REPORTAGEM DA REUTERS
Publicado em 25/02/15
Indústria de soja prevê maiores gargalos com protestos
de caminhoneiros
Reuters
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de soja do Brasil, que
lidera as exportações agropecuárias brasileiras e é
fornecedora chave para a cadeia de alimentos doméstica,
prevê que os gargalos da infraestrutura do país poderão ter
uma acentuada piora nos próximos meses diante dos
protestos de caminhoneiros, que bloqueavam nesta quartafeira quase 100 rodovias federais em dez Estados.
Os protestos, que entraram no seu oitavo dia, já afetam a
colheita de soja, que está em um momento crucial, e o
recebimento do produto pelas indústrias processadoras,
assim como a chegada do grão e derivados nos portos de
exportação e para as indústrias de ração. Grande parte dos
setores da economia estão sendo afetados, incluindo o
abastecimento de combustíveis.
Com as manifestações dos caminhoneiros, que pedem
menores custos com transportes e tributos, as exportações
de soja, farelo e óleo de soja --que só perdem para o
minério de ferro na pauta de exportação brasileira-- são
ameaçadas justamente em um momento em que
ganhariam ritmo, segundo a Associação Brasileira das
Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
E, mesmo que os protestos sejam suspensos em breve, a
expectativa da Abiove é de que haja problemas para
normalizar a situação do abastecimento de indústrias e
portos, com reflexos nas operações da cadeia exportadora
e produtora.
"Vai escoar um monte de soja e milho tudo de uma vez... e
a gente não tem armazenagem para segurar tudo isso",
afirmou o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan
Amaral, em entrevista à Reuters.
Segundo o representante da Abiove, os protestos ainda
não chegaram a interromper as exportações de soja, que
estão em seu início da temporada do Brasil, porque os
portos exportadores tinham algum estoque antes do início
das manifestações.
Mas, se os protestos continuarem, a soja que estava
armazenada nos portos poderá acabar, prejudicando os
embarques e gerando custos adicionais, por conta de
multas aplicadas em atrasos no embarque de navios.
Na terça-feira, os manifestantes bloquearam o acesso ao
porto de Santos, o principal do país, enquanto o número de
caminhões levando soja para o porto de Paranaguá ficou
bem aquém do esperado para esta época.
Os contratos futuros da soja operavam em leve baixa nesta
quarta-feira, por volta das 12h20 (horário de Brasília), após
atingirem uma máxima de seis semanas na terça-feira, com
operadores atentos à possibilidade de a demanda global
migrar para os Estados Unidos por conta dos protestos no
Brasil.
COLHEITA
Os produtores já não conseguem colher em algumas áreas
do Mato Grosso, segundo relatos feitos à Reuters, por
conta da escassez de diesel que move as colheitadeiras.
Outras áreas do Estado, o maior produtor de soja do Brasil,
têm diesel somente para poucos dias.
"Essa falta de diesel vai ser problema de hoje para
amanhã... Nossa safra é agora", disse o presidente do
Sindicato Rural de Sorriso, Laércio Lenz.
"Muitos postos e
desabastecidos."
varejistas
de
combustíveis
estão
(Com reportagem adicional de Gustavo Bonato, no Mato
Grosso)
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