UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA E QUALIDADE DE VIDA
NO TRABALHO
ISAURA AZEVEDO LIMA
Orientador
Prof. Antônio Fernando Vieira Ney
Rio de Janeiro
ABRIL 2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA E QUALIDADE DE VIDA
NO TRABALHO
ISAURA AZEVEDO LIMA
Trabalho monográfico apresentado como requisito
parcial para obtenção do Grau de Especialista em
Gestão de Recursos Humanos
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pela minha
família, pelos meus amigos, pelo meu trabalho e por esta
oportunidade de aprendizado e de aperfeiçoamento.
Ao meu marido, amigo e companheiro,
e aos meus
amados e queridos filhos pelo que representam em minha
existência, pelo apoio,
pelo incentivo e
pela forma
carinhosa, amorosa e compreensiva que compartilharam
minha apreensão e ansiedade em concluir este trabalho.
A minha sogra pelo apoio, dedicação e presença constante
em minha vida e de meus familiares, principalmente nos
momentos mais difíceis.
Aos meus amigos e companheiros de trabalho, com os quais
convivo há muitos anos, em especial, Doralice, Elaine,
Fátima Albini, Gomes, Vera A. Lima e Virgínia
pela
disponibilidade, apoio, e incentivo, tornando possível à
realização desta monografia.
Aos professores da Universidade Candido Mendes, projeto
“A Vez do Mestre”, por terem me auxiliado através do
conhecimento e experiências compartilhadas em sala de
aula, em especial, ao Professor Antonio Ney, orientador
dessa monografia, pelas suas orientações e sugestões que
muito contribuíram para o formato final deste trabalho.
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Aos colegas de curso, especialmente, Bebel, Bianca, Girlei e
Priscila, com quem tive a oportunidade de conviver mais de
perto, pelos momentos agradáveis que passamos juntas, pela
amizade, pelo carinho e experiências compartilhadas.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para
que chegássemos ao final desta nossa etapa.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os profissionais engajados e
comprometidos com
a área
de
Recursos Humanos, em
especial à Dependência Química, e àqueles que, como
grande guerreiro, lutam para se manter na sobriedade
e para àqueles que a vem buscando.
Dedico, ainda,
aos
meus
pais
“In
Memorian”
pelo
exemplo de coragem, de simplicidade, de honestidade
e
de perseverança, pelo amor, pelo carinho, pela atenção
e pela compreensão que me dedicaram e pelos valores éticos
e morais que me transmitiram.
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RESUMO
A Dependência Química, por suas características peculiares, traduz-se em
doença multifatorial, ou seja, é desencadeada por uma série de fatores. É, ainda,
uma doença não seletiva pela maneira como atinge as pessoas em todos os
campos: pessoal, familiar e laborativo.
Com este trabalho o que se pretende abordar são as formas como esta
doença pode afetar a Qualidade de Vida das pessoas usuárias de drogas dentro
do seu ambiente funcional, bem como a importância dos programas, projetos e
iniciativas que podem ser promovidas pelas
organizações, pelas empresas,
visando a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho.
Nossa experiência no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro nos dá o
respaldo para afirmar que a valorização do homem e a priorização dos programas
de prevenção, acompanhamento e tratamento da dependência química geram
bons resultados.
Temos como objetivo também ressaltar a importância da relação direta
desses Programas com a Qualidade de Vida no Trabalho.
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METODOLOGIA
Esta monografia foi elaborada através de consulta bibliográfica, busca de
material na internet, trabalho de pesquisa documental (fichas sociais, histórico
funcional, dados estatísticos) e com os usuários de álcool e drogas da empresa
em que trabalho, além de depoimentos e entrevistas com estes servidores e com
os profissionais desta empresa que militam no campo da dependência química.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I - Dependência Química
12
CAPÍTULO II - Qualidade de Vida no Trabalho
36
CAPÍTULO III – Analisando o fenômeno da Dependência Química
46
no ambiente de trabalho
CONCLUSÃO
70
BIBLIOGRAFIA
73
ANEXOS
77
ÍNDICE
88
FOLHA DE AVALIAÇÃO
89
9
INTRODUÇÃO
Até bem pouco tempo, as pessoas, de forma geral, não se preocupavam
com os problemas sociais advindos pelo uso das drogas. Este assunto era um
tabu.
A desinformação, os mitos e os preconceitos criavam uma visão distorcida
com relação à Dependência Química, que segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), é classificada como transtorno mental e de comportamento (LEITE
e ANDRADE, 1999:32) e não uma fraqueza moral, uma “sem-vergonhice”, como
muitos acreditavam.
Com o aumento cada vez maior do número de usuários de drogas em todo
o mundo ocasionando risco à integridade do Ser Humano, das famílias e da
sociedade, causando reflexos na vida produtiva do país, propiciando queda de
produtividade nas empresas, elevando o número de acidentes de trabalho, bem
como
o afastamento dos empregados para tratamento de saúde,
gerando
custos cada vez mais elevados para a previdência social, para as empresas,
para a sociedade como um todo,
propiciou uma mudança de mentalidade com
relação a esta complexa questão da Dependência Química.
“Segundo dados da Associação Brasileira de Estudos sobre
o Álcool e outras Drogas (ABEAD), de 1990, o alcoolismo é
o terceiro maior motivo para o absenteísmo ao trabalho e a
oitava causa para concessão de auxílio-doença pela
previdência social. Cerca de 75% dos acidentes de trânsito
com vítimas fatais e 39% das ocorrências policiais estão
associadas ao uso de álcool. Se a isso for acrescida a
destinação de 32% dos leitos hospitalares em psiquiatria e
de 40% das consultas psiquiátricas a pacientes com abuso
10
de álcool, é possível estimar que os custos diretos e
indiretos com o consumo de álcool possam equivaler a 5,4%
do PIB brasileiro” (ABEA, 2005)
Hoje, grande parte da sociedade, dentre outros os empresários e os
profissionais interessados na área de Recursos Humanos (RH), vem buscando
através de estudos
cada vez mais aprofundados, minimizar os efeitos da
Dependência Química na Qualidade de Vida do Trabalho e na Qualidade de Vida
de seus empregados.
Sensibilizada que somos com as questões sociais que envolvem o HOMEM
em suas relações sociais, respaldada em uma experiência profissional de 27 anos
como Assistente Social do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), onde o
HOMEM é tido como seu “maior patrimônio”, fez despertar em nós
o interesse
por estudar a questão da Dependência Química x Qualidade de Vida no Trabalho.
Nortearemos nosso estudo a partir da definição de De Marchi,
que
“Qualidade de Vida é estar saudável, desde a saúde física, cultural, espiritual até
a
saúde profissional, intelectual e social” (Gazeta Mercantil, 21/dez/98, apud
FRANÇA, 2004:43) e da conceituação da OMS, em 1986, de que “Saúde não
significa a ausência de doença e sim possuir completo bem-estar bio-psico e
social” (OMS, apud FRANÇA, op. cit.:29) ; afirmativas que se interligam.
O objetivo de nossa monografia é estudar a relação entre Dependência
Química e a Qualidade de Vida no Trabalho, a partir de nossa vivência profissional
em uma Organização Militar atípica, onde seu efetivo maior, 85%, é constituído
de servidores civis.
No
primeiro capítulo apresentaremos
conseqüências de seu uso e
ambiente de trabalho.
conceitos
sobre a
Droga, as
suas repercussões no contexto familiar e no
11
O foco do segundo capítulo será o histórico e origem da Qualidade de
Vida no Trabalho, assim como a apresentação de
conceitos
que respaldam
nosso estudo.
O capítulo final conterá um breve panorama do AMRJ e do Serviço Social,
onde são desenvolvidos projetos para a prevenção da Dependência Química e
acompanhamento dos servidores civis e militares usuários ou abusadores de
drogas.
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CAPITULO I – DEPENDÊNCIA QUÍMICA
1.1 – Considerações Gerais
A sociedade tem visto e ouvido, com grande ênfase, através dos meios de
comunicação, alertas sobre as conseqüências do uso das drogas.
Os meios de comunicação ao mesmo tempo em que combatem as drogas,
contribuem para o seu alastramento, através de propagandas estimulando o uso
de bebidas alcoólicas, de tranqüilizantes e de remédios para emagrecer.
A Dependência Química, toxicomania ou adicção (terno utilizado por
muitos autores) é o modismo e a praga dos últimos trinta anos, apesar de seus
malefícios serem de conhecimento de grande parte da população mundial. Poucas
indústrias movimentam igual volume de dinheiro e poucas guerras matam tanto
quanto a guerra das drogas.
O termo Dependência Química em substituição aos termos hábito, uso,
abuso, costume, vício, até hoje empregados, surgiu em 1964.
O Comitê da
Organização Mundial de Saúde (OMS) formulou o conceito dependência enquanto
uma espécie de nomenclatura para a denominação da doença desencadeada pelo
consumo repetitivo de drogas. Conceituaram dois tipos de dependência : a física e
a psíquica.
É importante frisar também que existem dois grupos relacionados com o
consumo de drogas: os usuários de drogas e os dependentes. Os primeiros
podem se valer da droga para o seu deleite e em momentos de angústia. Os
segundos, porém, são compelidos para sua ingestão por forças físicas ou
psíquicas poderosas, onde as drogas passam a representar o valor soberano na
13
regulação de sua existência. Os usuários de drogas não desenvolvem um
processo de dependência física ao contrário dos dependentes (também chamados
toxicômanos e adictos) dentre os quais a dependência física exige não apenas o
aumento da dose das drogas, mas também a sua substituição por drogas cada
vez mais potentes.
A dependência faz parte da natureza do Homem, visto que durante a vida ,
o homem cria relações com objetos, pessoas e situações, sendo que
algumas
dessas relações são de grande importância para o bem-estar e outras causam
prejuízo ou seja causam o “vício”.
Na Dependência Química, ocorre um vínculo extremo onde a droga é
priorizada em detrimento de outras relações. Segundo a Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD, 2002:13) as principais causas para os indivíduos usarem
drogas são:
 para relaxar;
 diminuir inibições;
 lidar com problemas;
 tratar problemas de saúde;
 pertencer a determinado grupo;
 obter prazer;
 realizar rituais religiosos;
 saciar curiosidade.
Na falta da droga, os indivíduos acostumados ao seu uso são dominados
por sintomas dolorosos.
De acordo com a OMS (ibid), droga significa “qualquer substância natural
ou sintética que administrada por qualquer via no organismo, afete sua estrutura
ou função”. Existem as drogas lícitas e as drogas ilícitas. Existem, ainda, as
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drogas depressoras, que abaixam ou reduzem a atividade mental e as drogas
estimulantes, que elevam a atividade mental. E os alucinógenos, que produzem
desvios e distorções da atividade mental. (ibid)
Mas já que,
segundo
Hobbes,
a tendência do homem é fugir do
sofrimento, principalmente da morte, por que determinados indivíduos empregam
seu tempo com o uso de drogas? O consumo de drogas não se deixa dissociar da
procura do prazer e pode tornar-se problemático, precisamente por ser prazeroso.
Este prazer pode resultar em sensações de bem-estar ou euforia, de força, de
poder, leveza ou serenidade; ou ainda ausência de dor e memória. Esta procura
de bem-estar e prazer é natural fazendo parte da vida de todos.Quando se precisa
de tais meios artificiais, significa que há algo errado consigo mesmo ou nas
relações com os outros. Recorrer a produtos químicos apresenta-se então como
uma saída possível como se eles fossem uma “porção mágica” contendo a
“solução”.
“Todo homem é desejoso do que é bom para ele, e foge do
que é mau, mas acima de tudo do maior dentre os males
naturais,
que é a morte...Não é pois absurdo, nem
repreensível, nem contraia os ditames da verdadeira razão
que alguém use de todo o seu esforço para preservar e
defender o seu corpo e membros da morte e sofrimentos”
(HOBBES, 1998:31)
Tal consumo é ainda mais facilitado pelo crescimento de opções
disponíveis no mercado de drogas. Além das substâncias já conhecidas há muitos
anos (álcool, cocaína, maconha, ópio), a moderna indústria farmacêutica
desenvolve novos e melhores meios de superar a dor mental e física. A produção
e a distribuição de drogas constituem um oásis de riqueza e de trabalho num
mundo de pobreza devastadora, onde as mesmas tornam-se mercadorias
mágicas imbuídas de valores de uso e troca.
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Dada a complexidade da problemática do uso de drogas, envolvendo a
interação de fatores biopsissociais, o campo das ações preventivas é
extremamente abrangente, envolvendo aspectos que vão desde a formação da
personalidade do indivíduo até questões familiares, sociais, legais, políticas e
econômicas.
Em relação ao consumo de drogas pode-se considerar como prevenção
tudo aquilo que possa ser realizado para, efetivamente, impedir, retardar, reduzir
ou minimizar o uso de drogas e os prejuízos relacionados.
De acordo com as características da população-alvo e dos objetivos que se
pretendem atingir, podemos classificar a prevenção ao uso de drogas em :
1) Prevenção primária: intervenção junto à população antes do primeiro
contato com a droga; seu objetivo é impedir ou retardar o início do consumo
de drogas;
2) Prevenção secundária: intervenção que ocorre após o primeiro contato
da população com a droga; seu objetivo é evitar a progressão do consumo
e minimizar os prejuízos relacionados ao uso;
3) Prevenção terciária: é a intervenção realizada após a instalação de
transtornos relacionados a substâncias; seu objetivo é evitar ou minimizar
as complicações decorrentes do uso abusivo de drogas.
(ANDRADE e
BASSIT, 1995 apud SENAD, 2002:311)
A prevenção às drogas visa à adoção de uma atitude responsável com
relação ao seu uso. Seu objetivo é evitar o estabelecimento de uma relação
destrutiva do indivíduo com a droga.
Segundo a OMS estão mais sujeitos a usar drogas, aqueles que:
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 não dispõem de informações adequadas;
 estão insatisfeitos com a sua qualidade de vida;
 encontram-se pouco integrados à família e na sociedade;
 têm fácil acesso a estas substâncias.
A prevenção deve objetivar, ainda, a educação em favor da formação do
indivíduo e de sua inserção na sociedade, a partir da promoção da qualidade de
vida e da valorização da vida.
