Pregnancy following bariatric surgery Resumo A obesidade é uma condição crônica que tem se tornado prevalente ao redor do mundo. Os tratamentos clínicos incluem dieta, exercícios, alteração comportamental e uso de medicações. A cirurgia deve ser reservada para os pacientes obesos mórbidos que não respondem às terapias não invasivas para perda de peso. Durante as últimas décadas, a cirurgia bariátrica se expandiu rapidamente e cada vez mais mulheres jovens estão procurando esta forma de tratamento, o que pode causar um aumento no número de gestações após a perda de peso. A gravidez após a cirurgia bariátrica nos traz uma série de questionamentos e preocupações a respeito da gestante e de seu feto. A suplementação nutricional e a monitorização intensiva antes, durante e após a gravidez podem ajudar a evitar complicações relacionadas à nutrição e melhorar a saúde materno-fetal, e os obstetras devem estar preparados para lidar com esse tipo de paciente, que será cada vez mais freqüente na prática diária em um futuro próximo. at u a l i z a ç ã o Gravidez após cirurgia bariátrica William Kondo1 Marco Aurélio de George1 Alcides José Branco Filho1 Marlon Rangel1 Mariana Jorge1 Giovana Jorge Garcia1 Palavras-chave Gravidez Nutrição Bariátrico Keywords Pregnancy Nutrition Bariatric Abstract Obesity is a chronic condition that has become prevalent worldwide. Clinical treatment includes diet, exercise, behavior modification, and pharmacological approach. Surgical therapy should be offered to morbidly obese patients who are unresponsive to nonsurgical therapies for weight loss. Over the last decades, bariatric surgery has been expanding rapidly and more young women are seeking this type of treatment, which may cause increased pregnancies after weight loss. Reproduction for women who have had bariatric surgery confronts us with a new series of questions and concerns for both mothers and their offspring. Nutrient supplementation following bariatric surgery and close supervision before, during, and after pregnancy can help prevent nutrition-related complications and improve maternal and fetal health, and obstetricians must be prepared to cope with these kind of patients, who will be common in the daily practice in the near future. 1 Departamento de Cirurgia Geral do Hospital da Cruz Vermelha, Curitiba, Paraná, Brasil FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 239 Gravidez após cirurgia bariátrica Introdução A obesidade é uma enfermidade crônica, multifatorial, na maioria das vezes incurável, que pode ser ameaçadora à vida quando atinge níveis acentuados, sendo então chamada de mórbida ou grave. Em sua origem apresenta elementos sociais, comportamentais, ambientais, culturais, psicológicos, metabólicos e genéticos (Toneto et al., 2004). Caracteriza-se pelo acúmulo de gordura corporal resultante do desequilíbrio energético prolongado, que pode ser causado pelo excesso de consumo de calorias e/ou inatividade física. Os fatores genéticos desempenham papel importante na determinação da suscetibilidade do indivíduo para o ganho de peso, porém são os fatores ambientais e de estilo de vida, tais como hábitos alimentares inadequados e sedentarismo, que geralmente levam a um balanço energético positivo, favorecendo o surgimento da obesidade. A prevalência de sobrepeso e obesidade vem aumentando rapidamente no mundo, sendo considerada um importante problema de saúde pública nos Estados Unidos e no mundo ocidental (Mokdad et al., 1999). Esse aumento é verificado mesmo em países em desenvolvimento, como o Brasil. O grau de obesidade é mais convenientemente quantificado utilizando-se o índice de massa corporal (IMC), uma vez que é de fácil obtenção e apresenta uma correlação relativamente acurada com a quantidade de gordura corporal. O IMC representa a razão entre o peso e a área de superfície corporal, expressada pelo peso (em quilos) dividido pelo quadrado da altura (em metros quadrados). A obesidade mórbida é caracterizada pelo IMC ≥ 40 kg/m2 ou IMC ≥ 35 kg/m2 associado a comorbidades como hipertensão, diabetes tipo 2, aterosclerose, apnéia do sono e osteoartrite (National Institutes of Health, 1991). Além dessas comorbidades, a obesidade está associada a um maior risco de câncer (mama, cólon e útero) e de morte prematura, uma pior qualidade de vida e uma maior necessidade de terapias para perda de peso (Fisher & Schauer, 2002), gerando altos custos diretos e indiretos para os sistemas de saúde. A obesidade é ainda uma causa de infertilidade, e muitos autores consideram a gestante obesa uma paciente de alto risco. A obesidade durante a gravidez aumenta a incidência de hipertensão, pré-eclampsia, diabetes, macrossomia, defeitos no tubo neural e complicações anestésicas intra-parto (Dixon et al., 2005; Martin et al., 2000),. Os resultados dos tratamentos não cirúrgicos (terapias médicas, comportamentais e dietas) da obesidade mórbida são ineficazes em longo prazo e estão fadados a falhar em 240 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 mais de 95% dos casos. Para esses pacientes, o tratamento cirúrgico representa a terapia mais efetiva, com perda de peso significativa