Universidade Estadual de Santa Cruz
Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
UESC
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
Rio Salgado: agente de agravos à saúde das populações
ribeirinhas
JOANA FARIAS DOS SANTOS VALENÇA
ILHÉUS, BAHIA
2003
JOANA FARIAS DOS SANTOS VALENÇA
Rio Salgado: agente de agravos à saúde das populações
ribeirinhas
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente,
Sub-programa Universidade Estadual de Santa Cruz,
como parte dos requisitos para a obtenção do título
de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente, Sub-área de concentração: Planejamento e
Gestão Ambiental no Trópico Úmido
Orientador: Prof. Dr. Neylor Alves Calasans Rego
ILHÉUS, BAHIA
2003
JOANA FARIAS DOS SANTOS VALENÇA
V152
Valença, Joana Farias dos Santos.
Rio Salgado : agente de agravos à saúde
das populações ribeirinhas / Joana Farias dos
Santos Valença. – Ilhéus, Ba : UESC/
PRODEMA, 2003.
xix, 116f. : il. ; anexos.
Orientador: Neylor Alves Calasans Rego.
Dissertação (Mestrado) – Universidade
Estadual de Santa Cruz.
Bibliografia: f. [104]-109.
1. Meio ambiente – Salgado, Rio, Bacia
(Ba). 2. Meio ambiente – Poluição. 3. Água –
Poluição. 4. Diarréia epidêmica. I. Programa
Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio-Ambiente. II. Título.
CDD 574.5268142
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
E MEIO AMBIENTE
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E
MEIO AMBIENTE – PRODEMA SUB-PROGRAMA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
SANTA CRUZ - UESC
RIO SALGADO: AGENTE DE AGRAVOS À SAÚDE DAS
POPULAÇÕES RIBEIRINHAS
JOANA FARIAS DOS SANTOS VALENÇA
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________
Prof. Dr. Neylor Alves Calasans Rego
Orientador
______________________________________
Profª. Dra. Takako Watanabe
Examinadora Externo
______________________________________
Prof. Dr. Francisco Carlos Fernandes de Paula
Examinador Interno
“A gente escreve a partir de uma necessidade de comunicação de comunhão
com os demais, para denunciar o que dói e compartilhar o que dá alegria.
Porém, o que a gente escreve pode ser historicamente útil, somente quando
de alguma maneira coincide com a necessidade coletiva de conquista da
identidade”.
Eduardo Galeano
v
DEDICATÓRIA
Aos meus amados filhos, Anthony e Jussara, motivos maiores
de minha existência, que souberam lidar com muita tranqüilidade as
minhas ausências, sempre me incentivando. Aos quais peço perdão
pelas constantes ausências.
A Antônio, esposo e companheiro de todas as horas, pelo
apoio irrestrito, pela disponibilidade de estar sempre presente em
todas as campanhas de coletas e em todos os momentos durante essa
jornada, que com muita compreensão soube valorizar meu trabalho e
me incentivar nos momentos que eu mais precisava.
vi
AGRADECIMENTO ESPECIAL
A Deus, por ter concedido-me saúde e sabedoria em todos os momentos.
Ao meu orientador, pesquisador competente, por ter desde o início confiado na
minha capacidade de trabalho, apoiando-me e incentivando-me em todos os momentos
sempre com otimismo, competência e compreensão. Obrigada Neylor, pela confiança e por
sua amizade, é um privilégio poder conviver com você.
À todos os Professores que ministraram aulas no Curso de Mestrado e de modo
especial aos Professores Dr. Fremin Velasco, Dr. Paulo Terra, Dr. Salvador Trevisan, Dr.
Max de Menezes e Dr. Neylor Calasans, pelas constantes orientações, compreensão e
paciência, minha profunda gratidão.
À Professora Irene Mauricio Cazorla, pela sua competente assessoria estatística
durante as análises dos dados. Obrigada pela paciência, dedicação e disponibilidade.
Aos meus pais Idalia e Euclides (in memória), pelo incentivo e esforço constante em
nos dá uma boa educação, mesmo sem ter tido esse privilégio.
vii
AGRADECIMENTOS
Para a realização desse trabalho foi necessário o apoio e o incentivo de muitas
pessoas que se dispuseram a ajudar-me na conquista das metas propostas. Tenho com
certeza uma dívida para com meus amigos, colegas, familiares e professores pelo incentivo,
apoio e por me encorajar durante essa jornada.
Aos professores Dr. Arno Heeren e Dra. Izabel Severo, pelo apoio que me
dispensaram desde o início do processo seletivo no curso de Mestrado, pela liberação para
utilização dos equipamentos pessoais e do Laboratório de Monitoramento Ambiental.
À Professor Dr. Fermin Velasco, pela eficiência na condução da Coordenação do
Curso de Mestrado, meu muito obrigada.
Aos estagiários do Laboratório de Monitoramento Ambiental, Balbino, Danilo e
Mário Roberto, pela disponibilidade, competência e profissionalismo durante as coletas de
amostras de água e por terem a paciência em transmitir os principais procedimentos para a
realização de tais análises dados, meu muito obrigado.
Ao Professor Dr. Max de Menezes, pelo constante estímulo e diálogos norteadores
durante o curso.
A Universidade Estadual de Santa Cruz, pela liberação do transporte para a
realização das campanhas de coletas.
Aos motoristas Jorge Luiz, Antenor, Roberto, Gilberto, pela forma competente com
que nos conduziram durante as viagens de coletas, meu muito obrigada.
À minha prima e Bibliotecária Manoelita Maria dos Santos, pela eficiência na
elaboração da ficha catalográfica desse trabalho.
À Gerência de Laboratório da UESC, na pessoa do Professor M. Sc. Luiz Alberto
Matos Silva, por ter me disponibilizado todo apoio. Obrigada Luiz, por você ter me
incentivado, apresentado-me à pessoa que me orientou na realização dessa pesquisa e
acreditado no meu potencial.
Às eficientes secretárias da GERLAB, Aldamir (Alda) e Karem, pelo carinho e
simpatia que sempre me dedicaram, minha gratidão pelas gentilezas.
viii
A Geraldo por sempre estar à minha disposição em todos os momentos em especial
nos mais difíceis.
Ao Químico e amigo Ivon, pelas valiosas contribuições na área de química e
preparação dos reagentes, obrigada pela imensa colaboração.
Ao gentil e eficiente estagiário Allison, pela competente e indispensável
colaboração durante as titulações para determinação do oxigênio dissolvido, meu muito
obrigado.
As estagiárias do Laboratório de Microbiologia, Flávia, Daniela, obrigada pela
colaboração.
As Professoras de Microbiologia Bianca e Dra. Juliana, pelas valorosas
contribuições e apoio.
A Professora Dr. Lise Labejof, pela paciência e dedicação na tradução de Tese do
Francês para o Português.
Meus agradecimentos especiais à Secretária do Mestrado a querida Mônica e a
Secretária do Núcleo de Bacia do Rio Cachoeira a estimada Jalma, companheiras de todas
as horas.
Aos colegas de turma do Mestrado e de modo especial a Clemildes, Marcos e
Antônio Fontes, pelas constantes contribuições e diálogos norteadores.
À minha irmã Ivanete, por está sempre está disponível para cuidar dos meus filhos
durante as minhas ausências.
Aos companheiros da Universidade do Estado da Bahia – Campus X- Teixeira de
Freitas, na pessoa da Diretora desse Departamento Professora M. Sc. Marinez José de
Souza e da Coordenadora de Colegiado Professora Sinoélia Pessoa, agradeço pelo apoio
nessa jornada, substituindo-me nos momentos mais críticos. Meu muito obrigada!
A Secretaria de Saúde, Moema Matos, a Vera Ferreira, a Chefe da Vigilância
Epidemiológica Marlone, Creuza e Silvio, agradeço pelos dados fornecidos.
À CEPLAC- CEPEC, pelos dados de pluviosidade.
Ao Escritório Local da CEPLAC em Ibicaraí, pela liberação do mapa territorial de
Ibicaráí.
Finalmente, agradeço a todos que contribuíram e apoiaram de maneira direta ou
indireta na elaboração desse trabalho.
ix
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................
xiii
LISTA DE TABELAS...........................................................................................................
xvi
RESUMO............................................................................................................................... xviii
ABSTRACT...........................................................................................................................
xx
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................
1
1.1 Hipóteses.......................................................................................................................
3
1.2 Objetivo.........................................................................................................................
4
1.2.1 Objetivos Geral.......................................................................................................
4
1.2.2 Objetivod Específicos..........................................................................................
4
CAPÍTULO 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................
5
2.1 Os Recursos Hídricos e Saúde Pública .........................................................................
9
2.2 Doenças de Veiculação Hídrica. ...................................................................................
10
CAPÍTULO 3
3. ÁREA DE ESTUDO........................................................................................................
15
3.1 Caracterização da Área de Estudo.................................................................................
3.1.1 Localização..............................................................................................................
15
15
3.1.2 Bacia Hidrográfica do Rio Cahoeira.......................................................................
15
3.1.2.1 Localização Geográfica e Características Gerais.............................................
15
3.1.3 Bacia Hidrográfica do Rio Salgado.........................................................................
19
3.1.3.1 Perfil Longitudinal do Rio Salgado ..................................................................
20
3.1.3.2 Características Fluviométricas...........................................................................
21
3.1.3.3 Características Fluviométricas do Rio Salgado... .............................................
22
3.1.3.4 Tipos de Solos e Uso Atual................................................................................
23
x
3.1.4.Caracterização do Município de Ibicaraí/BA............................................................
23
CAPÍTULO 4
4. METODOLOGIA ...........................................................................................................
32
4.1 Análise da Água .............................................................................................................
32
4.1.1 Definição dos Pontos de Coletas ..............................................................................
32
4.1.1.1 Descrição dos Pontos de Coletas........................................................................
33
4.1.2 Parâmetros para Caracterização da Água ................................................................
35
4.1.3 Período de Amostragem ..........................................................................................
36
4.1.4 Procedimentos de Coleta de Dados .........................................................................
36
4.1.4.1 Coleta de Dados Físicos, Químicos e Bacteriológicos no Campo.....................
37
4.1.4.2 Análises Laboratoriais ......................................................................................
42
4.2 Determinação de Parâmetros Climatológicos, Dados Demográficos e de
vazão......................................................................................................................................
44
4.3 Levantamento de Dados de Incidência de Doenças Diarréicas......................................
44
4.3.1 Visitas às Unidades de Saúde da Família (USF)....................................................
46
4.4 Determinação das Áreas de Abrangências de Cada USF e Respectivos Centróides.....
48
4.5 Determinação do Centróide de cada área de abrangência das USF................................
48
4.6 Procedimentos de Análise de Dados...........................................................................
49
CAPÍTULO 5
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................
51
5.1. Parâmetros Climatológicos............................................................................................
51
5.1.1 Precipitação .......... ..................................................................................................
51
5.2 Parâmetros Físicos e Químicos da Água........................................................................
53
5.2.1 Temperatura da Água...............................................................................................
53
5.2.2 Oxigênio Dissolvido...............................................................................................
55
5.2.3 Demanda Bioquímica de Oxigênio.........................................................................
59
5.2.4 Condutividade Elétrica ...........................................................................................
61
5.2.5 Potencial Hidrogeniônico........................................................................................
64
xi
5.3 Parâmetros Micribiológicos............................................................................................
67
5.3.1 Coliformes Totais ...................................................................................................
67
5.3.2 Coliformes Fecais.....................................................................................................
73
5.4 Análise da Taxa de Incidência de Doenças Diarréicas nas Unidades de Saúde da
Família (USF)........................................................................................................................
5.4.1 Taxa de Incidência de Diarréia entre as USF – média mensal dos últimos 4 anos
78
por USF..................................................................................................................................
5.5 Relação entre a Taxa de Incidência de Doenças Diarréicas e Distância do Centróide
de cada Unidade de Saúde da Família...................................................................................
5.6 Análise de Correlação..................................................................................................
5.6.1 Correlação entre os Parâmetros Físico, Químicos e Microbiológicos....................
5.6.2 Análise de Correlação entre os Parâmetros de Qualidade da Água, Precipitação
Unidades de Saúde da Família...............................................................................................
5.6.3 Análise de Correlação entre a taxa de incidência de doenças diarréicas nas USF
na sede municipal e as respectivas medidas de centróide......................................................
82
84
87
87
89
90
CAPÍTULO 6
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................................................................
92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................
95
ANEXOS ..............................................................................................................................
103
Anexo I. Tabelas de Dados Climatológicos.........................................................................
104
Anexo II. Tabelas de Dados Físicos, Químicos e Microbiológicos da Água......................
105
Anexo III. Tabela de Dados de Incidência de Doenças Diarréicas em Ibicaraí/BA............
108
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Composição de águas residuárias domésticas........................................................
2
Figura 2. Sinergismo multifatorial na produção e manutenção das doenças diarréicas......
14
Figura 3. Mapa da Bahia com destaque para a Bacia do Rio Cachoeira...............................
16
Figura 4. Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira......................................................
18
Figura 5. Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Salgado.........................................................
19
Figura 6. Perfil Longitudinal do Rio Salgado........................................................................
20
Figura 7. Confluência dos rios Salgado e Colônia em Itapé/BA...........................................
21
Figura 8. Vazões médias mensais do rio Salgado................................................................
22
Figura 9. Mapa do Município de Ibicaraí/B.........................................................................
Figura 10. Precipitação média mensal no município de Ibicaraí /BA de 1990 a 2002..........
25
26
Figura 11. Índice de desenvolvimento humano de Ibicaraí, da Bahia e do Brasil nos anos
de 1970, 1980 e 1991.............................................................................................................
28
Figura 12. Esperança de vida ao nascer em Ibicaraí/ Ba nos anos de 1970 a 1991...............
29
Figura 13. Taxa de mortalidade infantil/1000 crianças nascidas vivas em Ibicaraí/Ba nos
anos de 1970 a 1991..................................................................................................................................... 30
Figura 14. Produto interno bruto do município de Ibicaraí/BA nos anos de 1970 a 1996....
31
Figura 15. Diagrama unifilar do rio Salgado.........................................................................
32
Figura 16. Vista parcial do lixão do município de Ibicaraí/Ba.............................................
Figura 17. Curtume em Ibicaraí/BA localizado à margem do rio Salgado............................
34
Figura 18. Área de Abrangência de cada Unidade de Saúde da Família no Município de
Ibicaraí/BA ...................................................................................................................................................
Figura 19. Precipitação mensal em Ibicaraí/BA, 1999-2002................................................
Figura 20. Precipitação mensal em Ibicaraí/BA de março/2002 a fevereiro/2003................
35
47
51
52
Figura 21. Variação mensal da precipitação nos 07 dias anteriores às coletas em 52
Ibicaraí/BA de março/2002 a fevereiro/2003.........................................................................
Figura 22. Variação mensal da temperatura da água nos pontos de coleta........................... 54
xiii
Figura 23. Diagrama de caixa dos valores de temperatura da água nos pontos de coleta.....
54
Figura 24. Variação mensal do oxigênio dissolvido por pontos de coleta............................
Figura 25. Diagrama de caixa dos valores de oxigênio dissolvido nos pontos de coleta......
56
58
Figura 26. Variação mensal demanda bioquímica de oxigênio por pontos de coleta...........
60
Figura 27. Diagrama de caixa dos valores de demanda bioquímica de oxigênio nos pontos
de coleta.................................................................................................................................
Figura 28. Variação mensal da condutividade por pontos de coleta.....................................
Figura 29. Diagrama de caixa dos valores de condutividade dos pontos de coleta...............
61
64
Figura 30. Variação mensal do potencial hidrogeniônico por pontos de coleta....................
66
62
Figura 31. Diagrama de caixa dos valores do pH nos pontos de coleta................................. 66
Figura 32. Variação mensal dos coliformes totais por pontos de coleta................................ 68
Figura 33. Diagrama de caixa dos valores dos coliformes totais nos pontos de coleta.........
Figura 34. Variação mensal dos coliformes totais retirando-se os valores para o pontos de
coleta 2.................................................................................................................................
Figura 35. Diagrama de caixa dos valores dos coliformes totais retirando-se os valores
para o ponto de coleta 2.........................................................................................................
Figura 36. Variação mensal dos coliformes fecais por pontos de coleta..............................
70
71
72
74
Figura 37. Diagrama de caixa dos valores dos coliformes fecais nos pontos de coleta......... 75
Figura 38. Variação mensal dos coliformes fecais retirando-se os valores para o ponto de
76
coleta 2...................................................................................................................................
Figura 39. Diagrama de caixa dos valores dos coliformes fecais retirando-se os valores
para o ponto de coleta 2.......................................................................................................
77
Figura 40. Taxa de incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí -BA, de março de 2002 a fevereiro de 2003.............................................................
79
Figura 41. Vista parcial do povoado de Saloméia. Em foco, vala de esgoto a céu aberto e
acúmulo de lixo – Ibicaraí/BA...............................................................................................
80
Figura 42. Diagrama de caixa da taxa de incidência de doenças diarréicas nas USF
Ibicaraí –BA...........................................................................................................................
80
Figura 43. Taxa de incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí /BA, de março de 2002 a fevereiro de 2003.............................................................
82
Figura 44 . Taxa de Incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família
em Ibicaraí /BA do ano de 1999 a 2002............................................................................. ... 83
Figura 45. Relação entre a taxa de incidência de doenças diarréicas e distância do 85
xiv
centróide de cada Unidade de Saúde da Família em relação ao rio Salgado.........................
Figura 46. Vista parcial do Bairro Delfino Guedes, com destaque para vale de esgoto a
céu aberto...............................................................................................................................
xv
86
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Doenças relacionadas com o abastecimento de água .....................................
14
Tabela 2. Municípios pertencentes à Bacia do Rio Cachoeira........................................ 17
Tabela 3. Características dos principais rios da Bacia do Rio Cachoeira......................
18
Tabela 4. Principais Afluentes do Rio Salgado e suas Extensões..................................
20
Tabela 5. Dados Fluviométricos Disponíveis.................................................................
21
Tabela 6. Caracterização do Município de Ibicaraí / BA baseados no Ano 2000.........
24
Tabela 7 - Tipos Climáticos do Município de Ibicaraí e dos Municípios que Integram
a Bacia do Rio Salgado...................................................................................................
Tabela 8. Localização geográfica dos pontos de coletas................................................
27
33
Tabela 9. Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos utilizados para avaliação de
qualidade da água do rio Salgado...................................................................................
35
Tabela 10. Datas e horários em que ocorreram as coletas de amostras de água no rio
Salgado............................................................................................................................
36
Tabela 11. Concentração de oxigênio dissolvido e a sobrevivência dos
peixes............................................................................................................................
Tabela 12. Principais doenças diarréicas associadas com a água...................................
40
45
Tabela 13. Relação das USF, número de famílias e pessoas atendidas no município
de Ibicaraí/BA em 2003..................................................................................................
48
Tabela 14. Resultados da temperatura da água (ºC) por pontos de coleta.....................
53
Tabela 15. Resultados do oxigênio dissolvido (mg/L) por pontos de coleta..................
56
Tabela 16. Resultados da demanda bioquímica de oxigênio (mg/l) por pontos de
coleta..............................................................................................................................
Tabela 17. Resultados da condutividade(μS/cm) por pontos de coleta..........................
xvi
59
62
Tabela 18. Resultados do potencial hidrogeniônico por pontos de coleta.....................
65
Tabela 19. Resultados dos coliformes totais (UFC/100ml) por pontos de coleta..........
67
Tabela 20. Resultados dos coliformes totais (UFC/100ml) retirando-se os valores
obtidos para o pontos de coleta 2..................................................................................
Tabela 21. Resultados dos coliformes fecais (UFC/100ml) por pontos de coleta..........
70
73
Tabela 22. Resultados dos coliformes fecais (UFC/100ml) retirando-se os valores
para o ponto de coleta 2.................................................................................................
77
Tabela 23. Resultados da taxa de incidência de doenças diarréicas nas Unidades de
Saúde da Família em Ibicaraí /BA..................................................................................
78
Tabela 24. Resultados da taxa de incidência de doenças diarréicas retirando-se a
Unidade de Saúde da Família 6 em Ibicaraí –BA...........................................................
81
Tabela 25. Matriz de correlação de Spearman entre as variáveis...................................
88
Tabela 26. Matriz de correlação de Pearson entre as variáveis......................................
91
xvii
RESUMO
O Rio Salgado, sendo um dos principais integrantes da Bacia do Rio Cachoeira, tem
importância fundamental para os municípios que banha, pois muitas pessoas tiram dele o
sustento de suas famílias, como as lavadeiras, pescadores e areeiros. Entretanto, recebe em
suas águas grandes quantidades de esgoto “in natura”, doméstico e hospitalar, chorume do
depósito de resíduos urbano á céu aberto (o chamado lixão municipal) e efluentes de
curtumes. No presente trabalho foram determinados parâmetros climatológicos, parâmetros
microbiológicos, físicos e químicos das águas do rio Salgado, verificando-se a existência de
fatores contaminantes, com concentrações acima dos limites legalmente permitidos.
Verificou-se também a existência de possíveis correlações entre o uso das águas do rio e a
saúde da população de Ibicaraí/BA. Para tanto, identificou-se as lâminas precipitadas na
Bacia do Rio Salgado e a temperatura do ar durante o período de coleta das amostras de
água. Determinou-se os parâmetros coliforme fecais e total, condutividade elétrica,
Oxigênio Dissolvido, Disponibilidade Bioquímica de Oxigênio, potencial Hidrogêniônico e
temperatura da água do rio Salgado durante o período de 12 meses em 6 pontos de coleta.
Identificou-se a freqüência de ocorrência de doenças diarréicas que acometeu a população
de Ibicaraí/BA, nos últimos 04 anos e correlacionou-se tal agravo à saúde com os
parâmetros analisados. A precipitação apresentou alta influência nos parâmetros analisados,
pois esta pode aumentar ou diminuir a concentração de elementos poluentes nas águas do
rio. A temperatura média do ar foi 32,17ºC e da água 29,40°C durante o período
pesquisado. Oxigênio dissolvido variou de 3,70 até 10,48 mg/L, a DBO de 1,91 até 9,05
mg/L, o pH apresentou um caráter de neutro a básico. Os valores de condutividade elétrica
apresentaram-se elevados quando comparados com valores médios dos rios brasileiros. O
número de coliformes total e fecal apresentou-se elevados de acordo com os padrões
legalmente estabelecidos. Apesar do decréscimo da média dos índices de incidência de
doenças diarréicas por Unidades de Saúde da Família ao longo dos anos pesquisados,
Ibicaraí/BA apresenta-se com índices elevados de doenças diarréicas quando comparados
com outros municípios atendidos pela 7ª Diretoria Regional de Saúde da Bahia. Pode-se
concluir que ocorrem ao longo do rio Salgado picos de degradação da qualidade das suas
xviii
águas, especialmente no que se refere aos parâmetros microbiológicos, à medida que o rio
atravessa os povoados, vilas e cidades. Confirmando, em parte, a primeira hipótese da
presente pesquisa. Identificou-se o centróide de cada área de abrangência das Unidades de
Saúde da Família e suas respectivas distâncias em relação ao rio, observando-se que à
distância da moradia das famílias em relação ao rio Salgado, apresentou pouca influência
sobre o risco de contaminação por doenças diarréicas, negando-se a segunda hipótese da
presente pesquisa. Entretanto quando se retira da análise os valores referentes a USF 2 que
apresenta condições especiais, ocorre a confirmação da segunda hipótese, visto que a
maiores taxas de incidência de doenças diarréicas ocorreram nas USFs que apresentaram
menores distâncias do centróide para o rio Salgado. Vê-se como fundamental estabelecer
programas municipais de defesa e preservação do rio Salgado para recuperar a sua
vitalidade, bem como se recomenda melhoria nas condições de saneamento básico
municipal e incentivo às práticas de medidas de Educação Sanitária.
Palavras-chave: Qualidade da água; Poluição orgânica; Doenças diarréicas; Doença
epidemiológica; Rio Salgado.
xix
ABSTRACT
The Salgado’s river, one of the most important rivers of the Cachoeira river basin is of
fundamental importance for the region because several economic activities rely on it.