1.2 – Caracterização das Drogas e de suas Conseqüências
Neste sub-capítulo
será caracterizado
o conceito de droga, suas
conseqüências para o indivíduo e como a dependência química se instala. Esta
caracterização vai permitir compreender os impactos e conseqüências no mundo
familiar e profissional do indivíduo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) droga é “sustância
que, quando administrada ou consumida por um ser vivo, modifica uma ou mais
de suas funções, com exceção daquelas substâncias necessárias para a
manutenção da saúde normal”. ( GHODSE, 1995, apud
LEITE e ANDRADE,
1999: 26)
Entre os tipos de drogas existentes, as psicoativas ou psicotrópicas, foco
deste trabalho, “são substâncias que agem no Sistema Nervoso Central, causando
modificações nas emoções, no humor, no pensamento e no comportamento.”
(OMS, 1995, apud AZEVEDO, 2006:2)
As drogas podem ser classificadas, sob alguns critérios básicos, dentre eles
origem, legalidade , consumo e mecanismos de ação. A classificação das drogas,
sob esses diferentes aspectos, é fundamental para a compreensão de seu
desenvolvimento, seus mecanismos de ação e efeitos.
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No que diz respeito à origem, as drogas psicoativas podem ser divididas em
três grupos:
1) Naturais:
são aquelas extraídas de uma fonte exclusivamente natural, em
geral de plantas. Como exemplo temos os cogumelos e a trombeteira, consumidos
sob a forma de chá;
2) Semi-sintéticas: são obtidas em laboratório, a partir de uma matriz natural. É o
caso da cocaína, da maconha, do tabaco e do álcool;
3) Sintéticas: são produzidas, unicamente, por manipulações químicas e não
dependem para sua confecção de substancias vegetais ou animais como matériaprima. Inclui-se nessa categoria o LSD, Ecstasy, além dos calmantes , barbitúricos
ou remédios para dormir. (SENAD, 2002)
Com relação ao seu consumo as drogas que podem ser administradas
por quatro meios, a escolha da via de administração, em geral, é baseada na
conveniência e no desejo de obter rapidamente o início e a duração do efeito.
Elas são:
1) Via oral: modo de uso mais comum, sendo caracterizado pela ingestão de
comprimidos , líquidos e pastilhas;
2) Via mucosa e pele: a mucosa forma-se em superfícies úmidas da boca, do
nariz, dos olhos, da garganta, do reto e da vagina. Determinadas drogas utilizadas
embaixo da língua têm rápida e efetiva absorção; já a absorção pela pele
é
realizada, geralmente, com produtos colocados de forma localizada, como
pomadas analgésicas. Atualmente, muitas substâncias, como por exemplo, a
terapia de substituição (indicada para o controle dos sintomas da síndrome de
abstinência e reposição hormonal), tem sido aplicadas através de adesivos de
uso contínuo;
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3) Inalação: para muitas drogas é o modo mais rápido de administração. A
principal desvantagem refere-se a pouca quantidade que pode ser absorvida
numa única dose;
4) Injeção: relacionada ao uso de agulhas e de seringas, sob forma subcutânea,
intramuscular e intravenosa. Este é o meio que envolve um alto risco de infecções
e de transmissão e contaminação de determinadas doenças, como Hepatite C,
HIV , entre outras. (SENAD, 2002)
Em relação aos aspectos legais, no Brasil, elas podem ser classificadas em:
1) Lícitas: não é crime produzir, usar, nem comercializar. São drogas lícitas muito
conhecidas e de uso quase universal o álcool, o tabaco e a cafeína;
2) Ilícitas: são aquelas cuja produção, a comercialização e o consumo são
considerados crime, sendo proibidas por leis específicas. A maconha e a cocaína
são as drogas ilícitas mais consumidas no Brasil. (SENAD, 2002)
A classificação quanto aos mecanismos de ação no Sistema Nervoso
Central (SNC) é fundamentada, basicamente, na compreensão de como as drogas
produzem os respectivos efeitos. Elas são divididas, em quatros grupos:
1) Depressoras: são assim denominadas porque diminuem a atividade mental,
fazendo com que o cérebro funcione de forma mais lenta, prejudicando a
concentração e a capacidade intelectual. Fazem parte deste grupo:
 Tranqüilizantes  são sustâncias sintéticas também conhecidas como
sedativos e calmantes.
Entres seus efeitos se tem o alívio da tensão e da
ansiedade, sonolência, fala “pastosa” e descoordenação dos movimentos. Em
doses maiores, seu consumo leva à queda de pressão arterial e, se associado ao
álcool, pode ser letal.
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 Álcool  são bebidas que possuem o álcool como um dos seus componentes.
Em doses pequenas causa desinibição, euforia e perda da censura; e em doses
maiores causa sensação de anestesia, sonolência e sedação. O uso prolongado e
excessivo pode causar doenças como cirrose, pancreatite, atrofia cerebral, entre
outras.
 Inalantes ou solventes  são substâncias voláteis, evaporam na temperatura
ambiente, que quando inaladas produzem efeitos no cérebro capazes de alterar
seu funcionamento. Alguns produtos comerciais , como cola de sapateiro, tintas,
tíner, gasolina, éter, benzina, acetona, gasolina, entre outros, contém estes
solventes. Como efeito de uso (inalação) se tem a euforia, diminuição da fome,
alucinação, confusão mental. Em altas doses podem ocasionar diminuição da
respiração e dos batimentos cardíacos, podendo levar ao óbito.
 Narcóticos  extraídos da papoula ou produtos sintéticos. São representados
pela heroína, morfina, codeína, entre outros. Seu uso provoca sonolência, torpor,
alívio da dor, sensação de leveza e prazer. Em altas doses pode haver queda de
pressão arterial, diminuição da respiração e dos batimentos cardíacos, podendo
também levar à morte. (SENAD, 2001)
2) Estimulantes:
são drogas que uma vez ingeridas, fumadas ou cheiradas,
provocam estimulação do Sistema Nervoso Central (SNC), levando o indivíduo a
ficar excessivamente “ligado”. Seu uso estimula a atividade física e mental,
inibindo o sono e diminuindo o cansaço e a fome. Dentre as drogas de poder
estimulante, temos as seguintes:
 Anfetaminas  são substâncias sintéticas como a metanfetamina (“ice”,
“bolinha”), moderix e hipofagian. Estas drogas estimulam a atividade física e
mental, causando a diminuição da fome, do cansaço e do sono. Pode, ainda,
causar taquicardia, aumento da pressão arterial,
ansiedade, agressividade,
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alucinações e convulsões. Seu uso prolongado pode levar a destruição do tecido
cerebral.
 Cocaína  extraída da folha de coca, uma planta encontrada na América do
Sul, pode ser consumida de três formas: pó (cheirada), pedra/crack (fumada) e
pasta ( uso endovenoso). Dentre seus efeitos se tem à sensação de poder,
excitação e euforia.
Seu uso prolongado pode causar taquicardia, insônia,
ansiedade, agressividade, paranóia de cunho persecutório e complicações
cardíacas e cerebrais.
 Tabaco  extraído da folha do fumo e consumido em forma de cigarro, charuto
ou fumo. Provoca sensação de prazer e reduz o apetite. O seu uso prolongado
está associado a problemas cardíacos, respiratórios e a vários tipos de câncer.
( SENAD, 2001)
3) Perturbadora: são drogas
capazes de alterar o sentido da realidade,
provocando alterações na percepção. Pode-se citar como exemplo:
 Maconha  extraída da planta cannabis sativa. Tem como efeitos a excitação
seguida de relaxamento, perda da noção de espaço e tempo, fala em demasia e
fome intensa. O uso prolongado pode causar prejuízo da atenção e da memória,
paranóia, diminuição dos reflexos e a síndrome amotivacional (desânimo
generalizado)
 Alucinógeno  são substâncias
extraídas de plantas
ou produzidas em
laboratório, como o LSD ( ácido lisérgico), mescalina ( extraída de cactos) e o chá
de cogumelo. Seus efeitos são os mesmos causados pela maconha, mas muito
mais intensos. Podem ocorrer, também, estados de ansiedade, pânico e delírios.
 Ecstasy  substância sintética, derivada da anfetamina (moderador de apetite
e “bolinhas”),
com propriedade estimulante (aumenta a atividade do SNC) e
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perturbadora (altera o sentido da realidade).
Produz sensação de bem-estar,
leveza, plenitude e resistência física. Altas doses
podem causar aumento de
temperatura e desidratação, podendo levar ao óbito. (SENAD, 2001)
4) Medicações psiquiátricas: incluem
drogas utilizadas no tratamento de
transtornos mentais crônicos ou não. Como principais exemplos temos:
antipsicóticos, antidepressivos e estabilizadores de humor ( SENAD, 2002)
Após esta breve caracterização de algumas das drogas mais conhecidas, é
importante salientar que o uso de drogas pode evoluir do uso inicial
(experimentação), para o uso ocasional, em seguida para o consumo regular,
podendo chegar à dependência.
A seguir apresentam-se algumas definições:
 Experimentador:
pessoa que experimenta a droga, levada geralmente por
curiosidade. É aquele que usa a droga uma ou algumas vezes e em seguida perde
o interesse, não repetindo a experiência. (CEBRID, 2006)
 Usuários ocasional : utiliza, em algumas ocasiões, uma ou várias drogas
quando disponíveis ou em ambiente favorável, sem rupturas (distúrbios) afetiva,
social ou profissional. (ibid)
 Usuário habitual: faz uso freqüente, porém sem que haja ruptura afetiva, social
ou profissional, nem perda de controle. (C.A.D.A., 2006)
 Usuário abusador: usa a droga de forma freqüente e exagera, com rupturas
dos vínculos afetivos e sociais. (CEBRID, 2006)
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 Escalada: é quando a pessoa passa do uso de drogas consideradas “leves”
para as mais “pesadas”, ou quando, com uma mesma droga, passa de consumo
ocasional para consumo intenso. (ibid)
 Poliusuário: pessoa que utiliza combinação de várias drogas simultaneamente,
ou dentro de um curto período de tempo, ainda que tenha
predileção por
determinada droga.(ibid)
 Tolerância: é a necessidade que a pessoa tem de usar doses cada vez maiores
de uma determinada droga, para obter os mesmos efeitos que obtinha em doses
menores. (ibid)
 Síndrome de abstinência: um conjunto de sintomas fisiológicos, quando o uso
de droga é interrompido abruptamente, que variam segundo o grau de intoxicação,
desde de tremores matinais, náuseas, irritabilidade, até quadros com delírios e
alucinações, decorrentes da interrupção do uso abusivo de uma droga. (ibid)
 Reincidência/Recaída: chama-se reincidência, quando alguém em recuperação
reincide (recai), retorna a condição da doença, ou seja, bebe ou faz uso de droga
após um período que não mais fazia isto ( período de abstinência) (CAMPBELL
e GRAHAM, 1991:19)
 Negação: é um processo psicológico pelo qual a pessoa se recusa a admitir
algo que é penoso ou ameaçador. É um mecanismo mental de defesa que
funciona por meio da negativa de que o processo esteja acontecendo.( ibid:24)
 Dependência: faz parte da natureza do homem, uma vez que toda a existência
humana está compreendida entre estados de dependência. Durante a vida, o ser
humano cria relações com objetos, pessoas e situações. Algumas dessas relações
são importantes para o bem-estar, outras causam prejuízo, perda de autonomia,
etc.(CASA DIA, 2006)
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 Dependência química: caracteriza-se por um desejo incontrolável de consumir
uma droga, apesar das conseqüências danosas serem evidentes. A Dependência
Química é considerada doença catalogada pela Organização Mundial de Saúde.
Ela pode ser física e/ou psicológica. ( SECRETARIA ESPECIAL DE PREVENÇÃO
À DEPENDÊNCIA QUÍMICA, 2006)
 Dependência física: é diagnosticada pelo aparecimento de sintomas físicos
gerados pela ausência da droga no organismo. Estes sintomas são chamados de
síndrome de abstinência e podem aparecer algumas horas ou dias após a
interrupção do consumo. (ibid)
 Dependência psicológica:
corresponde a um estado de mal estar e
desconforto que surge quando o dependente interrompe o uso da droga. Os
sintomas mais comuns são: ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de
conciliação, que variam de pessoa para pessoa. (CEBRID, 2006)
No tratamento de dependentes químicos, a dependência física pode ser
tratada com medicamentos, mas a dependência psicológica é mais difícil de ser
tratada, sendo a parte mais complexa durante abstinência
Para a dependência química se desenvolver é preciso: o indivíduo
dependente, o meio social em que ele vive e a droga. Ela só se desenvolve no
indivíduo que tem a doença e para isso ela precisa estar num meio que propicie o
uso da drogas e a droga em si. Pode acontecer também do indivíduo não ser
dependente de alguma droga, mas sofrer danos físicos decorrentes do uso, como
por exemplo, um acidente de carro causado pelo excesso de ingestão do álcool.
Segundo dados estatísticos da OMS (apud SENAD, 2002:27), somente
uma pequena parcela da população, 10%, que experimenta drogas, sejam lícitas
(álcool, cigarro) ou ilícitas (maconha, cocaína, ecstasy),
irá desenvolver
a
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dependência química. A grande maioria pode usar drogas de forma controlada,
depois deste período inicial de uso, abandona espontaneamente a busca pela
substância.
Segundo a OMS, os usuários podem ser classificados em:
 Não usuário: nunca utilizou drogas;
 Usuário leve: usou drogas no último mês, mas o consumo foi menor que uma
vez por semana;
 Usuário moderado: utilizou drogas semanalmente, mas não todos os dias,
durante o último mês;
 Usuário pesado: utilizou drogas diariamente, durante o último mês. (SENAD,
2001)
O uso de drogas nasce na sociedade a partir das contradições e
dificuldades geradas por ela e de como o indivíduo reage a essas mesmas
contradições e dificuldades. É um ato alienado, porque para se anestesiar das
suas dificuldades, o indivíduo se droga e se torna alheio às coisas que estão ao
seu redor.
O que o dependente químico expressa na verdade é um sintoma das
dificuldades cotidianas, tendo em vista o fato de que a sociedade que condena o
uso de drogas é a mesma que propicia tal comportamento. O usuário compulsivo
não vê possibilidade de transformação da sua realidade e adquire uma postura de
impotência perante a sua própria vida. Ao invés de tentar mudar a realidade, ele
prefere mudar sua percepção sobre ela.