e sustentada, bem como resolução ou melhora das comorbidades (Toneto et al., 2004). Em 1991, o National Institutes of Health estabeleceu os guidelines para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, atualmente referido como cirurgia bariátrica. Nos dias atuais o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida é encarado como um método seguro e efetivo de perda de peso quando as terapias menos invasivas não obtiveram sucesso (Woodard, 2004). Com o aumento do número de cirurgias bariátricas nos últimos anos, cada vez mais mulheres em idade fértil têm sido submetidas a esse procedimento (Raymond, 2005). Isso nos faz refletir sobre a segurança da gestação e do parto nesse grupo de pacientes, uma vez que este grupo está crescendo e sem dúvida nenhuma será parte da prática diária de muitos obstetras em um futuro próximo. O objetivo deste artigo é revisar a literatura disponível a respeito da gestação após cirurgia bariátrica. Riscos da gravidez em paciente obesa mórbida – revisão de literatura É difícil, mas não impossível, que uma paciente com obesidade mórbida possa engravidar, devido ao desequilíbrio hormonal e à irregularidade menstrual e ovulatória que a maioria delas apresenta. Muitas dessas mulheres tentam engravidar durante anos e não têm sucesso enquanto a obesidade não é tratada (Raymond, 2005). Para aquelas que têm êxito, pode ser difícil garantir a segurança da gestação e a boa evolução da saúde materno-fetal. Em decorrência do IMC elevado, há limitações das técnicas utilizadas para monitorizar a saúde fetal e checar a função placentária durante a gestação. Isto pode ser preocupante se levarmos em consideração que a mulher obesa apresenta um risco aumentado para sérias complicações pré-natais e neonatais, necessitando, portanto, de maior supervisão durante a gravidez. As mulheres obesas e com sobrepeso são mais vulneráveis a complicações gestacionais relacionadas diretamente ao seu peso, como diabetes gestacional e hipertensão induzida pela gestação. O metabolismo deficiente da glicose está freqüentemente presente em mulheres obesas, e esta condição é exacerbada pelas maiores demandas metabólicas da gravidez assim como pelo ganho de peso induzido pela gestação, resultando em diabetes gestacional (Raymond, 2005). Mulheres obesas têm maior risco de hipertensão como Gravidez após cirurgia bariátrica resultado de estresse no sistema vascular, e o aumento do volume plasmático circulante durante a gravidez aumenta ainda mais este risco. Essas duas condições produzem efeitos indiretos ao feto, como macrossomia (fetos grandes para a idade gestacional) e comprometimento placentário. Os conceptos macrossômicos são mais propensos a trauma durante o parto. A hipertensão por sua vez afeta a função placentária de manter o bem-estar fetal. Vários estudos têm observado uma correlação entre os vários graus de sobrepeso e obesidade e as anormalidades fetais como os defeitos da medula espinhal e cardíacos (Cedergren & Kallen, 2003; Watkins et al., 2003). Na gestação normal, o ácido fólico é um protetor contra defeitos da medula espinhal (Botto et al., 2004; Paniz et al., 2005). Até recentemente, acreditava-se que as gestações de mulheres obesas eram similarmente protegidas pela ingesta de ácido fólico nas quantias recomendadas. No entanto, estudos adicionais têm documentado que as gestações de mulheres obesas parecem não ser protegidas pelo ácido fólico, uma vez que o risco de defeitos do tubo neural tem sido correlacionado positivamente como o grau de obesidade, apesar da adequada ingesta de ácido fólico. Além disso, pesquisadores também têm encontrado uma correlação positiva entre obesidade e certos defeitos cardíacos, embora esta associação ainda não esteja totalmente clara (Watkins et al., 1996). A cirurgia bariátrica O painel de especialistas do National Institutes of Health de 1991 revisou os dados em longo prazo relacionados à segurança e eficácia da perda de peso com o tratamento clínico e o cirúrgico, concluindo que a terapia cirúrgica deve ser oferecida para pacientes obesos mórbidos que não são responsivos ao tratamento conservador para perda de peso. Essa indicação cirúrgica foi baseada na presença de um grande número de estudos indicando que a redução do peso induzida pela dieta, com ou sem modificação comportamental ou terapia medicamentosa, apresenta uma inaceitável alta incidência de re-ganho de peso nos pacientes obesos mórbidos dentro de 2 anos da máxima perda de peso. Existem 2 tipos de estratégias cirúrgicas para induzir perda de peso em paciente obesos mórbidos: restrição gástrica e disabsorção intestinal. Alguns procedimentos combinam esses 2 elementos básicos. Os procedimentos restritivos causam saciedade precoce por meio da criação de um pequeno reservatório gástrico e prolongam a saciedade por meio da confecção de uma via de saída desse reservatório de estreito calibre. Dentre eles estão as várias técnicas de gastroplastia e de banda gástrica (ajustável ou não) (Fisher & Schauer, 2002). Os procedimentos puramente disabsortivos não são mais utilizados na atualidade devido ao alto índice de efeitos colaterais e disfunções