6 Jornal do Comércio - Porto Alegre Segunda-feira, 16 de março de 2015 Mercado de Capitais YASUYOSHI CHIBA - AFP/JC BM&FBovespa prevê que mais companhias devam fechar capital em 2015 Após registrar apenas uma abertura de capital em 2014, este ano promete ser ainda mais difícil para a bolsa brasileira Sem uma única abertura de capital em vista, a bolsa brasileira está vendo aumentar o movimento de empresas que, sentido-se desvalorizadas pelos investidores, passaram a considerar o fechamento de seu capital. Dos 15 fechamentos de capital registrados em 2014 pela BM&FBovespa, oito se concentraram no último trimestre. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando, neste momento, mais quatro pedidos: da fabricante de cigarros Souza Cruz, da rede hoteleira BHG, do Bic Banco e da Companhia Providência, empresa de materiais usados na fabricação de fraldas e absorventes. Segundo fontes, outras empresas podem engrossar essa lista, entre elas a Romi, de equipamentos e a Abril Educação,que recebeu novo aporte de R$ 1,3 bilhão do fundo Tarpon, agora controlador do negócio. As empresas não comentaram as informações e a Bovespa não quis dar entrevista. Os motivos por trás dos pedidos de fechamento são os mais variados. Podem estar ligados a uma aquisição, como é o caso da Providência, que teve seu controle comprado pela americana PGI no ano passado, ou a uma decisão estratégica - exemplo da Souza Cruz. Sua controladora, a British American Tobacco, está fechando o capital de diversas subsidiárias ao redor do mundo. Para algumas empresas, pesa a percepção dos acionistas de que os ativos da companhia estão subavaliados e que o melhor para proteger seu negócio é sair da bolsa. É o que está por trás, por exemplo, das saída da BHG, controlada pela gestora GP Investimentos, e da empresa de gestão de imóveis imobiliários BR Properties. Há algumas semanas, o banco de investimentos BTG Pactual e a canadense Brookfield anunciaram a intenção de fazer uma oferta pública voluntária de aquisição (OPA) para assumir o controle da BR Properties, por considerarem que o valor de mercado da companhia não é compatível com seus ativos. Um levantamento da consultoria Economática mostra que, das 62 companhias que integram o Ibovespa, 23 estão com o valor de mercado inferior ao patrimônio líquido, com predomínio de empresas de construção e de energia elétrica. O desânimo com a conjuntura nada favorável da economia também é um dos motivos para empresas desistirem da bolsa já que, sem um horizonte para expandir a operação, elas não precisariam buscar financiamento no mercado de capitais. O advogado José Eduardo Carneiro, do escritório Mattos Filho, diz que as consultas sobre fechamento de capital ao escritório aumentaram, mas pondera que é um movimento comum em um cenário econômico tão instável. Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), William Eid Junior, o custo de manter uma empresa aberta é o que menos influencia a decisão, já que gira em torno de 0,04% da receita. “É mais uma relação entre a energia que se gasta para manter uma empresa listada, com toda a burocracia envolvida, e os benefícios gerados.” Segundo João Luiz Braga, cogestor dos fundos de bolsa da XP Gestora, a taxa de retorno sobre investimento é o que baliza a decisão das empresas. “Se, por exemplo, em vez de abrir uma nova loja, a companhia prefere recomprar as suas ações, é sinal de que ela deve estar considerando a ação Dos 15 pedidos registrados em 2014 no País, oito se concentraram no último trimestre barata e que acredita que terá um retorno maior vendendo os papéis mais à frente do que investindo no negócio.” Há também quem enxerga nesse movimento uma “janela” para a compra de ativos importantes por preços considerados camaradas. A disputa entre fundos de private equity (que compram fatias em empresas) e bancos de investimento já começou. “Estamos olhando ativamente empresas listadas, mas não necessariamente para fechar o capital. Cada caso é um caso”, diz Patrice Etlin, presidente do fundo Advent. Outra fonte do setor de private equity, que prefere não se identificar, diz que o número de propostas informais para compra de ações cresceu muito nos últimos meses. O problema é que os investidores oferecem de 20% a 30% sobre o valor atual da ação, em um momento em que o entendimento das próprias empresas, em geral, é de que seus papéis estão com um deságio de até 50%. Empresas estudam listagem nos EUA em busca de oportunidades O pessimismo em relação ao futuro do mercado acionário local tem aumentado o interesse de algumas companhias em desembarcar em Nova Iorque. Hoje, existem 27 empresas brasileiras com papéis negociados na Nyse Euronext, e a última listagem - da Brasil Agro - ocorreu no final do 2012. As emissões rarearam depois do advento do Novo Mercado, segmento que abriu as portas para o investimento direto de estrangeiros no Brasil. Agora, o interesse pelo mercado americano voltou. Advogados relatam que as empresas começam a buscar informação sobre a listagem lá fora com a intenção de se preparar para o momento em que uma janela de oportunidade se abrir. A dupla listagem, aqui e nos EUA, também está sendo cogitada. Alex Ibrahim, vice-presidente para América Latina e Caribe da Nyse Euronext, confirma que já esteve com uma série de empresas interessadas em ingressar no mercado de capitais americano. “Estive no Brasil em dezembro para conversar com executivos que nos procuraram”, afirma. No ano passado, em volume negociado, o Brasil liderou o ranking dos países com ADRs (recibos que representam ações de empresas) listadas na Nyse, seguido da China e da Rússia. Segundo o executivo da bolsa, as companhias com mais interesse em abrir o capital somente em Nova Iorque estão nos setores de tecnologia e agronegócios. “O interesse está ligado ao fato de que elas encontram pares já listados e podem contar com fundos que investem especificamente nesses segmentos”, diz. A dupla listagem também já está em pauta, principalmente para companhias que possuem papéis na bolsa brasileira. Investidores minoritários podem solicitar revisão de preço das ações Todo acionista minoritário está sujeito a ver a empresa em que investe fechar o capital. Seja por uma estratégia do controlador ou porque o retorno entregue aos investidores está abaixo das expectativas, qualquer companhia pode avaliar que o melhor é se retirar do mercado. Quando o acionista se depara com essa situação, ele tem duas opções: manter os papéis na empresa (mesmo que fechada) ou vendê-los na Oferta Pública de Aquisições (OPA), operação na qual a controladora compra as ações em circulação para deixar a bolsa. No caso do minoritário, a decisão de continuar com as ações em mãos deve estar baseada na confiança que ele tem no projeto da empresa, segundo Denise Salles, sócia do escritório de advocacia Vella Pugliese Buosi e Guidoni Advogados. “Se ele tem menos de 5% das opções, por exemplo, ele vai ter pouquíssimos direitos sobre a condução dos negócios.” As reações variam, mas o mais comum, de acordo com a advogada, é o acionista minoritário livrar-se dos papéis. Isso porque, além de saber que não terá influência nos negócios, ele vislumbra a possibilidade de lucrar com a venda de seus papéis, já que pode ocorrer de o preço da ação na OPA ser superior ao valor que o mercado pagaria normalmente. Em um processo de OPA, quem define o valor justo da ação é uma empresa independente, sem vínculos com a companhia que quer fechar o capital. Se mais de 10% dos acionistas não concordarem, eles podem pedir a revisão desse valor.