“O tempo, de seu ponto de vista, não é um processo, mas um
presente eterno e imóvel. Por isso é que, num sentido
primordial, coincidíramos o toxicômano doente, pelo caráter
25
anti-histórico de sua concepção da realidade”.
(KALINAS,
1999:23)
As drogas, nos dias atuais, têm servido para o indivíduo “escapar” da
realidade e do enfrentamento dos problemas cotidianos.
O consumo de drogas afeta as esferas das relações sociais do homem,
estando presente no convívio familiar, na escola e no trabalho.
 A Família:
É por meio da família que se aprende a ser indivíduo e devido a isso é
importante que haja uma boa comunicação entre seus membros para que os
conflitos individuais sejam resolvidos. Se as drogas vêm de encontro à sociedade
trazendo violência, criminalidade e dificuldades de relacionamento; ela atinge em
cheio a família, fazendo com que suas funções fiquem prejudicadas.
Acredita-se que, em certas famílias, a dependência química pode ser
gerada com uma maior facilidade, pois alguns comportamentos podem levar ao
uso de substância química. A dificuldade de relacionamento e o distanciamento
entre os membros da família, por exemplo, podem ser fatores de risco.
Geralmente as famílias negam que algum de seus membros faça uso de
drogas. Negam, porque admiti-lo implica em admitir uma possível “falha” na
formação de seus membros. Outro motivo é a desinformação em relação às
drogas; quando não se tem conhecimento sobre
algo é mais fácil negar.Os
familiares fazem “vistas grossas” ao consumo, na esperança de que este será
interrompido e que, no final, tudo voltará ao normal; o que eles geralmente
desconhecem é que o consumo experimental pode evoluir até chegar à
dependência e quanto mais tempo se demora em admitir o uso, maior será o
comprometimento do dependente.
26
A descoberta do uso demora porque geralmente a família não enxerga as
pistas deixadas pelo usuário
e não consegue estabelecer uma comunicação
direta com ele a respeito de seus problemas. O impacto da descoberta ocasiona
uma série de sintomas que se misturam e, diante de tal realidade, é comum que a
família não saiba como agir.
São quase sempre estes os sintomas iniciais das famílias:
 Vergonha: não sabe o que fazer;
 Minimização: diminuir o problema, como uma tentativa de não enfrentar a
situação;
 Preocupação com o futuro: medo do que possa vir a acontecer;
 Desapontamento: pelas promessas não cumpridas;
 Culpa: a família desencadeia um processo de autodesvalorização;
 Mentiras: para proteger o dependente químico;
 Isolamento social: para ninguém descobrir o problema;
 Superproteção: colocar o dependente químico numa posição inferior, e tratá-lo
como criança que não é capaz de assumir responsabilidades;
 Frustração: o dependente químico não corresponde às expectativas criadas em
torno dele;
 Ressentimento. (CONTEXTO, 1998)
A família “adoece” junto com o dependente químico e vem à tona o que se
pode chamar de “mito da harmonia familiar”, ou seja, todos eram muitos felizes até
a descoberta do uso de drogas. O dependente químico assume toda a culpa pelos
problemas familiares e todos passam a viver em torno dele: só dormem quando
ele chega em casa, ficam aflitos se o mesmo não volta e estão sempre à procura
de notícias quando ele fica sem aparecer.
27
O uso de drogas pode ocorrer com qualquer membro da família: filhos, pais,
marido, mulher, irmãos.
 A Escola:
Estudos sobre a relação entre a adolescência e o uso de drogas apontam o
aumento da experimentação, consumo e uso regular cada vez mais cedo. A
conseqüência é que os adolescentes e jovens estão expostos a graves problemas
de saúde física e mental. A
sociedade, família e escola precisam se
responsabilizar e acompanhar, atentamente, os jovens que estão consumindo
substâncias psicoativas.
O contexto escolar tanto pode favorecer ou desfavorecer ao consumo de
drogas entre os adolescentes. Entre os fatores de risco presentes na escola, ou
seja, os que aumentam a probabilidade de seu uso, pode-se mencionar:
 a indefinição de normas ou a falta de controle sobre a presença de drogas;
 a tolerância ao uso do cigarro;
 a utilização de rótulos para a identificação do aluno como forma de punição ou
de exclusão.
São fatores de proteção, isto é, aqueles que diminuem a probabilidade de
uso de drogas, mais presentes no ambiente escolar :
 a verbalização de expectativas positivas com relação ao aluno;
 o estímulo à continuidade dos estudos;
 o estímulo ao exercício dos princípios de altruísmo, cooperação e solidariedade;
 a promoção de atividades criativas e extracurriculares para a criação de vínculo
entre aluno, escola, pais e comunidade;
 a atuação da escola como veículo de informação adequada sobre a questão das
drogas.
28
A escola tem um papel fundamental no desenvolvimento sadio do
adolescente e do adulto, pois contribui para a formação global do jovem e da
sociedade. A prevenção ao uso de drogas é uma atitude a ser adquirida desde a
infância e promovida durante toda a vida. Assim, o papel da escola na prevenção
é educar crianças e jovens a buscarem e desenvolverem sua identidade e
subjetividade, promover e integrar a educação intelectual e emocional, incentivar a
cidadania e a responsabilidade social, bem como garantir que eles incorporem
hábitos saudáveis no seu cotidiano.
 O Trabalho
É no local de trabalho que o empregado convive a maior parte do dia,
demonstrando suas mudanças comportamentais ligadas ao consumo de drogas.
A atuação do encarregado ou chefia imediata com o pessoal de Recursos
Humanos e com profissionais especializados é fundamental para a recuperação
do empregado e o incremento da produtividade da Empresa.
A empresa é um local privilegiado para a detecção da Dependência
Química e pode se constituir num importante instrumento de auxílio no tratamento
do dependente químico. Portanto, para se identificar os indivíduos que fazem uso
abusivo de substâncias químicas, para
orientá-los e para encaminhá-los aos
lugares habilitados a prestar a ajuda necessária, é essencial que seus membros
estejam atentos às manifestações que possam indicar o uso de substâncias que
causam dependência.
Para o sucesso de qualquer programa
de prevenção e tratamento da
dependência química é necessário o comprometimento de todos os membros da
organização, especialmente, dos chefes imediatos e/ou encarregados, que,
geralmente, estão em melhor posição para avaliar a produtividade no trabalho e
para identificar sinais do uso abusivo de drogas. Relaciona-se abaixo, “quesitos”
29
que indicam
os padrões de mudança de comportamento, aparência física e
produtividade, que sinalizam que o empregado está
consumido drogas de forma
abusiva.
 Absenteísmo:
 ausências não autorizadas;
 licenças por doença;
 ausências de curta duração, com ou sem comprovação médica;
 ausências nas segundas, sextas-feiras e dias que antecedem ou sucedem os
feriados;
 dias de trabalhos extras para compensar ausências;
 ausências por doenças vagas como resfriados, gripes, enxaquecas.
 Ausência durante o trabalho:
 saídas freqüentes do local em que está trabalhando;
 atraso excessivo após o almoço ou intervalo;
 idas freqüentes ao bebedouro, estacionamento, banheiro e sala de descanso.
 Alta taxa de acidentes:
 acidentes fora do serviço que afetam a produtividade;
 acidentes de trabalho por negligência;
 desuso de equipamento de segurança como capacetes, luvas, etc.
 Produtividade comprometida:
 diminuição regular da produtividade pela manhã ou pela tarde;
 queixas dos colegas, clientes, etc;
 falta aos compromissos;
 necessidade de tempo sempre maior para realizar sempre menos;
 desperdícios de materiais, perda/estrago de equipamentos;
 desculpas esfarrapadas;
 alternância de períodos de alta e baixa produtividade, que se torna cada vez
mais insatisfatória;
 dificuldades com instruções, procedimentos;
 dificilmente reconhecem os erros;
30
 dificilmente entendem as novas instruções;
 dificuldade com tarefas complexas;
 hábitos de trabalho irregulares.
 Mudanças nos hábitos pessoais:
 vinda ao trabalho em condições anormais (alcoolizado, vago, confuso, etc);
 comportamento diferente após o almoço;
 menos atenção à higiene pessoal;
 menos atenção à aparência pessoal.
 Relacionamento ruim com os colegas:
 reação exagerada às criticas reais ou não;
 ressentimentos irreais;
 conversação excessiva com os colegas;
 estados emocionais muito variados;
 sempre pedindo dinheiro emprestado;
 evitando colegas e amigos;
 irritabilidade crescente;
 discussões freqüentes;
explosões inoportunas de ira, choro, riso. (CAMPBELL e GRAHAM, 1988:116117)
Segundo a Hygia Integral – Saúde e Segurança Ocupacional ( 2006):
“...A dependência química é uma doença de longa evolução,
somente
comprometendo
a
capacidade
produtiva
do
empregado após dez ou vinte anos, quando muito dinheiro já
foi investido na sua formação e aperfeiçoamento...O custo do
uso de drogas está estimado em 5,4% do Produto Interno
Bruto nacional. A dependência química é a terceira maior
causa de absenteísmo nas empresas brasileiras, reduz, em
média, em 30% a capacidade de trabalho e está envolvido em
40% dos acidentes de trabalho. Ao contrário da crença geral,
31
noventa por cento dos alcoolistas e dos usuários de outras
drogas estão empregados e trabalhando. No Brasil, sete por
cento das pessoas e, nas grandes empresas, apesar dos
complexos mecanismos de seleção de pessoal, cinco por
cento
dos
empregados
são
dependentes
químicos...A
recuperação do dependente químico se faz no sentido inverso
do seu comprometimento, é no ambiente de trabalho que se
percebe imediatamente a melhora; a seguir, na sua vida de
relação e, por último, em sua família. Assim, é a empresa a
primeira
a
usufruir as vantagens
da
recuperação
do
empregado...”
Portanto, é necessário que as empresas administrem o problema da
dependência química no ambiente organizacional de forma que o indivíduo possa
recuperar a sua saúde bio-psico-social, a sua vida e a sua produtividade. Investir
em programas na área da dependência química é a alternativa certa para as
empresas, que terão como retorno um empregado mais produtivo, grato e leal.
1.3 – Alcoolismo:
Por ser o álcool a substância de maior relevância no universo dos
“funcionários”
(militares e servidores civis) do Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro (AMRJ), local de nossa pesquisa, falar-se-á, neste sub-capítulo sobre o
alcoolismo e suas conseqüências.
Apesar de ser uma droga cujo uso é legalizado, os efeitos do álcool para o
organismo de um alcoolista são devastadores. O alcoolismo é uma doença
crônica, progressiva que, senão for controlada, é fatal.
32
Por ser lícito, o álcool é, normalmente, a primeira droga de contato para a
maioria dos indivíduos, e este contato é aceito socialmente e muitas vezes
estimulado pelo meio de convívio. A indústria do álcool procura convencer os
indivíduos a usarem seus produtos, para isso utiliza-se de todos os recursos
disponíveis de propaganda, introduzindo sua marca em filmes de cinema,
propagandas e programas de TV.
Os motivos que influenciam ao consumo do álcool são:
 o seu preço acessível;
 facilidade e estímulo para sua obtenção através dos meios de comunicação;
 a “cultura familiar”; é bastante comum que filhos de pais que bebem, adquirem
tal comportamento;
 causas genéticas e ambientais;
 fatores psicológicos; o álcool utilizado como uma “válvula de escape” para as
angústias, medos e frustrações
dos indivíduos. (EDWARDS, MARSHALL e
COOK, 1999:23)
Como já citado, muitos podem ser os fatores
que levam o indivíduo a
beber, mas o fato é que no decorrer dos anos e com a continuidade, esses fatores
iniciais desaparecem, e, para o alcoolista o que fica é a forma de beber
compulsivamente.
A dependência ao álcool é caracterizada como uma síndrome, por que é
constituída por vários sinais e sintomas, e é a freqüência desses sinais e sintomas
que levam ao diagnóstico da dependência. Eis alguns deles:
 Estreitamento do repertório:
com a instalação da dependência, o indivíduo
cujo consumo varia de acordo com o dia-a-dia e o local que em está inserido,
33
estreita o seu consumo num único tipo de bebida e os padrões de ingestão ficam
mais fixos de acordo com a evolução da dependência.
“...A pessoa dependente começa a beber a mesma coisa nos
dias de trabalho, nos fins de semana ou nos feriados; a
natureza da companhia ou seu próprio humor fazem cada vez
menos diferença...” (ibid:42)
 Saliência do beber: prioridade que o alcoolista dá a bebida. Tudo fica em
segundo plano, a família, o trabalho, as finanças, a saúde.
“O esterótipo do padrão de beber, com o avanço da
dependência, leva o indivíduo a dar prioridade à manutenção
de sua ingestão alcoólica...” ( Ibid)
 Tolerância ao álcool:
quanto mais tolerância ao álcool o indivíduo tiver,
maiores serão suas chances de se tornar um alcoolista; quem tem uma tolerância
maior, beberá mais do que aquele que facilmente se embriaga; contudo, no
estágio final da dependência, a tolerância adquirida pelo organismo é perdida e o
indivíduo pode ficar bêbado com uma pequena dose de álcool.
 Sintomas de abstinência: são notados pela diminuição dos níveis de álcool no
organismo; quanto mais grave for a dependência, mais severos serão esses
sintomas, que podem variar desde tremores, náuseas, sudorese, sensibilidade ao
som, alterações no humor e no sono, alucinações até chegar ao delirium tremens.
“Inicialmente, os sintomas são intermitentes e leves, eles
causam pouca incapacidade, e um sintoma pode ser
experienciado na ausência dos outros. Na medida que a
dependência aumenta, também aumentam a freqüência e a
gravidade dos sintomas de abstinência...” ( Ibid:43)
34
 Alívio ou evitação dos sintomas de abstinência pelo aumento da ingestão
de bebida: é a necessidade que o alcoolista tem de beber para não sentir os
sintomas de abstinência; num estágio avançado da doença, o alcoolista tende
manter o nível de álcool necessário para não sentir tais sintomas.
 Percepção subjetiva da compulsão para beber: acontece no momento em
que o alcoolista percebe que o seu modo de beber é diferente dos bebedores
sociais, que se dê o primeiro gole não conseguirá controlar a quantidade ingerida;
é muito difícil para ele aceitar que uma substância que já lhe foi tão agradável, lhe
faça mal agora.
 Reinstalação após a abstinência: o alcoolista passa por um período de
abstinência e se depois deste período ele volta a beber, certamente, dentro de
poucos dias ou até poucas horas ele voltará a beber como antes.
