QUEM É O COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS – CBDB O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), sociedade civil, sem fins lucrativos, de escopo técnicocientífico, comissão nacional (brasileira) da Comissão Internacional de Grandes Barragens, tem por finalidade o desenvolvimento das técnicas de planejamento, projeto, construção, operação e manutenção de barragens e obras conexas, incluindo usinas hidrelétricas e manejo de rejeitos de mineração, compatibilizando-as com o meio ambiente. Para consecução de sua finalidade cabe ao CBDB: • Promover conferências, seminários e congressos e editar publicações, visando ao intercâmbio de conhecimentos; • Divulgar a legislação concernente e colaborar para sua atualização e cumprimento; • Divulgar conhecimentos de aplicações de critérios e metodologias; • Estimular pesquisas técnicas e cientificas; • Estimular o interesse de entidades de ensino e estudantes e propor aos poderes públicos medidas que visem a assegurar a qualidade, a segurança e a economicidade das barragens; • Colaborar com entidades que planejam, projetam, constroem ou utilizam barragens e obras conexas, para aperfeiçoar seus métodos e observar o comportamento desses empreendimentos; • Colaborar com a Comissão Internacional de Grandes Barragens no que se tornar necessário e/ou conveniente; • Propugnar pela ética nos assuntos da engenharia de barragens. A diversidade está cada vez mais presente entre os sócios do CBDB, abrangendo desde biólogos, sociólogos, ambientalistas, advogados, economistas e administradores até os tradicionais engenheiros civis, eletricistas e mecânicos, acompanhando a complexidade crescente dos empreendimentos. DIVULGAÇÃO E APRIMORAMENTO DO CONHECIMENTO, NOSSO OBJETIVO: O Comitê Brasileiro de Barragens – CBDB - tem como um dos seus principais objetivos proporcionar a difusão do conhecimento técnico sobre barragens e obras hidrelétricas no Brasil, realizando diversos eventos técnicos, sobre temas gerais ou específicos que estejam na pauta do meio técnico nacional, quando da sua realização. O principal evento promovido pelo CBDB é o SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS, que acontece, aproximadamente, a cada dois anos, com um total de trinta eventos, já realizados. Organiza Simpósios sobre Pequenas Centrais Hidrelétrias, Instrumentação, Barragens de Rejeitos, Segurança de Barragens, Cursos e Palestras diversos, além de treze Comissões Técnicas Nacionais, nos mais variados temas. Publica livros diversos de referência para a Engenharia de Barragens brasileira. Edita a Revista Brasileira de Engenharia de Barragens, anual, e mantém o Boletim Informativo do CBDB, emitido a cada dois meses. Mantém disponível aos sócios vasto arquivo na web, com trabalhos, boletins, livros, entre outras publicações. A sede do Comitê é no Rio de Janeiro, na Rua Real Grandeza 219, bloco C, sala 1007, CEP: 22.281-031, havendo núcleos regionais em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás/Brasília, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM BARRAGENS? Barragens são estruturas utilizadas para, como o próprio nome diz, barrar o fluxo de um fluido, seja ele água, rejeitos, contaminantes, assoreamento, detritos, vazamentos, enchentes, etc. O conteúdo barrado pode ser um depósito, como é o caso dos rejeitos, detritos, contaminantes, ou pode ser uma fonte, como é o caso de água para abastecimento, geração elétrica, irrigação, lazer, navegação, etc. COMO SÃO FEITAS AS BARRAGENS? As barragens podem ser de vários tipos, tanto em função de sua destinação quanto em função dos materiais de que são construídas, podendo ser de terra, terra e enrocamento, enrocamento com núcleo impermeável, núcleo asfáltico, face montante impermeável por manta ou face de concreto, arcos, arcos gravidade, arcos múltiplos, gravidade, gravidade aliviada, etc. A cada tipo de barragem está intrinsecamente ligada maior ou menor probabilidade de risco, em função dos materiais, forma, local