IT 13 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 1 Teologia = ciência em que a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça por compreender melhor os mistérios revelados em si mesmos e nas suas consequências para a existência humana. É fé que busca entender, levada não por simples curiosidade, senão por amor e veneração ao mistério. S. Agostinho, Sermão 48, 7: “intellige ut credas, crede ut intelligas”.(compreender para crer Crer para compreender). S. Anselmo: “se não acreditais não entendereis”. IT 14 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 2 A teologia compartilha a busca do conhecimento de Deus com a via damis tica ( fé)ou contemplativa. Esta não depende tanto como a teologia do esforço humano, mas é, antes, fruto muito direto da graça e do favor divinos. Estas duas vias de acesso a Deus não se opõem. A teologia sem alguma medida de contemplação degenera em ciência de puros conceitos, e a fé(mistica) sem nenhuma teologia, poderia converter-se em auto-engano e fantasia espiritual. A teologia não é tarefa puramente individual do teólogo: serve a Igreja. É um aspecto da função doutrinal da Igreja, que engloba o Magistério, a teologia e a catequese. IT 15 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 3 A teologia supõe a união da razão e da fé. Alguns momentos importantes na história dos Concílios e dos papas sobre esta questão: 1. Niceia (325): para combater a heresia, usa o termo filosófico “omousios” (consubstancial). 2. Bulas de 1228 y 1231 de Gregório IX sobre o uso da filosofia aristotélica em teologia. 3. Século XIX: a Igreja defende o uso da razão em teologia contra o fideísmo de Bautain e o tradicionalismo de Bonnetty. Além disso alerta contra os abusos da razão em teologia de Hermes em 1835 e Günther em 1857. Pio IX na encíclica Qui pluribus (1846) e o Concilio Vaticano I tratam também da harmonia entre fé e razão. 4. Século XX: Paulo VI em 1974 trata da união entre filosofia e teologia em S. Tomás. Em 1998, João Paulo II escreve a Encíclica Fides et Ratio. IT 16 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 4 A linguagem humana é, juntamente com a razão e a fé, o terceiro pressuposto da teologia. A Revelação não traz a sua própria linguagem. A linguagem ordinária dos homens é o modo normal de expressar a revelação de Deus. A via da analogia permite superar os limites da linguagem humana para falar de Deus e dos mistérios cristãos. Aplica-se segundo três momentos: positivo, negativo e de eminência. Pode distinguir-se no terreno da fé: 1) a linguagem bíblica (usam-na também geralmente os credos e as confissões de fé); 2) a linguagem teológica (os teólogos dos primeiros séculos usaram a linguagem da filosofia grega); 3) a linguagem litúrgica (baseia-se na bíblica). IT 17 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 5 As linguagens de palavras não são os únicos modos de expressar o que é religioso. É também importante a linguagem das imagens (habitual na Igreja: uma imagem vale mais do que mil palavras), do gestos (genuflexão, mãos estendidas e inclinações de cabeça, sinais da cruz...), do silêncio (na liturgia como “clima natural de adoração”). IT 18 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 6 Objeto da teologia A teologia trata de Deus e considera-o: - quer em si mesmo (essência, atributos e Pessoas divinas), - quer como princípio e fim de todas as coisas (estuda então as criaturas, os actos humanos, as normas que regem a conduta humana, a graça divina e as virtudes). A teologia depende completamente da Revelação. Mas pode e além disso deve ocupar-se de qualquer realidade terrena, sempre que o faça: a) para explicar o seu sentido último à luz do Evangelho; e b) para determinar a sua repercussão espiritual e moral no homem. IT 19 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 7 A teologia é imperfeita e susceptível de um progresso que nunca termina. Deve ser consciente de que reflecte sobre o mistério de Deus, que nunca pode ser abarcado pela razão humana, mesmo que guiada pela luz da fé. A teologia está também condicionada pelos limites da razão e da linguagem. O teólogo sabe que está em presença de mistérios insondáveis. “Se compreendeste tudo, é porque não é Deus o que encontraste.” (S. Agostinho). IT 20 de 50 NATUREZA DA TEOLOGIA, 8 A teologia cristã é sabedoria. O seu olhar para realidade é mais profundo que o olhar filosófico ou científico, que consideram as coisas só pelo que são nas suas aparências externas. Os Padres da Igreja consideravam a teologia como sabedoria. Quando se converte em ciência (escolástica, s. XIII), não deixa de ser compreendida e cultivada também como sabedoria.