“...Uma síndrome que levou anos para se desenvolver, pode
reinstalar-se totalmente dentro de 72 horas de ingestão, e esta
é uma das características mais intrigantes da condição.”
(Ibid:46)
Os consumidores de álcool são classificados como:
 Bebedor ocasional: são aqueles que ocasionalmente e raramente bebem, por
exemplo, uma taça de champanhe no fim do ano ou no dia do seu casamento.
 Bebedor social: são aqueles que bebem em ocasiões sociais, como festas,
batizados e aniversários. Embora não sejam problemáticos, necessitam de
atenção.
35
 Bebedor habitual: são aqueles que bebem regularmente o álcool, mas ainda
tem "um certo" controle de si. São os aperitivos, os barzinhos, a parada no bar ao
sair do serviço; bebe para comemorar, bebe para desabafar, etc.
Alcoolista: são aqueles que não conseguem mais ficar sem bebida, não bebem
por prazer, mas para evitar o desprazer que a falta do álcool provoca como:
insônia, irritabilidade, ansiedade e incapacidade de executar tarefas de rotina.
Na visão da maioria das pessoas, o alcoolismo e a embriaguez são
sinônimos, tendo como causa a falta de caráter ou uma sem-vergonhice, próprios
dos indivíduos que usam álcool como muleta para fazer tudo aquilo que não
conseguem na normalidade, o que não é verdade.
Com base no que foi visto até aqui, pode-se concluir que o dependente
químico/ alcoolista é apenas e acima de tudo um indivíduo doente que precisa de
ajuda. Não se pode esquecer que atrás de todos eles existe um homem que luta
contra a doença, na maioria das vezes, sem saber que é doente, mas
acompanhado de muito sofrimento. Conclui-se, ainda, que ao mesmo tempo que
a droga traz sensações de prazer, liberdade, poder, ela causa complicações
à
saúde, ao bem estar, ao ambiente familiar, de trabalho e social daqueles que a
utilizam de forma abusiva e que o apoio familiar e das organizações em que estão
inseridos, quer sejam elas a
importância para a detecção,
dependente químico / alcoolista.
escola, o seu local de trabalho, são de
prevenção,
suma
tratamento e recuperação do
36
CAPITULO II – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Para compreender a dinâmica da Qualidade de Vida no Trabalho, torna-se
importante fazer uma breve retrospectiva histórica, pois a evolução das relações
do homem e do trabalho vem desde os seus primórdios, bem como apresentar
alguns conceitos sobre esse tema que respaldaram esta monografia.
2.1 - Origem e Evolução
A humanidade se preocupa com a Qualidade de Vida no Trabalho desde o
início de sua existência.
Segundo Rodrigues “a qualidade de vida no trabalho tem sido uma
preocupação do homem desde o início de sua existência com outros títulos em
outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bemestar ao trabalhador na execução de sua tarefa.” (RODRIGUES, 1994:76)
Já no ano 300 a.c., Euclides, de Alexandria, através de seus ensinamentos
sobre os princípios da geometria, aplicados para melhorar os métodos de trabalho
dos agricultores à margem do rio Nilo, assim como Arquimedes, em 287 a.c.,
através da Lei das Alavancas, possibilitando diminuir o esforço físico de muitos
trabalhadores, buscavam a melhoria nas condições do trabalho.
Nos séculos XVIII e XIX, com a sistematização dos métodos de produção,
as preocupações com as condições de trabalho e suas influências na produção e
na vida do trabalhador foram estudadas cientificamente.
No final do século XIX, ocorre a Segunda Revolução Industrial, trazendo
mudanças significativas para o mundo do trabalho.
37
Nesta fase, ocorre o nascimento de novas tecnologias, marcando um
grande crescimento industrial com a introdução de máquinas elétricas no processo
produtivo,
inovações essas que
redefiniram a estrutura produtiva e
potencializaram sua expansão.
O uso da máquina torna-se fator generalizado ao processo de produção
tornando “...o trabalhador cada vez mais seu apêndice, reduzindo seu trabalho a
gestos repetitivos e organizando o trabalho em equipes” (MATTOSO, 1995:19).
A Administração ou Gerência Científica surge a partir do final do século XIX,
iniciada por Taylor, enquanto princípios de gerência e de organização do trabalho.
Inicialmente, a principal preocupação de Taylor (1979) foi com a
racionalização do trabalho. Buscava eliminar os desperdícios e elevar a
produtividade, através dos estudos de Tempos e Movimentos.
“Os Princípios de Administração Científica...descreviam como
a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada
através da decomposição de cada processo de trabalho em
movimentos componentes e da organização de tarefas de
trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e
estudo do movimento...” (HARVEY, 1996:121).
A Gerência Científica assume na indústria a função de coordenação e
concepção dos processos de produção, com a finalidade de obtenção de maior
eficácia e produtividade, através de métodos para ordenar o trabalho, e, ainda,
introduz no processo produtivo a separação entre gerência, concepção, controle e
execução.
Posteriormente, a abordagem de Taylor (1979) caracteriza-se pela análise
do aspecto econômico que atinge a produtividade nas operações. Neste período,
38
acreditando que o Homem trabalhava apenas pelo salário percebido, valorizou os
trabalhadores através de incentivos salariais, possibilitando condições de ganhos
proporcionais a sua produtividade, tendo para tal procurado especializar ao
máximo o trabalhador em suas tarefas.
Taylor (1979) considerava os trabalhadores incapazes de tomar decisões e
saber lidar com situações inovadoras.
Chiavenato (1993:112) afirma que “a Administração Científica restringiu-se
às tarefas e aos fatores diretamente relacionados ao cargo e à função do operário.
Muito embora a organização seja constituída de pessoas, deu-se pouca atenção
ao elemento humano”.
Apesar das controvérsias, as idéias de Taylor, ainda são, hoje, utilizadas
em larga escala em muitas organizações, onde o trabalhador é considerado mero
executante de tarefas, incapaz de tomar decisões, simples cumpridor de ordens,
facilmente substituível e submetido a constante supervisão. Essas organizações
seguem a seguinte máxima: a pessoa certa no lugar correto.
Após a primeira Guerra Mundial, o taylorismo não só se expande, como
surge uma outra forma de organização do trabalho, articulada com a produção em
massa, chamada de fordismo.
“O
fordismo,
enquanto
estratégia
de
organização
e
racionalização da produção, orientou-se para a produção em
massa de produtos tecnologicamente complexos, utilizandose de economias de escala e inovações no produto e técnicas
de montagem” (MATTOS, 1995: 35)
Ford acreditava na importância de haver aumento salarial e diminuição da
carga horária de trabalho. Houve épocas em que os trabalhadores viviam em
39
condições desumanas, com jornadas de trabalho que chegavam há 18 horas
diárias, onde suas necessidades básicas não eram consideradas.
Segundo Harvey (1996:122), o dia de oito horas e cinco dólares,
introduzidos por Ford, tinha como propósito não só obrigar o trabalhador a adquirir
disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem de alta
produtividade, como também, permitir que os trabalhadores tivessem tempo e
renda disponíveis para o lazer e para o consumo. Era importante serem
consumidores, além de classe trabalhadora.
Contudo, as condições precárias de vida dos trabalhadores não lhes
permitiram tornarem-se consumidores dos produtos que produziam, como
pretendia Ford.
A denominação Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), surge na década de
50, em Londres, no Travistock Institute, com as pesquisas de Eric Trist e seus
colaboradores, quando desenvolveram uma série de estudos que deram origem a
uma abordagem sócio-técnica em relação à organização do trabalho. Essa
expressão “QVT” era utilizada para designar experiências calcadas na relação
indivíduo-trabalho-organização, com base na análise e reestruturação da tarefa,
com o objetivo de tornar a vida dos trabalhadores menos penosa. (FERNANDES,
1996:40)
Segundo Orstman (1984), esse instituto foi criado por uma equipe de
investigadores de ciências sociais que tinha resolvido alguns problemas práticos
na 2ª Guerra Mundial. O grupo era formado por psiquiatras, psicólogos e
antropólogos,
que
se
reuniam
para
resolver
problemas
específicos
de
organizações e relação social, principalmente relações internas entre os próprios
trabalhadores e/ou entre trabalhadores e chefia, em diversas empresas de grande
porte. (SILVA,2001).
40
No entanto, somente a partir da década de 60, a preocupação com a
Qualidade de Vida no Trabalho toma impulso, através de iniciativas de líderes
sindicais, empresários, governantes e cientistas sociais, que objetivando
minimizar os aspectos negativos do trabalho sobre o trabalhador, buscaram
melhores formas de organizar e realizar o trabalho, tendo como base os aspectos
de saúde e bem-estar geral dos trabalhadores (VIEIRA, 1996)
Apesar da expressão Qualidade de Vida no Trabalho ter sido introduzida,
publicamente, por Louis Davis, professor da UCLA, Los Angeles, no inicio dos
anos 70, através do seu trabalho sobre delineamento de cargos, esta década se
caracteriza pelo início do desaceleramento dos estudos da Qualidade de Vida no
Trabalho, em função da crise energética ligada ao aumento do preço do petróleo e
a alta inflação que atingiram os paises do ocidente, em particular, os Estados
Unidos, fazendo com que as empresas deslocassem sua atenção para a luta pela
sua sobrevivência e considerassem de importância secundária os interesses de
seus empregados ( CHIAVENATO, 1999 e VIEIRA, 1996)
“O termo Qualidade de Vida foi cunhado por Louis Davis na
década de 1970 quando desenvolvia um projeto sobre
desenhos de cargos. Para ele o conceito de QVT refere-se à
preocupação com o bem-estar geral e a saúde dos
trabalhadores
no
desempenho
de
suas
tarefas.”
(CHIAVENATO, 1999)
Na própria década de 70, em 1979, ressurge o interesse com a Qualidade
de Vida no Trabalho, incentivada, principalmente, com a perda da competitividade
das indústrias norte-americanas e pelo grande sucesso da indústria japonesa, que
apresentava as formas de gerenciamento muito diferentes das ocidentais.
Os anos 80 são marcados pela preocupação com uma maior participação
dos trabalhadores nos processos decisivos das empresas, quando estes
41
questionam seus direitos trabalhistas, levando as empresas a repensar
suas
condutas e a buscar novas soluções (NADLER e LAWLER, 1983)
Desde então, segundo Búrigo, a Qualidade de Vida no Trabalho, toma um
novo conceito “passa a ser vista como um conceito global, como uma forma de
enfrentar os problemas de qualidade e produtividade” (BÚRIGO, 1997: 32)
Na década de 90, o termo Qualidade de Vida no Trabalho passou a ter
uma maior amplitude e a integrar os discursos acadêmicos, a literatura relativa ao
comportamento nas organizações, os programas de Qualidade Total, as
conversas informais, a mídia em geral, além de ser utilizado tanto na avaliação
das condições de vida urbana quanto no que se refere à saúde do trabalhador.
( BOM SUCESSO, 1998: 29)
Atualmente, a Qualidade de Vida no Trabalho está disseminada e em
franco desenvolvimento em muitos países da Europa e nos Estados Unidos,
visando melhor atender as necessidades psicossociais dos trabalhadores, com o
objetivo de elevar seus níveis de satisfação no trabalho (FERNANDES, 1996)
No Brasil, o interesse pelo tema é recente, porém tem sido objeto de alguns
estudos e pesquisas desenvolvidos no sentido de ampliar os conhecimentos sobre
Qualidade de Vida no Trabalho e de gerar condições para novas discussões.
2.2- Conceituação
Apesar do tema Qualidade de Vida no Trabalho ter surgido há mais de 40
anos e dos diversos estudos, debates e pesquisas desenvolvidas, a Qualidade de
Vida no Trabalho possui diversas, distintas e diferentes abordagens, isto é, cada
autor a conceitua conforme os elementos que julga mais importante para que haja,
efetivamente, Qualidade de Vida no Trabalho. Contudo, todas essas definições
42
têm, praticamente, como ponto comum o objetivo de propiciar maior humanização
e melhores condições de trabalho, aumento do bem-estar dos trabalhadores e
maior participação destes no contexto das organizações.
Como conceito de Qualidade de Vida, destaca-se:
Para Walton (1973, apud Fernandes, 1996:44), um dos principais
expoentes no estudo da questão, a Qualidade de Vida no Trabalho vem se
destacando como forma de resgatar “valores humanísticos e ambientais, que vêm
sendo negligenciados em favor do avanço tecnológico, da produtividade e do
crescimento econômico”. O seu modelo, que propõe oito variáveis a serem
observadas na avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho,
é calcado na
humanização do trabalho e responsabilidade social da empresa, envolvendo
reestruturação do desenho dos cargos e novas formas de organizar o trabalho,
com ênfase no desenvolvimento pessoal do indivíduo e melhoria do meio
ambiente organizacional.
Critérios
1- Compensação justa e adequada
Indicadores de QVT
equidade interna e externa; justiça na
compensação; partilha dos ganhos de
produtividade; proporcionalidade de
salários
2-Condições de trabalho
jornada de trabalho razoável; ambiente
físico seguro e saudável
3-Uso
e
desenvolvimento
de autonomia;
autocontrole
relativo;
capacidades
qualidades múltiplas; informações
sobre o processo total do trabalho
4- Oportunidade de crescimento e possibilidade de carreira; crescimento
segurança
pessoal,
perspectiva de avanço
salarial; segurança de emprego
5- Integração social na organização
ausência de preconceito; igualdade;
mobilidade; relacionamento; senso
comunitário
6- Constitucionalismo
direitos de proteção do trabalhador;
privacidade pessoal, liberdade de
expressão;
tratamento
imparcial;
direitos trabalhistas
43
7- O trabalho e o espaço total de vida
papel
balanceado
no
trabalho;
estabilidade de horários; poucas
mudanças geográficas; tempos para
lazer da família
8- Relevância social do trabalho na imagem da empresa; responsabilidade
vida
social da empresa; responsabilidade
pelos produtos; práticas de emprego
Fonte: WALTON apud FERNANDES (1996:.48).
