DELITE CONCEIÇÃO ROCHA BARROS LEMOS
TRILHAS DA PSICOLOGIA ESCOLAR: UM ESTUDO
SOBRE A PRÁTICA DO PSICÓLOGO ESCOLAR E
SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE.
Orientador: Professor Doutor Óscar Conceição de Sousa
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Departamento de Ciências Sociais e Humanas
Área de Ciências da Educação
Lisboa
2010
DELITE CONCEIÇÃO ROCHA BARROS LEMOS
TRILHAS DA PSICOLOGIA ESCOLAR: UM ESTUDO
SOBRE A PRÁTICA DO PSICÓLOGO ESCOLAR E
SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE.
Dissertação apresentada para a obtenção do
grau de Mestre em Ciências da Educação, no curso
de mestrado em Ciências da Educação, conferido
pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologia.
Orientador:
Conceição de Sousa.
Professor
Doutor
Óscar
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
Departamento de Ciências da Educação
Lisboa
2010
2
APRENDER
“Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre
dar a mão e acorrentar a alma. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
e olhos adiante. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno
do amanhã é incerto demais para os seus planos. Descobre que se levam anos para se
construir confiança e apenas segundos para destruí-la.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas
distâncias.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós,
mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as consequências.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se
teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que com a mesma severidade com que julga você será em algum
momento condenado.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante
seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você
aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito
mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e
que você tem valor diante da vida”.
Shakespeare
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Dedico
A todos os profissionais da Psicologia Escolar, que de certa
forma vislumbram uma atitude voltada para as práticas sociais
humanizadoras em contextos de escolarização e que por meio das
diferentes formas de atuar tornam visíveis as ações que contrariam
práticas excludentes lutando por uma causa de igualdade de direitos
em educação.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor Óscar de Sousa, pela PAZCiência, em
esperar o meu tempo.
A Lindon Jonshon, amor da minha vida, por acreditar sempre
no meu potencial.
A Leilane e Rafael, filhos do coração, que se destacam pela
sabedoria e solidariedade, o meu agradecimento pela colaboração no
pensar, pelo estímulo, cumplicidade e confiança.
Em especial a Bárbara, menina translúcida dos meus sonhos,
a filha adolescente, pela colaboração na reta final desse trabalho.
Ao longo dessa caminhada, alguns professores deixaram
marcas no meu saber e pela maneira como repassaram os
conhecimentos me mantive motivada. Dentre eles destaco o Prof.
Doutor Antonio Teodoro, Prof. Doutor Zoran Roca, Profª. Doutora
Aurea Adão e o Prof. Doutor Gustavo Said.
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RESUMO
O Psicólogo Escolar no Piauí se apresenta em uma prática longitudinal desde finais
dos anos 80 e se constituiu, a princípio, como um profissional que atendia uma demanda de
atenção às pessoas especiais (excluídas da escola). Com sutileza e de forma tímida se insere
também em escolas particulares nas quais vem se firmando na última década. Este trabalho
apresenta o perfil socioprofissional de psicólogos (as) que trabalham em escolas no município
de Teresina, demonstra as práticas que habitualmente realizam como resposta às necessidades.
Traz esclarecimentos sobre as expectativas geradas nas escolas sobre as funções deste
profissional na perspectiva do gestor, do aluno e do próprio Psicólogo (a). Aponta ainda as
dificuldades sentidas pelo Psicólogo Escolar em cumprir o seu projeto ou de gerir as
expectativas.
Palavra chave: psicologia escolar, história, práticas e expectativas.
6
ABSTRACT
The school psychologist in Piauí makes his/her presence felt in a longitudinal
practice as from the 1980s and, in principle, and this is a practice he/she carried out to mainly
attending students with special education needs (those who were not integrated in school). In
a subtle and timid way, this professional has also made his/her presence necessary in private
schools also, in which his/her work has become more and more secure in the last decade. The
aim of the present study is to present the social and professional profile of the men and
women school psychologists who work at schools in the Teresina district, brings out their
daily practice, which they undertake in reply to the daily needs felt at schools. This study also
aims to provide information about expectations bred at schools about the functions these
professionals have from the perspectives of the school manager, of the student and also that
of the Psychologist him/herself. It will also try to point out difficulties the school psychologist
is confronted with in carrying out his work or in administering expectations.
Key words.
School psychologist, history, practice and expectations.
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LISTA DE ABREVIATURAS
ABRAPEE - Associação Brasileira de Psicologia Escolar/Educacional;
AESC - Apoio Escolar Especializado Santa Clara;
APAE - Associação de Pais e Amigos de Excepcionais;
CEPRO - Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí;
CFP - Conselho Federal de Psicologia;
CRP - Conselho Regional de Psicologia;
CSCJ - Colégio Sagrado Coração de Jesus;
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio;
ESMG - Escola Santa Maria Gorete;
FACID - Faculdade Integral Diferencial;
FACIME - Faculdade de Ciências Médicas;
FADEP - Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Educação do Estado do Piauí;
FENPB - Fórum de Entidades da Psicologia Brasileira;
FSA- Faculdade Santo Agostinho;
FUFPI - Fundação Universidade Federal do Piauí;
IBC - Instituto Batista Correntino;
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
IDB - Instituto Dom Barreto;
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica;
IES - Instituições de Ensino Superior;
IFET - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia;
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais;
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação;
MEC - Ministério da Educação;
PE - Psicólogo Escolar;
SOE - Serviço de Orientação Educacional;
SAANE - Supervisão de Avaliação e Acompanhamento das Necessidades Especiais;
SAAT - Serviço de Avaliação e Acompanhamento Técnico;
UESPI - Universidade Estadual do Piauí;
UFPI - Universidade Federal do Piauí.
