ISSN 0873-5506 CABEÇ AD AS , G .; MO N T EI RO, M . T. ; BROGUEIRA, M.J.; OLIVEIRA, R.; COUTINHO, M.T.; CAVACO, M.H.; GONÇALVES, C., 2004. Caracterização ecológica dos sistemas Tejo e Sado e Zona costeira adjacente. Relatório de síntese. Protocolo de colaboração IA/IPIMAR. Relatório IPIMAR, pp 44. C ABEÇ AD AS , L .; BR O G U EI R A , M . J . ; CABEÇADAS, G., 1999. Phytoplankton spring bloom in the Tagus coastal waters: hydrological and chemical conditions. Aquatic Ecology, 33 : 243-250. Laboratório de Química do NI “Capricórnio”. C AVAC O , M.H .; PI S S AR R A, J . , 1 9 9 1 . Nutrientes e Produtividade. In: Portugal Moderno – Agricultura e Pescas. Ed POMO. P.207-210. Divulgação Nº. 32 / JAN. 2006 MELHORIA DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO ESTUÁRIO DO TEJO E ZONA COSTEIRA ADJACENTE Helena Cavaco, Marta Nogueira, Rosário Oliveira, Vanda Franco e Graça Cabeçadas Trabalhos publicados sobre esta matéria Divulgação ABRIL, G.; NOGUEIRA, M.; ETCHEBER, H.; CABEÇADAS, G.; LEMAIRE, E.; BROGUEIRA, M.J., 2002. Behaviour of organic carbon in nine constrasting European estuaries. Estuarine Coastal and Shelf Science, 54(2) : 241-262. IPIMAR 4 CABEÇADAS, G.; BROGUEIRA M.J.; CABEÇADAS, L., 2000. Southern Portugal: the Tagus and Sado estuaries. In: Seas at the Millenium: an Environmental Evaluation. C.R.C. Sheppard (Ed.). Elsevier Science Publishers. p. 151 – 165. CABE ÇA D AS, G .; MON TEIRO , M.T.; BROGUEIRA, M.J.; GAUDÊNCIO, M.J.; PASSOS, M.D.; CAVACO, M.H.; GONÇALVES, C.; FERRONHA, H.; NOGUEIRA, M.; CABEÇADAS, P.; RIBEIRO, A.P., 2004. Caracterização ambiental da zona costeira adjacente aos estuários do Tejo e Sado. Relat. Cient. Téc. IPIMAR, Série digital (http://ipimar_iniap.ipimar.pt) nº20, 40 pp. G O N Ç ALVES , C .; BR O G U EI R A , M . J . ; CABEÇADAS, G.; FERRONHA, H; CABEÇADAS, P., 2002. Nitrogen forms in Tagus and Sado coastal waters under spring and winter conditions. The Changing Coast, EUROCOAST/EUCC, Porto, 22-26 September. pp. 387-389. PISSARRA, J.L; CAVACO, M.H.; MANSO, L.; GOES, M.C., 1993. Ciclos de Produção Planctónica. Componente de Oceanografia química. Campanha de Verão 85. Relat. Téc.Cient. INIP, 69, 28p. VAN SPAENDONK, J.C.; KROMKAMP, J.C.; VISSCHER, P.R.M., 1993. Primary Production of Phytoplankton in a turbid coastal plain estuary. Nether. J. Res., 31: 267-279. Este trabalho foi suportado financeiramente pelo O.E. e pelos projectos PopescaMARE 22-05-01-FDR 00015 e Convénio IPIMAR/IA. Internet: http://ipimar-iniap.ipimar.pt Corpo Editorial: Irineu Batista (Coordenador), Carlos Costa Monteiro, Manuel Sobral, Manuela Falcão, Maria Hortense Afonso, Olga Moura e Teresa Gama Pereira Características gerais do estuário do Tejo e zona costeira adjacente O estuário do Tejo abrange uma área de 320 km2, sendo cerca de 40 % ocupada por zonas intertidais (zonas sujeitas a marés, enriquecidas em nutrientes, bem oxigenadas e que, frequentemente, servem de “maternidade” a várias espécies piscícolas). A zona superior do estuário fica localizada em Vila Franca de Xira e a parte inferior, com uma profundidade média de 46 m, inclui o canal de navegação do estuário. A principal fonte de água doce é o rio Tejo que apresenta um caudal médio de 350 m3/s. O estuário está sujeito a uma amplitude de maré de 2,6 m e o tempo de residência médio de água doce é de 19 dias. A zona costeira adjacente ao Tejo constitui um sistema complexo sob influência de um canhão submarino (canhão de Lisboa) e a linha de costa é interrompida por dois cabos (Raso e Espichel) e uma pronunciada baía. A morfologia da área costeira é profundamente marcada pela descarga do rio Tejo. Condições ambientais FICHA TÉCNICA Edição e Propriedade: IPIMAR Av. de Brasília, 1449-006 LISBOA Telefone: 213 027 000 - Fax: 213 015 948 Linha Azul: 213 015 899 Coordenadores de Edição: Anabela Farinha e Luís Catalan Impressão: