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Nº. 32 / JAN. 2006
MELHORIA DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO ESTUÁRIO
DO TEJO E ZONA COSTEIRA ADJACENTE
Helena Cavaco, Marta Nogueira, Rosário Oliveira, Vanda Franco e Graça Cabeçadas
Trabalhos publicados sobre esta matéria
Divulgação
ABRIL, G.; NOGUEIRA, M.; ETCHEBER, H.;
CABEÇADAS, G.; LEMAIRE, E.; BROGUEIRA, M.J.,
2002. Behaviour of organic carbon in nine
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4
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Caracterização ambiental da zona costeira adjacente
aos estuários do Tejo e Sado. Relat. Cient. Téc. IPIMAR,
Série digital (http://ipimar_iniap.ipimar.pt) nº20, 40 pp.
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VISSCHER, P.R.M., 1993. Primary Production of
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Este trabalho foi suportado financeiramente
pelo O.E. e pelos projectos PopescaMARE
22-05-01-FDR 00015 e Convénio IPIMAR/IA.
Internet: http://ipimar-iniap.ipimar.pt
Corpo Editorial: Irineu Batista (Coordenador),
Carlos Costa Monteiro, Manuel Sobral, Manuela Falcão,
Maria Hortense Afonso, Olga Moura
e Teresa Gama Pereira
Características gerais do estuário do Tejo e zona
costeira adjacente
O estuário do Tejo abrange uma área de
320 km2, sendo cerca de 40 % ocupada por zonas
intertidais (zonas sujeitas a
marés, enriquecidas em
nutrientes, bem oxigenadas
e que, frequentemente,
servem de “maternidade”
a várias espécies piscícolas).
A zona superior do
estuário fica localizada em
Vila Franca de Xira e a
parte inferior, com uma
profundidade média de 46
m, inclui o canal de
navegação do estuário. A
principal fonte de água doce é o rio Tejo que
apresenta um caudal médio de 350 m3/s. O estuário
está sujeito a uma amplitude de maré de 2,6 m e o
tempo de residência médio de água doce é de 19
dias. A zona costeira adjacente ao Tejo constitui um
sistema complexo sob influência de um canhão
submarino (canhão de Lisboa) e a linha de costa é
interrompida por dois cabos (Raso e Espichel) e
uma pronunciada baía. A morfologia da área
costeira é profundamente marcada pela descarga
do rio Tejo.
Condições ambientais
FICHA TÉCNICA
Edição e Propriedade:
IPIMAR
Av. de Brasília, 1449-006 LISBOA
Telefone: 213 027 000 - Fax: 213 015 948
Linha Azul: 213 015 899
Coordenadores de Edição: Anabela Farinha e Luís Catalan
Impressão: Cromotipo, Lda.
Depósito Legal: 105529/96
ISSN: 0873-5506
Tiragem 1000 Exemplares
Distribuição Gratuita
A água do mar é constituída por inúmeras
substâncias dissolvidas, entre elas os nutrientes que
estão na base da cadeia alimentar. A maioria dessas
substâncias é transportada para o oceano através
dos rios. A disponibilidade de nutrientes
dissolvidos condiciona a produtividade biológica
da camada superficial da água do mar. A principal
fonte de energia de todo este sistema é a luz
solar, que penetra na camada superior da água
(zona eufótica) e é aí que as plantas microscópicas
(fitoplâncton) convertem o dióxido de carbono
e os nutrientes em compostos orgânicos, através
do mecanismo da fotossíntese. As concentrações
de nutrientes apresentam
grandes variações sazonais,
atingindo valores mais elevados no Inverno quando
a produção primária é
reduzida, não havendo
portanto consumo. Durante
a Primavera, com o desenvolvimento do fitoplâncton,
os nutrientes dissolvidos são consumidos exibindo,
pois, baixas concentrações.
Os mecanismos responsáveis pelo enriquecimento em nutrientes das regiões estuarinas e
costeiras estão essencialmente associados aos
seguintes processos oceanográficos:
• Mistura vertical resultante do arrefecimento
das águas superficiais durante o Inverno.
• Transporte de nutrientes pelos rios, através
da drenagem das respectivas bacias
hidrográficas e consequente “exportação”
dos nutrientes para os estuários e zonas
costeiras.
• Transporte de águas mais profundas,
mais frias e ricas em nutrientes, para a
superfície, provocando a sua fertilização,
como resultado dos ventos dominantes do
quadrante norte na costa ocidental, processo
este designado por afloramento costeiro.
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Os estudos realizados incidiram sobre a
caracterização ecológica do estuário do Tejo e
zona costeira adjacente, tendo sido conduzidos
recorrendo aos seus navios de investigação.
Como parâmetros indicadores de qualidade
ambiental foram seleccionados nitrato, fosfato e
oxigénio dissolvido. Os locais de amostragem
apresentam-se na figura 1.
1985
Verão
1986
Inverno
1999
Verão
2001
Inverno
Temperatura (°C)
14,8 - 15,7
13,6 - 14,0
16,6 - 17,4
14,8 - 15,9
Saturação de
oxigénio (%)
91 - 98
96 - 104
103
102 - 105
Descarga do Tejo
(m3/s)
80
596
34
1860
Afloramento
costeiro
+
+
+
+
Actualmente, o estuário do Tejo apresenta
uma produtividade primária moderada com
valores que variam entre 6 – 130 mgC/m2.d no
período produtivo (Fig. 3). Estes valores são
muito inferiores aos determinados em estuários
europeus com problemas de eutrofização, como
os do Danúbio (220-4400 mgC/m2.d) e do Scheldt
(9-2700 mgC/m2.d ).