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ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 14
2.1. Concepções em educação ...................................................................... 14
2.1.1. Psicologia: uma breve visão histórica .............................................. 15
2.1.1.1. Concepções em Psicologia ....................................................... 15
2.1.1.2. Grandes nomes em psicologia da educação.............................. 16
2.1.2. Relação Educação e Psicologia no Brasil: algumas considerações .. 18
2.1.3. O que é Psicologia Escolar ............................................................... 22
2.2. Educação e Psicologia no Piauí ............................................................. 24
2.2.1. Visão panorâmica do perfil do povo piauiense ................................ 24
2.2.2. As distorções legislação / educação ................................................. 25
2.2.3. Rebuscando a história: o viés da educação à psicologia .................. 26
2.2.4. Trilhas da profissão no Piauí ............................................................ 30
2.2.4.1. O Psicólogo Escolar no interior do estado ................................ 30
2.2.4.2. O Psicólogo em Teresina .......................................................... 30
2.2.4.3. O Psicólogo Escolar em Teresina ............................................. 32
2.2.4.4. O Psicólogo Escolar no Instituto Dom Barreto ........................ 34
2.2.4.5. O Psicólogo Escolar na rede pública do estado ........................ 36
2.3. O que se espera e o que faz o psicólogo na escola ................................ 39
2.3.1. Quem é o Psicólogo Escolar/Educacional ........................................ 39
2.3.2. O que é esperado que faça o Psicólogo Escolar ............................... 41
2.3.3. As ações práticas .............................................................................. 43
2.3.4. Sujeitos de vivências e de ações para o Psicólogo Escolar .............. 45
3. PROBLEMA ................................................................................................ 50
3.1. OBJETIVOS ......................................................................................... 54
3.1.1. GERAL ............................................................................................. 54
3.1.2. ESPECÍFICOS ................................................................................. 54
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................. 55
4.1. Tipo de pesquisa, sujeitos e instrumentos .............................................. 55
4.2. Procedimentos ........................................................................................ 57
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 59
5.1. Perfil Sócioprofissional dos Psicólogos Escolares ................................ 59
5.2. Entrevistas:............................................................................................. 71
5.2.1.Entrevistas com Psicólogos. .............................................................. 71
5.2.2. Entrevistas com Gestores: .............................................................. 108
5.2.3. Entrevistas com Alunas: ................................................................. 117
6. CONCLUSÃO ............................................................................................ 124
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 130
8. ANEXOS .................................................................................................... 136
Anexo I – Questionário Sócio Profissioal....................................................136
Anexo II, III, IV- Guião de entrevistas........................................................140
Anexo V- Psicóloga Escolar em escola formal no Piauí.................................... 151
Anexo VI - Entrevistas com Gestoes Públicos.............................................153
Anexo VII – Ata da reunião para criação da representação CRP 11-PI......161
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Idade dos psicólogos escolares entrevistados ...................... 59
Figura 2. Estado Civil dos psicólogos escolares entrevistados ........... 60
Figura 3. Sexo dos psicólogos escolares entrevistados ....................... 60
Figura 4. Religião dos psicólogos escolares entrevistados.................. 60
Figura 5. Formação dos psicólogos escolares entrevistados ............... 61
Figura 6. Áreas de estágios supervisionados dos PE entrevistados .... 62
Figura 7. Ano de formação dos psicólogos escolares entrevistados ... 62
Figura 8. Titulação dos psicólogos escolares entrevistados ................ 62
Figura 9. Publicações dos psicólogos escolares entrevistados ............ 63
Figura 10. Atuação com outros psicólogos escolares.......................... 63
Figura 11. Tempo de atuação dos psicólogos escolares entrevistados 64
Figura 12. Tipo de escola em que o PE trabalha ................................. 64
Figura 13. Remuneração do Psicólogo Escolar .................................. 65
Figura 14. Outras áreas de atuação do Psicólogo Escolar ................... 65
Figura 15. Função do psicólogo na escola .......................................... 66
Figura 16. Das ações práticas do psicólogo na escola ......................... 71
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1. INTRODUÇÃO
“Se queremos compreender, seja como aprendizes, como mestres
ou como ambas as coisas ao mesmo tempo, as dificuldades relativas às
atividades de aprendizagem devemos começar por situar essas atividades no
contexto social em que são geradas” ( Juan Ignácio Pozo, 2002).
Dissetar sobre o Psicólogo Escolar é rever a história de uma prática profissional e os
caminhos percorridos por esta, referenciando suas contribuições à comunidade educacional no
município de Teresina, Estado do Piauí. Trilhar este caminho foi sem sombra de dúvidas um
grande desafio, foi garimpar informações e assumir a responsabilidade de registrar a história
de uma profissão que vem conquistando espaços no estado e ressignificando sua prática na
instituição escola.
“A história é um exercício da memória realizado para compreender o presente e para
nele ler as possibilidades do futuro, mesmo que seja de um futuro a construir, a escolher, a
tornar possível” (Cambi, 1999, p.35).
Sob a luz de um tempo em que a palmatória ainda insistia em existir e,
exclusivamente, com a função de reprimir atitudes e comportamentos indisciplinares por parte
dos alunos, o Psicólogo Escolar chega ao Piauí pelo interior do Estado, mais precisamente
pela cidade de Corrente, no Extremo Sul, ao final dos anos 80, oriundos da Texas A&M
University, Estados Unidos e da Universidade Estadual da Paraíba, no nordeste do Brasil.
Há mais de duas décadas atuamos com Psicologia Escolar no Piauí, sem que até o
momento identificássemos escritos sobre a prática deste profissional, suas atribuições e
concepções para a comunidade escolar no município de Teresina. Mesmo com tanto tempo,
pouco se tem discutido acerca da importância deste profissional nas escolas, mas
gradativamente e principalmente com o surgimento de cursos de psicologia, um novo olhar
vem sendo construído e este profissional vem se inserindo no seu campo de atuação de forma
significativa, em especial nas escolas da rede particular de ensino.
O trabalho ora desenvolvido é, portanto, de natureza historiográfica e de cunho
quantiqualitativo. Objetivamos, sobretudo, registrar as atribuições do Psicólogo Escolar; que
funções exercem nos locais onde atuam como campo de trabalho; suas contribuições para a
11
comunidade; quais expectativas têm deste profissional e o que lhes é cobrado; descrevendo a
importância de sua atuação de modo a fazer uma análise das ações desenvolvidas sob pena de
uma história ficar esquecida, ou seja, uma profissão sem memória no município.
Desta forma acreditamos que a pesquisa será um grande contributo para a atuação
desta profissão, na região e também no Brasil, sobretudo pela importância dessa prática para a
comunidade escolar.
A partir do panorama vigente, percebemos o grande desafio vislumbrado,
considerando de fundamental importância almejarmos novas perspectivas quanto à prática do
Psicólogo Escolar e ao que diz respeito a uma escola de qualidade para todos e não um
privilégio de poucos. Resta o desejo de uma nova consciência por parte dos profissionais de
psicologia, dos gestores de instituições privadas e públicas fomentando a importância da
atuação do PE como colaborador para melhoria dos processos educativos.
Verificar os encontros e desencontros desta prática foi instigador, e principalmente
por este profissional se fazer presente em uma região tão distante das grandes metrópoles do
país, quando ainda praticamente se iniciavam legalmente as ações desta área de atuação. Esse
foi o grande desafio. Vislumbrar este sonho foi não perder de vista a iniciativa de uma prática
diferenciada.
Portanto, acreditamos que um estudo da natureza do que se realizou, venha contribuir
para novas ações de atuação do Psicólogo Escolar, sobretudo porque compreendemos ser de
grande valia o entendimento sobre a prática, concepções, atribuições e contribuições deste
profissional para as escolas em Teresina, o que vem de certa forma, corroborar para o registro
do espaço de atuação deste profissional, em uma região de tantas adversidades e tantos
problemas sociais e educacionais, mas que também se destaca como pólo de excelência em
educação privada.
É com essa marca de assimetrias e adversidades, que desenvolvemos o presente
estudo e aqui reportamos a presença do PE em escolas particulares de Teresina, bem como a
sua ausência no cotidiano das escolas públicas.
12
Registrar a prática da Psicologia Escolar no Piauí e suas contribuições para a
comunidade escolar é fazer valer a sua presença desde 1986. Por isso necessário se faz
compreender o desdobramento da questão, segundo pelo menos quatro vertentes
fundamentais: o ponto de vista histórico, ou seja, como o Psicólogo Escolar se inseriu no
Piauí; o ponto de vista da percepção do gestor da escola, do aluno e do ponto de vista do
próprio psicólogo, uma vez que suas ações, até o momento, no estado, estão voltadas para
uma prática em escolas particulares, uma exclusividade de poucos. Nessa direção, tomando
como referência a trajetória do Psicólogo Escolar em Teresina, partimos para investigação da
realidade de como a Psicologia Escolar vem se inserindo nas escolas da capital, qual a sua
importância e aceitação.