However, it is being receiving a great amount of non treated sewage, effluents from waste
deposits and tanning activities. In the present research work it was evaluated the organic
pollution of the Salgado’s river, verifying the existence of polluting factors in its water with
concentrations above the legally allowed, analyzing the occurrence probability of offences
to the health in the population of Ibicaraí/BA. It was evaluated the following bacteriological
and physical-chemical parameters: fecal and total coliforms, electric conductivity,
Dissolved Oxygen, Biochemical Oxygen Demand, pH, air and water temperatures during
the period of one year in 6 sampling points. It was also identified the levels of precipitation
in the study area and the occurrence frequency of diarrhea related diseases in the population
of Ibicaraí in the last 4 years. The precipitation occurred in the 7 days previous to the
sampling day presented high influence in the analyzed parameters. The average air
temperature was 32,17ºC and the water was 29,40ºC. Dissolved Oxygen varied from 3,70
to 10,48 mg/l, Biochemical Oxygen Demand varied form 1,91 up to 9,05 mg/l. The pH
presented a neutral to basic character. The collected data showed a severe degradation of
the river water quality. It was measured the centroid distance of each of the Family Unit
Health to the river. It was noticed that no strong correlation was presented relating the
centroid distance to the river and the contamination risk. It is imperative to establish
municipal programs regarding the water quality preservation and it is recommended
improvements in the conditions of basic sanitation.
xx
Key-words: Quality of the water; Organic pollution; Epidemic disease; Water quality;
Salgado s river; Ibicaraí/BA
xxi
1
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO
Quando vista do espaço, a Terra poderia ser chamada Planeta Água, com um
volume de aproximadamente 1.380.000 Km3 de água. Mas apesar dessa enorme
quantidade, apenas cerca de 0,63% da água encontra-se disponível para o consumo humano
no mundo inteiro, pois a maior parte é salgada ou está retida nas geleiras e glaciais ou é
subterrânea. De água doce existe um volume aproximado de 37.000 Km3, o Brasil, com
15% desse total, possivelmente seria chamado de Capital Mundial da água doce. Associada
a tão pequena disponibilidade está a irregularidade da distribuição espacial e temporal de
água na Terra (BARROS, 1998 ).
Apesar da água hoje existir em quantidade suficiente para atender à demanda
mundial, a falta de uma política de preservação dos mananciais de abastecimento, que estão
sendo ameaçados pela ação do homem, e as alterações que vêm sofrendo no seu ciclo
hidrológico, constituem uma ameaça de extinção desse recurso às próximas civilizações
(MUÑOZ, 2000).
A instalação ou a migração das populações em áreas diversas do planeta ocorreu,
geralmente, em função de fenômenos naturais, tais como: disponibilidade de luz solar,
alimento e, indispensavelmente, água. Enquanto fator de garantia da sobrevivência humana,
a água promoveu, no decorrer de toda a história da humanidade, o surgimento e
desenvolvimento de civilizações. O uso adequado dos recursos hídricos possibilitou que
civilizações se abastecessem de alimento e, mais tarde, exportassem o excedente,
acumulando riquezas e associando a água à boa qualidade de vida.
O Brasil, como a maioria dos outros países, polui as suas águas com esgotos
urbanos não tratados, dejetos industriais, produtos químicos, mercúrio dos garimpos,
contaminando as águas dos rios, lagos e mares. De todas as formas de contaminação, a mais
citada e mais freqüente em termos de quantidade é o lançamento de resíduos orgânicos
oriundos dos esgotos domésticos ou industriais sem prévio tratamento. Através da presença
de coliformes totais e fecais, constata-se a poluição da água e, conseqüentemente, a
possibilidade da existência de organismos causadores de doenças nas populações.
2
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu relatório de 2002, destaca a
gravidade do problema, ao observar que a cada oito segundos, uma criança morre devido a
uma doença relacionada à água, e a cada ano, mais de cinco milhões de seres humanos
morrem de alguma doença associada à água não potável, uma vez que cerca de 80% de
todas as doenças que se alastram nos países em desenvolvimento são provenientes da má
qualidade da água.
O rio Salgado, objeto de estudo deste trabalho, sendo um dos principais integrante
da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira, tem importância fundamental para os municípios
que drena, especialmente para o município de Ibicaraí, uma vez que os outros municípios as
pessoas utilizam as águas do rio, porém em Ibicaraí tal uso é mais intenso, pois muitas
pessoas tiram desse rio o sustento de suas famílias, como lavadeiras, pescadores, areeiros e
a comunidade ribeirinha em geral. A água do rio Salgado é utilizada para o consumo
humano, in natura, nos seus primeiros 4 km e, após tal percurso, é utilizada para a
dessedentação de animais, higienização corporal e doméstica, pesca, lazer (recreação de
contato primário). Esse mesmo rio recebe, atualmente, em suas águas, grandes quantidades
de esgoto in natura – doméstico e hospitalar – oriundas dos municípios que atravessa, bem
como chorume do depósito de resíduos urbano á céu aberto (o chamado lixão municipal)
que se localiza em suas margens, efluentes de curtumes e banhos de animais.
Tais esgotos têm, em média, constituintes físicos, químicos e biológicos de acordo
com a figura abaixo:
ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMÉSTICAS
99,9%
0,1%
ÁGUA
SÓLIDOS
30%
70%
ORGÂNICOS
65%
25%
INORGÂNICOS
10%
PROTEÍNAS CARBOIDRATOS GORDURAS
AREIA
Figura 1 – Composição de águas residuárias domésticas
Fonte: Mendonça , 1990.
75%
15%
SAIS
10%
METAIS
3
Como receptor de tantos elementos poluentes, o rio Salgado vem sendo
contaminado por agentes patogênicos que tanto comprometem a sua fauna quanto põem em
risco a saúde da população que dele sobrevive. Verminoses, febre tifóide, dermatites,
hepatite e diarréia são algumas das doenças que podem ser contraídas com o uso ou
consumo das águas do rio Salgado. As doenças diarréicas apresentam altos índices de
incidência na humanidade, em especial na América Latina, onde se constituem na principal
causa de morte em crianças menores de 2 anos em populações pobres e mau nutridas, com
cerca de 80 mil mortes/ano, segundo a OMS. Por esse motivo, são um dos objetos de
estudo da presente pesquisa.
Existem resoluções e portarias no Brasil que regulamentam e estabelecem padrões de
qualidade indispensáveis para que a água seja utilizada pelo homem com segurança, sem
agravos à saúde. No entanto, são escassas as informações científicas sobre as águas do rio
Salgado, informações estas indispensáveis para se entender os mecanismos e processos que
nele ocorrem. Diante do exposto, levanta-se o seguinte questionamento: a contaminação
das águas do rio Salgado pelos esgotos – domésticos e hospitalares – e efluentes de
curtumes encontra-se acima do legalmente permitido, comprometendo a saúde das
populações ribeirinhas?
1.1 HIPÓTESES
- Existe degradação da qualidade das águas do rio Salgado, desde sua nascente até
a confluência com o rio Colônia, devido ao lançamento de agentes poluentes, oriundos do
esgotamento sanitário dos municípios, vilas e povoados que atravessa, além dos efluentes
dos curtumes e do chorume do depósito de resíduos urbano à céu aberto (o chamado lixão
municipal).
-
A população com residência próxima ao rio Salgado, está mais sujeita a contrair
doenças diarréicas, devido a sua maior exposição ao risco de contaminação, por utilizarem
mais freqüentemente as águas do mesmo para diversos fins.
4
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Avaliar parâmetros microbiológicos, físicos e químicos da água em vários pontos do
rio Salgado e identificar possíveis correlações entre a qualidade da água e a incidência de
doenças de veiculação hídrica na população da cidade de Ibicaraí/BA.
1.2.2 Objetivos específicos
•
Determinar as concentrações de coliformes fecais e totais, bem como a
condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, potencial
hidrogeniônico, temperatura da água e a temperatura do ar ao longo do rio Salgado, durante
um ciclo anual (2002/2003), conforme determinado pelo Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) na RESOLUÇÃO nº 020, de 18/06/1986.
•
Identificar a precipitação na Bacia do Rio Salgado durante o período de coletas
das amostras de água.
•
Determinar os índices de ocorrência de doenças diarréicas ocorridos na
população de Ibicaraí, dos últimos 04 anos, correlacionando tal agravo à saúde com os
parâmetros coliformes totais e fecais.
•
Determinar a área de abrangências de cada Unidade de Saúde da Família da
cidade de Ibicaraí e identificar os respectivos centróides.
CAPÍTULO 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Pinho (2001), realizou a avaliação da qualidade das águas do Rio Cachoeira e suas
variações temporal e espacial,
analisando também o seu poder de autodepuração
utioizando o modelo matemático OD-DBO de Streeter e Phelps abordado por von Sperling
(1996) e Branco (1978) e concluiu que o Rio Cachoeira apresentou suas águas com
temperatura média de 26,4ºC, variando de neutra a levemente básica, com decréscimo da
condutividade desde a sua formação até próximo da desembocadura quando a situação se
inverte devido à influência da maré. Na análise de Oxigênio Dissolvido e Demanda
Bioquímica de Oxigênio, segundo resolução CONAMA nº 20 o rio foi classificado como
sendo de Classe 2 no ponto 2 que situa-se no rio Salgado em Itapé até o Matadouro, e em
50% de seu percurso muda para Classe 3 ao receptar os esgotos do Matadouro, Itabuna e
Industria Alimentícia (Cooperativa Grapiuna Agropecuarista) COOGRAP.
Severo (1999), mediu o grau de concentração dos elementos poluentes específicos cobre
(Cu), cromo (Cr) e determinou o impacto nos animais aquáticos, medindo as concentrações
em vários órgãos desses animais. O cobre é oriundo de pesticidas usados no tratamento de
doença dos cacaueiros e o cromo da atividade dos curtumes clandestinos. Esses metais
podem produzir problemas de saúde nas populações ribeirinhas, que consomem os
crustáceos contaminados. A área de estudo foi a Bacia do Rio Cachoeira, que é constituída
pelos rios Colônia, Salgado e Cachoeira, sendo escolhido quatro pontos de coleta em cada
um dos rios estudados e concluiu que há um forte aumento das concentrações de cobre nas
águas e nos sedimentos no ponto S3 (Ibicaraí), tendo sido observado que concentrações são
mais elevadas no mês de janeiro em virtude da diminuição das chuvas.
Lima (2002), realizou em sua pesquisa um estudo retrospectivo, tendo como unidade
geográfica o município de Itabuna, contextualizado na Bacia Hidrográfica do Rio
Cachoeira, no Estado da Bahia. Utilizando a técnica de coleta, medida e tratamento de
dados e fatos, foram observadas mensalmente as freqüências de enfermidades sanitárias
durante o período de 1990 a 1996.
6
As enfermidades estudadas referem-se a febre tifóide, a hepatite A, a cólera, as doenças
diarréicas, a leptospirose e a esquistossomose. Essas enfermidades são integrantes do grupo
classicamente denominado de Doenças de Veiculação Hídrica (DVH) ou Doenças
Redutíveis por Saneamento, enfocando os sistemas de abastecimento de água, saneamento
ambiental e higiene (LIMA, 2002).
Lima (2002) coletou dados da freqüência de doenças (morbidade) em boletins e
planilhas da 7ª Diretoria Regional do Estado da Bahia, da Secretaria Municipal de Saúde da
Fundação Nacional de Saúde (Itabuna e Salvador). As doenças diarréicas e cólera tiveram
os dados coletados basicamente na Fundação Nacional de Saúde, em Salvador, permitindo
resgatar os dados gerados em Itabuna. No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), escritório local de Itabuna, foram coletados dados demográficos e sociais. Através
de séries temporais, foram investigados como fatores ambientais climatológicos e
hidrológicos se relacionam com a morbidade das doenças de veiculação hídrica, frente às
condições de estrutura de saneamento básico do município. Para a relação pluviosidade e
DVH foi feita a análise de correlação, utilizando-se o coeficiente de Pearson e concluiu que
as doenças de veiculação hídrica, notadamente as doenças diarréicas, sofreram redução no
período pesquisado em função do aumento da oferta de água tratada, no início da década de
90. No entanto, ainda persistindo déficit e passado o impacto inicial, as DVH continuaram
endêmicas. As DVHS são uma realidade que precisa ser priorizada no planejamento das
ações dos órgãos públicos do município de Itabuna e de outros que compõem a bacia
hidrográfica do Rio Cachoeira, de forma a contemplar as várias interfaces do problema que
envolve ainda a educação sanitária e ambiental, proteção de mananciais, melhorias
sanitárias. Por ouro lado, ratifica-se a necessidade de políticas pública que avancem na
eliminação da pobreza como forma eficaz de criar condições de sustentabildade na busca de
romper o quadro de exclusão-pobreza-contaminação-doença.
Licht (2001) propôs
interpretação
de
a aplicação de uma metodologia de produção, tratamento e
dados
geoquímicos
multielementares,
buscando
identificar
relacionamentos desses com feições do ambiente natural e com alterações produzidas pelo
homem e compatibilizou bases e dados geoquímicos com dados socioeconômicos e de
saúde pública de modo que fosse possível identificar relações de causa e efeito. A
especialização dos bancos de dados de morbidade e de mortalidade, obtidos através de
7
registros nos órgãos de saúde pública humana e animal, possibilitou a identificação de
estruturas regionalizadas de moléstias endêmicas, não reconhecidas ou não identificadas
por meio do estudo tradicional. O desenvolvimento da tecnologia dos sistemas de
Informações Geográficas, possibilitou a visão abrangente necessária dos sistemas naturais,
já que é capaz de facilmente integrar dados provenientes das mais diversas fontes e obtidos
pelos mais diversos métodos e técnicas desde que referidos ao mesmo espaço geográfico.
Segundo Licht (2001), é imperativo que no conhecimento de um território se
utilize-se investigaçoes que busquem estabelecer os panoramas geoquímicos e as linhas de
referência da abrangência e carências de elementos químicos no ambiente, assim a
utilização de mapas geoquímicos construídos com os dados obtidos pela análise de águas
superficiais mostrou ser um instrumento viável para caracterização de áreas de risco de
moléstias endêmicas.
Santos (1999), realizou uma avaliação da qualidade da água de abastecimento nos
povoados Escurial, Carro Quebrado, Lagoas, Catingueira e Areias, do município de Nossa
Senhora de Lourdes, servidos pelo Sistema Integrado de Abastecimento de Águas de
Escurial e a sua relação com a qualidade de vida da população e concluiu que relativamente
aos parâmetros físico-químicos da água tratada, ocorreram pequenas alterações sendo que a
mais significativa referiu-se a concentração de cloro residual, que apresentou valores
abaixo do mínimo exigido em todos os povoados. Esse fato pode estar relacionado à
existência de bactérias coliformes na água dos domicílios e na própria estação de
tratamento, significando cloração insuficiente e risco potencial à saúde da população.
Ayrosa (2001), avaliou a qualidade da água do rio Pari-Veado, Médio
Paranapenema/SP, por meio do Índice da Qualidade da Água (IQA), metodologia
empregada pela CETESB na sua rede de monitoramento no Estado de São Paulo, tendo
como fundamentação teórica o paradigma geossitêmico aplicado à análise ambiental na
perspectiva geográfica, de tal forma, que a bacia hidrográfica é considerada a unidade de
análise; um sistema aberto no qual interagem fatores abióticos, bióticos e o homem é o
principal fator de derivação do ambiente natural. Nesse contexto, a qualidade da água
superficial é um indicador das condições do território. Foram realizadas um total de 17
(dezessete) coletas no período de 17 de abril a 27 de julho de 2000. De acordo com os
resultados apresentados a qualidade da água na bacia do Pari-Veado, considerando-se todos
8
os pontos de coleta, apresentou-se com qualidade ótima – 2%, boa – 55%, aceitável – 36%,
e ruim – 7%. Em relação à legislação, em todos os pontos, ao menos um parâmetro
apresentou-se fora dos padrões, sendo que houve o predomínio do parâmetro coliformes
fecais como o que mais se apresentou fora dos padrões, seguido pela demanda bioquímica
de oxigênio – DBO.
Após análise dos resultados conclui-se que houve uma estreita relação entre o uso
do solo e o nível de degradação ambiental, a qual pode ser avaliada através da qualidade do
recurso hídrico superficial, e que nessa bacia, a principal fonte de poluição foi o lançamento
de efluentes domésticos, seguidos dos efluentes agroindustriais (AYROSA, 2001).
Santos (2001), caracterizou quimicamente as águas do rio Murubira, na ilha do
Mosqueiro/PA, dando destaque especial para os nutrientes N(NH4+ , NO2 -, NO3 -), P
(H2PO4 -, HPO42- ) , Si-H4SiO4, Ca2+, Mg2+, K+, Na. Oxigênio dissolvido, temperatura,
condutividade elétrica, pH, material em suspensão e os ânions: HCO3-, Cl, coliformes totais
e fecais (E. coli). Os resultados obtidos mostraram uma a forte interferência dos fatores
climáticos no comportamento das espécies na área em estudo. Os nutrientes mostraram
valores dentro de intervalos considerados normais, somente de forma pontual, observou-se
em alguns trechos do rio concentrações anômalas de nitrato,
e valores elevados de
coliformes totais e fecais, principalmente no período seco. Aparentemente o sistema hídrico
foi capaz de suportar a atual carga de esgotos.
Coelho (2001), analisou a qualidade da água do Córrego Franquinho, Sub-Bacia
Tiquatira/ Franquinho, S. P., baseando-se na aplicação do Ìndice para a Preservação da
Vida Aquática (IVA) e em análise como DQO, coliformes fecais, condutividade elétrica,
sólidos sedimentáveis. Foram realizadas oito amostras no período de Março de 1999 a Maio
de 2000. Através das análises físicas, químicas e biológicas, verificou-se que o Córrego
Franquinho apresentou um ambiente altamente impactado com elevados teores de matéria
orgânica e fósforo, caracterizando-se como ambiente eutrófico. As altas concentrações de
elementos metálicos, o baixo nível de oxigênio dissolvido e o elevado percentual de sólidos
foram os principais fatores responsáveis pela toxidade observada. O conjunto dos
resultados demonstrou que o Córrego Franquinho apresentou características inadequadas à
preservação da vida aquática em toda a sua extensão.
9
Silva (2002), realizou avaliação da qualidade da água utilizada para consumo
humano e as condições de saúde/doenças, especificamente às de veiculação hídrica, da
população residente no Bairro Alto do Mateus – João Pessoa - PB. Os passos
metodológicos utilizados foram à pesquisa empírica através da: observação participante,
realização de entrevistas semi-estruturadas, visitas aos locais dos poços, participação em
reuniões das associações dos moradores e as histórias de vida e pesquisa experimental
através da realização de coletas e análises das amostras de água de quatro pontos
selecionados nos três poços de abastecimento público localizados no Bairro Alto do Mateus
tendo concluído que a má qualidade da água e os maus cuidados com a água utilizada pela
população do Bairro Alto do Mateus contribuíram para aumentar o índice de doenças
parasitárias de veiculação hídrica e associadas com a água, sobretudo giardíases, escabioses
e verminoses. A ausência de saneamento básico apresentou-se como uma das principais
causas que contribuíram para o aumento das doenças de pele, das verminoses e das
giardíases. A qualidade deficiente foi evidenciada pela presença de coliformes fecais em
algumas amostras de águas subterrâneas. O alto índice de analfabetismo, associado com os
deficientes hábitos higiênicos contribuiu para aumentar a incidência de doenças de
veiculação hídrica ou associadas com a água.
2.1 OS RECURSOS HÍDRICOS E SAÚDE PÚBLICA
Os recursos hídricos determinam sempre a existência humana, a instalação ou a
migração das populações em áreas do planeta e o surgimento ou desaparecimento de
civilizações. Portanto, a saúde humana está definitivamente relacionada à disponibilidade
de recursos hídricos, que são necessários à sua relação positiva com o meio ambiente,
sendo o homem produto e produtor das condições ambientais (ALEXANDRE FILHO et al.
2000).
Saúde sendo entendida de acordo com a definição da Organização Mundial da
Saúde (2002) onde saúde é um estado de completo bem-estar, físico, mental e social e não
apenas a ausência de doenças ou enfermidades.
10
Afirma Alexandre Filho et al. (2000), que o uso adequado dos recursos hídricos
permitiu que civilizações se abastecessem de alimentos e exportassem o excedente, criando
riqueza e associando a água à boa qualidade de vida. Por outro lado, o uso inadequado
destes mesmos recursos com o aparecimento de doenças transmitidas por vetores fez
declinar grupos humanos e tornar inabitável grandes áreas potencialmente produtivas.
Como caso histórico observou-se o abandono de grandes áreas produtivas no sul da
Espanha, quando da expulsão da civilização árabe e seu domínio de técnicas de irrigação
por inundação, em decorrência de grandes epidemias de malária com a proliferação de
mosquitos transmissores da doença.
A saúde sempre esteve relacionada às questões do uso da água, como bem e como
risco. Afirma, Alexandre Filho et al. (2000), que o uso da água como produto fundamental
e indispensável à saúde das populações humanas deve ter prioridade sobre os demais,
conforme garantido pela legislação em vigor. O artigo 1º da lei 9.433, de 8 de janeiro de
1997 (Lei das Águas) (Art.1) , inciso III considera que “em condições de escassez, o uso
prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação dos animais”. O
código das Águas, de 1934 – decreto 24.643, de 10 de julho de 1934, e Legislação
Complementar, através do título II – artigo 36 – parágrafo 1º - já preconizava que “Quando
este uso depender de derivação, será regulado, nos termos do Capítulo IV, do Título II, do
Livro II, tendo, em qualquer hipótese, preferência e derivação para o abastecimento das
populações.
Segundo Alexandre Filho et al. (2000), como exemplo do que se pode obter com a
melhoria de qualidade da água e destino adequado dos dejetos, na redução da morbidade,
tem-se:
•
Redução de 80% a 100% nos casos de febre tifóide e paratifóide;
•
Redução de 60 a 70% nos casos de tracoma e esquistossomose;
•
Redução de 40% a 50% dos casos de disenteria bacilar, amebíase,
gastroenterites e infecções cutâneas.
11
2.2 DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA
A palavra veículo é utilizada para referir material ou objeto contaminados que serve
para conduzir, introduzir um bioagente a um hospedeiro definitivo. São veículos: a água, o
leite e alimentos em geral; a superfície do corpo, roupas e objetos (ALMEIDA, 1995).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 80% de todas as doenças que se
alastram nos países em desenvolvimento são provenientes de água de má qualidade.
Diversas doenças infecciosas e parasitárias, diz o estudo de Heller e Möller (1995) apud
Barros et al. (1995), “tem no meio ambiente uma fase do seu ciclo de transmissão” que só
poderia ser interrompida por medidas de saneamento.
Cerca de 80% de todas as doenças humanas estão relacionadas à água não tratada,
saneamento precário e falta de conhecimento básico de higiene e dos mecanismos das
doenças. Doenças transmitidas pelas águas respondem por no mínimo 25 milhões de
mortes a cada ano no Terceiro Mundo; e os custos das águas poluídas para a vida humana
são enormes. Há uma forte ligação entre falta de acesso e água limpa e altos índices de
mortalidade infantil (CAMARU et al. 1993).
As principais causas de morte em crianças menores de 2 anos em populações pobres
e má nutridas são as diarréias e as afecções respiratórias, afirma MENDONÇA (1990).
Segundo Alexandre Filho et al. (2000), são várias as maneiras do homem adoecer
através do uso da água: da ingestão direta, da preparação de alimentos, da higiene pessoal,
da agricultura, da higiene do ambiente, dos processos industriais e das atividades de lazer,
que podem ser distribuídos em duas categorias de riscos, quais sejam:
•
Riscos relacionados com a ingestão de água contaminada por agentes biológicos
(bactérias, vírus e parasitos), através de contato direto ou por meio de insetos
vetores que necessitam da água em seu ciclo biológico;
•
Riscos derivados de poluentes químicos e radioativos, geralmente efluentes de
esgotos industriais ou causados por acidentes ambientais.
Em resumo, diz Alexandre Filho et al. (2000), as medidas para controlar a
transmissão de enfermidades através da água incluem as seguintes:
12
Abastecimento de água:
•
Seleção de fontes não contaminadas, como por exemplo, poços profundos;
•
Tratamento de água bruta, especialmente cloração;
•
Adequação de ambientes contaminados por outros mais adequados, confiáveis e
seguros.