Westley (1979, apud Bittencourt e D’Avila)
enfatiza que “as melhorias
voltadas para a qualidade de vida no trabalho decorrem dos esforços, voltados
para a humanização do trabalho, que buscam solucionar problemas gerados pela
própria natureza das organizações existentes na sociedade industrial”. O seu
modelo (apud Fernandes, 1996) apresenta 04 dimensões que influem na
Qualidade de Vida no Trabalho:
Econômico
equidade salarial
remuneração
adequada
benefícios
local de trabalho
carga horária
ambiente
externo
Político
segurança no
emprego
atuação sindical
retroinformação
liberdade de
expressão
valorização do
cargo
relacionamento
com a chefia
Psicológico
realização
potencial
nível de desafio
desenvolvimento
pessoal
desenvolvimento
profissional
criatividade
auto-avaliação
variedade de
tarefa
identidade com a
tarefa
Fonte: WESTLEY (1979), apud FERNANDES (1996:53)
Sociológico
participação nas
decisões
autonomia
relacionamento
interpessoal
grau de
responsabilidade
valor pessoal
Para Westley, os problemas políticos trariam a insegurança, os econômicos
a injustiça, os psicológicos a alienação e os sociológicos a anomia.
Nadler, Hackman e Lawler (1983) vêem Qualidade de Vida no Trabalho
como uma maneira de pensar a respeito das pessoas do trabalho e das
organizações.
44
“... a qualidade de vida no trabalho é um modo de pensar
sobre pessoas, trabalho e organização. Seus elementos
distintos são: 1) a preocupação sobre o impacto do trabalho
sobre as pessoas e 2) a participação das pessoas na solução
de problemas organizacionais e na tomada de decisões”.
( NADLER e LAWLWER, 1983:38)
Esses autores entendem Qualidade de Vida no Trabalho como instrumento
que visa tornar os cargos mais satisfatórios e produtivos e, através do
enriquecimento dos mesmos, aumentar os níveis de motivação e bem-estar dos
trabalhadores
Apresenta-se a seguir, quadro comparativo das definições evolutivas de
Qualidade de Vida no Trabalho, na visão de Nadler e Lawler:
Concepções Evolutivas do QVT
1- QVT como uma variável (1959 a
1972)
Características ou Visão
Reação do indivíduo ao trabalho. Era
investigado
como
melhorar
a
qualidade de vida no trabalho para o
indivíduo.
2- QVT como uma abordagem (1969 a O foco era o indivíduo antes do
1974)
resultado organizacional; mas, ao
mesmo tempo, tendia a trazer
melhorias tanto ao empregado quanto
à direção.
3- QVT com um método (1972 a 1975) Um conjunto de abordagens, métodos
ou técnicas para melhorar o ambiente
de trabalho e tornar o trabalho mais
produtivo e mais satisfatório. QVT era
visto como sinônimo de grupos
autônomos
de
trabalho,
enriquecimento de cargo ou desenho
de novas plantas com integração
social e técnica.
4- QVT como um movimento (1975 a
Declaração
ideológica
sobre
a
1980)
natureza do trabalho e as relações dos
trabalhadores com a organização. Os
termos administração participativa e
democracia
industrial
eram
45
5- QVT como tudo (1979 a 1982)
6- QVT como nada (futuro)
freqüentemente ditos como ideais do
movimento de QVT.
Como panacéia contra a competição
estrangeira, problemas de qualidade,
baixas
taxas
de
produtividade,
problemas de queixas e outros
problemas organizacionais.
No caso de alguns projetos de QVT
fracassarem no futuro, não passarão
de apenas um "modismo" passageiro.
Fonte: NADLER e LAWLER (apud FERNANDES, 1996: 42)
46
CAPITULO
III
–
ANALISANDO
O
FENOMENO
DA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO AMBIENTE DE TRABALHO
Neste terceiro capítulo, pretende-se elaborar um breve panorama
do
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, instituição de nossa pesquisa, e do Serviço
Social. Posteriormente, traçar o perfil dos seus funcionários
e dos usuários
abusadores de droga, como também a intervenção do Serviço Social diante da
dependência química, através de projetos de
prevenção,
tratamento e
acompanhamento do dependente químico desenvolvidos nesta organização.
3.1– Caracterização da Instituição
O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) é uma Organização Militar
(OM) que possui algumas características peculiares em relação as demais.
Primeiro, porque apesar de ser uma organização militar, a maior parte de seu
efetivo é constituída por servidores civis (85%), principalmente servidores de nível
artesanato1, ligados diretamente à área de produção. Segundo,
por
ser
considerado um grande parque industrial, cujas atividades são basicamente a
construção e reparos de navios e embarcações para Marinha do Brasil, além da
prestação de
serviços para outras empresas públicas e privadas. O AMRJ é
dotado de verba orçamentária e recursos próprios da administração naval. Sua
estrutura física e organização é composta, entre outras, de uma escola técnica,
prefeitura, grupo de combate a incêndio, centro telefônico, hospital, policiamento
próprio, capela, biblioteca, três agências bancárias.
O AMRJ tem o propósito de “realizar
atividades técnicas, industriais e
tecnológicas relacionadas à construção de unidade de superfície e submarinos e à
manutenção dos Sistemas de Propulsão Naval, Geração de Energia, Estrutura
1
Nível artesanato refere-se aos trabalhadores de formação profissional básica ( operários)
47
Naval e Controle de Avarias dos meios navais. Para a consecução de seu
propósito, cabe ao AMRJ as seguintes tarefas:
 desenvolver o projeto de construção na sua fase de detalhamento e construir
unidades de superfície e submarinos;
 administrar e executar atividades de engenharia naval associadas ao
detalhamento,
e
aos
processos
de
construção,
produção,
conversão,
modernização, alteração e nacionalização dos meios navais e as que objetivam o
apoio técnico aos meios de serviço, na sua área de competência;
 administrar
e
executar a manutenção dos Sistemas de Propulsão Naval,
Geração de Energia, Estrutura Naval e Controle de Avarias das unidades de
superfície e submarinos;
 absorver, consolidar, criar e desenvolver tecnologias compatíveis com as
necessidades da MB, aplicáveis à manutenção e construção de complexos navios
de guerra de superfície e submarinos, bem como dos sistemas existentes nos
meios navais;
 realizar as atividades de controle da qualidade, a coordenação dos serviços de
manutenção, as gerenciais e técnicas de abastecimento, e a formação
especializada e aperfeiçoamento de pessoal técnico, na sua esfera de
competência;
 auxiliar e subsidiar as Diretorias Especializadas (DE) e demais OM na
elaboração de normas, procedimentos, especificações e instruções técnicas para
as atividades de engenharia naval relacionadas com os Sistemas de Propulsão
Naval, Geração de Energia, Estrutura Naval e Controle de Avarias dos meios da
MB;
 auxiliar as DE na avaliação de desempenho de equipamentos e sistemas navais,
fornecendo subsídios aplicáveis ao desenvolvimento de alterações técnicas
julgadas necessárias;
 construir e promover a manutenção, quando determinado, de unidades de
superfície e submarinos extra-MB;
48
promover a prestação de serviços ou produção industrial a outras OM e, quando
determinado, a clientes extra-MB;
 promover facilidades portuárias e fornecer recursos necessários às unidades de
superfície e submarinos apoiados e estacionados na OM;
 prover a intra-estrutura de apoio às OM sediadas na área de jurisdição;
 incrementar a nacionalização de materiais utilizados na construção e
manutenção das unidades de superfície e submarinos;
 administrar os recursos humanos, financeiros e materiais e conservar os
recursos industriais sob sua responsabilidade; e
 administrar e dirigir as parcelas dos Planos e Programas da Marinha sob sua
responsabilidade.”( DGMM, 2001 )
Atualmente, o seu contigente é formado por cerca de 2910 servidores públicos
federais (regidos pelo Regime Jurídico Único, Lei
8112, de 11/12/1990), 585
militares, além de 648 empregados da Empresa Gerencial de Projetos Navais
(EMGEPRON), que é uma empresa pública de direito privado,
prestadora de
serviços, vinculada ao Ministério da Defesa por intermédio da Marinha do Brasil.
Considera-se de grande importância apresentar um breve resgate histórico do
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, com o objetivo de demonstrar como e de
que forma, a história desta grande e antiga instituição está
relacionada a fatos
importantes do país, desde a sua fundação até os dias atuais.
De acordo com material elaborado pela Assessoria de Comunicação Social do
AMRJ, Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro: Uma Pequena História, este foi
fundado em 1763, pelo vice-rei, D. Antônio Álvares da Cunha, Conde da Cunha,
na região costeira, numa área situada entre o Mosteiro de São Bento e a atual
sede
do 1º Distrito Naval, recebendo o nome de Arsenal Real da Marinha.
Naquela época, o Rio de Janeiro torna-se o porto mais importante da Colônia, em
virtude da descoberta de ouro, em Minas Gerais. Isso exigia que Portugal
49
prestasse mais atenção ao Brasil, já que metade de seu comércio dependia da
Colônia.
A atividade principal do Arsenal, naquela época, era o reparo e a manutenção
dos navios de esquadra real e dos que aportavam no Rio de Janeiro.
Em, 1808, com a chegada do Príncipe Regente, D. João e a Rainha, D. Maria I
ao Rio de Janeiro, a cidade tornou-se sede do governo português, o que gerou
progresso ao Rio e a ampliação da capacidade do Arsenal para poder apoiar a
Esquadra, então sediada na cidade.
Apesar dos progressos realizados, o Arsenal Real da Marinha mantinha uma
baixa produtividade, em decorrência da falta de capacidade gerencial para
conseguir recursos materiais e humanos adequados. Durante o governo de D.
João VI, não foram construídos navios de porte no Arsenal.
A partir de 1822, com a Independência do Brasil, tornou-se necessária uma
Esquadra
para manter a unidade nacional. Era preciso reparar os navios
existentes e construir novos. Na época, o Arsenal passou a chamar-se Arsenal
Imperial da Marinha, mais conhecido oficialmente por Arsenal de Marinha da Corte
(AMC).
Até 1852, o Arsenal construía apenas navios pequenos de madeira e à vela,
cujos projetos eram baseados na prática dos construtores ou então importados , o
que ocasionava, inclusive, alguns insucessos, como por exemplo, defeitos nas
embarcações.
Na segunda metade do século XIX, o ocidente vivenciava uma série de
inovações tecnológicas, conseqüentes
da Revolução Industrial, porém, os
técnicos brasileiros não possuíam capacidade de acompanhar, nem mesmo
entender tais inovações. Assim, o Governo enviou pessoas consideradas capazes
50
de vencer o “abismo tecnológico” que os separava dos países desenvolvidos, para
estudar Engenharia na Europa, marcando uma nova fase para a construção naval
brasileira e, conseqüentemente, o primeiro apogeu do Arsenal de Marinha.
No final do século XIX, o Arsenal tinha diversas oficinas localizadas na Ilha da
Cobras e no sopé do Mosteiro da São Bento e já havia ingressado na era da
propulsão a vapor e do emprego do ferro como material estrutural.
Em 1910, começou a ser construído o Arsenal de Marinha na Ilha das Cobras,
porém, em virtude da 1ª Guerra Mundial, as obras foram paralisadas e retomadas
em 1922. Em 1º de setembro de 1938, foi formalmente criado pelo Decreto-Lei nº
654 , com o nome de “Arsenal de Marinha na Ilha das Cobras”.
Durante a 2ª Guerra Mundial, foram construídos diversos navios de guerra no
Arsenal de Marinha, entre eles, nove contratorpedeiros classes “M” e “A” e seis
corvetas classe “C”, marcando um salto tecnológico.
Em 1948, as obras do Arsenal de Marinha
foram completadas, passando
então a chamar-se Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). (anexo1) Na
mesma época, foi extinto o antigo Arsenal que se localizava junto ao Mosteiro de
São Bento.
Após a 2ª Guerra Mundial, houve um período sem construções de vulto para o
Arsenal. Era mais fácil e aparentemente mais lucrativo, adquirir ou receber por
empréstimo navios velhos norte-americanos.
Com a finalidade de retomar o rumo na construção naval, na primeira metade
da década de 60, foi iniciada a construção de alguns navios hidrográficos e navios
patrulha costeiros.
51
Na década de 70, o Arsenal de Marinha retomou,
com a construção das
Fragatas da Classe Niterói, uma nova fase de atualização tecnológica, que durou
até o início dos anos 90. A construção das Fragatas propiciou ao Arsenal
progresso material e aprimoramento técnico e gerencial, levando-o a evoluir e
vencer progressivamente o atraso tecnológico que existia, principalmente, com
relação aos países do Hemisfério Norte. Dando continuidade a esta evolução, o
AMRJ construiu o Navio-Escola Brasil e as Corvetas da Classe Inhaúma.
A década de 90 é marcada pelo Programa de Construção de Submarinos, que
coloca o Brasil como destaque internacional na construção naval militar. O
primeiro submarino inteiramente construído no Brasil foi o “Tamoio”, cujas obras
foram iniciadas em 1988 e terminaram 1993, tornando-se o primeiro submarino
construído no Hemisfério Sul a entrar
em operação. Posteriormente, foram
construídos mais três submarinos, o “Timbira”, lançado ao mar em 1996, o
“Tapajós”, lançado em 1998, e o último, o “Tikuna”, cuja incorporação ocorreu em
dezembro/05.
Apesar do AMRJ, como outras instituições públicas, sofrer as conseqüências
dos grandes cortes orçamentários que tem caracterizado o cenário brasileiro,
sempre
envidou
esforços para o cumprimento
de sua Missão, buscando a
aquisição de tecnologia, melhorias gerenciais e dos processos industriais, além
de implantação e implementações de programas de melhoria da qualidade de
vida no trabalho, investindo nas áreas: social, de saúde, educacional, de
capacitação e treinamento profissional, de lazer e nutricional.
O que pode ser observado, através
da Ordem do Dia, alusiva ao 242º
aniversário do AMRJ (anexo 2):
“...como o desenvolvimento de uma tecnologia dura décadas
e sua perda leva, somente, alguns anos, os militares e civis
do AMRJ têm procurado com criatividade, dedicação e
52
profissionalismo vencer as dificuldades que se apresentam a
cada dia, visando à manutenção da tecnologia adquirida... a
melhoria do AMRJ engloba o aperfeiçoamento dos processos
produtivos, uma mudança de mentalidade e a realização de
investimentos para que as pessoas sejam mais bem
qualificadas e trabalhem com mais entusiasmo, dentro de
uma
infra-estrutura
industrial
revitalizada...”
