melhores mesmo”, conta Fagherazzi. Responsabilidade de ensinar Ao demonstrar competência, o aluno pode abrir as portas para a sua contratação pela empresa. Portanto, dedicação, iniciativa e compromisso são essenciais por parte do estagiário. Por outro lado, é importante observar o nível de compromisso da empresa com o aspecto educacional. O estagiário é um aprendiz, e não se pode exigir dele o mesmo que de um profissional. Muitas vezes, os jovens são aproveitados como forma de economizar com a contratação de um profissional já capacitado. É um erro grave, pois não se oferecem oportunidades de aprendizagem e se geram prejuízos para a empresa e para o estudante. Os gestores que contam com estagiários nas suas equipes devem tratá-los de forma adequada, orientando-os corretamente. Este “orientar” vai além de simplesmente delegar as atividades e, na seqüência, exigir resultados. Passa pela paciência no explicar, calma no corrigir, seriedade no cobrar e honestidade no avaliar. Para o aprendiz, ser “orientado” também vai além de ser submisso e su- jeito a fazer tudo que é mandado: ele deve ter paciência no aprender, calma ao ser corrigido, seriedade no executar e honestidade no proceder. A contratação de estagiários não é regida pela CLT e não tem piso de remuneração preestabelecido. A formalização dessas contratações é regulamentada exclusivamente pelo contrato, fornecido pelo agente integrador. O documento deverá ser assinado pela empresa, pelo aluno e pela instituição de ensino do estudante. A jornada de trabalho não está vinculada a categorias profissionais ou acordos sindicais. Contudo, o horário de trabalho do estudante não poderá prejudicar a sua freqüência às aulas. O período de contratação, normalmente de seis meses, pode ser rescindido a qualquer momento através de simples notificação, sem ônus para as partes. É permitida também a renovação de contrato de estágio pelo prazo máximo de dois anos para cada empresa. “Fora isto, desde o ensino médio até o curso superior, é possível realizar diversos estágios, desde que em companhias diferentes”, esclarece Fagherazzi. Os chamados agentes integradores, como a própria ABRH-RS e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), são os intermediários no processo de contratação dos estagiários. As vantagens são diversas. “É praticamente impossível ter contratos com todas as escolas e universidades do Estado. O agente integrador faz essa ligação e as empresas buscam os talentos diretamente nos cadastros dos agentes”, explica Fagherazzi. Além disso, os agentes também realizam uma préseleção, enviando para as empresas um grupo de candidatos com o perfil desejado. “Isto acaba diminuindo os custos, fazendo com que as empresas trabalhem somente a parte final da seleção”, completa. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 guia de gestão 33 razão social Parcerias pelo sorriso Ao entrar no quarto ano, o projeto Sorrindo para o Futuro, do Sesc-RS, busca promover a saúde bucal para crianças da educação infantil até a 4ª série do ensino fundamental e deve atingir mais de 140 mil alunos em 2006 ançado como piloto em 2003, o Sorrindo para o Futuro é um projeto do Sesc-RS que continua voando alto. O objetivo é promover a saúde bucal para crianças da educação infantil até a 4ª série do ensino fundamental, idade em que elas estão consolidando seus hábitos de higiene, intimamente ligados à saúde bucal. Por meio de parcerias com o poder público, universidades, escolas e entidades da Número 12 – Abril 2006 Divulgação/Sesc-RS L 34 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS classe odontológica, o programa está ganhando mais abrangência. Em 2003, o Sorrindo para o Futuro atendeu 16.278 alunos em 34 municípios gaúchos. No ano passado o salto foi visível: quase 100 mil atendimentos em 116 cidades do Estado. Além das metas superadas, 2005 também trouxe para o Sesc o reconhecimento da iniciativa pelo meio empresarial, com a concessão do Top de Marketing da ADVB-RS para o Sorrindo para o Futuro. “No começo, era apenas um projeto-piloto, que dependia dos nossos profissionais e tinha alcance reduzido. Com a participação das prefeituras e a capacitação dos professores, transformou-se em um dos melhores projetos de saúde pública que já presenciei”, conta a dentista Aline Pilger, do Sesc de Novo Hamburgo, que também estende o programa para os municípios de Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Araricá. Inicialmente, apenas a força de trabalho dos odontólogos do Sesc foi utilizada. Por meio de convênios com cada escola participante, foram distribuídos creme dental e escovas, enquanto os profissionais do Sesc realizavam reuniões com os pais e capacitavam os professores para supervisionar a escovação das crianças. Os resultados foram positivos, mas ainda era necessário desenvolver uma sistemática capaz de difundir o projeto no Estado sem, no entanto, alterar o quadro de recursos humanos da instituição. Já existiam os professores capacitados, mas havia poucos dentistas. Foi preciso então solicitar estes profissionais à rede pública dos municípios. “É muito importante o apoio das prefeituras, já que elas contribuem para a multiplicação dos atendimentos. A maioria delas tem interesse em continuar com o projeto este ano”, comemora Aline. Lado a lado nos municípios O Sorrindo foi lançado oficialmente em maio de 2004, em um evento no qual estiveram presentes representantes de 69 prefeituras. Os convênios foram sendo efetuados ao longo do ano. A proposta de parceria foi realizada em visitas da equipe do