XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
A Classificação dos Postos Operativos (PO’s) pelo método UP’ Unidade de Produção (UEP’) com foco na identificação de
oportunidades de ações em projetos de melhoria.
Valerio Allora, Eng. (Tecnosul Consulting - Brasil) [email protected]
Simone Espíndola de Oliveira (Tecnosul Consulting - Brasil) [email protected]
Resumo
Medir detalhadamente os custos de cada operação de trabalho no processo de um produto é
importante para o processo de melhoria contínua da organização. Este conhecimento leva a
questionamentos de valorização e identificação dos custos dos diferentes tipos de operação,
que podem ser classificadas de diferentes maneiras. A identificação das operações que não
agregam valor ao processo do produto acaba sendo um ponto bastante útil em relação a
melhoria dos processos de fabricação. Estas operações quando identificadas com precisão
podem gerar muitas oportunidades de melhoria. A utilização do método UP’- Unidade de
Produção e/ou UEP’ – Unidade de Esforço de Produção facilita este processo de
identificação e ajuda os usuários em relação a busca da melhoria contínua dos processos.
Palavras chave: Esforço, Custo, Valor Agregado, Tipo, Operações
1. Introdução
As despesas com operações de transporte interno, controle de qualidade, retrabalho, enfim,
operações que a priori poderiam ser classificadas como operações que não agregam valor ao
processo de fabricação do produto são importantes de serem identificadas. Dentro de um
processo de melhoria contínua é importante identificar as oportunidades de melhoria para que
as equipes que estão trabalhando nestas melhorias tenham uma visão das oportunidades
através de medições específicas do detalhe do processo de fabricação.
Uma parte destas operações do processo somente existem em função de uma falha no
processo produtivo, seja no layout da fábrica, seja na operação, no processo, no projeto, etc.,
ou até uma falha da gestão industrial.
Com a utilização da UP’, a identificação destes problemas é realizada de maneira bastante
simples, pois o método está estruturado na medição dos processos tarefa por tarefa ou
operação por operação dentro do processo produtivo.
Logo, o método UP’ quando subsidiado por outras ferramentas da qualidade, como o
diagrama de Pareto e o diagrama de causa-e-efeito de Ishikawa, potencializa as ações e os
resultados dos trabalhos de mapeamento dos processo produtivos.
O método UP’ é bastante difundido no Brasil e foi implantado em mais de 100 empresas,
principalmente em indústrias na região Sul do Brasil. A conceituação, cálculo assim como
exemplos de implantação podem ser encontrados nas publicações de Sakamoto (2001 e 2003)
em edições anteriores do ENEGEP e em livros e artigos de Allora (1995, 1996 e 2001). O
objetivo deste artigo é mostrar a utilização da UP’ na identificação de melhorias analisando as
operações que agregam e não agregam valor ao processo de fabricação do produto bem como
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
os esforços provenientes de diversos tipos de operações diferentes que podem ser
estratificados para análises gerenciais do processo do produto.
2. O Método UP’
A produção de uma fábrica corresponde ao conjunto de objetos fabricados, sejam acabados,
semi-acabados ou em andamento. Como medir esta produção? Até agora, fora o caso da
fabricação de um único produto, as quantidades e tipos de artigos fabricados só podem ser
enumerados; trabalho demorado, com pouco significado em relação ao total da produção de
uma empresa. Para ter uma idéia da produção, faz-se necessário recorrer a uma unidade de
medida entre as já existentes: metro, quilograma, etc., que possa aplicar com menor mal ao
gênero de artigos fabricados.
Número de peças e metros na tecelagem e confecções, quilograma na fundição e mecânica,
horas de trabalho em certos casos, etc., são todas unidades imperfeitas, que não podem
representar o verdadeiro valor da produção. Em resumo, a produção geralmente não dispõe de
uma unidade de medida própria para medi-la, quaisquer que sejam os produtos fabricados.
A unificação da medida da produção completa esta dúvida fundando-se na noção de esforço
de produção. Esta nova noção representa, para uma máquina funcionando, o esforço humano,
o esforço da própria máquina, o esforço dos capitais, o esforço da energia aplicada e outros
direta e indiretamente aplicados. Os esforços de produção, assim definidos, provenientes de
todos os setores da fábrica e de todas as máquinas de cada setor, não obstante de suas origens
mais diversas como torno, frezadora, retífica, montagem, etc., possuem a propriedade
fundamental de serem adicionados.
