Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro Gestão de Parques Naturais Intervenção Médico Veterinária Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária Miguel Jorge Camacho Horta Oliveira Orientador: Professor Doutor José Manuel Almeida Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2014 i Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro Gestão de Parques Naturais Intervenção Médico Veterinária Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária Miguel Jorge Camacho Horta Oliveira Orientador: Professor Doutor José Manuel Almeida Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2014 ii Declaração Nome: Miguel Jorge Camacho Horta Oliveira C.C.:13366118 Telemóvel:(+351) 926468369 Correio electrónico: [email protected] Designação do mestrado: Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Título da dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária: Gestão de Parques Naturais – Intervenção Médico Veterinária Orientador: Professor Doutor José Manuel Almeida Ano de conclusão: 2013 Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal sob orientação do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. Vila Real, 21 de Janeiro de 2014. Miguel Jorge Camacho Horta Oliveira iii iv À mãe Natureza, v vi Agradecimentos Quem desde tenra idade tem um contacto íntimo com a natureza que o rodeia, cedo começa a desenvolver por esta uma espécie de amor incondicional, um sentimento maior, respeitoso e terno que inevitavelmente se prolonga e expande à medida que vai amadurecendo. Essa ligação transcendente que criei com a mãe natureza foi o sustentáculo daquilo que progessivamente se desenvolveu em torno da formação da minha personalidade e me proporcionou todo o caminho percorrido até ao final de mais um ciclo de concretização pessoal, marcado pela elaboração deste relatório. Agradeço acima de tudo à minha família, por quem nutro um carinho muito especial, que sempre me acompanhou e apoiou da forma mais afectuosa em tudo aquilo a que me propús empreender. Mesmo não estando presente em todas as minhas vivências por esse mundo fora, sempre me alentou em todos os caminhos que tenho vindo a calcorrear. Devo um especial agradecimento ao meu Orientador, o Doutor José Manuel Almeida, pela 'paternidade científica' que me providenciou de forma empenhada e zelosa ao longo de todo o processo de realização deste trabalho que, à semelhança da ambiciosa expansão quinhentista, lançou mais um lusitano pelos solos de África. Agradeço ao meu tutor sul africano, Cornell Vermaak, que pela convivência me fez adquirir uma ideia muito mais clara abrangente sobre o conservacionismo em África e me proporcionou um estágio profissional numa das áreas mais icónicas em termos de conservação da natureza. Agradeço também a todas as pessoas vii com quem convivi que me marcaram ao longo da minha existência em várias, e de várias, partes do mundo que contribuiram para que me tornasse naquilo que sou hoje. viii Resumo O presente relatório cujo tema é “Gestão de parques de fauna selvagem – Intervenção médico veterinária” é um sumário de algumas das actividades efectuadas numa área de conservação da natureza durante o período de estágio profissional no Endip Wildlife Laboratory (EWL), na República da África do Sul, com o objectivo ganhar experiência na gestão e na execução de tarefas em parques de fauna selvagem em África, que possa servir de suporte a futuras actividades profissionais desenvolvidas no mesmo âmbito. Existe uma preocupação crescente em empreender esforços direccionados para a preservação do meio ambiente a nível mundial. Incluídos neste esforço têm sido desenvolvidas diversas estratégias para preservação de habitats e espécies, nas quais se incluem os parques de fauna selvagem. Cedo se percebeu que a eficácia destes projectos depende da cooperação dos vários ramos da ciência em prol do conhecimento e gestão dos ecossitemas naturais. Foi neste contexto geral que desenvolvi o meu trabalho e elaborei este relatório, que é um sumário de algumas das actividades efectuadas numa reserva de vida selvagem, enquadrando o papel de um médico veterinário no âmbito da conservação da natureza. Neste trabalho, foi feita uma revisão geral sobre o tema “conservação da natureza” e em particular o contexto histórico em que surgiram e evoluíram os Parques Nacionais de conservação da natureza. Esta visão histórica permite perceber melhor o contexto actual dos parques, com as suas componentes positivas mas também com os seus constrangimentos. É neste cenário marcado por uma história, pressões económicas, conservacionistas e ix num ambiente de actividades multidisciplinares que desenvolvi diversas tarefas algumas das quais abordei de forma mais aprofundada, descrevendo-as e discutindo-as, nomeadamente: imobilização química de rinocerontes, necrópsias a animais selvagens da reserva, participação no programa de monitorização de fauna bravia à distância (sistema VHF) e vigilância de doenças. Foi feita uma descrição e uma contextualização de cada um dos casos e desenvolvo os diferentes temas, baseando-me bibliográficamente para fazer algumas observações no sentido de maximizar o sucesso de um médico veterinário em acções conservacionistas. Todo o processo que levou à concretização deste trabalho fez-me evoluir enquanto pessoa e adequar as várias perspectivas de futuro profissional, criando uma opinião própria que verti nas consideraçõesfinais. Palavras-chave: Parques Naturais, Kruger Park, Intervenção Médico Veterinária, Imobilização Química, Necróspia, Animais Selvagens, Rádio-seguimento. x Abstract This report, subjected “Wildlife Parks Management – Veterinary Medicine Intervention”, is a summary of some of the activities in wich I took part, in a conservation area during the internship in Endip Wildlife Laboratory (EWL), South Africa. The objective is to get experience on wildlife parks management in Africa, that could eventually support professional activities in the same scope. There is a growing concern worldwide on taking efforts towards environmental preservation. Included in this effort, There have been developed multiple strategies in order to preserve habitats and species, in which are included wildlife parks. Soon was realized that the success of this actions sets upon the cooperation between different science fields in order to understand and manage the natural ecosystems. It was on this professional framework in which I developed my work and wrote this report, that summarizes some of the activities in which I took part in the wildlife conservation area, taking in account the veterinary's medicine role towards nature conservation. On this report I have made an historical review on the subject “nature conservation”, particularly the historical context related to wildlife parks beginnings and subsequent evolution focusing some of its pluses and minuses. It is in this scenario marked by history, economical and conservationist pressures and in a multidisciplinary environment that I get involved on several activities in the wildlife conservation area. I develop in a greater extent some of them namely: chemical restraint in wild african rhinoceroses, several necropsy performed on the reserve and the participation on xi the going-on program of wildlife remote monitoring (via the conventional VHF system). It was made a detailed report and a discussion on the different cases, this late one based on bibliography to support some of the remarks, aiming to maximize the success of a veterinary degree towards conservation deeds. All the process that lead to the achievement of this work made me evolve as a person and embrace of future professional perspectives, generating a particular opinion that I express on the final considerations. Key-words: National Parks, Kruger Park, Veterinary Medicine Intervention, Chemical Immobilization, Necropsy, Wildlife, Telemetry. xii Lista de abreviaturas EWL- Endip Wildlife Laboratory GKNP- Greater Kruger National Park GPRS - General Packet Radio Service GPS- Global Positioning System GSM- Global System for Mobile Communications KNP- Krüger National Park (Parque Nacional do Kruger) SMS - Short Message Service UHF- Ultra High Frequence VHF- Very High Frequence xiii xiv Índice Geral Declaração.................................................................................................................................iii Dedicatória..................................................................................................................................v Agradecimentos........................................................................................................................vii Resumo......................................................................................................................................ix Abstract......................................................................................................................................xi Lista de abreviaturas................................................................................................................xiii Índice.........................................................................................................................................xv 1- Introdução...............................................................................................................................1 2- Descrição e discussão de actividades desenvolvidas na reserva...........................................21 2.1 - Imobilização química........................................................................................................21 2.1.1 – Imobilização química de rinoceronte branco (Ceratotherium simum spp. simum)......37 2.1.2 – Imobilização química de rinoceronte preto (Diceros bicornis spp. bicornis)...............41 2.2 – Necrópsias efectuadas a animais da reserva.....................................................................47 2.2.1 - Necrópsia de rinoceronte branco (Ceratotherium simum simum).................................47 2.2.2 - Necrópsia de girafa (Giraffa camelopardalis giraffa)...................................................52 2.2.3 - Necrópsia de cobo untuoso (Kobus ellipsiprymnus).....................................................55 2.3 - Monitorização de fauna bravia à distância.......................................................................57 2.4 – Vigilância de doenças.......................................................................................................67 3- Considerações finais.............................................................................................................73 xv Bibliografia Anexo xvi 1- Introdução O tema deste estágio, “Gestão de parques de fauna selvagem – Intervenção médico veterinária” foi desenvolvido no âmbito do “Regulamento de Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre da Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro”, artigo 1º, ponto 2 enquadrado na tipologia “estagio-profissional” e teve como objectivo ganhar experiência na gestão de parques de fauna selvagem em África, para servir de suporte a futuras actividades profissionais. O tema foi inicialmente programado para ser desenvolvido no “Parque Nacional da Gorongosa” em Moçambique. Nesse sentido, começaram a ser desenvolvidos esforços no final de 2011, tendo ficado tudo acordado no primeiro trimestre de 2012. O facto de ser um parque que está neste momento a recuperar de uma situação grave após a guerra civil, permitia antever a possibilidade de contactar com uma realidade em evolução, rica e com elevadas e constantes necessidades de intervenção humana, nomeadamente médico veterinária. À data, o “Parque Nacional da Gorongosa” estava a receber e aclimatar uma série de espécies que no passado tinha desaparecido da zona. No final do primeiro semestre de 2012, fomos confrontados com alterações na organização do Parque e a impossibilidade de nos receberem. A isto não foi alheia a relativa instabilidade que se vivia e ainda se vive na zona, nomeadamente pelas diversas pressões económicas. Esta volatilidade das situações em África, um pouco contrastante com a realidade Europeia, foi o primeiro ponto que me iniciou na aprendizagem de novas realidades e que ajudou a contribuir para uma visão nova que tenho sobre o mundo, em geral, e sobre este tema, em particular. 1 Face a esta situação e sob a pressão do curto tempo que restava para o início do período de estágio, tentou-se arranjar uma solução que fosse possível, mesmo que não fosse ideal, o que acabou por acontecer. Este constrangimento acabou por condicionar o presente relatório de estágio, cuja matéria-prima de base não é a ideal, mas sim a possível. Uma das consequências positivas foi o contacto e participação em acções que incluíram não só aquelas tipicamente associadas à intervenção médico veterinária, mas também toda uma série de acções mais gerais ligadas à gestão de parques de fauna selvagem. Talvez um ponto menos bom terá sido a reduzida casuística de cada tipo de situações em intervenções do foro médico veterinário o que não permitiu detectar pontos comuns e diferenças entre o mesmo tipo de situações. Provavelmente desde tempos pré-históricos o homem interferiu com o ambiente que o rodeia e pode mesmo ser o responsável pela extinção de inúmeras espécies animais e vegetais. Embora ainda seja alvo de grande controvérsia, há vários autores que relacionam a expansão do homem para novos continentes com a extinção de diversa megafauna, apontando este como sendo o principal factor precipitador da extinção (Bulte, Horan, e Shogren 2006; Doughty C.E, Wolf A, e Field C.B 2010; Lyons, Smith, e Brown 2004). Esta capacidade de interferência ou modificação do meio envolvente parece ser inerente à natureza humana desde os primórdios da sua génese, o que pode sugerir que o homem primitivo terá sido tão destrutivo quanto o moderno, possuindo no entanto meios menos desenvolvidos para o fazer. Contudo, esta capacidade de alteração dos ecossistemas não é exclusiva do Homo sapiens, existindo muitos exemplos com origem noutras espécies. Há situações de modificações em grande escala, como é o caso da alteração brutal da composição da atmosfera da terra primitiva e consequentemente da biosfera pelas cianobactérias (Sessions et al. 2009), 2 modificações em pequena escala, como é o caso muito conhecido da construção de diques pelos castores com impacto no ecossistema local (Hood 2012; J. M. Smith e Mather 2013) ou ainda como é possivelmente o caso da alteração da distribuição de gramíneas em zonas desérticas da Namíbia pela térmita Psammotermes alluocerus (Juergens N 2013). No entanto isto não branqueia o facto de o homem ter vindo a desempenhar um papel crescente na alteração da biosfera. Segundo Takacs-Santa (2004), o impacto do homem na biosfera tem sido crescente ao longo da história e pode ser divido em seis períodos distintos: 1- Uso do fogo - desde há pelo menos 250 000 anos; 2- Linguagem - desde há pelo menos 40 000 anos; 3- Agricultura - desde há pelo menos 10 500 anos; 4- Grandes civilizações - desde há 5 500 anos; 5- Expansão europeia - séc. XV ; 6- Revolução tecnológica e uso de combustíveis fósseis em grandes quantidades - séc. XVIII. É exactamente no início deste último período, durante o século XIX, que surgem as primeiras áreas destinadas para a preservação da natureza. Ainda que a atitude conservacionista actual possa ser entendida, num sentido lato, como o sentimento altruista que promove a utilização racional dos recursos de modo a minimizar, anular, ou inverter o impacto negativo derivado das nossas acções, uma breve análise histórica dos primeiros empreendimentos nesta área, os icónicos Parques Nacionais, revela que este sentimento 3 'protector' não estava implícito na sua génese. A ideia de concessionar uma área para preservação dos seus caracteres naturais, parece ter sido influenciada pelo movimento iluminista que, na europa do século XVIII, promovia o uso da razão com o objectivo de melhorar a condição humana. Pensadores iluministas como John Locke ou Jean Jacques Rousseau, que consideraram o 'homem social' como uma degeneração do seu estado primitivo, indagaram sobre qual teria sido a hipotética condição de homem no seu 'estado natural'. Estes foram os precussores do conceito que viria dar origem ao dualismo humanidade-natureza, que encarava a primeira como a causa todos os males existentes, e a segunda como o ideal pristino e intocado sendo como uma fonte de vitalidade e rejuvenescimento, que desequacionava o papel do ser humano na natureza. O primeiro sentimento de preservação da natureza, foi materializado nos Estados Unidos da América, atribuindo pela primeira vez o estatuto ao Parque Nacional do Yellowstone, por acto do congresso do ano de 1872. A empresa Northern Pacific Railroad tinha interesse em rentabilizar a recente linha ferroviária que passava próximo de Yellowstone (Spence 2000) e financiaria a primeira expedição a este local que já tinha sido visitado por outras expediçoes algumas décadas antes. O governo, pressionado pela companhia ferroviária, concluiu que seria mais rentável se a área estivesse sob administração pública, tendo sido concessionada para fins de preservação da paisagem, de modo a que estas pudessem ser desfrutadas por visitantes, implicando que tivessem de se deslocar até lá, utilizando portanto, transportes. Está então implícito o lobby político-económico que deu origem a um dos primeiros destinos na expansão rumo a Oeste. A área começou a ser administrada com uma gestão de 'fachada', isto é, a manutenção das características naturais existentes, uma vez que a compreensão e conhecimento do funcionamento dos ecossistemas estavam ainda num estado muito imaturo de desenvolvimento. Foi destacado um sector do exército para protecção da área contra o 4 furtivismo e foram expulsas as tribos indígenas cujos territórios abrangiam a área desde há milhares de anos, de modo a apresentar aos visitantes o que era entendido como a natureza no seu estado selvagem, sem interferência de qualquer actividade humana. Paradoxalmente, nascia então a ideia que levaria ao conceito actual de ecoturismo, tendo como objectivo a manutenção do panorama natural ainda que provocasse alterações significativas na paisagem através da construção de infraestruturas e vias de acesso utilizadas pelos visitantes. Das primeiras políticas instituidas foi a melhoria de condições para que os 'animais bons' (principalmente os herbívoros e os ursos pardos, que eram os mais apreciados pelos turistas) proliferassem, enquanto os carnívoros, considerados 'animais maus' foram abatidos em massa, levando até à extinção do lobo (Canis lupus occidentalis) na área do parque. Esta interferência do homem provocou um desequilibrio naquele ecossitema, que na ausência de predadores de topo culminaria numa sobrepopulação de herbívoros, tais como o veado (Cervus elaphus spp.) que devastava completamente o coberto vegetal da zona. Foram precisas algumas décadas para que o homem se apercebesse que deveria interferir o mínimo possível na natureza, onde todos os factores que a compõem são indispensáveis à sua manutenção («BBC Four Unnatural Histories, Yellowstone» 2013; Sellars 1997; Spence 1999). A gestão e o planeamento das acções empreendidas nesta primeira área de preservação, viriam a servir de modelo a practicamente todos os parques que foram criados posteriormente. A consciencialização em relação à riqueza natural que deveria ser conhecida, valorizada e perpetuada, cujos alicerces tinham sido fundados, por naturalistas como Carolus Linnaeus e Charles Darwin, só surgiria cerca de meio século após a criação do Parque Nacional do Yellowstone, por trabalhos efectuados a cabo por George M. Wright, Ben Tompson e Joseph Dixon, responsáveis pelos primeiros levantamentos de dados visando factores bióticos e 5 abióticos nas décadas de 1920/30, em algumas das áreas protegidas no continente norteamericano (Shafer 2001). Outro parque com um protagonismo bastante considerável em termos de ecoturismo a nível mundial, tendo sido umas das primeiras reservas de vida selvagem a ser implementada no continente africano é o Parque Nacional do Kruger (Kruger National Park-KNP). A reserva de vida selvagem de Sabi, que daria origem ao parque, foi estabelecida no ano de 1898, pelo então presidente da recém formada República, Paul Krüger. Esta vasta área de conservação localiza-se ao longo da fronteira nordeste da África do Sul, extendendo-se pelas regiões Limpopo e Mpumalanga e a sua área é de cerca de 19 624 km2, com um comprimento de cerca de 352 Km e uma largura média de cerca de 60 Km (Dennis e Brett 2000; Carruthers 2008). Durante o século XIX houve uma grande dispersão de indivíduos de ascendência europeia pelo território que hoje compreende a República da África do Sul a partir da zona do Cabo da Boa Esperança, para exploração dos recursos naturais existentes. Data do ano de 1871 a descoberta de ouro e outros minérios no território onde foi estabelecida posteriormente a reserva de Sabi. Esta descoberta levou a que muitos aí se estabelecessem principalmente para exploração mineira, acabando por exercer uma enorme pressão cinegética na fauna bravia, que levaria a que esta fosse practicamente dizimada em pouco mais de uma década (Dennis e Brett 2000). Este facto, evidente por todo o território englobado pela república sul africana, levou a uma preocupação por parte do governo, que aplicou medidas no sentido de restringir algumas das áreas à livre