de órgãos, e incluem os antigos bypasses jejuno-ileiais e jejuno-colônicos. As técnicas combinadas incluem a derivação biliopancreática, com ou sem duodenal switch, e o bypass gástrico distal, técnicas com maior tendência disabsortiva, e o bypass gástrico em Y-de-Roux, técnica com maior tendência restritiva, mas que pode ter o mecanismo disabsortivo aumentado de acordo com a extensão do intestino delgado transposto. Nas cirurgias restritivas o reservatório e a via de saída devem ser pequenos o suficiente para restringir a ingesta, mas não tão pequenos a ponto de causar obstrução. Orientação nutricional adequada é necessária, uma vez que a ingesta de líquidos com alto teor calórico ou alimentos de consistência pastosa não é inibida pela via de saída estreitada, e a ingesta inadvertida pode resultar em falência do método. Os benefícios incluem simplicidade técnica e o fato de dispensar o uso de staplers (grampeadores), anastomoses ou bypasses (transposições) de qualquer parte do trato gastrointestinal. A má absorção protéico-calórica e a deficiência de vitaminas e sais minerais são eventos pouco prováveis após os procedimentos restritivos. As desvantagens relativas incluem menor perda de peso comparada aos procedimentos alternativos e maior índice de falências tardias devido à dilatação do reservatório ou da anastomose ou comportamento alimentar mal adaptado. Além disso, o estreitamento excessivo da via de saída pode causar vômitos freqüentes e refluxo gastroesofágico (Fisher & Schauer, 2002). Os procedimentos mistos com tendência disabsortiva envolvem algum grau de redução do volume gástrico, mas a perda de peso depende principalmente do bypass de vários centímetros de intestino delgado para reduzir a superfície absortiva, acarretando uma “síndrome do intestino curto controlada”. O grau de disabsorção é determinado pelo comprimento do canal comum onde ocorre a mistura do alimento com as enzimas digestivas. O grande benefício é a perda de peso significativa e sustentada, menos dependente do hábito alimentar comparado aos procedimentos restritivos. Diarréia intermitente ou esteatorréia são comuns e variam de acordo com a ingesta de gordura na dieta. Esses procedimentos geralmente são tecnicamente mais complexos do que as cirurgias restritivas, com 2 anastomoses, incluindo a ressecção parcial do estômago (Fisher & Schauer, 2002). O bypass gástrico em Y-de-Roux, uma cirurgia intermediária, tem sido historicamente considerada uma cirurgia restritiva, FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 241 Gravidez após cirurgia bariátrica embora muitos argumentem que há um grau de disabsorção devido ao intestino transposto. Embora haja muitas variações, a maioria dos cirurgiões cria um reservatório gástrico de 15 a 50 mL, com uma alça de Roux (alimentar) de 75 a 150 cm conectada a uma enteroenteroanastomose ao jejuno 30 a 50 cm de distância do ângulo de Treitz (alça biliopancreática). Devido à transposição intestinal, deficiências de vitaminas e minerais podem ocorrer, mas a desnutrição protéico-calórica raramente ocorre (Fisher & Schauer, 2002). Alterações hormonais e de fertilidade após a cirurgia bariátrica A obesidade mórbida altera profundamente os níveis, o metabolismo e a função dos hormônios sexuais (Bastounis et al., 1998). As mulheres obesas apresentam níveis aumentados de estrógeno e outros hormônios sexuais metabolizados no tecido adiposo e não disponíveis para mecanismos de controle central. Esse excesso de hormônios pode causar uma série de problemas, incluindo ausência de ovulação, sangramento menstrual irregular e infertilidade. Além disso, a anticoncepção também é mais difícil de ser ajustada (Raymond, 2005). Até recentemente, sabia-se que a perda de peso poderia melhorar essas alterações nos níveis de hormônios sexuais. A redução do IMC diminui a quantidade total de hormônios circulantes e pode ajudar a restaurar os mecanismos hormonais de feedback (Raymond, 2005). As mulheres que reduzem o seu IMC também reduzem a freqüência de irregularidade menstrual e conseguem um padrão mais consistente de ovulação, melhorando a fertilidade e a possibilidade de uma gravidez (Bastounis et al., 1998; Martin et al., 2000). Alguns autores vão mais além e sugerem que a cirurgia bariátrica poderia ser benéfica para as mulheres que apresentam obesidade leve e que apresentam disfunções hormonais que dificultam a gravidez, como esperança para a correção desse desequilíbrio hormonal, propiciando uma gestação. Além disso, a mulher se sente mais atraente sexualmente após a perda de peso e a atividade sexual pode aumentar, com subseqüente aumento do potencial para gestações (Edwards, 2005). Anticoncepção e orientações pré-concepcionais Como a cirurgia bariátrica tem sido realizada cada vez mais em mulheres em idade fértil, a anticoncepção adequada após a cirurgia é um assunto importante. Com a melhora 242 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 da função hormonal e o conseqüente aumento potencial da fertilidade após a perda de peso, muitas mulheres ex-obesas sexualmente ativas se tornam preocupadas com a anticoncepção (Raymond, 2005). A rápida perda de