JUVENTUDE E POLÍTICAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO COM JOVENS EGRESSOS DO PROJOVEM URBANO. Márcia Teixeira Pinto 1 Jovens pobres enfrentam uma série de obstáculos para permanecerem na escola e reconhecerem nela um significado positivo para suas vidas. Ao interromper sua escolarização para ingressarem de forma precária e precoce no mercado de trabalho, reduzem sua moratória social. São os jovens pobres que, atingidos pelas desigualdades estão sem qualificação profissional, em situação de fracasso escolar, desempregados, passam a ser vistos de forma reduzida e excludente, como alvo de programas emergenciais para não ingressarem no “mundo da marginalidade”. Nesse sentido, a pesquisa busca contribuir para a discussão de uma questão que atinge a sociedade hoje: a juventude como problema social. Para realização desta pesquisa em andamento partiremos de um componente da Política Nacional da Juventude, o Projovem Urbano, voltado especificamente para o segmento juvenil mais vulnerável e menos contemplado pelas políticas públicas vigentes – jovens entre 18 e 29 anos, alfabetizados, mas que não tenham concluído a 8º série. O Projovem Urbano assume, ao mesmo tempo, caráter emergencial e caráter educacional experimental, pois sua proposta curricular baseia-se em novos paradigmas que trata de forma integrada elevação da escolaridade, a qualificação inicial para o trabalho e o planejamento e execução de ações comunitárias de interesse público. Dessa forma, o Estado tenta fazer frente a um processo de exclusão que historicamente atinge grande parte da juventude pobre brasileira. Reforçamos a dificuldade inerente que está especificamente contida na categoria juventude, uma vez que esta articula tanto aspectos biológicos, quanto sociais. Caso não reconheçamos os significados socialmente construídos entorno dessa categoria, corremos o risco, como pesquisadores, de termos como objeto de estudo “apenas uma palavra”, como nos ensina Bourdieu (1983). Partimos do pressuposto que Juventude é uma categoria construída socialmente, não podendo ser compreendida de forma monolítica e objetivamente dada. O que é inerente a essa categoria é seu caráter não-homogêneo. Condição social, etnia, gênero, origem regional, territorial, bem como a fase da vida, influenciam na forma de experimentar a condição juvenil. Servirá como ferramenta analítica a noção de moratória social (Margullis e Urresti 1996), enquanto condição outorgada ao jovem pela família ou pelo Estado. Ao abordarmos a Juventude como objeto de estudo, estamos propondo pensá-la como condição desigual vivenciada (Bourdieu, 1983). Vamos analisar os condicionantes que interferem na forma de ser “jovem”: idade, geração, classe social, condições de vida, grau de suporte oferecido pela família, Estado e demais instituições (moratória social), gênero. Urresti e Margulis (1996) nos chamam a atenção para um ponto muito importante, principalmente no que concerne à questão de fundo dessa pesquisa: apesar de não portarem todos os signos relacionados à juventude, não correspondendo, portanto, ao modelo hegemônico de “juventude” e encontrarem mais dificuldades para acessarem a moratória social, os jovens pobres também acessam a condição juvenil. O que buscamos investigar é como vivenciam essa condição e em que medida as políticas públicas voltadas para esse segmento contribuem nesse sentido. Essa discussão permite entender porque juventude é uma categoria socialmente construída, não podendo de forma alguma, ser definida por critérios somente biológicos, jurídicos ou de faixa etária. Porem algumas características marcam esse período de vida: é o período no qual se encerra a socialização primária, e se inicia a socialização secundária, ampliando-se o círculo de socialização 22 ____________________ ¹ Discente do Mestrado em Educação, Comunicação e Cultura em Periferias Urbanas, FEBF/UERJ para o espaço escolar, o de trabalho e grupos sociais. Os indivíduos experimentam um período liminar (nem criança, nem adulto) e buscam uma maior autonomia em relação à família. A forma como os jovens vivenciam esse período, marcará suas vidas no futuro. Esse será construído a partir das experiências e das oportunidades oferecidas no momento presente. É necessário investigar em que medida as políticas públicas para juventude conseguem ampliar os direitos, no sentido de garantir o acesso à moratória social para os jovens brasileiros. O objetivo geral é analisar em que medida o Programa Projovem Urbano contribui para os jovens egressos terem acesso a possibilidades de experiências que reduzam a forma desigual de vivenciar a condição juvenil. Objetivos específicos: 1) Caracterizar a situação familiar, a trajetória escolar e laboral dos jovens egressos do Projovem Urbano da cidade do Rio de Janeiro, ano de conclusão 2010; 2) Compreender as percepções desses sujeitos sobre sua condição juvenil e como constroem sua experiência em uma dada situação; 3) Avaliar se o Programa contribuiu, segundo os próprios jovens entrevistados, para: alterar sua trajetória escolar e laboral; ampliar as expectativas e aspirações em relação à “projeto de futuro”; diversificar as possibilidades de experimentação da condição juvenil. A abordagem será qualitativa, associando instrumental variado, tal como: pesquisa de campo, realização de entrevistas aprofundadas e análise de documentos e projetos relacionados ao tema. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A juventude é apenas uma palavra. IN: Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. LENOIR, Remi. Objeto sociológico e problema social. IN: Iniciação à prática sociológica. Petrópolis: Vozes, 1996. MARGULIS, M.; URRESTI, M. La juventude es más que uma palabra. In: MARGULIS, M. (Org). La juventud es más que uma palabra: ensayos sobre cultura y juventud. Buenos Aires: Biblos, 1996. 23