exploração dos recursos. A reserva de Sabi foi uma das primeiras a ser implementadas, localizada na área que 6 corresponde actualmente à parte sul KNP, com o objectivo de promover o aumento do numero de espécies cinegéticas, para que posteriormente pudessem ser caçados de forma 'sustentável' (Dennis e Brett 2000; Dennis e Scholes 1995; Mavhunga 2009). Após várias anexações de terreno a esta reserva, viria a adquirir, no ano de 1926, o estatuto de Parque Nacional do Kruger, em honra ao presidente fundador (Carruthers 1995; Dennis e Brett 2000). Desde o inicio da concessão como reserva, foi destacado um guarda de vida selvagem, StevensonHamilton, que se revelou um dos mais importantes intervenientes na preservação da vida selvagem da área (Dennis e Scholes 1995; Dennis e Brett 2000). Dado o seu amplo conhecimento sobre a natureza e a protecção instituída contra acções furtivas, em relativamente pouco tempo os números de animais existentes foram significativamente aumentados. Poucos anos após a sua criação, o parque começaria a ser visitado por turistas, o que se revelou uma fonte de rendimento mais lucrativa do que a exploração com fins venatórios, tendo sido adequado o seu planeamento àquele que foi sempre considerado como ícone nesta área, o Parque Nacional do Yellowstone (Carruthers 1995; Dennis e Scholes 1995). Uma das primeiras medidas implementadas foi a construção de inúmeros pontos de água artificiais, com o objectivo de melhorar as condições adequadas à proliferação de herbívoros (Dennis e Brett 2000; Carruthers 1995). Esta alteração levaria a que algumas espécies, tais como zebras e gnus, aumentassem os seus efectivos e se dispersassem por territórios onde a escassez de água anteriormente não permitia a sua implementação, exercendo uma competição directa por habitat que levaria à redução abismal de algumas espécies de antílope, dentre elas as várias palancas (Dennis e Brett 2000). À semelhança do parque americano, também foi efectuado um controlo de predadores intensivo, sem que no entanto estes fossem abatidos na sua totalidade (Dennis e Brett 2000). Estas acções causaram um desequilibrio naquele ecossistema, o que cedo levaria Stevenson-Hamilton a chegar à 7 conclusão que todos os animais têm um papel fundamental no ecossistema em que estão integrados e que a natureza se encarrega de estabelecer um equilíbrio entre os diferentes componentes de um ecossistema (Dennis e Scholes 1995; Dennis e Brett 2000; Carruthers 1995). Esse equilíbrio, no entanto, nem sempre é entendido pelo homem como sendo óptimo, na medida em que auspiciamos ver algumas classes de animais em permanente abundância, em detrimento de outras, sem muitas vezes analisarmos de forma holística e aparcial o funcionamento do habitat em questão. A gestão efectuada no KNP actualmente é considerada adaptativa, focando-se na manutenção de alguns factores, nomeadamente: rios, incêndios, espécies invasivas, antílopes raros e impacto de elefantes (van Wilgen e Biggs 2011). Estes critérios, servem como uma base genérica que avalia a integridade do ecossistema, de modo a que possam ser instituídas algumas medidas caso haja alterações no ecossistema que assim o justifiquem. É de referir que uma das políticas do parque é não interferir directamente na vida selvagem, para que esta se encontre no seu estado mais natural e intocado possível, sendo que grande parte dos esforços empregues são canalizados para a vigilância e protecção das espécies aí existentes, assim como a ‘acessibilidade’ aos visitantes do parque tais como alojamentos e vias de acesso (Dennis e Brett 2000; Dennis e Scholes 1995). Actualmente, a República da África do Sul é considerada um exemplo de sucesso no contexto de áreas destinadas à conservação da natureza. O ecoturismo direccionado para a vida selvagem, que tem sido um sector em franco desenvolvimento em todo o mundo, traz ao país milhões de visitantes anualmente. De forma a adequar-se o mercado à emergente procura, surgiu um grupo de espécies icónicas, os carismáticos “Cinco Grandes” (Big Five) composto pelo leão (Panthera leo), leopardo (Panthera pardus), elefante africano (Loxodonta africana), 8 búfalo africano (Syncerus caffer) e ambas as espécies de rinoceronte africanas (Ceratotherium simum spp. e Diceros bicornis spp.), que acaba por funcionar como 'espécies-sentinela', no sentido em que a sua consevação implica a preservação do habitat que beneficia muitas outras espécies (“KrugerPark.com - About Big Five” 2013; Di Minin E et al. 2013). Deste modo, visitantes de todo o mundo podem desfrutar de um vislumbre da “savana africana” sendo-lhes possível o contacto (senão outro, pelo menos visual), com muitas das espécies africanas consideradas “cliché” no seu estado entendido como selvagem - o que, para além de tudo, frequentemente gera boas captações fotográficas. A reserva onde decorreu o meu estágio está inserida num conjunto de reservas com fins turísticos/conservacionistas de administração privada, localizadas contíguamente ao KNP, numa área designada como a área do Grande KNP (Greater Kruger National Park-GKNP). A área do GKNP engloba a área do KNP e as restantes reservas de vida selvagem localizadas na períferia. Até à década de 70/80 do precedente século, os espaços compreendidos por este conjunto de reservas eram essencialmente utilizados como explorações agro-pecuárias, onde grande parte da vida selvagem foi dizimada em larga escala, desde as populações de herbívoros, que transmitiam doenças, parasitas e competiam por pasto com os animais domésticos; até aos grandes predadores responsáveis também por baixas dos efectivos pecuários assim como ataques a seres humanos aí instalados (Carruthers 2008). A partir dessa altura, a exploração destas áreas para os fins acima indicados deixou de ser tão rentável como anteriormente e progressivamente estas foram sendo reestruturadas para serem utilizadas segundo um conceito recém-criado que se mostrava bem mais rentável em termos económicos - o ecoturismo (Carruthers 2008). As principais alterações instituídas comuns a todas estas reservas foram a aquisição de animais selvagens e a erecção de vedações que os contivessem 9 dentro dos respectivos perímetros, assim como a construção de infraestruturas que possibilitassem a estadia de visitantes (Carruthers 2008). A reserva de Parsons é um dos muitos exemplos deste tipo de reservas de vida selvagem. Esta compreende uma área de aproximadamente 3000 hectares, divididos em 97 parcelas de cerca de 21 hectares (a cada uma das 97 parcelas corresponde um proprietário diferente) e uma parcela de cerca de 500 hectares de um outro proprietário, sendo que cerca de 40% das propriedades estão a ser exploradas com fins turisticos. A administração da reserva Parsons é da responsabilidade de um comité representativo de proprietários das parcelas que se reúne mensalmente para debater as acções levadas a cabo e possíveis alterações ao plano de gestão. A gestão desta é muito semelhante àquela instituída no KNP, na qual não se interfere directamente com a vida selvagem, focando essencialmente a vigilância e a protecção da vida selvagem dentro do perímetro da reserva, na tentativa de minimizar a acção furtiva e de averiguar a manutenção dos números de animais existentes. As tarefas de segurança e vigilância são efectuadas por uma brigada anti-furtivismo, constituída por cerca de uma dezena de guardas que, para além de controlarem a entrada e a saída de moradores, visitantes e trabalhadores, efectuam patrulhas pedestres diariamente, tendo especial atenção à manutenção da vedação circundante. O Endip Wildlife Laboratory (EWL), localizado numa das parcelas de Parsons, é a entidade responsável pela vigilância de doenças e levantamento de dados das populações de animais selvagens na reserva, assim como todas as outras ocorrências relacionadas com a vida selvagem. O seu administrador, o meu tutor sul africano, obteve um grau universitário em 'ecologia de doenças' e complementou a sua formação com vários outros cursos de curta duração que o habilitam a desempenhar várias actividades laboratoriais principalmente nas 10 áreas da parasitologia, microbiologia e toxicologia. Adicionalmente, pela sua formação militar e gosto pela protecção da natureza de forma activa, integrou a unidade anti-furtivismo durantes vários anos como guarda de campo num sector do KNP. Em Parsons foi-lhe atribuído o cargo de guarda chefe de vida selvagem, sendo o responsável pela chefia da brigada anti-furtivismo, que juntamente ao facto de estar encarregue da vertente laboratorial virada para a ecologia, leva a que seja considerado uma peça chave em termos de preservação dos preceitos naturais ali existentes, sendo que todas as ocorrências na reserva lhe são reportadas em primeira mão. Com base neste estatuto adquirido, o administrador do EWL desenvolveu um programa de estágio de modo a que estudantes, principalmente estrangeiros, possam receber alguma formação no âmbito da conservação da natureza na savana africana, sendo que este é financiado pelos mesmos. Este tipo de estágios decorre durante um período de cerca de um mês no qual os estudantes participam em 3 a 4 actividades principais por semana relacionadas com o contacto com a vida selvagem ou com a ecologia ambiental. A minha função ao serviço do EWL foi um ajustamento do modelo do estágio disponibilizado pelo laboratório. Como estava disposto a permanecer por um período superior ao convencional, acordei com o meu tutor sul africano que ficaria isento do respectivo pagamento, assim como despesas de alojamento e alimentação. Em contrapartida, fiquei encarregue de participar em todo o tipo de tarefas sobre as quais ele era responsável, o que considero vantajoso uma vez que me pôs à prova inúmeras vezes para desempenhar dos mais variados trabalhos tendo para isso de aprender, ou melhorar, algumas das minhas capacidades polivalentes. No presente relatório optei por desenvolver algumas das actividades nas quais participei, nomeadamente: acções de imobilização química em rinocerontes; avaliações postmortem de um rinoceronte branco, uma girafa e um cobo Untuoso; radio-seguimento pela 11 sistema convencional de VHF e tentativa de monitorização utilizando uma câmara incorporada num aerodino comandado remotamente; participação no programa 'vigilância de doenças' disponibilizado pelo EWL, efectuando tanto o trabalho de campo (recolha de amostras e avaliações do ecossistema) como o trabalho laboratorial (análise das amostras recolhidas). Para além dessas actividades, efectuei necrópsias a outros animais como o gato selvagem africano (Felis silvestris lybica) (fig. 1 do anexo), bufo-malhado (Bubo africanus), fraca cristata (Guttera pucherani); fui incluído na unidade anti-furtivismo da reserva (integrei os grupos de patrulha pedestre, com os guardas de campo, motorizada, com o guarda chefe da reserva e cooperei na implementação de um sistema de câmaras ocultas em pontos estratégicos de actividade humana); ajudei na remoção de animais selvagens nas estradas que trespassam a vedação; efectuei trabalhos para a reserva (desmatação, monda de ervas daninhas, limpeza de estragos deixados por manadas de elefantes, terraplanagem de estradas, reparação da vedação e oclusão de buracos escavados sob a mesma por facocheros ou grandes carnívoros); desempenhei tarefas de mecânica (na transformação de um jipe em carro de patrulha e reparação de bombas de água) e construção civil (na remodelação das infraestruturas da propriedade onde estive (fig. 2 do anexo); ajudei na criação de animais selvagens orfãos (uma vez que o EWL também funcionava como um orfanato); participei em iniciativas relacionadas com o reaproveitamento de águas residuais de uso doméstico na produção de alimentos ou outras formas vegetais (fig. 3 do anexo) e nas últimas semanas ao serviço do EWL fui colocado numa outra reserva de vida selvagem para que pudesse pôr em prática a formação de guarda de vida selvagem e serviço ambiental recebida durante o estágio, assim como desenhar um projecto de transformação de resíduos domésticos (tanto sólidos, como líquidos) produzidos no respectivo empreendimento turístico. Actividades efectuadas nessa reserva: 12 -inspeccionar toda a vedação circundante e consertar os locais onde esta estava danificada; -Ocluir os buracos escavados por facocheros (Phacochoerus sp.) e hiena-malhada (Crocuta crocuta) a fim de transpor estas barreiras (fig. 4 do anexo); -recolher evidências de actividade furtiva na reserva e tentar especular eventuais padrões de acção específicos daquela área (fig. 5 do anexo); -instituir o programa 'vigilância de doenças' na reserva. Recolha de fezes e recolha de amostras de água de pontos de abeberamento artificiais; -census de micro-mamíferos - 2 noites, 7 capturas (fig. 6 do anexo); -Cooperar nas tarefas efectuadas pelos trabalhadores do empreendimento turístico e organização alguns dos respectivos turnos de trabalho; -começar um projecto de tranformação de resíduos domésticos sólidos provenientes daquele empreendimento turístico: separação do lixo reciclável (metais e vidro) e incineradora para os outros resíduos, de forma a aproveitar os recursos obtidos (cinzas e energia térmica). -Desenho de uma “wetland” (unidade de reaproveitamente de água de usos domésticos) para reutilização dos resíduos líquidos com particulas sólidas em suspensão. Na África do Sul têm vindo a ser empreendidos ínúmeras acções com o objectivo de maximizar a eficácia dos esforços de preservação da natureza. Neste sentido, há algumas espécies que adquirem estatutos diferentes em relação ao valor que acrescentam ao ambiente circundante, pelo que os esforços são tendencialmente direccionados para a protecção dessas espécies. Ainda que frequentemente não sejam focados outros factores dos ecossistemas na 13 sua totalidade, esta perspectiva promove a protecção geral do habitat em que essas espécies se inserem, beneficiando indirectamente outros componentes da comunidade biota. Actualmente, as espécies mais visadas em termos conservacionistas são os rinocerontes africanos, pelo delicado panorama que enfrentam. No decorrer do meu período como estagiário do EWL, parte das acções em que participei visaram ambas as espécies de rinoceronte existentes no continente africano, pelo que considero útil fazer uma breve apresentação sobre este tema nas páginas que se seguem. Classificação e distribuição geográfica das espécies-vivas de rinoceronte. O termo rinoceronte refere-se a qualquer membro da Ordem Perisodáctila, Família Rhinocerotidae. Estes animais são caracterizados pelo seu aspecto primitivo de grandes dimensões, membros curtos e fortes, cabeça com um ou dois cornos nasais no plano médio do chanfro, olhos pequenos e membros com três dedos, sendo que o eixo dos membros coincide com o dedo médio (Colin P Groves e Grubb 2011). Actualmente, existem cinco espécies-vivas referentes a esta Família, duas das quais existentes em África e três na Ásia. As espécies existentes no continente africano, particularmente na África sub-sahariana são: o Rinoceronte branco (Ceratotherium simum) e o Rinoceronte preto (Diceros bicornis); por sua vez, as espécies existentes no continente Asiático são: o Rinoceronte Indiano (Rhinoceros unicornis), o Rinoceronte de Java (Rhinoceros sondaicus) e o Rinoceronte de Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis) (Tougard et al. 2001; Willerslev et al. 2009). As espécies que existem em África dividem-se em várias subespécies, sendo que cerca de 80% dos rinocerontes destas espécies se localizam na República da África do Sul. 14 Relativamente ao rinoceronte branco existem duas subespécies: Rinoceronte branco do norte (Ceratotherium simum cottoni) - que actualmente se encontra practicamente extinto (sendo que existem apenas 5 individuos mantidos em cativeiro) e o Rinoceronte branco do sul (Ceratotherium simum simum) (Colin P Groves 1972; Colin P Groves, Fernando, e Robovský 2010) do qual existem cerca de 20 000 exemplares localizados na República da África do Sul, Botswana, Namíbia, Quénia, Suazilândia, Tanzania, Uganda e Zimbabué, com pequenos focos populacionais na Zâmbia e Malawi («WhiteRhinoSpecies.pdf» 2013). O Rinoceronte preto (Diceros Bicornis), por sua vez, compreende 4 sub-espécies: D. b. bicornis, D. b. minor, D. b. michaeli e D. b. longipes (esta subespécie já foi dada como extinta) (O’Ryan, Flamand, e Harley 1994; K. Rookmaaker 2005; C.P Groves 1967). Os indivíduos destas 3 subespécies excedem os quatro milhares e encontram-se na África do Sul, Namíbia, Quénia, Tanzânia e Zimbabwe; com algumas populações com poucos indivíduos no Malawi, Suazilândia e Zambia («BlackRhinoSpecies.pdf» 2013). O estatuto das sub-espécies africanas segundo a lista vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature/União Internacional para a Conservação da Natureza) é o seguinte: Ceratotherium simum ssp. cottoni - criticamente em perigo. Ceratotherium simum ssp. simum - quase ameaçada. Diceros bicornis ssp. bicornis – vulnerável. Diceros bicornis ssp. longipes – extinto. 15 Diceros bicornis ssp. michaeli - criticamente em perigo. Diceros bicornis ssp. minor - criticamente em perigo. («The IUCN Red List of Threatened Species» 2013) Características morfológicas e comportamentais comparativas dos rinocerontes brancos e rinocerontes pretos. Ainda que os traços gerais se assemelhem, as espécies de rinoceronte existentes no continente africano diferem fenotipicamente em algumas características, assim como diferem as suas preferências por habitat e os seus hábitos sociais. Para não tornar esta secção demasiado extensa, optei por descrever apenas algumas das características mais evidentes: cor, tamanho, forma dos lábios, tamanho dos cornos e hábitos sociais. A cor do rinoceronte branco é cinzento claro, enquanto a coloração do rinoceronte preto é cinzento acastanhado escuro, podendo haver variações de tonalidade em ambas as espécies, sendo que este não é um factor fiável para a sua distinção. Os nomes foram utilizados pela primeira vez no início do século XIX , contudo a origem de ambos ainda carece de explicação comumente aceite (L. C. Rookmaaker 2003). O rinoceronte branco é marcadamente maior que o preto, pesando 3200 a 3600Kg (Colin P Groves 1972), enquanto o rinoceronte preto pesa cerca de duas toneladas. Em ambas as espécies existe dimorfismo sexual, sendo a fêmea relativamente mais pequena do que o macho. Uma das principais diferenças entre as duas espécies é a conformação dos lábios: os lábios do rinoceronte branco são largos e espessos enquanto os do rinoceronte preto são 16 estreitos e pontiagudos, assemelhando-se a sua conformação a um gancho. Esta diferença é justificada pelos diferentes hábitos de alimentação de ambas as espécies: o rinoceronte branco alimenta-se de pasto em planícies pouco arborizadas, tendo uma vantagem em ter os lábios mais largos para possibilitar a preensão de grandes quantidades de erva (Colin P Groves 1972; Pienaar 1994); por sua vez, o rinoceronte preto prefere habitats com um coberto vegetal arbóreo e arbustivo denso, onde se alimenta de folhas, galhos e rebentos de várias plantas arbustivas e árvores, e daí a conformação dos lábios mais adequada ser em forma de gancho para lhe permitir escolher as partes vegetais preferidas (Buk 2010; Malan et al. 2012). Em relação aos cornos, também existem algumas diferenças evidentes. O Rinoceronte branco apresenta o corno cranial marcadamente maior em relação ao caudal; enquanto no rinoceronte preto ambos os cornos apresentam um tamanho semelhante. O rinoceronte branco está descrito como sendo um animal sociável e pacífico que normalmente vive rodeado de mais alguns membros da mesma espécie, formando grupos que podem exceder uma dezena de indivíduos (Pienaar 1994). O rinoceronte preto é um animal solitário e tendencialmente agressivo, sendo que, das únicas vezes que são avistados em grupo, normalmente estes são constituidos pela mãe com a respectiva cria ou um macho e uma fêmea (quando em estro) (Adcock 1994). Factores como a destruição de habitat e conflitos políticos entre os países africanos têm tido um papel importante no declíneo de muitas espécies, contudo, no caso do rinoceronte, a principal causa que está a levar à extinção é o seu abate furtivo (Beech e Perry 2011; Maggs e Greeff 1994; Lockwood 2010). Para além do homem, este animal não tem predadores naturais no seu estado adulto, ainda que exista a ameaça de ser depredado, enquanto cria, por leões ou hienas que destas se alimentam. Os indivíduos destas espécies são abatidos no decorrer de 17 acções furtivas para que lhes sejam retirados os cornos. Ao contrário dos cornos de outros mamíferos, os de rinoceronte são estruturas constituídas por filamentos de queratina compactados que se destacam da epiderme do animal. Estes não possuem uma projecção óssea no seu interior (West, Heard, e Caulkett 2007) e o seu valor no mercado ilegal ultrapassa o valor do ouro. O corno de rinoceronte é utilizado de duas formas distintas: no Médio-Oriente, onde possui um valor cultural quando incrustado em cabos de adagas; e na Ásia, nomeadamente na China e no Vietname, pelas inúmeras propriedades medicinais que lhe são atribuídas, cujos primeiros registos datam de há cerca de dois milénios atrás em compêndios de medicina asiática. Já foram feitos estudos que comprovam o efeito antipirético como sendo uma das propriedades do corno de rinoceronte, ainda que quando administrado em grandes quantidades (But, Lung, e Tam 1990), sendo que as outras propriedade medicinais atribuídas