peso inicial após a cirurgia bariátrica tem um potencial para déficits nutricionais, que podem causar problemas para a gravidez, tanto para a gestante quanto para o desenvolvimento fetal. Devido a esses riscos, a maioria dos autores tem recomendado que as mulheres submetidas a cirurgia bariátrica esperem pelo menos 12 a 18 meses antes de tentar engravidar (Deitel et al., 1988; Dixon et al., 2005; Wittgrove et al., 1998). Uma preocupação adicional é que a perda de peso final seja menor caso a mulher engravide durante a curva de maior perda de peso após a cirurgia bariátrica (Wittgrove et al., 1998). Portanto, a orientação e a prescrição de um anticoncepcional apropriado tornam-se importantes para evitar sérias conseqüências a essas mulheres. O método mais utilizado de anticoncepção, o anticoncepcional hormonal oral, não é confiável quando utilizado após a cirurgia bariátrica, uma vez que é metabolizado pelo trato digestivo e terá sua absorção intestinal alterada, podendo não atingir níveis séricos adequados para evitar uma subseqüente gravidez (Wittgrove et al., 1998). Outras vias de administração como a transdérmica, as injeções intramusculares ou o anel vaginal podem ser apropriados para mulheres que não desejam anticoncepção definitiva por meio da laqueadura. Os métodos de barreira e os dispositivos intra-uterinos também podem ser opções aceitáveis para essas pacientes (Woodard, 2004). No entanto, ainda não há consenso entre os médicos especializados em perda de peso e os ginecologistas e obstetras a respeito de qual é a melhor forma de anticoncepção para mulheres submetidas a cirurgia bariátrica (Raymond, 2005). Antes da cirurgia bariátrica, as mulheres em idade fértil devem ser informadas que, em caso de gravidez, as necessidades nutricionais serão diferentes daquelas em gestações rotineiras não complicadas. Durante as consultas pós-operatórias é muito importante que seja abordado o desejo de engravidar. As mulheres que estão considerando uma futura gestação devem passar por nova avaliação e aconselhamento nutricional (Deitel et al., 1988). Rotineiramente elas já devem estar utilizando múltiplas vitaminas, preferentemente na forma líquida ou mastigável, para melhorar a absorção. Uma vez que a anemia não é tão comum após os procedimentos puramente restritivos, a suplementação de ferro é fornecida apenas quando necessária, e não precisa ser um ingrediente de rotina na reposi- Gravidez após cirurgia bariátrica ção vitamínica diária (Dixon et al., 2005). A monitorização periódica dos níveis de hemoglobina e de micronutrientes é suficiente para a determinação do estado nutricional antes de uma gravidez. Ajustes na suplementação de vitaminas e de ferro podem ser realizados em caso de necessidade, antes da concepção, para reduzir o risco de complicações devido à deficiência de micronutrientes (Woodard, 2004). Idealmente a identificação de fatores de risco modificáveis deve ocorrer antes da concepção, mas a maioria das gravidezes após a cirurgia bariátrica não é planejada, e a primeira visita de pré-natal geralmente ocorre após o período de organogênese já completo. Acompanhamento pré-natal Desde 1998, vários autores de instituições multidisciplinares iniciaram estudos para examinar questões sobre a segurança da gestação após a cirurgia bariátrica. Todas as formas de cirurgia bariátrica e a evolução da gravidez associada a elas têm sido estudadas em vários centros (Deitel et al., 1988; Dixon et al., 2005; Edwards, 2005; Martin et al., 2000; Moore et al., 2004; Raymond, 2005; Sheiner et al., 2004; Wittgrove et al., 1998; Woodard, 2004). Tanto as cirurgias restritivas quanto as disabsortivas, assim como procedimentos utilizando técnicas aberta e laparoscópica, têm sido revisados para determinar os riscos para a gravidez e o parto. Os estudos atuais não mostram aumento do risco para a gestação ou resultados adversos perinatais para mulheres obesas que foram submetidas à cirurgia bariátrica (Sheiner et al., 2004). Após a cirurgia bariátrica, a mulher grávida necessita de cuidados de uma série de profissionais, incluindo enfermeira, nutricionista, endocrinologista, obstetra e cirurgião bariátrico (Deitel et al., 1988). O acompanhamento pré-natal precoce é essencial para a avaliação nutricional e para estimar a idade gestacional. É importante determinar o estado nutricional de base precocemente durante o curso da gestação, sendo que exames laboratoriais auxiliam nesse acompanhamento. Se existem deficiências, elas são mais bem corrigidas no início da gestação. Idealmente, o tempo para a correção de deficiências nutricionais é antes da concepção, sendo a gravidez planejada a ação mais sensata (Wittgrove et al., 1998). Se a gravidez foi planejada e a paciente já havia passado por aconselhamento pré-concepcional, deve-se continuar a ingesta dos suplementos, sendo adicionado um complexo vitamínico com ferro. Por outro lado, quando a gravidez não foi planejada, deve-se realizar uma avaliação precoce do estado nutricional para que possíveis déficits possam ser corrigidos já no início da gestação. Os níveis de folato e de vitamina B12 podem ser mensurados, exceto naquelas