13
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Concepções em educação
“Entendemos educação como prática social humanizadora, intencional,
cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade. O
homem não nasce humanizado, mas torna-se humano por seu pertencimento ao
mundo histórico-social e pela incorporação desse mundo em si mesmo, processo
este para o qual ocorre a educação. A historicidade e a sociabilidade são
constitutivas do ser humano; a educação é, nesse processo, determinada e
determinante” (Antunes, 2008, p. 469)
Para Doron & Parot (2007, p. 264) “... a educação designa uma experiência, um
desafio, uma aposta: uma experiência intersubjetiva, um desafio moral e político, uma aposta
no jogo entre as ciências humanas”.
“O século XX foi um século dramático, conflituoso, radicalmente
inovador em cada aspecto da vida social: em economia, em política, nos
comportamentos, na cultura. Em meio a estas mudanças estava também a educação”.
Para o mesmo autor, (1999. p 512) a prática educativa voltou-se para um sujeito
humano novo (homem-indivíduo, homem-massa ao mesmo tempo), impôs novos
protagonistas (a criança, a mulher, o deficiente), renovou as instituições formativas
(desde a família até a escola, a fábrica etc.) dando vida a um processo de
socialização dessas práticas (envolvendo o poder público sobretudo) e de
articulação/sofisticação” (Cambi, 1999, p 509)
Não resta dúvida de que foi um século de profundas transformações, com abertura
para os grandes movimentos de massa que se nutriam de princípios ideológicos. A educação
deixa de ser um espaço de elites e se firma para todos. Surge o movimento de “Escolas
Novas” com uma nova concepção da criança. Esta passa a ser vista como um ser ativo e capaz
de livres manifestações. Este movimento propunha liberdade, estimulação da criatividade
sem o exagero das regras e disciplina impostas por um modelo tradicional que atendia aos
interesses dominantes. Bock afirma que,
“enquanto a concepção dominante, na educação ocidental, foi a chamada
Escola Tradicional, não houve necessidade de uma Psicologia para acompanhar a
prática educativa. A Psicologia só se tornou necessária quando o Movimento da
Escola Nova revolucionou a educação e construiu demandas específicas para a
Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem” ( Bock, 2003, p.79).
A psicologia então, passa a ser considerada e solicitada com a função de entender o
desenvolvimento da criança de maneira a oferecer resposta a uma necessidade da escola ou da
14
família. Em parceria com a pedagogia, desenvolveram instrumentos e técnicas capazes de
identificar, entender e ressignificar situações que emergiam na escola.
Para Bock “a escola se manteve vigilante; não no que diz respeito à disciplina, mas
no que diz respeito ao desenvolvimento psicológico da criança. Vigilantes disciplinares
(bedéis) foram trocados por vigilantes do desenvolvimento (Psicólogos e Pedagogos) (2003,
p. 81 e 82).
2.1.1. Psicologia: uma breve visão histórica
2.1.1.1. Concepções em Psicologia
“A evolução da psicologia foi marcada por avatares epistemológicos e
metodológicos, aliás, estreitamente ligados. Se, recorrendo ao método experimental
e à medição, ela tinha rompido com o discurso puramente verbal, alimentado por
observações mais ou menos sistemáticas da psicologia filosófica, a psicologia do
século XIX tinha, no conjunto, permanecido fiel à tradição que, por um lado,
apontava-lhe como objeto, se não a alma, pelo menos o psiquismo, a consciência ou
o espírito, e, por outro, para a coleta de dados empíricos, confiava na introspecção
do sujeito” (Doron e Parot, 2007, p. 628).
Escrever sobre a prática de uma profissão é também fazer história, é rebuscar as teias
da informação, é tecer conhecimentos para não perder a trilha. Nesse contexto se faz
necessário uma breve retrospectiva, e para que se possa situar a psicologia é preciso que se
reporte ao seu surgimento na perspectiva científica, considerando como marco primeiro a
segunda metade do século XIX, mais precisamente em 1879, graças às contribuições de
Wilhelm Wundt com a criação do laboratório de psicologia experimental em Leipzing na
Alemanha, marco que fomentou o desenvolvimento de várias pesquisas. Outros laboratórios
foram fundados espalhando-se imediatamente pela Europa e pelos Estados Unidos, que logo
assumem a frente com a criação de novos espaços de desenvolvimento de estudos de
referência nesta área. Novas questões epistemológicas surgem e vêm fomentar suas próprias
bases conceituais, seus métodos e técnicas.
Como preconiza Patto,
“O grito de independência da psicologia e sua concomitante reivindicação
do status de ciência autônoma estão localizados no tempo e no espaço: a época é a
segunda metade do século XIX e o local é a Europa ou, mais especificamente, as
sociedades industriais capitalistas. Em sua constituição e desenvolvimento, tudo
indica que a psicologia é instrumento de efeito das necessidades, geradas nessa
15
sociedade, de selecionar, orientar, adaptar e racionalizar, visando, em última
instância, a um aumento de produtividade. Nos primórdios da psicologia científica,
tal afirmação parece especialmente verdadeira em duas de suas áreas: a psicologia
do trabalho e a psicologia escolar” (Patto,1984, p. 87)
Da mensuração do elemento fundamental do psiquismo - a sensação através dos recursos instrumentais fornecidos pela psicofísica, a psicologia evoluiu
rapidamente para a mensuração das faculdades mentais, valendo-se para isso dos
testes psicológicos de inteligência, de aptidão e, pouco mais tarde, de personalidade,
aplicados, sobretudo em processos de seleção e orientação escolar e profissional
(Patto, 1984, p. 90)
Ao longo dos seus 128 anos, e principalmente nas últimas décadas, a psicologia vem
ressignificando suas ações, se destacando e conquistando seu espaço, construindo assim uma
identidade teórica – metodológica, nas suas mais diferentes abordagens e áreas de atuação.
Muitos estudos científicos corroboram com as conquistas e a profissão vem redefinindo sua
prática na contemporaneidade com ações mais voltadas para as questões sociais como papel
ideológico.
Na década de 80, o Brasil vive de modo muito forte os movimentos sociais, as lutas
de entidades de classe que se fortalecem com a possibilidade do fim do governo militar e a
expectativa de se viver uma democracia. Os psicólogos como os demais profissionais se unem
por mais espaço de trabalho e principalmente por melhor qualidade no ensino. Momento de
ampla produção científica e preocupação com a teoria e prática.
Essas conquistas como ciência e profissão reforçam uma necessidade constante de
revisão do que constituem seus alicerces conceituais e metodológicos, o que contribuem com
novas perspectivas profissionais de atuação, sem deixar de assinalar que existe sobretudo, um
campo muito fértil e vasto a ser explorado.
2.1.1.2. Grandes nomes em psicologia da educação
É imperioso falar sobre três grandes nomes nos Estados Unidos que desenvolveram
trabalhos com profunda contribuição para a educação, principalmente por serem considerados
como primeiros Psicólogos que entenderam a importância da psicologia na escola no século
XIX, Thorndike, John Dewey e William James. Uma das psicologias aplicadas mais antigas é
a psicologia da educação, William James e Jonh Dewey foram dois grandes iniciadores da
psicologia da educação e adeptos da psicologia na escola.