•
Proteção de fontes.
•
Controle da qualidade da água.
Disposição sanitária de excretas:
•
Proteção dos sistemas de abastecimento de água;
•
Proteção do meio ambiente;
•
Apoio das atividades de controle dos sistemas de abastecimento de água e da
disposição de excretas;
•
Destruição, disposição, isolamento ou diluição dos resíduos fecais;
Educação sanitária
•
Higiene pessoal;
•
Proteção do meio ambiente
•
Apoio às atividades de controle de sistemas de abastecimento de água e da
disposição de excretas.
Segundo Richter (1998), as doenças mais comuns, de transmissão hídrica, são as
seguintes: febre tifóide, agente causador Salmonela tifóide; febre paratifóides, agentes
Salmonelas paratifóides (A, B, C); disenteria bacilar, agente Bacilo desentérico; disenteria
amebiana, agente Entamoeba histolítica; cólera, agente Vibrião da cólera; diarréia, agente
Enterovírus. E. Coli; Hepatite infecciosa, agente Vírus tipo A e Giardiase, agente Giárdia
lamblia. Vários protozoários causam doenças intestinais e são transmitidos por alimentos,
pela água, por moscas e por contato direto de pessoa a pessoa. A mais importante dessas
moléstias, em virtude de sua grande incidência e pelo fato de ocorrerem algumas mortes, é
a causada pela Entamoeba histolytica (PELCZAR, 1996).
13
Além desse males, Richter (1998), afirma que existem ainda os casos que podem
ocorrer em conseqüência da presença na água de substâncias tóxicas ou nocivas. Mais de
40 enfermidades podem ser transmitidas direta ou indiretamente, seja por contato com
águas poluídas, ou por falta de higiene ou ainda devido a vetores que vivem no meio
aquático.
A Tabela 1 apresenta a relação das doenças relacionadas com o abastecimento de
água, os agentes patogênicos e as medidas de correlação necessárias.
Essas doenças transmitidas pelos alimentos e água são de grande importância em
saúde pública. As diarréias ainda se situam como causa principal de morte e doenças
(PELCZAR, 1996).
As doenças de veiculação hídricas (DSV) historicamente são incluídas como sendo
objeto de estudos da epidemiologia. Na busca de soluções para um surto epidêmico de
cólera em Londres, o Dr. Snow (1854) pela primeira vez procedia, de forma sistemática, a
uma intervenção epidemiológica, negando a origem miasmática de epidemia, afirmando sua
origem hídrica e ressaltando os aspectos sociais relacionados (ROUQUAYROL, 1993).
De acordo com Forattini (1992), epidemiologia é o ramo do estudo científico que
tem por objeto os eventos concernentes à saúde e a qualidade de vida na comunidade
antrópica, em seus aspectos causais, condições determinantes e de distribuição, objetivando
aplicar os conhecimentos auferidos para a solução dos problemas a ela relacionados.
O campo das preocupações epidemiológico concentra-se principalmente sobre os
métodos de transmissão das doenças e o combate às epidemias, seu fim último é contribuir
para a melhoria da qualidade de vida e o surgimento do nível de saúde das coletividades
humanas, assim entendida a epidemiologia é o eixo da saúde pública, pois esta considera o
conjunto da população e não apenas o indivíduo (ROUQUAYROL, 1993).
14
Tabela 1 – Doenças relacionadas com o abastecimento de água.
Transmissão
Pela água
Doença
Cólera
Febre tifóide
Leptospirose.
Giardíase
Amebíase
Hepatite
infecciosa
Diarréia aguda
Pela falta de limpeza e Escabiose
higienização com a Pediculose
água.
Tracoma
Conjuntivite
bacteriana aguda
Salmonelose
Tricuriase
Enterobíase
Encilostomíase
Ascaridíase
Através de vetores que Malária
se relacionam com a
Dengue
água
Febre amarela
Filariose
Associada a água
Fonte: Oliveira, 1990.
Agente patogênico
Medida
- Implantar
sistema de
abastecimento e tratamento
de água, com fornecimento
em quantidade e qualidade
para consumo humano, uso
doméstico e coletivo.
-Proteção de contaminação
dos mananciais e fontes de
Cryptosporidium, água.
Vibrio cholerae
Salmonella typhi
Leptospira interrogans
Giardia lambia
Entamoeba histolytica
Hepatite vírus A
Balantidium coli,
Bacilus
cereus,
S.
aureus,
Campylobacter,
E.
coli
enterotoxogênica e enteropatogênica,
Shigela,
Yersinia
enterocolítica,
Astovirus,
Calicivirus,
Norwalk,
Rotavirus A e B.
Sarcoptes scabiel
Peduculus humanus
Clanydia trachoma
Heamophilus aegyptius
Salmonella typhimurium
Trichuris trichiura
Enterobius vermiculares
Ancylostoma duodenale
Ascaris lumbricoides
Pasmodium vivax, P.
falciparum
Brupo B dos arborvírus.
RNA vírus
Wuchereria bancrofti
Esquistossomose Schistosoma mansoni
malarie
e
- Implantar sistema adequado
de esgotamento sanitário.
- Instalar abastecimento de
água preferencialmente com
encanamento no domicílio
- Instalar melhorias sanitárias
domiciliares e coletivas.
- Instalar reservatório de
água
adequado
com
sistemática.
P. - Eliminar o aparecimento de
criadouros com inspeção
sistemática e medidas de
controle (drenagem, aterro e
outros)
- Dar destinação final
adequada
aos
resíduos
sólidos.
- Controle de vetores e
hospedeiros intermediários.
CAPÍTULO 3
3. ÁREA DE ESTUDO
Delimitou-se como área de estudo o rio Salgado, desde a sua nascente, no município
de Firmino Alves, até a sua foz, em Itapé. Optou-se pelo estudo da morbidade, doenças
diarréicas ocorridas na população do município de Ibicaraí. Escolheu-se tal município, por
ser este o último município que o rio Salgado atravessa antes da confluência com o rio
Colônia e formação do rio Cachoeira, tendo, assim, recebido todo aporte de contaminantes
da bacia. Embora a água consumida no município não seja oriunda do rio, a população,
especialmente a ribeirinha, utiliza-a para pesca, lazer, higienização pessoal e doméstica.
Outro fator que motivou a escolha do município de Ibicaraí, foi a facilidade do
acesso às informações relativas à saúde pública do município.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1.1 Localização
A área estudada encontra-se totalmente inserida, de acordo com a proposta do Plano
Diretor de Recursos Hídricos da Bahia (1996), nas Bacias da Região Administrativa do
Leste, na divisão hidrográfica do Estado da Bahia, que abrange as Bacias Hidrográficas dos
rios Cachoeira, Almada e Una (PINHO, 2001).
3.1.2 Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira
3.1.2.1 Localização Geográfica e Características Gerais
A Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira encontra-se situada no sul da Bahia, entre as
coordenadas 14o 42’ / 15o 20’ S e 39o 01’ / 40o 09’ W. A sua área é de 4.600 km2,
abrangendo doze municípios: Firmino Alves, Floresta Azul, Jussari, Itajú do Colônia,
16
Ibicaraí, Itapé, Itabuna, Ilhéus, Lomanto Júnior, Santa Cruz da Vitória, Itororó e Itapetinga.
A população total da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira é de aproximadamente 600.000
habitantes (BAHIA, 2001). Limitada ao norte pelas bacias dos rios de Contas e Almada; ao
sul, pelas bacias dos rios Pardo e Una; a oeste, pela bacia do rio Pardo e a leste pelo oceano
Atlântico (OLIVEIRA, 1997 apud BAHIA, 2001), a bacia o rio Cachoeira pertence à
Região Administrativa da Água (RAA) XI: Bacias do Leste (Figura 3).
Figura 3. Mapa da Bahia com destaque para a Bacia do Rio Cachoeira
Fonte: Schiavetti, 2002
A Tabela 2 apresenta os municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira.
17
Tabela 2. Municípios pertencentes à Bacia do Rio Cachoeira
Município
Área total (km2)
Área pertencente à bacia
2
(km )
Região econômica
%
Ilhéus
1.847,7
194,6
10,53
R4 Litoral Sul
Itabuna
444,8
313,9
70,5
R4 Litoral Sul
Ibicaraí
220
200
90,9
R4 Litoral Sul
444,8
444,8
100
R4 Litoral Sul
358
358
100
R4 Litoral Sul
250,9
250,9
100
R4 Litoral Sul
1.221,8
1221,8
100
R4 Litoral Sul
Floresta Azul
352,9
352,9
100
R4 Litoral Sul
Itororó
331,9
331,1
100
R8 Sudoeste
Itapetinga
1.615
403,7
25
R8 Sudoeste
Firmino Alves
160
160
100
R8 Sudoeste
Lomanto Júnior
121
38
31
R4 Litoral Sul
Itapé
Jussari
Santa Cruz da Vitória
Itajú do Colônia
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995/96 e malha municipal Digital do Brasil 1996.
A bacia do rio Cachoeira origina-se na nascente do rio Colônia, numa altitude de
800 m, na Serra da Ouricana (município de Itororó), atingindo o seu patamar mais baixo na
superfície litorânea do município de Ilhéus. O rio Colônia, após estender-se por 100 km,
banhando os municípios de Itororó, Itapetinga e Itajú do Colônia, tem sua confluência com
o rio Salgado no município de Itapé, passando então a receber o nome de rio Cachoeira. O
rio Salgado tem sua nascente no município de Firmino Alves e apresenta um curso de 64
km, banhando os municípios de Santa Cruz da Vitória, Floresta Azul, Ibicaraí e Itapé, onde
desemboca no rio Colônia. O rio Cachoeira, após percorrer 50 km nos municípios de Itapé,
Itabuna e Ilhéus, tem a sua foz no local conhecido como Coroa Grande (município de
Ilhéus), onde confunde as suas águas com as dos rios Santana e Fundão (OLIVEIRA, 1997
apud BAHIA, 2001), conforme ilustra a Figura 4.
18
Figura 4. Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira
A Tabela 3 apresenta dados gerais sobre os principais rios da Bacia do Rio Cachoeira.
Tabela 3. Características dos principais rios da Bacia do Rio Cachoeira
Rio
R. Colônia
R. Salgado
R. Piabanha
R. Cachoeira
Fonte: Bahia (2000)
Características Gerais
Nascente
Percorre
Banha
Nascente
Percorre
Banha
Nascente
Percorre
Banha
Início
Percorre
Banha
Serra da Ouricana ( Itororó) +/- 800 m alt.
100 km
Itororó, Itajú, Itapé
Serra do Salgado (Ipiranga – F Alves) +/- 720 m alt.
64 km
F. Alves, St.Cruz Vitória, Florest Azul, Ibicaraí, Itapé
Jussari +/- 50 m alt.
50 km
Jussari, Itapé, Itabuna
Itapé (confluência do Salgado e Colônia) 100 m alt.
50 km
Itapé, Itabuna, Ilhéus.
19
3.1.3 Bacia Hidrográfica do Rio Salgado
Segundo Bahia (2000), o rio Salgado é um dos mais importantes afluentes do rio
Cachoeira, apresentando uma área de drenagem de aproximadamente 1.020 km2 e
perímetro de 178 km (Figura 5).
Figura 5. Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Salgado
Fonte: Banco de Dados Núcleo de Bacias Hidrográficas (NBH/UESC)
O rio Salgado nasce na Serra do Salgado, a aproximadamente 4 km do povoado de
Ipiranga, no município de Firmino Alves.
Em toda a sua extensão de 64 km, o rio Salgado tem como principais afluentes, à
margem esquerda, os Ribeirões Água Vermelha, do Luxo e Salomé, Córrego Grande e
Ribeirão Grande; à margem direita, os Ribeirões do Limoeiro, dos Barbados e do Batista
(BAHIA, 2000).
A Tabela 4 apresenta os principais afluentes do rio Salgado e suas extensões.
20
Tabela 4 – Principais Afluentes do Rio Salgado e suas Extensões
Margem Esquerda
Margem Direita.
Curso d’Água
Extensão (km)
Curso d’Água
Extensão (km).
Ribeirão Água Vermelha
16
Ribeirão Limoeiro
11
Ribeirão do Luxo
11
Ribeirão dos Barbados
06
Ribeirão Salomé
14
Ribeirão do Batista
05
Córrego Grande
06
-
-
Ribeirão Grande
07
-
-
Fonte: Bahia (2000)
3.1.3.1 Perfil Longitudinal do Rio Salgado
De acordo com o perfil longitudinal, apresentado na Figura 6, pode-se observar que
a declividade do rio Salgado apresenta alterações acentuadas ao longo do seu percurso, com
uma declividade média em torno de 0,51%. No município de Ibicaraí, situado à margem
esquerda do rio Salgado, entre os afluentes Ribeirão do Luxo e Córrego Grande, apresentase com uma declividade bastante acentuada, em torno de 1m a cada 3000m de extensão.
Entretanto, nos últimos 12 quilômetros de extensão, a declividade decresce acentuadamente
(0.08%).
Pe rfil L on gitu d in al
R io S algad o
500
400
R IB .
B AT IST A
R IB . D O
L IM O E IR O
R IB . Á G U A
VE RM ELH A
450
R IO D E
DENTRO
R IB .
G RAN D E
R IB .
SALO M É
350
300
R IB . D O S
BARB ADO S
250
R IO
C O L Ô N IA /
C A C H O E IR A
200
R IB . D O
LUX O
150
CÓRREGO
GRAN D E
100
50
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Figura 6. Perfil Longitudinal do Rio Salgado
Fonte: Bahia , 2000
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
21
A Figura 7 mostra a confluência dos rios Salgados e Colônia, no município de Itapé,
formando o rio Cachoeira.
Figura 7. Confluência dos rios Salgado e Colônia em Itapé/BA
Fonte: Bahia (2000)
3.1.3.2 Características Fluviométricas
A caracterização fluviométrica engloba a apresentação e discussão dos dados
disponíveis e das características das vazões médias e históricas, a partir dos dados dos
postos fluviométricos existentes nas bacias (BAHIA, 2000). A Tabela 5 apresenta dados
fluviométricos disponíveis, com destaque para o posto com código 53160000.
Tabela 5. Dados Fluviométricos Disponíveis
Código
Nome da
estação
5316000 Cajueiro
0
Ibicaraí
Fonte: Bahia, 2000.
Nome do
curso
d’água
Rio
Salgado
Área de
drenagem
km2
1105
Coordenadas
Lat
Período de
Entidade observação
Long
14º54’ 39º27’ DNAEE
Média Geral de
vazão (m3/s)
Início
Fim
11-1965
12-1985
11,12
22
3.1.3.3 Características Fluviométricas do Rio Salgado
As características das séries de dados do posto fluviométrico 53160000 – rio
Salgado – são obtidas a partir do estudo de vazões médias.
As variações da vazão média histórica para cada mês do ano hidrológico são
apresentadas no fluviograma da Figura 8. O ano hidrológico difere do ano civil, por
considerar como início o mês em que começam as chuvas ou o mês de águas mais baixas.
No caso do rio Salgado, o ano hidrológico vai de setembro de um ano até agosto do ano
subseqüente (BAHIA, 2000).
Vazão média mensal[m3/s]
18,00
16,00
14,00
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
Figura 8. Vazões médias mensais do rio Salgado
Fonte: Bahia , 2000.
No rio Salgado, o maior escoamento se estende de novembro a abril, com o pico da
vazão média no mês de dezembro, ocorrendo uma segunda elevação em fevereiro e outra
em julho. Tais variações acompanham o perfil das médias de vazões apresentadas para os
demais rios da Bacia do Rio Cachoeira, cujo período de maior escoamento se estende
também de novembro a abril, com o pico da vazão média no mês de dezembro, podendo
ocorrer uma segunda elevação em fevereiro ou março (BAHIA, 2000).
23
3.1.3.4 Tipos de Solos e Uso Atual
De acordo com Bahia (2000), a maior parte da Bacia do Rio Salgado situa-se na
depressão Itabuna-Itapetinga, unidade geomórfica que apresenta duas coberturas
pedológicas principais: os Chernossolos e os Argissolos. Esses dois domínios ocupam cerca
de 80% dos solos.
Outro panorama característico é a pecuária, que predomina nos municípios mais ao
interior da Bacia do Rio Salgado, como Itapé, Santa Cruz da Vitória, Floresta Azul e
Firmino Alves. Correspondem ao domínio pedológico dos Chernossolos, solos rasos ou
pouco profundos, mas com alta saturação por bases, o que lhes confere uma alta fertilidade.
A pecuária também está presente no domínio dos Argissolos – solos com horizonte B
textural, ou seja, com gradiente textural em alguns casos abruptos, o que lhes confere alto
potencial erosivo (BAHIA, 2000).
Nas regiões das encostas e no vale do rio Salgado predominam os Planossolos
Nátricos (Solonetz Solodizado), ocupados com pastagens. Estes são solos salinos,
caracterizados pelo acúmulo de sais e por uma textura argilosa do horizonte subsuperficial,
dando-lhes alto gradiente textural e baixa infiltração, características que para pastagens não
são tão prejudiciais, porém dificultam seu uso para outros cultivos (BAHIA, 2000).
3.1.4
Caracterização do Município de Ibicaraí/BA
Cidade integrante da Região Litoral Sul da Bahia, Ibicaraí foi criada por força da
Lei Estadual de 22/10/1952, possuindo uma área de 217,89 Km2, com uma população de
28.861 habitantes, sendo 19.339 na área urbana e 9.522 na rural (IBGE, Censo 2000). Na
Tabela 6, observa-se a caracterização do município de Ibicaraí.
24
Tabela 6. Caracterização do Município de Ibicaraí / BA, com base no ano 2000.
Descrição
Valor Unidade
Pessoas residentes – 2000
28861 habitantes
Homens residentes – 2000
14393 habitantes
Mulheres residentes – 2000
14468 habitantes
Pessoas residentes - 10 anos ou mais de idade - alfabetizada - 2000
16854 habitantes
Domicílios particulares permanentes – 2000
7462 domicílios
Domicílios particulares permanentes - com banheiro ou sanitário esgotamento sanitário - rede geral 2000
4183 domicílios
Domicílios particulares permanentes - forma de abastecimento de água - rede
geral – 2000
5782 domicílios
Domicílios particulares permanentes - destino de lixo - coletado - 2000
5491 domicílios
Área total – 2000
217,89
km2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2000).
O município fica 470 km distante da Capital do Estado (BAHIA, 1999), sendo
limitado ao Norte com Almadina, ao Sul com Itapé, a Leste com Coarací, Governador
Lomanto Júnior e Itabuna, e ao Oeste com Floresta Azul, tendo como coordenadas
geográficas: 14º 36’ de latitude Sul e 39º 41’ de longitude Oeste Gr. (VELOSO, 1998),
como mostra a Figura 9.
25
Figura 9. Mapa do Município de Ibicaraí/BA
Fonte: Pesquisa de campo, 2003 – Adaptado CEPLAC / CEPEC / PEDOLOGIA, 1980.
26
De acordo com Calasans (2002) apud Schiavetti et al (2002), o clima é uma
generalização ou integração das condições do tempo para um certo período, em uma
determinada área.
A sede do município de Ibicaraí possui altitude de 160 m. O município de Ibicaraí
apresenta tipo climático de úmido a subúmido e de subúmido a seco. Com uma precipitação
média mensal nos últimos 13 anos de 132,9 mm para o mês de novembro e 51,9 mm para o
mês de setembro (Figura 10). Sua temperatura média anual é de 23,8ºC (Sistema de
Estatísticas e Informações – SEI, 1999).
140
Precipitação (mm)
120
100
80
60
40
20
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
O ut
Nov
Dez
Figura 10. Precipitação média mensal no município de Ibicaraí /BA, de 1990 a 2002.
Fonte: CEPALC / CEPEC / CLIMATOLOGIA, 2003.
A Tabela 7 representa os tipos climáticos dos municípios que integram a Bacia do Rio
Salgado, conforme classificação de Koepen.
27
Tabela 7. Tipos Climáticos do Município de Ibicaraí e dos Municípios que Integram a
Bacia do Rio Salgado, 1999
Municípios
Tipo Climático
Firmino Alves
subúmido a seco e úmido a subúmido
Floresta Azul
úmido a subúmido e subúmido a seco
Ibicaraí
úmido a subúmido e subúmido a seco
Itapé
subúmido a seco
Santa Cruz da Vitória
úmido a subúmido e subúmido a seco
Fonte: SEI , 1999.
A cidade dispõe de rede de esgoto e rede geral de abastecimento de água. De acordo
com os dados do Censo Demográfico 2000, feito pelo IBGE, quanto ao número de
domicílios urbanos abastecidos por rede geral de água, o município de Ibicaraí encontra-se
abaixo da média da Bahia, possuindo 5.130 domicílios abastecidos por rede geral de água,
ou seja, são atendidos 89,2% dos domicílios, classificando-se em 4º lugar entre os
municípios abaixo da média estadual.
Conforme dados do mesmo Censo (IBGE, 2000), o município de Ibicaraí possui um
total de 7.462 domicílios, sendo que em 73,6% destes há coleta de lixo; em 10,3% dos
domicílios o lixo é queimado ou enterrado na propriedade; 15,1% dos domicílios jogam o
seu lixo em terreno baldio, logradouro, rio ou lago, enquanto que 1.0% deposita o lixo em
outro destino.
O serviço de limpeza da Prefeitura se dá por varrição e coleta por caçamba; o
depósito a céu aberto é o destino do lixo (Sistema de Estatísticas e Informações – SEI,
1999).
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Ibicaraí, através do Sistema de
Informação de Atenção Básica, vinculado à Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério
da Saúde (Sistema Único de Saúde, 2003), o município de Ibicaraí atende a 6.734 famílias,
perfazendo um total de 106,96% de famílias cadastradas, segundo a estimativa do Sistema
Único de Saúde, que é de 6.296 famílias para Ibicaraí. As famílias cadastradas apresentam
o seguinte perfil:
- Abastecimento de água: 85% das famílias são atendidas pela rede pública de
abastecimento; 6,24% consomem água de poço ou nascente; 8,60% obtêm água de outros
locais.
28
-
Tratamento de água no domicílio: filtração – 58,21% das famílias; fervura –
1,75%; cloração – 4,86%; e sem tratamento – 35,18%.
-
Destino do lixo: 71,79% das famílias são atendidas pela coleta pública; 6,06%
queima ou enterra o seu lixo e 22,19% joga o lixo ao céu aberto.
-
Destino das fezes: 60,74% das famílias são atendidas pelo sistema de esgoto;
6,27% possuem fossa e 33% depositam-nas a céu aberto.
A principal atividade agrícola do município ainda é a cacauicultura, seguindo-se a
bovinocultura, as lavouras de mandioca, seringueira, dentre outras. Existem, no município,
325 fazendas de cacau, 40 de pecuária de corte, 102 de pecuária leiteira e 102 de pecuária
com duplo propósito (leite e corte). Destas, a CEPLAC atende a 294 fazendas de cacau e 72
mistas de cacau com pecuária (VELOSO, 1998). Conforme a Secretaria da Fazenda e o
escritório local de Ibicaraí, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CEPLAC, a principal fonte de renda do município continua sendo a produção de cacau e,
em segundo lugar, a pecuária, destacando-se, segundo o guia Cultural da Bahia, o rebanho
de muares.
Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano, o IBGE, através do Censo
Demográfico 2000, detectou que o município de Ibicaraí encontra-se abaixo da média do
Estado da Bahia, do Brasil e da Região Nordeste (informações levantadas entre 1980 e
1991). Esses dados caracterizam claramente as difíceis condições de sobrevivência dos
IDH (0-1)
moradores dessa comunidade (Figura 11).
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
Ibicaraí BA
Região Nordeste NE
Bahia BA
Brasil BR
1970
1980
1991
Figura 11. Índice de desenvolvimento humano de Ibicaraí, da Bahia e do Brasil nos anos de
1970, 1980 e 1991
Fonte: Dados Básicos - IBGE , 2000 (Fundação João Pinheiro).