Sesc aos municípios, e a entidade ofereceu, além da capacitação, duas reposições de escovas dentais, creme dental, flúor e material educativo. Ao município coube o fornecimento de novas reposições dos materiais, além de disponibilizar o dentista e indicar as escolas onde as atividades seriam realizadas. Os resultados têm sido cada vez mais animadores. Em cidades como Tapes e Santo Antônio das Missões, as prefeituras não dispunham de dentistas suficientes no seu quadro de pessoal e terminaram por contratar mais profissionais, resultando em ganho para as comunidades locais. Em Espumoso, a prefeitura providenciou a construção de escovários nas escolas, para facilitar a rotina de higiene bucal. As carretas odontológicas do projeto OdontoSesc, desenvolvido em parceira com as prefeituras, também têm sido de extrema valia na divulgação do Sorrindo para o Futuro, já que a equipe apresenta o projeto para as secretarias locais de saúde e de educação quando visita os municípios. Pesquisa realizada em 2004 com 267 professores em 71 escolas de 12 localidades mostrou o entusiasmo dos agentes envolvidos. Dos professores entrevistados, 86,9% estavam satisfeitos com o projeto, 98,8% consideraram o projeto importante face à realidade da escola e 91,8% deles concluíram que houve melhora na saúde bucal das crianças. “É diferente de projetos sociais do governo federal, por exemplo, que correm o risco de serem abandonados com a troca de governantes. Aqui estamos insistindo para instalar definitivamente o ato da escovação no cotidiano dos alunos”, relata Aline. As estatísticas oficiais indicam a gravidade do problema. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2003, na região Sul do Brasil, 57% das crianças de cinco anos já tiveram cárie, com média de 2,6 dentes de leite cariados por criança. Aos 12 anos, 63% delas já apresentaram o problema e 5% dos dentes cariados foram perdidos devido à doença. Com o aumento da faixa etária, a situação é pior. Dos adolescentes de 15 a 19 anos, 88% têm uma média de 5,7 dentes cariados. Destes, 9% foram extraídos. Apenas 67% dos jovens brasileiros ainda têm todos os dentes aos 18 anos, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs para a virada do século uma média de 80%. “A auto-estima das crianças aumenta, porque o próprio professor cobra delas a escovação, postura que muitos pais não impõem em casa, até pela rotina difícil da atualidade”, diz Aline, salientando que é cena comum a aproximação dos alunos querendo mostrar os dentes quando percebem a chegada dela na escola. Em abril começam as atividades de 2006 do Sorrindo para o Futuro. A meta deste ano é atingir 140 municípios, com 1.485 escolas participantes e 140 mil alunos atendidos. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 razão social 35 eu, empreendedor Um jovem de tirar o chapéu Respeitar os mais velhos é um lema que todos conhecem, mas, em alguns casos, os mais novos também fazem por merecer. Essa é a situação do jovem Cláudio Goldsztein, novo presidente da ADVB-RS e diretor-geral da Embrace C Número 12 – Abril 2006 Fotos: Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS om apenas 31 anos, Cláudio Goldsztein coordena uma importante empresa de marketing direto e de relacionamento, além de ser, desde janeiro deste ano, presidente da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVBRS). Sua carreira começou cedo, antes mesmo de ingressar na universidade e talvez por isso ele ainda nem tenha concluído os dois cursos em que se matriculou: Direito e, posteriormente, Publicidade e Propaganda. “Fi- 36 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS nalmente estou prestes a me formar nos dois, que foram realizados de forma bem pingada”, brinca o jovem empreendedor, que também divide seu tempo entre a administração de dois escritórios da Embrace – em Porto Alegre e São Paulo – e o comando da Associação. Pioneira na área em que atua, a Embrace foi inaugurada em agosto de 2000, seguindo a linha de assessoria empresarial. Tendo sido criada para suprir uma necessidade interna da Goldsztein, construtora da família de Cláudio e na qual ele iniciou sua vida profissional, a empresa já nasceu com um grande cliente e teve que manter a qualidade do serviço a fim de conquistar novos trabalhos. A decisão de abrir uma empresa do gênero foi tomada aos poucos. Na época, Cláudio trabalhava no departamento jurídico da Goldsztein, mas a paixão pelo marketing já aparecia. “Meu papel era acompanhar o pósvenda, o que me proporcionou detectar oportunidades para melhorar o relacionamento com o cliente”, revela o futuro publicitário. “Então surgiu a idéia de um trabalho focado exclusivamente no relacionamento com cliente.” Com isso, ele e seu irmão Fernando foram buscar um fornecedor para a ação. “Não encontramos nada no Estado, motivo pelo qual comecei a pesquisar sobre empresas de marketing direto em São Paulo.” Decisão tomada e empresa inaugurada, era hora de botar a mão na massa para atrair novos clientes. “Apesar de não ter sido fácil, principalmente por ser um modelo de atividade novo no Estado, aos poucos a Embrace conseguiu construir a visão de que o marketing direto e o uso de banco de dados completavam as estratégias e ajudavam no trabalho de uma forma geral”, afirma Cláudio. Em meados de 2003 a Embrace foi procurada por um dos maiores grupos de comunicação do mundo, o Grey, que tinha interesse em trabalhar o mercado regional sem abrir um escritório aqui. A parceria acabou em janeiro, com um saldo significativo para a empresa gaúcha: “Aumentou bastante a