(PINTO
CORREA, 2006)
3.2 - O Serviço Social no AMRJ
Segundo a DGPM-501 (1996), a preocupação da Marinha em relação às
questões de âmbito social, inicia-se a partir de 1946, com a criação, na Diretoria
do Pessoal Militar da Marinha, da Divisão de Conforto e Assistência, que tinha sob
sua subordinação as seções de Conforto e Assistência Social.
No AMRJ, o Serviço Social começou a atuar em face de uma necessidade
sentida pela Administração, ante aos problemas habitacionais apresentados pelos
funcionários.
Através de um trabalho de pesquisa, realizado por quatro Assistentes
Sociais, em 1952, o então Diretor do AMRJ, determinou a implantação do Serviço
Social, para “colaborar” com os funcionários na solução de seus problemas
funcionais, conflitos familiares, dificuldades financeiras e “desequilíbrios” sociais
de qualquer natureza.
Em 1968, foi criada a Diretoria de Assistência Social da Marinha (DASM).
Em 1977, a DASM foi extinta e criado, em substituição, o Serviço de Assistência
da Marinha (SASM).
53
No decorrer deste período, a Assistência Social esteve restrita a algumas
áreas de atuação e, somente em 1987, ganhou sua primeira grande estruturação,
consubstanciada na expedição de Instruções Permanentes e na elaboração de
Programas Sociais, que tinham como objetivo dar unidade à atuação dos
Assistentes Sociais lotados em diversas organizações militares (OM) da Marinha.
Em 1994, foi criado o Serviço de Assistência Integrada ao Pessoal da
Marinha (SAIPM), visando adequar as diversas
modalidades assistenciais
prestadas pela Marinha do Brasil: jurídica, psicológica, psiquiátrica, religiosa e
social, às tendências assistenciais consideradas modernas: o ser Humano visto
como um ser holístico, e, ao mesmo tempo, aprimorá-las. A partir de então, o
conceito de Assistência Integrada passou a nortear as ações da Marinha no
campo da Assistência Social.
Em 1996, a DASM foi recriada com a finalidade de contribuir para o bemestar social dos militares e civis da MB, ativos e inativos, dos pensionistas e de
seus dependentes. Cabe
a DASM, dentre outras, a tarefa de exercer o
planejamento e a supervisão técnica dessa nova “filosofia” de trabalho, atuando
basicamente como órgão normativo do SAIPM. O Serviço de Assistência Social da
Marinha (SASM) passou à subordinação da DASM, sendo transformado em órgão
de execução do SAIPM.
O Serviço Social insere-se no AMRJ em dois setores:
no Hospital do
Arsenal (HAMRJ) e na Coordenadoria do Núcleo do Serviço de Assistência Social
ao Pessoal da Marinha (N-SAIPM), onde desempenho minhas atividades
profissionais desde a sua implantação.
Na estrutura organizacional do AMRJ (anexo3), o Hospital do AMRJ é um
departamento (de saúde) subordinado à Superintendência de Recursos Humanos
e foi criado em julho de 1946. (anexo 4)
54
O HAMRJ é constituído de serviço de emergência, pronto-atendimento,
ambulatório e enfermaria, prestando atendimento em várias especialidades, tais
como :
psiquiatria, odontologia, acupuntura, cardiologia, ginecologia, urologia,
oftalmologia,
ortopedia, clínica cirúrgica, além de contar com os serviços de
fonoaudiologia, fisioterapia,
análise clínica, enfermagem, farmácia (venda de
medicamentos a preço de custo), medicina do trabalho, entre outros.
O Serviço Social está subordinado à Divisão de Apoio Médico e possui duas
Assistentes Sociais, tendo como objetivo orientar quanto a direitos e deveres,
buscando a melhor forma para satisfação das necessidades apresentadas pelos
seus usuários. Desenvolve, dentre outras, as seguintes atividades: participação no
grupo de motivação e acompanhamento de dependentes químicos, realização de
estudo social nos casos de readaptação profissional e no programa de
planejamento familiar, orientação referente a questões de saúde.
Já o N-SAIPM do AMRJ foi implantado em junho de 1996 e sua equipe
é constituída de cinco Assistentes Sociais, sendo que uma delas ocupa o cargo
de Chefe
desta Coordenadoria,
uma Psicóloga, um
Capelão Naval e um
Bacharel em Direito, além de duas profissionais na área administrativa e dois
auxiliares de serviço gerais. Dentro da estrutura organizacional, o N-SAIPM está
subordinado à Vice-Diretoria do AMRJ.(anexo 5)
Quanto à rotina de atendimento, os profissionais do N-SAIPM atendem na
parte da manhã todos aqueles que comparecem espontaneamente, em forma de
plantão, com exceção da assistência psicológica, cujo atendimento é realizado por
meio de hora marcada antecipadamente. Na parte da tarde, os horários são
reservados para atendimento aos usuários convocados pelos profissionais do
núcleo, para elaboração de estudos, relatórios, registros em prontuários e
reuniões de equipe.
55
O maior volume de atendimento do Serviço Social é espontâneo e os
usuários apresentam as seguintes questões: financeiras, familiares, problemas
relacionados com o uso álcool e drogas, e de relacionamento interpessoal nos
setores onde trabalham, principalmente, em relação às chefias.
Segundo as normas nas quais são pautados os programas e as atividades
desenvolvidas pelo N-SAIPM, as atribuições do Serviço Social são as seguintes:
Tratar, acompanhar e orientar o usuário, dentre outras, nas situações de :
 absenteísmo;
 conflitos familiares;
 dependência química de álcool e outras drogas;
 dificuldades financeiras;
 problemas funcionais;
problemas de saúde na família e do próprio.
 Elaborar estudo social e emitir parecer, dentre outras, para as situações de:
absenteísmo;
 comissão antártica;
 dependência química/ alcoolismo;
 empréstimo financeiro;
 licença por motivo de doença em pessoa da família ( art. 83 da lei 8112/90);
 processo administrativo disciplinar;
 remoção ou movimentação por motivo social.
 Executar projetos vinculados aos Programas de Ação Social da Marinha:
 Auxilio Educacional;
 Comissão Antártica;
 Com Viver;
 Movimentação/ remoção por Motivo Social;
 Orientação e Assistência Financeira;
56
 Saiba Mais;
 Vida Qualidade 10;
 Vida Melhor.
A Direção do AMRJ, possui uma postura de investimento no trabalhador,
entendendo ser este o “Maior Patrimônio
do
Arsenal”.
Apesar
da
crise
financeira que se abate sobre as instituições públicas, a Direção do Arsenal tem
investido nos programas desenvolvidos pelo Serviço Social, entre outras, ações
voltadas para o bem-estar do trabalhador e seus dependentes e para melhoria da
sua qualidade de vida.
3.3- Perfil dos Funcionários do AMRJ/Usuários do Serviço Social
Com objetivo de conhecer um pouco mais dos funcionários do AMRJ, usuários
do N-SAIPM, e suas demandas, será traçado um perfil desses trabalhadores,
baseado no Relatório Final do Perfil Sócio-Econômico e Cultural da Família Naval
(DASM:2004),
nos registros de atendimentos (prontuários sociais)
e nas
informações e observações realizadas no dia-a-dia profissional.
Os usuários do Serviço Social do N-SAIPM são constituídos basicamente por
servidores civis, principalmente do nível artesanato, o que está em consonância
com o efetivo do AMRJ. Estes, desempenham funções ligadas à produção, como
por exemplo: carpinteiros e pintores navais, guindasteiros, mecânicos de
máquinas,
eletricistas,
chapeadores, soldadores, serralheiros, maçariqueiros,
caldeireiros de cobre, fundidores, dentre outras.
Os funcionários do AMRJ/usuários do N-SAIPM são, na sua grande maioria, do
sexo masculino, com idade média de 40 a 51 anos, casados, com famílias
constituídas de, aproximadamente, quatro pessoas, moradores do subúrbio do
57
Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Zona Oeste, Niterói e São Gonçalo.
A
escolaridade média é o Ensino Fundamental.
Quanto às condições de moradia, a maioria reside em imóveis alugados,
seguido dos que possuem imóveis próprios quitados. Observa-se, ainda um
número significativo de funcionários que moram em imóveis próprios, ainda em
fase de financiamento, adquiridos através da Caixa de Construção de Casas para
o pessoal da Marinha (CCCPM), CEHAB e outros.
A renda familiar líquida mensal apresenta-se na faixa de R$ 600,00 a R$
1.000,00. A participação de familiares ou outros recursos para composição da
renda não é significativa. O componente maior da renda familiar é o salário da MB.
Alguns funcionários têm sob sua responsabilidade financeira filhos com famílias
constituídas, que se encontram desempregados ou “subempregados”.
A maioria dos trabalhadores atendida no N-SAIPM, demonstra gostar de suas
profissões, de realizar suas atividades com prazer e sentem-se orgulhosos pelo
trabalho que executam, porém, encontram-se insatisfeitos
com
os
salários
percebidos.
No que tange aos aspectos funcionais, o número médio de faltas diárias é de
40 servidores e o de impontualidade de 26, o que corresponde, respectivamente,
a
1,5% e 0,9% do efetivo do pessoal civil do AMRJ. Em relação a licenças
médicas, a média mensal, na área de produção, é de 99 servidores, o que
equivale a 6% do efetivo dessa área. Já o número de acidentes de trabalho é de
20 acidentes mensais correspondente a 0,7%. Com relação aos conceitos
funcionais, estes variam de 20 a 90 pontos, havendo uma maior concentração na
faixa de 70 a 80 pontos
As principais demandas apresentadas pelos usuários estão direta e
indiretamente relacionadas às questões de ordem econômicas. Vivenciam
58
dificuldades financeiras, estão endividados, possuem problemas familiares, de
relacionamento no ambiente de trabalho e com o uso abusivo de drogas e álcool.
3.4 – Perfil dos Usuários de Drogas no AMRJ: dependentes e
abusadores
Consubstanciado na pesquisa efetuada pelo Serviço Social do HAMRJ
(anexo 6), em 2005, com 37 % dos
usuários de drogas cadastrados
junto
àquele setor e dados obtidos junto ao Departamento de Pessoal Civil, Divisão de
Segurança do Trabalho e nos atendimentos diários do Serviço Social, traça-se
seguir o perfil destes funcionários, que de forma geral não diferem dos demais
funcionários do AMRJ, no que tange a faixa etária e salarial, estrutura familiar,
condições habitacionais; contudo estes dados se modificam quando se referem à
situação funcional ( faltas, atrasos, licenças, conceito funcional...).
Nº de cadastrados: 100
 Faixa etária: de 40 a 59 anos
 Estado civil: casados
 Nº de filhos: dois
 Local de moradia: município do Rio de Janeiro
 Grau de escolaridade: Fundamental
 Profissão: nível artesanato da área industrial (mecânico de máquinas,
serralheiro, carpinteiro naval, eletricista, guindasteiro, servente industrial )
 Faixa salarial: de R$ 600,00 a R$ 1.200,00 (de 02 a 04 salários mínimos)
 Tempo de serviço: mais de 20 anos
 Conceito funcional2: servidores com instabilidade/recaída  50 pontos
servidores em sobriedade  75 pontos
 Média mensal de faltas: 05 dias e 17 servidores  40% dos pesquisados
 Média mensal de atrasos: 03 dias e 28 servidores  75% dos pesquisados
2
Pontuação referente aos critérios de Avaliação de Desempenho dos servidores públicos federais (escala de
20 a 90 pontos)
59
 Média mensal de licenças médicas: 07 dias e 18 servidores  48% dos
pesquisados
 Média mensal de acidentes de trabalho: 01
 Nº de aposentados devido ao uso de drogas: 10
 Nº de obtados: 05
 Tempo médio de freqüência no Grupo Vida Qualidade 10: 01 ano e 8 meses
 Faixa etária do início de uso: 12 a 17 anos
 Tempo de uso: 20 anos ou mais
 Tipo de substância utilizada: álcool/tabaco
 Existência de familiar dependente químico: 80,5%
Recaídas: em média 58 servidores apresentam episódios de recaídas
Recaídas: no momento, 15 servidores pesquisados apresentam episódios de
recaídas.
Os dados acima estão em harmonia com os registros existentes com
relação ao uso de drogas, já mencionados na introdução desta monografia, e aqui
novamente apontados:
 é a terceira maior causa das ausências no trabalho;
 é a oitava causa de concessão, pela Previdência Social,de auxílio-doença;
 40% das consultas psiquiátricas são efetuados com pacientes alcoolistas;
 nos hospitais psiquiátricos, 32% dos leitos são destinados a pacientes usuários
de álcool;
 cerca de 75% dos acidentes de trânsito graves e fatais estão relacionados ao
uso de drogas (álcool e outras). (ABEAD)
Conseqüências na Empresa:
 16 vezes mais licenças;
 saem mais cedo;
 prolongam mais seus tempos de almoço e intervalos;
 rendem menos nos horários vespertinos;
60
 tendem a ser mais rígidos em seus hábitos;
 maior desconforto com mudanças nas rotinas de trabalho;
 inclinados a reclamações e tumultos;
 usam mais serviços de saúde;
 oito vezes mais diárias hospitalares;
 os familiares utilizam três vezes mais os benefícios saúde;
 ameaçam a segurança dos colegas e dos clientes;
 três vezes mais acidentes de trabalho. (CAMPBELL e GRAHAM, 1988:19)
3.5 – Programa de Educação, Prevenção e Orientação para
Dependência Química numa Organização Militar
Dentre os projetos desenvolvidos pelo N-SAIPM/AMRJ, que objetivam a
Melhoria da Qualidade de Vida, através da promoção do bem estar bio-psicosocial e espiritual dos servidores, abordaremos, neste sub-capítulo, os Projetos
“Vida Melhor”,
“Vida Qualidade 10” e “Com Viver”, que estão voltados para o
problema da Dependência Química (álcool e outras drogas).