ainda não foram confirmadas. Têm vindo a ser desenvolvidas estratégias no sentido de maximizar a eficácia dos esforços empregues no combate ao furtivismo, no sentido de prestar uma vigilância particularmente especial aos indivíduos destas espécies, reforçando o patrulhamento das áreas onde ainda existem (Ferreira et al. 2012; Patton 2013). Todos os recursos despendidos nesta causa levaram a uma especialização das unidades anti-furtivismo no sentido de reforçar as estratégias de segurança aplicadas às áreas de conservação, contudo toda a logística associada às acções furtivas também tem evoluído consideravelmente. Hoje em dia a rede furtiva está completamente dispersa pela sociedade envolvente abrangendo desde as camadas mais desfavorecidas da população local (trabalhadores dos empreendimentos turísticos), indivíduos especializados nas acções de conservação da natureza (tais como veterinários, ecologistas, guardas da vida selvagem, etc.) e também caçadores experientes (Beech e Perry 2011; Maggs 18 e Greeff 1994). As redes furtivas de tráfico de corno de rinoceronte cada vez mais recorrem à alta tecnologia tais como o uso de helicópteros, aparelhos de visão nocturna, armas de grande calibre e mesmo sistemas de contenção química, o que leva ao aumento da sua eficácia e consequentemente ao aumento do número de animais abatidos (Montesh 2012). O número de rinocerontes abatidos furtivamente nos últimos anos foi: 333 em 2010, 448 em 2011, 668 em 2012. Até ao dia 5 de Setembro de 2013 foram reportados 618 rinocerontes abatidos furtivamente («Minister Molewa commends law enforcement agencies for work well done in the fight against rhino poaching | Department of Environmental Affairs» 2013). Apesar de nos últimos anos o abate furtivo ter sido crescente, colocando ambas as espécies sob uma pressão antropogénica constante, a população de rinocerontes africanos no estado selvagem evidenciou um aumento. Uma das últimas estatísticas, efectuada em Dezembro de 2012, indica que o número de rinocerontes brancos do sul (Ceratotherium simum simum) passou de 17475 (em 2007) para 20165 indivíduos; enquanto a população de rinocerontes preto (Diceros bicornis spp.) aumentou de 4230 (em 2007) para 4880 indivíduos (R. Emslie 1999; R. H. Emslie, Milliken, e Talukdar 2012). Para além do aumento dos serviços de vigilância e segurança, também têm sido aplicadas outras medidas nos esforços de preservação da espécie, tais como: -remoção cirúrgica dos cornos por especialistas (Milner-Gulland 1999); -injecção do corno com substâncias tóxicas (para que o consumidor seja afectado aquando da ingestão do corno ou derivados) (Quan, 2013; «Rhino horns poisoned and painted 19 PINK to keep poachers away in revolutionary scheme in South Africa» 2013); -tentativas de legalizar o comércio do corno sob normas pré-definidas (de modo a ter mais controlo sobre o mercado) (Loon 1997; Biggs D 2013; Ferreira S.M e Okita-Ouma B 2012); -campanhas de sensibilização em comunidades locais e estabelecimentos de ensino («STOP RHINO POACHING NOW!» 2013). As acções furtivas têm-se tornado cada vez mais frequentes, sendo practicamente imprevisível a sua evolução nos próximos anos. Têm vindo a ser empregues medidas com o objectivo de atenuar o impacto furtivo, contudo o panorama geral não se mostra promissor quanto ao futuro de ambas as espécies de rinoceronte africanas, ainda que as respectivas populações tenham evidenciado um ligeiro aumento nas últimas décadas. Não parece haver indícios de que haja uma preferência pelos consumidores quanto à espécie, sendo que os cornos de ambas atingem um elevado valor no mercado negro. Para além disso, já foi reportado que até os rinocerontes aos quais o corno foi removido cirurgicamente podem ser abatidos furtivamente para que lhes seja retirada a base do corno (deixada para que seja possível o crescimento deste), sendo que ainda não foi encontrado o conjunto de medidas mais adequadas à protecção desta espécie (R. Emslie 1999; Beech e Perry 2011; MilnerGulland 1999). 20 2 – Descrição e discussão de actividades desenvolvidas na reserva 2.1- Imobilização química O termo imobilização química, que também pode ser designado por contenção química, refere-se à indução com recurso a fármacos de um estado de sedação, anestesia e/ou relaxamento muscular que permita manusear um animal reduzindo os riscos para o mesmo associados aos procedimentos de captura efectuados (West, Heard, e Caulkett 2007). Todo o processo de imobilização química em animais selvagens, desde o planeamento inicial até à libertação do animal, deve ser da responsabilidade de um médico veterinário com formação específica nestes procedimentos, uma vez que requer um grande conhecimento da biologia das espécies abordadas e principalmente um conhecimento aprofundado dos fármacos utilizados e as respectivas técnicas de administração (Portas TJ 2004; Tribe e Spielman 1996). Uma vez que muitos dos efeitos dos fármacos não estão completamente compreendidos em relação à fauna bravia, o profissional deve sempre proceder a uma extensa revisão bibliográfica (direccionada para os estudos relacionados), de modo a decidir qual é o melhor protocolo a utilizar em cada caso específico ou que adaptações aos mesmos poderão ser efectuadas (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). Este método de captura começou a ser desenvolvido no decorrer de acções com fins conservacionistas direccionados para algumas espécies que apresentavam um declínio acentuado e cujo estatuto passou a ser considerado preocupante, entre outros, assumem especial destaque os rinocerontes africanos (McCulloch e Achard 1969; West, Heard, e Caulkett 2007). Neste capítulo foco especialmente a imobilização de indivíduos de ambas as espécies de rinocerontes africanas, uma vez que foi a área da captura química que experienciei 21 durante o estágio. A título de curiosidade, destaco que as primeiras capturas de indivíduos destas espécies foram efectuadas sem recurso a fármacos, empregando um sistema no qual se perseguia o animal a bordo dum veículo e se enlaçava com uma corda, a fim de o conter. Ainda que algumas equipas se tenham tornado especialistas neste método de captura, este revelou-se bastante stressante para o animal e com grandes riscos associados para o operador (McCulloch e Achard 1969). Data da década de 60 o emprego de substâncias químicas utilizadas na imobilização química destes animais. As primeiras substâncias utilizadas para este fim foram a feniciclidina, um agente anestésico dissociativo, em conjunto com a galamina, um relaxante muscular curariforme, numa acção de translocação de indivíduos de rinoceronte preto de uma área onde iriam ser vitimados pela subida das águas do lago Kariba, localizado na zona fronteiriça entre a Zâmbia e o Zimbabwe (Harthoorn e Lock 1960; Child e Fothergill 1962). Na mesma década, na Republica da África do Sul, foram levadas a cabo acções de repovoamento de rinoceronte branco provenientes da provincia de KwaZulu-Natal (onde então existiam cerca de 50 indivíduos), para áreas protegidas onde já não existia nenhum exemplar desta espécie, nomeadamente no perímetro do KNP (R. Emslie 1999). Actualmente a captura química de rinocerontes no estado selvagem, normalmente tem como objectivo a implementação de algumas medidas de protecção da espécie, tais como: remoção cirúrgica do corno, marcação dos animais, aplicação de sistemas de monitorização electrónica ou translocações de animais (West, Heard, e Caulkett 2007). Deve ter-se em conta que todos os processos relacionados com uma acção de 22 imobilização química têm riscos associados para o animal, assim como para o operador, pelo que toda e qualquer acção desta natureza deve ser rigorosamente planeada a fim de maximizar a sua eficácia (West, Heard, e Caulkett 2007; Rogers 1993a; Tribe e Spielman 1990). Antes de mais, deve ter-se um conhecimento aprofundado em relação à espécie a capturar, nomeadamente a sua etologia, reacção ao stress (“lutar ou fugir”), assim como as técnicas relacionadas com a imobilização química e a acção dos fármacos a utilizar. Para além disso, deve ser ponderado o motivo pelo qual o animal deve ser imobilizado quimicamente, sendo que esta imobilização só deve ser empreendida caso não exista uma forma menos intrusiva de alcançar o objectivo em questão. Todos os procedimentos, assim como eventuais complicações, devem ser previstos para que se proceda a uma preparação rigorosa de todo o material que se possa verificar necessário em qualquer acção de imobilização. A decisão da altura do dia a que deve ser efectuada a captura também é de extrema importância, sendo preferível os períodos em que a temperatura ambiente é menor nomeadamente de manhã cedo ou no final da tarde, para contornar eventuais problemas relacionados com a hipertermia, que frequentemente se verifica em rinocerontes imobilizados por via de fármacos opióides (Portas TJ 2004; Tribe e Spielman 1996). Quando se trata da administração de fármacos em animais no estado selvagem, há que ter em conta que os animais não estão habituados ao contacto com seres humanos, tornandose por isso demasiado esquivos e/ou agressivos para serem capturados e manuseados. Assim sendo, foram desenvolvidos alguns métodos para a administração de fármacos à distância em fauna bravia, levando a taxas maiores de sucesso das acções empreendidas, assim como a uma diminuição acentuada dos riscos para os operadores (Rogers 1993a; West, Heard, e Caulkett 2007). 23 Os dispositivos usados na imobilização química consistem genericamente em duas partes: um dardo, no qual é colocado o fármaco, ou a combinação de fármacos a administrar; e um projector que impele o dardo a percorrer a distância, pelo ar, até perfurar a pele do animal (West, Heard, e Caulkett 2007). Existem três formas, mais amplamente utilizadas, de viabilizar a propulsão do dardo: com uma zarabatana em que o propelente é o ar expirado pelo operador; com armas (pistolas ou carabinas) que usam como propelente ar previamente comprimido; armas cujo propelente é pólvora colocada num cartucho especialmente desenhado para esta finalidade (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). Para além destes, têm vindo a ser adaptados outros métodos alternativos como por exemplo o uso de arcos e bestas em que o dardo é montado numa seta (West, Heard, e Caulkett 2007; Stander et al. 1996). A zarabatana é um tubo no qual é colocado o dardo e é operada à semelhança daquelas utilizadas para fins venatórios pelos índios sul americanos. Este método requer muita práctica por parte do operador e o alcance é relativamente reduzido, comparativamente aos outros métodos, sendo preferencialmente empregue a curtas distâncias, entre os 10 e 15 m e em animais cuja cobertura tegumentar não é muito espessa (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). O sistema com recurso a ar comprimido é aquele mais utilizado actualmente em acções de imobilização química de rinocerontes em estado selvagem podendo ser utilizada uma pistola ou uma carabina para o efeito. Neste método, recorre-se a uma fonte externa de ar comprimido, que pode ser obtida por uma bomba pneumática ou por uma garrafa contendo dióxido de carbono sob compressão, dependendo das características do mecanismo em questão. O dardo é colocado na extremidade anterior do cano da arma. Quando o gatilho é 24 premido, dá-se a abertura de uma válvula que liberta uma determinada quantidade de gás, cuja expansão ao longo cano leva à propulsão do dardo. Neste método a quantidade de gás necessária pode ser ajustada em função da distância a que o disparo é efectuado, assim como das características anatómicas (nomeadamente o porte e a espessura da pele) do animal a imobilizar. Este sistema tem-se revelado relativamente preciso, nomeadamente quando empregue com uma carabina, tendo um alcance satisfatório até 50m (quando utilizada uma pistola, o alcance é de cerca de 20m), à qual, inclusivé, se pode incorporar uma mira telescópica, sendo assim justificável a sua preferência pelos profissionais da área, em relação aos outros sistemas indicados (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). O sistema que recorre ao uso de pólvora num cartucho é empregue numa arma de fogo de calibre .22, adaptada para que a força expansiva dos gases provenientes da explosão da pólvora (é de referir que o cartucho não contém projéctil) possibilite a propulsão do dardo colocado no cano da arma. Este sistema não deve ser empregue a curtas distâncias (pelo risco de traumas que pode infligir ao animal), uma vez que possui uma grande potência, que lhe possibilita um grande alcance. A precisão deste método também é bastante satisfatória (West, Heard, e Caulkett 2007). O uso de arcos ou bestas pode ser preciso quando utilizado por arqueiros experientes, com alcances úteis que podem ir até aos 30 metros. Esta técnica necessita de um longo período de aprendizagem, pelo que será apenas útil quando já haja arqueiros experimentados disponíveis. Mas mesmo para o arqueiro experiente há um problema novo que é a capacidade de dosear com precisão a força com que o dardo atinge o animal (Stander et al. 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). 25 Em relação aos dardos utilizados também existem vários tipos, sendo que todos possuem quatro componentes comuns na sua constituição: uma agulha-que possibilita a injecção do(s) fármaco(s); uma câmara na qual é colocada a substância a administrar; um mecanismo que accione a injecção do(s) fármaco(s) presentes na câmara referida para o efeito; e um estabilizador de voo, para que este percorra a distância pretendida efectuando um trajecto o mais rectilíneo possível. Segundo West, Heard, e Caulkett (2007), os vários tipos de dardos existentes são: -dardos de duas câmaras com ar comprimido- a câmara anterior possui a(s) substância(s) a administrar; e a câmara posterior contém ar sob pressão. As duas câmaras estão separadas por um êmbolo de borracha (que é movido consoante os gradientes de pressão em ambas as câmaras). A agulha empregue nestes dardos possui um ou dois orifícios, por onde se dá a saída do fármaco, localizados lateralmente na ponta da agulha que estão tapados por uma bainha de silicone. A primeira fase da preparação destes dardos é a colocação do fármaco na câmara anterior, com auxílio de uma seringa. Após este procedimento, é colocada a agulha (contendo a respectiva bainha); depois é injectado ar, também recorrendo a uma seringa, na câmara posterior do dardo, a qual possui uma válvula unidireccional com o objectivo de impedir a saída do gás. O último passo é a colocação do estabilizador de voo e o dardo fica pronto a utilizar. Quando a agulha perfura a pele do animal, a bainha de silicone desliza caudalmente ao longo da agulha, expondo os orifícios e fazendo com que a que a pressão exercida pelo gás desloque o êmbolo frontalmente, o que leva à expulsão das substâncias presentes na câmara anterior. Estes dardos são fabricados em plástico ou alumínio, o que faz com que apresentem um baixo peso e consequentemente sejam relativamente atraumáticos para o animal, podendo ser utilizados numa grande variedade de 26 espécies. No entanto, derivado do seu baixo peso, não atingem um grande alcance nem apresentam uma taxa de sucesso satisfatória em condições climatéricas adversas (por ex. vento ou chuva); -dardos cuja propulsão advém de um mecanismo explosivo- na câmara posterior deste tipo de dardos encontra-se um percutor metálico, separado do detonador por uma mola. Quando a agulha penetra na pele do animal, o movimento do corpo do dardo interrompido e a energia cinética gerada faz com que o percutor oscile frontalmente (sobrepondo-se à força da mola) detonando a carga explosiva. Deste modo a expansão dos gases resultante propulsiona o êmbolo e a substância presente na câmara anterior é impelida a sair pelo orifício da agulha. Dada a elevada velocidade a que o fármaco é expelido, este método revela-se relativamente traumático para os tecidos, para além de que a força proveniente da explosão também impele o dardo a abandonar o corpo do animal, motivo pelo qual as agulhas utilizadas devem possuir uma barbela, para promover uma melhor fixação. - dardos cuja propulsão advém de uma reacção química- a câmara posterior destes dardos contém duas substâncias químicas separadas fisicamente, de modo a que, aquando do impacto estas se misturem desencadeando uma reacção ácido-base, o que leva a que a efervescência produzida promova um aumento de pressão nesta câmara e assim a substância contida na câmara anterior seja impelida a sair do dardo, pela agulha. –dardos com um mecanismo de mola- este mecanismo é muito semelhante ao verificado nos dardos cuja câmara contém ar sob pressão, sendo que neste é a mola existente na câmara posterior que gera pressão no êmbolo que separa as duas câmaras. Neste sistema também é colocado uma bainha de silicone ocluindo o orifício da agulha. As principais 27 desvantagens deste tipo de dardos são a dificuldade de preparação e a perigosidade decorrente da activação do mecanismo quando aquando da preparação pelo operador, como ocorria frequentemente, motivo pelo qual caiu em desuso. Existem vários fabricantes deste tipo de aparelhos de propulsão: Dan Inject, Telinject, Teledart; Pneu-Dart, Palmer Cap-Chur, Maxi-ject, Dist-Inject; no entanto nem todos se revelam eficientes uma vez que estes devem projectar dardos com eficácia a uma distância superior a 20 metros, requisito que nem todos os modelos disponíveis evidenciam (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). A escolha do material varia consoante as finalidades visadas (espécies, alcance, qualidade de fabrico, etc.) e da afinidade pessoal pelos modelos comerciais disponíveis (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). Nas acções de imobilização química que presenciei o veterinário utilizou uma carabina de ar comprimido DAN-inject (modelo JM Standard) e dardos de duas câmaras com ar comprimido de nylon, fornecidos pelo mesmo fabricante. Muito do conhecimento actual em relação ao comportamento das diferentes moléculas deve-se às inúmeras experiências de imobilização química do rinoceronte branco. Dentre os diferentes princípios activos empregues, assume especial relevância ao hidrocloridrato de etorfina [6,14 endoeteno-7 alfa-(2hidroxi-2pentil)-tetrahidrooripavine hidrocloróide] (M99®), um composto opióide que tem sido frequentemente utilizado em acções desta natureza nas últimas décadas (Fowler e Miller 2008; West, Heard, e Caulkett 2007) e que foi o fármaco que me indicaram ter sido empregue nas actividades de imobilização química que presenciei. Os rinocerontes são particularmente sensíveis a agentes opióides, por isso é de suma 28 importância o rápido acesso ao animal imobilizado e a vigilância dos parâmetros fisiológicos, particularmente monitorização cardio-respiratória. Foram referidos fenómenos de hipoxia, hipoventilação, hipercapnia, hipertensão, taquicardia e acidose respiratória em acções de imobilização química de rinocerontes tanto no estado selvagem, como em cativeiro (Hattingh e Knox 1994; Bush et al. 2004; Portas TJ 2004). É de referir que o rinoceronte preto apresenta uma resposta menos evidente ao efeito narcótico dos fármacos opiáceos que o seu aparentado rinoceronte branco, assim sendo nem sempre se justifica administrar fármacos antagonistas para reverter o efeito da etorfina, uma vez que a rápida recuperação do animal (dada a maior tolerância à etorfina) pode ser perigosa para os intervenientes na captura devido à reversão quase imediata do efeito dos fármacos indutores (Rogers 1993a; Kock e du Toit 1990a). Os agentes opióides têm como efeitos indesejáveis uma marcada depressão cardiorespiratória. Na tentativa de atenuar estes efeitos, têm sido experimentados vários protocolos de indução química, que podem incluir o uso de agonistas ou antagonistas parciais, tais como a nalorfina (para reverter a depressão respiratória); estimulantes respiratórios como o doxapram; ou ainda suprimento artificial de oxigénio. Com o objectivo de diminuir as doses de agentes opióides utilizadas, estes têm sido utilizados em associações com outras moléculas para que a acção sinérgica entre elas viabilize o estado de depressão pretendido, reduzindo os efeitos secundários a nível cardio-respiratório (Citino e Bush 2007; Kock e du Toit 1990a; Kock e Morkel 1995). De seguida, descrevo de forma sucinta alguns dos fármacos que podem ser empregues na indução: Hidrocloridrato de etorfina- este composto opióide é um derivado semi-sintético da 29 tebaína, com uma potência 1000 a 3000 vezes maior do que a morfina. O seu efeito evidenciase nos 2 a 12 minutos subsequentes à administração. Em rinocerontes, frequentemente leva a uma depressão respiratória que é directamente proporcional à dose administrada. Devido à sua natureza lipofílica, esta molécula acumula-se nos tecidos gordos e pode ser redistribuída ou participar no ciclo entero-hepático, levando a que esta entre novamente na circulação sistémica- fenómeno de renarcotização. A acção deste fármaco pode ser revertida com naltrexona ou diprenorfina (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004; Tribe e Spielman 1996). Citrato de carfentanil- este é um composto opióide sintético 10 000 vezes mais potente do que a morfina. O seu efeito no organismo é semelhante ao da etorfina, apresentando tempos de indução mais curtos, um período de acção mais prolongado e com uma depressão respiratória menos marcada. Este fármaco foi empregue em várias espécies de