Viver intensamente ainda é o melhor remédio A depressão na terceira idade pode e deve ser evitada com uma atitude positiva diante da vida endurar as chuteiras e ficar de pernas para o ar aproveitando os prazeres da vida é a postura mais correta para encarar a aposentadoria, certo? Errado. Pesquisas recentes na área da geriatria mostram que nos últimos anos vêm crescendo o número de aposentados que buscam ajuda para evitar um transtorno psíquico comum nessa fase da vida: a depressão. A bancária Jurema Santana, de 68 anos, por exemplo, entrou em desespero quando percebeu que a aposentadoria estava próxima. Afinal, o que faria com tanto P “É preciso aprender a conviver com algumas restrições que o corpo começa a pedir.” 12 tempo livre em sua vida? “Confesso que não foi nada fácil. São anos dedicados a uma rotina que de repente você vê que acabou. A princípio você não vê muita alternativa para nada. É muito ruim”, conta. Com um grupo de auto-ajuda, Jurema conseguiu vencer essa nova etapa da sua vida. Mas nem sempre é assim. Algumas pessoas costumam se trancar dentro da ociosidade e acabam entrevadas numa cama. O geriatra Dr. Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati/Uerj) – núcleo especializado na promoção de pesquisas e atividades de assistência à população idosa, ressalta que o idoso precisa ter consciência da importância do seu papel numa sociedade cuja expectativa de vida é cada vez maior. “Com este prolongamento, haverá mais indivíduos em atividade sexual, com outras funções profissionais e intelectuais. A sociedade começa a ver que o estigma da inoperância do idoso está equivocada”, frisa. A prática de esportes e de atividades de convivência social e de desenvolvimento do potencial intelectual foram saídas encontradas por casais como Celeste Gomes, de 71, e Hans Adelaide Alvim. Os dois enxergaram na dança a fórmula para preencher o tempo que sobrava. “É o tipo de atividade que aproxima o casal. Me sinto mais jovem. Dessa forma, posso namorar o Hans todos os dias”, conta Celeste. “O melhor de tudo, além do namoro, é estar próximo dos amigos. Isso não tem preço”, completa Hans, que também tem um orquidário em sua casa. “A planta é outra terapia para mim. Quando cuido delas, esqueço de tudo. Fortalece minha alma”, garante. O geriatra Dr. Renato Veras explica que fatores biológicos, genéticos e psicológicos estão incluídos na tendência à depressão. No entanto, o surgimento da doença, na maioria das vezes, depende de fatores desencadeantes de ordem pessoal, como por exemplo doenças, ou de ordem social, como desamparo familiar. “O tratamento diminui gradativamente o sofrimento, eliminando os sintomas e permitindo que o sujeito retorne a uma vida normal. O tratamento inclui o uso de medicamentos, mas a manutenção dos efeitos positivos é favorecida pelo exercício de uma nova postura diante da vida”, ensina o especialista, ressaltando que a recuperação só será alcançada depois de várias semanas. Pesquisas feitas por psicólogos da própria Unati constataram que o isolamento social é uma das maiores causas de depressão na velhice. As amigas Neyde de Souza Gomes, de 70, e Sirlene Cabral Dib, de 67, combatem o baixo astral com cursos e saídas semanais em shoppings. Bemhumoradas, elas dizem que só não compram muito porque o dinheiro da aposentadoria é curto. “O importante é não ficar em casa esperando a morte. Meu pai se entregou muito quando ficou velho. Não quero isso para mim. Por isso estou sempre procurando o que fazer”, ensina Neyde. “Eu gosto mais do tricô. Estou sempre procurando um curso diferente. É muito agradável”, fala Sirlene. No Brasil, os antídotos contra a depressão estão foram do alcance da maior parte da população, já que, uma parcela significativa dela, passa por dificuldades econômicas e sociais. “Isso não quer dizer que a doença esteja ligada diretamente a questões financeiras, mas sim por falta de uma política que dê ao cidadão uma vida melhor, onde haja equilíbrio entre trabalho, amigos e lazer”, avalia Renato Veras. “Quando devidamente orientada, uma pessoa mais velha pode empregar seus recursos para diminuir a possibilidade de ficar deprimida. É preciso aprender a conviver com algumas restrições que o corpo começa a pedir”, salienta o geriatra. Algumas dicas para evitar a depressão • Aprender a respeitar os próprios limites • Buscar apoio de familiares e amigos • Desenvolver trabalhos e/ou estudos que sejam úteis e prazerosos • Participar de atividades sociais, culturais e religiosas • Ocupar-se em vez de preocupar-se • Alimentar-se bem • Valorizar os bons momentos e não apenas os ruins • Pôr o corpo em movimento Três perfis de aposentados Especialistas da Universidade Aberta da Terceira Idade apontam três perfis distintos de aposentados. Eles mostram os sintomas que levam ao diagnóstico destes perfis e também o prognóstico e as medidas terapêuticas indicados para evitar problemas com a depressão. O tipo boa vida: em geral é o indivíduo que vê na aposentadoria uma oportunidade para se afastar de qualquer atividade física, intelectual e social. É aquele que a princípio comemora e que acha ótimo não fazer nada. Prognóstico: especialistas dizem que estes indivíduos, em geral, tendem a cair do cavalo algum tempo depois. São aqueles que se decepcionam com a nova realidade e vêem, muitas vezes, que não conhecem o estilo de vida de sua família, os hábitos da mulher e que descobrem o quanto a rotina do ócio também é desagradável. O tipo consciente: é o indivíduo que está atento à questão demográfica e ao crescimento da população idosa do país. Eles sabem que terão ainda muito tempo de vida e decidem que é primordial ter outras experiências profissionais. Prognóstico: das duas uma: ou este grupo de aposentados será bem sucedido na sua busca por uma nova ocupação, ou então ficará frustrado com a sua iniciativa. Dependendo da área de atuação, este grupo pode entrar em conflito com a modernização do mercado de trabalho. O tipo oportunista: é o indivíduo oportunista no bom sentido da palavra. Acha que a terceira idade é apenas mais uma fase da vida após os 60 anos. Em geral, vê na aposentadoria a oportunidade de se dedicar a outras atividades, terapêuticas ou profissionais, e intelectuais, como cursos, viagens. Prognóstico: este grupo é o que tem mais chance de encarar a velhice de forma saudável e dificilmente vai se frustrar. Qualquer atividade nesse período será realização de desejos. 13