16
De acordo com Sprinthall, (1993, p 12), William James foi talvez o mais importante
dos psicólogos educacionais americanos, foi ele quem começou no séc. XIX na década de
1890, a dar uma atenção sistemática autônoma à psicologia como disciplina, pois até então
esta fazia parte da filosofia, considerando com seriedade a aplicação da psicologia aos
problemas da realidade em vez de deixá-la apenas em laboratório. Instalou o primeiro
laboratório de psicologia, e antecipou tanto a teoria do condicionamento, mais tarde
demonstrada por Pavlov, como a importância dos estágios críticos de aprendizagem, a
chamada teoria do campo, e os princípios da psicologia da Gestalt. Para a Psicologia
Educacional, James foi tanto um educador como um Filósofo. Buscou adequar a educação às
verdadeiras condições do aluno, e não às condições que o professor supunha que o aluno
deveria estar. Em Harvard, como professor, dedicou muito esforço e dinamismo à melhoria da
qualidade da educação em sala de aula.
Existiam naquela época duas correntes, enquanto James e Dewey percebiam a
necessidade da psicologia como ciência já no seu nascimento dentro da escola, Thorndike
acreditava que a ciência não se fazia na escola, mas sim em laboratório.
John Dewey acreditava que não se podia estudar a aprendizagem sem considerar o
contexto vivido, defendia uma educação onde se pudesse com cuidadosa orientação,
proporcionar às crianças uma experiência conforme seus interesses e capacidades. Em seus
trabalhos, acentuou a ideia de estágios de desenvolvimento, antecipando os trabalhos de
Piaget.
Conforme Fadiman,
“James aplicou princípios psicológicos gerais para problemas específicos
de aprendizagem. Ele via as crianças como organismos com capacidades inatas de
aprendizagem. A tarefa do professor era de estabelecer um clima que encorajasse o
processo natural de aquisição. Ensinar, para James, era primariamente o ensino de
comportamentos, tais como atenção voluntária ou desenvolvimento da vontade, que
são, em si mesmos proveitosos para um ensino mais eficaz” (Fadiman,1979, p. 165).
James acreditava que os estudos em laboratório, principalmente os estudos com
animais, não deveriam trazer grandes contribuições no tocante ao ensino de crianças e assim
lançou mão das observações em sala de aula e da compreensão dos processos de ensino
aprendizagem.
17
Contrapondo o trabalho de James e Dewey, Thorndike acreditava que era perda de
tempo a investigação naturalista em sala de aula. Científico eram as experiências que ele
realizava com gatos em laboratório do que observar crianças em sala de aula.
Para Sprinthall (1993) Thorndike estava concentrado num aspecto da aprendizagem
– aquela que ocorre por tentativa e erro.
2.1.2. Relação Educação e Psicologia no Brasil: algumas considerações
“A psicologia da educação, como disciplina educacional de natureza
aplicada, trata do estudo dos fenômenos e dos processos educacionais com uma
tripla finalidade: contribuir para a elaboração de uma teoria que permita
compreender e explicar melhor tais processos; ajudar na elaboração de
procedimentos, estratégias e modelos de planejamento e intervenção que ajudem a
orientá-los em uma direção determinada e ajudar na instauração de práticas
educacionais mais eficazes, mais satisfatórias e mais enriquecedoras para as pessoas
que participam delas” (Coll, 2004, p. 31)
“Para se compreender as complexas relações entre Psicologia e Educação no Brasil,
faz-se necessário conhecer a longa história de encontros e desencontros entre este campo de
prática e aquela área de saber” (Antunes, 2003, p.139). Conforme esta autora a relação
Psicologia e Educação no Brasil é identificada por diferentes autores desde o período colonial,
apresenta uma dupla via de
influências pois, ao tempo em que as ideias psicológicas
influenciaram nas práticas educativas, a educação a partir das demandas emergentes
influenciou para a consolidação da psicologia como campo do saber e área de atuação.
Nesse contexto, os colégios jesuíticos com o ensino clássico, trouxeram grandes
contribuições para a formação da elite colonial, adotavam um regime de estudo rigoroso e
muito extenso. A escola passa a se preocupar não só com a informação de conhecimentos,
mas também, com a formação moral. Os jesuítas marcaram a influência para a formação
cultural, religiosa, social e política no Brasil. Foram eles, que conforme Massini iniciaram os
estudos relacionados aos fenômenos psicológicos no período colonial. Massini aponta que,
“a presença do catolicismo na cultura brasileira da época colonial é muito
evidente. Destaca-se, entre outras, a contribuição das congregações religiosas, em
particular jesuítas, beneditinos e franciscanos. O interesse pelos assuntos
psicológicos é muito vivo nas obras dos jesuítas do século XVII e XVIII dedicados à
Pedagogia, à catequese e à teologia moral” (Massini,1990, p.13).
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Conforme Antunes,
“dentre os assuntos abordados, encontram-se: aprendizagem;
natureza dos determinantes do desenvolvimento psicológico da criança; influência
dos pais sobre o desenvolvimento dos filhos; desenvolvimento sensorial e motor,
intelectual e emocional; motivação; o papel do jogo no desenvolvimento; controle e
manipulação do comportamento; utilização de prêmios e castigos como
instrumentos de controle do comportamento infantil; processo de formação da
personalidade da criança; educação feminina e educação indígena” (2003, p. 140 e
141).
O Brasil não apresenta inovações na educação nesta época, mas ocorre um fenômeno
novo. As ideias iluministas influenciam a Conjuração Mineira e a Conjuração Baiana. Com o
ciclo da cana-de-açúcar e do ouro, o comércio é ampliado e vem a necessidade de melhor
organização social, culminando com o surgimento de uma pequena burguesia.
Com o fim da Companhia de Jesus, após uma década, o Marques de Pombal é
encarregado da reconstrução do ensino no Brasil, implantando oficialmente o ensino público.
São nomeados professores, estabelecendo planos de estudo e inspeção. O ensino típico dos
jesuítas é modificado e os cursos de humanidades são substituídos por aulas régias de
disciplinas isoladas. Como bem afirma Romanelli,
“... a educação dada pelos Jesuítas, transformada em educação de classe,
com as características que tão bem distinguiam a aristocracia rural brasileira, que
atravessou todo o período colonial e imperial e atingiu o período republicano, sem
ter sofrido, em suas bases, qualquer modificação estrutural, mesmo quando a
demanda social de educação começou a aumentar, atingindo as camadas mais baixas
da população e obrigando a sociedade a ampliar sua oferta escolar” (Romanelli,
2003, p.35).
Romanelli nos afirma ainda que,
“os padres acabaram ministrando, em princípio, educação elementar para
a população índia e branca em geral (salvo as mulheres), educação média para os
homens de classe dominante, parte da qual continuou nos colégios preparando-se
para o ingresso na classe sacerdotal, e a educação superior religiosa só para esta
última. A parte da população escolar que não seguia a carreira eclesiástica
encaminhava-se para a Europa, a fim de continuar os estudos, principalmente na
universidade de Coimbra, de onde deviam voltar os letrados” (Romanelli,2003,
p.35).