rinoceronte, ainda que já tenha caído em desuso (Portas TJ 2004; West, Heard, e Caulkett 2007). Tartarato de butorfanol- este é um composto agonista-antagonista sintético opióide, com 3 a 5 vezes a potência da morfina. A depressão cardio-respiratória, aquando da utilização deste fármaco, é muito menos evidente comparativamente à verificada quando é utilizada etorfina. Este composto pode ser utilizado, em acções de imobilização, isoladamente como sedativo, ou combinado com outros fármacos, nomeadamente azaperona ou detomidina (Kock e Morkel 1995; Portas TJ 2004; West, Heard, e Caulkett 2007). Principais fármacos empregues na reversão: Hidrocloreto de diprenorfina- este composto tem propriedades a agonistas e antagonistas dos agentes opióides, sendo o fármaco de eleição utilizado para a reversão do 30 efeito da etorfina. Contudo, dada a sua semi-vida relativamente curta, este fármaco pode predispor o animal a fenómenos de renarcotização, particularmente no caso do rinoceronte branco, sendo que nesta espécie deve ser ponderada a sua utilização em detrimento do uso de outros fármacos. Nas acções de imobilização do rinoceronte branco, após a reversão o animal deve ser vigiado durante algumas horas para que se possa intervir caso estes efeitos ponham em risco a saúde do animal. Os efeitos de renarcotização poderão ser evidentes até 8 horas após a administração deste fármaco (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004; Kock e Morkel 1995). Hidrocloreto de naltrexona- este composto é um antagonista opióide puro, com uma semi-vida relativamente longa, sendo utilizado na reversão de potentes compostos opióides, tais como a etorfina ou carfentanil, por minimizar os efeitos de renarcotização (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004). Hidrocloreto de naloxona- este composto é um antagonista opióide, com uma semi-vida relativamente curta, sendo que está desaconselhada a sua administração para reverter a acção da etorfina ou do carfentanil, pela elevada predisposição a fenómenos de renarcotização. Este fármaco pode ser empregue para reverter a acção do butorfanol, quando utilizado como sedativo (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004). Outros fármacos que podem ser co-administrados juntamente com os fármacos indutores: Hidrocloreto de Xilazina- Este composto é um agonista dos receptores alfa-2 adrenérgicos com uma acção de duração curta, comparativamente a outros fármacos. Esta substância melhora os fenómenos de sedação, analgesia e relaxamento muscular, sendo 31 frequentemente empregue juntamente com compostos opióides, nomeadamente a etorfina (Kock e Morkel 1995). Hidrocloreto de detomidina- Este composto é um alfa-2 agonista de longa acção, com propriedades sedativas e analgésicas, sendo mais potente do que a xilazina e cujos efeitos também se evidenciam mais rapidamente. Este fármaco predispõe a hipertensão marcada, por longos períodos de tempo, quando comparado com o fármaco acima indicado. Está descrito que a sua associação com a etorfina leva a um bom relaxamento muscular, com períodos de indução mais curtos e suaves. Dada a sua semi-vida relativamente longa, este fármaco minimiza o surgimento de fenómenos de renarcotização após a reversão dos fármacos indutores (Tribe e Spielman 1996; Portas TJ 2004; West, Heard, e Caulkett 2007). Azaperona- este composto é uma butirofenona com propriedades neurolépticas. Um dos seus efeitos é uma vasodilatação periférica, que atenua os efeitos hipertensivos causados pela etorfina. Este composto tem poucos efeitos a nível respiratório, quando utilizado em baixas doses (Portas TJ 2004; West, Heard, e Caulkett 2007). A enzima hialuronidase (5000 UI) é utilizada pela capacidade que tem de hidrolisar de forma reversível as ligações dos glicosoaminoglicanos de elevado peso molecular existentes no tecido conjuntivo, o que facilita a dispersão do fármaco aumentando a velocidade de absorção para a corrente sanguínea, reduzindo assim o tempo de indução (Hofinger 2007; Stern e Jedrzejas 2006). 32 Rinoceronte branco Protocolos 2–3.5 mg etorfina 40-90 mg butorfanol 25–50 mg midazolam Administração: dardo IM Reversão 40 mg de naltrexona por mg etorfina IV (para reversão completa) ou 2–2.5 mg diprenorfina por mg de etorfina IV (reverte o efeito da etorfina, mas não do butorfanol) Para reversão parcial, com o animal dentro de uma caixa/ contentor: 6–12 mg (2 a 3 vezes a dose de etorfina IV) detomidina (M50:50®) e 1–2 mg naltrexona IV Para reversão de campo ou em cercado: 40 mg de naltrexona por mg de etorfina IV (reversão completa) Observações Reduz a depressão respiratória, hipoxia, rigidez muscular e tremores, com um tempo de indução relativamente longo (Bush et al. 2004) 3–4.5 mg etorfina, 100– É considerado o protocolo 250 mg azaperona (40–60 padrão para translocações mg caso o objectivo seja a (Rogers 1993; Kock e Morkel translocação).Pode 1995) substituir-se a azaperona por 10–20 mg detomidina caso não seja necessário translocar o animal. Considerar 5–20 mg midazolam lentamente IV para relaxamento muscular. Administração: dardo IM Rinoceronte 4 mg etorfina 40 mg de naltrexona por preto 40–60 mg azaperona mg de etorfina IV (para (este composto pode ser reversão completa) substituído por 100mg de xilazina ou 10 mg de detomidina) 5000 IU hialuronidase Administração: dardo IM Quadro com alguns dos possíveis protocolos a instituir utilizados na imobilização química de rinocerontes, adaptado de West, Heard, e Caulkett (2007). A monitorização dos parâmetros vitais do animal imobilizado com recurso a fármacos assume especial importância nas tarefas de captura química, uma vez que a falha de um, ou vários, dos sistemas orgânicos pode predispor a uma morbilidade ou mortalidade do animal, sendo que nestas acções o limiar que separa um sucesso de um fracasso pode ser muito ténue. Ambas as espécies de rinocerontes africanos são particularmente sensíveis aos agentes opióides utilizados para a sua imobilização química, como já foi referido anteriormente. Esta sensibilidade resulta principalmente numa depressão cardio-respiratória marcada quando é utilizado este tipo de moléculas (Bush et al. 2004; Heard, Olsen, e Stover 1992; Kock e Morkel 1995). A frequência respiratória, a temperatura e a frequência cardíaca assumem 33 especial importância, uma vez que são indicadores directos do efeito provocado pelo(s) fármaco(s) no organismo, assim como do esforço físico e stress a que o animal foi submetido antes e durante o período de imobilização (West, Heard, e Caulkett 2007). Adicionalmente, o grande porte destes animais leva a que possam sofrer consequências irreversíveis pelos danos musculares e aumento do ácido láctico (P. V. Morkel et al. 2010). De seguida, apresento alguns dos procedimentos relativos à monitorização dos parâmetros que devem ser efectuados em qualquer acção de imobilização química. Passados alguns minutos após a correcta administração do cocktail de fármacos empregue nas acções de imobilização química, o animal começa a evidenciar sinais que estes estão a ter o efeito depressivo pretendido. O ritmo a que caminha abranda progressivamente, até que o animal pára e se começa a notar um desequilíbrio, a cabeça torna-se ‘pendente’ com tendência a apoiar-se sobre o corno, até que adquire a posição de decúbito. Está descrito que no caso do rinoceronte branco, particularmente aquando da indução com etorfina, o animal pode adquirir a posição de ‘cão sentado’, progredindo depois para decúbito (West, Heard, e Caulkett 2007). Quando se aborda um rinoceronte imobilizado quimicamente, é comum a evidencia de tremores e fasciculações musculares. Estas repercussões podem facilmente levar a fenómenos de miosite e/ou neuropatia descritos nestas espécies (Tribe e Spielman 1996; Kock e Morkel 1995; Kock e du Toit 1990a). Na tentativa de minorar estes efeitos secundários, têm sido efectuadas pesquisas sobre a melhor posição de decúbito a instituir, no entanto ainda não definiu qual o mais adequado. Está descrito que, no caso do rinoceronte preto, este deve ser mantido em decúbito lateral durante alguns minutos, até que os efeitos resultantes do esforço 34 a que foi submetido durante a captura sejam dissipados, podendo depois ser colocado em decúbito esternal, que proporciona uma diminuição do espaço morto alveolar e a recuperação da lactémia, instituída em todos os rinocerontes imobilizados (P. V. Morkel et al. 2010). É de referir também, que caso o decúbito lateral seja prolongado no tempo, os membros deverão ser estimulados (flexão e extensão manual) a cada 20 minutos para estimular a circulação periférica nas extremidades (West, Heard, e Caulkett 2007). No caso do rinoceronte branco, a posição de decúbito deve ser ponderada com base nos indícios do esforço a que este foi submetido, sendo que a rigidez muscular, movimentação dos membros ou convulsões poderão ser complicadas com o decúbito esternal. Segundo Kock (1995), este deverá ser mantido em decúbito esternal até que se dê um relaxamento muscular completo. A respiração deve ser um dos primeiros parâmetros a monitorizar aquando de uma imobilização química de rinocerontes (e deve ser monitorizada ao longo de todo o procedimento), uma vez que a marcada depressão desta, por acção dos compostos opióides, facilmente põe em risco a vida do animal. Devem ser anotados os padrões de ritmo e profundidade da frequência respiratória, através da observação dos movimentos do peito, ou da colocação da mão em frente às narinas para sentir o fluxo de ar expirado (P. Morkel 1994). O ritmo respiratório numa fase inicial da aplicação do opióide varia de 10 a 15 movimentos respiratórios por minuto, descendo até 4 a 8 movimentos respiratórios por minuto, cerca de 10 minutos após a indução. Caso se registe depressão respiratória está indicada a aplicação de nalorfina (10 a 15 mg) ou doxapram (5 a 10 ml) por via intravenosa (P. Morkel 1994). Mesmo em ambiente de campo é conveniente recorrer a um pulsi-oxímetro (colocado no pavilhão auricular) que se revela uma ferramenta importante de modo a obter uma informação mais precisa sobre o grau de saturação de oxigénio no sangue. Como alternativa, a coloração das 35 mucosas poderá servir como indicador do estado de saturação em oxigénio (P. Morkel 1994). A temperatura é um óptimo indicador do esforço físico a que o animal foi submetido durante o procedimento de captura e a sua mensuração é de particular importância na imobilização química de rinocerontes pretos pois estes têm tendência a iniciar a marcha após a inoculação do dardo e mantê-la até que os fármacos produzam efeito (Portas TJ 2004; P. Morkel et al. 2010). Contudo, é dificultada a medição dos valores de referência deste parâmetro de animais não imobilizados e a avaliação dos mesmos não é comumente abordada em termos científicos, sendo que encontrei apenas um artigo que aborda este tema relativamente ao rinoceronte branco. Este indica variações de temperatura dos 36,6 a 37,2ºC (Citino e Bush 2007). Para além deste factor, há que ter em conta que a temperatura corporal do rinoceronte também varia consoante a temperatura ambiente e o esforço a que o animal foi submetido. No rinoceronte branco, aquando do acesso ao animal, a temperatura oscila entre 37,9 e 38,5ºC, sendo que os intervalos são ligeiramente variáveis consoante os fármacos utilizados e o esforço decorrente da captura (Kock e Morkel 1995). No caso do rinoceronte preto, o intervalo de temperatura aquando da captura é maior, variando de 36,5 a 41,2ºC (Kock e du Toit 1990; Kock e du Toit 1990). É referido também que quando é atingida a temperatura de 39 ºC, o animal deve ser molhado e ventilado (por exemplo, abanando-o com ramos), para que se promovam as trocas de temperatura, levando a um arrefecimento. Caso a temperatura ultrapasse os 41ºC, a depressão do animal deve ser imediatamente revertida recorrendo aos fármacos antagonistas (Tribe e Spielman 1996; West, Heard, e Caulkett 2007). A frequência cardíaca também é um parâmetro a ter em atenção nas acções de imobilização química, este parâmetro pode ser medido com recurso a um estetoscópio ou simplesmente com a palma da mão pressionada contra a parede torácica sobre o coração. O 36 valor normal para a frequência cardíaca de um rinoceronte adulto no momento da captura varia de 55 a 80 batimentos por minuto, sendo que pode estar aumentada, caso o animal tenha exercido um grande esforço físico no decorrer da captura, ou se se tratarem de indivíduos juvenis (P. Morkel 1994). 2.1.1- Imobilização química de rinoceronte branco do sul (Ceratotherium simum spp. simum) No dia 14 de Novembro de 2012 foi reportado um avistamento de um macho adulto de rinoceronte branco, que tinha uma ferida perfurante localizada caudalmente ao ângulo da mandíbula. Esta ocorrência foi apresentada à direcção da reserva e foi decretado que o caso deveria ser abordado por especialistas na matéria. O veterinário especializado em fauna bravia da região foi contactado imediatamente e decidiu que a opção mais viável para a resolução do problema seria a contenção química do rinoceronte e administração do tratamento mais adequado. É de referir que, de acordo com as normas internas de gestão em vigor na reserva, o ser humano nunca deve intervir activamente na resolução de problemas relacionados com os processos naturais do ambiente envolvente, a menos que tenham sido indiciados como tendo origem antropogénica. Neste caso específico havia suspeitas de que o ferimento tivesse origem antropogénica e portanto foi decretado que o animal deveria receber cuidados veterinários. A suspeita baseou-se no facto de que este indivíduo ser o companheiro da fêmea cujo cadáver foi encontrado dia 13 de Novembro, com ferimentos mortais causados por projécteis de munição de grande calibre. 37 Dia 16 de Novembro procedeu-se à imobilização química e tratamento do animal ferido. As operações relacionadas com a captura foram desempenhadas por uma equipa constituída por: um veterinário, um auxiliar veterinário, um guarda-responsável, três guardas de campo, dois estagiários do EWL e mais algumas pessoas sem formação específica. As operações tiveram início às 9 horas da manhã (é importante escolher a altura mais fresca do dia (Tribe e Spielman 1996). A primeira tarefa foi localizar respectivo animal, através do sistema de radio-seguimento operado manualmente que tinha sido colocado para monitorização do mesmo. Assim que foi obtida a localização exacta à distância, o guarda responsável e o veterinário encarregue dirigiram-se ao local a pé. Quando avistaram o rinoceronte, aproximaram-se cuidadosamente até uma distância de cerca de 15 metros, para que o médico veterinário pudesse proceder ao disparo do dardo. Fui informado que foi utilizada apenas etorfina (M99®) e que a dose administrada foi 4 mg, sem que me fosse possível comprovar a veracidade destas afirmações. O dardo foi disparado recorrendo a uma carabina de ar comprimido (sistema DAN-inject). A partir do momento em que o dardo atingiu o animal, este efectuou uma corrida de cerca de 30 metros tendo depois abrandado até que parou. Decorreram cerca de 5 minutos até que os efeitos da etorfina se manifestassem. Nesta altura o resto da equipa (que se localizava a cerca de 500metros do local) foi contactada via radio para que se deslocasse para o local, transportando todo o material necessário para a operação. Quando a equipa de apoio chegou ao local o animal foi colocado um pano a servir de venda sobre a cabeça do animal (fig. 7 do anexo) pelo auxiliar veterinário sem grandes precauções aparentes, o que entra em contradição com a bibliografia, onde esta é encarada como uma acção que deve efectuada com a maior das precauções (West, Heard, e Caulkett 2007; Fowler e Miller 2008). O rinoceronte foi mantido em decúbito esternal, para que o 38 veterinário observasse o ferimento, assim como o resto do corpo, uma vez que havia a possibilidade deste ter sido atingido por mais de um projéctil. Verificou-se que só exibia um ferimento, cujas características eram compatíveis com um trajecto de munição de grande calibre. Apresentava um ferimento perfurante cujo orifício de entrada se localizava caudalmente ao ângulo da mandíbula e o de saída cranialmente ao manúbrio, afectando apenas tecidos moles. Entretanto o auxiliar veterinário encarregou-se de retirar o dardo, administrar por via intra-muscular antibióticos de largo espectro e anti-inflamatórios, cuja natureza química das moléculas utilizadas não me foi indicada e de colocar um cateter na veia aurícular direita. O orifício de entrada do dardo foi deixado aberto, sem que tivessem sido empregues quaisquer cuidados. Está descrito que estas nestas feridas perfurantes deve ser administrado um antiséptico ou um antibiótico, para evitar uma eventual formação de um abcesso no local, ao qual o rinoceronte branco está bastante predisposto (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004). A limpeza do ferimento foi feita com recurso a uma cânula acoplada a uma seringa com peróxido de hidrogénio (10vol.) para que a efervescência que ocorre em contacto com os tecidos promovesse a remoção de detritos (fig. 8 do anexo). Após esta limpeza, foi feita a assepsia da ferida com clorhexidina utilizando o mesmo método da seringa com uma cânula acoplada. De seguida o animal foi colocado em decúbito lateral direito para que o orifício de saída do projéctil fosse também inspeccionado e tratado. As tarefas de tratamento demoraram cerca de 15 a 20 minutos, pelo que o animal teve de ser molhado com água fria, para prevenir um sobre-aquecimento do mesmo, uma vez que a temperatura ambiente era relativamente elevada e os fenómenos termo-regulativos estavam deprimidos devido à acção dos fármacos (fig. 9 do anexo). 39 Após a conclusão da limpeza e assépsia do ferimento, o animal foi de novo colocado em decúbito esternal e foi administrado na veia auricular diprenorfina para reverter a acção da etorfina. Não me informaram qual a dose utilizada. A equipa de apoio abandonou o local neste momento, ficando apenas o veterinário por perto, durante cerca de dez minutos, para controlar eventuais complicações na fase de recuperação. Não foram medidos parâmetros como a frequência respiratória, temperatura nem a frequência cardíaca. A quantificação destes parâmetros é um imperativo em qualquer acção de imobilização com recurso a fármacos (Kock e Morkel 1995; West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004), pelas razões atrás indicadas, sendo na minha opinião, uma falha nas actividades em que participei. Não me foi apresentada nenhuma razão que justificasse esta falta. Para além disso, não foram observadas as mucosas (que é um bom indicador da perfusão tecidular nesta espécie), não foi recolhido qualquer tipo de amostra do animal, nem de parasitas externos. Este animal foi imobilizado novamente quatro dias depois para ser repetido o procedimento, tendo tudo decorrido da mesma forma excepto que se demoraram quatro horas para encontrar o animal, por este se encontrar numa zona com um estrato arbóreo e arbustivo bastante denso. Nesta espécie, está referido que é relativamente comum a ocorrência de fenómenos de renarcotização (West, Heard, e Caulkett 2007; Portas TJ 2004), assim sendo, este animal deveria ter sido seguido por algumas horas após a administração do fármaco empregue na reversão, para que fosse possível intervir prontamente, caso fosse necessário. 