de construção, método construtivo. Em função disso, são projetadas com coeficientes de segurança que cubram a maior parte dos riscos, como qualquer outra obra de engenharia. Como cada barragem está em um local único, que jamais se repete, as barragens não podem ser padronizadas e resta, sempre, uma pequena incerteza, que é coberta pelo fator de segurança, ou seja, elas são sempre construídas deixando uma margem de segurança. Uma barragem é composta de partes: a fundação e seus apoios laterais, chamados de ombreiras, o maciço de que é construída com suas funções internas, a proteção junto ao reservatório contra ondas, chamada riprap, a proteção do topo ou crista, a proteção da face exposta ao tempo, por grama, pedras, etc. As barragens não são estanques. Elas permitem que a água passe por elas, desde que de maneira controlada, ou seja, sem carregar materiais, seja da fundação e ombreiras, seja do próprio corpo. Para isto, são projetados drenos, que são filtros, que deixam passar apenas água. Esta água é monitorada por instrumentos. Instrumentos também monitoram recalques, fissuras, abatimentos, pressão interna e na fundação, nível d´água, movimentos diferenciais, etc. Mas o mais impotante é o acompanhamento do comportamento da estrutura por especialistas, com inspeções rotineiras, formais e especiais. São exigidos periodicidade e tipo de relatórios, além de acompanhamento de providências caso sejam observadas anormalidades. Tudo isto está preconizado na Lei de Segurança de Barragens, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional, LEI Nº 12.334, DE 20 DE SETEMBRO DE 2010, bem como pelas regulamentações pelos órgãos fiscalizadores, ANA, ANEEL, DNPM, Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, entre outros. QUAL A DIFERENÇA PRINCIPAL DAS BARRAGENS DE REJEITOS PARA AS DEMAIS? Barragens de rejeitos têm uma peculiaridade: são frequentemente construídas aos poucos, ao contrário das demais, que são construídas em sua altura e dimensões finais. Por que isto acontece? Barragens de rejeitos são utilizadas para conter os resíduos de uma mineração, por exemplo. Como o processo de lavra de uma mina é lento e pode levar anos, é mais econômico construir a barragem aos poucos, ou seria oneroso para a empresa que está iniciando a exploração contruir uma barragem gigantesca, que ficaria sem utilização por vários anos. Esta peculiaridade faz com que a vida deste tipo de barragem passe por diversas fases, ao longo de décadas. Neste período a engenharia muda, o dono muda, o responsável muda, até os materiais disponíveis mudam. Então, elas devem ser mais seguras que as demais, pois você tem que ter certeza que está alteando uma barragem, ou seja, construindo sobre a barragem anterior, com segurança. A base tem que ser suficientemente forte para suportar os novos esforços. Os alteamentos não tem um frequência pré-determinada, pois, caso o mercado esteja comprando menos minério, a velocidade de alteamento será menor e vice-versa. Com o alteamento, sua capacidade de armazenamento aumenta. Outra peculiaridade é que podem ser construídas com os próprios rejeitos, desde que tenham capacidade adequada de suporte. É engenharia altamente especializada, executada por poucos no mundo. E o Brasil é especialista, dada a província mineral que é, especialmente Minas Gerais. Fonte Romero C. Gomes – Depto. de Engenharia Civil/UFOP – Barragens de Rejeitos QUE SINAIS UMA BARRAGEM PODE DAR DE QUE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO DIREITO, COMO PROJETADA? Mesmo sendo construídas com segurança, mesmo com monitoramento bem feito, mesmo com manutenção e correção bem feitos, as barragens podem apresentar defeitos, como qualquer outro tipo de estrutura concebida pelo homem. Alguns defeitos emitem sinais: fissuras que aumentam ou oscilam, drenos que diminuem ou aumentam a vazão, tendência de crescimento ou diminuição de pressões internas, movimentação diferencial entre duas ou mais partes, barulhos como de