pacientes que estão ingerindo suplementos com vitamina B (Woodard, 2004). As recomendações de dieta e de exercício físico durante a gestação são (Woodard, 2004): • • • • • Ingerir 3 a 5 pequenas refeições diariamente; Comer devagar, mastigando bem; Não ingerir líquidos 10 min antes ou 90 min após a refeição; Todos os líquidos devem ser livres de calorias; Comer uma grande variedade de comidas, se tolerado, concentrando em proteínas e carboidratos complexos; • Exercícios pelo menos 20 min ao dia. Alterações induzidas pela cirurgia As cirurgias mistas acrescentam problemas nutricionais não apenas em decorrência do volume ingerido, mas também pela má-absorção de micronutrientes como ferro, cálcio, vitaminas e minerais (Edwards, 2005). As cirurgias restritivas podem resultar em uma ingesta de cerca de 500 calorias ao dia durante o período inicial de recuperação pós-operatória, e isto não é o suficiente para as necessidades nutricionais maternas, nem menos para as necessidades de um feto em desenvolvimento. Alimentos que são difíceis de tolerar nos primeiros anos após a cirurgia são as frutas, os vegetais e os alimentos ricos em proteínas, todos essenciais para uma gestação saudável. Após a adequação do organismo às alterações anatômicas da cirurgia bariátrica, as pacientes normalmente conseguem ingerir até 1.200 calorias ao dia. A seleção correta de proteínas, carboidratos complexos e gorduras é imperativa (Edwards, 2005). Vômitos As mulheres submetidas à cirurgia bariátrica podem apresentar vômitos persistentes se não conseguem reduzir a ingesta alimentar, não mastigam os alimentos, ou comem muito rapidamente. A obstrução da via de saída é uma complicação após o bypass gástrico que ocorre quando o alimento mal mastigado fica parado ao nível da anastomose gastro-esofágica (Woodard, 2004). A estenose da anastomose também pode induzir vômitos, sendo a correção por meio da endoscopia com dilatação da anastomose estenosada. As mulheres grávidas com banda gástrica ajustável que apresentam vômitos podem melhorar dos sintomas por meio do FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 243 Gravidez após cirurgia bariátrica ajuste da banda, o que facilita o esvaziamento do reservatório gástrico e diminui a restrição alimentar (Elliot, 2003). Síndrome de dumping A síndrome de dumping é um evento fisiológico que pode ocorrer após o bypass gástrico quando há um consumo exagerado de açúcar. Após a ingesta de grande quantidade de carboidratos ou alimentos ricos em pequenas moléculas, o conteúdo do reservatório é rapidamente esvaziado para o jejuno. A presença do quimo hiperosmolar no intestino delgado, em função do gradiente de pressão osmótica que cria com o espaço hídrico extracelular, causa desvio de líquido desse espaço para a luz intestinal, na tentativa de restaurar a isosmolaridade do quimo. Esse rápido desvio de líquido para o intestino desencadeia sintomas gastrointestinais da síndrome (plenitude gástrica, náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarréia explosiva), enquanto que a redução do líquido extracelular (volume plasmático) é responsável pelos sintomas vasomotores (tontura, fraqueza, lipotímia, palidez, rubor, taquicardia, cefaléia e sudorese). Eventualmente pode ocorrer uma hipoglicemia tardia resultante da hipersecreção de insulina em resposta ao rápido esvaziamento gástrico, referida como síndrome de dumping tardia. Durante o screening para diabetes gestacional, um método alternativo deve utilizado, pois o teste de sobrecarga com 75 g de glicose pode desencadear os sintomas acima referidos. O obstetra deve considerar a dosagem periódica de glicemias de jejum, uma vez que a elevação do seu valor freqüentemente se correlaciona com glicemia pós-prandial elevada. Outro método alternativo é o uso de um sensor continuo de glicose por um período de 3 dias consecutivos, sendo as elevações glicêmicas reveladas após a avaliação dos resultados (Woodard, 2004). Deficiência de micronutrientes As deficiências nutricionais são mais freqüentemente observadas após os procedimentos mistos, principalmente as deficiências de ferro, vitamina B12, folato e cálcio (Kushner, 2000). A ingesta reduzida e a má absorção após a cirurgia gástrica podem fácil e rapidamente resultar em discrepância entre a ingesta diária recomendada e o quanto realmente é absorvido. Esta deficiência provavelmente acarretará um prejuízo a uma futura gestação (Woodard, 2004). Ferro A deficiência de ferro é comum após o bypass gástrico em Y-de-Roux e é parcialmente relacionado à menor ingesta de 244 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 quantidade adequada de carne e outros alimentos ricos em ferro. Além disso, alterações anatômicas resultantes da cirurgia evitam que os alimentos que contêm ferro sejam expostos ao meio ambiente ácido gástrico, o que necessário para que ocorra a liberação do ferro da sua fonte alimentar. A acidez gástrica também é necessária para a redução do ferro da sua forma férrica para ferrosa, o que é essencial para a absorção. Embora a transposição do duodeno e do jejuno proximal elimine o sítio primário de absorção de ferro, alguma quantia será absorvida