40 2.1.2. Imobilização química de rinoceronte preto (Diceros bicornis spp. bicornis) No dia 18 de Novembro de 2012, procedeu-se à imobilização química de um rinoceronte preto com o objectivo de lhe colocar uma pulseira de emissão de um sinal electrónico, para que fosse possível a localização deste, à distância - sistema de radioseguimento via VHF. Deste modo, será possível localizar o animal com recurso a triangulações (a localização é dada pela intersecção de dois ou três azimutes tirados de pontos geograficamente distintos, de coordenadas conhecidas) para que seja possível inferir as rotas diárias e sazonais e extrapolar para outros indivíduos da mesma espécie, com o objectivo de adequar as medidas de vigilância e segurança aplicadas. Os trabalhos de preparação começaram pouco antes do nascer do sol (é de referir, uma vez mais, que deve ser escolhida a altura mais fresca do dia para evitar o sobre-aquecimento do animal) e desta vez, o método e o desenrolar das actividades foram efectuados de forma relativamente diferente comparativamente ao caso do rinoceronte branco (Ceratotherium simum simum) por se tratarem de situações de diferente natureza. Neste caso, a localização do animal foi obtida sobrevoando de helicóptero a área onde existiam mais indícios daquele indivíduo. O recurso ao helicóptero tornou-se um imperativo uma vez que, como este animal ainda não tinha acoplado nenhum sistema de radio-localização era mais difícil a sua localização por via terrestre. A equipa interveniente foi constituída pelo Médico Veterinário, o seu auxiliar, o piloto do helicóptero, um auxiliar de voo, dois guardas-responsáveis da vida selvagem, cinco guardas de campo e dois estudantes do EWL. A operação foi ainda presenciada por cerca de 15 turistas que no decorrer de um safari fotográfico repararam nas movimentações do helicóptero e acorreram ao local, sem disso serem dissuadidos pelos 41 responsáveis pela operação. No helicóptero embarcaram três pessoas: o veterinário, o piloto e um auxiliar de voo, e cerca de 30 minutos depois de sobrevoarem a área localizaram rinoceronte em questão, tratava-se de um indivíduo jovem (cerca de 5 anos de idade) do sexo feminino. Aquando do avistamento do mesmo, foi feita uma aproximação até cerca de quinze metros e o disparo foi efectuado pelo veterinário com uma carabina de ar comprimido (sistema DAN-Inject) com um dardo contendo etorfina, que atingiu o membro posterior direito do animal. Mais uma vez apenas me informaram que o dado tinha etorfina, desta vez sem revelarem a dose ou a eventual presença de outros fármacos. A presença do helicóptero perturbou o animal que continuou a correr em linha recta por mais meia centena de metros, decorrendo cerca de sete minutos até que os efeitos da etorfina se manifestassem. No momento em que foi dado o sinal que o animal tinha sido atingido pelo dardo, o resto da equipa deslocou-se de carro até ao local, enquanto o helicóptero aterrou a uma centena de metros, numa zona limpa de vegetação. Quando chegámos ao pé do rinoceronte, este ainda permanecia em estação e num estado de semi-consciência. O maior intervalo de tempo entre a administração da etorfina e o queda do animal relativamente ao que observamos no rinoceronte branco, pode ser explicado por uma maior resistência desta espécie aos fármacos opióides. Enquanto se aguardava que o animal ficasse em decúbito, foi colocado um pano a cobrir os olhos do animal e foi-lhe amarrada uma corda à perna para que este fosse induzido a dar uns passos à retaguarda para uma zona com vegetação rasteira, uma vez que este estava num emaranhado de arbustos e se aí caísse, as tarefas de colocação da pulseira electrónica seriam muito dificultadas. Quando o animal caiu, cerca de 15 minutos após ser atingido pelo dardo, foi rapidamente colocado em decúbito lateral. O veterinário retirou o dardo e observou a condição externa geral do animal, tendo-lhe administrado de seguida um antibiótico beta42 lactâmico por via intra-muscular. Nesta captura, o orifício de entrada do dardo também não recebeu quaisquer cuidados. À semelhança das outras capturas presenciadas, neste caso também não foram monitorizados quaisquer parâmetros vitais. Nesta espécie em particular, a temperatura corporal assume especial importância, uma vez que o esforço exercido pelo animal durante a captura tende a ser maior, dada a sua resistência aos fármacos opióides que levam a períodos de indução mais prolongados. Adicionalmente, a perseguição de helicóptero também leva invariavelmente a que o stress e o esforço físico exercidos sejam maiores. A pulseira foi colocada por um guarda de campo, com experiência de causa, no membro posterior esquerdo envolvendo a zona correspondente à quartela, processo que demorou cerca de 15 minutos. É de referir que a localização e o material que servem de suporte aos sistemas electrónicos (coleira, arnês, implante, etc.) devem, interferir o mínimo possível com o desenrolar de actividades da vida do animal e para além disso deve ser feitas num material que seja suficientemente resistente para que este não se rasgue facilmente mas não deve ser tão resistente que impeça que o animal o rompa, caso fique preso na vegetação. Neste caso não foi administrado um fármaco antagonista da etorfina. Ficámos a observar a recuperação do animal que se levantou ao fim de dez minutos. Após mais alguns minutos de observação a tarefa foi dada por encerrada e abandonou-se o local. Nesta espécie, nem sempre se justifica administrar fármacos antagonistas para reverter o efeito da etorfina, uma vez que a rápida recuperação do animal (dada a maior tolerância à etorfina) pode ser perigosa para os intervenientes na captura devido à reversão quase imediata do efeito dos fármacos indutores (Rogers 1993a; Kock e du Toit 1990a). Todas as metodologias associadas à imobilização por via farmacológica de animais selvagens têm vindo a ser analisadas e desenvolvidas no sentido de maximizar a eficácia destas tarefas. Há que ter em conta que por muita experiência que haja podem sempre surgir 43 imprevistos, e assim os profissionais desta área deverão estar o mais informados possível. Estes devem actualizar-se constantemente com base nos últimos estudos com o objectivo de minimizar todos os riscos associados, tanto para o animal, como para a equipa interveniente. Ainda que as acções de imobilização química que presenciei tenham decorrido sem problemas aparentes, há alguns pontos que me causaram estranheza. Mesmo não sendo um especialista neste tema, comecei a formar uma opinião crítica com base no que experienciei e na bibliografia consultada para a realização deste relatório. A minha intenção não é por em causa o papel do Médico Veterinário responsável, nem a sua vasta experiência em imobilização química de animais selvagens (não só de rinocerontes), no entanto penso que dada a elevada frequência com que este é chamado a intervir (de 3 a 5 vezes por semana), possa ter gerado um sentimento de ‘tomar por garantidos’ muitos dos pressupostos envolvidos por toda a sistemática da captura. Como me foi indicado, sem que me tivesse sido possível confirmá-lo, o fármaco utilizado foi unicamente a etorfina. Contudo, ainda que este seja o composto de eleição, dados os protocolos mais amplamente utilizados na imobilização química de rinocerontes no estado selvagem (alguns dos quais foram atrás indicados para ambas as espécies de rinoceronte), está referido que este fármaco tem vindo a ser empregue em associação com outros fármacos, de modo a que acção conjunta dos mesmos promova o estado de consciência desejado, podendo ser reduzidas as doses do composto opióide dadas as implicações a nível cardiopulmonar a que este predispõe (Kock e Morkel 1995). No entanto, a escolha do, ou dos, fármacos administrados até pode ter sido efectuada mais conscienciosamente e que este facto me tenha sido ocultado pelo sigilo profissional que muitas vezes é mantido em profissionais desta área. Outro factor que não está de acordo com a metodologia de rotina associada à imobilização química, foi o facto de não terem sido efectuadas quaisquer medições dos 44 parâmetros fisiológicos. Estes parâmetros assumem especial importância em qualquer processo de captura, pelo que não devem ser ignorados em qualquer tipo de procedimento que envolva o manuseamento de um animal uma vez que são indicadores directos da acção dos fármacos no organismo do animal, assim como do esforço a que este foi submetido durante a captura. Nos casos de imobilização química que presenciei estes parâmetros deveriam ter sido encarados com particular atenção por se tratarem de animais criticamente ameaçados de extinção, pelo que todos os cuidados empregues ao serviço da preservação da espécie nunca são demasiados. A frequência respiratória, a temperatura e a frequência cardíaca são dos principais parâmetros a avaliar e podem ser monitorizados, sem grande dificuldade, durante o período de manuseamento do animal (P. Morkel 1994). Caso haja alterações significativas nestes parâmetros, podem ser tomadas algumas medidas com o objectivo de minimizar os riscos para o animal imobilizado, tais como a reversão parcial, ou total, do fármaco indutor, molhar o animal, mudá-lo de decúbito, entre outras, consoante a natureza das alterações. Uma das tarefas frequentemente levada a cabo aquando do manuseamento de fauna bravia é a recolha de amostras. Dentre as amostras recolhidas, assumem especial destaque a recolha de sangue e biópsias de pele ou pêlos. As amostras de sangue podem revelar-se úteis na medida em que permitem traçar um perfil bioquímico do animal (sendo possível extrapolar alguns dos parâmetros analisados para a respectiva espécie), assim como para efectuar testes parasitológicos que podem ser vantajosos em estudos epidemiológicos em fauna bravia. As biópsias de pele ou pêlo revelam-se bastante úteis pois permitem incluir o DNA do animal numa base de dados já existente («The RhODIS® Project» 2013), para que, caso este seja abatido furtivamente e os seu cornos apreendidos seja possível ligá-los à sua proveniência. Para além destas, podem ser recolhidos alguns exemplares de parasitas externos, nomeadamente carraças, que podem ser portadores de patógenos e por isso também podem 45 complementar os estudos epidemiológicos, caso sejam efectuados. Infelizmente, permito-me constatar que muitos dos esforços feitos em prole da conservação da natureza são encarados em primeiro lugar numa base financeiramente rentável, sendo depois consideradas as mais-valias para a comunidade biota, ou abiota. Assim que o hipotético interesse pelo mundo natural começa a ganhar matizes materialistas facilmente degenera até ao ponto em que o próprio gosto pela própria natureza se vai desvanecendo fazendo com que os aspectos que considerei como ‘falhas’ nestes casos de imobilização química sejam, segundo os intervenientes, justificáveis. 46 2.2- Necrópsias efectuadas a animais da reserva 2.2.1- Necrópsia de rinoceronte branco (Ceratotherium simum spp. simum) No dia 13 de Novembro o guarda-responsável da reserva Parsons recebeu uma chamada telefónica a indicar que estava um cadáver de rinoceronte branco no perímetro compreendido pela reserva. A ocorrência foi transmitida por dois trabalhadores de um dos empreendimentos turísticos, que repararam nos abutres que sobrevoavam em círculos uma determinada áreaindício que teriam identificado uma possível refeição. Quando os trabalhadores se dirigiram ao local (ainda que fosse expressamente proibido andar a pé na reserva) depararam-se com um cadáver de rinoceronte fêmea adulto, num estado avançado de decomposição ao qual tinham sido removidos ambos os cornos (fig. 10 do anexo). O caso teve resposta imediata e em cerca de meia hora já nos encontrávamos no local. As entidades governamentais encarregues pelos esforços de conservação da natureza foram informadas, assim como as unidades provinciais de polícia e guardas-responsáveis de reservas contíguas para que se mantivessem especialmente alerta. Assim, chegámos ao local um grupo de sete pessoas, constituído por: guarda-responsável de Parsons e o de uma das reservas contíguas, eu, como estagiário do EWL, dois guardas de campo de Parsons e os trabalhadores que tinham efectuado a chamada. Imediatamente, o caso foi reconhecido como tendo origem antropogénica o que configura um crime passível de ser punido por lei com uma pena pesada. Deu-se início à elaboração de um relatório de investigação da cena do crime, seguindo o protocolo levado a cabo neste tipo de situações na República da África do Sul. O cenário com que nos deparámos foi um cadáver de rinoceronte branco fêmea (morte confirmada entre as 11h e as 18h do dia seis de Novembro de 2012), em decúbito esternal, desprovido dos dois 47 cornos, com dois ferimentos de entrada de munições de grande calibre, parcialmente comida por necrófagos e num estado de decomposição avançado. O corpo estava numa margem de um riacho que pela sua inclinação e pelo estado já muito debilitado do animal (que havia sido ferido a cerca de dois quilómetros a norte) puseram fim à progressão do mesmo. Com base nos indícios deixados no campo, os guardas da reserva inferiram que aquele animal claudicou evidentemente durante cerca de quinhentos metros do membro posterior esquerdo (concluído pelas marcas de arrastamento deste membro deixadas no solo e na vegetação); e que e se fazia acompanhar de outro da mesma espécie de maiores dimensões (pegadas maiores), um macho que não indiciava ferimentos de qualquer natureza. Foi graças à experiência de campo dos elementos da unidade anti-furtivos que foi possível concluir qual foi o trajecto feito pelos dois rinocerontes (macho e fêmea), uma vez que tinham sido avistados durante a manhã perto de uma estrada localizada cerca de 2 Km a norte e os rastos de ambos ligavam essa localização ao local onde foi encontrado o cadáver da fêmea. Começaram a ser formuladas algumas hipóteses referentes ao abate furtivo daquele espécime, e no dia seguinte, procedeu-se à necrópsia, fazendo-nos acompanhar por membros do departamento de Assuntos Ambientais. O cadáver estava num estado de decomposição muito avançado. O corpo do animal foi parcialmente comido por abutres, e todos os outros tecidos moles foram decompostos por várias gerações sucessivas de larvas de dípteros de modo que as únicas estruturas identificáveis foram: a pele e o esqueleto, sendo o resto uma massa amorfa de matéria em decomposição. Este facto condicionou a necrópsia e levou a que os objectivos desta se centrassem em discernir quais teriam sido os trajectos dos projécteis, com o objectivo de os encontrar para proceder à análise balística. A técnica de necrópsia utilizada foi a seguinte: fez-se um corte transversal ao nível dos ombros; a partir desse corte fizeram-se mais dois cortes longitudinais (um de cada lado) ao 48 longo da parte dorsal da arcada costal até à nona/décima costela, e a partir destes, dois cortes (um de cada lado) com orientação ventral ao nível da nona/décima costela; rebateu-se a pele do animal e procuraram-se os projécteis recorrendo a um detector de metais (fig. 11 do anexo). Como os projécteis metálicos não foram encontrados numa primeira fase, procedeu-se ao esquartejamento da pele e desagregação do esqueleto ósseo, espalhando as estruturas pelo solo, para que se procedesse a uma busca mais minuciosa, que também se revelou infrutífera. Como as munições não foram encontradas, assumiu-se que os projécteis teriam trespassado o corpo desde os respectivos orifícios de entrada seguindo um trajecto descendente, saindo na parte ventral do animal. Concluiu-se que os projécteis terão percorrido um trajecto descendente porque toda a pele que se encontrava a descoberto não revelava orifícios de saída e a parte ventral do corpo (compreendida deste o manúbrio até à zona inguinal, incluindo os membros posteriores) não pôde ser avaliada na inspecção post-mortem porque estava putrefacta devido à posição em que o animal morreu. Este facto impossibilitou o seguimento dos trajectos dos projécteis e assim não se concluiu que órgãos foram afectados. Neste caso específico, o orifício de entrada de um dos projécteis foi encontrado e, por este ter perfurado uma costela perpendicularmente, foi possível efectuar uma medição que leva a uma conclusão mais ou menos aproximada do calibre da arma. O diâmetro do orifício no osso tinha 7,5mm de diâmetro, enquanto na pele é visível um orifício mais estreito do que aquele encontrado no tecido ósseo subjacente, com 5,2mm de diâmetro (fig. 12 do anexo). O diâmetro do orifício no osso nem sempre é igual ao diâmetro do projéctil pelo qual foi trespassado, podendo até ser menor, dada a elasticidade e capacidade distensiva do tecido em questão, que neste caso pode ser explicado pela retracção dos tecido que ocorreu ao longo do período que decorreu desde a morte do animal até que o cadáver foi encontrado, cerca de uma semana depois (Merck 2007). Segundo as evidências encontradas, e dado o historial em 49 termos de furtivismo daquela região, concluiu-se que a arma que teria efectuado os disparos que levaram à morte deste rinoceronte teria sido a AK-47. Os principais achados relevantes em termos criminológicos foram: - dois orifícios de entrada de projéctil de munição de grande calibre; - cornos seccionados por lâmina de serra de metal de cor azul; - pegadas humanas (nr43/44, sola desgastada mais evidentemente no pé esquerdo) em redor da carcaça; –restos de papel de alumínio (é comum a apreensão de corno de rinoceronte envolto em papel de alumínio. Após a remoção do corno, este é cortado as fatias e envolto neste material para que caso os seus portadores sejam revistados, aleguem tratar-se de alimentos). Foi estabelecida a seguinte cena do crime: o animal terá sido avistado nas proximidades de uma estrada secundária da reserva; terá passado um veículo no mínimo com três passageiros (um para conduzir, outro para atirar, outro para se descer e ir atrás do animal ferido); terão disparado várias vezes com uma carabina de grande calibre, munida de silenciador, sobre o animal (parede torácica, flancos, etc) para que este ficasse ferido mortalmente, mas de modo a que a morte não fosse imediata; um ou dois indivíduos saíram então do carro e seguiram o rasto do animal ferido até que este sucumbiu aos ferimentos infligidos pelas munições (1 a 3 dias dependendo da localização e extensão dos ferimentos). O objectivo de infligir ferimentos que não causem a morte imediata ao animal tem como finalidade permitir a fuga do animal para procurar refúgio em zonas mais cobertas de vegetação onde acabará por morrer, evitando que as tarefas de remoção do corno estejam demasiado expostas. O método que predispõe à morte um destes animais deverá ser o mais rápido e 50 silencioso possível, que permita uma morte ‘limpa’, sem deixar muitos indícios, no campo, de quem a perpetrou (Montesh 2012). Assim, um dos meios que tem sido mais utilizado é o recurso a armas de fogo de grande calibre (armas militares ou de caça), preferencialmente munidas de silenciador (Montesh 2012). Existem algumas armas consideradas de ‘eleição’ para abater eficazmente um animal com estas características físicas, nomeadamente carabinas de grande calibre como .375 ou .458, contudo estas nem sempre se encontram disponíveis para estes actos ilícitos, tendo frequentemente os furtivos de se adaptar aos meios que estão ao seu alcance, nomeadamente a conhecida AK-47 (Montesh 2012). Esta arma é das mais utilizadas em acções desta natureza, não por ser a mais adequada, mas por ser relativamente fácil a sua aquisição no país vizinho, Moçambique, como me foi indicado por vários guardas de vida selvagem sul africanos. É de referir que também se crê que a maioria dos furtivos implicados no abate ilegal de rinocerontes na República da África do Sul, tenha como proveniência este país vizinho, principalmente desde que foi estabelecida a área transfronteiriça de conservação e que foram retiradas as barreiras físicas que separavam os dois países («Update on the rhino poaching statistics | Department of Environmental Affairs» 2013; Montesh 2012). Foi levada a cabo uma intensa investigação policial a todos os suspeitos envolvidos, analisando a compatibilidade das provas com os mesmos. Ainda que se tenha chegado a um veredicto verosímil, as provas revelaram-se inconclusivas e o processo foi deixado em aberto. A morte deste rinoceronte teve um impacto desastroso na comunidade integrada na reserva, pois para além de se ter perdido um membro duma espécie quase ameaçada (segundo a IUCN), também ficou provado que os esforços de vigilância não estavam a ser idealmente desempenhados, levando a um clima de insegurança e desconfiança geral. 