nossa visibilidade no Brasil e permitiu que desenvolvêssemos trabalhos em conjunto com clientes de peso, aprendendo sobre mercados mais aquecidos”, argumenta o empresário, que, em janeiro de 2006, inaugurou a Embrace na capital paulista. “No total, já atendemos quase 40 empresas ao longo desses cinco anos, e hoje temos 14 clientes ativos das mais diversas áreas e estados.” Encarando o desafio “Meu trabalho na ADVB começou porque a associação era cliente da Embrace”, explica o atual presidente, que conhecia a entidade há bem mais tempo por freqüentar cursos e palestras por ela disponibilizados. “Há pouco mais de um ano, Ângela Baldino, que presidia a associação, nos procurou para desenvolver uma ação focada na busca de associados. Criamos uma série de campanhas de teste e, a partir disso, formatamos os novos modelos para se tornar associado. Lá por setembro veio o convite da Ângela para participação na próxima gestão, mas nunca pensei que era para assumir o lugar dela.” “Fiquei muito surpreso e confesso que cogitei se poderia aceitar o convite, principalmente por saber da seriedade que significava esse cargo. Uma entidade com 43 anos merece respeito por si só, e, sendo mais velha que eu, já é mais um motivo”, constata Cláudio, que não se deixou intimidar e aceitou o desafio. De acordo com ele, o atual plano para a ADVB é ousado: “A Ângela fez um trabalho bárbaro de reestruturação e resgate do histórico financeiro. Ela assumiu a entidade com R$ 2 milhões em dívidas e quase 600 títulos protestados, e mesmo que ainda tenha nos passado algumas pendências, estão todas bem administradas, negociadas ou em negociação”. Conforme o gestor, a estratégia agora é investir na área de capacitação para que a associação tenha novas metodologias de treinamento e fixe parcerias por todo o Estado. Fora isso, o grupo trabalha no Planejamento Estratégico ADVB 2015, visando a um crescimento imediato e contínuo. “A ADVB é uma marca muito forte que, mesmo tendo estado um pouco arranhada, deve recuperar sua credibilidade”, destaca. “Nossa função é dar continuidade para isso, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade e para o enriquecimento dos profissionais de marketing e de vendas do Estado e do país.” A nova gestão deve realizar a reforma da sede atual e construir o Museu do Marketing Gaúcho e um novo edifício no terreno. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 eu, empreendedor 37 Fotos: Divulgação/Prefeitura de Dois Irmãos comunidade Número 12 – Abril 2006 Você já imaginou seu filho comendo frutas e verduras, sem reclamar, durante todas as refeições? Em Dois Irmãos isso já é uma realidade, e não foi difícil fazer os vegetais e as fibras conquistarem a gurizada 38 Prato cheio para a saúde O projeto da merenda saudável, que conquistou o Troféu Gestor Eficiente do MEC no ano passado, começou a ser desenvolvido em 2003 em Dois Irmãos, município gaúcho de 30 mil habitantes localizado a 58 km de Porto Alegre. A Secretaria de Educação da cidade (Semec) percebeu que os hábitos alimentares das crianças que cursavam o ensino fundamental não estavam adequados às necessidades do organismo. No ano seguinte, estudando como estavam as atividades físicas dos alunos, o órgão ainda verificou um aumento gradativo do sobrepeso, principalmente pela má alimentação e pelo sedentarismo. No mesmo ano, a secretaria introduziu na merenda de todas as escolas municipais ali- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS mentos ricos em fibras, como o pão integral, e aumentou a quantidade de frutas fornecidas aos alunos. Em 2005, novos elementos naturais, como arroz integral, açúcar mascavo, suco de uva e verduras orgânicas foram incorporados ao cardápio. A novidade acabou ajudando no desenvolvimento econômico e social da região. “Começamos a comprar alimentos de nossos pequenos produtores rurais por suas características orgânicas, objetivando também o incentivo à agricultura familiar”, conta a nutricionista da Semec, Rozane Triches, citando produtos como hortaliças, sucos, doces de frutas, mel, leite integral pasteurizado, ovos caipira e doce de leite. Outras verduras passaram a ser produzidas em um horto municipal, utilizando processo totalmente orgânico. Em alguns colégios também foram implantadas hortas escolares, onde os próprios alunos plantam e colhem comunidade Meninada satisfeita A estudante Bárbara Berwian, de 12 anos, está satisfeitíssima com a mudança. “A gente se sente bem melhor quando come frutas e verduras. Nunca fui muito de frituras, mas agora nem sinto falta de comer porcarias”, garante a menina, que estuda na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Arno Nienow. Cleiton Boufleuher, de 13 anos, também está animado: “Sempre gostei de comidas naturais, mas não tinha o hábito de comer esse tipo de coisa. Agora até em casa a rotina está diferente, e para melhor”, assegura o aluno. Para a diretora da escola, Márcia Saueressig, os resultados estão no rosto, na pele e na cabeça da meninada: “Os professores comentam que as turmas estão mais dispostas, sem falar que melhorou a coloração da pele e o brilho dos cabelos da maioria das crianças. Não há como negar tantos benefícios proporcionados somente com a mudança na alimentação”, analisa. “Nos surpreendemos com as reações positivas dos alunos”, conta Rozane. “Acho que, quando o assunto é uma alimentação saudável e sua palatibilidade, os maiores preconceituosos somos nós, adultos.” Para a nutricionista, um dos principais focos do projeto já está sendo atingido. “Prevenindo o sobrepeso e incentivando