no jejuno distal. É recomendado que, após um bypass gástrico, todas as pacientes recebam 40 a 65 mg de ferro na sua forma ferrosa diariamente como suplemento (Woodard, 2004). O fumarato ferroso parece ser a apresentação mais tolerada e mais efetiva de reposição de ferro quando o duodeno foi transposto (Wittgrove et al., 1998). As mulheres submetidas a procedimentos puramente restritivos geralmente não apresentam deficiência de ferro e não necessitam de suplementação de rotina (Dixon et al., 2005), mas dosagens periódicas dos níveis de hemoglobina devem ser realizadas (Edwards, 2005). Vitamina B12 (Cobalamina) Apesar de menos freqüente do que a deficiência de ferro, a deficiência de cobalamina também ocorre após a cirurgia de bypass gástrico, a menos que seja oferecido suplemento vitamínico (Woodard, 2004). A fisiologia normal faz com que os alimentos sejam degradados pelo ácido gástrico e liberem a vitamina B12 das suas fontes. A vitamina B12 é liberada pela digestão de proteínas de origem animal, sendo então capturada pela haptocorrina, uma proteína R produzida na saliva e no estômago. Esse complexo é posteriormente degradado no duodeno pelas proteases pancreáticas, com conseqüente transferência da molécula de vitamina B12 para o fator intrínseco gástrico (FI), uma glicoproteína produzida pelas células parietais do estômago. A ligação da vitamina B12 ao FI forma na mucosa um complexo que deve resistir às enzimas proteolíticas da luz intestinal e que, posteriormente, adere-se a receptores específicos das células epiteliais do íleo terminal, onde a vitamina B12 é absorvida e ligada a um transportador plasmático e lançada na circulação (Paniz et al., 2005). Após a cirurgia de bypass gástrico, a ausência de um meio ácido não só evita a liberação de vitamina B12 dos alimentos, mas também inibe a ligação e a subseqüente liberação da cobalamina e da proteína R. A redução na disponibilidade do FI combinada com a menor presença de vitamina B12 na forma livre impede a formação do complexo vitamina B12-FI, Gravidez após cirurgia bariátrica resultando em má-absorção e subseqüente deficiência de cobalamina (Kushner, 2000). A vitamina B12 é essencial em diversas reações bioquímicas na natureza, a maioria das quais implica redistribuição de hidrogênios e de carbonos. No organismo humano funciona como um co-fator essencial para duas enzimas: metionina sintase e L-metilmalonil-coA mutase, ambas direta ou indiretamente envolvidas no metabolismo da homocisteína. As mulheres com bypass gástrico em Y-de-Roux que têm deficiência de vitamina B12 também apresentam elevados níveis de homocisteína. A necessidade vital dos níveis adequados de vitamina B12 na cadeia da homocisteína e a ligação entre a hiperhomocisteinemia e as anormalidades cardiovasculares e neurológicas (defeitos desmielinizantes no sistema nervoso) enfatizam a necessidade de suplementação em longo prazo após a cirurgia bariátrica (Dixon et al., 2005; Paniz et al., 2005). Doses orais diárias de 350 mcg de vitamina B12 na forma cristalina são geralmente suficientes para manter os níveis séricos de cobalamina, o que normaliza os níveis de homocisteína (Woodard, 2004). Ocasionalmente, suplementação oral não é suficiente e há necessidade de terapia parenteral mensal (Kushner, 2000). Folato (Ácido Fólico, Vitamina B9 ou Ácido Tetra-hidrofólico) É um elemento essencial para a produção de hemoglobina e para a regulação do desenvolvimento das células neurais no embrião e no feto (Chandra et al., 2002). Após o bypass gástrico, alimentos ricos em ácido fólico não passam através do duodeno, o seu local principal de absorção. Com o tempo, no entanto, ocorre uma adaptação que permite que pequenas quantidades de ácido fólico sejam absorvidas pelo intestino delgado terminal (Elliot, 2003). Alimentos que são normalmente ingeridos para se obter níveis adequados de ácido fólico como lentilhas, aspargo, espinafre, brócolis, suco de laranja, massas, cereais podem não ser bem tolerados. A suplementação com vitaminas contendo 1mg de ácido fólico antes e durante a gestação geralmente é suficiente para manter um nível sérico adequado e reduzir o risco de defeitos do tubo neural no feto em desenvolvimento (Kushner, 2000). No entanto, os níveis séricos devem ser mensurados para verificar se a necessidade nutricional foi atingida (Woodard, 2004). A deficiência crônica de folato ou vitamina B12 pode levar a anemia megaloblástica. Considerando que essas vitaminas são necessárias para a maturação das hemácias, a deficiência de qualquer uma pode resultar na liberação de células vermelhas imaturas, ou reticulócitos, na circulação sangüínea. Uma melhora rápida geralmente é observada com a suplementação de vitaminas B (Woodard, 2004). Cálcio e Vitamina D A deficiência de cálcio após o bypass gástrico é comum e pode resultar do consumo inadequado ou da má absorção. Normalmente o cálcio, assim como a vitamina D, é absorvido no duodeno. Os pacientes com bypass gástrico apresentam uma difusão passiva do cálcio da dieta através do intestino delgado remanescente, o que é dependente de uma maior quantidade ingerida na dieta (Kushner, 2000). A deficiência