51 2.2.2 - Necrópsia de Girafa (Giraffa camelopardalis giraffa) No dia 11 de Novembro, o guarda-responsável de Parsons recebeu uma chamada telefónica a reportar um cadáver de girafa adulta, encontrado por baixo de uns cabos de alta tensão, suspeita de ter morrido devido a uma descarga eléctrica. Na manhã do dia seguinte, dirigimo-nos ao local, juntamente com 9 indivíduos da empresa à qual pertenciam os cabos que foram fazer uma peritagem do caso. Como acontecimentos desta natureza são relativamente frequentes, uma peritagem é indispensável, uma vez que muitas das vezes em que uma girafa é encontrada morta, os administradores das reservas arrastam o cadáver para uma área que se situe sob cabos de alta tensão, com o intuito de conseguir uma recompensa culpabilizando a empresa pela morte de um animal. O protocolo seguido neste tipo de intervenções é relativamente simples, uma vez que poucos são os factores avaliados. Chegados ao local indicado observou-se que a carcaça estava rodeada de abutres, mas que estes não se estavam a alimentar da mesma (fig. 13 do anexo). Fomos informados por um dos peritos da companhia da electricidade que este é o primeiro indício de que o animal terá morrido por electrocução, pois os necrófagos não se alimentam de carcaças mortas por descargas eléctricas. Tentei encontrar fontes bibliográficas que confirmassem este facto, mas a busca revelou-se infrutífera. Entretanto, os trabalhadores da companhia dividiram-se em três grupos e cada um ocupou-se de uma tarefa específica. Encarregaram-se de fazer uma breve inspecção ao local para descartar a hipótese da carcaça ter sido transportada até ali, depois, inspeccionaram atenciosamente a cabeça e a sola dos cascos do animal, onde encontraram os pontos de entrada e saída da descarga. O ponto de entrada da descarga eléctrica (onde a pele do animal contactou com o cabo de alta tensão) situava-se na região frontal da cabeça e os tecidos apresentavam uma cor castanha-clara com 52 uma textura seca e firme (fig. 14 do anexo); e o ponto de saída da descarga eléctrica (local onde a corrente saiu do corpo em direcção ao solo) localizava-se na sola do membro anterior esquerdo e apresentava uma estrutura em forma de halo pouco definida de cor branca, ligeiramente deprimido no meio (o qual não me foi possível captar fotográficamente); outro grupo mediu a distância do solo ao cabo (4,64metros), assim como a altura do animal (5,12metros), provando que seria plausível o contacto do último com o primeiro; enquanto isso, o terceiro dos grupos encarregou-se de fotografar toda a cena envolvente, preocupandose em evidenciar as provas chave neste processo-o ponto de entrada e o de saída da descarga. Quando acabaram a peritagem, modificaram os postes que sustinham os cabos para que estes estivessem num ponto mais elevado e assim fora do alcance de outras girafas. Normalmente esta ultima tarefa não é desempenhada, no entanto, aquele local estava a torna-se muito dispendioso para a empresa, uma vez que este foi o terceiro cadáver de girafa do sexo masculino aí encontrada nos seis meses precedentes. Ao longo dos últimos anos têm sido reportados muitos casos de mortes de girafas por electrocussão em cabos de alta tensão, nomeadamente em território sul-africano. Este facto é curioso pois existem alguns pontos em comum em muitas das ocorrências, que me foram relatados por individuos da companhia de electricidade: a localização normalmente é na área correspondente a reservas privadas de vida selvagem exploradas com fins turísticos; não existem registos históricos sobre acontecimentos desta natureza (desde a implementação destas estruturas); e a maioria dos animais que morre é do sexo masculino. A altura mínima a que devem estar colocados os cabos na África do Sul varia consoante a voltagem, sendo que a altura mínima é de 4,9metros, para 1,1KV ou menos; e de 5,0metros para 7,2KV, ou menos («Occupational Health and Safety Act, 1993 - Electrical Machinery 53 Regulations, 1988.pdf» 2013). Por sua vez, a altura de uma girafa macho adulto é de 4,5 a 5,8 metros e a altura de uma fêmea adulta é de 3,9 a 4,5 metros (Lonnig 2011). Isto pode explicar o facto de morrerem mais indivíduos machos do que fêmeas, no entanto, não encontrei nenhuma fonte bibliográfica que assim o indique. Frequentemente, quando os cabos estão situados a uma distância do solo inferior à prevista pelo "Occupational Health and Safety Act", a empresa assume-se como culpada pela morte da girafa e compromete-se pela reposição de outro espécime. Nos casos em que girafas de maiores dimensões entram em contacto com os cabos à altura regulamentar a empresa não se responsabiliza pelas mortes ocorridas. As reservas privadas de vida selvagem existentes na África do Sul, ocupam cerca de 80% da área destinada à conservação da natureza. Foi a partir da década de 50 que começou a ser implementado este conceito que consistiu em transformar áreas utilizadas com fins agro-pastoris até então, em reservas privadas de vida selvagem com fins turisticos/conservacionistas (Carruthers 2008). Uma vez que muitas destas áreas estavam quase desprovidas de vida animal no estado selvagem pela pressão exercida pelas explorações agrícolas aí existentes anteriormente, os proprietários empenharam-se em adquirir animais selvagens criados em cativeiro, ou translocados de áreas onde abundavam no estado selvagem. Como a pressão turística tem sido crescente nas últimas décadas, as acções de repovoamento de espécies também têm aumentado e hoje confirma-se o êxito destas iniciativas, que permitiram aumentar o número de indivíduos de muitas das espécies (Carruthers 2008). Analisando as variáveis numa escala temporal, podemos inferir que aquando da colocação dos postes para suster os cabos de electricidade não existiam animais tão altos como as girafa nas imediações, e assim este problema não se verificava. Este é, na minha opinião, um indicador de que quando o homem interfere demasiado na natureza circundante, é muito difícil reverter o impacto ecológico causado, mesmo que sejam feitos 54 todos os esforços na tentativa de readquirir o equilíbrio dos ecossistemas. 2.2.3. Necrópsia de cobo untuoso (Kobus ellipsiprymnus) No decorrer de um safari fotográfico, foi reportado ao guarda-responsável de Parsons a existência de um cadáver de cobo untuoso (Kobus ellipsiprymnus), por um proprietário de uma das parcelas da reserva. Como em qualquer caso de notificação de um cadáver, a resposta deve ser o mais breve possível. Passados cerca de vinte minutos, chegámos ao local indicado e deparámo-nos com um cadáver de um animal jovem em boa condição corporal em decúbito lateral direito que apresentava um ferimento perfurante no flanco direito, sem outras alterações macroscópicas dignas de registo (fig. 15 do anexo). É de referir que na área geográfica onde se situa o GKNP têm sido reportados historicamente surtos esporádicos de antraz que afectam principalmente herbívoros ungulados e seres humanos. As aves, os carnívoros e os répteis são pouco susceptíveis a esta doença (Jubb et al. 2008). Esta doença é causada pelo Bacillus anthracis e leva à morte de animais selvagens e domésticos num curto período de tempo, assim, assume uma grande importância no contexto económico, conservacionista e de saúde pública (Jubb et al. 2008; Smith et al. 2000; Beyer e Turnbull 2009). Dado o estatuto epidemiológico desta doença na área delimitada pelo GKNP (K. L. Smith et al. 2000), de cada vez que é reportado um cadáver de herbívoro na respectiva área, a principal suspeita é morte decorrente de uma infecção por antraz. Assim, todos os procedimentos referentes à manipulação e necrópsia dos cadáveres 55 devem ser efectuados com cautela acrescida. Nos ruminantes, a progressão desta doença está descrita como tendo carácter agudo e um quadro septicémico, causado pela multiplicação deste organismo na corrente sanguínea, que em contacto com o ar ou oxigénio formam esporos altamente resistentes (Jubb et al. 2008). O cadáver de um animal morto por antraz entra rapidamente em putrefacção, apresenta-se distendido pela acumulação de gases putrefactivos e há uma exsudação de sangue não coagulado e escurecido pelos orifícios naturais do corpo. Normalmente o cadáver apresenta boa condição física, pela evolução da doença ser tão rápida que não leva a uma perda da condição corporal (Beyer e Turnbull 2009; Jubb et al. 2008). Estas alterações não são patognomónicas, no entanto, quando um animal morre subitamente numa área endémica de antraz, a recolha de esfregaços sanguíneos deve preceder a necrópsia (Jubb et al. 2008). As alterações observadas no cadáver encontrado não indicavam que a morte teria sido causada por antraz. No entanto, dado o estatuto epidemiológico da área em questão, esta possibilidade não foi completamente descartada. A primeira tarefa desempenhada aquando da chegada ao local foi fazer dois esfregaços sanguíneos (um do bordo coronário do casco e outro da base da orelha) para posterior coloração em laboratório. Depois procedeu-se à examinação externa do cadáver e recolha de amostras de fezes directamente da ampola rectal para contagem de ovos de parasitas (fig. 16 do anexo). Após a observação geral do cadáver e da recolha de amostras, colocou-se o animal em decúbito lateral esquerdo para que este também fosse inspeccionado. À observação, este apresentava algumas ansas intestinais fora da cavidade abdominal, com estrangulamento das mesmas (fig. 17 do anexo). Este achado permitiu avançar com um elevado grau de certeza a hipótese da morte ter ocorrido na sequência de uma cornada de um macho rival, dada a frequência com que os machos desta espécie estabelecem o território através de lutas (Wirtz 1981). De facto, a forma e localização 56 do orifício herniário condiz com uma ferida induzida por uma cornada, que provocou a exteriorização de parte do intestino, levando a um enfarte estrangulativo com consequente choque hipovolémico, que culminou com a morte do animal. Em torno da ferida perfurante estavam depositados milhares de ovos de insectos da ordem Diptera, o que é compatível com a ocorrência do trauma seis a sete horas antes da notificação do caso. Os esfregaços foram corados com azul-de-metileno (prática de rotina em casos de suspeita de antraz) (Jubb et al. 2008) e não foram observadas formas esporuladas de Bacillus anthracis. As fezes foram analisadas com recurso ao método de flutuação de Willis e não foram observados ovos de parasitas. Este acontecimento foi incluído na casuística da reserva e o cadáver foi deixado no próprio local para que as forças da natureza competentes se encarregassem da sua decomposição. 2.3- Monitorização de fauna bravia à distância No esforço da preservação da natureza é fundamental conhecer da forma mais aprofundada possível o funcionamento dos ecossistemas num contexto holístico. Uma componente fundamental do conhecimento para se atingir este objectivo é o registo da actividade dos animais presentes nos ecossistemas, para que se tracem perfis de comportamento e rotinas específicas de cada espécie. Para se obter este registo, entre outras técnicas ou metodologias (como avistamentos ou identificação de indícios de actividade animal tais como pegadas ou fezes), têm sido desenvolvidas diversas tecnologias que permitem monitorizar a localização dos animais à distância por um processo denominado radio-seguimento ou radio-telemetria. O radio-seguimento em animais selvagens “é o método 57 através do qual é possível determinar a localização espacial do animal, através de um aparelho acoplado ao corpo do mesmo” (Mech e Barber 2002); “telemetria é a capacidade de transmissão de ondas pela atmosfera, normalmente na frequência de ondas rádio, sendo que sempre que há uma emissão da informação relativa à localização do animal, ambos os conceitos estão interligados” (Mech e Barber 2002). Sucintamente, este sistema pode ser dividido em dois sub-sistemas: um dos quais é um transmissor via rádio, uma bateria e uma antena que viabiliza a propagação do sinal; e o outro é o receptor que capta o sinal através de uma antena, recorrendo também a uma bateria como fonte de energia (Mech e Barber 2002). Actualmente, são utilizados os seguintes tipos de radio-seguimento na monitorização animais selvagens (Gillespie et al. 2008; Handcock et al. 2009; Mech e Barber 2002; Hoenner et al. 2012): a) o sistema convencional por via ondas de rádio VHF, ou sistema análogo, UHF; b) sistema monitorização por satélite (Argos, Iridium, Globalstar, entre outros) e c) sistema de monitorização por GPS. Cada um destes sistemas pode ser utilizado individualmente ou em conjunto com os outros, uma vez que a complementaridade dos mesmos permite maximizar a eficácia das tarefas de monitorização da vida selvagem (Cagnacci et al. 2010; Mech e Barber 2002; Handcock et al. 2009). Para levar a cabo um programa de radio-seguimento deve fazer-se um estudo prévio do impacto que este terá nos respectivos espécimes. Todas as vantagens e desvantagens devem 58 ser consideradas e só se deve proceder ao estudo se não for possível aplicar um método que tenha menor interferência com o animal para os objectivos pretendidos. Todos os tipos de radio-seguimento interferem directamente com o bem-estar do animal, uma vez que implicam a captura e manipulação de um animal vivo, no estado selvagem, para que lhe seja acoplado um mecanismo de suporte de todo o aparelho transmissor (seja uma coleira, um implante, um arnês, etc.). Adicionalmente, o dispositivo implementado pode causar desconforto ao animal, o que pode ter implicações tanto no bem-estar do animal como no objecto de estudo em questão. Há que ter em conta também que, como qualquer tipo de tecnologia estes aparelhos têm um custo associado variável, sendo imperativo seguir este factor limitante consoante o orçamento disponível, assim como os objectivos pretendidos com o estudo (Mech e Barber 2002). No inicio da sua utilização, em estes sistemas tinham o inconveniente de ser demasiado pesados, sendo apenas possível aplicá-los em animais de grande porte, tais como os ursos ou alces (Craighead 1982). Actualmente, graças aos avanços tecnológicos desta tecnologia, o peso dos dispositivos acoplados ao animal foi consideravelmente reduzido, e já tornou possível monitorizar, de forma satisfatória animais de pequeno porte, tais como peixes, mamíferos marinhos e aves migratórias de pequeno porte (Hebblewhite e Haydon 2010; Fedak et al. 2002). De seguida, apresento uma descrição mais pormenorizada dos diferentes tipos de radio seguimento existentes. a) sistemas de monitorização via VHF: Radiotelemetria por VHS - este sistema tem sido amplamente utilizado na 59 monitorização de fauna bravia desde 1963, permititindo a transmissão de sinal por ondas de rádio entre um transmissor e um receptor sintonizados numa banda de rádio, num sistema análogo ao AM/FM (Craighead 1982; Mech e Barber 2002). O sinal é captado por uma antena ligada ao receptor utilizado manualmente pelo operador. Assim, a informação recolhida através desta tecnologia são linhas geográficas (azimutes) traçadas entre o transmissor (no animal) e o receptor (empregue pelo operador). Para que se proceda a uma localização mais precisa recorre-se a dois métodos principais: -por aproximação: onde se segue o sinal na direcção em que este é mais forte, até que se aviste o animal, ou se estime precisamente a sua localização (Mech 1983); -por triangulação: consiste em anotar os azimutes de 2 ou mais pontos de coordenada conhecida nos locais onde foi obtido o sinal, e cuja intersecção dos mesmos indica a localização do animal. É de referir a precisão deste método é tanto mais eficaz quanto mais azimutes forem recolhidos, num curto espaço de tempo, para evitar o erro associado às deslocações do animal (Tomkiewicz et al. 2010; David L. Mech e Barber 2002). Este método é relativamente simples e fiável de utilizar com um baixo custo de implementação (Gilsdorf et al. 2008). Este sistema revela-se bastante práctico e pode ser utilizado em praticamente todos os tipos de habitat. No entanto, localização via VHF requer muito tempo empregue na localização por parte do operador e não possibilita uma monitorização contínua, ao contrário dos sistemas por satélite (Mech e Barber 2002). Para além deste facto, já foram feitos alguns estudos relativos à precisão deste sistema, que provaram que factores como a altura (a partir do solo) a que se encontra o transmissor 60 (Grovenburg et al. 2013), a configuração do terreno e a densidade do estrato arbóreo (Bartolommei P, Francucci S, e Pezzo F 2012), entre outros, podem afectar a propagação do sinal. b) sistemas de monitorização por satélite Sistema Argos (semelhante a outros conjuntos de satélites tais como Iridium e Globalstar, entre outros) – este sistema de monitorização é composto por um transmissor acoplado ao animal que emite um sinal electrónico que é recebido por vários satélites em órbita na atmosfera o que permite localizar o animal através do método da triangulação. Os dados obtidos são enviados para uma base em terra (Hoenner et al. 2012; Gillespie et al. 2008). Este sistema é vantajoso pois dispensa o seguimento no campo por parte do operador, poupando grande parte do trabalho empregue na localização. Esta tecnologia requer um investimento inicial elevado, e para além disso o transmissor de elevada potência consome mais energia, o que leva a que a longevidade das baterias também seja menor, comparativamente ao sistema convencional por VHF, no entanto já foram desenvolvidos sistemas que permitem a recarga através da energia solar, o que torna possível contornar esta limitação. Um dos inconvenientes deste sistema é o facto de não poder ser localizado por via terrestre, a menos que seja incorporado um sistema de localização via VHF, para que o dispositivo possa ser recolhido pelos investigadores (Tomkiewicz et al. 2010; British Columbia et al. 1998). Uma das principais utilizações é em monitorizações de longo alcance, nas quais se pretende obter padrões de dispersão dos animais à escala global, sendo que esta tecnologia já foi empregue com sucesso na monitorização de padrões migratórios de longo alcance, onde a 61 tecnologia por VHF se torna impraticável, ainda que seja considerado um método de localização menos preciso quando comparado com a localização por GPS (Tomkiewicz et al. 2010; Gillespie et al. 2008; Hoenner et al. 2012). c) sistema de monitorização por GPS Este sistema é baseado num receptor de ondas rádio, em vez de um transmissor. Este receptor está presente num dispositivo acoplado ao corpo do animal que capta o sinal de um grupo de satélites específicos e cujo software calcula os dados referentes à localização exacta do animal, que são posteriormente armazenados no hardware do aparelho. Para além da localização espacial, podem ser incorporados sensores que permitem a medição de parâmetros como a temperatura (ambiente ou do próprio animal), humidade, actividade, mortalidade, entre outros (Tomkiewicz et al. 2010; Hebblewhite e Haydon 2010; Cagnacci et al. 2010). Existem várias formas de aceder aos dados armazenados: - através da recolha manual do dispositivo no campo pelos investigadores. No início do emprego desta tecnologia, a recolha do dispositivo implicava uma nova captura e manipulação do animal, hoje em dia, ainda que se possa recorrer a este método, já foram desenvolvidos sistemas que permitem programar o dispositivo de modo a que se destaque automaticamente passado um período de tempo pré-estipulado, ou que esta função possa ser accionada com um comando à distância (Mech e Barber 2002; Fedak et al. 2002; Tomkiewicz et al. 2010). Com este método, a informação é armazenada, sendo que não é gasta energia no envio da mesma, o que rentabiliza a longevidade da bateria. As principais desvantagens apresentadas estão associadas à perda do dispositivo (por exemplo falhas no processo de destacamento do animal) o que leva a que toda a informação seja perdida (Mech e Barber 62 2002; British Columbia et al. 1998); - os dados podem ser enviados para um receptor via VHF ou UHF. Este sistema requer maior trabalho de campo pelo operador, uma vez que a obtenção da informação tem de ser feita manualmente (a partir do chão, ou sobrevoando a área de avião ou helicóptero). Alternativamente, pode ser implementado um conjunto de antenas na área de estudo que captam o sinal emitido pelo transmissor e que possibilitam ao software do receptor armazenar os dados relativos à localização. Caso haja algum problema com a recuperação do dispositivo, ou relacionado com o mau funcionamento do mesmo, parte dos dados já estão armazenados, contrariamente ao método citado anteriormente. Uma vez que a informação é transmitida, os gastos energéticos também são mais elevados, o que infere directamente na longevidade da bateria ((Hebblewhite e Haydon 2010; Tomkiewicz et al. 2010; Mech e Barber 2002); - o outro método de recolha da informação armazenada é através do envio da mesma para um conjunto de satélites (utilizando o sistema Argos, Iridium, ou outro), de modo a que os investigadores possam ter acesso aos dados sem que tenham de se deslocar ao campo para efectuar esta tarefa. Para que se possa aceder à informação captada por este sistema de satélites, devem ser pagas as taxas de utilização respectivas. Para além disso, mais uma vez a complexidade do sistema levam a que este se torne mais pesado e que a eficiência energética seja menor (Tomkiewicz et al. 2010; Hebblewhite e Haydon 2010; Handcock et al. 2009; Gillespie et al. 2008). -GSM/GPRS e GSM/ SMS (GSM-Global System for Mobile Communications, ou Sistema Global para Comunicações Móveis; GPRS-General Packet Radio Service - Serviço de Rádio 63 de Pacote Geral; SMS-Short Message Service- Serviço de Mensagens Curtas). Este é um dos últimos avanços tecnológicos que possibilita a monitorização da vida selvagem, utilizando as redes de comunicações móveis já implementadas para a transmissão da informação contida nos dispositivos de GPS. A localização do animal (assim como outros factores avaliados) é enviada por SMS a intervalos regulares para a base de dados da investigação. Deste modo o recurso a uma rede de satélites é dispensado, o que reduz consideravelmente os custos associados a este tipo de tecnologias (Rahimi 2007; Quaglietta et al. 2012; Mcconnell et al. 2004; Cronin e McConnell 2008). A localização através do sistema de GPS tem-se revelado bastante precisa na localização de qualquer animal na superfície terrestre, ou no ar. Caso seja efectuada a transmissão da informação, esta pode ser actualizada continuamente ao longo do tempo, o que permite traçar perfis de actividade animal em tempo real maximizando a eficácia da monitorização. Esta tecnologia é menos condicionada por algumas variáveis, tais como as condições climatéricas, ou a topografia do terreno, que por vezes limitam a utilização dos métodos de radioseguimento convencionais. A principal desvantagem deste sistema é o seu custo elevado, contudo dada a celeridade da evolução tecnológica, assim como a concorrência comercial entre as companhias que o disponibilizam, possivelmente este factor será ultrapassado num futuro próximo (Urbano et al. 2010; Tomkiewicz et al. 2010; Handcock et al. 2009; Hoenner et al. 2012; Johnson, Heard, e Parker 2002). Na reserva onde decorreu o meu estágio, está a ser levado a cabo um programa de radio seguimento de rinocerontes, utilizando o sistema convencional por VHS, realizado em parceria com duas reservas contíguas entre as quais os animais circulam livremente. Neste 64 programa, foram colocadas pulseiras electrónicas em 5 rinocerontes pretos (Diceros bicornis) e 2 rinocerontes brancos (Ceratotherium simum) com o objectivo de monitorizar as suas movimentações diárias e sazonais, para que através do conhecimento das respectivas rotinas, seja mais fácil aplicar esforços de combate ao furtivismo. Os intervenientes nesta parceria são os guardas-chefe e os guardas de campo e estão encarregues de patrulhar o terreno diariamente, assinalando todos os indícios de actividade de rinocerontes no espaço compreendido pelas três reservas (cerca de 11000hectares). Os indícios de actividade considerados são: avistamentos, localizações pelo sistema convencional de telemetria por VHF, vocalizações e pegadas. Estes registos são assinalados numa base de mapeamento por GPS, para que com a sobreposição sequencial dos dados ao longo do tempo, se observem os registos de actividade e padrões de comportamento destes animais. No