estilos de vida mais saudáveis, não objetivamos reduzir a obesidade a curto prazo, mas sim promover ações de saúde que perdurem quando essas crianças crescerem”, explica. “Acreditamos que as novas merendas estão melhorando o aporte nutricional desses escolares e incentivando o consumo de alimentos que antes eram vistos como ruins.” E não é só dentro da escola que a ação está colhendo seus frutos: a mudança alimentar já está incorporada em diversos lares de Dois Irmãos, seja por influência de alunos, professores ou até de funcionários dos colégios. Só na casa de Maria Helena Félix da Trindade, nove pessoas passaram a comer corretamente quando ela foi contratada como merendeira da instituição Arno Nienow. “Vim de uma escola estadual e, no começo, estranhei tantas comidas diferentes. Agora já estou acostumada e gosto muito dos pratos”, revela a cozinheira, que periodicamente participa de encontros promovidos pela prefeitura para aprender a fazer novos pratos integrais. Bom, bonito e saudável cardápio das escolas de Dois Irmãos é constituído de uma variedade de doces e salgados: frutas, biscoitos coloniais, pães, bolos, cucas e roscas integrais, mel, doce de frutas, doce de leite colonial, leite, sucos naturais, arroz integral, polenta, massas, sopas, carnes (frango, gado, sardinha, fígado), feijão, lentilha, hortaliças, tubérculos etc. “As frituras foram retiradas do cardápio, e não é incentivado o consumo de gorduras saturadas, açúcares simples e aditivos químicos, dando preferência a alimentos menos processados, com cultivo orgânico e o mais integrais possível”, assegura a nutricionista da Semec. O FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 as hortaliças que são preparadas na merenda, aumentando seu interesse em provar algo criado por eles mesmos. Para que o gosto fosse tão agradável quanto a aparência dos alimentos, a secretaria possibilitou às merendeiras cursos de culinária integral, que facilitaram a diversidade de ofertas gastronômicas saudáveis. Com isso, este ano surgiram quitutes como cuca integral, rosca de polvilho e bolo integral, além de granola. De acordo com Rozane, tamanha variedade de alimentos favoreceu a aceitação por parte das crianças, que ficaram encantadas com o colorido do prato e não tiveram por que reclamar do sabor da comida, salientado devido ao uso de verduras frescas. “A introdução de alimentos integrais e orgânicos foi feita de forma gradual e, principalmente, visando conquistar o paladar. Não teríamos êxito se não apostássemos também no sabor, por isso nossas merendeiras estão tendo a oportunidade de aprender a prepará-los de forma a serem bem recebidos”, enfatiza a especialista. 39 Apostando na comunicação Número 12 – Abril 2006 idiomas Atento às transformações mundiais e à proximidade cada vez maior das pessoas de diferentes locais, o Estado conta agora com o Multilínguas Senac. Assim, pessoas dos 8 aos 80 anos têm a chance de aprender novos idiomas, entre eles, o russo e o mandarim 40 B om dia. Bon jour. Buenos dias. Good morning. Estas e outras fórmulas prontas nos permitem obter informações básicas e trocar gentilezas com pessoas de diversos lugares do mundo. Em uma economia de mercado baseada, em grande parte, na exportação, com a abertura de novos locais para investimentos que não se imaginava possíveis há 25 anos, além da entrada de produtos culturais vindos de fora do país, como música, cinema e mesmo literatura, dominar uma nova língua passa a ser exigência para qualquer um. Buscando proporcionar esta capacitação, o Senac-RS vem investindo na qualificação do ensino de idiomas, através de um centro situado em Porto Alegre, que coordena as atividades das escolas de idiomas do Senac em todo o Estado, elaborando os planos de curso, que são, posteriormente, analisados pelo Núcleo de Educação Profissional. Voltadas para pessoas de todas as idades, são oferecidas aulas de inglês, espanhol, alemão, russo, mandarim e português para estrangeiros, cursos procurados pelas mais diferentes razões. “Inglês todo mundo procura, desde a criança até a maturidade. No mandarim, a maior parte dos alunos FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS trabalha com comércio exterior. Espanhol é muito buscado por pessoas com mais de 50 anos. Português para estrangeiros é uma mistura de nacionalidades muito bonita de ver, e o russo é procurado, na maioria das vezes, por descendentes, que buscam laços com o passado da família”, conta André Stein, diretor da Faculdade Senac-RS, onde está sediado o centro. Stein explica que a metodologia de ensino do Senac é baseada na abordagem comunicativa, respeitando a realidade dos alunos. “Uma situação muito comum no ensino de línguas é a introdução de diálogos entre A e B. Aqui, procuramos adaptar os diálogos, personalizando-os de acordo com os alunos”, demonstra. Para o diretor, o segredo está em colocar o problema frente ao aluno, para que ele o resolva. Stein também ressalta que existe a preocupação em atender os alunos com bastante cuidado, e para isto as turmas são formadas por, no máximo, 16 pessoas. “Assim, o professor pode fazer uma avaliação continuada.” O Multilínguas Senac também trabalha com a apropriação de competências, via habilidades como fala, escrita e entendimento da língua. Nestes aspectos, cada aluno tem um ritmo de aprendizado, e é preciso estar atento para a diversidade na sala. A instituição não trabalha com uma linha de marketing comum nesta área, que é a promessa de domínio da língua em pouco tempo, no estilo “la garantia soy yo”. “Não se pode dizer ‘aprenda inglês idiomas Até 2003, as línguas disponibilizadas pelo Senac-RS eram o inglês e o espanhol. No final daquele ano, a entidade fez uma pesquisa com os alunos, para descobrir quais outros idiomas seriam interessantes. Desta forma, foram introduzidos os cursos de alemão e russo. Já o mandarim foi instituído a partir de uma demanda de empresários. “Neste caso, fomos aprendendo com o curso, porque eram poucas entidades que ofereciam esta língua, o que acontece até hoje. É difícil encontrar um local que ofereça mandarim com seriedade. A idéia é sempre oferecer um curso real”, diz Ariel Berti, coordenador da Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores, do Senac. Hoje, cerca de 80% dos alunos da unidade localizada no centro de Porto Alegre cursam inglês, enquanto os outros 20% estão divididos entre as outras línguas. “Quando se trabalha com idiomas, é possível descobrir coisas básicas a respeito do funcionamento de cada um deles, salvo quando se fala em línguas orientais, que requerem um enfoque completamente diferenciado”, conta. Por aspectos que são encarados com uma ótica inversa à ocidental, e também por motivos básicos, como as questões alfabéticas, o ensino dessas línguas é diferenciado. “Em uma primeira aula de qualquer língua ocidental, o professor tende a iniciar ensinando o alfabeto. No caso das orientais, isso não é possível, pois o alfabeto não existe! É preciso começar estudando fonemas, coisas assim. O russo, por exemplo, mistura números que formam fonemas”, explica Berti. Número 12 – Abril 2006 Viabilizando know-how O mandarim tem potencial para, em cerca de 20 anos, se tornar tão importante quanto o inglês é hoje. Para trabalhar com esses idiomas, o Senac-RS utiliza um software especial, que permite converter as palavras para russo e mandarim. “Também trabalhamos no laboratório de informática, onde os alunos podem acessar sites da China, da Rússia ou de outros países ”, conclui Berti. Outro diferencial é a adaptação para alunos com necessidades especiais. O curso de espanhol, por exemplo, é oferecido totalmente em braile, graças a um convênio com a Fundação Luiz Braile e com a editora que produz o material didático, oferecido gratuitamente aos alunos. Até agora, dois já concluíram o curso, e um está no nível intermediário 2. “Também nos preocupamos com a inclusão. Por isso, estes alunos freqüentam as mesmas salas de aula que os demais, proporcionando, além do estudo, a sociabilidade do portador de necessidades especiais.” Presente em 30 municípios gaúchos, o Senac revoluciona o ensino de idiomas no Estado, com uma proposta inovadora e focada nas necessidades dos alunos. Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS em um ano’. Só se pode falar em um ano o que se aprende neste período, e a pessoa não pode achar que vai sair falando tudo em inglês. A estrutura de cada curso foi bem pensada e trabalhada, pedagógica e didaticamente, para que a apropriação das habilidades seja concreta”, afirma. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS 41 Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS Planejamento Número 12 – Abril 2006 visão econômica Marcelo S. Portugal* 42 Estratégico Nos últimos 20 anos, a capacidade de poupança do setor público foi seriamente abalada. Mesmo antes disso, ainda nos anos 70, uma parte significativa da acumulação de poupança pública decorria do endividamento externo. Para o primeiro seminário do projeto O Rio crescer em um ritmo mais acelerado temos de poupar mais, Grande que Queremos participaram cerca de e o principal esforço tem de vir do setor público, que atu900 líderes. O objetivo é reali- almente “despoupa” (déficit público). Outro elemento funzar uma construção coletiva que se torne um damental no processo de retomada de crescimento é a meprojeto da sociedade gaúcha. Neste artigo pre- lhoria do capital humano. O investimento em educação tendo dar a minha singela participação neste básica é crucial neste sentido. Países como a Coréia, que investiram pesadamente em educação processo, questionando as causas básica de qualidade, conseguiram do baixo crescimento e as formas crescer mais rapidamente e atingir um de superação. Um elemento grau mais adequado de eqüidade disO crescimento econômico é fundamental no tributiva. Em média, um trabalhador um processo associado à acumuprocesso de retomada brasileiro tem cerca de 6,4 anos de lação de fatores de produção e à é a melhoria do estudo e aproximadamente 30% da elevação da produtividade, de capital humano população sofre de analfabetismo funforma a aumentar a capacidade cional. Note-se, contudo, que polítiprodutiva da economia. No crescas de investimento em educação bácimento econômico de longo prazo, a questão principal não está circunscrita sica têm muito pouco efeito sobre a taxa de crescimento à política macroeconômica de curto prazo. Nos econômico no curto prazo. Seus efeitos positivos são obúltimos 20 anos experimentamos distintos ar- servados no longo prazo, o que desestimula políticos que ranjos de política econômica: câmbio adminis- não conseguem enxergar além do seu próprio mandato. O mais complicado não é fazer o diagnóstico dos protrado e juros reais baixos (1986-1993); câmbio (quase) fixo e juros reais muito elevados (1994- blemas, mas sim conseguir gerar um consenso social que 1998); e câmbio flutuante e juros apenas eleva- permita a implementação política das soluções. Se a sociedos (1999-2005). Em todas estas experiências dade estiver convencida quanto às políticas necessárias para a taxa de crescimento média do PIB esteve pra- elevar a capacidade de crescimento do Brasil e do Estado, ticamente inalterada, ao redor de 2,4% ao ano. os políticos estarão dispostos a implementá-las. N O crescimento depende da capacidade de poupança interna e externa, pública e privada. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS * Consultor econômico da Fecomércio-RS Rosi Boninsegna/Fecomércio-RS Empresários e visão Número 12 – Abril 2006 visão política Fernando Schüler* 44 de futuro teve dificuldades em dialogar com os demais segmentos sociais. O setor privilegiou a negociação com os governos, em regra sobre questões de interesse prático e imediato. Este pragmatismo, de certo modo, faz parte da lógica da á razões que explicam o sucesso do mo- ação empresarial, cujo foco é, e deve ser, a ação de mercado. vimento desencadeado com a iniciativa A Agenda representa uma mudança qualitativa neste da Agenda Estratégica do RS – O Rio posicionamento do setor empresarial. A prioridade foi dada Grande que Queremos. Destaco duas delas. para o diálogo com as universidades, com entidades de A primeira é o foco definido para o movi- representação civil e com os sindicatos laborais. O enconmento: buscar um projeto de desenvolvimento tro de março, na Fiergs, serviu como um laboratório no de longo prazo para o Rio Grande. Há muito qual linguagens e conceitos diversos, originários de segque o Estado tem sido gerido a partir da lógica mentos muito diferentes da sociedade, se intercruzaram e do curto prazo, que é por exceaprenderam mutuamente. lência a lógica do sistema polítiEm resumo: pensar no longo co. Governos são eleitos para prazo e pensar junto com a socieO principal resultado mandatos de quatro anos. Qualdade. Mais do que mudanças objeda Agenda deve ser quer planejamento que extrapotivas no perfil do gasto público, no uma ativa contribuição le este horizonte tem efetivamensistema tributário ou nas políticas sena mudança de nossa te muito pouco sentido político. toriais, o principal resultado que se A Agenda Estratégica inverpode esperar da Agenda Estratégicultura política te esta lógica, a partir de um moca é uma ativa contribuição na muvimento de fora – ainda que não dança de nossa cultura política. Uma contraposto – ao sistema político. Assim con- sociedade conservadora muito dificilmente produzirá uma tribui para a criação de um consenso social mais elite política modernizadora. Este tem sido, em última insamplo em questões que ultrapassam limites dos tância, o dilema do Rio Grande. interesses partidários, corporativos e setoriais, Realizar um giro estratégico para a sociedade, recusar de dentro e fora da máquina pública. O argu- as soluções tecnocráticas geradas de cima para baixo, tudo mento básico é: não existe desenvolvimento isto conforma um novo perfil da liderança empresarial no sustentável sem fixação de metas de longo prazo. Estado, que pode servir como modelo para o país. A segunda razão é o envolvimento da comunidade. Historicamente, o setor empresarial *Consultor político da Fecomércio-RS H FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS pesquisa pesquisa Tendências positivas Com índice ainda negativo em fevereiro, as vendas no comércio crescem a passos lentos. Contudo, o aumento do nível de emprego dão sinais otimistas para o setor tada não apenas pela pesquisa do Ifep realizada no comércio, mas também pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esse acréscimo, aliado à possível elevação do salário mínimo em abril ou maio, deve melhorar o poder de compra da população e trazer novo ânimo para o setor. Variação do nível de emprego (%) Número 12 – Abril 2006 O s índices do comércio varejista em fevereiro deixam clara uma recuperação lenta do setor no Rio Grande do Sul. De acordo com a Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista da Região Metropolitana de Porto Alegre – realizada pelo Instituto Fecomércio de Pesquisa (Ifep) –, o volume de vendas em relação ao mesmo período do ano passado caiu 2,28%. “O maior entrave para que o setor reverta esta situação e passe a apresentar resultados positivos é a estagnação da renda”, aponta o economista Carlos Cardoso. Mesmo com a elevação da oferta de crédito, os consumidores têm se mostrado cautelosos, evitando contrair dívidas. Isto também se evidencia no fato de que as compras à vista cresceram em fevereiro, e a taxa de inadimplência apresentou retração no período. Um dos fatores que dá margem a perspectivas otimistas para 2006 é o aumento do nível de emprego. Depois de uma queda preocupante de 1,57% em janeiro, os empregos subiram 0,95% em fevereiro, índice bem superior ao do mesmo período de 2005 (0,06%). A melhora do quadro do emprego é manifes- FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS 45 pesquisa Volume de vendas Detalhe sobre o volume de vendas Variação do faturamento, deflacionado pelo IPCA/IBGE – Região: Porto Alegre. Grupos e Classes Fev/06 Fev/06 Acum. de Atividades Jan/06 Fev/05 no Ano Comércio Geral -8,13% -2,28% -2,16% Bens Duráveis 5,58% -1,03% -5,39% Utilidades Domésticas 16,57% 20,75% 23,60% Cine-Foto-Som -10,84% 44,20% 35,43% Ópticas -20,26% 14,92% 27,32% Informática 5,52% -18,46% -26,00% Móveis e Decorações 6,69% -6,62% -13,15% Bens Semiduráveis -0,76% -3,77% -0,24% Vestuário -13,54% 14,33% 22,47% Tecidos -4,94% 40,16% 36,38% Calçados -4,03% -19,73% -20,45% Livraria, Papelaria e Material de Escritório 13,44% -12,06% -9,53% Bens Não-Duráveis -11,99% 2,54% 2,39% Supermercados -5,06% 11,82% 2,82% Massas, Frios, Laticínios e Açougue -32,70% -9,26% 2,72% Farmácias