água passando, crescimento de vegetação, surgimento de água em locais não apropriados, carreamento de materiais finos, etc. Para isto o monitoramento tem a frequência de acordo com a classe de risco da barragem. Esta classe está caracterizada na Lei acima referida, bem como nas regulamentações acessórias e deve ser recalculadaa dentro de uma periodicidade que é função de características da barragem, tais como idade, altura, vertedouro, tipo, impacto rio abaixo, além de como está sua manutenção e funcionamento. Ou seja, caso ela mude de classe, sua periodicidade de monitoramento muda, para mais ou menos frequente. Quanto maior o risco, mais próximo é o acompanhamento. HÁ QUANTO TEMPO OPERAM AS BARRAGENS DA SAMARCO EM MARIANA? QUAL A CAPACIDADE? Características da Barragem do Germano (Maio/2011) Fonte Barragens de Rejeitos no Brasil – CBDB – 2011 DADOS GERAIS Finalidade Contenção de rejeitos Cota Atual da Crista 920,0 m Altura Atual do Maciço 175,0 m (considerando a fundação na El.745m) Comprimento Atual da Crista 300,0 m A implantação da Barragem do Germano foi iniciada em 1976 com a construção de um dique de partida de enrocamento, impermeabilizado por um núcleo de material argiloso a montante, com uma camada de transição entre o núcleo e o enrocamento. Este dique foi construído com crista na elevação 849,5 m e altura máxima igual a 70 m. A partir daí, foram realizados alteamentos sucessivos para montante, na medida em que se elevava o nível de rejeitos lançados no interior do seu reservatório. Os alteamentos foram realizados através de diques de aterro compactado com altura variável entre 4 e 6 metros, até ser atingida a elevação 886 m. A partir de 1993 o alteamento da barragem principal, por diques a montante junto à crista do estágio anterior, passou a ficar inviável por razões de estabilidade da barragem. Com o objetivo de garantir a continuidade do lançamento dos rejeitos no reservatório, sem comprometer a estabilidade da barragem, os alteamentos subsequentes foram executados com afastamento entre 60 e 100 metros para montante da crista existente na elevação 886 m. A crista da barragem alcançou a elevação 899 m com aproximadamente 120 metros de altura. A partir daí, o empilhamento drenado de rejeitos arenosos, a jusante da Barragem do Germano, foi a alternativa adotada para postergar a implantação de uma nova área de disposição de rejeitos e melhorar as condições de estabilidade da barragem principal, visando a situação de fechamento. O empilhamento de rejeitos a jusante da Barragem do Germano teve início a partir de um dique de partida, construído com aterro compactado, com inclinação dos taludes igual a 1V:1,5H e crista na cota 790 m, com o ponto mais baixo das fundações na elevação 745,0 metros. O sistema de drenagem interna deste dique de partida consistia em um filtro inclinado no talude de montante e na crista do dique, composto por camadas de oversize fino e grosso, blocos passados em grelha e blocos de maior dimensão. O talude de jusante foi protegido com blocos. A partir da construção deste dique de partida foram feitos alteamentos consecutivos para montante, a cada 5 m de altura. O núcleo dos diques é constituído por rejeito arenoso, protegido na face de jusante por solo argiloso compactado Os taludes de jusante possuem inclinação igual a 1V:2H com um talude médio global igual a 1V:3H. O sistema de drenagem interna do empilhamento consiste, além do dreno do dique de partida, de um dreno situado no fundo do vale, desde o dique de partida de enrocamento até o “offset” do empilhamento de jusante da Barragem do Germano. No contato dos rejeitos do reservatório da Pilha a Jusante com o talude de jusante da Barragem do Germano há um dreno interligado ao dreno de fundo. Com este sistema de drenagem interna, o maciço de rejeitos é eficientemente drenado, constituindo-se, portanto, em um maciço não saturado e estável. O sistema de drenagem superficial é constituído por uma descida d’água, em escada, posicionada