caso específico de Parsons, optou-se por utilizar o sistema de monitorização por VHF (fig. 18 do anexo), dada a incapacidade de suprir os elevados custos associados a outros sistemas que se têm revelado mais satisfatórios, nomeadamente a monitorização por GPS ou satélite. Um dos problemas encontrados desde o início do estudo é a impossibilidade de localizar todos os animais, pelo menos uma vez ao dia (tal só poderia ser ‘ultrapassado’ aumentado o trabalho de campo empregue na monitorização), o que leva a que o perfil da informação obtida não possa ser analisado de forma contínua. Dado o estatuto da espécie em questão e as ameaças que enfrenta, possivelmente o sistema mais adequado para instituir neste estudo poderia ser o sistema de GPS, com envio dos dados por satélite ou utilizando a rede de telecomunicações móveis, para que as informações pudessem ser acedidas de forma contínua e em tempo real, tornando possível uma vigilância mais adequada por parte da brigada antifurtivismo. Idealmente, também seria vantajoso incorporar um, ou vários sensores que indiquem o movimento, a temperatura ou o ritmo cardíaco dos animais, com o objectivo de 65 medir as oscilações decorrentes ao longo da actividade considerada normal e assim fosse possível inferir o acontecimento de eventuais acções furtivas (se o animal estiver parado pode ser um indício de que foi abatido, alterações bruscas de temperatura ou ritmo cardíaco também podem estar relacionadas com o stress decorrente da captura). Para além deste factor, o conjunto de todos os parâmetros avaliados, levaria a um conhecimento mais completo da biologia das espécies em estudo, sendo uma mais-valia considerável uma vez que se tratam de animais no estado selvagem e muitos dos aspectos relativos à sua vivência ainda não são completamente conhecidos. Todas as informações referentes à localização dos rinocerontes são reportadas aos guardas-chefe de cada reserva que entram em contacto diariamente. Com base na análise e sobreposição da informação recolhida estes tomam medidas de segurança em relação a: -patrulhamento- deve ser reforçado nas zonas consideradas críticas. São consideradas críticas as zonas onde os animais permanecem a maior parte do tempo e nos locais em que estes se encontram mais expostos ao ser humano (nas imediações de estradas e vedações); -pontos de água- uma vez que nas reservas em questão existem pontos de água (tanto naturais como artificiais) e sabendo que estes animais têm por hábito visitar vários destes pontos diariamente, a gestão destes (os pontos de água artificiais podem ser activados ou desactivados, se conveniente) deve ser feita num sentido de minimizar a exposição (estradas e vedações) dos animais no decorrer dos trajectos entre os diferentes pontos de abeberamento. Paralelamente a esta iniciativa, o administrador do EWL está a tentar adaptar um aerodino de baixo peso (menos de 5 kg) comandado remotamente e equipado com uma câmara de filmar, de modo a que tanto animais como eventuais actos furtivos possam ser 66 detectados a partir do ar. Este tipo de tecnologia, outrora utilizada exclusivamente pelo exército, nas últimas décadas tem vindo a adaptar-se a usos não militares, onde assumem especial importância pesquisas na área da ecologia (Dunbabin e Marques 2012; Anderson 2013; Hardin e Jensen 2011). Esta classe de aeronaves, que ainda se pode considerar numa fase inicial de desenvolvimento, já deu provas de que é uma mais-valia ao serviço da ciência, dado o seu baixo custo de operação, o facto de voarem a baixa altitude, a velocidades baixas e podendo transportar sensores e sistemas de vídeo com recolha dos mais diversos dados (imagens, filme, condições meteriológicas, infra-vermelho, entre outros) referentes às variáveis focadas em cada estudo (padrões migratórios, locais de nidificação, census de animais, operação em locais de difícil acesso, etc.) (Anderson 2013; Dunbabin e Marques 2012; GeoktoCʹan 2010; Hardin e Jensen 2011; Jones e Percival 2006; Rodríguez et al. 2012). Contudo, este sistema tem ainda alguns desafios a ultrapassar como metodologias a aplicar, controlo em tempo real, segurança e o requerer bastante perícia técnica no controlo remoto dos aparelhos (Dunbabin e Marques 2012; Lisein J et al. 2013), foi este último aspecto que se tornou numa das principais limitações na reserva onde estive, para além de que o orçamento não permitia que fosse adquirido um dispositivo de captação de imagem com boa resolução, aspectos que tornavam impraticável este tipo de monitorização. 2.4. Vigilância de doenças Como nenhum sistema natural condicionado pelo Homem segue um padrão ideal de funcionamento e sendo o objectivo máximo em termos de conservação da natureza a estabilidade e intocabilidade de um determinado ecossistema, há certos factores que podem 67 ser geridos para que os números de indivíduos de cada população se mantenham dentro dos intervalos sustentáveis específicos de cada espécie. Um dos factores mais importantes neste âmbito é a prevenção e vigilância de doenças, cuja existência e disseminação implicam riscos para a saúde pública e vida selvagem, assim como levam a enormes perdas económicas relativas à produção pecuária. É na prevenção e vigilância de doenças que este capítulo se baseia, enquadrando os preceitos genéricos deste tema com aquilo que vivi enquanto estagiário ao serviço do EWL. O EWL tem a seu cargo um programa de vigilância de doenças, relativo à área que abrange todas as reservas de vida selvagem privadas localizadas da área do GKNP e as propriedades contíguas destinadas à produção de espécies pecuárias. Os objectivos deste programa são: -Determinar o estatuto epidemiológico e parasitológico da fauna bravia e dos efectivos pecuários da região, assim como as causas de infecção e infestação cruzadas; -Determinar o risco para a saúde pública referente a zoonoses; -Criar um sistema de alerta precoce para que possam ser tomadas medidas no combate a doenças infecto-contagiosas (Tuberculose, Brucelose, Raiva, Febre Aftosa); -Instruir os produtores de gado em relação às práticas higio-sanitárias adequadas; -Registar todas as ocorrências relevantes num sistema de mapeamento por GPS. Todavia, é de assinalar que este programa está integrado num pacote comercial de serviços prestados pelo meu tutor sul-africano e, aquando da minha participação no decorrer do período de estágio, ainda se encontrava numa fase inicial de implementação. Por conseguinte, apenas alguns dos parâmetros estavam a ser avaliados. As actividades desempenhadas neste 68 âmbito foram as seguintes: Análises de água: -parâmetros inespecíficos : pH, electro-condutividade (μs), quantidade total de partículas sólidas dissolvidas (total dissolved solids-TDS). Estas três medições são efectuadas recorrendo a um aparelho portátil medidor de múltiplos parâmetros; turbidez- obtida por um espectrofotómetro; titulações-dureza total, dureza calcaria, alcalinidade e cloro. As titulações são efectuadas manualmente em laboratório, recorrendo aos reagentes específicos para cada um dos aspectos. Estes parâmetros são avaliados mensalmente, nos empreendimentos turísticos e explorações pecuárias abrangidos pelo programa de vigilância de doenças em curso, sem custos adicionais. A água analisada é proveniente da rede, ou de furos subterrâneos, destinando-se ao consumo humano e dos efectivos pecuários. Estão estipulados intervalos de segurança para cada um dos parâmetros avaliados, assim, quando os resultados estão fora destes intervalos é dado o alerta e é levada a cabo uma investigação para averiguar qual é a causa do problema em curso, e orientada a resolução do mesmo, sendo que durante esse tempo a água é considerada imprópria para consumo. -parâmetros específicos- estes só são efectuados caso haja uma suspeita de contaminação. É de referir que estas análises têm um custo adicional para o pacote de serviços- Identificação de: coliformes totais, coliformes fecais (pseudomonas, salmonella, E. coli) -a avaliação destes parâmetros é efectuada recorrendo à cultura em agár (específico, ou inter-específico para cada microrganismo) e posteriormente à permanência numa estufa a uma temperatura e humidade controladas, é efectuada a contagem de colónias formadas; identificação, recorrendo ao MOC, de algas presentes nas amostras de água, assim como de outros microrganismos. Análise de amostras fecais. 69 Neste âmbito, procede-se à recolha de amostras de fezes de herbívoros selvagens (no campo) e dos efectivos pecuários abrangidos no programa, para proceder à contagem de ovos pelo método de flutuação de Willis. Os resultados obtidos servem para qualificar e quantificar os graus de infestação nas respectivas espécies. No despiste de parasitoses em fauna bravia, a única medida a ser tomada é a eliminação do estrato herbáceo nas imediações das vedações que separam as reservas de vida selvagem de explorações pecuárias contíguas. Caso se verifiquem parasitoses nos efectivos pecuários, são instituídos os protocolos de desparasitação com recurso a fármacos; Parte do teste da tuberculina - quando requerido, é efectuada a primeira parte do teste serológico da tuberculina, que consiste em colocar o soro de cada animal em contacto com quatro diferentes soros antivirais (aviário, bovino, fortuito e de controlo). Após este procedimento, as amostras são enviadas para outro laboratório, no qual é efectuada a segunda parte do teste-marcação por interferão gama- com equipamento adequado para o efeito. As espécies visadas são gado bovino (Bos taurus e B. indicos) e búfalos africanos (Syncerus caffer) mantidos em cativeiro. Este teste foi muito requisitado pelas explorações pecuárias com estatuto ‘livre de tuberculose’, com o objectivo confirmar o seu estatuto epidemiológico numa rotina mensal. No entanto, há relativamente pouco tempo este estatuto foi desacreditado pelo governo, levando a que não seja nem rentável, nem obrigatório continuar a fazer estes, sendo que actualmente só é efectuado esporadicamente; Apreciações de campo - saídas de campo para observação de animais selvagens, enquadrados no ecossistema envolvente, tendo particular atenção às espécies consideradas sentinela, são elas a impala (Aepyceros melampus), o gnú (Connochaetes taurinus) e a zebra (Equus burchellii), com o objectivo de: fazer um levantamento do número de indivíduos referentes a cada manada/grupo de animais (tendo em conta o rácio macho-fêmea, adultos70 juvenis e presença de animais gestantes); observar possíveis indícios de doença (ferimentos, exsudações, abcessos); avaliar a condição corporal pelo método de Berry (classificação da condição corporal em cinco categorias: muito magro, magro, normal, bom, excelente). Consoante as ilações obtidas através destas observações, podem ser tomadas algumas medidas, contudo é de referir que a política instituída de ‘não interferir com a vida selvagem, a menos que o problema evidenciado tenha uma causa antropogénica’ não me parece ser encarada de forma coerente, porque caso se despistem alguns indícios de doença, a nossa acção limita-se a observar o curso normal da doença (para que melhoremos, de futuro, a forma de a prevenir), estando impossibilitados de agir, enquanto que se o número de machos for consideravelmente superior em relação ao número de fêmeas (tomando como referencia o rácio “natural”), é permitido abater parte deles selectivamente. Ainda que paradoxal (e porventura até benéfico), esta tarefa gera uma fonte de rendimento considerável, que mesmo não estando explícito, na minha opinião é uma das razões para que seja empreendida. Possivelmente seria produtivo desenvolver este capítulo de forma mais aprofundada, analisando as diferentes variáveis focadas e tentando integrá-las num contexto geral do que poderia ser levado a cabo para que os nossos esforços conservacionistas sejam mais benéficos à respectiva natureza (e quiçá até sugerir eventuais melhoramentos e adaptações); no entanto a perspectiva comercial com que grande parte destes esforços de conservação são empreendidos é o principal factor limitante que por um lado não permite que alguns factores sejam avaliados (por não ser rentável), e por outro me impede de explorar o assunto de forma mais minuciosa, dado o sigilo que deve ser mantido quando a casuística pertence ao sector privado. 71 72 3- Considerações finais A experiência que culminou na elaboração deste relatório deu-me a oportunidade de presenciar um panorama com um sucesso evidente no âmbito de áreas de conservação. Na África do Sul desenvolveram excepcionalmente todo um sector turístico consagrado à conservação da vida selvagem, sendo um destino que atrai milhões de visitantes ao país todos os anos (Muchapondwa 2013; Cousins J.A, Evans J, e Sadler J.P 2008). Nos meses que passei em África, tive a oportunidade de estar dentro de uma áreas de conservação e de visitar algumas outras, o que me possibiltou vivenciar muitos dos trabalhos relacionados com a gestão destes espaços e assim criar uma perspectiva que considero relativamente abrangente sobre este tema. Este relatório é uma apresentação de algumas das potenciais actividades do foro médico veterinário, que um indivíduo com esta formação pode desempenhar ao serviço da conservação da natureza. Para além disso, acredito que essa formação tem bastante potencial para ser complementada de modo a que este adquira uma visão holística e um conhecimento o mais abrangente possível nesta matéria e assim possa desempenhar tarefas das diferentes 'especialidades' que de certo modo se encontram interligadas. Do que experienciei, fiquei com a percepção de que o papel de um médico veterinário nas acções de gestão e planeamento levados a cabo nas área de conservação da natureza, é desempenhar acima de tudo tarefas ditas de especialidade, deixando outras actividades, consideradas mais técnicas, a cargo de indivíduos com outra formação, tais como a biologia ou a ecologia. Pessoalmente, considero que esta visão muito redutora, e de certa forma incompleta, acaba por diminuir a eficácia do médico-veterinário ao serviço da conservação da natureza, uma vez que se encontra incapacitado de experienciar todo o leque de actividades empreendidas neste sentido. 73 Os vários aspectos tanto naturais como humanitários da realidade africana, tornaram-me mais humano e sensato, tendo adequado a imagem que tenho de mim próprio à posição que realmente ocupo neste planeta finito. Considero que uma das minhas vocações mais honrosas poderá ser ao serviço da causa ambiental de modo a que alguns dos contornos do nosso planeta possam ser mantidos de forma sustentável e sem que grande parte da biodiversidade existente deixe de estar ao alcance de gerações vindouras. Hoje sinto-me capaz de disponibilizar os meus préstimos em áreas de conservação em desenvolvimento no território nacional. Durante o meu estágio, fui posto à prova inúmeras vezes para desempenhar das mais variadas tarefas tendo para isso de aprender, ou melhorar, algumas das minhas capacidades polivalentes. É um facto que nem todas essas actividades se relacionam directa, ou indirectamente, com a medicina veterinária ou a conservação do meio ambiente, mas nem por isso as considero menos nobres, uma vez que desenvolvi de forma significativa a minha aptidão de resposta efectiva face a um panorama em constante mudança e readaptação. A conservação da natureza tem-se tornado um tema cada vez mais em voga pelo que tem sido crescente a quantidade de acções empreendidas neste sentido. Contudo, esta pode ser uma área relativamente ingrata, pois muitas vezes os objectivos não são facilmente alcançados. Têm sido experimentados vários 'modelos' de gestão e ordenamento do território de determinados espaços na tentativa de maximizar o sucesso destas acções. De forma geral, tenciono tomar como exemplo os modelos de gestão e planeamento de áreas de conservação que conheci de forma a que possam ser adaptados à realidade nacional. Uma das soluções que se mostra mais vantajosa para este tipo de desenvolvimento parece ser o envolvimento das comunidades locais nas acções conservacionistas, de forma a que estas beneficiem directamente do ecoturimo. O conceito dos icónicos Cinco Grandes em toda a áfrica sub74 sahariana, é um dos vários exemplos a nível mundial que atesta que a atribuição do estatuto de espécies-bandeira é bastante viável para o desenvolvimento deste sector. Adequando esta ideia à realidade portuguesa, acredito que algumas das espécies existentes no território nacional poderiam funcionar do mesmo modo, no sentido de preservar alguns dos nossos modestamente ricos habitats e paralelamente promover um desenvolvimento sustentável do meio rural envolvente. Como exemplo, uma destas espécies poderá ser o Lince ibérico (Lynx pardinus), um animal que já não existe em estado selvagem no território nacional e que está projectado para ser reintroduzida num futuro próximo. Um dos planos que tenho para concretizar a curto/médio prazo é participar na parceria entre Portugal e Espanha no programa de reprodução em cativeiro de Lince ibérico para futuros repovoamentos em várias áreas de conservação, na tentativa de restabelecer uma população selvagem onde esta espécie se encontra extinta tal como a Serra da Malcata, o Vale do Guadiana e a Serra de Silves, entre outros locais. Este projecto ainda está numa fase inicial de desenvolvimento e uma vez que ainda não existem linces adultos para reintrodução, os esforços centram-se principalmente na restauração do habitat e numa educação ambiental das comunidades locais e associações de caçadores de modo a que estes valorizem a presença desta espécie como uma mais-valia para a região e cooperem numa gestão do território integrada e conscienciosa. Esta iniciativa estimula o aproveitamento dos territórios rurais para práticas agrícolas de policulturas rotativas, para viabilizar o aumento de algumas espécies, especialmente o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), que pode ser um factor limitante no sucesso do projecto, uma vez que constitui a maior parte da dieta de um lince adulto e as suas populações têm sofrido baixas consideráveis pela propagação de algumas doenças tais como a mixomatose ou a febre hemorrágica vírica (Moreno et al. 2007; Delibes-Mateos, Ferreras, e Villafuerte 2007; Delibes-Mateos et al. 2007; Ferrer e Negro 2004). 75 O ecoturismo direccionado para algumas vertentes específicas, tais como a observação de aves ou outros aspectos da fauna e flora, ou uma gestão consciente e sustentável de actividades cinegéticas podem ser vertentes bastante vantajosas para uma região tanto numa perspectiva conservacionista, como socio-económica. Este tipo de gestão do território, a meu ver deverá ser tomado da forma mais harmoniosa e equilibrada possível tomando sempre em atenção o conflito imanente entre conservação e lucro, que já por várias vezes na história de áreas de conservação influenciou o panorama geral a ponto de dar matizes relativamente artificiais à respectiva natureza. Pessoalmente, não considero demasiado idealista a concepção de um mundo desenvolvido que, fazendo uso de todos os recursos que possui actualmente (ou abdicando de alguns outros), possa tornar o planeta terra num pequeno universo próspero e até mais 'humano'. Deverá haver uma tomada de consciência a nível global e, acima de tudo, uma consciencialisação pessoal sobre os nossos verdadeiros valores e o impacto derivado das nossas acções no meio ambiente, que nem por serem em pequena escala deverão ser menosprezadas. Parafraseando Mahatma Gandhi “sê a mudança que gostarias de ver no mundo”. 76 Bibliografia Adcock, K. 1994. «The relevance of “territorial” behaviour in black rhino to their population management». Anderson, Karen. 2013. «Lightweight unmanned aerial vehicles will revolutionize spatial ecology». fron Frontiers in Ecology and the Environment 11 (3): 138–146. Bartolommei P, Francucci S, e Pezzo F. 2012. «Accuracy of Conventional Radio Telemetry Estimates: A Practical Procedure of Measurement». Hystrix Hystrix 23 (2). «BBC Four - Unnatural Histories, Yellowstone». 2013. BBC. Acedido Setembro 27. http://www.bbc.co.uk/programmes/b011wzrc. Beech, Hannah, e Alex Perry. 2011. «Killing Fields. How Asia’s Growing Appetite for Traditional Medicine Is Threatening Africa’s Rhinos». Time 177 (24) (Junho 13): 40–47. Beyer, W, e P.C.B Turnbull. 2009. «Anthrax in Animals». Molecular Aspects of Medicine Molecular Aspects of Medicine 30 (6): 481–489. Biggs D, Courchamp F. 2013. «Conservation. Legal Trade of Africa’s Rhino Horns.» Science (New York, N.Y.) 339 (6123): 1038–9. «BlackRhinoSpecies.pdf». 2013. Acedido Setembro 30. http://www.savingrhinos.org/RhinoSpecies/BlackRhinoSpecies.pdf. British Columbia, Lands Ministry of Environment, Resources Inventory Branch, Resources Inventory Committee (Canada), e Terrestrial Ecosystems Task Force. 1998. Wildlife Radio-telemetry. [Victoria, B.C.]: Ministry of Environment, Lands, and Parks, Resources Inventory Branch for the Terrestrial Ecosystems Task Force, Resources Inventory Committee. Buk, Kenneth Gregers. 2010. «Seasonal Diet Preferences of Black Rhinoceros in Three Arid South African National Parks». African Journal of Ecology 48 (4): 1064–1075. Bulte, E, R.D Horan, e J.F Shogren. 2006. «Megafauna Extinction: A Paleoeconomic Theory of Human Overkill in the Pleistocene». Journal of Economic Behavior and Organization 59 (3): 297–323. 77 Bush, M, J P Raath, D Grobler, e L Klein. 