de cálcio é de natureza insidiosa, pois é retirado dos ossos para manter o nível sérico normal. Portanto, a medida do cálcio sérico pode não revelar com precisão o distúrbio metabólico existente. Fraturas ósseas ou de dentes podem ser os primeiros sinais de indicação de deficiência de cálcio (Woodard, 2004). A suplementação diária com 1.200 a 1.500 mg de citrato de cálcio associado a vitamina D é recomendada para todas as pacientes pós-cirurgia bariátrica a fim de suprir as necessidades ósseas pessoais e as necessidades para a mineralização do esqueleto fetal (Elliot, 2003; Woodard, 2004). Deve ser tomado cuidado para se prescrever cálcio na forma de citrato, pois este não necessita de um meio ácido para o seu metabolismo (Woodard, 2004). Riscos Ganho de peso As mulheres que esperam pelo menos 12 a 18 meses após a cirurgia para engravidar são mais propensas a apresentar um ganho de peso restrito ou normal durante a gestação. Algumas mulheres que estabilizaram o peso antes da gravidez continuam a perder peso durante a gestação, sem resultado desfavorável (Woodard, 2004). Devido às potenciais complicações, o crescimento fetal e o bem estar fetal devem ser periodicamente monitorizados através de ultra-sonografia e testes fetais durante a gestação, esteja a grávida ganhando, perdendo ou mantendo o seu peso (Woodward, 2003). Abortamento precoce Uma associação tem sido estabelecida entre os abortos recorrentes e os elevados níveis séricos de homocisteína relacionados à deficiência de vitamina B12. FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 245 Gravidez após cirurgia bariátrica A homocisteína é um aminoácido derivado do metabolismo da metionina. Níveis adequados de folato e de cobalamina são necessários para a 1ª fase do metabolismo normal, na qual a remetilação da homocisteína ocorre. A 2ª fase necessita da presença de vitamina B6 para um processo chamado transulfuração, no qual a homocisteína é degradada e posteriormente convertida em cistationina (Nelen et al., 2000; Paniz et al., 2005). Quando há deficiência de qualquer uma dessas vitaminas do complexo B, ocorre hiperhomocisteinemia. A presença de hiperhomocisteinemia pode ser utilizada como um marcador na gestação para indicar o risco aumentado de eventos trombóticos e aborto precoce. A hiperhomocisteinemia é um fator de risco independente para doença vascular da placenta durante a gestação (Nelen et al., 2000). do crescimento intra-uterino, pré-eclampsia e descolamento prematuro de placenta tornam difícil a determinação de quais gestações devem ter um acompanhamento mais intensivo (Woodard, 2004). A contínua perda de peso durante a gravidez resulta em um estado catabólico, e a ingesta inadequada de proteínas e calorias pode ter um efeito adverso no crescimento e desenvolvimento do feto (D’Anna et al., 2004; Hogg et al., 2000). A ingesta inadequada de cálcio e a má absorção podem ter um efeito direto no desenvolvimento fetal interferindo na correta mineralização do esqueleto fetal. A avaliação ultra-sonográfica do crescimento fetal e os testes fetais são cruciais para a detecção de risco para fetos de baixo peso por comprometimento placentário (Woodard, 2004). Defeitos do tubo neural As mulheres que estabilizam a perda de peso após a cirurgia bariátrica e adquirem balanço nutricional durante a gestação geralmente evoluem com menor morbimortalidade do que aquelas obesas. A taxa de morbidades comuns como pré-eclampsia, conceptos grandes para a idade gestacional, diabetes gestacional, partos via cirúrgica e infecções de parede parece estar reduzida. Wittgrove et al., 1998, observaram uma menor incidência de macrossomia fetal, hipertensão e diabetes em gestantes após cirurgia bariátrica comparada a gestantes obesas mórbidas. Não observaram aumento do risco de aborto espontâneo, retardo de crescimento intra-uterino, anomalias congênitas ou deficiências nutricionais maternas. Sheiner et al., 2004, observaram que a mortalidade perinatal, as malformações congênitas e os escores de APGAR são similares em pacientes com e sem história prévia de cirurgia bariátrica. Estes achados também foram descritos por Martin et al., 2000, que avaliaram 23 gestações em 20 pacientes após banda gástrica ajustável e concluíram que essas mulheres apresentaram gestações não complicadas. Da mesma maneira, outros estudos relataram que a gestação após cirurgia bariátrica é bem tolerada pelas mulheres (Wittgrove et al., 1998). Algumas complicações relacionadas à cirurgia bariátrica podem ocorrer, incluindo hérnias abdominais, cálculos biliares e hérnias intestinais (Edwards, 2005). Há três períodos em que a obstrução é mais comum: (1) quando o útero se torna um órgão abdominal, (2) durante o período intra-parto com a descida da apresentação fetal no canal de parto e (3) durante o período pós-parto quando o útero involui de tamanho. O desenvolvimento correto do tubo neural no feto é dependente de níveis adequados de ácido fólico durante a organogênese. O CDC (Centro para o Controle e Prevenção de Doenças) do National Center for Health Statistics relata que os defeitos de tubo neural ocorrem em uma taxa de 20,09 por 100.000 nascidos