Cromotipo, Lda. Depósito Legal: 105529/96 ISSN: 0873-5506 Tiragem 1000 Exemplares Distribuição Gratuita A água do mar é constituída por inúmeras substâncias dissolvidas, entre elas os nutrientes que estão na base da cadeia alimentar. A maioria dessas substâncias é transportada para o oceano através dos rios. A disponibilidade de nutrientes dissolvidos condiciona a produtividade biológica da camada superficial da água do mar. A principal fonte de energia de todo este sistema é a luz solar, que penetra na camada superior da água (zona eufótica) e é aí que as plantas microscópicas (fitoplâncton) convertem o dióxido de carbono e os nutrientes em compostos orgânicos, através do mecanismo da fotossíntese. As concentrações de nutrientes apresentam grandes variações sazonais, atingindo valores mais elevados no Inverno quando a produção primária é reduzida, não havendo portanto consumo. Durante a Primavera, com o desenvolvimento do fitoplâncton, os nutrientes dissolvidos são consumidos exibindo, pois, baixas concentrações. Os mecanismos responsáveis pelo enriquecimento em nutrientes das regiões estuarinas e costeiras estão essencialmente associados aos seguintes processos oceanográficos: • Mistura vertical resultante do arrefecimento das águas superficiais durante o Inverno. • Transporte de nutrientes pelos rios, através da drenagem das respectivas bacias hidrográficas e consequente “exportação” dos nutrientes para os estuários e zonas costeiras. • Transporte de águas mais profundas, mais frias e ricas em nutrientes, para a superfície, provocando a sua fertilização, como resultado dos ventos dominantes do quadrante norte na costa ocidental, processo este designado por afloramento costeiro. Divulgação Os estudos realizados incidiram sobre a caracterização ecológica do estuário do Tejo e zona costeira adjacente, tendo sido conduzidos recorrendo aos seus navios de investigação. Como parâmetros indicadores de qualidade ambiental foram seleccionados nitrato, fosfato e oxigénio dissolvido. Os locais de amostragem apresentam-se na figura 1. 1985 Verão 1986 Inverno 1999 Verão 2001 Inverno Temperatura (°C) 14,8 - 15,7 13,6 - 14,0 16,6 - 17,4 14,8 - 15,9 Saturação de oxigénio (%) 91 - 98 96 - 104 103 102 - 105 Descarga do Tejo (m3/s) 80 596 34 1860 Afloramento costeiro + + + + Actualmente, o estuário do Tejo apresenta uma produtividade primária moderada com valores que variam entre 6 – 130 mgC/m2.d no período produtivo (Fig. 3). Estes valores são muito inferiores aos determinados em estuários europeus com problemas de eutrofização, como os do Danúbio (220-4400 mgC/m2.d) e do Scheldt (9-2700 mgC/m2.d ). Comparando os valores de percentagem de saturação de oxigénio (relação entre a concentração do oxigénio determinado e a concentração do oxigénio nas condições de pressão e temperatura normais), obtidos nos anos 1985/1986 e 1999 e 2001, verifica-se que, apesar da temperatura ter aumentado, as condições de oxigenação não sofreram alterações significativas nos anos mais recentes. Figura 3 - Produtividade primária no estuário do Tejo. A evolução temporal dos valores integrados dos nutrientes na zona eufótica apresenta-se na figura 2, observando-se um declínio acentuado nos teores de nitrato e fosfato em 1999 e 2001, tanto no Verão como no Inverno. Porém, os valores de silicato no Inverno são da mesma ordem de grandeza nos anos mencionados, apresentando-se sempre elevados. IPIMAR 2 Condições Gerais Estuário do Tejo No que respeita à densidade do fitoplâncton, estudos realizados de 2000 a 2004, mostraram que os valores médios determinados para o estuário não ultrapassaram 500 000 células por litro, o que indica uma produção planctónica moderada. Também não foram detectadas elevadas concentrações de células fitoplanctónicas («blooms») dos grupos algológicos presentes, contrariamente ao que ocorria nos anos 80 e até