Muitas dificuldades são encontradas, entre elas estão: a distância dos colégios, a não
formação de professores, os baixos salários e a centralização das ações no Reino. Aparecem
as escolas de outras congregações religiosas, buscando suprir as lacunas deixadas pelos
jesuítas, entre elas: franciscanos, beneditinos, carmelitas. Com o desenvolvimento do
19
capitalismo industrial, ocorre uma urbanização acelerada e essa nova tendência exige
melhores níveis educacionais para a mão de obra.
No Brasil, vários órgãos são implantados para atender as necessidades vigentes. ”De
um modo geral podemos dizer que no século XIX não há ainda uma política sistemática e
planejada: as mudanças realizadas sempre tenderam a resolver problemas imediatos, nunca
encarando a educação como um todo” (Aranha, 1989, p. 190).
Fernando de Azevedo citado em Aranha (1989, p.191), diz que “a educação teria de
arrastar-se através do século XIX, inorganizada, anárquica, incessantemente desagregada.
Entre o ensino primário e o secundário não há pontes ou articulações: são dois mundos que se
orientam cada um na sua direção”.
Para Teodoro,
“o século XIX, desenvolveu-se uma gramática da escola, que tem
procurado responder ao desafio de ensinar a muitos como se fosse a um só,
transformando a escola num elemento central de homogeneização lingüista e
cultural, de invenção da cidadania nacional e, conseqüentemente, de afirmação do
Estado-Nação” (Teodoro, 2003, p. 143).
Romanelli afirma que,
“as mudanças introduzidas nas relações de produção e, sobretudo, a
concentração cada vez mais ampla de população em centros urbanos tornaram
imperiosa a necessidade de se eliminar o analfabetismo e dar o mínimo de
qualificação para o trabalho a um máximo de pessoas” (Romanelli, 2003, p. 59).
Conforme esta autora a intensificação do capitalismo industrial no Brasil vem
acelerar as demandas por mais leitura e escrita e consequentemente por mão de obra
qualificada para inserção no mercado de trabalho vigente, determinando o surgimento de
novas exigências educacionais.
A escola e a escrita, sem ser necessário estabelecer laços implicativos
absolutos, representam duas invenções humanas que procedem de condições
similares. Ao consagrar a superioridade da escrita sobre a cultura oral, do trabalho
intelectual sobre o trabalho manual, do espírito sobre a mão, o sistema escolar
obteve uma das suas mais significativas vitórias, tornando-se um dos lugares
centrais na construção da modernidade (Teodoro, 2003, p.45).
Observamos que no Brasil há um grande distanciamento entre as leis e a prática da
educação. As leis da escolarização obrigatória são antigas, mas o seu cumprimento é recente,
20
em especial a partir dos anos noventa e com isso vem a universalização da escola. Todos e em
diferentes localidades passam a ter acesso à escola algo visto antes como exclusividade de
poucos. Apontamos também uma preocupação com a qualidade do ensino e principalmente
com a capacitação de professores, antes detentores do saber e atualmente mais flexíveis e
preocupados com o aluno como ser de identidade, de relações.
É inegável dizer que a educação no Brasil ainda reproduz um caráter conservador, no
entanto, com a expansão dos espaços para a educação formal, algumas mudanças foram
ocorrendo, principalmente no que se refere ao acesso à escola e aos interesses de alguns
professores em estar se capacitando para melhor desempenhar seu papel de educador.
Ressaltamos ainda, mais empenho por parte dos órgãos governamentais no que se refere a
destinação de verbas e regulamentação do ensino, enfim vislumbramos ganhos.
Enquanto a educação conquistava espaço no Brasil, os trabalhos sobre uma nova
ciência (a psicologia) se expandiam no país, mais precisamente no Estado de Pernambuco,
Ulisses Pernambucano desbravava e fincava práticas sociais da educação e da saúde,
contribuindo para os primeiros passos da psicologia. Segundo Medeiros (2001, p.67),
“médico por formação, psiquiatra por profissão, professor por vocação e psicólogo por opção,
o Dr. Ulisses foi singularmente múltiplo, pioneiramente inovador, tenaz e competente
construtor da ciência psicológica”.
Encontramos, no Estado de Pernambuco, marcas do florescer da psicologia. “Na
metade do século XIX quando trabalhos dissertativos, literários de autoria de filósofos,
juristas e jornalistas, abordam temas de psicologia voltados para a motricidade, psicologia
feminina, filosofia do inconsciente, mais precisamente em 1918” (Medeiros, 2001, p. 69).
Nessa época foi criada em Recife, a cadeira de “psicologia e pedagogia” assumida por Ulisses
Pernambucano de Melo Sobrinho, na Escola Normal Oficial do Estado de Pernambuco. Com
esse fato, fica então marcado, em 1918, o início da psicologia em Recife. Verificamos que
foram grandes as suas contribuições também para a Psicologia Educacional. Quando, ao
assumir a direção da Escola Normal de Pernambuco, o referido psicólogo faz inovações desde
o processo de seleção para ingresso nesta escola até a inserção da merenda escolar,
demonstrando com isso, sua preocupação com uma melhor qualidade de ensino e
21
aprendizagem e, consequentemente, um cuidado com alunos de situação menos favorecidas.
Naquela época só pessoas “apadrinhadas” tinham acesso à escola.
Afirma Medeiros (2001, p.72) que “na verdade sua direção na Escola Normal
representou um campo fértil para o desenvolvimento de suas ações. Dessa fertilidade
brotaram duas instituições – Escola de Excepcionais e o Instituto de Psicologia. (O primeiro
do Brasil)”.
Enquanto isso, em 1922 no Ceará, Manuel Bergström Lourenço Filho, um dos
grandes educadores, conhecido sobretudo por sua participação no movimento da Escola Nova,
aceita o convite do governo cearense para ser Diretor da Instrução Pública, leciona na Escola
Normal de Fortaleza e implanta no Ceará reformas pedagógicas que repercutem em todo o
país.
Para Antunes, (1999, p. 72), “não por acaso, Lourenço Filho pode também ser
considerado um dos primeiros psicólogos brasileiros e um dos mais importantes protagonistas
do processo que levou ao estabelecimento definitivo da Psicologia científica e da profissão do
psicólogo no Brasil”.
As escolas normais abriram também espaço para o desenvolvimento de pesquisas
para a psicologia, podemos citar aqui o livro Manual de Trabalhos Práticos de Psicologia
Educacional de 19661, o referido manual traz esboços e orientações para os alunos de como
estes desenvolveriam pesquisas científicas e um guia para o professor de modo que pudessem
orientar os futuros professores primários na realização dos trabalhos em psicologia.
2.1.3. O que é psicologia escolar
Com sua marca fincada na psicometria, a Psicologia Escolar teve como base uma
atuação a princípio remediativa, vinculada ao modelo médico, trazendo consigo soluções
mágicas e imediatistas sob o olhar dos outros. Sua relação com a educação é muito próxima e
seu desenvolvimento se dá como psicologia aplicada à educação, principalmente para
1
Manual de Trabalhos Práticos de Psicologia Educacional. Atualidades pedagógicas, volume 87. Companhia editora
nacional. São Paulo 1966.
22
diagnosticar e classificar crianças com dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Nos dias
atuais o psicólogo vem pautando suas ações em uma perspectiva de apoio à inclusão e não
exclusão da criança e do adolescente aos processos educativos, acreditando ser o espaço da
educação formal um lugar onde permeiam as relações sociais, a convivência e o respeito às
diferenças.