29
Com relação ao índice total de Esperança de Vida ao Nascer, de acordo com dados
do IBGE, através do Censo Demográfico 2000, comparando-se o município de Ibicaraí com
os demais municípios do Estado da Bahia, da Região Nordeste e do Brasil como um todo,
fica claro que no ano de 1970 e 1991 a esperança de vida ao nascer para um Ibicaraiense
encontrava-se abaixo da média em relação aos demais nordestinos e brasileiros; embora
haja um positivo aumento de tal índice, de 45,7 anos, em 1970, para 59,7 anos, em 1991,
como representa a Figura 12.
80
Anos
60
Ibicaraí BA
Bahia BA
40
Região Nordeste NE
Brasil BR
20
0
1970
1980
1991
Figura 12. Esperança de vida ao nascer em Ibicaraí/ Ba nos anos de 1970 a 1991
Fonte: Dados Básicos - IBGE , 2000 (Fundação João Pinheiro).
Apesar da esperança de vida ao nascer para o município de Ibicaraí, em comparação
com os demais Estados Nordestinos e Brasileiros, encontrar-se abaixo da média, nos anos
de 1970 e 1991, o Censo Demográfico 2000 do IBGE detectou uma queda vertiginosa da
taxa de mortalidade infantil para o município, que saiu do patamar de 178,17 crianças
mortas a cada 1000 nascidas vivas, no ano de 1970, para a taxa de 71,79 crianças mortas
em cada 1000 no ano de 1991; já no ano de 2000, a taxa caiu para 47,38%. Este fato, na
realidade, ocorreu não apenas para o município de Ibicaraí, mas também para todo Estado
da Bahia e para a Região Nordeste, de acordo com o IBGE, no Censo Demográfico de 2000
( Figura 13).
Taxa de incidência (por mil crianças nascidas vivas
30
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Ibicaraí
Bahia
Região Nordeste
Brasil
1970
1980
1991
2000
Figura 13. Taxa de mortalidade infantil/1000 crianças nascidas vivas em Ibicaraí/Ba nos
anos de 1970 a 2000
Fonte: Dados Básicos - IBGE , 2000 (Fundação João Pinheiro).
Com relação ao Produto Interno Bruto, o município de Ibicaraí obteve, entre os anos
de 1970 a 1996, o melhor índice no ano de 1985. Segundo o escritório local da CEPLAC,
tal fato se justifica por ter sido um ano de ótima colheita de cacau no município. Porém, a
partir de 1990 o quadro mudou. Segundo Araújo (1998 apud BAHIA (2001), dentre as
fases cíclicas de ascensão e queda pelas quais passou a cacauicultura baiana nas últimas
décadas, a região vive recentemente uma crise que pode ser classificada como das mais
sérias, com causas e efeitos no campo econômico, social e ambiental.
Muitos problemas estão ocorrendo, como a descapitalização da maior parte dos
produtores rurais, baixa remuneração do produto, principalmente no mercado externo,
gerando desemprego, tendo como principal conseqüência o êxodo rural. Essa situação se
agravou ainda mais com a incidência da doença conhecida como vassoura de bruxa,
causada pelo fungo Crinipellis perniciosa, causando redução drástica nos níveis de
produtividade. Com tal doença e os baixos preços de mercado do cacau, a cada ano o PIB
do município de Ibicaraí diminui, como demonstra a Figura 14.
Valores em Dolár de 1998
31
100.000.000
80.000.000
60.000.000
40.000.000
20.000.000
1970 1975 1980 1985 1990 1996
Figura 14 – Produto interno bruto do município de Ibicaraí/BA nos anos de 1970 a 1996
Fonte: Dados Básicos - IBGE e IPEA , 2000.
32
CAPÍTULO 4
4. METODOLOGIA
4.1 ANÁLISE DA ÁGUA
Todos os métodos de análise utilizados para determinação dos parâmetros físicoquímicos – descrição dos princípios das reações químicas, técnicas de amostragem,
acondicionamento e preservação das amostras de água – foram os recomendados pelo
Standard Methods for Examination of Water and Wastewater, 18 ed. (A.P.H.A, A.W.W.A.
and W.P.C.F, 1991), Vogel (1992) e pelo Guia de Coleta e Preservação da Amostra de
Água (CETESB, 1987).
4.1.1 Definição dos pontos de coletas
Para realização do presente estudo, foram escolhidos, seis pontos para coleta e
análise da água, ao longo do rio Salgado, conforme a Figura 15, que destaca as distâncias
existentes entre os diversos pontos de coletas. A Tabela 8 mostra os pontos de coleta com
respectivos locais e localização geográfica.
Figura 15. Diagrama unifilar do rio Salgado
Fonte: Pesquisa de campo, 2002.
33
Tabela 8. Localização geográfica dos pontos de coletas.
Pontos
Local
Longitude
Latitude
P1
Nascente - Serra do Salgado
39º.57’.485’’ W
14º.57’.328’’ S
P2
Povoado Ipiranga
39º.56’.577’’ W
14º.56’.487’’ S
P3
Próximo a Faz do Rib. Limoeiro
39º43’912’’ W
14º54’730’’ S
P4
Montante de Ibicaraí - Saloméia
39º37’971’’ W
14º5’672’’ S
P5
Jusante de Ibicaraí – Faz. Pancadinha
39º34’545’’ W
14º5’365’’ S
P6
Próximo à Foz - Itapé
39º26’741’’ W
14º54’017’’ S
Fonte: pesquisa de campo, 2002.
4.1.1.1 Descrição dos Pontos de Coleta
P1: nascente do rio Salgado, local que atualmente encontra-se desprovido da sua
cobertura primitiva a qual vem sendo substituída por gramíneas, que são utilizadas para
pastagem de bovinos. Segundo Forattini (1992), os ecossistemas assim modificados
apresentam gradual empobrecimento de sua parte biótica, o que corresponde à substituição
de comunidades naturais, na maioria das vezes do tipo clímax, por outra, com fase
antecedente a clímax, havendo regressão, transformando-o em um ecossistema antropizado.
P2: imediatamente após o povoado do Ipiranga; nesse ponto, pode-se detectar
possíveis degradações na qualidade das águas, uma vez que todo o esgoto doméstico
produzido pelo povoado é lançado in natura no leito do rio.
P3: esse ponto está localizado próximo à foz do Ribeirão Limoeiro, o que permite a
caracterização da qualidade das águas do rio, com base nos parâmetros pesquisados, para se
verificar possíveis impactos negativos, oriundos da ação antrópica, após o rio ter percorrido
cerca de 30 km, atravessando fazendas de cacauicultura e agropecuária – algumas destas
possuindo laticínios, cujos resíduos são lançados diretamente nas águas do rio – e após ter
drenado mais um povoado (Itaiá) à sua margem, que também lança seu esgotamento
sanitário nas suas águas.
34
P4: antes do povoado Saloméia, no início do município de Ibicaraí, para que seja
avaliada a qualidade da água do rio Salgado que chega nesta cidade, após ter atravessado
mais um município, o de Floresta Azul, e receber mais carga orgânica, uma vez que todos
os esgotos domésticos e hospitalares de tal município são lançados in natura no seu leito.
P5: Fazenda Pancadinha, após a sede do município de Ibicaraí, para que se possa
avaliar as possíveis contribuições de fatores poluentes depois de ter recebido toda carga de
efluentes domésticos, gerada pela população da sede municipal, bem como de efluentes
hospitalares, chorume do lixão municipal e resíduos de curtumes também oriundos da sede
municipal (Figuras 16 e 17).
P6: localizado próximo da foz do rio Salgado, em Itapé, para que sejam avaliadas as
possíveis condições de degradação de qualidade das águas do rio Salgado quando este se
encontra com o rio Colônia para, juntos, formarem o rio Cachoeira. Os pontos de coletas 1,
2, 3 já foram anteriormente estudados por Severo (1999) e o ponto 6 por Pinho (2001).
Lixão Municipal - Ibicaraí/BA
Autora: Joana Valença
Rio Salgado
Figura 16. Vista parcial do lixão do município de Ibicaraí/Ba, localizada aproximadamente
a 200 m à montante do P5, junho de 2003.
35
Curtume
Autora: Joana Valença
Rio Salgado
Figura 17. Curtume em Ibicaraí/BA, localizado à margem do rio Salgado, localizada
aproximadamente a 300m à montante do P5, junho de 2003.
4.1.2 Parâmetros para Caracterização da Água
Para se avaliar a qualidade da água em cada ponto de coleta do rio Salgado, optouse pelos parâmetros físicos, químicos e microbiológicos que sofrem influência com a
presença de matéria orgânica na água (Tabela 9).
Tabela 9. Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos utilizados para avaliação da
qualidade da água do rio Salgado.
Item
Parâmetro
1
Coliformes Totais (CT)
2
Coliformes Fecais (CF)
3
Condutividade Elétrica (CE)
4
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
5
Oxigênio Dissolvido (OD)
6
Potencial Hidrogeniônico (pH)
7
Temperatura da água
36
4.1.3 Período de Amostragem
As coletas foram realizadas de março de 2002 a fevereiro de 2003; entretanto, no
mês de maio de 2002 não houve coleta. As coletas foram realizadas em datas e horários
apresentados na Tabela 10.
Tabela 10. Data e horário em que ocorreram as coletas de amostras de água no rio Salgado
Horários
P1
P2
P3
P4
P5
P6
(Nascente)
(Ipiranga)
(Limoeiro)
(Saloméia)
(Ibicaraí)
(Itapé)
26/03/02
8:45
9:35
10:50
11:30
12:05
13:45
23/04/02
11:00
12:10
13:35
14:10
14:55
15:50
11/06/02
9:00
10:05
11:31
12:12
13:20
15:05
26/07/02
8:37
9:35
10:50
11:50
12:39
13:31
30/08/02
8:50
9:50
10:56
12:02
12:50
13:33
24/09/02
8:53
9:47
11:00
11:50
13:06
14:11
25/10/02
11:00
11:55
13:00
14:10
14:45
15:35
28/11/02
8:40
9:30
10:40
11:15
12:15
13:05
26/12/02
8:30
9:25
10:35
11:45
12:20
13:45
23/01/03
9:30
10:20
11:50
12:30
13:05
14:00
25/02/03
8:50
9:30
10:40
11:15
12:10
13:20
Data
4.1.4 Procedimentos de Coleta de Dados
A realização das coletas e os cuidados com a preservação das amostras até sua
chegada ao laboratório seguiram as indicações descritas no Guia de Coleta e Preservação de
Amostras de Água CETESB (1987); para as amostras destinadas às análises bacteriológicas
ou microbiológicas foram seguidas às indicações contidas no Manual de Métodos de
Análise Microbiológica da Água (SILVA, 2000).
37
4.1.4.1 Coletas de Dados Físicos, Químicos e Microbiológicos no Campo
•
TEMPERATURA:
A temperatura influencia diretamente tanto a respiração dos organismos e outros
processos oxidativos, como a decomposição da matéria orgânica por microorganismos. Esta
ação direta da temperatura sobre os organismos aquáticos se baseia na regra de Van T’
Hoff, segundo a qual a elevação da temperatura das soluções em 10ºC pode duplicar ou
triplicar a velocidade das reações (VON SPERLING, 1996).
A temperatura é importante para os sistemas aquáticos, já que a maioria dos
organismos possui faixas de temperatura ótimas para sua reprodução, sendo que a principal
conseqüência da elevação da temperatura da água de um manancial é a sua relação com a
perda de oxigênio (BRANCO, 1993).
A temperatura da água foi medida com um Termômetro Analógico, com precisão de
1ºC, introduziu-se a ponta de cobre do eletrodo do termômetro no leito do rio para medir a
temperatura da água, a uma profundidade aproximada 10 cm da superfície da água,
exatamente no mesmo local onde foram coletadas as amostras de água para análise dos
demais parâmetros estudados na pesquisa. Com o mesmo equipamento, mediu-se a
temperatura do ar. Primeiramente foi medida a temperatura do ar e depois a da água.
•
POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH) :
O Potencial Hidrogeniônico, segundo Vogel (1992), é o logaritmo (na base 10) do
inverso da concentração do íon hidrogênio, ou é igual ao logaritmo da concentração do íon
hidrogênio com o sinal negativo. O método proposto por S.P.I. (SØRENSEN, 1909 apud
VOGEL, 1992) introduziu o expoente de íon hidrogênio pH mediante as relações:
pH = log10 1/ [H +] = - log10 [H +], ou [H +] = 10 –pH
Segundo Vogel (1992), uma solução neutra é aquela em que o pH é igual a 7; uma
solução ácida, apresenta pH menor que 7; e uma alcalina possui pH maior que 7.
38
De acordo com Esteves (1998), a água pura contém concentrações idênticas de íons
H
+
e OH -, sendo, portanto, classificada como neutra. O pH pode ser considerado como
uma das variáveis ambientais mais importantes e, ao mesmo tempo, das mais difíceis de se
interpretar. Esta complexidade na interpretação dos valores de pH se deve ao grande
número de fatores que podem influenciá-lo.
Para a medida do pH foi utilizado um pHmetro, marca Digimed, modelo DM4, com
94% de eficiência, o qual foi calibrado no local de coleta. Para medir o pH, introduziu-se a
ponta do eletrodo do equipamento na água do rio no ponto de coleta, a uma profundidade
de aproximada 10 cm da superfície. A partir da 2ª coleta, utilizou-se o pHmetro da marca
Corning ph on meter 450.
•
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA:
A condutividade elétrica é a capacidade que tem uma solução de conduzir a corrente
elétrica. Considerando-se que essa capacidade está diretamente relacionada com a
concentração dos íons presentes, quanto maior a concentração iônica de uma solução, maior
será a maior a capacidade da mistura de transmitir corrente elétrica. Por outro lado, em
águas muito puras ocorre fenômeno inverso, ou seja, haverá uma menor condutividade
(ESTEVES, 1998).
Segundo Esteves (1998), a condutividade elétrica da água constitui-se em uma das
variáveis mais importantes em Limnologia, visto que pode fornecer informações
fundamentais tanto sobre o metabolismo do ecossistema aquático, como sobre fenômenos
importantes que ocorrem na bacia de drenagem; pode ajudar a detectar fontes poluidoras
nos ecossistemas aquáticos, bem como diferenças geoquímicas nos afluentes do rio
principal ou de um lago.
A atividade iônica de uma solução é fortemente dependente de sua temperatura, que
aumenta cerca de 2% a cada 1ºC. O pH também mostra exerce forte influência sobre os
valores de condutividade (ESTEVES, 1998).
Utilizou-se o condutivímetro, da marca Digemed, modelo DM 3, para realização da
medida de tal parâmetro que, após ter sido devidamente calibrado, teve a ponta do seu
39
eletrodo introduzida na água do rio, no ponto estudado, a uma profundidade aproximada de
10 cm da superfície.
•
OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD):
De acordo com von Sperling (1996), o oxigênio dissolvido é o principal parâmetro
de caracterização dos efeitos da poluição por despejos orgânicos.
Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio (O2) é um dos mais importantes na
dinâmica e na caracterização de ecossistemas aquáticos. As principais fontes de oxigênio
para a água são a atmosfera e a fotossíntese; já o consumo pela decomposição de matéria
orgânica (oxidação) e respiração de organismos aquáticos e oxidação de íons metálicos são
as principais formas de perda desse tão importante gás (ESTEVES, 1998).
Dados da concentração de oxigênio dissolvido nas águas representam uma
informação básica, pois, é a presença ou a ausência de oxigênio (O2) que fixa as vias de
mineralização aeróbica e anaeróbica da matéria orgânica e o tipo de fotossíntese, pois as
atividades fotossintéticas decorrem de processos bem distintos: em situação óxica, a energia
luminosa provoca fotólise das moléculas d’água produzindo prótons, os quais são utilizados
como agentes redutores do CO2 e moléculas de oxigênio; em situação anóxica, há fotólise
de moléculas de ácido sulfúrico, que fornecem prótons e liberam sulfatos (CARMOUSE,
1994 apud PINHO, 2000).
A solubilidade do O2 em meio aquático depende de dois fatores: temperatura e
pressão. O oxigênio é um gás pouco solúvel em água; sob pressão de 1 atm, seu coeficiente
de solubilidade varia entre 14,6 mg/L a 0º C até 7,6 mg/L a 30ºC. Em águas poluídas, a
quantidade de oxigênio dissolvido é ainda menor que em condições naturais (PORTO, 1991
apud GOMES, 2000).
Segundo von Sperling (1996) ao nível do mar, na temperatura de 20ºC, a
concentração de saturação de O2 é igual a 9,2 mg/L. Valores de oxigênio dissolvido
superior a tal saturação são indicadores da presença de algas (fotossíntese); valores bem
inferiores a tal saturação indicam a presença de matéria orgânica (provavelmente esgotos).
A Tabela 11 apresenta a concentração de oxigênio dissolvido e o índice de sobrevivência
dos peixes no ecossistema.
40
Tabela 11. Concentração de oxigênio dissolvido e a sobrevivência dos peixes
Concentração de OD (mg/L)
Conseqüências
4 -5
Morrem os peixes que necessitam de muito O2
disponível na água
2
Todos os peixes morrem
0
Condição de anaerobiose
Fonte: Adaptado de VON SPERLING ( 1996)
Utilizou-se o Oxímetro, da marca Digemed, modelo DM 2, calibrado antes do
primeiro ponto de coleta. Introduziu-se a ponta do eletrodo na água, a uma profundidade
aproximada de 10 cm da superfície, para medir o teor de oxigênio dissolvido na água. Tal
equipamento só foi utilizado nos dois primeiros meses de coleta de dados (março e abril de
2002). A partir de junho de 2002, utilizou-se o método tradicional da titulação, de acordo
com os critérios do APHA (1991) e Vogel (1992). Em cada ponto, foi coletado uma
amostra em frasco de vidro apropriado. A fim de preservar as amostras, mediante uso de
pipeta graduada, foi acrescentado 1 ml do reagente Sulfato manganoso a 50% e 1 ml de
Iodeto alcalino. Cada frasco foi fechado, agitado por inversão da mistura, etiquetado e
armazenado em caixa de isopor, sem gelo, com temperatura inferior à ambiente, para
posterior análise no Laboratório de Monitoramento Ambiental da UESC.
•
DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO):
Segundo von Sperling (1996), o principal efeito ecológico da poluição orgânica em
um curso d’água é o decréscimo dos teores de oxigênio dissolvido. A DBO retrata a
quantidade de oxigênio requerida para estabilizar, através de processos bioquímicos, a
matéria orgânica carbonácea. Conforme Porto et al (1991), a DBO avalia a quantidade de
oxigênio dissolvido (OD), que será consumida na oxidação biológica da matéria orgânica.
Convencionou-se que o teste da quantificação da DBO deve ser feito durante 05
dias, no escuro, a uma temperatura de 20ºC. Tem-se, dessa forma, a DBO padrão, que é
expressa por DBO5 20 . Tal teste tem larga aplicação na medição da carga de esgotos nas
41
estações de tratamento e na quantificação da poluição em um corpo d’água ou esgoto. Os
esgotos, possuindo uma grande concentração de matéria orgânica, consomem rapidamente
todo o oxigênio dissolvido no meio líquido; faz-se necessário efetuar diluições para reduzir
a concentração de matéria orgânica, possibilitando que o consumo de oxigênio em 05 dias
seja numericamente inferior ao oxigênio disponível na amostra (VON SPERLING, 1996).
Para determinação da DBO, em cada ponto analisado, encheu-se um frasco de vidro
apropriado para análise que foi devidamente etiquetado e colocado em caixa de isopor,
sem gelo, para posterior análise em Laboratório.
•
ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS:
- Coliformes Fecais (CF) - O grupo dos coliformes fecais incluem as bactérias na
forma de bastonetes Gram negativos, não esporogênicos, aeróbios ou anaeróbios
facultativos, capazes de fermentar a lactose, com produção de gases, em 24 a 44,5 horas a
45,5°C. O grupo dos coliformes fecais inclui pelo menos três gêneros, Escherichia,
Enterobacter e Klebsiella; destes, a Escherichia coli é o mais conhecido e o que mais
facilmente se diferencia dos membros não fecais, sendo bactéria de habitat
reconhecidamente fecal (SILVA, 1997).
Segundo Branco (1993), os coliformes fecais são bactérias que vivem normalmente
nos intestinos de todas as pessoas. Eles não causam doenças, pelo contrário, ajudam a
digestão e se alimentam, simplesmente de alguns subprodutos desta; existem em grande
número e chegam a formar a maior parte do volume fecal. A presença de coliformes fecais
na água indica, sempre, a presença de esgotos domésticos que, por sua vez, indicam a
possibilidade da existência de patogênicos encontrados igualmente nas fezes, dada a
possível existência de pessoas doentes em meio à população que deu origem àqueles
esgotos (BRANCO,1993). Além disso, certas espécies bacterianas, como os estreptococos
fecais (ex.: Streptococous faecalis) e o Clostridium perfringens são habitantes normais do
intestino grosso do homem e dos animais, estando presentes na matéria fecal. Se tais
microrganismos estão presentes na água, o acesso está aberto, também, para os agentes
patogênicos, encontrados igualmente nas fezes (PELCZAR, 1996).
42
- Coliformes Totais (CT) – O grupo dos coliformes totais inclui as bactérias, na
forma de bastonetes Gram negativos, não esporogênicos, aeróbios ou anaeróbios
facultativos, capazes de fermentar a lactose com produção de gás, em 24 a 48 horas, a
35°C. O grupo inclui cerca de 20 espécies, dentre as quais encontram-se tanto bactérias
originárias do trato gastrintestinal de humanos como de outros animais de sangue quente
(SILVA,1997). Tais bactérias têm sido isoladas de amostras de águas e solos poluídos e
não poluídos, bem como de fezes de seres humanos e outros animais de sangue quente,
servindo como indicadores de poluição e controle da qualidade biológica das águas
(BRANCO 1993).
Segundo Silveira (1990), diversos organismos patogênicos podem ser encontrados
nos despejos domésticos e nos efluentes de abatedouros de animais, entre eles estão os
coliformes.
As coletas de amostras de água para análise bacteriológica ou microbiológica
iniciaram-se no mês de junho e foram feitas utilizando-se sacos plásticos estéreis de
polietileno, da marca Nasço Whirl-Pak, com capacidade para 100 ml. A coleta foi feita a
uma profundidade de aproximadamente 30 cm da superfície; em seguida, cada amostra foi
etiquetada e colocada em caixa de isopor com gelo, para refrigerar de 4 a 10ºC e manter- se
preservada até sua chegada ao laboratório.
•
LONGITUDE E LATITUDE:
Os pontos foram georeferenciados, com GPS (Global Positioning System), nos
locais das coletas.
4.1.4.2 Análises Laboratoriais
As análises foram feitas no mesmo dia da coleta, num tempo máximo de 06 horas
após a coleta. Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Monitoramento
Ambiental e no Laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC).
43
-
Determinação do OD
Utilizou-se a titulação do iodo com solução padrão de tiossulfato de sódio (Na2 S2
O3) para determinar o teor de OD na amostra, seguindo as instruções metodológicas de
Vogel (1992).
-
Determinação da DBO
Convém ressaltar que para a determinação da DBO, devido às limitações
laboratoriais no tocante a equipamentos e reagentes, optou-se por não utilizar a
metodologia do Standard Methods para a DBO padrão. Utilizou-se a metodologia
simplificada para determinação de DBO, recomendada por von Sperling (1996), que
consiste na determinação da concentração de oxigênio dissolvido (OD) na amostra no dia
da coleta e com a amostra mantida em um frasco fechado e incubada, após cinco dias,
determina-se à nova concentração. Tal concentração encontra-se reduzida, devido ao
consumo de oxigênio durante o período de incubação. A diferença entre o teor de OD no
dia zero e no dia 5 representa o oxigênio consumido para o oxidação da matéria orgânica.
-
Análises Microbiológicas
A técnica utilizada para determinação de coliformes totais e fecais foi a de
membrana filtrante; tal análise seguiu as recomendações do Manual de Métodos de Análise
Microbiológica de Água (SILVA, 2000).
44
4.2 DETERMINAÇÃO
DE
PARÂMETROS
CLIMATOLÓGICOS,
DADOS
DEMOGRÁFICOS E DE VAZÃO
Os dados relativos à precipitação pluviométrica foram cedidos pela Comissão Executiva
do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC, através do Centro de Pesquisa do Cacau
(CEPEC), cujo posto pluviométrico, localizado em Ibicaraí, está georrefenciado pelas
coordenadas: 14º 52’ S e 39º 35’ W.