Estes projetos estão vinculados aos Programas de Ação Social (PSS),
previstos nas normas da Diretoria de Assistência Social da Marinha, órgão de
planejamento e supervisão técnica das atividades do N-SAIPM,
através dos
seguintes Programas:
 Programa de Orientação Social  visa favorecer o desenvolvimento de um
processo reflexivo e de liberação de potencialidades e tem por finalidade:
promover ações preventivas para esclarecimento, reflexão e discussão;
orientar os usuários para o uso de recursos assistenciais da MB e extra-MB;
desenvolver junto aos usuários um processo de reflexão sobre a construção da
realidade social em que estão inseridos;
estimular e fortalecer a sua integração social. (DGPM, 2002:16-1)
61
 Programa de Educação, Prevenção, Detecção Precoce e Orientação para a
Dependência Química  visa promover a formação de atitudes, mediantes um
processo de reflexão e orientação, com relação à prevenção da dependência
química, a fim de concorrer para minimizar as circunstâncias que a originam e
tem por finalidade:
propiciar as condições de acesso à informação sobre a dependência química
e suas conseqüentes perdas sócio-econômicas e relacionais;
prevenir o uso indevido de substâncias químicas no âmbito da Marinha;
sensibilizar os usuários para as perspectivas favoráveis do tratamento precoce
da dependência química;
orientar o dependente químico, fortalecendo seu engajamento efetivo e
consciente ao tratamento;
reduzir o estigma ao dependente químico, propiciando sua reintegração ao
convívio social, em seus diversos níveis de relacionamento. (DGPM, 2002: 18-1)
O Projeto “Vida Melhor” objetiva
relacionadas à saúde bio-psico-social
desenvolver ações preventivas
e espiritual dos servidores e seus
familiares, investindo em condições que permitam melhoria de desempenho
individual e coletivo no meio funcional e familiar. A metodologia de trabalho
consiste em disseminar, de forma dinâmica e participativa,
conhecimentos
básicos sobre os temas diversos, como: “Stress”, “Compulsão”, “O Trabalho e a
sua Vida”,
“Relacionamento Interpessoal”, “Drogas e Álcool na Empresa”,
“Alimentação Saudável” e
“Espiritualidade como parte do desenvolvimento“,
através de distribuição de folhetos, notas em boletins internos, apresentação
teatral interativo, palestras e grupos de reflexão, onde se utiliza, entre outros
instrumentos, projeção de slides e vídeos. Com relação à dependência química,
objetiva-se
a detecção precoce da situação-problema, procurando evitar
conseqüências irreversíveis: dívidas devido à perda financeiras, desagregação
familiar e doenças crônicas causadas pelo álcool e outras drogas. Trabalha-se,
ainda, com os encarregados imediatos, principalmente, do setor de produção,
62
para que eles saibam lidar com o problema em suas áreas de trabalho. Há,
também, um trabalho de multiplicadores onde os funcionários aprendem o que é
dependência química, desmistificando muitos preconceitos.
O projeto que trata, exclusivamente, sobre a dependência química (álcool e
outras drogas) recebeu o nome “Vida – Qualidade 10” é de suma importância,
pois a dependência química é uma das doenças de maior índice de incapacidade
para o trabalho, gerando grandes perdas funcionais, pessoais, familiares e sociais.
Este tem como objetivo geral: assegurar uma melhor qualidade de vida: física,
social, profissional, emocional e espiritual aos
servidores civis e militares do
AMRJ, usuários de álcool e outras drogas, dependentes químicos ou abusadores,
e seus familiares e como objetivos específicos, entre outros:
esclarecer os
servidores sobre as conseqüências do uso abusivo de álcool e outras drogas;
alertá-los sobre o uso inadequado de tais substâncias no ambiente de trabalho;
detectar usuários de álcool e outras drogas e motivá-los a aceitar o tratamento;
encaminhá-los a centros especializados de tratamento em Dependência Química,
quando se fizer necessário;
acompanhar os servidores que estão realizando
tratamento em clínicas especializadas e motivá-los para que dêem continuidade
ao tratamento; diminuir o absenteísmo; reduzir o nº de servidores licenciados, de
aposentadorias precoces e contribuir para a melhoria da qualidade de trabalho e
da vida dos funcionários do AMRJ.
A demanda referente à questão da dependência química é espontânea por
parte dos próprios servidores, de seus familiares ou por parte de colegas e chefes
que já perceberam danos concretos à produção. O atendimento é iniciado com
uma entrevista com o servidor, podendo ser
encarregados, como uma forma de
convocados seus
despertá-lo
familiares e
e de reforçar que
seu
comportamento está afetando a todos, bem como sensibilizar estes, familiares e
encarregados,
com vistas à possibilidade de contar com eles no que tange às
estratégias de abordagem junto aos funcionários portadores da doença.
63
Vale ressaltar que este projeto é um trabalho interdisciplinar e conta,
atualmente, com uma equipe formada de duas assistentes sociais, um médico
clínico e um capelão naval, cabendo a cada profissional, de acordo com sua
especificidade, atender as demandas apresentadas pelos usuários.
A partir do atendimento, verifica-se o estágio que o funcionário se encontra
com relação à dependência química. Se o abordado estiver no estágio inicial e
aceitar o tratamento, ele é internado no HAMRJ
para ser submetido a um
processo de desintoxicação e, paralelamente, é encaminhado à tratamento
ambulatorial no Conselho Estadual Anti Drogas (CEAD) ou Hospital Central da
Marinha (HCM). Se ele já se encontrar no estágio mais avançado é encaminhado,
no caso de servidor civil, para internação em clínicas públicas especializadas
( CEAD- Primeira Clínica Popular do Rio de Janeiro, Clinica Nise da Silveira ) e se
militar, para a Unidade de Saúde Mental da Marinha (UISM). Todos os usuários de
drogas e seus familiares são, ainda, orientados e encaminhados para grupos de
mútua-ajuda: A.A. (alcoólicos anônimos), N.A. (narcótico anônimo),
AL-ANON
(parentes dos alcoólicos) e NAR-ANON (parentes dos narcóticos), ALATEEN
(filhos dos alcoólicos) e NARATEEN (filhos dos narcóticos).
Com a
finalidade de
propiciar um espaço de escuta e troca de
experiências, para que o servidor possa refletir e buscar esclarecimentos
sobre
situações vivenciadas em seu dia-dia, é parte integrante deste projeto reuniões
de grupo, realizadas duas vezes por semana, com
duas horas de duração,
contando com a participação dos servidores, abusadores e/ou dependentes
químicos, que estejam ou não engajados em programas de tratamento
especializado.
As reuniões são coordenadas pelas assistentes sociais, especialistas em
dependência química, e sua dinâmica consiste na
realização de palestras,
dinâmicas de grupo, projeções de filmes, depoimentos (de pessoas já há alguns
anos em recuperação), histórias pessoais (feitas pelos integrantes do grupo em
64
início de tratamento), leituras baseadas na literatura dos grupos de mútua ajuda ,
além de relatos da vivência diária de cada membro do grupo.
A cada dia que passa este projeto ganha mais sustentabilidade, sendo
reconhecido pela direção, alta administração e profissionais dos vários setores
do AMRJ, além dos próprios usuários. Não é raro servidores que apresentem
problemas relacionados ao uso de drogas serem encaminhados para o N-SAIPM
ou Serviço Social do HAMRJ, pelo próprio Diretor do AMRJ, Superintendentes,
Gerentes,
Chefes e Encarregados Imediatos, além
de colegas de trabalho.
Registra-se, ainda, o fato de servidores que engajados no tratamento abordam
outros colegas que, também, necessitam de ajuda.
É desenvolvido, ainda, no AMRJ um trabalho com os familiares dos
usuários de drogas, que também necessitam de um espaço para serem ouvidos
em suas questões, tendo em vista que eles estão envolvidos emocionalmente e
sofrem diretamente as conseqüências da dependência, o projeto “Com Viver”
O projeto Com Viver
visa capacitar esses familiares a atuar como
multiplicadores, prevenindo situações que afetam a saúde do sistema familiar e a
diminuição de ocorrências de novos casos. Ele
se efetiva a partir de reuniões
quinzenais, onde são abordados temas que esclarecem sobre a dependência
química e seus sintomas, além de orientá-los no sentido de que possam aprender
a conviver com o problema e ajudar o familiar que se encontra doente.
Os projetos que vêem sendo desenvolvidos
têm propiciado aos
servidores, trabalhadores “problemas”, que, na maioria das vezes, apresentam
número excessivo de faltas, atrasos e de licenças médicas,
aposentadorias
precoces, baixa produtividade, problemas de relacionamento com pares e
superiores,
problemas financeiros e de relacionamento familiar,
tornarem-se
trabalhadores eficientes, além de melhorias na sua qualidade de vida no trabalho
e de sua família.
65
A fim de ilustrar está pesquisa, foram realizadas
entrevistas com os
servidores usuários de drogas em tratamento (anexo 7) e com a equipe técnica
no que tange a melhoria da qualidade de vida dos participantes dos projetos ora
desenvolvidos no AMRJ (anexo 8), além de transcrições de depoimentos
efetuados nas reuniões de grupo.
Entrevista com os servidores:
“...na época de ativa sofri muitos danos e perdas,
principalmente emocionais e espirituais...minha vida na ativa
era sem propósito, sem cor e apática... tive perda gradual da
auto-estima, do sentido da vida...a diferença entre a vida no
alcoolismo e a vida sóbria é fundamentalmente qualitativa...”
(J. F., 53 anos, 10 anos e 1 mês de abstinência)
“...minha vida na ativa era muito tumultuada, vivia em função
da bebida. Não tinha noção do que era viver sem a bebida.
Já tinha me conformado que ia morrer...Estava faltando ao
trabalho há uma semana, estava bebendo direto. Um dia
minha mulher me trouxe ao HAMRJ. O médico psiquiatra me
encaminhou para um grupo de AA que havia no HAMRJ. Fui,
gostei e fiquei...O primeiro ganho que a
sobriedade
me
proporcionou foi à saúde e o segundo foi o financeiro... Vivia
direto no agiota. Poucas vezes levava dinheiro para
casa...Hoje me relaciono bem com os meus familiares e
vizinhos...meus chefes me aceitam e me admiram por ter
parado de beber...meu rendimento profissional melhorou, os
chefes têm mais confiança em mim quando me atribuem uma
tarefa...”(M. S., 53 anos, 15 anos e 8 meses de abstinência )
“...a droga não tem nada de bom...na época da ativa sofri
todas as perdas que um homem pode ter, só passei a viver
quando a abandonei...minha vida era de dor, de sofrimento e
66
de perda...trabalhava dois, três dias e sumia 20 dias...era um
servidor que o
chefe não queria por perto, hoje recebo
elogios...no aspecto financeiro saí do negativo para o
positivo...profissionalmente tenho ambição de crescer, fazer
faculdade de gastronomia...ontem repugnado, hoje admirado
em meu ambiente de trabalho...hoje minha qualidade de vida
é 101%, respiro, pratico esporte, me preocupo com minha
alimentação, coisas saudáveis em todos os sentidos...”
(M.S., 36 anos, 1 ano e 11 meses de abstinência)
Depoimentos de participantes das reuniões de grupo:
“Depois que parei de beber só estou tendo êxito. Eu adquiri
muitas coisas. Comprei televisão de 29’, bicicleta para mim,
bicama para meus filhos. Eu e minha família estamos
usufruindo de tudo isso, não deixo mais meu dinheiro em bar.
....No bar não tem retorno, só derrota. Estou atencioso com
meus filhos e esposa. Só quem já bebeu, sabe dar valor a
uma 2ª feira sem álcool” (J.R., 42 anos, 9 meses de
abstinência e no grupo do AMRJ )
“...o relacionamento com a família, a condição física, não tem
nem comparação...O alcoolista na ativa é meio cego e surdo.
Minha vida é muito melhor do que era. As coisas boas estão
nas coisas simples. Na ativa fui advertido no trabalho várias
vezes.Quando comecei a me tratar, parei de faltar, a
qualidade do meu trabalho melhorou e 5 anos depois de
estar abstinente fui indicado para funcionário padrão e no
ano seguinte fui eleito. Isso me emocionou muito” (J.F., 54
anos, 10 anos de abstinência e 03 anos no grupo do AMRJ)
67
“...a vida muda muito quando se para de beber. É uma
vitória. A relação com os filhos muda. O humor melhora. Eu
tinha vergonha do meu bafo” (C.T., 49 anos, 11 meses de
abstinência e no grupo do AMRJ)
Depoimento de familiar:
“...Acho que o Serviço Social foi muito importante quando
ele se internou aqui no hospital. Lá “fora” ele não procuraria
ajuda. A conversa que ele teve com a Assistente Social foi
importante para ele tomar a decisão de se tratar” (M.F., 33
anos)
Entrevista com a equipe técnica:
Assistente Social D. :
“Trabalhar com Dependente Químico é acreditar nas
possibilidades do ser humano. É acreditar que todos têm
direito
a uma vida com qualidade, uma vida digna. É
acreditar que eles podem sair de uma vida de drogadição,
de perda total para uma vida com qualidade em todos os
seus segmentos: físico, social, familiar, profissional e
espiritual. Os exemplos de recuperação atestam que vale a
pena investir ” ( 24 de fevereiro de 2006)
Capelão Naval G:
“Trabalho de perseverança e paciência. Assim eu defino as
qualidades
necessárias
para
quem
opta
empreender
atividades com alguém com a doença da dependência
química. Perseverança no aprendizado constante com a
natureza
humana,
sobretudo
sob
a
influência
de
componentes externos. Paciência porque o tratamento é um
68
processo extremamente longo, marcado por altos e baixos,
revelados em períodos de abstinências e na possível
recaída. Procurando aliar paciência e perseverança é que
podemos dizer que efeitos positivos têm sido percebidos ao
lidarmos com a realidade da DQ no âmbito do AMRJ. Lidar
com essa realidade requer uma mudança, pois somos
imediatistas e esperamos soluções rápidas. Tal não acontece
no tratamento do D.Q. Quando envolvidos neste trabalho
somos abençoados com a instalação da paciência e
esperança de aguardar bons resultados. Na nossa realidade,
temos tido o privilégio de colher resultados positivos.
Infelizmente, nem todos que precisam aderem ao tratamento.