Comparando os valores de percentagem de
saturação de oxigénio (relação entre a concentração do oxigénio determinado e a concentração
do oxigénio nas condições de pressão e
temperatura normais), obtidos nos anos 1985/1986
e 1999 e 2001, verifica-se que, apesar da
temperatura ter aumentado, as condições de
oxigenação não sofreram alterações significativas
nos anos mais recentes.
Figura 3 - Produtividade primária no estuário do Tejo.
A evolução temporal dos valores integrados
dos nutrientes na zona eufótica apresenta-se na
figura 2, observando-se um declínio acentuado
nos teores de nitrato e fosfato em 1999 e 2001,
tanto no Verão como no Inverno. Porém, os
valores de silicato no Inverno são da mesma
ordem de grandeza nos anos mencionados,
apresentando-se sempre elevados.
IPIMAR
2
Condições Gerais
Estuário do Tejo
No que respeita à densidade do fitoplâncton,
estudos realizados de 2000 a 2004, mostraram que
os valores médios determinados para o estuário
não ultrapassaram 500 000 células por litro, o que
indica uma produção planctónica moderada.
Também não foram detectadas elevadas
concentrações de células fitoplanctónicas
(«blooms») dos grupos algológicos presentes,
contrariamente ao que ocorria nos anos 80 e até
meados dos anos 90. Faz-se notar que em 1989 e
1990, na zona superior do estuário (Vila Franca)
ocorreram grandes proliferações (dezenas de
milhões de células por litro) de Cyanobacteria,
especialmente da espécie tóxica Microcystis
aeruginosa Kütz (Fig. 4), que causaram elevada
mortalidade na ictiofauna.
Figura 1 - Locais de amostragem no estuário do Tejo e zona
costeira adjacente.
Zona costeira adjacente ao estuário do Tejo
Alguns resultados dos estudos efectuados
apresentam-se na Tabela 1 e revelam a evolução
dos teores em oxigénio dissolvido e nutrientes na
zona costeira adjacente ao estuário do Tejo,
relativos aos Verões de 1985 e 1999 e aos Invernos
de 1986 e 2001.
Figura 2 - Evolução temporal dos nutrientes no Inverno e
Verão na zona eufótica (referente aos pontos de
amostragem indicados na figura1).
Figura 4 - Colónias de Microcystis aeruginosa.
1
A diminuição dos nutrientes (nitrato e
fosfato) registada nos anos 1999 e 2001 não se
deve a nenhum processo climático uma vez
que não existe qualquer redução nos silicatos. O
facto do tratamento de efluentes nas ETAR
(Estação de Tratamento de Águas Residuais)
reduzir os níveis de nitratos e fosfatos, mas não
os de silicatos, leva a admitir que a instalação
de cerca de 17 estações, funcionando com
tratamento secundário1, no concelho de Lisboa e,
em particular, o emissário submarino da Guia, que
começou a operar em 1994 e lança os esgotos
tratados da região de Lisboa e margem norte do
estuário na costa oeste da baía de Cascais, têm
contribuído significativamente para a melhoria
verificada na qualidade da água do estuário e
zona costeira adjacente. Estes resultados indicam,
pois, que a introdução de sistemas de tratamento
de águas residuais têm tido um impacte positivo
na qualidade da água deste ecossistema.
Embora actualmente se verifique que o
estuário do Tejo corresponde a um sistema
moderadamente produtivo e se observe uma
redução significativa dos teores de nutrientes
na zona costeira adjacente nos anos mais
recentes, conforme foi apresentado, também a
proliferação de algas tóxicas tem diminuído. Além
disso, é previsível, também, que a qualidade
da água do sistema estuário do Tejo-zona
costeira seja ainda melhorada, logo que a
totalidade dos esgotos seja tratada, em particular,
os efluentes provenientes dos concelhos do Seixal
e Barreiro.
Os estudos realizados têm, também,
contribuído para a obtenção de informação
importante para o estabelecimento de relações
entre o estado químico e biológico das águas
costeiras e das águas de transição, com vista
a dar suporte científico à implementação da
Lei-Quadro da Água (WFD). A fim de acompanhar
o impacte resultante do progressivo tratamento
dos esgotos na qualidade da água deste
ecossistema, estão em curso no IPIMAR programas
de monitorização de qualidade da água. Está,
igualmente, a ser realizada investigação em temas
relacionados com processos biogeoquímicos
que ocorrem no respectivo ecossistema, focando,
em especial, aspectos que envolvem a
sustentabilidade dos recursos.
Tratamento das águas residuais urbanas que envolve, geralmente, um tratamento biológico com decantação.
Divulgação
Estudos desenvolvidos no IPIMAR
Tabela 1 - Condições gerais da zona costeira adjacente ao
estuário do Tejo nos períodos em estudo.
3
IPIMAR
Os principais nutrientes são o azoto e o
fósforo e a relação entre eles é de grande
importância para o equilíbrio dos sistemas
marinhos. Um aumento de concentração destes
nutrientes ou uma alteração da sua relação pode
conduzir a situações de crescimento descontrolado
de algas, acompanhadas de diminuição de
oxigénio, fenómeno designado por eutrofização,
que, eventualmente, podem lesar a fauna
piscícola. Também os silicatos são fundamentais
para o desenvolvimento de certas espécies
fitoplanctónicas, nomeadamente as diatomáceas,
espécies dominantes nas águas costeiras.
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melhoria das condições ambientais do estuário do tejo e zona