A temperatura do ar foi determinada utilizando-se um Termômetro Analógico, com
precisão de 1ºC, a uma altura de aproximadamente 50cm do solo, no mesmo local onde
foram coletadas as amostras de água para análise dos demais parâmetros pesquisados.
Através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo Demográfico
ano 2000, foram coletados dados demográficos e sociais.
A série histórica com dados de vazão do Rio Salgado foi fornecida pelo Banco de
Dados do Projeto de Recuperação das Bacias do Rio Cachoeira e Rio Almada, da
Universidade Estadual de Santa Cruz (BAHIA, 2000).
4.3 LEVANTAMENTO
DOS
DADOS
DE
INCIDÊNCIA
DE
DOENÇAS
DIARRÉICAS
A população da cidade de Ibicaraí foi escolhida para a coleta de dados relacionados
com o agravo à saúde. A incidência da morbidade estudada refere-se às doenças diarréicas
que acometem as populações ribeirinhas e não ribeirinhas do rio Salgado. Na Tabela 12,
observam-se as principais doenças diarréicas associadas à água.
45
Tabela 12. Principais doenças diarréicas associadas com a água
Doença
Agente patogênico
DISENTERIA BACILAR
Bactéria (Shigella dysenteriae)
Sintomas
Forte diarréia
CÓLERA
Bactéria (Vibrio cholerae)
Diarréia
extremamente
forte, desidratação, alta
taxa de mortalidade.
SALMONELOSE
Bactéria (Salmonella)
Febre, náusea, diarréia.
FEBRE TIFÓIDE
Bactéria (Salmonella typhi)
DISENTERIA
AMEBIANA
Protozoário (Entamoeba
histolytica)
DIARRÉIA AGUDA
Bactéria (E. coli
enterotoxogênica e
enteropatogênica)
Diarréia
febre.
GIARDÍASE
Protozoário (Giardia lambia)
Diarréia leve a forte,
náusea,
indigestão,
flatulência.
GASTROENTERITE
Vírus (enterovírus, parvovírus,
rotavírus)
Diarréia leve a forte.
Febre elevada, diarréia,
ulceração do intestino
delgado.
Diarréia prolongada, com
sangramento, abscessos no
fígado e intestino fino.
forte,
náusea,
Fonte: Beneson (1985); Tchobanoglous & Schroeder (1985); citado em VON SPERLING (1996).
Essas enfermidades são integrantes do grupo classicamente denominado de Doenças
de Veiculação Hídrica (DVH) ou Doenças Redutíveis por Saneamento e, mais
recentemente, registram-se como doenças produzidas pelo complexo ASH, ou seja,
enfocando os sistemas de abastecimento de água, saneamento ambiental e higiene (LIMA,
2002).
Ressalta-se que as DVH são de notificação obrigatória no Brasil desde 1975, de
acordo com Lei Nacional nº 6.259/75 e decreto nº 78.231/76. Incidência da morbidade
doenças diarréicas faz parte da lista de doenças e agravos de notificação compulsória do
Estado da Bahia desde 1997 através da Portaria nº 2.867 de 05 de agosto de 1997. (LIMA,
2002).
46
4.3.1
Visitas às Unidades de Saúde da Família – USF
Foram realizadas visitas aos órgãos púbicos da Secretaria Municipal de Saúde de
Ibicaraí e 7ª Diretoria Regional de Saúde do Estado da Bahia (DIRES) com objetivo de
coletar documentos, boletins e planilhas, com dados de freqüências históricas de doenças
diarréicas notificadas na população ribeirinha e não ribeirinha ao rio Salgado, em Ibicaraí,
nos anos de 1999 a 2003.
As visitas às USF tiveram freqüência mensal, de março de 2002 até fevereiro de 2003,
objetivando coletar dados nos Boletins Semanais de Doenças Transmissíveis sobre os
índices de ocorrência de doenças diarréicas existentes na população de Ibicaraí. Sendo as
notificações de doenças diarréicas registradas semanalmente, fez-se necessário consolidar
os dados para que se pudesse encontrar a freqüência mensal das doenças (agravos). As
informações contidas em tais boletins fazem parte do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN), cuja instância faz parte do Ministério da Saúde. Buscou-se também,
em tais visitas, identificar a área de abrangência de cada USF, como ilustra a Figura 18.
47
Figura 18. Área de Abrangência de cada Unidade de Saúde da Família no Município de
Ibicaraí/BA, 2003
Fonte: Dados da pesquisa, 2003
Cada USF conta com o apoio da seguinte equipe: 01 Médico Generalista, 01 Instrutor
de Enfermagem, 01 ou 02 Atendentes de Enfermagem e 01 ou mais Agentes Comunitários,
a depender da quantidade de famílias atendidas. O nome das USF, bem como número de
famílias e pessoas atendidas por cada uma delas estão distribuídos conforme Tabela 13.
48
Tabela 13. Relação das Unidades de Saúde da Família, número de famílias e pessoas
atendidas no município Ibicaraí/BA em 2003.
USF
Nome da USF
N° de famílias
N° de pessoas
atendidas
atendidas
1
Dr. Israel Mendonça 1 e 2
1.859
6.611
2
Dr. Olintho Matos
1.129
4.204
3
Dr. Silvino Pires
542
2.078
4
Unidade do Bela Vista
658
2.504
5
Dr. Ferreirinha
901
3.560
6
Unidade da Saloméia
462
1.749
7
Unidade da Vila Santa Izabel
580
2.491
8
Unidade do Cajueiro
489
1.793
9
Zona Rural
520
2.340
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Ibicaraí, 2003
4.4 DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE ABRANGÊNCIAS DE CADA UNIDADE
DE SAÚDE DA FAMÍLIA E RESPECTIVOS CENTRÓIDES
Buscou-se, junto à Prefeitura Municipal de Ibicaraí e Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira - CEPLAC (Escritório Local), mapas que viabilizaram o mapeamento
da sede do município de Ibicaraí e a determinação dos limites municipais.
Para a determinação das áreas de abrangências de cada Unidade de Saúde da Família,
utilizou-se como base, esboços de plantas existentes na Secretaria Municipal da Saúde
Municipal que determina tais áreas para cada unidade.
4.5 DETERMINAÇÃO DO CENTRÓIDE DE CADA ÁREA DE ABRANGÊNCIA
DAS UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA
O centróide é definido, conforme Singh (1992), como ponto que representa o centro
de gravidade da área. Dentre os vários métodos disponíveis para sua determinação, no
49
presente trabalho foi utilizado o recorte do contorno da área de abrangência de cada
Unidade de Saúde da Família. Com a ponta de uma caneta, buscou-se o ponto de equilíbrio
total da área, ponto este que representa o centróide (SINGH, 1992). Com o auxílio do
mapa da sede municipal, utilizou-se do centróide, fazendo-se uso de uma reta perpendicular
para mediar a distância entre cada Unidade de Saúde da Família e o rio Salgado. Salientase, contudo, que tal técnica empregada no presente estudo, apresenta relativo grau de
imperfeição, uma vez que vários fatores poderão está influenciando no equilíbrio desse
recorte a área de abrangência de cada Unidade de Saúde da Família.
4.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
Para a aplicação dos testes estatísticos, foram analisados os pressupostos de
normalidade e homocedasticidade. Para verificar a normalidade das variáveis em pauta, foi
utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov e, para verificar a homocedasticidade, isto é, se a
variância entre grupos pode ser considerada igual para todos eles, foi aplicado o Teste de
Levene (Norusis, 1993). Quando a variável seguia uma distribuição normal, foi utilizado o
teste F (ANOVA) para comparar as médias entre os pontos de coleta e as Unidades de
Saúde da Família. No caso em que o teste F detectou diferenças significativas entre os
grupos, foi utilizado o teste de comparações múltiplas de Duncan, para apontar quais
grupos eram significativamente diferentes.
No caso em que a variável não apresentou normalidade, utilizou-se o teste não
paramétrico Kruskal-Wallis. Todavia, levando-se em consideração que, apesar de algumas
variáveis não seguirem uma distribuição normal, o tamanho de amostra era suficientemente
grande (n=66 para o caso das variáveis da qualidade da água) ou (n=54 para o caso da taxa
de incidência da diarréia) e todos os resultados do teste de Kruskal-Wallis coincidiram com
os resultados do teste F; optou-se, então, por aplicar o teste de comparações múltiplas de
Duncan, para analisar as diferenças entre os pontos de coleta.
Para analisar a relação entre as diversas variáveis, foi utilizada a análise de
correlação, sendo calculados tanto o coeficiente de correlação de Pearson, quanto o de
Spearman, que calculam a correlação entre os pontos atribuídos aos valores da variável.
50
Devido à natureza da presente pesquisa, cujas medidas dos dados estão sujeitas a
erros de coleta, de instrumentação, de medição – no caso dos parâmetros da água – e dos
problemas de notificação dos dados de incidência de doenças diarréicas, condições de
levantamento de dados, dentre outros fatores, o nível de significância estabelecido foi de
5%. Todavia, em todos os casos, foi colocado o valor de p do teste, a fim de possibilitar ao
leitor extrair suas próprias conclusões.
O processamento dos dados foi realizado utilizando o pacote estatístico SPSS –
Statistical Package for Social.
51
CAPÍTULO 5
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 PARÂMETROS CLIMATOLÓGICOS
5.1.1
Precipitação
A Figura 19 mostra o total pluviométrico mensal entre os anos de 1999 e 2002.
Conforme pode ser observado, os meses com a menor precipitação foram setembro e
outubro, e os de maior foram dezembro e janeiro. A diferença de precipitação entre os anos
manteve-se discreta; entretanto, no ano de 2001 nota-se um valor extremo da precipitação
no mês de janeiro, acontecimento oposto quando se compara o referido mês com relação o
mesmo período ano de 2002 e dos demais anos analisados, possivelmente justificando-se,
de acordo com dados do CEPLAC - CEPEC, 2003, em virtude da chegada, na região, de
uma forte frente fria que ocasionou tais precipitações, incomuns para esse período do ano
na região.
400
Precipitação (mm)
350
300
1999
250
2000
200
2001
150
2002
média
100
50
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Figura 19. Precipitação mensal em Ibicaraí/BA, 1999-2002.
Jan
Fev
52
A variação da precipitação, durante o período da pesquisa de campo, pode ser
observada na Figura 20. Nota-se uma queda da precipitação nos meses de abril, julho,
outubro e janeiro. O mês de janeiro apresentou a menor precipitação, com 26,8 mm, e o
mês de dezembro destaca-se por apresentar a maior precipitação, com 216,2 mm.
Precipitação (mm)
250
200
150
100
50
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 20. Precipitação mensal em Ibicaraí/BA de março/2002 a fevereiro/2003
Em relação à soma da precipitação nos 07 dias anteriores às coletas, observa-se que
antes da coleta de julho houve uma precipitação de 76,9 mm; a menor precipitação foi a de
janeiro, com 0,0 mm. Porém, antes da coleta, deve-se destacar que, no mês de dezembro, a
precipitação antes da coleta foi de 1,4 mm, conforme ilustra a Figura 21.
90
80
Precipitação (mm)
70
60
50
40
30
20
10
0
Mar
Abr
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 21. Variação mensal da precipitação nos 07 dias anteriores às coletas em
Ibicaraí/BA de março/2002 a fevereiro/2003.
53
5.2 PRÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS DA ÁGUA
5.2.1 Temperatura da Água
A temperatura da água ao longo do rio variou entre 22,0ºC e 35,2ºC, durante o
período da coleta, com uma média geral de 29,40ºC e desvio padrão de 3,60ºC (Tabela 14).
A temperatura mínima ocorreu no ponto de coleta 1, no mês de agosto, e a máxima no
ponto 3, no mês de março.
De acordo com resultados do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS(66) = 0,083, p =
0,200), a temperatura da água apresentou uma distribuição normal para os pontos de coleta.
A análise de variância revela que todos os pontos de coleta têm a mesma estrutura de
variância isto é, quando se aceita a hipótese nula de igualdade de variâncias, ou seja,
quando a variabilidade da temperatura da água é similar entre os pontos de coleta, ao se
aplicar o teste de Levene, ao nível de significância de 0,05 (5%), cujo resultado foi (F(5,60) =
1,690, p = 0,151). O teste F mostra que existem diferenças significativas nas médias por
ponto de coleta (F(5-60) = 12,151, p = 0,000).
Tabela 14. Resultados da temperatura da água (ºC) por pontos de coleta
Ponto de
coleta
1
2
3
4
5
6
Geral (**)
n
11
11
11
11
11
11
66
Média
(*)
24,55 a
27,82 b
31,81 c
30,43 c
31,62 c
30,17 c
29,40
Desvio
padrão
1,44
3,23
3,19
2,53
1,97
2,97
3,60
Lim.
Inferior
23,58
25,65
29,67
28,73
30,30
28,18
28,51
Lim.
Superior
25,51
29,99
33,95
32,13
32,94
32,17
30,28
Mínimo
Máximo
22,00
24,00
27,00
25,00
29,00
23,00
22,00
27,00
35,00
35,20
33,00
34,80
34,00
35,20
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan.
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (66 dados)
A Figura 22 ilustra os valores mensais da temperatura da água, durante o período
pesquisado, onde se pode observar que os meses com temperaturas mais baixas foram
junho e agosto, seguindo os padrões encontrados para a temperatura do ar, de acordo com
54
Bahia (2000), também, estando de acordo com Branco (1978), segundo o qual a
temperatura da água acompanha a curva de variação da temperatura externa à da água.
Já os meses com temperaturas mais elevadas foram março e janeiro, possivelmente,
essa temperatura esteja relacionada com os baixos níveis de precipitações que antecederam
as coletas, conforme já observado na Figura 20. Esse parâmetro, no entanto, segue os
padrões apresentados para a temperatura regional, cujas médias mais elevadas encontramse entre outubro e março (BAHIA, 2000).
Para o ponto de coleta 1, os valores medidos foram significativamente inferiores aos
valores dos demais pontos, justificando-se pelo horário médio das coletas nesse ponto,
variando de 8:20 às 9:00 horas, bem com por sua localização – a uma altitude de 720 m do
nível do mar, uma vez que a temperatura é influenciada pela altitude.
Temperatura da água( ºC)
45
P1
P2
30
P3
P4
P5
15
P6
Média
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 22. Variação mensal da temperatura da água nos pontos de coleta
Na Figura 23, observa-se a mediana dos valores de temperatura da água por pontos
de coleta. Os pontos de coleta 3 e 5 possuem temperaturas elevadas, por serem locais
totalmente desprovidos de vegetação ciliar, com muitas rochas, sobre as quais deposita-se a
maior parte da lâmina de água.
55
38
36
Temperatura da água (ºC)
13
34
32
30
28
26
24
64
22
20
N=
11
11
11
11
11
11
1
2
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos de coleta
Figura 23. Diagrama de caixa 1 dos valores de temperatura da água nos pontos de coleta
5.2.2
Oxigênio Dissolvido (OD)
O oxigênio dissolvido ao longo do percurso do rio variou de 3,70 até 10,48 mg/L,
de acordo com a Tabela 15, alcançando uma média geral de 6,69 mg/L, com um desvio
padrão de 1,55 mg/L. O valor mínimo ocorreu no ponto 4, no mês de junho, e o máximo no
ponto 3, em outubro.
Conforme resultados do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS(66) = 0,070, p = 0,200),
tal parâmetro apresentou uma distribuição normal. Foi aplicada a análise das médias dos
pontos de coleta, que apresentou a mesma estrutura de variância (F(5,60) =2,10, p = 0,077),
porém apresentou diferenças entre as médias. (F(5, 60) = 2,191, p = 0,067).
1
Diagrama de caixa ou Boxplot, que resume os dados agrupados da amostra baseados na mediana, quartis e
a valores extremos. É formado por uma “caixa” limitada pelos percentis 25(borda inferior), 75(borda
superior) e um traço interno que simboliza a mediana. A “caixa” contém 50% dos dados, ficando 25% abaixo
e 25% acima das bordas da caixa. As duas linhas externas da caixa limitam o mais alto e o mais baixo valor,
excluindo o outlier, que é um valor maior que 1,5 vezes o comprimento da caixa, simbolizado por uma
circunferência e os valores “extremos” que é um valor maior que 3 vezes o comprimento da caixa,
simbolizado por um asterisco (NORUSIS, 1993, p. 186 apud SILVA, 2000).
56
Tabela 15. Resultados do oxigênio dissolvido (mg/L) por pontos de coleta
Ponto de
coleta
1
2
3
4
5
6
Geral (**)
n
11
11
11
11
11
11
66
Média
(*)
7,01 a b
5,79 a
7,42 b
7,00 a b
5,95 a
7,02 a b
6,70
Desvio
padrão
1,38
1,21
2,13
1,63
1,22
1,09
1,55
Limite
inferior
6,08
4,98
5,99
5,91
5,13
6,29
6,31
Limite
superior
7,94
6,60
8,85
8,09
6,77
7,75
7,08
Mínimo
Máximo
4,17
3,80
4,22
3,70
4,29
5,17
3,70
8,80
7,40
10,48
9,39
7,46
8,65
10,48
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (66 dados)
Observa-se, na Figura 24, que houve uma queda de OD nos meses de junho e
dezembro. Provavelmente, no mês de junho, a matéria orgânica presente nos solos das
encostas dos rios – sobretudo fezes de gado e outros animais, bem como fezes humanas,
que são depositadas a céu aberto ou estão no meio das ruas, nos bairro periféricos – foram
carregadas para o rio pelas fortes chuvas que antecederam os 7 dias da coleta, uma vez que
tais chuvas ocorreram cerca de 12 horas antes das coletas. Ocorrendo em tal mês o efeito
pistão, onde as primeiras chuvas arrastam para o leito do rio toda matéria orgânica e
resíduos que se encontravam sobre o solo, após tais chuvas, a precipitação incidente atua
como agente diluidor da matéria orgânica existente as águas do rio.
Oxigênio Dissolvido (mg/L)
12
10
P1
8
P2
P3
6
P4
P5
4
P6
Média
2
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
57
Figura 24. Variação mensal do oxigênio dissolvido por pontos de coleta
Em dezembro, mês cuja soma das precipitações dos 7 dias anteriores à coleta foi de
1,4 mm, houve uma forte concentração de microorganismos (coliformes totais e fecais) nos
pontos de coleta, em virtude entrada de esgotos domésticos e da diminuição do volume de
água no leito rio, visualmente observada durante a coleta desse mês.
Nesse período foi constatado, visualmente, que também a vazão no rio era
extremamente baixa, em todos os pontos de coleta, principalmente nos pontos 1 e 2.
Salienta-se que no ponto 3 não se constatou nenhum movimento de água no leito do rio;
por esse motivo, as coletas foram feitas em grandes bolsas de água. Houve assim uma forte
concentração de matéria orgânica, pois embora o volume de água do rio tenha diminuído, o
aporte de esgotos urbanos permaneceu igual. Em virtude de tais fatos, ocorreu um aumento
da concentração de microrganismos, para o mês de dezembro em relação ao mês de
novembro para todos os pontos de coletas, que estão demonstrados nas análises de
coliformes totais e fecais.
De acordo com Von Sperling (1996), o gás oxigênio é consumido através da
respiração dos microrganismos decompositores, principalmente as bactérias que, na
presença de oxigênio, geram um ciclo contínuo de reprodução, aumentando,
conseqüentemente, o aumento do consumo de oxigênio.
A partir de julho, o oxigênio dissolvido aumentou gradativamente, chegando ao seu
valor máximo em outubro, exceto para o ponto 1, ponto 2 e ponto 6. Tal aumento foi
influenciado, possivelmente pela diluição da matéria orgânica, ocasionada pelo aumento do
volume de água do rio, que foi visualmente observado , em conseqüência das fortes e
constantes chuvas que ocorreram nesse período.
O ponto de coleta 3 destaca-se por apresentar valores médios de OD superiores aos
demais, justificando-se por ser um ponto localizado após o rio ter percorrido cerca de 30
km e ter recebido, a montante desse ponto, cerca de 15 km, o aporte do esgoto doméstico
do povoado de Itaiá. Possivelmente, tendo ocorrido o processo de auto depuração no rio,
ocorrendo assim o aumento do OD.
Justificando-se também, em parte, devido a cinética da reaeração atmosférica.
Segundo Von Sperling (1996), quando a água é exposta a um gás, ocorre um contínuo
58
intercâmbio de moléculas da fase líquida para a gasosa e vice-versa. Tão logo a saturação
de solubilidade na fase líquida seja atingida, ambos os fluxos passam a ser de igual
magnitude; no entanto, caso haja algum consumo do gás dissolvido na fase líquida, o
principal fluxo de transferência ocorre na direção do gás para o líquido. Para Esteves
(1998), fortes ventos têm grande influência nas variações do oxigênio dissolvido. Foi
observada, no momento das coletas no ponto 3, a presença de fortes ventos.
Em contrapartida, o ponto de coleta 2 apresenta os menores valores para oxigênio
dissolvido, justificados pelos elevados valores de coliformes totais e fecais, caracterizando
forte presença de microrganismos que consomem o oxigênio disponível na água (Figuras
32 e 36).
Pinho (2000) obteve, para o ponto 6, uma média de 5,53 mg/L de oxigênio
dissolvido. No presente estudo, foi encontrado o valor de 7,02 mg/L. Tais valores
encontram-se muito próximos, levando-se em consideração o tempo que separa os referidos
estudos e pode ser justificado também, devido a utilização de diferentes técnicas de coleta e
analise de dados entre as duas pesquisas que influenciam a diferença entre os resultados
encontrados.
A Figura 25 ilustra o comportamento desse parâmetro por pontos de coleta. Os
pontos 1 e 3 apresentam valores de mediana ligeiramente superiores aos demais.
Oxigênio dissolvido (mg/l)
11
9
7
5
40
3
N=
11
11
11
11
11
11
1
2
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos
de coleta
Figura 25. Diagrama de caixa dos valores de oxigênio dissolvido nos pontos de coleta
59
5.2.3
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
A demanda bioquímica de oxigênio, ao longo do percurso do rio, variou entre 1,91 e
9,05 mg/L, alcançando uma média geral de 5,26 mg/L, com um desvio padrão médio de
1,49 mg/L, ocorrendo o valor mínimo no ponto 1 no mês de junho e máximo no ponto 4 em
outubro ( Tabela 16).
No teste de Kolmogorov-Smirnov para análise de normalidade, o resultado
encontrado foi KS(54) = 0,060 e p = 0,200. Tal parâmetro apresenta uma distribuição
normal. O teste de homocidasticidade mostra que a demanda bioquímica de oxigênio tem a
mesma estrutura de variância para as médias de todos os postos de coleta (F(5-48) = 0,790, p
= 0,562). O teste F mostra que não existe diferença significativa nas médias por pontos de
coleta (F(5-48) = 0,80, p = 0,860).
Tabela 16. Resultados da demanda bioquímica de oxigênio (mg/L) por pontos de coleta
Ponto de
n
coleta
1
9
2
9
3
9
4
9
5
9
6
9
Geral (**) 54
Média
(*)
5,38 a
4,81 a
5,41 a
5,62 a
5,39 a
4,93 a
5,26 a
Desvio
padrão
1,87
1,10
1,52
1,72
1,66
1,15
1,49
Limite
inferior
3,94
3,96
4,24
4,30
4,11
4,05
4,85
Limite
superior
6,82
5,65
6,58
6,95
6,66
5,82
5,66
Mínimo
Máximo
1,91
2,66
3,90
2,98
2,41
3,27
1,91
7,65
6,26
8,56
9,05
7,37
7,11
9,05
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (54 dados)
Pode ser observado, na Figura 26, a variação da Demanda Bioquímica de Oxigênio,
ao longo dos pontos de coleta. No mês de junho, ocorreu uma queda nos valores médios da
DBO para todos os pontos de coleta. Esperava-se, com base na literatura, que os referidos
valores fossem mais elevados; uma vez que ocorreu uma baixa concentração de oxigênio
dissolvido nesse período. Possivelmente, tais resultados encontrados no presente estudo,
justificam-se, em função da metodologia simplificada e adaptada por Von Serling (1996)
para determinação do parâmetro.