meados dos anos 90. Faz-se notar que em 1989 e 1990, na zona superior do estuário (Vila Franca) ocorreram grandes proliferações (dezenas de milhões de células por litro) de Cyanobacteria, especialmente da espécie tóxica Microcystis aeruginosa Kütz (Fig. 4), que causaram elevada mortalidade na ictiofauna. Figura 1 - Locais de amostragem no estuário do Tejo e zona costeira adjacente. Zona costeira adjacente ao estuário do Tejo Alguns resultados dos estudos efectuados apresentam-se na Tabela 1 e revelam a evolução dos teores em oxigénio dissolvido e nutrientes na zona costeira adjacente ao estuário do Tejo, relativos aos Verões de 1985 e 1999 e aos Invernos de 1986 e 2001. Figura 2 - Evolução temporal dos nutrientes no Inverno e Verão na zona eufótica (referente aos pontos de amostragem indicados na figura1). Figura 4 - Colónias de Microcystis aeruginosa. 1 A diminuição dos nutrientes (nitrato e fosfato) registada nos anos 1999 e 2001 não se deve a nenhum processo climático uma vez que não existe qualquer redução nos silicatos. O facto do tratamento de efluentes nas ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) reduzir os níveis de nitratos e fosfatos, mas não os de silicatos, leva a admitir que a instalação de cerca de 17 estações, funcionando com tratamento secundário1, no concelho de Lisboa e, em particular, o emissário submarino da Guia, que começou a operar em 1994 e lança os esgotos tratados da região de Lisboa e margem norte do estuário na costa oeste da baía de Cascais, têm contribuído significativamente para a melhoria verificada na qualidade da água do estuário e zona costeira adjacente. Estes resultados indicam, pois, que a introdução de sistemas de tratamento de águas residuais têm tido um impacte positivo na qualidade da água deste ecossistema. Embora actualmente se verifique que o estuário do Tejo corresponde a um sistema moderadamente produtivo e se observe uma redução significativa dos teores de nutrientes na zona costeira adjacente nos anos mais recentes, conforme foi apresentado, também a proliferação de algas tóxicas tem diminuído. Além disso, é previsível, também, que a qualidade da água do sistema estuário do Tejo-zona costeira seja ainda melhorada, logo que a totalidade dos esgotos seja tratada, em particular, os efluentes provenientes dos concelhos do Seixal e Barreiro. Os estudos realizados têm, também, contribuído para a obtenção de informação importante para o estabelecimento de relações entre o estado químico e biológico das águas costeiras e das águas de transição, com vista a dar suporte científico à implementação da Lei-Quadro da Água (WFD). A fim de acompanhar o impacte resultante do progressivo tratamento dos esgotos na qualidade da água deste ecossistema, estão em curso no IPIMAR programas de monitorização de qualidade da água. Está, igualmente, a ser realizada investigação em temas relacionados com processos biogeoquímicos que ocorrem no respectivo ecossistema, focando, em especial, aspectos que envolvem a sustentabilidade dos recursos. Tratamento das águas residuais urbanas que envolve, geralmente, um tratamento biológico com decantação. Divulgação Estudos desenvolvidos no IPIMAR Tabela 1 - Condições gerais da zona costeira adjacente ao estuário do Tejo nos períodos em estudo. 3 IPIMAR Os principais nutrientes são o azoto e o fósforo e a relação entre eles é de grande importância para o equilíbrio dos sistemas marinhos. Um aumento de concentração destes nutrientes ou uma alteração da sua relação pode conduzir a situações de crescimento descontrolado de algas, acompanhadas de diminuição de oxigénio, fenómeno designado por eutrofização, que, eventualmente, podem lesar a fauna piscícola. Também os silicatos são fundamentais para o desenvolvimento de certas espécies fitoplanctónicas, nomeadamente as diatomáceas, espécies dominantes nas águas costeiras.