Pode-se então, conceder o esforço de produção total de uma fábrica como resultante da soma
de todos os esforços de produção parciais desenvolvidos em cada posto operativo (operações
de trabalho). Cada produto, por mais numeroso e diversificado que seja, poderá ser medido
pela quantidade de esforço que foi necessário para fabricá-lo, uma vez que este produto foi
concebido através da passagem por diversos locais de trabalho que por sua vez realizam tal
esforço. Pode-se também tentar entender este esforço desenvolvido através do gráfico abaixo
(Figura 1), ou seja, o esforço de produção é o trabalho realizado pela fábrica para transformar
a matéria-prima em produto acabado. Este trabalho realizado pode ser chamado de esforço e
ele será composto de esforços humanos, capital, energia, etc.
Fábrica
MatériaPrima
Esforço
Produtos
Figura 1 - Representação gráfica do esforço
Para medir o esforço de produção, consideramos um torno e uma frezadora trabalhando
dentro de condições bem definidas. Estas duas máquinas desenvolvem, por hora, esforços de
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
produção, cujo valor absoluto fica abstrato. Mas um elemento pode ser definido, calculado e
medido: a relação entre os dois esforços.
O sistema mede, em um determinado momento, todos os esforços de produção em dinheiro e
calcula as relações entre eles. Feito isto, o dinheiro é abandonado e o sistema opera sobre as
relações, que assumem a denominação de UP' ou Unidades de Produção (também conhecido
como UEP - Unidade de Esforço de Produção). Os esforços de produção de cada posto de
trabalho são expressos e medidos em quantidades de UP/h e os inúmeros produtos pelo
número de UP's que acumulam durante seus respectivos processos produtivos. O total dos
esforços de produção em UP's, que é igual à soma de cada produto, mede a produção da
fábrica. A valorização periódica das UP's em dinheiro, cálculo bem simples, representa seu
valor monetário no momento, podendo assim quantificar em UP's e em dinheiro qualquer
produto ou produção por mais diversificada que seja.
3. Análise das operações com as UP’s
O método UP’ constitui-se, deste modo, numa ferramenta analítica dentro do plano industrial,
pois conforme analisado mede as operações em detalhe no processo produtivo com o objetivo
de conhecer o esforço aplicado a cada uma destas operações de trabalho sejam elas, máquinas,
manuais e de outros diferentes tipos. Quando estas informações são analisadas fornece à
equipe de engenharia, pesquisa e desenvolvimento, e demais funções ligadas às atividades
industriais um instrumento ímpar para focalização, priorização e estratificação das ações e
melhorias a serem realizadas.
Conhecendo cada uma das operações de fabricação do processo produtivo pode-se abrir esta
classificação em relação às operações que agregam e não agregam valor ao processo do
produto, bem como de outras maneiras como por exemplo: operações máquinas, operações
manuais, operações homem-máquina, operações de transporte, operações de aferição de
qualidade, etc., mapeando assim todos os tipos de operações facilmente e da maneira que for
mais conveniente para a análise e levantamento de lacunas para melhoria de processos de
fabricação.
Neste artigo será mostrado um exemplo de como podemos trabalhar com o método UP' na
geração de informação confiável para a detecção de problemas e realização de ações de
melhoria.
Analisando o processo de fabricação (de 1,0 pç) de um produto fictício (Tabela 1) podemos
verificar seu processo produtivo mapeado da seguinte forma:
Postos Operativos por onde
passa o produto
Esforço em UP/h
do PO
Tempo em
horas
Esforço Absorvido em
UP’s
Preparação de MP
6,00
0,200
1,200
Transporte Carrinho Manual
3,00
0,030
0,090
10,00
0,500
5,000
3,00
0,020
0,060
27,00
1,000
27,000
Resfriamento
2,00
1,500
3,000
Transporte Carrinho Manual
3,00
0,040
0,120
Envase
7,00
0,300
2,100
Mistura de MP
Transporte Carrinho Manual
Tanque de Cozimento
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
Seladora à Vácuo
16,00
0,100
1,600
Inspeção de qualidade
4,00
0,500
2,000
Encaixotamento
3,00
0,001
0,003
Retrabalho do Encaixotamento
8,00
0,050
0,400
35,00
0,100
3,500
8,00
0,020
0,160
15,00
0,150
2,250
Congelamento
Transporte Empilhadeira
Transporte para Expedição
Total do Esforço
48,483
Tabela 1 – Esforço de fabricação do produto fictício
Classificando cada posto operativo, ou seja, cada operação de trabalho em agrega e não
agrega valor ao processo do produto podemos identificar e classificar operações como
transportes internos, inspeções de qualidade, retrabalhos, etc. como operações que não
agregam valor na fabricação do produto. Na tabela abaixo (Tabela 2) verifica-se o produto
analisado na tabela anterior (Tabela 1) com as devidas classificações de agrega ou não valor
ao processo do produto e tipo de operação:
Postos Operativos por onde
passa o produto
Agrega
Valor ao
processo ?