DBO (mg/L)
60
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
P1
P2
P3
P4
P5
P6
Média
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 26. Variação mensal da demanda bioquímica de oxigênio por pontos de coleta
Um gradiente horizontal bastante acentuado foi observado no mês de outubro, com
valores oscilando entre 4,9 mg/L no ponto 6 e 9,05 mg/L no ponto 4. O valor médio obtido
nesse mês foi superior aos demais meses, o que pode ser justificado pelo aumento da
presença de coliformes totais e fecais.
É necessário ressaltar que nas amostras dos pontos de coleta 2 e 3, do mês de
dezembro de 2002, e no ponto de coleta 2, no mês de janeiro de 2003, havia grande
concentração de microorganismos (coliformes totais e fecais), que consumiu todo o
oxigênio dissolvido no meio líquido, zerando-o. Em tais amostras, o consumo de oxigênio
poderia ser maior se houvesse mais disponibilidade de oxigênio e os valores de DBO,
conseqüentemente seriam mais elevados que os encontrados. Frente a tais resultados,
salienta-se, que a utilização de tal metodologia se mostrou ineficiente, quando se trata de
águas que recebem aporte de dejetos urbanos, hospitalares e outros contaminantes
orgânicos.
A Figura 27 elucida que estatisticamente não existiram diferenças entre as medianas
dos diversos pontos de coleta. Observa-se entretanto a presença de valores extremos, que
mascaram as diferenças de significância entre as médias dos pontos de coleta.
Disponibilidade bioquímica de oxigênio (mg/l)
61
10
44
8
20
14
6
4
7
2
16
4
0
N=
9
9
9
9
9
9
1
2
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos de coleta
Figura 27. Diagrama de caixa dos valores de demanda bioquímica de oxigênio nos pontos
de coleta.
5.2.4
Condutividade elétrica (μS/cm)
A análise dos dados mostra que existiu para a condutividade, durante o período da
pesquisa, uma variação de 70,5 a 3.520,0 μS/cm, tendo o valor mínimo ocorrido no ponto 1
e o máximo no ponto 3, com uma média geral de 721,50 μS/cm e um desvio padrão de
685,54 μS/cm, conforme pode ser observado na Tabela 17.
Este parâmetro não tem distribuição normal, conforme resultado do teste de
Kolmogorov-Smirnov (KS(66) = 0,171, p < 0,001). Por este motivo, mais uma vez foi
utilizado o teste Kruskal-Wallis (não paramétrico) para analisar a significância estatística
dessas diferenças. O referido teste acusou diferenças significativas entre as médias de
condutividade nos seis pontos de coleta (χ2(5) = 59,169, p < 0,001). O teste de
homogeneidade da variância mostra que não existe a mesma estrutura de variância entre as
médias dos postos de coleta isto é, quando rejeita-se a hipótese nula de igualdade de
variâncias, ou seja, quando a variabilidade da condutividade não é similar entre os pontos
de coleta, ao se aplicar o teste de Levene, ao nível de significância de 0,05 (5%), cujo
resultado foi (F(5-60) = 6,384, p < 0,001).
62
Tabela 17. Resultados da condutividade(S/cm) por pontos de coleta
Ponto de
coleta
1
2
3
4
5
6
Geral
(**)
n
Média (*)
11
11
11
11
11
11
66
75,99 a
206,65 a
1908,91 b
908,73 c
714,18 bc
514,55 b
721,50
Desvio
padrão
5,65
23,56
748,92
226,54
178,05
154,05
685,54
Limite
inferior
72,20
190,82
1405,78
756,54
594,57
411,05
552,97
Limite
superior
79,78
222,49
2412,04
1060,92
833,80
618,04
890,03
Mínimo
Máximo
70,50
179,80
925,00
525,00
513,00
325,00
70,50
91,90
261,00
3520,00
1377,00
993,00
847,00
3520,00
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (66 dados)
A Figura 28 ilustra a variação mensal da condutividade no período pesquisado, nos
6 pontos medidos. O rio Salgado apresenta valores de condutividade elevados, desde sua
nascente até a foz conforme anteriormente citado, quando comparado com outros rios
brasileiros, como os da Amazônia, que apresentam condutividade variando entre 5 a 200
μS/cm (FITTKAU, 1971 apud ESTEVES, 1998), e os rios da Bacia do Rio Piracicaba que,
durante o período crítico de estiagem, apresentam os mais altos valores de condutividade,
entre 551 μS/cm e 670 μS/cm. Com a estação das chuvas, estes valores apresentaram
diminuição (DANIEL et al, 2001 apud FERRAZ, 2001).
Condutividade (μS/cm)
10.000
P1
1.000
P2
P3
P4
100
P5
P6
10
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Figura 28. Variação mensal da condutividade por pontos de coleta.
Jan
Fev
63
Segundo Esteves (1998), vários fatores podem influenciar na composição iônica dos
corpos d`água, como: a geologia da área de drenagem dos afluentes, a geologia da bacia de
acumulação e o regime de chuvas. Os valores elevados da condutividade elétrica,
encontrados ao longo do rio Salgado, devem-se provavelmente à geologia da área de
drenagem dos afluentes e ao regime de chuvas. São especialmente elevados os valores
apresentados no ponto de coletas 3 com um a média de 1.908,91 μS/cm, uma vez que à
montante deste ponto– cerca de 500m, à margem direita do rio Salgado – situa-se a foz do
ribeirão do Limoeiro, com condutividade de 1.835,62 μS/cm, e do ribeirão intermitente
Boca-seca, que apresenta condutividade de 2.040,10 μS/cm. Este, no período crítico de
estiagem, devido à forte concentração de sais, chega a ponto de apresentar no seu leito seco,
torrões de sais que podem ser Cloreto de sódio ou potássio. Tais ribeirões têm suas
nascentes numa área de domínio geológico de rochas metamórficas, que cedem para as
águas cátions e ânions que influenciam a composição iônica do corpo d’água, conforme
pode ser observado no mapa geológico da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira
apresentado em BAHIA (2000).
No mês de dezembro, o acentuado aumento do valor deve-se, além do fator
anteriormente citado, ao regime de chuvas, visto que nos dias anteriores à coleta de dados,
no referido mês, a precipitação foi mínima. Houve praticamente o rompimento do curso
d’água no leito do rio, a aproximadamente 200 m à montante desse ponto de coletas,
deixando claro que o regime de chuvas tem influência preponderante para tal parâmetro.
Em contrapartida, o mês de julho apresentou acentuada queda nos valores de
condutividade, ocasionada pelo aumento da precipitação e a conseqüente diluição dos
elementos químicos dissolvidos na água do rio.
Dados bibliográficos de pesquisas anteriores, realizadas por Severo (1999) em
campanha de amostragem de 1995, no mesmo local dos pontos de coleta 1, 2 e 3,
apresentam os seguintes valores: 100 μS/cm para o ponto de coleta 1; 310 μS/cm para o
ponto de coletas 2 e 1.670 μS/cm para o ponto de coleta 3. Percebe-se que para os pontos 1
e 2 os valores apresentaram-se mais elevados que os da presente pesquisa, justificando-se
64
pelo fato de que no ano de 1995 a precipitação média anual foi de 87,9 mm, inferior à
média anual de 2002, que foi de 129,5 mm (CEPLA-CEPEC, 2003).
Pinho (2000) também realizou pesquisa para tal parâmetro no mesmo local do ponto
de coletas 6; nesta, o valor médio da condutividade foi 440 μS/cm, portanto inferior aos
valores encontrados na presente pesquisa, cuja média foi de 514,55 μS/cm. Tal aumento
possivelmente justifica-se em função do aumento dos lançamentos de despejos domésticos
urbanos devido ao aumento da urbanização.
Na Figura 29, que mostra o comportamento desse parâmetro por pontos de coleta,
pode-se observar que o ponto de coletas 3 possui os valores mais elevados de condutividade
elétrica.
4000
Condutividade elétrica (uS)
34
3000
33
2000
47
30
29
1000
71
41
19
0
7
8
N=
11
11
11
11
11
11
1
2
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos
de coleta
Figura 29. Diagrama de caixa dos valores de condutividade dos pontos de coleta.
5.2.5
Potencial Hidrogeniônico ( pH)
Na Tabela 18 pode-se observar que o potencial hidrogeniônico ao longo do percurso
do rio variou de 5,90 no ponto de coletas 1 a 8,58 no ponto de coletas 3, apresentando uma
média geral de 7,67, com um desvio padrão de 0,68.
Através do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS(66) = 0,194, p < 0,001) foi possível
perceber que esse parâmetro não possui distribuição normal. Utilizou-se, então, o teste
Kruskal-Wallis (não paramétrico) para analisar a significância estatística dessas diferenças.
65
Este acusou diferenças significativas entre as médias de pH dos seis pontos de coleta (χ2(5)
= 40,94, p < 0,001). A análise de variância mostra que o pH possui a mesma estrutura de
variância para as médias de todos os postos de coleta (F(5-60) = 1,36, p = 0,252).
Tabela 18. Resultados do potencial hidrogeniônico por pontos de coleta
Posto
n
Média(*)
1
2
3
4
5
6
Geral (**)
11
11
11
11
11
11
66
6,58 a
7,28 b
8,25 b
7,97 c d
7,87 c
8,06 cd
7,68
Desvio
padrão
0,48
0,75
0,44
0,21
0,24
0,23
0,68
Limite
inferior
6,25
6,91
7,95
7,83
7,71
7,91
7,49
Limite
superior
6,90
7,65
8,54
8,11
8,03
8,22
7,83
Mínimo
Máximo
5,90
6,53
7,01
7,54
7,46
7,62
5,90
7,78
8,34
8,58
8,29
8,35
8,45
8,58
(*) médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (66 dados)
Na Figura 30, estão representados os valores de pH para os 6 pontos de coleta, em
função dos meses analisados. Não foram observadas variações temporais acentuadas nos
pontos amostrados. O ponto 1, na nascente, apresentou sempre valores mais baixos,
oscilando entre 5,9 e 7,8. De uma maneira geral, os valores mais elevados foram
observados no ponto 3 (7,0 a 8,6).
Pode-se afirmar, com base nos resultados obtidos, que este curso d’água apresenta
um caráter de neutro a básico. Os dados encontrados para o pH do rio Salgado estão de
acordo com Esteves (1998), segundo o qual a grande a maioria dos corpos d`água
continentais tem pH variando entre 6 e 8, acompanhando também valores encontrados em
pesquisas anteriores no mesmo curso d’água, cujos valores variaram entre 6,70 e 8,89
(PINHO, 2000).
Comparando-se os valores das médias obtidos ao longo do rio, observa-se um
aumento gradativo do pH do ponto 1 ao 3. A partir deste ponto, houve uma ligeira
estabilização do pH nos pontos 4 e 5 (médias 7,97 e 7,87 respectivamente), como
demonstra a Figura 31. O aumento gradativo de pH do ponto 1 ao 3, justifica-se de acordo
com Daker (1983), em função da presença de carbonatos de cálcio que ao juntar-se com as
águas do rio libera a base HO-. Tais sais são oriundos da geologia da área de drenagem com
predomínio de rochas cálcio silicato que são encontradas na referida área (BAHIA,2000).
66
Potencial Hidrogeniônico (pH)
12
9
P1
P2
P3
6
P4
P5
P6
Média
3
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 30. Variação mensal do potencial hidrogeniônico por pontos de coleta
9,0
8,5
52
16
13
8,0
4
7,5
PH
58
7,0
32
23
6,5
6,0
5,5
N=
11
11
11
11
11
11
1
2
3
4
5
6
Posto
de coleta
Pontos
de coleta
Figura 31. Diagrama de caixa dos valores do pH nos pontos de coleta
67
5.3 PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS
5.3.1 Coliformes Totais (CT)
Os coliformes totais variaram de 2.000 a 8.000.000 UFC/100mL, apresentando uma
média geral de 690.944,44 UFC/100mL, com um desvio padrão de 1.604.899,56
UFC/100mL, sendo que o valor mínimo foi encontrado no ponto de coleta 1 e o máximo no
ponto 2 (Tabela 19). O teste de Kolmogorov-Smirnov (KS(54) = 0,390, p < 0,001) revela
que não existe normalidade na distribuição das médias por pontos de coleta. Assim, foi
utilizado o teste Kruskal-Wallis (não paramétrico) para analisar a significância estatística
dessas diferenças. Este mostrou que há diferenças entre as médias dos coliformes totais nos
pontos de coleta (χ2(5)= 42,961, p < 0,001). Tal parâmetro não apresenta também a mesma
estrutura de variância, cujo resultado foi F(5,48)=18,097 e p < 0,001.
Tabela 19. Resultados de coliformes totais (UFC/100ml) por pontos de coleta
Posto
n
Média (*)
1
2
3
4
5
6
Geral
(**)
9
9
9
9
9
9
54
12333,33 a
3666666,67 b
40000,00 a
185555,56 a
203333,33 a
37777,78 a
690944,44
Desvio
Limite
Limite
Mínimo
Máximo
padrão
inferior
superior
9358,55
5139,71
19526,95
2000,00
30000,00
2236067,98 1947872,67 5385460,67 1000000,00 8000000,00
30822,07
16308,06
63691,94
10000,00
100000,00
233511,84
6062,47
365048,64
30000,00
770000,00
128937,97 104222,84 302443,83
30000,00
480000,00
22236,11
20685,59
54869,96
10000,00
80000,00
1604899,58 252891,18 1128997,71
2000,00
8000000,00
(*) médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (54 dados)
Como já explicitado anteriormente, escolheu-se um ponto de coleta no início do
município de Ibicaraí (ponto 4) para que fosse avaliada a qualidade bacteriológica da água
68
que chega àquela cidade e outro após a sede do município (ponto5), com o objetivo de
avaliar as contribuições de fatores poluentes originários do referido município. Esperava-se
que o impacto do aporte de esgotos domésticos sobre as águas do rio Salgado fosse maior
em Ibicaraí, quando todos os pontos de coleta fossem comparados, visto que é o município
que possui o maior número de habitantes, de acordo com IBGE – (Censo Demográfico,
2000); entretanto, tal fato não se confirmou.
Na Figura 32, que mostra o perfil mensal dos coliformes totais. Destaca-se o ponto
de coleta 2, que se diferencia de forma bastante significativa dos demais pontos de coleta,
com valor mínimo de 1.000.000 UFC/100ml, e máximo de 8.000.000 UFC/100ml,
chegando ao ponto de impedir a visualização da diferenças existentes entres os demais
postos de coleta. Esse ponto situa-se imediatamente após o povoado do Ipiranga, o que
justifica os valores encontrados, visto que todo esgoto doméstico produzido pelo povoado é
lançado diretamente nas águas do rio. Nesse local, o rio Salgado possui uma extensão de
apenas 4 Km, apresentando um volume de água e vazão muito inferior se comparado com o
local do ponto de coleta 5, localizado após Ibicaraí, cuja concentração de microrganismos
tendem a diminuir por simples diluição das águas oriundas de novos afluentes que, por seu
Coliformes totais(UFC/100mL)
turno contribuem para o aumento do volume líquido do rio.
10.000.000
1.000.000
P1
P2
100.000
P3
P4
10.000
P5
P6
Média
1.000
100
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 32. Variação mensal das concentrações de coliformes totais por pontos de coleta
Outro fator a ser considerado é o poder de autodepuração apresentado pelos rios.
Segundo Branco (1993), os seres patogênicos são destruídos em massa pelo processo de
69
autodepuração, ou seja, quando uma carga poluidora de origem orgânica é lançada no rio,
ela sofre um processo natural de depuração. Como não conseguem alimentar-se e
reproduzir-se na água, tais microrganismos vão morrendo, vítimas de vários fatores físicos,
químicos e biológicos.
Salienta-se, contudo, que os resultados dos coliformes totais para o ponto de coleta
5 foram considerados elevados, com valor mínimo de 30.000 UFC/100mL e valor máximo
de 480.000 UFC/100mL. Para tal parâmetro, os pontos de coleta 2, 3, 4, 5 e 6, analisados
na presente pesquisa, segundo a Resolução CONAMA n° 20 de 18/06/86
são a
classificados como possuindo águas que se enquadram na Classe 7.
A Resolução CONAMA n° 20 estabelece que, para águas destinadas à
balneabilidade, quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em 5
semanas, colhidas no mesmo local, houver no máximo 1.250 coliformes totais por 100mL,
tal água será considerada excelente (3 estrelas); 2.500 coliformes totais por 100mL, a água
será classificada como muito boa (2 estrelas); 5.000 coliformes totais por 100mL, a água
será satisfatória (1 estrela) e como águas impróprias, aquelas que não se enquadram em
nenhuma das categorias anteriores, isto é, que ultrapassam os índices bacteriológicos nelas
admitidos.
Pinho (2000) pesquisou as águas do rio Salgado para o parâmetro coliformes totais
no mesmo local do ponto de coletas 6 da presente pesquisa, encontrando o valor médio de
7.033 UFC/100mL. Na presente, pesquisa foi encontrado 37.777,78 UFC/100mL, ficando
claro que existiu degradação da qualidade das águas do rio Salgado, de janeiro de 2000 a
fevereiro de 2003. Tal degradação acompanha os resultados encontrados em outras
pesquisas para águas no Brasil (SANTOS, 2001; COELHO, 2001; AYROSA, 2001;
SILVA, 2002).
A Figura 33 representa a variação deste parâmetro durante o período da pesquisa,
por pontos de coleta. Pode-se verificar que o ponto 2 diferencia-se e destaca-se
significativamente dos demais pontos de coleta, que apresentam comportamento
estatisticamente iguais entre si.
70
10000000
Coliformes totais (UFC)
8000000
6000000
4000000
2000000
40
0
N=
60
42
30
70
72
66
68
9
9
9
9
9
9
1
2
3
4
5
6
Pontos de coleta
Posto de coleta
Figura 33. Diagrama de caixa dos valores de coliformes totais nos pontos de coleta
Como o ponto de coleta 2, por possuir valores extremos, o teste F ANOVA e
Duncan, apresentaram diferenças significativas para os valores de coliformes totais com
relação aos demais pontos de coleta. Tais valores dificultam, a visualização de possíveis
diferenças, existentes entre os demais pontos de coleta.
Diante disso, foi feita a análise sem o ponto de coleta 2, para melhor visualizar as
diferenças entre os demais pontos de coleta. Ocorreu uma variação entre 2.000 a 770.000
UFC/100mL, alcançando uma média geral de 95.800 UFC/100mL, com um desvio padrão
de 141.347,08 UFC/100mL (Tabela 20).
A análise de variância mostra que tal parâmetro, sem o ponto de coleta 2, não possui
a mesma estrutura de variação, cujo resultado foi F(4-40) = 5,150 e p = 0,002. Apresentou
diferenças significativas entre as médias dos diversos pontos de coleta (F(4-40)= 5,118; p =
0,002).
Tabela 20. Resultados de coliformes totais (UFC/100ml) retirando-se os valores obtidos
para o ponto 2
Ponto de n
coleta
1
9
3
9
4
9
5
9
6
9
Geral (**) 54
Média (*)
12333,33 a
40000,00 a
185555,56 b
203333,33 b
37777,78 a
65800,00
Desvio
padrão
9358,55
30822,07
233511,84
128937,97
22236,11
141347,08
Limite
inferior
5139,71
16308,06
6062,47
104222,84
20685,59
53334,64
Limite
superior
19526,95
63691,94
365048,64
302443,83
54869,96
138265,36
(*) médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (54 dados)
Mínimo
Máximo
2000,00
10000,00
30000,00
30000,00
10000,00
2000,00
30000,00
100000,00
770000,00
480000,00
80000,00
770000,00
71
A Figura 34 ilustra as flutuações mensais das concentrações de coliformes totais
obtidos durante o período da pesquisa, excluindo os valores para o ponto 2. O ponto 4
apresentou, no mês de junho, valor extremo possivelmente em função da forte concentração
de matéria orgânica oriunda das fezes de gado, pois foi observado que no momento da
coleta encontrava-se um grande número bovinos pastando em fazenda situada na encosta do
rio, à margem direita. De acordo com Branco (1978), fortes chuvas tendem a formar
enxurradas, que carreiam matéria orgânica para os rios. Salienta-se que a soma das
precipitações nos sete dias anteriores à coleta foi de aproximadamente 40 mm, conforme
Figura 25, anteriormente apresentada.
Houve uma brusca queda dos valores nos pontos 4 e 5, no mês de julho,
possivelmente devido a ocorrência do efeito pistão em virtude de acentuadas e constantes
chuvas nesse período. O ponto de coleta 5 comportou-se, durante seis meses consecutivos,
conforme o esperado, liderando os valores para tal parâmetro e apresentado, no mês de
fevereiro, valor extremo. Foi observado que no momento da coleta, a aproximadamente 200
m, à montante do ponto 5, encontravam-se várias crianças banhado-se, revolvendo o lodo
decantado no fundo do rio, resuspendendo assim os microrganismos que encontravam-se
Coliformes totais(UFC/100mL)
precipitados nesse local.
1.000.000
100.000
P1
P3
P4
P5
10.000
P6
Média
1.000
100
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov Dez
Jan
Fev
Figura 34. Variação mensal das concentrações de coliformes totais retirando-se os valores
obtidos para o ponto 2.
72
Esperava-se que para o ponto de coleta 1 não existisse presença de coliformes totais;
entretanto tal fato não se confirmou, pois em todas as coletas efetuadas houve a presença de
tais microrganismos, variando entre 2.000 UFC/100ml a 30.000 UFC/100ml, justificada
pelo fato da nascente encontrar-se inserida em área de pastagem, onde o gado sempre
estava presente. Essa água é consumida sem nenhum tratamento prévio pelos moradores do
povoado de Ipiranga.
Segundo Branco (1978), a potabilidade da água caracteriza-se pela ausência de
organismos patogênicos e de substâncias tóxicas. De acordo com a Resolução CONAMA
n° 20 de 18/06/86, em águas de Classe Especial para o uso de abastecimento sem prévia
desinfecção, os coliformes totais devem estar ausentes em qualquer amostra e, de acordo
com a Portaria n° 1469 de 29/12/00 do Ministério da Saúde, que estabelece normas sobre
água potável, os coliformes totais devem estar ausentes em uma amostra de 100ml.
Portanto, a utilização das águas do ponto 1 é imprópria para o consumo humano.
A Figura 35 mostra os valores de mediana das concentrações dos coliformes totais
nos pontos de coleta, obtidos durante a pesquisa, onde se evidencia que os pontos 4 e 5
apresentam os maiores valores.
Coliformes totais (UFC)
800000
40
600000
60
400000
42
200000
30
70
72
0
68
66
N=
9
9
9
9
9
1
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos de coleta
Figura 35. Diagrama de caixa dos valores de coliformes totais retirando-se os valores
obtidos para o ponto 2.
73
5.3.2
Coliformes Fecais (CF)
Os coliformes fecais variaram de 0 a 7.000.000 UFC/100ml, com média geral de
279101,85 UFC/100ml, e desvio padrão de 1058554,98 UFC/100ml (Tabela 21). Como
esse parâmetro não tem uma distribuição normal para os dados (F(54 )= 0,441, p < 0,001),
foi usado o teste de Teste de Levene, que mostrou a não existência da mesma estrutura de
variância entre as médias por pontos de coleta (F(5,48) = 10,711, p < 0,001). O teste F mostra
também que existe uma significativa diferença entre as médias por ponto de coleta (F(5-48) =
3,222 , p = 0,014).
Tabela 21. Resultados de coliformes fecais (UFC/100ml) por pontos de coleta
Posto
n
Média
Desvio
(*)
padrão
1
9 2044,44 a
3317,42
2
9 1452222,22 b 2345792,92
3
9 26944,44 a
48311,78
4
9 108888,89 a
210680,12
5
9 55622,22 a
75295,98
6
9 28888,89 a
55552,78
Geral (**) 54 279101,85
1058554,98
Limite
inferior
-505,55
-350913,84
-10191,27
-53054,18
-2255,39
-13812,76
-9828,04
Limite
superior
4594,44
3255358,28
64080,16
270831,96
113499,84
71590,53
568031,74
Mínimo
Máximo
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
10000,00
7000000,00
150000,00
660000,00
190000,00
160000,00
7000000,00
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (54 dados)
Analisando a Figura 36, que apresenta a variação mensal das concentrações de
coliformes fecais ao longo do rio, nota-se que todos os valores encontrados nos pontos de
coleta foram elevados e que o ponto de coleta 2 possui valores extremamente elevados
diante dos demais pontos de coleta, impedindo a visualização das diferenças existentes
entre estes. Tal fato ocorreu provavelmente devido a constante entrada no sistema de
esgotos domésticos e dejetos de animais.