vivos e a anencefalia em uma taxa de 9,4 por 100.000 nascidos vivos. A relação causa-efeito entre a deficiência de ácido fólico e os defeitos do tubo neural no feto tem sido estudada extensivamente (Botto et al., 2004). O papel do ácido fólico e de outras vitaminas do grupo B na quebra da homocisteína explica o impacto que a deficiência dessas vitaminas tem na placenta e no feto em desenvolvimento. As mulheres que foram submetidas a bypass gástrico estão sob risco de ter elevados níveis de homocisteína devido a deficiências de folato e vitamina B. Suplementação adequada é necessária para manter os níveis normais de homocisteína e reduzir o risco de defeitos do tubo neural. Restrição de crescimento intra-uterino e desnutrição fetal Baseado no conhecimento dos efeitos deletérios da hiperhomocisteinemia no endotélio vascular (Dixon et al., 2005), alguns estudos têm tentado estabelecer uma conexão entre a homocisteína elevada, alterações placentárias e crescimento intra-uterino restrito (D’Anna et al., 2004; Hogg et al., 2000). Dados conflitantes relacionados à relação entre elevados níveis de homocisteína e a ocorrência de restrição 246 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 Evolução da gravidez Gravidez após cirurgia bariátrica Parto Puerpério Um curso normal e não complicado do parto é esperado para as mulheres grávidas após a cirurgia bariátrica. Contanto que o pré-natal tenha sido realizado adequadamente, o curso intra-parto deve transcorrer normalmente sem complicações diretamente relacionadas à cirurgia bariátrica. De fato, após perda significativa de peso, a mulher apresenta menor risco de complicações intra-parto (Woodard, 2004). A ocorrência de eclampsia, fetos grandes para a idade gestacional e nascimentos por cesariana é menos freqüente em mulheres com peso normal do que em parturientes obesas. Considerações individuais são importantes para as mulheres com história de anemia, deficiência vitamínica ou distúrbios metabólicos, sendo estas condições manejadas conforme necessário. Se a cesariana é necessária por algum motivo, pode ser realizada da maneira rotineira. No entanto, lembrar da existência de cicatrizes e aderências devido à cirurgia previa (Woodard, 2004). Sheiner et al., 2004, observaram que a cirurgia bariátrica foi um fator de risco independente para parto por via cesariana mesmo após o controle de variáveis de confusão como cesariana prévia, tratamentos para fertilidade e macrossomia fetal. Há 2 relatos recentes de complicações intra-parto diretamente relacionadas à cirurgia bariátrica. Um caso se refere a uma paciente de 26 semanas de gestação, 4 anos após gastroplastia vertical com banda em que a banda sintética erosou através da mucosa gástrica acarretando hemorragia gastrointestinal. A perda sangüínea materna levou a bradicardia fetal e descolamento da placenta (Ramirez & Turrentine, 1995). O outro, uma paciente de 31 semanas, 18 meses após bypass gástrico em Y-de-Roux que se apresentou com febre, dor abdominal e leucocitose, com piora rápida e progressiva do estado geral e morte fetal intra-uterina. A laparotomia revelou 61 cm de intestino delgado herniado e gangrenado (Moore et al., 2004). As mulheres após cirurgia bariátrica devem ser encorajadas a amamentar seus filhos; no entanto, estas crianças podem desenvolver deficiências nutricionais, especialmente se a cirurgia realizada foi mais disabsortiva (Edwards, 2005) e se a mãe não estiver tomando os suplementos vitamínicos durante a lactação para garantir a produção de leite materno de qualidade (Woodard, 2004). As necessidades nutricionais para fornecer uma produção adequada de leite durante os primeiros 6 meses de pós-parto excedem as necessidades nutricionais da gravidez em 42%. Se a ingesta calórica e de vitaminas da mãe é subótima, provavelmente haverá um reflexo na qualidade do leite produzido. As crianças devem ser investigadas quanto a dificuldade para ganhar peso, atraso no desenvolvimento e anemia megaloblástica (Chandra et al., 2002; Edwards, 2005). Muito embora a mãe possa ser assintomática, uma criança ainda pode ter problemas nutricionais significativos. Considerações finais A cirurgia bariátrica tem uma série de implicações para as mulheres em idade fértil, notadamente aquelas que desejam engravidar. A perda de peso após a cirurgia geralmente é dramática e permite aumento da fertilidade e redução das comorbidades relacionadas à obesidade. A anticoncepção deve ser aconselhada pelo menos durante o período de mais intensa perda de peso, uma vez que a deficiência calórica e de micronutrientes durante esse período pós-operatório pode acarretar efeitos severos e conseqüências em longo prazo para a gravidez, o desenvolvimento do feto e o recém-nascido. No entanto, com correta orientação, aquelas mulheres que engravidam podem esperar uma gestação saudável e sem complicações. Leituras suplementares 1. Bastounis EA, Karayiannakis AJ, Syrigos K et al. Sex 4. Chandra J, Jain V, Narayan S et al. Folate and cobalamin 2. Botto LD, Olney RS & Erickson JD. Vitamin supplements 5. D’Anna R, Baviera G, Corrado R et al. 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