Meira afirma que,
“a finalidade da Psicologia Escolar situa-se no compromisso claro com a
tarefa de construção de um processo educacional qualitativamente superior.
Portanto, sua função social não poderia ser outra: contribuir para que a escola
cumpra de fato seu papel de socialização do saber e de formação crítica” (Meira,
2003, p. 57).
A sociedade contemporânea tem a marca crescente dos avanços midiáticos e
tecnológicos, o que tem provocado diversas mudanças no mundo da educação e nas relações
sociais e do trabalho. A psicologia escolar busca novas forças e espaços para se firmar. O
desafio está em buscar estratégias por meio das quais seja possível compor as forças de modo
a produzir relações que privilegiem a vida e o desejo, ou seja, maneiras de aproximar vida,
relações e vínculo com a profissão. É assim que nesse contexto de modernidade esta área de
atuação da Psicologia vem marcando seu espaço e ressignificando sua prática de modo
ampliar um leque de possibilidade de intervenções no contexto escolar.
23
2.2. Educação e Psicologia no Piauí
2.2.1. Visão panorâmica do perfil do povo piauiense
Conforme aponta o relatório de resquisa Piauienses: perfil, valores e aspirações,
coordenado por Gerson Portela Lima, Técnico Sênior da Fundação CEPRO, o povo piauiense
traz em seu perfil características de trabalhador, solidário, otimista, corajoso, honesto,
orgulhoso do seu Estado, informado, liberal... e acomodado.
Diante dessa visão romântica para alguns, e principalmente para aqueles que como
diz a letra do hino nacional permanecem “deitado eternamente em berço esplendido”; na
verdade o Piauí, mesmo com tantos admiradores, traz em suas entranhas um legado histórico
de dificuldades, mantém-se o rótulo de um dos estados menos favorecido da federação,
entretanto, este é um lugar de pessoas diversas, que de trabalhadores a acomodados se
orgulham do seu estado e a cada dia acreditam nas suas potencialidades e principalmente nas
potencialidades educativas.
Não se pode negar que o Estado do Piauí vem dando sinais de desenvolvimento,
sobretudo no que se relaciona a educação. A Fundação CEPRO traz dados que nos mostra
esta realidade, ainda muito caótica mas com sinais de evolução. A taxa de analfabetismo
reflete a proporção de indivíduos que não sabem ler nem escrever sobre a população de 15
anos ou mais. No caso do Estado do Piauí, essa proporção vem caindo, sobretudo ao longo
dos três últimos anos. No ano de 2003, registrou-se o maior percentual chegando a 38% e em
2007 a taxa verificada ficou em 23%.
Taxa de Analfabetismo do Piauí - 2002-2007
2002
2003
2004
2005
2006
2007
25,59
28,40
27,31
27,37
26,25
23,41
Fonte: PNAD/Fundação Cepro.
É visível a imensa necessidade de maiores investimentos em políticas educacionais
voltadas para um povo repleto de demandas e carente de saberes, sobretudo não só da fome do
24
alimento, mas da fome da educação formal que assola e amplia a desigualdade de direitos,
mesmo que estes sejam tão garantidos e explícitos nas leis deste país. É nesse contexto e em
meio a todas essas características que se encontram muitas crianças e adolescentes em
situação de risco social e pessoal, criança que pela ausência do bem cuidar, quando lhe é
negado o direito de estudar; de se alimentar; e de ter lazer, terminam se envolvendo ou sendo
levadas, (e muitas vezes pelos próprios pais) às práticas de prostituição, trabalho infantil ou
uso de droga, que consequentemente se distanciam dos espaços educativos. Podemos aludir a
necessidade de maior política educacional e social no cuidado às crianças e adolescentes, ou
seja; cumprir o que já existe na constituição.
2.2.2. As distorções legislação / educação
Como afirma o poeta Juvenal Galeno – grande ícone da poesia no Brasil, autor de
lendas e canções populares, nascido no Ceará em 1836, em Araújo (2005, p. 121):
Se as nossas leis não vigoram,
Se a morte todos deploram
De nossa constituição?...
Então, então
Eu não quero tal governo,
Já mudei de opinião!
Nenhum govêrno me serve,
Tenha o nome que tiver,
Se entre o povo com desvêlo,
Educação não houver;
Se imperar o patronato;
Se a corrupção se exercer;
Se não houver liberdade,
E também moralidade;
Nas figuras do poder!...
A educação de um povo é fator primeiro, a ilustração anterior nos reporta a
necessidade de maior aplicabilidade dos recursos financeiros ditos legalmente na Constituição
Federal. Esta, no seu Art.205 nos diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho”. Não obstante o que observamos é que para alguns gestores deste país, a educação
ainda não é prioridade.
25
Para (Teodoro 2003, p. 139,) “o Brasil é mais do que um país. É uma imensa região
marcada por profundas assimetrias e desigualdades econômicas e sociais, regionais e étnicas,
com um considerável histórico atraso na construção da escola para todos”.
Em se tratando da política educacional brasileira, o autor se reporta ainda ao grande
desafio desta, que na sua opinião deve estar focada no papel concientizador democrático, face
a multiculturalidade. Neste sentido contribui (Barroso, 2001, p.203) “nunca tantos deixaram
de acreditar na escola, nunca tantos a desejaram e a procuraram, nunca tantos a criticaram e
nunca tantos tiveram tantas dúvidas sobre o sentido da sua mudança”.
2.2.3. Rebuscando a história: o viés da educação à psicologia
Não nos interessa aqui falar do tempo presente da Psicologia no Piauí sem antes nos
reportarmos, mesmo que com sutileza, à história da educação neste estado, afinal a Psicologia
nas suas raízes está atrelada à educação. Conforme Brito (1996) ao analisar a educação
piauiense, esta se divide em quatro fases básicas:
1.
Implantação (1733-1845);
2.
estruturação (1845-1910);
3.
consolidação (1910-1961);
4.
sistematização (1961 aos dias atuais).
O Piauí é um Estado que, diferentemente de outros estados da região nordeste, foi
colonizado do interior para o litoral, este fato somado a insuficiência de recursos financeiros
foi durante muito tempo um dificultador com relação aos recursos humanos para as ações
educativas. Essa situação somada ao isolamento em que se encontrava traz consequências
para o desenvolvimento cultural e educacional do estado.
Da fase de implantação à fase de consolidação, foram várias as tentativas de criação
de escolas no Piauí sem que no entanto, estas obtivessem sucesso e consistência. Mesmo
sendo este estado, naquela época, um grande produtor de gado, onde as tentativas de criação
de escolas não vingavam. Para cuidar do gado na época, não demandava mão de obra com
26
formação para manejo, mas para escolarização do povo, requeria mão de obra especializada e
isso não havia no Piauí.
Na tentativa de investir e mudar esse estado de alheiamento, eram frequentes os
apelos feitos por pessoas que demonstravam interesse pela educação dos filhos da terra que,
até então se encontravam renegados ao descaso pela instrução. Para Brito, o apelo feito pela
Junta do Governo em 1797 não foi atendido, sendo renovado pelo Governo da Capitania, em
1805, com estas palavras:
“... sendo o Piauí habitado por bem estabelecidos fazendeiros e lavradores, vive
quase todo sepultado em total ignorância”.