74
Coliformes fecais(UFC/100ml)
8.000.000
6.000.000
P1
P2
P3
4.000.000
P4
P5
P6
2.000.000
Média
0
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Figura 36. Variação mensal das concentrações de coliformes fecais por pontos de coleta
Salienta-se, contudo, que os valores médios de coliformes fecais encontraram-se
elevados se comparados ao que estabelece a Resolução CONAMA n° 20 de 18/06/86, para
tal parâmetro, em águas da Classe 7 destinadas a balneabilidade (recreação de contato
primário). Onde tais águas são classificadas como águas excelentes (3 estrelas); muito boas
(2 estrelas);
satisfatórias (1 estrela); e como impróprias aquelas águas que não se
enquadram em nenhuma das categorias anteriores. Por terem ultrapassado os índices
bacteriológicos admitidos Resolução CONAMA n° 20 de 18/06/86, as águas nos pontos de
coleta 2, 3, 4, 5 e 6 estudados na presente pesquisa são, portanto, classificadas para o
referido parâmetro como impróprias para o uso a que se destina .
O ponto de coleta 1, cujas águas são consumidas sem nenhum tratamento prévio
pelos moradores do povoado de Ipiranga, apresentou no presente estudo, quantidade de
coliforme totais considerada imprópria para o consumo humano. Tais águas são também
consideradas impróprias para este uso quando se observa também o parâmetro coliformes
fecais. De acordo com a Resolução CONAMA n° 20 de 18/06/86, os coliformes fecais
devem estar ausentes em qualquer amostra, quando a água é utilizada por seres humanos
sem nenhum tratamento prévio. A Portaria n° 1469 de 29/12/00, do Ministério da Saúde,
que estabelece as normas sobre água potável, também recomenda a ausência de coliformes
fecais em uma amostra em 100ml.
75
Pinho (2000) pesquisou as águas do rio Salgado para o parâmetro coliformes fecais
no mesmo local do ponto de coletas 6,
encontrando o valor médio de 2.447,78
UFC/100mL. Na presente pesquisa, foram encontrados 28.888,85 UFC/100mL, ficando
clara a alta degradação sofrida pelas águas do rio Salgado, no que se refere à presença
desses microrganismos, de janeiro de 2000 a fevereiro de 2003. Tal degradação acompanha
os resultados encontrados para coliformes fecais, em outras pesquisas realizadas, em outros
rios brasileiros (SANTOS, 2001; COELHO, 2001; AYROSA, 2001; SILVA, 2002).
A Figura 37 mostra que o ponto de coleta 2 diferencia-se e destaca-se dos demais
pontos de coleta que possuem comportamento similares entre si.
8000000
Coliformes fecais (UFC)
17
6000000
4000000
2000000
40
0
N=
52
58
28
10
70
68
9
9
9
9
9
9
1
2
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos de coleta
Figura 37. Diagrama de caixa dos valores de coliformes fecais nos pontos de coleta
Como o posto de coleta 2, durante os testes F(ANOVA) e Duncan, apresentou
diferença significativa para os coliformes fecais em relação aos demais pontos de coleta, a
visualização das possíveis diferenças entre estes ficou impossibilitada. Foi feita, então, a
análise sem o ponto de coleta 2, para melhor acompanhar a variação mensal das
concentrações de coliformes fecais nos demais pontos de coleta. Com isso, observou-se que
a média geral foi de 44477,78 UFC/100ml, com desvio padrão de 106973,87 UFC/100ml,
variando entre 0 a 660.000 UFC/100ml (Tabela 22).
Para o teste de normalidade sem o posto 2, os coliformes fecais não têm uma
distribuição normal entre as médias dos postos de coleta, não apresentam a mesma estrutura
76
de variação entre as médias dos pontos de coleta (F(4,40)=3,018, p =0,029) e apresentam
diferenças entre as médias nos diversos postos de coleta. (F(4-40)= 1,343 , p = 0,271).
A Figura 38 mostra a variação mensal das concentrações de coliformes fecais,
retirando-se o ponto de coleta 2. Os valores encontram-se bastante próximos, não havendo
diferenças significativas, exceto no mês de junho para o ponto de coleta 4, que possui um
valor extremo, acompanhando o comportamento apresentado para os coliformes totais.
Justifica-se tais valores extremos possivelmente em função da forte concentração de fezes
Coliformes Fecais (UFC/100ml)
de gado e dos esgotos domésticos, “in natura” que são lançados no rio.
700.000
600.000
P1
P3
P4
500.000
400.000
P5
P6
Média
300.000
200.000
100.000
0
Mar Abr Mai Jun
Jul
Ago Set
Out Nov Dez Jan Fev
Figura 38. Variação mensal das concentrações de coliformes fecais retirando-se os valores
obtidos para o ponto 2.
Ocorre também um ligeiro aumento dos valores para os meses de outubro e
dezembro, acompanhando o comportamento apresentado pelos coliformes totais para os
referidos meses e justifica-se pelo lançamento de esgotos domésticos, “in natura” que são
lançados no rio e pelo aumento das concentrações de microrganismos, em função de efeito
climático, visto que no mês de outubro houve baixa incidência de precipitação o mês inteiro
e em dezembro houve baixa incidência de precipitação nos 7 dias que antecederam às
coletas (Figuras 19 e 20).
77
Tabela 22. Resultados de coliformes fecais (UFC/100ml) retirando-se o ponto de coleta 2
Posto
n
Média
(*)
1
9 2044,44 a
3
9 26944,44 a
4
9 108888,89 a
5
9 55622,22 a
6
9 28888,89 a
Geral (**) 54 44477,78
Desvio
padrão
3317,42
48311,78
210680,12
75295,98
55552,78
106973,87
Limite
inferior
-505,55
-10191,27
-53054,18
-2255,39
-13812,76
12339,27
Limite
superior
4594,44
64080,16
270831,96
113499,84
71590,53
76616,29
Mínimo
Máximo
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
10000,00
150000,00
660000,00
190000,00
160000,00
660000,00
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (54 dados)
Observando-se a Figura 39, nota-se que a mediana de coliformes fecais é
estatisticamente igual para todos os pontos de coleta. Na tentativa de visualizar as
diferenças existentes entre os diversos postos, foram retirados o ponto de coleta 2 e o mês
de junho do ponto de coleta 4, que apresentou-se extremo. Entretanto, a presença de pontos
extremos continua evidente nos pontos de coleta 1, 3, 5 e 6.
200000
52
58
70
Coliformes fecais (UFC)
150000
28
100000
68
50000
10
0
N=
9
9
9
9
9
1
3
4
5
6
Posto de coleta
Pontos de coleta
Figura 39. Diagrama de caixa dos valores de coliformes fecais retirando-se os valores
obtidos para o ponto 2.
78
5.4 ANÁLISE DA TAXA DE INCIDÊNCIA DE DOENÇAS DIARRÉICAS NAS
UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA (USF)
A taxa de incidência de doenças diarréicas na cidade de Ibicarai-BA, no período de
março de 2002 a fevereiro de 2003, variou de 0,45 a 16,4 por mil habitantes, alcançando
uma taxa média de 3,37 e um desvio padrão de 3,18 (Tabela 23).
A análise de variância mostra que tal parâmetro não possui a mesma estrutura de
variação (F(8-99) =10,297, p < 0,001) e apresenta diferenças significativas entre as médias
dos diversos pontos de coleta (F(8-99 ) = 41,575, p < 0,001).
Tabela 23. Resultados da taxa de incidência de doenças diarréicas nas Unidades de Saúde da
Família em Ibicaraí /BA
USF
n Média
Desvio
Limite
Limite
Mínimo
Máximo
(*)
padrão
inferior
superior
1
12 2,70
cd
0,95
2,09
3,30
1,10
3,88
2
12 3,64
d
1,09
2,95
4,33
1,83
5,63
3
12 3,46
d
0,98
2,84
4,09
2,10
5,90
4
12 2,03 a b c
0,99
1,40
2,66
0,60
3,73
5
12 3,10
cd
0,94
2,51
3,70
1,98
4,70
6
12 10,84
e
3,56
8,57
13,10
5,43
16,4
7
12 2,48 b c d
2,12
1,13
3,83
1,00
8,53
8
12 1,13 a b
0,42
0,86
1,39
0,58
2,00
9
12 0,99 a
0,57
0,63
1,35
0,45
2,03
Geral (**) 108 3,37
3,18
2,77
3,98
0,45
16,4
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (108 dados)
A Figura 40 mostra a taxa de incidência de doenças diarréicas nas Unidades de
Saúde da Família em Ibicaraí/BA, onde se observa maior taxa média nos meses de junho e
julho, seguido dos meses de outubro e novembro. Já os meses de menor incidência foram
agosto, setembro e dezembro. Esperava-se que a incidência de doenças diarréicas para
Ibicaraí acompanhasse de forma mais significativa os valores das concentrações de
coliformes totais e fecais encontrados na presente pesquisa; tal fato, entretanto, não se
confirmou. Estando de acordo com a literatura que classifica doenças diarréicas como uma
morbidade epidemiológica, que possui uma complexidade de determinantes, com causas
multifatoriais e não apenas causadas por um único fator isolado (HELLER, 1997).
Taxa de incidência ( por mil hab.)
79
18
USF1
USF2
16
14
USF3
USF4
USF5
12
10
8
6
UFS6
USF7
USF8
USF9
4
2
MÉDIA
0
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
1
2
Meses
2002
2003
Anos
Figura 40. Taxa de incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí -BA, de março de 2002 a fevereiro de 2003.
Observa-se, na Figura 41, que a Unidade de Saúde da Família 6 destaca-se diante
das demais Unidades pelo fato de possuir uma área de abrangência que atende a uma
comunidade, cujo saneamento básico é bastante precário, com valas de esgoto a céu aberto
em cerca de 98% das ruas do povoado. As pessoas sustentam suas famílias através da
pesca, retirando areia do rio, com serviço braçal em olarias ou em fazendas como
trabalhadores rurais. Um alto índice de desemprego também foi verificado. Em visitas
realizadas no período da pesquisa, percebeu-se que as famílias em questão não adotam, ou
se adotam é de maneira muito inscipiente, um conjunto de medidas sanitárias e hábitos de
higiene que poderiam minimizar os problemas identificados (Figura 41).
De acordo com Heller (1997) e Silva (2002), a higiene pessoal e domiciliar, estão
incluídas entre as medidas de preservação de risco de doenças redutíveis pelo saneamento.
ESREY et al.(1991 apud HELLER, 1997), avaliaram em seus estudos que a melhoria na
higiene, inclui, entre outras medidas, a lavagem das mãos, a deposição de resíduos em local
adequado, bem como, local adequado para defecar. A adoção e o aperfeiçoamento dessas
práticas higiênicas pode contribuir com uma redução de 33% na morbidade por diarréia.
Diante do exposto é pertinente afirmar que o sinergismo multifatorial apresentado para as
80
doenças diarréicas se aplica de maneira pontual para essa comunidade, justificando os seus
valores extremos para doenças diarréicas.
Figura 41. Vista parcial do povoado de Saloméia. Em foco, vala de esgoto a céu aberto e
acúmulo de lixo em Ibicaraí/BA, junho – 2003.
Autora: Joana Valença
Conforme ilustrado na Figura 42 observa-se que a USF 6 apresentou a maior taxa de
incidência dessas doenças diarréicas, seguido da USF 2. Já as USF 8 e 9 apresentaram as
menores taxas.
18
Taxa de incidência (por mil hab)
16
14
12
10
84
8
6
36
4
2
0
N=
12
12
12
12
12
12
12
12
12
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Posto Unidade de Saúde da Família
Unidades de Saúde da Família
Figura 42. Diagrama de caixa de taxa de incidência de doenças diarréicas nas Unidades de
Saúde da Família em Ibicaraí –BA
81
Como a Unidade de Saúde da Família 6 nos testes F ANOVA e Duncan apresentou
diferença significativa para as taxas de incidências de doenças diarréicas em relação às
demais Unidades, dificultando a visualização de possíveis diferenças existentes entre estas,
realizou-se, com o intuito de maior entendimento das análises dos dados, a retirada de tal
Unidade, para
melhor
acompanhar a variação das taxas de incidências de doenças
diarréicas entre as demais USF.
A taxa de incidência de doenças diarréicas na cidade de Ibicarai-BA, variou de 0,45
a 8,53 por mil habitantes, alcançando uma taxa média de 2,44 e um desvio padrão de 1,42
(Tabela 24). Ao analisar o comportamento desse parâmetro por Unidade de Saúde da
Família, pode-se verificar que os resultados se alteram quando se retira a USF 6, pois iguala
as USF 1, 5, 3 e 2.
A análise de variância através do teste de Levene mostra que as taxas de incidência
nas diversas Unidades de Saúde da Família não possuem a mesma estrutura de variância
(F(7,88) = 2,548, p = 0,019). O teste F também mostra que existe diferenças significativas
nas médias da taxa de incidência de doenças diarréicas por meses nas diversas Unidades de
Saúde da Família (F(7-957 = 9,638, p < 0,001).
Tabela 24. Resultados da taxa de incidência de doenças diarréicas retirando-se a Unidade
de Saúde da Família 6 em Ibicaraí –BA
USF
n
1
2
3
4
5
7
8
9
Geral (**)
12
12
12
12
12
12
12
12
96
Média
(*)
2,70
cde
3,64
e
3,46
e
2,03 a b c
3,10
de
2,48
cd
1,13 a b
0,99 a
2,44
Desvio
padrão
0,95
1,09
0,98
0,99
0,94
2,12
0,42
0,57
1,42
Limite
inferior
2,09
2,95
2,84
1,40
2,51
1,13
0,86
0,63
2,15
Limite
superior
3,30
4,33
4,09
2,66
3,70
3,83
1,39
1,35
2,73
Mínimo
Máximo
1,10
1,83
2,10
0,60
1,98
1,00
0,58
0,45
0,45
3,88
5,63
5,90
3,73
4,70
8,53
2,00
2,03
8,53
(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan
(**) Essas estatísticas referem-se ao conjunto de todos os dados (96 dados)
A Figura 43 mostra a variação mensal da taxa de incidência de doenças diarréicas
retirando-se a Unidade de Saúde da Família 6. Pode-se notar que as médias nos meses de
82
junho e julho apresentaram-se como as maiores por USF e o mês de dezembro apresentou-
Taxa de incidência ( por mil hab.)
se como as menores, possivelmente em função de menor exposição à contaminação.
9
8
USF1
USF2
USF3
USF4
USF7
USF8
USF9
MÉDIA
7
6
5
4
3
2
1
0
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
1
2
Meses
Figura 43. Taxa de incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí /BA, de março de 2002 a fevereiro de 2003.
5.4.1
Taxa de Incidência de Diarréia entre as USF – média mensal dos últimos 4
anos por USF
A Figura 44 mostra a variação da taxa de incidência de doenças diarréicas no
município de Ibicaraí / BA entre os anos de 1999 a 2002. Ao se analisar os valores médios
nota-se que ocorreu um decréscimo constante ao longo dos anos, sendo que o ano de 1999
apresentou as maiores taxas de incidência de doenças diarréicas e o ano de 2002 as
menores. Tal decréscimo ocorreu devido a melhorias nas condições de vida da população
de Ibicaraí, sobretudo no que se refere ao saneamento básico e à implantação do Programa
de Saúde da Família (PSF). Para que este pudesse ser implantado, foi fundada, em
20/05/00, a Associação dos Profissionais do Programa de Saúde de Ibicaraí (APROSF). O
83
PSF em Ibicaraí teve início em 05/06/00 com sete equipes de atuação ou centros de saúde,
Taxa de incidência (por mil hab.)
inicialmente atendendo a 67% das famílias do município.
250
USF 1
USF 2
200
USF 3
USF 4
150
USF 5
USF 6
100
USF 7
USF 8
50
USF 9
Média
0
1999
2000
2001
2002
Figura 44. Taxa de Incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí /BA do ano de 1999 a 2002
Com relação às Unidades de Saúde da Família (USF), observa-se, também na
Figura 46, que a USF 6 apresentou a maior taxa de incidência, face as visíveis carências,
dessa comunidade no que se refere as condições sócio-econômicas, de saneamento básico,
saúde e educação do povoado. De acordo com Silva (2002) a ausência de saneamento
básico apresenta-se como uma das principais causas que contribuem para o aumento das
doenças de pele, das verminoses e das giardíases; contribui sobremaneira para aumentar a
incidência de doenças de veiculação hídrica ou associadas à água. O alto índice de
analfabetismo, associado com os deficientes hábitos higiênicos contribui para aumentar a
incidência de doenças de veiculação hídrica ou associada com a água.
A USF 9 (Zona Rural) apresentou a menor taxa, o que se justifica pelo fato das
famílias residentes nessa área de abrangência estarem fora dos centros urbanos, não sendo
expostas a alguns fatores sinérgicos de risco de contração de doenças diarréicas como
esgotos em valas a céu aberto, desemprego, falta de moradia e fome. Essas famílias em
média apresentam melhor qualidade de vida do que muitas famílias residentes nos centros
urbanos (povoados, vila e sede municipal) em total condição de miséria e abandono.
Convém ressaltar que os sistemas de notificações de agravos por doenças diarréicas
encontravam-se fragmentados e imprecisos para anos anteriores aos pesquisados, fato que
contribui para a permanência dos processos que geram as tais doenças, uma vez que suas
84
magnitudes não podem ser desveladas em totalidade. A deficiência das informações
restringe a atuação do poder público, que poderia gerar políticas públicas mais eficazes e
objetivas, no sentido de romper elos da cadeia de transmissão das doenças, atuando
prioritariamente na prevenção das mesmas.
5.5 RELAÇÃO ENTRE A TAXA DE INCIDÊNCIA DE DOENÇAS DIARRÉICAS
E DISTÂNCIA DO CENTRÓIDE DE CADA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Salienta-se que, por não existir um mapa ou um esboço de planta, que delimitasse a
área de abrangência das USF que se localizam fora da sede do município de Ibicaraí/BA,
não foi possível, a determinação de tais áreas de abrangência e conseqüentemente a
determinação dos respectivos centróides.
A Figura 45 ilustra a relação entre a taxa de incidência de doenças diarréicas e a
distância do centróide, em relação ao rio Salgado, para as Unidades de Saúde da Família
(USF) da sede municipal, que tiveram a área de abrangência delimitada, cujas distâncias
entre o rio e o centróide foram:
USF 1 – 320m
USF 2 – 1.035m
USF 3 – 87m
USF 4 – 443m
USF 5 – 330m
Pode-se observar que a USF 3 é a que tem o centróide mais próximo ao rio Salgado.
Esperava-se que essa USF apresentasse a maior taxa de incidência de doenças diarréicas
entre as USF da sede municipal. Embora a USF 3, não tenha apresentado as maiores taxas
de incidência de doenças diarréicas no município, esta Unidade apresentou-se com a
segunda colocada para a referida taxa.
Tal resultado, justifica-se por ser a comunidade atendida na USF 3, a que mais
encontra-se exposta, de forma direta ou indireta, ao risco de contaminação por doenças
diarréicas oriunda do rio Salgado, uma vez que as residências dessas famílias encontram-se
a uma distância pequena em relação ao rio quando compara-se tal unidade com as demais
existentes na sede do município de Ibicaraí/BA.
85
A USF 2 foi a que apresentou as maiores taxas de incidência de doenças diarréicas,
entretanto esta é a USF cujo centróide encontra-se mais distante em relação ao rio Salgado.
Este resultado contaria o que se esperava. Porém, através de visitas foi observado, que as
condições de moradia, saneamento básico, abastecimento de água
apresentas pela
comunidade que é atendida em tal USF é bastante diferenciada das demais comunidades da
sede municipal. Os bairros que formam a área de abrangência desta unidade são o Sempre
Viva, o Agripino Monteiro (Bairro Novo) e o Delfino Guedes (Mutirão). Estes dois últimos
são os bairros mais novos do município, encontrando-se em fase de implantação da infraestrutura por parte do poder público.
Cabe salientar ainda que o bairro Delfino Guedes é o mais recente de todos os
bairros da cidade de Ibicaraí, sendo formado em regime de mutirão, após doação de lotes
pela Prefeitura Municipal em 1986. Apesar de possuir 17 anos desde a doação dos lotes,
este bairro ainda não possui infra-estrutura finalizada e faz parte da periferia do município.
Observa-se, por isso, valas de esgoto a céu aberto, ruas sem calçamento, muitas residências
não são atendidas pelo sistema de abastecimento público de água nem estão ligadas a rede
elétrica.
4,0
Taxa de incidência (por mil hab.)
2
3
3,5
5
UFS
3,0
PONTO
1
5
4
2,5
3
2
4
2,0
0
200
400
1
600
800
1000
1200
Distância doCentroide
Centróide ao rio (m)
Figura 45. Relação entre a taxa de incidência de doenças diarréicas e a distância do
centróide de cada Unidade de Saúde da em relação ao rio Salgado
86
Dentre os três bairros atendidos pela USF 2 o Delfino Guedes é o que apresenta
maior sinergismo entre os fatores causadores de doenças diarréicas em uma comunidade
(Figura 46).
Figura 46. Vista parcial do Bairro Delfino Guedes, Ibicaraí/BA com destaque para a vala de
esgoto a céu aberto, junho de 2003.
Autora: Joana Valença
87
Ressalta-se que foi detectado através de visitas nas USF da sede municipal, que a
USF 2 apresenta condições sociais, econômica e ambientais diferenciadas das demais USFs
existentes na sede da cidade de Ibicaraí/BA no que diz respeito a infra-estrutura,
saneamento básico, moradia, nível de escolaridade dos moradores e renda, o que a torna
uma unidade distinta. Objetivando-se ter uma visão mais homogênea, das condições
apresentadas pelas comunidades em suas respectivas áreas de abrangência, observou–se o
resultado entre a taxa de incidência de doenças diarréicas e a distância do centróide em
relação ao rio Salgado, retirando-se os dados referentes da USF 2. Assim, nota-se que, a
USF 3, apresenta a taxa mais elevada de incidência de doenças diarréicas e é aquela que se
encontra mais próximo ao rio.
A USF 4, é a que apresenta a menor taxa de incidência de doenças diarréicas, sendo
a Unidade que se encontra mais distante do rio.
Tais resultados possivelmente justificam-se em função da maior exposição ao risco
de contaminação oferecido pela proximidade ou distância da residência dessas pessoas em
relação ao rio Salgado, acrescido do sinergismo de multifatores.
5.6 ANÁLISE DE CORRELAÇÃO
5.6.1 Correlação entre os parâmetros físicos, químicos e microbiológicos
A Tabela 25 mostra a relação entre as variáveis aqui estudadas, medidas através do
coeficiente de correlação de Spearman, onde as células sombreadas são significativas ao
nível de 5%. Nota-se que diversas variáveis se relacionam entre si, sendo que a temperatura
da água se correlaciona positivamente e significativamente com a temperatura do ar,
condutividade e pH. As correlações encontradas na presente pesquisa estão de acordo com
Branco (1978) e Esteves (1998).
O oxigênio apresenta um significativo coeficiente de correlação positiva com a DBO,
resultado que não seria esperado, considerando a literatura pertinente. Tal resultado devese provavelmente aos problemas referentes ao método analítico empregado para análise da
88
DBO, conforme citado anteriormente na metodologia. Assim, as correlações obtidas para o
parâmetro DBO, não poderão ser levadas em consideração, representando puramente uma
possível coincidência matemática.
O oxigênio apresenta um significativo coeficiente de correlação negativa com coliforme
totais e fecais, encontrando-se de acordo com von Sperling (1996).
Na presente pesquisa a condutividade elétrica apresentou significativo coeficiente de
correlação positiva com o pH, estando de acordo com Esteves (1998).