Tipo de
Operação
Esforço em
UP/h do PO
Tempo em
horas
Esforço
Absorvido em
UP’s
Preparação de MP
Sim
Manual
6,00
0,200
1,200
Transporte Carrinho Manual
Não
Manual
3,00
0,030
0,090
Mistura de MP
Sim
Máquina
10,00
0,500
5,000
Transporte Carrinho Manual
Não
Manual
3,00
0,020
0,060
Tanque de Cozimento
Sim
Máquina
27,00
1,000
27,000
Resfriamento
Sim
Máquina
2,00
1,500
3,000
Transporte Carrinho Manual
Não
Manual
3,00
0,040
0,120
Envase
Sim
Máquina
7,00
0,300
2,100
Seladora à Vácuo
Sim
Máquina
16,00
0,100
1,600
Inspeção de qualidade
Não
Qualidade
4,00
0,500
2,000
Encaixotamento
Sim
Manual
3,00
0,001
0,003
Retrabalho do Encaixotamento
Não
Retrabalho
8,00
0,050
0,400
Congelamento
Sim
Máquina
35,00
0,001
3,500
Transporte Empilhadeira
Não
Máquina
8,00
0,200
0,160
Transporte para Expedição
Não
Manual
15,00
0,150
2,250
Total do Esforço
48,483
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
Tabela 2 – Classificação do esforço do processo do produto em agrega e não agrega valor
Agrupando os postos operativos (operações) que agregam valor e os que não agregam valor
ao processo do produto obtém-se a tabela abaixo (Tabela 3):
Postos Operativos por onde passa
o produto
Agrega
Valor ?
Esforço em
UP/h do PO
Tempo em
horas
Esforço
Absorvido em
UP’s
Transporte Carrinho Manual
Não
3,00
0,030
0,090
Transporte Carrinho Manual
Não
3,00
0,020
0,060
Transporte Carrinho Manual
Não
3,00
0,040
0,120
Inspeção de qualidade
Não
4,00
0,500
2,000
Retrabalho do Encaixotamento
Não
8,00
0,050
0,400
Transporte Empilhadeira
Não
8,00
0,200
0,160
Transporte para Expedição
Não
15,00
0,150
2,250
Total (Não Agrega Valor)
5,080
Preparação de MP
Sim
6,00
0,200
1,200
Mistura de MP
Sim
10,00
0,500
5,000
Tanque de Cozimento
Sim
27,00
1,000
27,000
Resfriamento
Sim
2,00
1,500
3,000
Envase
Sim
7,00
0,300
2,100
Seladora à Vácuo
Sim
16,00
0,100
1,600
Encaixotamento
Sim
3,00
0,001
0,003
Congelamento
Sim
35,00
0,001
3,500
Total (Agrega Valor)
Total do Esforço
43,403
48,483
Tabela 3 – Agrupamento das operações que agregam e não agregam valor ao processo do produto
Verifica-se também de modo gráfico com seus devidos percentuais a quantidade de esforço do
produto que agrega valor e a quantidade de esforço do produto que não agrega valor ao
processo conforme gráfico abaixo (Figura 2):
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
10,48%
Total (Não Agrega Valor)
Total (Agrega Valor)
89,52%
Figura 2 - Representação gráfica do total de agregação de valor no processo do produto
Podemos também agrupar os esforços das operações dos produtos em tipos de Postos
Operativos (operações) e com isto conhecer qual a parcela de contribuição de cada tipo de PO
no esforço do produto conforme tabela abaixo (Tabela 4)
:
Tipo de Operações
Total do esforço
do tipo de
operação
% do Total do esforço
do produto
Máquina
42,360
87,371
Manual
3,723
7,679
Qualidade
2,000
4,125
Retrabalho
0,400
0,825
48,483
100,000
Total
Tabela 4 – Agrupamento das operações em diferentes tipos de Postos Operativos
Verifica-se também de modo gráfico como efetuado nas operações que agregam e não
agregam valor ao processo do produto a quantidade de esforço do produto dos diferentes tipos
de operações que foram escolhidos conforme gráfico abaixo (Figura 3):
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
4,13% 0,83%
7,68%
Máquina
Manual
Qualidade
Retrabalho
87,37%
Figura 3 - Representação gráfica do total de esforço de cada tipo de PO das operações do produto
4. Conclusões
Pode-se observar que 10,48% do esforço de produção deste produto correspondem às
operações que não agregam valor ao processo do produto.