E mais adiante:
“... não tem a mocidade quem a estimule: fogem os pais de família das pesadas
despesas a quem se veriam obrigados se mandassem seus filhos para outras capitanias” (1996,
p.16).
Com isso identificamos as dificuldades enfrentadas naquela época para se conseguir
acesso à educação formal. É notório também as várias tentativas de criação de
estabelecimentos de escolas no estado sem que tivessem sustentação principalmente pela falta
de professores. Enfim existia a vontade, mas as dificuldades eram maiores.
Ao final da chamada Fase Estrutural, mais precisamente em 10 de Janeiro de 1904 é
criado o Colégio Correntino Piauiense. Alguns autores como: (Barros, 2005a), (Brito, 1996 b)
e (Ferro, 1996) destacam como sendo o primeiro colégio confessional que se instalou no
Piauí, mais tarde denominado Colégio Benjamim Nogueira2, Instituto Batista Industrial,
Instituto Batista de Corrente e, atualmente Instituto Batista Correntino. Foi neste período
também instituído primeiro Jardim de Infância sob a orientação da professora norte americana
Miss Juliett Barlow.
Com caráter inovador, a criação dessa escola é uma grande iniciativa, mesmo sendo
imbuída pelo desejo instrucional e evangelizador, o município antecedia no Piauí o
2
Nome do seu fundador que passa a ser adotado após sua morte. Jesualdo Cavalcanti Barros, obra citada, p. 184.
27
movimento da escola nova com valorização da infância, sobretudo pelo apoio financeiro,
influência e colaboração de norte americanos vinculados à Missão Batista. Daí, e por um bom
tempo, Corrente se destaca pela iniciativa em educação de seu povo, sendo naquela época
ponto de apoio pela busca do conhecimento para vários jovens piauienses e de estados
vizinhos. Destaque que se deu também pela presença da Missão Mercedária vinculada à Igreja
Católica, com padres vindos da Espanha, que trouxeram grandes contributos para a educação
do povo daquela região e arredores.
Na capital Teresina, é instalado em 1906 o Colégio Diocesano como 1ª Escola
Confessional Católica, com exclusividade para atender uma demanda educacional e formação
de cléricos para os rapazes da época. Posteriormente foi fundado o Colégio Sagrado Coração
de Jesus exclusivo para formação feminina. Para Brito,
“em 1910 delineia-se a estrutura do ensino oficial, com uma rede de
escolas primárias ainda modestas, mas já definitivamente instaladas; com o ensino
normal, embora insipiente, mas em funcionamento; com o ensino secundário
estruturado; e com o ensino profissional em pleno desenvolvimento, ainda que
restrito a um único estabelecimento mantido pelo poder central” (Brito, 1996, p.44).
“Iniciada a Fase de Consolidação da Educação (1910 a 1961) é instituído
o regulamento da instrução pública no estado, e com isso são criadas as Escolas
Normais, tendo, dentre outros, como grande incentivador o governador Antonino
Freire. De acordo com o decreto nº 771, de novembro de 1921, com alterações do
Regulamento Geral de Ensino, a lei de nº 1027, de 03 de julho de 1922, estabelece
um novo currículo para a escola normal e nesse currículo” (Brito, 1996, p. 60).
A disciplina de Pedagogia (psicologia) nas Escolas Normais aparece no terceiro ano
do curso. Não está posto o motivo de Psicologia vir entre parênteses, no referido currículo, no
entanto acreditamos que através da disciplina pedagogia se inseriam alguns conceitos básicos
de psicologia de modo a colaborar com a nova proposta de educação que surgia, sobretudo
pela contribuição desta ciência às práticas humanistas em educação naquele período.
A disciplina Psicologia e Pedagogia, surge mais uma vez na estrutura curricular do
curso de regentes de ensino regulamentado pelo (dec. Lei Estadual nº 1.402 de 27/01/1947),
bem como na estrutura curricular do curso de formação de professores primários, agora já
com o nome de Psicologia Educacional (Brito, 1996).
Se existia então nos ideais da educação piauiense a intenção de formar e capacitar
seus professores, a disciplina então era bem vinda de modo a contribuir para uma
28
compreensão dos processos educativos e, consequentemente, da dimensão do aluno como
sujeito da ação.
É fato, como preconiza (Barroso, 2005, p. 185) que a educação havia de tomar novos
rumos. “A escola tornava-se cada vez mais indispensável, devendo estender-se às várias
camadas da sociedade. Buscava-se substituir o ensino tradicional por várias propostas de
educação, com a finalidade de alcançar principalmente as gerações mais novas”.
O Estado precisava se inserir no contexto nacional que caminhava a passos lentos e
muitos eram os apelos por melhorias. Para (Lopes, 2005, p. 72), as “estradas e escolas eram
apontadas como soluções para o desenvolvimento do estado Piauí; comunicação e instrução
para vencer o isolamento do sertanejo...”.
No interior do estado, por onde o Piauí começou a ser desbravado3, na busca do
encontro com a psicologia, identificamos registro no então Instituto Batista Correntino, uma
grade curricular da Escola Normal, que em 1962, contemplava as seguintes disciplinas:
3
1.
jogos e recreação;
2.
português;
3.
matemática;
4.
física, química;
5.
anatomia e fisiologia humana;
6.
biologia educacional;
7.
Psicologia Educacional;
8.
higiene e educação sanitária;
9.
metodologia do ensino primário;
10.
sociologia da educação;
11.
história e filosofia da educação;
12.
higiene e puericultura;
13.
prática de ensino;
14.
desenho e artes aplicadas;
15.
canto orfeônico.
Jesualdo Cavalcanti Barros, obra citada, (p. 31- 41).
29
Observamos que a disciplina de Psicologia Educacional foi introduzida no referido
currículo só em 1963, ano seguinte de sua criação.
Por outro lado, a era universitária se consolida nas décadas de 70 e 80, com a criação
das Fundação Universidade Federal do Piauí (FUFPI)4 e posteriormente Fundação de Apoio
ao Desenvolvimento da Educação do Estado do Piauí – (FADEP)5. Não resta dúvida das
contribuições que ambas trouxeram para melhorar o índice educacional, formando professores
que colaboraram para amenizar o isolamento e o analfabetismo no Piauí.
2.2.4. Trilhas da profissão no Piauí
2.2.4.1. O Psicólogo Escolar no interior do estado
Ao final da década de 1980, o Instituto Batista Correntino, contrata a primeira
Psicóloga Escolar do estado, Sílvia Moraes Paranaguá, em 1º de agosto de 1986, que passa a
desenvolver um trabalho junto ao S.O.E (Serviço de Orientação Educacional) fazendo
acompanhamento às famílias, professores e alunos
que
apresentavam dificuldades de
aprendizagem e de comportamento. A referida psicóloga veio a ser substituída
posteriormente, em 1989, pela psicóloga Delite Conceição Rocha Barros.
As ações de apoio, cuidado e aconselhamento ao aluno para uma melhor
aprendizagem eram a priori desenvolvidas por Padres, Freiras, pelo Professor e pelo
Orientador Educacional.