e Perfumarias -18,72% 6,01% 15,59% Combustíveis, Lubrificantes e GLP -15,66% -8,75% -3,41% Comércio Automotivo -13,49% -7,66% -7,59% Concessionárias de Veículos -15,97% -7,04% -6,06% Autopeças -4,37% -9,97% -13,23% Material de Construção -13,74% -7,05% *Variação do faturamento deflacionado pelo IPCA/IBGE -8,45% – Região Porto Alegre Número 12 – Abril 2006 Representatividade das formas de pagamento no faturamento 46 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS As vendas do comércio varejista, mesmo com uma elevação na oferta de crédito, vêm apresentando sucessivos resultados negativos. O aparente impeditivo para a decolagem do setor é a estagnação da renda dos trabalhadores. Há sinais, porém, que transmitem otimismo ao mercado. Um deles é a redução sucessiva da taxa Selic: as atas das últimas reuniões do Copom deixam claro que as reduções devem continuar ao longo dos próximos meses. Outro fator é o aumento do nível de emprego, apontado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. A variação no volume de vendas frente a fevereiro de 2005 foi negativa em 2,28%, sendo que o único grupo que apresentou resultado positivo foi o de bens não-duráveis (2,54%). As atividades que apresentaram os principais resultados positivos foram Cine-fotosom (44,2%), item influenciado positivamente pelo câmbio, pois grande parte desses produtos é importada, Tecidos (40,2%) e Utilidades domésticas (20,7%), sendo que estas duas últimas atividades têm baixo peso na composição geral do índice. Em comparação com janeiro, a queda no volume de venda de 8,13% não surpreende, é um resultado natural, pois fevereiro foi o mês do carnaval e por isso teve uma significativa redução dos dias úteis. Os ramos que apresentaram os maiores resultados positivos em relação a janeiro, foram Livrarias, Papelarias e Material de Escritório (13,44%), principalmente por ser período de volta às aulas, e Utilidades domésticas (16,57%). pesquisa Formas de pagamento Neste mês houve visível substituição das vendas a prazo pelas vendas à vista. As compras “pagas na hora” representaram, em janeiro, 43,3% do faturamento das empresas. Em fevereiro, esse percentual se elevou para 45,1%. As vendas a prazo, por sua vez, caíram de 29,5% para 25,4%. As liquidações, tradicionais do mês de fevereiro, certamente influenciaram para este resultado, pois, com preços mais atrativos, os consumidores preferiram comprar à vista. Inadimplência nos cheques Inadimplência Nível de emprego O nível de emprego no comércio varejista apresentou elevação de 0,95% no mês de fevereiro. Percentual este acima do registrado pelo Caged, cuja variação apresentada no emprego formal da Região Metropolitana de Porto Alegre foi de 0,21%. Em nossa pesquisa, os grupos que apresentaram melhores desempenhos foram os de bens semiduráveis (2,83%) e material de construção (2,16%). Nível de emprego Variação do nível de emprego Grupos e Classes Jan/06 de Atividades Comércio Geral -1,57% Bens Duráveis -3,34% Utilidades Domésticas -8,02% Cine-Foto-Som 0,44% Ópticas -1,34% Informática 0,15% Móveis e Decorações -10,91% Bens Semiduráveis -5,05% Vestuário -2,51% Tecidos -5,75% Calçados -2,72% Livraria, Papelaria e Material de Escritório -8,91% Bens Não-Duráveis -0,29% Supermercados -0,29% Massas, Frios, Laticínios e Açougue -2,40% Farmácias e Perfumarias -1,55% Combustíveis, Lubrificantes e GLP 0,39% Comércio Automotivo 0,26% Concessionárias de Veículos 0,05% Autopeças 1,04% Material de Construção -1,48% Fev/06 0,95% 0,67% -0,99% -0,55% 1,29% 1,76% 0,00% 2,83% 0,00% 0,00% 4,05% 4,76% 0,18% -1,19% 0,00% 5,10% -0,15% 0,22% 0,11% 0,63% 2,16% FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 O índice de inadimplência – que mede, em percentual, o valor total dos cheques recebidos pelas empresas que são devolvidos e não são reavidos – teve queda de quase um ponto percentual. Neste mês verificou-se que houve uma queda considerável no percentual de cheques que são devolvidos: passou de 11,6% em janeiro para 7,5% neste mês, o que levou a uma redução no índice de inadimplência de 2,4% em janeiro para 1,6% neste mês. Índice inferior ao apresentado, em nível nacional, pela Serasa. Para este órgão, no mês de fevereiro, o índice de inadimplência foi de 2,01%. Porém, as duas pesquisas têm metodologias diferentes. 47 os últimos anos, a dinâmica de funcionamento das empresas vem se alterando muito rapidamente. A todo momento, companhias abrem, fecham, se fundem, se dividem e se revolucionam tecnologicamente, e abordagens tradicionais já não funcionam mais neste cenário. Atentas a isto, a professora da Standford University, Kathleen M. Eisenhardt, e a consultora empresarial Shona L. Brown lançaram o livro Estratégia Competi- N Livro: Estratégia Competitiva no Limiar do Caos Autoras: Shona L. Brown e Kathleen M. Eisenhardt Editoras: Meio e Mensagem/Cultrix 311 páginas Eu recomendo tiva no Limiar do Caos – Uma visão dinâmi“O Profeta, de ca para as transformações corporativas. Kalil Gibran, encerra Na obra, as autoras usam exemplos vários pensamentos reais, extraídos de entrevistas com mais sobre a vida diária de de cem administradores, para defender cada um de nós. Vai a idéia de que a natureza dinâmica da dos significados do trabalho do homem mudança promove um fluxo contínuo de como instrumento de Deus à filosofia vantagens competitivas, fazendo com de vida do mundo contemporâneo. que a competição no limiar do caos ven- É uma obra atemporal de um profundo ça o desafio da mudança. Isto traz para ensinamento espiritual sobre o homem as empresas grandes