Observa-se também que os coliformes totais apresentaram um coeficiente significativo
de correlação positiva com coliformes fecais, estando de acordo com Silva (1997).
Tabela 25- Matriz de correlação de Spearman entre as variáveis
Tagua
Tagua)
Tar
OD
DBO
Cond
PH
Ctot
Cfec
1,000
Tar (ºC)
,736
,000
66
1,000
OD
,122
,330
66
,310
,011
66
1,000
DBO
,118
,395
54
,181
,190
54
,553
,000
54
1,000
Cond
,609
,000
66
,398
,001
66
,052
,678
66
-,034
,805
54
1,000
PH
,416
,001
66
,317
,009
66
-,008
,948
66
-,245
,074
54
,728
,000
66
1,000
Ctot
,120
,387
54
-,093
,503
54
-,441
,001
54
-,081
,610
42
,117
,401
54
,029
,835
54
1,000
Cfec
-,011
,934
54
-,317
,020
54
-,429
,001
54
-,160
,311
42
,118
,397
54
,045
,745
54
,437
,001
54
1,000
89
5.6.2 Análise de correlação entre os parâmetros de qualidade da água, precipitação
unidades de saúde da família
A relação entre as variáveis aqui estudadas, medidas através do coeficiente de
correlação de Pearson (Tabela 26) mostra que:
A USF 2 é a unidade que mais apresentou correlação entre as variáveis estudadas,
possuindo um coeficiente de correlação positiva e significativo com a USF 4 e 5
possivelmente por serem as USF, que em termos de condições de saneamento básico, as
que mais se assemelham com as condições apresentadas pela USF 2.
Por possuir a maior taxa de incidência de doenças diarréicas a USF 2 correlacionouse positivamente de forma significativa com a média da taxa de incidência de doenças
diarréicas. A USF 2 também, correlaciona-se positivamente com a soma da precipitação
dos 7 dias anteriores à coleta, pois as condições ambientais modificam-se quando ocorrem
chuvas, em função de extravasar a matéria orgânica que encontrava-se acumulada nas valas
de esgoto a céu aberto. Tais correlações confirmam que entre todas as USF da sede do
município de Ibicaraí, esta é a que apresenta o maior índice de incidência de doenças
diarréicas.
A USF 3 apresentou um significativo coeficiente de correlação positivo com os
coliformes totais do ponto de coleta 5 e 4 , uma vez que de acordo com o teste Duncan, tais
pontos de coleta em relação ao referido parâmetro são estatisticamente iguais e por ser essa
USF, a que se situa mais próximo ao rio Salgado. Esta correlação indica que entre outros
fatores, o rio é um dos agentes causadores de doenças diarréica, pois, de acordo com os
resultados obtidos na presente pesquisa, ao se retirar os valores da USF 2, a USF 3
encontra-se em no segundo lugar em índice de incidência de doenças diarréicas.
A precipitação ocorrida de março de 2002 a fevereiro de 2003 apresentou um
coeficiente significativo de correlação positiva com os coliformes fecais nos pontos de
coleta 1 e 5, correlacionando-se também com a precipitação média para o período de
coleta de dados, uma vez que, essas correlações indicam que, as chuvas inicialmente
arrastam para o leito do rio toda matéria orgânica existente nas encostas e posteriormente
90
passam a diluir sua concentração, estando de acordo com Daniel (2001 apud FERRAZ,
2001).
Os coliformes fecais do ponto de coleta 1 apresentaram
um coeficiente de
correlação positivo e significativo com os coliformes fecais do ponto de coleta 5 indicando
que a presença de microrganismos causadores de doenças diarréicas possivelmente são
oriundos de fezes humanas bem como de outros de animais conforme (SILVA,1997). Pode
ser observado que no ponto de coleta 1 não houve evidência da existência de fezes
humanas, embora apresentasse fezes de gado.
5.6.3 Análise de correlação entre a taxa de incidência de doenças diarréica nas USF
da sede municipal e as respectivas medidas de centróide.
A relação entre a taxa de incidência de doenças diarréica nas USF 1, 2, 3, 4 e 5 e as
respectivas medidas de centróide, foram medidas através do coeficiente de correlação de
Pearson (r(S) = 0,2558 ; p = 0,675). Pode-se observar que as variáveis não apresentam
correlação, estando portanto de acordo com Rouquayrol (1993) e Forattini (1992), que
classificam as doenças diarréicas como sendo doenças epidemiológicas e causadas por um
sinergismo de diversos fatores: políticos, culturais, ambientais, econômicos e agentes
patogênicos. A ausência de correlação indica que apenas um único fator isolado não é o
suficiente para a instalação e manutenção de doenças diarréicas em um indivíduo.
91
Tabela 26. Matriz de correlação de Pearson entre as variáveis
USF1
USF1
USF2
USF3
USF4
USF5
UFS6
USF7
USF8
USF9
CH7
COLT1
COLF1
COLT5
COLF5
1,000
,540
-,289
,391
,644
-,124
,064
,117
,235
,376
-,078
-,078
,643
-,559
-,322
-,302
-,156
,
,070
,363
,209
,024
,701
,844
,716
,462
,229
,809
,809
,033
,117
,398
,430
,688
12
USF2
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
-,344
,790
,660
,448
,037
,517
,457
,848
-,341
-,341
,717
-,739
-,246
-,299
-,087
,
,274
,002
,019
,144
,910
,085
,136
,000
,278
,278
,013
,023
,524
,434
,824
12
USF3
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
-,368
-,391
-,229
,573
-,447
-,017
-,031
-,149
-,149
-,461
,373
-,284
,876
-,021
,
,239
,208
,475
,052
,145
,958
,923
,643
,643
,153
,322
,460
,002
,958
12
USF4
12
12
12
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
,398
-,027
,035
,750
,513
,495
-,226
-,226
,601
-,910
-,150
-,206
-,026
,
,200
,934
,914
,005
,088
,101
,480
,480
,051
,001
,701
,595
,947
12
USF5
12
12
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
,203
,081
,287
,192
,600
,057
,057
,708
-,716
,220
-,148
,359
,
,527
,801
,366
,551
,039
,859
,859
,015
,030
,570
,705
,343
12
UFS6
12
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
-,139
,117
-,092
,627
-,167
-,167
,322
-,038
-,056
-,328
-,013
,
,666
,716
,775
,029
,604
,604
,335
,924
,887
,389
,974
12
USF7
12
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
,
-,168
,601
-,114
,725
,400
,198
-,012
,970
-,012
,970
,202
,552
,104
,789
-,132
,734
,677
,045
,075
,848
12
USF8
12
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
,304
,334
,069
,069
,475
-,540
,174
-,094
,340
,
,337
,289
,831
,831
,139
,133
,655
,809
,371
12
USF9
12
12
12
12
11
9
9
9
9
1,000
,269
-,173
-,173
-,174
-,186
-,120
-,433
-,233
,
,398
,590
,590
,609
,632
,758
,244
,547
12
DMED
CH2002
DMED CH2002 CHMED
CH7
COLT1
USF3
USF4
USF5
UFS6
USF7
USF8
USF9
12
12
12
11
9
9
9
9
-,257
-,257
,652
-,417
-,213
,019
,033
,420
12
,420
12
,030
11
,264
9
,582
9
,962
9
,934
9
1,000
1,000
,164
,172
,803
,087
,755 CH2002
,
,000
,629
,658
,009
,824
,019
DMED
12
11
9
9
9
1,000
,164
,172
,803
,087
,755 CHMED
,
,629
,658
,009
,824
,019
12
11
9
9
9
9
1,000
-,698
,019
-,200
,184
,
,037
,962
,606
,635
11
9
1,000
9
,017
9
,139
9
-,112
,
,965
,721
,775
9
COLF1
USF2
1,000
12
CHMED
USF1
9
9
9
9
1,000
,048
,850
,
,902
,004
9
COLT5
9
9
1,000
,394
,
,294
9
COLF5
COLT1
COLF1
COLT5
9
1,000
,
9
Legenda:
DMED- Média da taxa de incidência de doenças diarréicas em Ibicaraí de março/02 a feveriero/03
CH2002- Chuvas ocorridas de março/02 a fevereiro/03
CHMED- Médias das chuvas ocorridas em Ibicaraí de 1999-2002
CH7- Soma das chuvas nos 7 dias anteriores às coletas
COLT1- Resultados de coliformes totais do ponto 1
COLF1- Resultados de coliformes fecais do ponto 1
COLT5- Resultados de coliformes totais do ponto 5
COLF5- Resultados de coliformes fecais do ponto 1
CH7
COLF5
92
CAPÍTULO 6
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que ocorrem ao longo do rio
Salgado picos de degradação da qualidade das suas águas, especialmente no que se refere
aos parâmetros microbiológicos, à medida que o rio atravessa os povoados, vilas e cidades.
Confirmando, em parte, a primeira hipótese da presente pesquisa e a capacidade de
autodepuração do rio Salgado.
Nota-se, o forte impacto negativo oriundo do aporte dos efluentes urbanos não
tratados. Tais contribuições modificam drasticamente as características das águas do rio,
devido ao aporte de elevadas concentrações de matéria orgânica.
Os elevados valores encontrados de condutividade elétrica, face aos fenômenos
naturais e acrescidos pelos lançamentos de dejetos domésticos, contendo sais e detergentes,
somados aos fatores como chorume do lixão e efluentes de curtumes, tornam as águas do
rio Salgado impróprias para o consumo humano sem tratamento prévio adequado, bem
como para a balneabilidade. Infelizmente esse quadro de deterioração de rios que drenam
áreas urbanas é muito comum nas cidades brasileiras, já que muito pouco do esgoto
doméstico é tratado antes de ser lançado nos rios.
Observou-se que o município de Ibicaraí/BA apresentou um decréscimo médio nos
índices de incidência de doenças diarréicas por Unidades de Saúde da Família, durante o
recorte histórico dos últimos quatros anos, podendo-se concluir que melhorias no
saneamento básico, assistência à saúde e abastecimento de água tratada vem ocorrendo.
No entanto, ficou evidenciado que, apesar das melhorias apresentadas, tais índices
ainda encontram-se elevados, evidenciando que as condições de saúde da população de
Ibicaraí/BA são insatisfatórias, exibindo indicadores de doenças diarréicas superiores aos
regionais, de acordo com dados da 7ª Diretoria Regional da Saúde de Bahia.
Objetivou-se analisar as precipitações na área de abrangência do rio Salgado para
observar a existência de correlações entre a precipitação, a qualidade da água, e a saúde das
comunidades ribeirinhas. Os resultados encontrados na presente pesquisa confirmam que as
precipitações, em especial as somas delas durante os sete dias anteriores às coletas,
93
apresentaram significativo coeficiente de correlação com os parâmetros coliformes totais e
fecais, com a taxa de incidência de doenças diarréicas nas USF 1, 2, 4 e 5 .
Ao se observar à distância do centróide das áreas de abrangência das Unidades de
Saúde da Família, relacionando-o com os índices de doenças diarréicas, conclui-se que a
distância da moradia das famílias em relação ao rio Salgado apresentou, na presente
pesquisa, pouca influência sobre o risco de contaminação por doenças diarréicas, negandose a segunda hipótese da presente pesquisa. Entretanto quando se retira da análise os
valores referentes a USF 2 que apresenta condições especiais, ocorre a confirmação da
segunda hipótese, visto que a maiores taxas de incidência de doenças diarréicas ocorreram
nas USFs que apresentaram menores distâncias do centróide para o rio Salgado.
Apesar de ter sido encontrado valores acima do permitido pela legislação para
alguns parâmetros estudados durante o período pesquisado, a água do rio Salgado é apenas
um dos fatores causadores de doenças diarréicas, visto que esta é uma doença
epidemiológica, que surge e se mantém através de um sinergismo de multifatores políticos,
sócio-econômicos, ambientais e, finalmente, patogênicos, sendo este último, no presente
estudo, o fator possivelmente veiculado pelas águas do rio Salgado. A presença dos agentes
patogênicos é preponderante para o surgimento e manutenção das doenças diarréicas;
entretanto, apenas este único fator isolado não é suficiente para tal surgimento e
manutenção.
Após todo arcabouço teórico-prático estudado e desenvolvido, apresentam-se, a
seguir, algumas recomendações, cuja pretensão é de servir como reflexão e base para ações
futuras, no caminho da melhoria da qualidade das águas do rio Salgado, do estado de saúde
da população de Ibicaraí/Ba e, conseqüentemente, da qualidade de vida dessa população:
-
Sugerir que outros trabalhos sejam efetuados sobre a qualidade das águas do rio
Salgado. Incluindo-se a determinação de parâmetros que não foram estudados na presente
pesquisa, tais como DQO, cloretos, carbonatos e vazão, para que se possa elucidar outras
questões sobre a dinâmica desse ecossistema que não fizeram parte dos objetivos do
presente estudo.
- Estabelecer programas municipais de defesa e preservação do rio Salgado, por
parte dos municípios da área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Rio Salgado para,
juntamente com outras entidades ambientais, tentar recuperar a vitalidade do rio.
94
- Monitorar a qualidade das águas do rio Salgado, com a identificação de possíveis
fontes poluidoras.
- Efetuar o tratamento das águas residuárias.
95
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e Meio Ambiente) – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa Regional de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – Sub-Programa
Universidade Federal da Paraíba. 2002. 116 p.
SILVA, Neusely; et al . Manual de métodos de análises microbiológicas de alimentos.
São Paulo: Livraria Varela, 1997. 98 p.
______________________, Manual de métodos de análises microbiológicas da água..
Campinas. São Paulo: ITAL, 2000. 99 p.
SILVEIRA, Sandra Sulamita B. Meio Ambiente: aspectos técnicos e econômicos, 1990.
SINGH, V. P. Elementary hy drology, New Jersey: Prentice – Hall, 1992. 254 p.
VELOSO, Elias Leal. Caracterização sócio-econômica e fisiografica da microbacia
hidrográfica do ribeirão Córrego Grande. (Monografia de Graduação) Ilhéus: 1998.
VOGEL, Arthur. Análise química quantitativa. Traduzido por Horácio Macedo 5ª ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogam, 1992. 712 p.
102
VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos. 2ª ed Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental;
Universidade Federal de Minas Gerais,1996. 243 p.
ANEXOS
104
ANEXOS
ANEXO I - Tabelas de Dados Climatológicos
Tabela 1. Variação mensal da precipitação em Ibicarí /Ba nos anos (1999-2002)
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
1999
83,1
113,4
83,2
79,7
161,5
129,0
58,8
81,1
127,1
282,5
129,2
135,4
Precip.(mm)
2000
194,2
130,9
61,1
60,1
100,2
72,3
78,3
67,7
139,1
120,4
50,0
19,1
2001
98,3
53,9
111,9
106,0
106,5
132,5
43,3
87,0
31,3
157,9
372,6
145,1
2002
94,1
66,7
86,3
135,5
94,9
144,7
59,3
33,5
105,4
216,2
26,8
87,4
Tabela 2. Variação mensal da soma da precipitação dos 7 dias anteriores à coleta
Meses
Mar
Abr
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Precipitação dos 7 dias (mm)
2,8
18,3
57,1
76,9
40,8
5,3
16,7
4,7
1,4
0,0
14,3
105
ANEXO II - Tabelas de Dados Físicos, Químicos e Microbiológicos da Água
Tabela 4. Variação mensal da temperatura da água (°C)
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
27,0
26,0
P2
35,0
25,5
P3
35,2
34,6
P4
32,8
31,2
P5
33,0
32,0
P6
30,9
30,0
Média
32,3
29,9
24,0
25,0
22,0
24,0
24,0
23,0
26,0
25,0
24,0
25,0
25,5
24,0
27,0
30,0
27,0
27,5
31,5
28,0
27,0
34,6
29,0
31,0
35,0
29,0
27,5
34,0
33,0
25,0
31,2
28,0
30,0
33,0
29,0
29,0
32,5
33,0
29,0
32,0
29,0
30,0
33,5
32,0
29,5
34,8
33,0
23,0
30,0
28,0
29,0
31,0
32,0
30,5
34,0
33,5
25,5
29,7
26,7
28,5
31,1
28,7
28,3
32,0
30,8
Tabela 5 – Variação mensal do oxigênio dissolvido (mg/L)
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
8,0
8,1
P2
6,4
6,6
P3
4,8
8,6
P4
6,4
7,5
P5
4,4
6,4
P6
6,2
7,4
Média
6,0
7,4
Temp(ºC)
30,9
31,0
4,2
8,1
8,8
7,7
7,1
6,8
5,2
6,0
7,1
4,1
6,6
7,4
6,9
6,5
5,2
3,8
4,8
5,3
4,2
8,6
8,9
9,6
10,5
8,3
4,9
6,1
7,1
3,7
7,5
6,7
9,3
9,4
7,9
5,6
6,1
6,8
4,3
6,4
5,1
7,3
7,4
7,5
4,8
5,3
6,7
5,2
7,4
7,8
8,7
8,5
7,0
5,9
6,2
7,1
4,3
7,4
7,5
8,2
8,2
7,1
5,0
5,8
6,7
23,0
26,4
32,0
27,9
29,8
28,0
26,3
28,6
29,4
106
Tabela 6. Variação mensal da demanda bioquímica de oxigênio (mg/L)
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
6,6
7,7
P2
5,1
6,1
P3
3,9
4,2
P4
5,2
7,3
P5
4,1
6,1
P6
4,3
7,1
Média
4,9
6,4
Temp(ºC)
28,0
28,1
1,9
2,7
3,9
3,0
4,1
4,6
3,4
27,1
2,8
5,7
6,7
5,2
5,8
6,1
4,6
6,3
5,2 *
3,8 *
4,8 *
4,7
4,8
8,6
6,5
4,8 *
5,9
6,1
4,8
9,1
6,2
5,4
5,0
4,8
6,9
7,4
6,8
4,6
2,4
6,1
4,0
4,9
3,3
5,8
4,7
5,9
4,6
7,0
5,8
5,3
4,7
5,6
27,0
26,9
26,8
27,5
29,2
28,6
( * ) Poderiam ter valores maiores se houve sido feito
diluição das amostras
Tabela 7. Variação mensal da condutividade elétrica (S/cm)
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
75,7
71,6
P2
208,0
187,0
P3
1870,0
1796,0
P4
891,0
956,0
P5
557,0
666,0
P6
325,0
476,0
Média
654,5
692,1
73,5
75,7
77,8
91,9
70,5
74,1
74,6
75,5
75,0
195,5
187,8
204,0
261,0
179,8
202,0
221,0
232,0
195,1
1559,0
925,0
1028,0
1634,0
1980,0
2930,0
3520,0
1818,0
1938,0
1194,0
525,0
754,0
869,0
840,0
855,0
753,0
1377,0
982,0
989,0
513,0
549,0
730,0
582,0
713,0
637,0
993,0
927,0
661,0
518,0
327,0
518,0
416,0
488,0
440,0
847,0
644,0
778,7
457,4
490,0
684,0
678,1
877,0
940,9
890,4
793,5
107
Tabela 8. Variação mensal do potencial hidrogeniônico por pontos de coleta
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
6,4
6,8
P2
8,2
7,1
P3
8,3
8,4
P4
7,9
7,8
P5
7,7
7,8
P6
8,2
8,1
Média
8,2
7,1
7,8
6,5
7,0
6,4
6,3
6,5
6,2
5,9
6,6
8,3
7,1
7,4
7,2
6,8
7,3
7,2
6,5
6,9
8,5
8,4
8,5
8,4
7,0
8,5
8,2
8,0
8,6
8,2
7,8
8,3
8,0
8,2
8,0
7,5
7,9
8,0
8,4
7,8
8,0
7,8
7,8
7,9
7,5
8,1
7,7
8,5
8,1
7,9
7,6
7,9
8,0
7,9
8,2
8,3
8,3
7,1
7,4
7,2
6,8
7,3
7,2
6,5
6,9
Tabela 9. Variação mensal dos coliformes totais por pontos de coleta
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
3.600,0
2.000,0
6.000,0
15.300,0
5.600,0
30.000,0
19.000,0
9.500,0
20.000,0
P2
P3
3.000.000,0 30.000,0
1.000.000,0 20.000,0
2.000.000,0 100.000,0
2.000.000,0 10.000,0
3.000.000,0 30.000,0
6.000.000,0 20.000,0
8.000.000,0 80.000,0
3.000.000,0 50.000,0
5.000.000,0 20.000,0
P4
P5
770.000,0
30.000,0
310.000,0
80.000,0
120.000,0
50.000,0
120.000,0
110.000,0
80.000,0
300.000,0
30.000,0
180.000,0
130.000,0
200.000,0
100.000,0
220.000,0
190.000,0
480.000,0
P6
Média
40.000,0 690.600,0
30.000,0 185.333,3
10.000,0 434.333,3
30.000,0 377.550,0
10.000,0 560.933,3
40.000,0 1.040.000,0
80.000,0 1.419.833,3
40.000,0 566.583,3
60.000,0 943.333,3
108
Tabela 10. Variação mensal dos coliformes fecais por pontos de coleta
Meses
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
P1
4.500,0
2.000,0
600,0
1.000,0
200,0
0,0
10.000,0
100,0
0,0
P2
P3
1.000.000,0 150.000,0
7.000.000,0 2.500,0
2.000.000,0 10.000,0
0,0
0,0
40.000,0 30.000,0
0,0
0,0
30.000,0 40.000,0
3.000.000,0 10.000,0
0,0
0,0
P4
660.000,0
0,0
40.000,0
0,0
60.000,0
10.000,0
120.000,0
10.000,0
80.000,0
P5
P6
Média
190.000,0 10.000,0 335.750,0
20.000,0 10.000,0 1.172.416,7
40.000,0
0,0
348.433,3
600,0
0,0
266,7
10.000,0 80.000,0 36.700,0
0,0
0,0
1.666,7
180.000,0160.000,0 90.000,0
10.000,0
0,0
505.016,7
50.000,0
0,0
21.666,7
Anexo III. Tabela de Dados de Incidência de Doenças Diarréicas em Ibicaraí/BA
Tabela 11. Taxa de Incidência de doenças diarréicas por USF em Ibicaraí/BA, de março de
2002 a fevereiro de 2003
Meses USF1 USF2 USF3 USF4 USF5 UFS6 USF7 USF8 USF9 MÉDIA
3
2,73
3,93
4,43
2,75
2,13
8,53
2,32
1,02
2,03
3,32
4
1,7
3,63
2,73
2,7
2,5 10,93
1,68
1,27
0,6
3,08
5
3,4
4,6
2,75
3,73
3,98
8,05
3,2
2
2,03
3,75
6
3,6
4,75
3,38
2,28
4,7 14,88
2,85
1,48
0,68
4,29
7
3,88
5,63
2,1
3,08
4,5 15,13
3,8
1,1
1,08
4,47
8
3,87
3,23
3,1
2,2
3
5,43
1
1,23
0,68
2,64
9
3,43
2,4
3,05
1
2,9
7,55
1,75
0,58
0,48
2,57
10
1,6
4
3,5
2,53
2,33 14,03
1,03
1,58
0,68
3,47
11
2,13
2,93
3,38
0,6
1,98 16,43
1,1
0,95
0,9
3,38
12
1,1
1,83
3,15
0,83
2,85
9,18
1,43
1
0,73
2,45
1,02
0,68
1,55
3,48
1
2,78
4,08
4,1
1,5
3,93 11,65
2
2,13
2,65
5,9
1,2
2,45
8,25
8,53
0,65
0,45
3,58
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Ibicarái/BA
109
Tabela 12 . Taxa de Incidência de doenças diarréicas por Unidade de Saúde da Família em
Ibicaraí /BA do ano de 1999 a 2002
USF 1
USF 2
USF 3
USF 4
USF 5
USF 6
USF 7
USF 8
USF 9
Média
1999
57,3
89,1
50,3
47,7
62,9
209,6
44,7
24,0
19,0
67,2
2000
42,6
39,8
31,5
34,0
31,6
85,4
29,8
13,0
8,8
35,2
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Ibicarái/BA e 7ª DIRES
2001
20,9
35,6
35,0
15,8
42,9
137,8
17,2
12,5
15,9
37,1
2002
15,5
19,5
51,4
7,8
19,3
100,2
7,2
8,1
7,8
26,3
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rio salgado: agente de agravos à saúde das populações