Observa-se que conforme o gráfico da (figura 3) podemos verificar que o maior esforço do
produto são em operações máquina 87,37%.
Verifica-se também que 0,83% do esforço do produto são em operações de retrabalho.
Logo, os primeiros esforços no sentido de realizar projetos de melhoria, devem focar a
eliminação, quando possível, destas operações, por exemplo, melhorando o layout da fábrica
para evitar o transporte excessivo.
Surge então a necessidade da elaboração de projetos para a correção destas lacunas, onde a
equipe de engenharia poderá fazer uma previsão de investimentos, e baseado na simulação de
como ficará o novo processo e na economia que o mesmo irá proporcionar, verificar em
quanto tempo o investimento se pagará e qual o impacto que a mudança causará nos custos
dos produtos.
Esta técnica combinada com o diagrama de Pareto multiplica o campo de visão do gestor e
fornece elementos importantes para a realização de melhorias dentro da planta industrial.
Algumas necessidades de melhorias são bastante visíveis e dispensam métodos para
identificá-las. No entanto, é difícil identificar quanto custa o problema e o impacto na
rentabilidade da empresa.
Outras possibilidades de melhorias, no entanto, podem ser facilmente identificadas através da
utilização do método UP’, o qual desdobra nos mínimos detalhes os elementos de custos.
Em um ambiente de mudanças contínuas, pressão do mercado, concorrência acirrada,
produzir com um custo mais competitivo, melhorar a qualidade e o valor percebido pelo
cliente é condição “sine qua non” de sobrevivência, onde ferramentas especializadas de gestão
industrial serão cada vez mais importantes para op processo de melhoria contínua do processo
de fabricação.
XXV ENEGEP Porto Alegre, RS, Brasil, 29 de Outubro a 01 de Novembro de 2005
Referências
ALLORA, Franz, ALLORA, Valerio. (1995) Unidade de Medida da Produção. Editora Pioneira. São Paulo.
ALLORA, Valerio, GANTZEL, Gerson. (1996) Revolução nos Custos. Editora Casa da Qualidade. Salvador
ALLORA, Valerio, OLIVEIRA, Simone. (2001) O Método UP' - Unidade de Produção (UEP') e sua Aplicação
no Benchmarking Interno dos Processos de Fabricação. VII Congreso Del Instituto Internacional de Costos - II
Congreso de la Asociacion Española de Contabilidad Directiva. Julho, León, Espanha.
ALLORA, Valerio. (1996) UP’ – Production Unit, a new method to measure cost and industrial controls. 1st
International Conference on Industrial Engineering Aplications and Practice. Dezembro. Houston, USA.
SAKAMOTO, Frederico Tadashi C., ALLORA, Valerio. ESPÍNDOLA, Simone. (2001) Melhoramento nas
ferramentas de gestão: a implantação da UP na Seara Alimentos S.A. Anais do 21º Encontro Nacional de
Engenharia de Produção – ENEGEP. Salvador.
SAKAMOTO, Frederico Tadashi C. (2003) A gestão da produção e gestão de custo através da UP- Unidade de
Produção: fase pós-implantação da UP na Seara Alimentos S.A. Anais do 23º Encontro Nacional de Engenharia
de Produção – ENEGEP. Ouro Preto.
Download

9. Porto Alegre