No entanto, podemos constatar uma ótima melhora na
qualidade de vida daqueles que, conscientes da sua doença,
se engajam na luta contra a D.Q. O resultado é notório na
volta do bom funcionário, no cônjuge que passa a valorizar
mais a família e, também, na saúde que se restaura a olhos
vistos. Mas, o importante é que sempre recomeçamos, seja
um recomeço tranqüilo ou dramático. Esse trabalho abre
portas para enfoque de temas sobre relacionamento,
trabalho e o próximo. Abordamos temas, os mais variados,
vendo o homem de forma integral: físico, social, psicológico e
espiritual. Neste trabalho aprendemos a valorizar as
pequenas conquistas. O dia de hoje passa a ter
a
importância que ele merece. Aliás, aprendemos que o dia
mais importante é o Hoje e o melhor momento da vida é o
Agora.” (22 de fevereiro de 2006)
Assistente Social V. :
“Ao longo desses muitos anos que tenho trabalhado com
dependência química, tenho sido testemunha das grandes
69
transformações que ocorrem na vida dos D.Q. que entram
em recuperação e na vida de seus famIliares. Desta forma
acredito ser o grupo Vida um instrumento viabilizador destas
transformações, uma vez que o objetivo primeiro do grupo é
auxiliar o D.Q. a parar de se drogar. No entanto acredito que
parar de se drogar, embora seja um passo fundamental, não
é o suficiente. O objetivo maior do grupo Vida é exatamente
auxiliar os envolvidos a melhorarem sua qualidade de vida.
Acredito que isso esteja sendo alcançado quando vejo os
participantes cuidando de sua aparência, adquirindo bens
para seu conforto e de suas famílias, reduzindo o
absenteísmo ao trabalho, mostrando-se comprometidos com
o mesmo, aproximando-se de suas esposas e filhos,
resgatando
confiável
e
sua
dignidade,
responsável.
É
tornando-se
um
um
trabalho
indivíduo
difícil,
mas
extremamente gratificante. Saber que você, enquanto
profissional, foi capaz de ajudar famílias inteiras a se
reencontrarem e vislumbrarem a possibilidade de serem
felizes. (08 de março 2006)
70
CONCLUSÃO
Dependência Química é uma doença multifacetada, envolvendo aspectos
orgânicos, sociais, culturais, psicológicos e espirituais. Incide em todas as esferas
da sociedade, independente de classe social, raça, gênero, religião, idade e nível
de escolaridade. Pode-se, então, considerá-la uma patologia democrática.
É uma doença de difícil trato, em função de:
 a população em geral, incluindo-se o próprio usuário, seus familiares e as
organizações em que trabalham, não tem ainda consciência da magnitude do
problema e das inúmeras conseqüências advindas do uso abusivo das drogas;
 a dificuldade do usuário em aceitar que está doente e querer se tratar;
 só o próprio usuário é quem pode decidir pela sua recuperação, sendo, no
entanto a família, a organização onde trabalha e os profissionais especializados
importantes instrumentos de ajuda para a sua abstinência e para o seu
tratamento;
 ser crônica e pela sua própria natureza apresenta uma taxa bem elevada de
recaídas.
O AMRJ não foge a esta realidade. Na maioria dos casos, 58%, ocorre
recaídas e fracassos, estando, no momento, em abstinência e em tratamento
40% dos servidores usuários de drogas cadastrados.
A Dependência Química
todos os segmentos
é, ainda, uma doença que afeta o homem em
de sua vida, alterando
o seu comportamento
e
desagregando os seus valores éticos e morais. Tem o poder de contagiar as
pessoas desses diversos segmentos, entre estes, o ambiente funcional, onde as
pessoas
tornam-se
confusas, estressadas e, muitas vezes, facilitam
e
escondem o comportamento do usuário, possibilitando o agravamento da doença.
Esta atitude, por vezes, leva a acidentes, à tensão no clima organizacional e a
71
baixa qualidade no trabalho, tornado-o
uma fonte de dor e sofrimento para
muitos, sendo, portanto, imprescindível administrar esse problema, através de
programas de prevenção e tratamento da Dependência Química, para que os
indivíduos possam recuperar sua Saúde, melhorando sua Qualidade de Vida no
Trabalho e sua Qualidade de Vida de um modo geral.
Os programas e projetos desenvolvidos
no AMRJ têm alcançado
resultados positivos no que tange a recuperação da saúde e a recuperação
funcional dos servidores, gerando economia de recursos, melhoria no ambiente e
no trabalho. Têm contribuído, ainda, sobremaneira para a melhoria da Qualidade
de Vida dos seus funcionários, pois estando eles em abstinência e em tratamento
são capazes de reformular suas vidas, levando-os a recuperar seu valor junto a
suas famílias, aos chefes, encarregados, colegas de trabalho e a sociedade,
tornando-os pessoas respeitadas, responsáveis, dignas, capazes e produtivas.
As organizações, como já vem fazendo o AMRJ, devem priorizar a
Qualidade de Vida de seus empregados, não se preocupando apenas com a
qualidade dos seus produtos.
Hoje, Saúde e Qualidade de Vida são dois conceitos presentes em todos os
contextos, sejam eles a família, o trabalho, a escola, as relações sociais.
.
As Organizações só obterão avanços significativos em relação a Qualidade
de Vida no Trabalho quando derem
à saúde e o bem-estar psico-social dos
seus empregados o mesmo valor que dão ao fator econômico e produtivo das
empresas.
À guisa de conclusão constata-se, com base nos dados e depoimentos
constantes desta monografia, que apesar de todas as dificuldades e barreiras
que se encontram para a implantação e desenvolvimentos de melhorias
Qualidade de Vida no Trabalho,
vale
a pena investir em
na
Programas de
72
Dependência Química, pois é
sempre positivo e significativo
para o próprio
usuário, sua família, seu ambiente de trabalho e para a sociedade como um todo.
Tanto quanto
famílias
ver pessoas reconstruindo suas vidas e planejando o futuro,
voltando a ter um convívio sadio e organizações contando com
empregados participativos, comprometidos e produtivos.
Acreditando nas potencialidades e na possibilidade de recuperação das
pessoas, e, parafraseando Michel Quiost é interessante dizer que:
“Não
remexa
indefinidamente
as
cinzas;
debruce-se
imediatamente sobre a brasa vermelha, por menor que ela
seja. Alimente-a, sopre e torne a soprar, e logo você verá
acendido um braseiro...Isto é, repare no outro o menor
esforço, o menor progresso e alegre-se sinceramente. Sua
alegria, sua admiração revelarão
ao outro as suas
possibilidades. Ele acreditará nela com mais segurança,
andará mais depressa e mais longe”.
73
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77
ANEXO 1
FOTO PANORÂMICA
ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO
78
ANEXO 2
ORDEM DO DIA
79
ANEXO 3
ORGANOGRAMA
ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO
80
ANEXO 4
ORGANOGRAMA
ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO
SUPERINTENDÊNCIA
DE
RECURSOS HUMANOS
AMRJ-30
NÚCLEO DE
DESENVOLVIMENTO
E SISTEMATIZAÇÃO
DE PROCESSOS
ADJUNTO
TÉCNICO
AMRJ- 301
AMRJ- 30A
DEPARTAMENTO
DE
SAÚDE
DEPARTAMENTO
DO
PESSOAL CIVIL
AMRJ- 31
AMRJ- 32
DEPARTAMENTO
DE CAPACITAÇÃO
E TREINAMENTO
AMRJ- 33
ANEXO 5
DEPARTAMENTO
DO
PESSOAL MILITAR
AMRJ- 34
81
ORGANOGRAMA
ARSERNAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO
ANEXO 6
82
QUESTIONÁRIO/ RESULTADO
ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO
DEPARTAMENTO DE SAÚDE
SERVIÇO SOCIAL
QUESTIONÁRIO – PESQUISA QUANTITATIVA
1) Idade:
20 a 39 anos  03
40 a 59 anos 31
60 a 70 anos 03
2) Estado Civil:
Casado  16
Divorciado  12
Solteiro  09
3) Filhos (Sim ou Não/Quantos):
Não  03
01 a 02  20
03 a 04  11
05 ou +  03
4) Residência (Própria ou Alugada):
Alugada 12
Própria 22
Cedida 03
5) Endereço (Bairro e Cidade):
Caxias 01
Rio de Janeiro 20
São João de Meriti 02
Não Respondido 01
Nova Iguaçu 03
São Gonçalo 09
São Pedro da Aldeia 01
6) Grau de escolaridade:
Fundamental Completo 16
Fundamental Incompleto  10
Médio Completo 08
Médio Incompleto 02
Superior Incompleto 01
7) Profissão:
Almoxarife  01
Agente de Segurança 01
83
Auxiliar Administrativo 01
Chapeador 03
Eletricista 01
Garçon 01
Isolador Térmico 01
Macariqueiro 01
Mecânico de Máquinas 03
Militar  02
Pedreiro Refratário 01
Riscador Naval 01
Servente Industrial 03
Técnico Industrial01
Não Respondido 01
Carpinteiro 01
Comprador 01
Encanador 01
Guindasteiro 02
Jateador 01
Mecânico de Armamento01
Mecânico de Motores 01
Pedreiro 01
Pintor Naval  02
Serralheiro  01
Soldador 02
Torneiro Mecânico 01
8) Salário:
01a 02 salários mínimos 03
02 a 04 salários mínimos 26
04 a 06 salários mínimos 07
9) Sua esposa trabalha?
10) Tempo de trabalho no Arsenal de Marinha:
11 a 20 anos  07
+ de 20 anos  30
11) Idade que começou a usar substância química?
11 anos 03
12 a 18 anos  28
19 a 29 anos 05
30 ou +  01
12) Quanto tempo que “utiliza” (utilizou) sustância química?
14 a 19 anos 05
25 a 29 anos 05
35 a 39 anos10
Não respondido 01
20 a 24 anos 06
30 a 34 anos09
40 ou + anos 01
13) Tipo de substância química usada?
Álcool 12
Álcool/Cocaína/Maconha 03
Álcool/Maconha/ Cocaína/ Loló 01
Cocaína 01
14) Quantas internações no HAMRJ
Nenhuma 07
01vez 13
02 vezes09
Álcool/Cocaína  02
Álcool/Cocaína/Tabaco 03
Álcool/Tabaco 14
Cocaína/Tabaco 01
84
03 a 05 vezes 04
06 a 10 vezes04
15) Quantas internações fora do HAMRJ (clínicas especializadas)?
Nenhuma22
01 vez 12
02 vezes02
03 vezes01
16) Já se internou em Hospital Psiquiátrico? Quantas vezes?
Nenhuma32
01 vez05
17) Tempo de grupo (ProjetoVida-Qualidade10):
1 a 4 semanas 02
13 a 18 meses  06
25 a 30 meses 0
37 a 42 meses 0
Não freqüentam no momento 15
1 a 12 meses  04
19 a 24 meses  04
31 a 36 meses05
43 a 48 meses 01
18) Já tentou parar de utilizar a substância química alguma vez? Quantas vezes?
01 a 04 vezes18
05 a 09 vezes10
10 ou +06
Não respondido03
19) Tempo de abstinência (caso esteja abstênio):
Recaídas 15
01 a 04 meses 06
01 a 04 anos 05
10 a 14 anos 01
01 a 29 dias 04
05 a 11 meses 03
05 a 09 anos 02
15 ou + anos 01
20) Freqüenta grupo de mútua ajuda?
Sim 18
Não 19
21) Possui algum dependente químico na família? (Se possuir, qual o grau de
parentesco)
Avô 01
Avô, mãe, primo e tio 01
Companheira, pai, irmão, tio e primo01
Irmão 02
Irmão e pai 03
Irmão, pai, primo e tio 01
Irmão, primo e tio 01
Mãe 01
Mãe, pai, primo e tio 01
Pai, primo e tio 01
Avô, irmãos e tio 01
Avô e tio 01
Esposa e tio 01
Irmão, mãe , pai, primo e tio 01
Irmão, pai e primo 02
Irmão, pai e tio 05
Irmão e tio 01
Mãe e pai 01
Pai 01
Pai e tio 01
85
Primo 01
Não têm 07
Tios 01
22) Está licenciado? (se estiver, qual o motivo da licença):
Não 29
Sim  08
23) Já foi licenciado pelo uso de substância química (síndrome de dependência
química)?
Não 06
Sim 31
86
ANEXO 7
ROTEIRO DE ENTREVISTA
SERVIDOR PARTICPANTE DO PROJETO “ VIDA QUALIDADE DEZ”
1- Nome:
2- Idade:
3- Há quanto tempo você está sóbrio?
4- Na sua época de ativa você sofreu algum dano ou perda? Cite alguns. (faltas
ao serviço, desconto financeiro, desagregação familiar).
5- Como você classificaria sua vida de ativa?
6- Existe algum fato nessa época que marcou a sua vida?
7- Hoje, a sobriedade lhe propiciou algum ganho? Ou que vantagem você tem
hoje vivendo sóbrio?
8- Hoje, você percebe em sua vida pessoal e profissional alguma diferença em
relação a sua vida de ativa?
9- É possível você fazer um paralelo entre a sua vida hoje e a sua vida de ativa,
considerando os aspectos: financeiro, familiar e profissional.
10-Descreva como era o seu relacionamento com os pares e superiores, na época
da vida de ativa e hoje no processo de recuperação.
87
ANEXO 8
ROTEIRO DE ENTREVISTA
PROJETOS VOLTADOS PARA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA
EQUIPE TÉCNICA
1) Nome:
2) Tempo de serviço no Arsenal:
3) Formação Básica:
4) Cursos de aprimoramento:
5) Quanto tempo participa desses Projetos?
6) Na sua visão de que forma os projetos desenvolvidos vêm contribuindo
para a melhoria da qualidade de vida no trabalho dos servidores do AMRJ?
88
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
12
1.1 – Considerações Gerais
12
1.2 – Caracterização da Drogas e de suas Conseqüências
16
1.3 – Alcoolismo
31
CAPÍTULO II
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
36
2.1 – Histórico e Evolução
36
2.2 – Conceituação
41
CAPÍTULO III
ANALISANDO O FENOMENO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
46
NO AMBIENTE DE TRABALHO
3.1 – Caracterização da Instituição
46
3.2 – O Serviço Social no AMRJ
52
3.3 – Perfil dos Funcionários do AMRJ/Usuários do Serviço Social
56
3.4 – Perfil dos Usuários de Drogas no AMRJ: dependentes ou abusadores
58
3.5 – Programa de Educação, Prevenção e Orientação para Dependência
60
Química numa Organização Militar.
CONCLUSÃO
70
BIBLIOGRAFIA
73
ANEXOS
77
ÍNDICE
88
FOLHA DE AVALIAÇÃO
89
89
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Título da Monografia: Dependência Química e Qualidade de Vida
Autor: Isaura Azevedo Lima
Data da entrega:
Avaliado por:
Conceito:
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universidade candido mendes pró-reitoria de planejamento e