2004. «Severe Hypoxaemia in Field-anaesthetised White Rhinoceros (Ceratotherium Simum) and Effects of Using Tracheal Insufflation of Oxygen». Journal of the South African Veterinary Association 75 (2) (Junho): 79–84. But, P P, L C Lung, e Y K Tam. 1990. «Ethnopharmacology of Rhinoceros Horn. I: Antipyretic Effects of Rhinoceros Horn and Other Animal Horns». Journal of Ethnopharmacology 30 (2) (Setembro): 157– 168. Cagnacci, Francesca, Luigi Boitani, Roger A Powell, e Mark S Boyce. 2010. «Animal Ecology Meets GPS-based Radiotelemetry: a Perfect Storm of Opportunities and Challenges». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological Sciences 365 (1550) (Julho 27): 2157–2162. doi:10.1098/rstb.2010.0107. Carruthers. 2008. «“Wilding the Farm or Farming the Wild”? The Evolution of Scientific Game Ranching in South Africa from the 1960s to the Present». Transactions of the Royal Society of South Africa Transactions of the Royal Society of South Africa 63 (2): 160–181. Carruthers, Jane. 1995. The Kruger National Park: a Social and Political History. Pietermaritzburg: University of Natal Press. Child, Graham, e Rupert Fothergill. 1962. Techniques Used to Rescue Black Rhinoceros (Diceros Bicornis) on Lake Kariba, Southern Rhodesia. Published for the Trustees of the National Museums of Southern Rhodesia by Manchester University Press. Citino, Scott B, e Mitchell Bush. 2007. «Reference Cardiopulmonary Physiologic Parameters for Standing, Unrestrained White Rhinoceroses (Ceratotherium Simum)». Journal of Zoo and Wildlife Medicine: Official Publication of the American Association of Zoo Veterinarians 38 (3) (Setembro): 375–379. Cousins J.A, Evans J, e Sadler J.P. 2008. «Exploring the Role of Private Wildlife Ranching as a Conservation Tool in South Africa: Stakeholder Perspectives». Ecol. Soc. Ecology and Society 13 (2). Craighead, Frank C. 1982. Track of the Grizzly. San Francisco: Sierra Club Books. Cronin, M.A, e B.J McConnell. 2008. «SMS Seal: A New Technique to Measure Haul-out Behaviour in Marine Vertebrates». Journal of Experimental Marine Biology and Ecology Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 362 (1): 43–48. David L. Mech, e Shannon M. Barber. 2002. «A critique of wildlife radio-tracking and its use in National Parks». 78 Delibes-Mateos, Miguel, Pablo Ferreras, e Rafael Villafuerte. 2007. «Rabbit populations and game management: the situation after 15 years of rabbit haemorrhagic disease in central-southern Spain». Biodiversity and Conservation 17 (3) (Novembro): 559–574. doi:10.1007/s10531-007-9272-5. Delibes-Mateos, Miguel, Steve M. Redpath, Elena Angulo, Pablo Ferreras, e Rafael Villafuerte. 2007. «Rabbits as a keystone species in southern Europe». Biological Conservation 137 (1) (Junho): 149–156. doi:10.1016/j.biocon.2007.01.024. Dennis, Nigel, e Michael R Brett. 2000. Kruger: [images of a Great African Park]. Cape Town: Struik. Dennis, Nigel, e R. J Scholes. 1995. The Kruger National Park: Wonders of an African Eden. London: New Holland. Doughty C.E, Wolf A, e Field C.B. 2010. «Biophysical Feedbacks Between the Pleistocene Megafauna Extinction and Climate: The First Human-induced Global Warming?» Geophys. Res. Lett. Geophysical Research Letters 37 (15). Dunbabin, M., e L. Marques. 2012. «Robots for Environmental Monitoring: Significant Advancements and Applications». IEEE Robotics Automation Magazine 19 (1): 24–39. doi:10.1109/MRA.2011.2181683. Emslie, R.H., T. Milliken, e B. Talukdar. 2012. African and Asian rhinoceroses—status, conservation and trade: A report from the IUCN Species Survival Commission (IUCN/SSC) African and Asian Rhino Specialist Groups and TRAFFIC to the CITES Secretariat pursuant to Resolution Conf. 9.14 (Rev. CoP15). CITES: CoP16 Doc. 54.2 (Rev. 1). Emslie, Richard. 1999. African Rhino: Status Survey and Conservation Action Plan. IUCN. Fedak, Mike, Phil Lovell, Bernie McConnell, e Colin Hunter. 2002. «Overcoming the Constraints of Long Range Radio Telemetry from Animals: Getting More Useful Data from Smaller Packages». Integrative and Comparative Biology 42 (1) (Fevereiro): 3–10. doi:10.1093/icb/42.1.3. Ferreira S.M, e Okita-Ouma B. 2012. «A Proposed Framework for Short-, Medium- and Long-term Responses by Range and Consumer States to Curb Poaching for African Rhino Horn». Pachyderm Pachyderm 51 (1): 52–59. Ferreira, Sam M, Judith M Botha, Megan C Emmett, e Matt Hayward. 2012. «Anthropogenic Influences on Conservation Values of White Rhinoceros». PLoS ONE PLoS ONE 7 (9): e45989. 79 Ferrer, Miguel, e Juan José Negro. 2004. «The Near Extinction of Two Large European Predators: Super Specialists Pay a Price». Conservation Biology 18 (2): 344–349. doi:10.1111/j.1523- 1739.2004.00096.x. Fowler, Murray E, e R. Eric Miller. 2008. Zoo and Wild Animal Medicine: Current Therapy. Volume 6 Volume 6. St. Louis, Mo.; [Edinburgh]: Saunders Elsevier. GeoktoCʹan, Ali Haydar. 2010. «A Rotary-wing Unmanned Air Vehicle for Aquatic Weed Surveillance and Management». Journal of Intelligent and Robotic Systems 57 (1-4): 1–4. Gillespie, Thomas W., Giles M. Foody, Duccio Rocchini, Ana Paula Giorgi, e Sassan Saatchi. 2008. «Measuring and modelling biodiversity from space». Progress in Physical Geography 32 (2) (Abril): 203–221. doi:10.1177/0309133308093606. Gilsdorf, Jason M, Kurt C Vercauteren, Scott E Hygnstrom, W. David Walter, e Greg M Clements. 2008. «An Integrated Vehicle-Mounted Telemetry System for VHF Telemetry Applications». Journal of Wildlife Management Journal of Wildlife Management 72 (5): 1241–1246. Grovenburg, T.W, C.N Jacques, R.W Klaver, C.S DePerno, C.P Lehman, T.J Brinkman, K.A Robling, S.P Rupp, e J.A Jenks. 2013. «Effects of Plant Phenology and Vertical Height on Accuracy of Radiotelemetry Locations». WILDLIFE BIOLOGY 19 (1): 30–40. Groves, C.P. 1967. «Geographic Variation in the Black Rhinoceros Diceros bicornis (L., 175 8)». Groves, Colin P. 1972. Ceratotherium Simum. Washington: Soc. Groves, Colin P, Prithiviraj Fernando, e Jan Robovský. 2010. «The Sixth Rhino: a Taxonomic Re-assessment of the Critically Endangered Northern White Rhinoceros». PloS One 5 (4): e9703. doi:10.1371/journal.pone.0009703. Groves, Colin P, e Peter Grubb. 2011. Ungulate Taxonomy. Baltimore, Md.: Johns Hopkins University Press. Handcock, Rebecca N, Dave L Swain, Greg J Bishop-Hurley, Kym P Patison, Tim Wark, Philip Valencia, Peter Corke, e Christopher J O’Neill. 2009. «Monitoring Animal Behaviour and Environmental Interactions Using Wireless Sensor Networks, GPS Collars and Satellite Remote Sensing». Sensors (Basel, Switzerland) 9 (5): 3586–3603. doi:10.3390/s90503586. Hardin, Perry J, e Ryan R Jensen. 2011. «Small-Scale Unmanned Aerial Vehicles in Environmental Remote Sensing: Challenges and Opportunities». GIScience & Remote Sensing GIScience & Remote Sensing 48 80 (1): 99–111. Harthoorn, A. M., e J. A. Lock. 1960. «The Rescue of Rhinoceroses at Kariba Dam». Oryx 5 (06): 352–355. doi:10.1017/S003060530000079X. Hattingh, J, e C.M Knox. 1994. «Arterial Blood Pressure and Blood Gas Composition of White Rhinoceroses Under Etorphine Anaesthesia». Wild South African Journal of Wildlife Research 24 (1 & 2): 12–14. Heard, Darryl J, John H Olsen, e Janet Stover. 1992. «Cardiopulmonary Changes Associated with Chemical Immobilization and Recumbency in a White Rhinoceros (Ceratotherium Simum)». Journal of Zoo and Wildlife Medicine 23 (2): 197–200. Hebblewhite, Mark, e Daniel T Haydon. 2010a. «Distinguishing Technology from Biology: a Critical Review of the Use of GPS Telemetry Data in Ecology». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological Sciences 365 (1550) (Julho 27): 2303–2312. doi:10.1098/rstb.2010.0087. Hoenner, Xavier, Scott D Whiting, Mark A Hindell, e Clive R McMahon. 2012. «Enhancing the Use of Argos Satellite Data for Home Range and Long Distance Migration Studies of Marine Animals». PloS One 7 (7): e40713. doi:10.1371/journal.pone.0040713. Hofinger, Edith S A. 2007. «Kinetics of Hyal-1 and PH-20 Hyaluronidases: Comparison of Minimal Substrates and Analysis of the Transglycosylation Reaction». Glycobiology 17 (9): 963–971. Hood, W. Gregory. 2012. «Beaver in Tidal Marshes: Dam Effects on Low-Tide Channel Pools and Fish Use of Estuarine Habitat». Wetlands 32 (3): 401–410. Johnson, C. J, D. C Heard, e K. L Parker. 2002. «Expectations and Realities of GPS Animal Location Collars: Results of Three Years in the Field». WILDLIFE BIOLOGY 8: 153–159. Jones, G. P., e H. F. Percival. 2006. «An Assessment of Small Unmanned Aerial Vehicles for Wildlife Research». Wildlife Society Bulletin Wildlife Society Bulletin 34 (3): 750–758. Jubb, K. V. F, Peter C Kennedy, Nigel Palmer, e M. Grant Maxie. 2008. Jubb, Kennedy, and Palmer’s Pathology of Domestic Animals. Vol. 3. Vol. 3. Edinburgh [etc.]: Elsevier Saunders. Juergens N. 2013. «The Biological Underpinnings of Namib Desert Fairy Circles.» Science (New York, N.Y.) 339 (6127): 1618–21. 81 Kock, Michael D, e Raoul du Toit. 1990a. «Effects of Capture and Translocation on Biological Parameters in Free-Ranging Black Rhinoceroses (Diceros Bicornis) in Zimbabwe». Journal of Zoo and Wildlife Medicine 21 (4): 414–424. . 1990b. «Baseline Biological Data Collected from Chemically Immobilized Free-Ranging Black Rhinoceroses (Diceros Bicornis) in Zimbabwe». Journal of Zoo and Wildlife Medicine 21 (3): 283–291. Kock, Michael D, e Pete Morkel. 1995. «Chemical Immobilization of Free-Ranging White Rhinoceros (Ceratotherium Simum Simum) in Hwange and Matobo National Parks, Zimbabwe, Using Combinations of Etorphine (M99), Fentanyl, Xylazine, and Detomidine». Journal of Zoo and Wildlife Medicine 26 (2): 207–219. Lisein J, Linchant J, Lejeune P, Bouche P, e Vermeulen C. 2013. «Aerial Surveys Using an Unmanned Aerial System (UAS): Comparison of Different Methods for Estimating the Surface Area of Sampling Strips». Trop. Conserv. Sci. Tropical Conservation Science 6 (4): 506–520. Lockwood, Caroline. 2010. «Analysis of Rhino Poaching in KwaZulu Natal, South Africa». Lonnig, Wolf-Ekkehard. 2011. The Evolution of the Long-necked Giraffe: (Giraffa Camelopardalis L.) : What Do We Really Know? : Testing the Theories of Gradualism, Macromutation, and Intelligent Design. Munster: Verlagshaus Monsenstein und Vannerdat. Loon, R. 1997. «A Conceptual Model for Assessing the Economic Feasibility of Harvesting African Rhinoceros Horn». South African Journal of Science. 93 (5): 237. Lyons, SK, FA Smith, e JH Brown. 2004. «Of mice, mastodons and men: human-mediated extinctions on four continents.» Evolutionary ecology research 6 (3) (Março): 339–358. Maggs, K.A.R., e J. de V. Greeff. 1994. «Special measures to protect the Kruger National Park rhino population». Em , pp. 20–24. Malan, E.W, B.K Reilly, M Landman, e W.J Myburgh. 2012. «Diet of Black Rhinoceros (Diceros Bicornis Minor) as Determined by Faecal Microhistological Analysis at the Mokopane Biodiversity Conservation Centre, Limpopo Province - a Preliminary Investigation». South African Journal of Wildlife Research South African Journal of Wildlife Research 42 (1): 60–62. Mavhunga, Clapperton. 2009. «Transfrontier Talk, Cordon Politics: The Early History of the Great Limpopo Transfrontier Park in Southern Africa, 1925–1940». Journal of Southern African Studies Journal of Southern African Studies 35 (3): 715–735. 82 Mcconnell, Bernie, Rory Beaton, Ed Bryant, Colin Hunter, Phil Lovell, e Ailsa Hall. 2004. «Phoning Home-a New Gsm Mobile Phone ℡emetry System to Collect Mark-Recapture Data». Marine Mammal Science 20 (2): 274–283. doi:10.1111/j.1748-7692.2004.tb01156.x. McCulloch, B, e P. L Achard. 1969. «Mortalities Associated with the Capture, Translocation, Trade and Exhibition of Black Rhinoceroses Diceros Bicornis». Int Zoo Yearbook International Zoo Yearbook 9 (1): 184–191. Mech, L. David. 1983. Handbook of Animal Radio-tracking. Minneapolis: University of Minnesota Press. Mech, L. David, e Shannon M Barber. 2002. A Critique of Wildlife Radio-tracking and Its Use in National Parks: a Report to the U.S. National Park Service. Jamestown, N.D.: U.S. Geological Survey, Northern Prairie Wildlife Research Center. Merck, Melinda. 2007. Veterinary Forensics: Animal Cruelty Investigations. Ames, Iowa: Blackwell Pub. Milner-Gulland, E. J. 1999. «How Many to Dehorn? A Model for Decision-making by Rhino Managers». Animal Conservation 2 (2): 137–147. «Minister Molewa commends law enforcement agencies for work well done in the fight against rhino poaching | Department of Environmental Affairs». 2013. Acedido Outubro 1. https://www.environment.gov.za/mediarelease/molewa_commends_lawenforcementagencies. Montesh, Moses. 2012. «Rhino poaching: a new form of organised crime». College of Law, School of Criminal Justice, Department of Police Practice. Moreno, Sacramento, Juan F Beltran, Irene Cotilla, Beatriz Kuffner, Rafael Laffite, Gloria Jordan, José Ayala, et al. 2007. «Long-term decline of the European wild rabbit (Oryctolagus cuniculus) in south-western Spain». Wildlife Research 34 (8): 652–658. Morkel, P, R W Radcliffe, M Jago, P du Preez, M J B F Flaminio, D V Nydam, A Taft, D Lain, M M Miller, e R D Gleed. 2010. «Acid-base Balance and Ventilation During Sternal and Lateral Recumbency in Field Immobilized Black Rhinoceros (Diceros Bicornis) Receiving Oxygen Insufflation: a Preliminary Report». Journal of Wildlife Diseases 46 (1) (Janeiro): 236–245. Morkel, P Vdb, R W Radcliffe, M Jago, P du Preez, M J B F Flaminio, D V Nydam, A Taft, D Lain, M M Miller, e R D Gleed. 2010. «Acid-base Balance and Ventilation During Sternal and Lateral Recumbency in 83 Field Immobilized Black Rhinoceros (Diceros Bicornis) Receiving Oxygen Insufflation: a Preliminary Report». Journal of Wildlife Diseases 46 (1) (Janeiro): 236–245. Morkel, P. 1994. «Chemical immobilization of the black rhinoceros (Diceros bicornis)». Muchapondwa, Edwin. 2013. «The Economic Impacts of Tourism in Botswana, Namibia and South Africa: Is Poverty Subsiding?» Nat Resour Forum Natural Resources Forum 37 (2): 80–89. O’Ryan, C, J.R.B Flamand, e E.H Harley. 1994. «Mitochondrial DNA Variation in Black Rhinoceros (Diceros Bicornis): Conservation Management Implications». Conservation Biology 8 (2). «Occupational Health and Safety Act, 1993 - Electrical Machinery Regulations, 1988.pdf». 2013. Electrical Machinery Regulations, 1988. Outubro 2. http://www.labourguide.co.za/download-document/615electrical-machinery-regulations. Patton, F. 2013. «Are drones the answer to the conservationists’ prayers?» Swara, Nairobi July-September 2013. Pienaar, D.J. 1994. «Habitat preference of the white rhino in the Kruger National Park». Em , pp. 59–64, figs. 1– 2. Portas TJ. 2004. «A Review of Drugs and Techniques Used for Sedation and Anaesthesia in Captive Rhinoceros Species.» Australian Veterinary Journal 82 (9): 542–9. Quaglietta, Lorenzo, Bruno Herlander Martins, Addy de Jongh, António Mira, e Luigi Boitani. 2012. «A Lowcost GPS GSM/GPRS Telemetry System: Performance in Stationary Field Tests and Preliminary Data on Wild Otters (Lutra Lutra)». PloS One 7 (1): e29235. doi:10.1371/journal.pone.0029235. Quan, Kristene. 2013. «South African Wildlife Conservationists Are Poisoning Rhino Horns to Prevent Poaching». Time. Acedido Setembro 29. http://newsfeed.time.com/2013/04/09/south-african-wildlifeconservationists-are-poisoning-rhino-horns-to-prevent-poaching/. Rahimi, Sahar. 2007. «Movement Patterns of Sable Antelope in the Kruger National Park from GPS/GSM Collars: a Preliminary Assessment». South African Journal of Wildlife Research South African Journal of Wildlife Research 37 (2): 143–151. «Rhino horns poisoned and painted PINK to keep poachers away in revolutionary scheme in South Africa». 2013. Mail Online. Acedido Setembro 29. http://www.dailymail.co.uk/news/article-2335274/Rhinohorns-poisoned-painted-PINK-poachers-away-revolutionary-scheme-South-Africa.html. 84 Rodríguez, Airam, Juan J Negro, Mara Mulero, Carlos Rodríguez, Jesús Hernández-Pliego, e Javier Bustamante. 2012. «The Eye in the Sky: Combined Use of Unmanned Aerial Systems and GPS Data Loggers for Ecological Research and Conservation of Small Birds». PloS One 7 (12): e50336. doi:10.1371/journal.pone.0050336. Rogers, P.S. 1993a. «Chemical capture of the black rhinoceros Diceros bicornis». Em , pp. 553–556. .1993b. «Chemical capture of the white rhinoceros Ceratotherium simum». Em , pp. 512–529. Rookmaaker, K. 2005. «The Black Rhino Needs a Taxonomic Revision for Sound Conservation». INTERNATIONAL ZOO NEWS (342): 280–282. Rookmaaker, L.C. 2003. «Why the name of the white rhinoceros is not appropriate». Sellars, Richard West. 1997. Preserving Nature in the National Parks: a History. New Haven: Yale University Press. Sessions, Alex L, David M Doughty, Paula V Welander, Roger E Summons, e Dianne K Newman. 2009. «The Continuing Puzzle of the Great Oxidation Event». Current Biology: CB 19 (14) (Julho 28): R567–574. doi:10.1016/j.cub.2009.05.054. Shafer, Craig L. 2001. «Conservation Biology Trailblazers: George Wright, Ben Thompson, and Joseph Dixon». Conservation Biology Conservation Biology 15 (2): 332–344. Smith, Joseph M, e Martha E Mather. 2013. «Beaver Dams Maintain Fish Biodiversity by Increasing Habitat Heterogeneity Throughout a Low-gradient Stream Network». Freshw Biol Freshwater Biology 58 (7): 1523–1538. Smith, K L, V DeVos, H Bryden, L B Price, M E Hugh-Jones, e P Keim. 2000. «Bacillus Anthracis Diversity in Kruger National Park». Journal of Clinical Microbiology 38 (10) (Outubro): 3780–3784. Spence, Mark David. 1999. Dispossessing the Wilderness: Indian Removal and the Making of the National Parks. New York: Oxford University Press. Stander, P, X Ghau, D Tsisaba, e X Txoma. 1996. «A New Method of Darting: Stepping Back in Time». African Journal of Ecology. 34 (1): 48. Stern, Robert, e Mark J Jedrzejas. 2006. «Hyaluronidases: Their Genomics, Structures, and Mechanisms of 85 Action». Chemical Reviews 106 (3) (Março): 818–839. doi:10.1021/cr050247k. «STOP RHINO POACHING NOW!» 2013. Acedido Outubro 2. http://www.stoprhinopoaching.com/rhinoproject8.aspx. Takacs-Santa, A. 2004. «The Major Transitions in the History of Human Transformation of the Biosphere». HUMAN ECOLOGY REVIEW 11 (1): 51–66. «The IUCN Red List of Threatened Species». 2013. Acedido Outubro 25. http://www.iucnredlist.org/. «The RhODIS® Project». 2013. Acedido Outubro 16. http://www.rhodis.co.za/. Tomkiewicz, Stanley M, Mark R Fuller, John G Kie, e Kirk K Bates. 2010. «Global Positioning System and Associated Technologies in Animal Behaviour and Ecological Research». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological Sciences 365 (1550) (Julho 27): 2163–2176. doi:10.1098/rstb.2010.0090. Tougard, C, T Delefosse, C Hänni, e C Montgelard. 2001. «Phylogenetic Relationships of the Five Extant Rhinoceros Species (Rhinocerotidae, Perissodactyla) Based on Mitochondrial Cytochrome b and 12S rRNA Genes». Molecular Phylogenetics and Evolution 19 (1) (Abril): 34–44. doi:10.1006/mpev.2000.0903. Tribe, Andrew, e Derek Spielman. 1990. Restraint and Handling of Captive Wildlife. Glen Osmond: Australian and New Zealand Council for the Care of Animals in Research and Teaching. . 1996. Restraint and Handling of Captive Wildlife. Australian and New Zealand Council for the Care of Animals in Research and Teaching. «Update on the rhino poaching statistics | Department of Environmental Affairs». 2013. Acedido Outubro 25. https://www.environment.gov.za/content/rhinopoaching_statisticsupdate_31january2013. Urbano, Ferdinando, Francesca Cagnacci, Clément Calenge, Holger Dettki, Alison Cameron, e Markus Neteler. 2010. «Wildlife Tracking Data Management: a New Vision». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological Sciences 365 (1550) (Julho 27): 2177–2185. doi:10.1098/rstb.2010.0081. Van Wilgen, B.W, e H.C Biggs. 2011. «A Critical Assessment of Adaptive Ecosystem Management in a Large Savanna Protected Area in South Africa». Biological Conservation 144 (4): 1179–1187. 86 West, Gary, Darryl Heard, e Nigel Caulkett, ed. 2007a. Zoo Animal and Wildlife Immobilization and Anesthesia. 1st ed. Wiley-Blackwell. «WhiteRhinoSpecies.pdf». 2013. Acedido Outubro 3. http://www.savingrhinos.org/RhinoSpecies/WhiteRhinoSpecies.pdf. Willerslev, Eske, M Thomas P Gilbert, Jonas Binladen, Simon Y W Ho, Paula F Campos, Aakrosh Ratan, Lynn P Tomsho, et al. 2009. «Analysis of Complete Mitochondrial Genomes from Extinct and Extant Rhinoceroses Reveals Lack of Phylogenetic Resolution». BMC Evolutionary Biology 9: 95. doi:10.1186/1471-2148-9-95. Wirtz, Peter. 1981. «Territorial Defence and Territory Take-Over by Satellite Males in the Waterbuck Kobus Ellipsiprymnus (Bovidae)». Behavioral Ecology and Sociobiology 8 (2): 161–162 87 Anexo fig. 1 – necrópsia de gato selvagem africano (Felis silvestris lybica). fig. 2 – construção de instalações anexas ao laboratório. fig. 3 – horta providenciada com águas residuais. fig. 4 – vedação com buraco escavados por baixo. fig. 5 – crânio de impala preso num laço. fig. 6 – exemplar de Mastomys natalensis. 88 fig. 7 – rinoceronte com pano a cobrir os olhos. fig. 8 – limpeza do ferimento com peróxido de hidrogénio. fig. 9 – rinoceronte branco molhado. fig. 10 – rinoceronte abatido furtivamente. fig. 11 – necrópsia de rinoceronte branco. fig. 12 – orifício de projéctil de bala na pele rinoceronte. 89 de fig. 13 – abutres em redor da carcaça de girafa. fig. 14 – ponto de entrada de descarga eléctrica. fig. 15 – cadáver de cobo untuoso. fig. 16 – recolha de fezes de cadáver de cobo untuoso. fig. 17 – ansas intestinais fora da cavidade abdominal. fig. 18 – Sistema de monitorização via VHF utilizado. 90