na ombreira esquerda, disposta perpendicularmente às canaletas longitudinais das bermas. O sistema de drenagem superficial é construído à medida que os alteamentos são implantados. No futuro, o reservatório da Barragem do Germano será unificado com o reservatório da Barragem do Fundão na cota 920,00m, pois ambas as barragens ocupam vales contíguos. Portanto, considerando a cota de fundação, em seu ponto mais baixo, a altura total da Barragem do Germano será de 175,0 metros. A SAMARCO TEM SEGUIDO OS REQUISITOS DE MANUTENÇÃO E SEGURANÇA? NÃO É NECESSÁRIO UM SISTEMA DE ALARMES EM CASO DE VAZAMENTO? Fomos informados que sim, tem Plano de Segurança de Barragens, Plano de Ações Emergenciais para Barragens de Mineração- PAEBM, acompanhamento, etc. Sistemas de Alarmes fazem parte do PAEBM, caso se identifique como necessários, sendo, geralmente, responsabilidade de órgãos da Defesa Civil, orientados pelo PAEBM. QUEM É RESPONSÁVEL PELA FISCALIZAÇÃO DA BARRAGEM DO FUNDÃO? Os órgãos responsáveis por fiscalizar, neste caso, são o DNPM e a FEAM. O COMPLEXO GERMANO PASSOU POR EXPANSÃO RECENTEMENTE. ISSO PODE TER RELAÇÃO COM O ACIDENTE? Pode ser uma das inúmeras causas possíveis, mas que, no momento, é temerário afirmar, dada a escassez de dados públicos. INFORMAÇÕES SOBRE RECENTES TRAGÉDIAS E INCIDENTES ENVOLVENDO BARRAGENS NO BRASIL E NO MUNDO. Como podemos observar nos dados abaixo, os acidentes que ocorreram no Brasil tiveram impacto relativo pequeno em relação a outros acontecimentos no mundo, tanto em óbitos quanto em contaminação. Principais Acidentes com Mortes (1970-‐2001) ANO BARRAGEM / PAÍS NUM. DE MORTES 1985 Stava / Itália 269 1972 Buffalo Creek / USA 125 1970 Mufilira / Zambia 89 1994 Merriespruit / África do Sul 17 1974 Bakofeng / África do Sul 12 1995 Placer / Filipinas 12 1986 Fernandinho / Brasil 7 2001 Rio Verde / Brasil 5 1978 Arcturus / Zimbabwe 1 (dados segundo ICOLD-2001) Acidentes Recentes com Contaminação ANO LOCAL CONSEQUÊNCIA 2007 Mirai / Brasil Vazamento de Rejeitos de Bauxita Interrupção de Fornecimento de Água 2006 Mirai / Brasil Vazamento de Rejeitos de Bauxita Interrupção de Fornecimento de Água 2003 Cataguases/ Brasil Lixívia negra Liberada Interrupção de fornecimento de Água 2000 Kentucky/ Usa Mortalidade de Peixes Interrupção no Fornecimento De Água 2000 Romênia Contaminação das Águas c/ Metais Pesados 2000 Romênia 100.000m³ de Cianeto Contaminando Águas 1999 Filipinas 700.000 t. de Cianeto Contaminando Águas 1998 Haelva/ Espanha 50.000 m³ de Água Ácida Tóxica Liberada 1998 Aznalcóllar/ Espanha 5,0 milhões de m³ de Água Ácida Liberada 1995 Omai / Guiana 4,2 milhoes de m³ de lama com Cianeto (dados segundo ICOLD-2001) QUAIS PODEM SER AS POSSÍVEIS CAUSAS DE UM ROMPIMENTO DE BARRAGEM DO FUNDÃO? • • • • • • Cisalhamento; Fissuração; Galgamento com erosão superficial progressiva; Instabilidade de Taludes; Liquefação por deformação excessiva por carregamento estático; Liquefação por carregamento por impacto; • • • • • Liquefação por carregamento cíclico, tal como um carregamento por sismo; Instabilidade de Fundação; Movimentação de fundação ou ombreiras; Percolação excessiva com ou sem carreamento de finos; Entre outras pouco frequentes. DO QUE É COMPOSTO O REJEITO DE UMA BARRAGEM DE MINERAÇÃO? OS COMPONENTES PODEM SER TÓXICOS? QUE TIPO DE MAL PODEM CAUSAR PARA AS PESSOAS (EM CONTATO COM A PELE OU RESPIRAÇÃO) E PARA O MEIO AMBIENTE? O composto do rejeito de uma barragem de mineração varia em função do minério e dos processos físicoquímicos envolvidos no beneficiamento. Pode ser tóxico com os resultantes da extração e refino de ouro e alumínio e não tóxico como os de minério de ferro. Entretanto, quando o assunto é impacto ambiental, a lama fina ferruginosa, por ser solúvel e muito fina, pode ser transportada em suspensão a grande distância a partir do acidente, causando transtornos nos locais onde acaba sendo depositada, além de reduzir muito a oxigenação dos rios enquanto estiver em suspensão.