vantagens compee a sua essência. O Profeta é antes de titivas, por mais imprevisíveis e rápidas tudo um poema ao poder do Amor que sejam as mudanças dos mercados. Universal. Sua mensagem clama pela Voltado a gestores interessados em união entre os homens, pelo respeito a fazer da transformação uma aliada, pas- todas as formas de vida e pela absoluta sando a ditar o ritmo do mercado, o linecessidade de continuidade.” vro semeia idéias criativas para tirar proIvo Nesralla veito de situações, a princípio, caóticas. Diretor-presidente do Instituto de Cardiologia Cristine Rochol/Ospa para ler Quando o caos é um aliado no mercado crônica Por Moacyr Scliar O Rio Grande que urante muito tempo, e em muitas sociedades, o setor público e o setor privado foram separados por uma imprecisa e mutável fronteira, um terreno minado pela desconfiança, pela hostilidade e também pela corrupção. O conflito latente ou aberto que neste cenário ocorria era de natureza social, econômica, cultural e até psicológica. Duas correntes de pensamento acabaram por emergir, cada uma com suas idéias: os privatizantes e os estatizantes. Os primeiros partiam do princípio de que o ser humano busca fundamentalmente seus interesses e que esta busca é um estímulo para a atividade, para a criatividade, para a competição. Os estatizantes viam na competitividade a expressão do darwinismo aplicado à sociedade, que seria assim guiada pelo princípio da sobrevivência do mais apto. Contra isto propunham mecanismos de apoio aos mais fracos, aos marginalizados. Tirem o Estado de nossas costas, bradavam os privatizantes. Paguem o preço da riqueza, respondiam os estatizantes. Um diálogo de surdos, cujo resultado era uma esquizofrenia social. Esta situação inquietou e desafiou os pensadores desde a Antigüidade. A idéia de um contrato social, sustentada por filósofos como Locke, Rousseau e John Rawls, D pretendia ser uma resposta para o dilema. E era, de fato, em teoria. O problema era, e é, transformar esta teoria em prática. Um problema candente, cujas soluções certamente variarão de um lugar para outro. Neste momento existe, no Rio Grande do Sul, um movimento de aproximação entre os setores público e privado: o projeto Agenda Estratégica do RS – O Rio Grande que Queremos. É liderado por cinco importantes federações: Farsul, FCDL, Fecomércio-RS, Federasul e Fiergs. O projeto, que é de longo prazo, é muito promissor. A começar pelo nome: agenda é algo que faz parte do cotidiano e que supõe uma ordenação do tempo e do esforço; com a agenda, podemos programar tarefas de forma organizada. Estratégia, por outro lado, é uma forma organizada de abordar problemas. E a expressão “o Rio Grande que queremos” é eloqüente. Primeiro porque fala de um Estado que tem em sua tradição o companheirismo, a lealdade, a solidariedade. E também porque o verbo querer está aí usado na primeira pessoa do plural. Não é “o Rio Grande que eu quero”, como diria um ditador, não é “o Rio Grande que vocês querem”, como diria um demagogo. “Queremos” expressa uma vontade partilhada, um esforço comum. Não foi de outra maneira que a humanidade resolveu seus problemas. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Número 12 – Abril 2006 queremos 49 Abril 1 A G E N D A Futsal em Uruguaiana Educação em pauta Durante todo o mês de abril, o Sesc Uruguaiana promove a II Copa do Trabalhador Sesc, na modalidade futsal. Informações: (55) 3412-4624. O evento Educação em Pauta será realizado no Sesc Santo Ângelo. Informações: (55) 3312-4411. 8 Convendas O Senac-RS participa do II Congresso Gaúcho de Vendas do Setor Atacadista e Distribuidor com a peça O Elevador, em Porto Alegre. Informações: (51) 3222-4338. Formatura Alunos de Pós-Graduação em Educação Ambiental e Educação a Distância apresentam os trabalhos de conclusão, nas Faculdades Senac. Informações: (51) 3212-4444. 9 Páscoa O Sesc Montenegro, em parceria com a prefeitura local, promove o Domingo de Páscoa no Parque. Informações: (51) 3649-3403. Número 12 – Abril 2006 12 50 13 Hora de conversar O Sesc Santa Rosa promove o encontro Falando de Educação. Informações: (55) 3512-6044. FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS Grêmio Aquático de Carazinho, com o apoio do Sesc da cidade. Informações: (54) 3331-2451. 18 Arte em metal Feiras do livro As unidades do Sesc iniciam feiras de livros em Encruzilhada do Sul (13/03), Sinimbu (18/03), Rio Pardo (24/03) e Lajeado (28/03). Mais informações nos Centros de Atividades do Sesc-RS. 14 Arroz e gastronomia A Expofeira – Feira da Gastronomia do Arroz acontece entre os dias 14 e 16 e contará com um estande institucional do Senac Camaquã. Informações: (51) 3671-0363. 17 Pintura a óleo Segue até o dia 17/04 a exposição da artista plástica Iris Wendland na Sala de Exposições do Sesc Santa Rosa. Informações: (55) 3512-6044. Amor e ensino A palestra Pedagogia do Amor, com o professor Gabriel Chalita, acontece no 24 O Sesc Santa Rosa promove, até o dia 08/05, exposição do artista plástico Jeferson Furtado. Informações: (55) 3512-6044. 19 Música no Estado Lançamento do Circuito Sesc de Música Gaúcha, no Sesc Ijuí. Informações: (55) 3332-7511. 24 Bola na quadra De 24 a 29/04, o Sesc Santa Rosa realiza o Campeonato Municipal Aberto/Comerciários de Voleibol. Informações: (55) 3512-6044. 28 Soja Vai de 28/04 a 07/05 a Fenasoja, em Santa Rosa, com a participação do Senac-RS. Informações: (55) 3512-6029. Dia e noite Inauguração do Senac 24h, no Shopping Lindóia, em Porto Alegre. A cerimônia acontece à meia-noite. Informações: (51) 9701-2591.