2.2.4.2. O Psicólogo em Teresina
Além do vínculo com a educação, como disciplina nas escolas normais e com a
criação de escolas de educação especial, mais precisamente a APAE e a Pestalozzi, ao final
dos anos 1980, no Piauí não foi diferente de outras regiões; a psicologia surgiu também
vinculada à psiquiatria. Conforme Lemos (2005, p. 140), “o primeiro serviço voltado para a
4
5
Fonte: Universidade Federal do Piauí
Fonte: Universidade Estadual do Piauí.
30
saúde mental no Estado do Piauí foi o Asilo de Alienados de Teresina, hospital psiquiátrico
criado em 1907, pelo vice-governador e médico de profissão, Areolino de Abreu”.
Em Teresina alguns psicólogos se reúnem, conforme ata do dia 30 de março de 1993
do Conselho Regional de Psicologia (CRP 11ª), para discutir a representação provisória da
categoria, cujo objetivo principal era a organização administrativa e funcional da profissão no
Estado6 (Anexo VII). Esta representação vem ser regulamentada em 09 de abril de 1999,
conforme resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) de nº 014/98 de 20 de
dezembro de 1998, que institui e regulamenta a criação de Seções no âmbito dos Conselhos
Regionais de Psicologia. De posse dessa resolução, a representação do Conselho Regional de
Psicologia (CRP 11ª) no Estado do Ceará institui a criação das seções Piauí e Maranhão com
o objetivo de promover a democratização administrativa da entidade.
Enquanto a categoria vem se firmando, vão surgindo novas possibilidades de atuação
além da área clínica. A área de Psicologia Escolar ocupa um pequeno espaço mesmo que de
forma lenta, principalmente em escolas particulares e em instituições de atendimento a
pessoas com necessidades especiais.
Essa situação no Piauí, acreditamos possa ter relação com o estado “embrionário” em
que a profissão ainda se encontra e com o pouco espaço de atuação deste profissional na
região. Só muito recentemente é que foram criados cursos de psicologia, a priori na capital e
posteriormente em algumas cidades do interior. Entre eles estão o curso de psicologia da
Universidade Estadual do Piauí (UESPI) / Faculdade de Ciências Médicas (FACIME) em
1998, seguida da Faculdade Santo Agostinho (FSA) no mesmo ano; Faculdade Integral
Diferencial (FACID) em 2001 e em 2006 pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), no
município de Parnaíba no norte do estado.
Aos poucos a profissão vem se configurando e assume seu papel de forma gradativa,
reforçada pelo surgimento destes cursos de psicologia na capital e no interior. Através destas
IES (Instituições de Ensino Superior), concluem por semestre uma média de 140 (cento e
quarenta) profissionais de Psicologia.
6
Representação do Conselho Regional de Psicologia, seção Piauí.
31
De desbravadores a vaqueiros, de escolas a universidades, de professores a
psicólogos, aos poucos o Psicólogo Escolar se insere em Teresina, quer seja para cuidar da
saúde mental e do emocional, da aprendizagem ou das relações sociais e educativas no
cotidiano das escolas.
Merecem destaque os 9427 (novecentos e quarenta e dois) profissionais inscritos no
Conselho Regional de Psicologia – secção Piauí, como um número ainda insuficiente para
atender cerca de 3.006.8858 (três milhões, seis mil, oitocentos e oitenta e cinco) habitantes do
Estado, destes 779.939 no município de Teresina; dados que justificam a significativa
demanda por assistência psicológica, tanto na capital, como no interior.
Ressaltamos portanto, três marcos na história da Psicologia no Piauí: no primeiro
momento, como disciplina nos currículos das escolas normais e posteriormente nas grades de
cursos afins, nas universidades, no segundo momento, a inserção do PE em escolas
particulares, e em um terceiro momento com o surgimento dos cursos de graduação em
psicologia.
Esse espaço que aos poucos vem sendo conquistado tem suas arestas e dificuldades,
pois a psicologia no Estado, em qualquer das suas áreas de atuação, ainda é vista por algumas
pessoas como uma profissão vinculada apenas aos transtornos mentais, ou seja, uma profissão
voltada apenas para um eixo de ação; o eixo clínico. Não é raro ouvir expressões do tipo “não
sou louco para precisar do psicólogo”. Acreditamos que este fato esteja relacionado com o
distanciamento deste profissional com a comunidade.
2.2.4.3. O Psicólogo Escolar em Teresina
Um pouco de Teresina
Teresina é uma cidade de encantos mil, cantada e do “Cabeça de Cuia” encantada,
amada por quem se delicia dos seus veios. Acolhedora e acolhida por rios que inspira poetas,
7
8
Conselho Regional de Psicologia 11ª Região.
IBGE.
32
repentistas, escritores, educadores filhos do seu sangue, inebriados por lendas, sol e sabores.
Cidade menina/mulher, cidade luz, verde, calor. Cidade de Torquato, Dobal, Marcílio, Cineas,
Assis Brasil e tantos outros profissionais do saber, que aqui chegaram e se fixaram. Com seu
“jeito de menina”, apresenta-se com sede de desenvolvimento em educação. Esta cidade
também demonstra receptividade à aplicação e ao estudo da psicologia como ciência, hoje
abre seus braços para esta profissão que se insere com sutileza nas práticas do cuidado ao ser
humano.
A presença do Psicólogo Escolar em Teresina só vem acontecer no período de
1994/2005 quando é contratada para trabalhar no Instituto Dom Barreto (IDB) a psicóloga
Maria Creusa Machado de Sousa Mendes; seguida em 1995/1997 pelo psicólogo José de
Arimatéia Moita; e em 1998 até os dias atuais, pela psicóloga Delite Conceição Rocha Barros
Lemos.
Atualmente, (dados colhidos no ano de 2009) são totalizadas 23 (vinte e três) escolas
que contrataram o Psicólogo Escolar no município, sendo 19 (dezenove) particulares, 01(uma)
federal, 02 (duas) escolas populares 01 (um) centro de profissionalização estadual que atende
a pessoas com necessidades especiais. Relacionamos, a seguir, estas escolas por entender que
as mesmas começam a perceber a possibilidade de uma equipe interdisciplinar para os
cuidados educativos ou imagina-se reconheçam a importância do PE para a escola:
CIPAC, (Centro Integrado de Profissionalização Ana Cordeiro)
CPI (Curso de Português e Inglês);
Colégio Castelinho;
CSCJ (Colégio Sagrado Coração de Jesus);
Colégio São Judas Tadeu;
Colégio Teresina;
IFET (Instituto Federal de Educação e Tecnologia);
Cidadão Cidadã;
Colégio Liberdade;
Diocesano;
ESMG (Escola Santa Maria Gorete);
Escola Popular Madre Maria Vilac
33
Escola Santa Angélica
Escola Santo Afonso
Escola São José
Escola Viva;
IDB (Instituto Dom Barreto);
ISA (Instituto Santo Agostinho);
LEROTE;
Madre Deus;
PROCAMPUS;
SAPIENS;
Colégio Lettera Sistema Anglo de Ensino
2.2.4.4. O Psicólogo Escolar no Instituto Dom Barreto
Em setembro de 1997, é criado no IDB, o AESC (Apoio Escolar Especializado Santa
Clara), espaço considerado de referência para o serviço de Psicologia na escola, com objetivo
voltado para o estudo da natureza da aprendizagem humana e seus processos. Aprendizagem
concebida como capacidade de processar, armazenar e usar a informação a ponto de estruturar
em condições de intervenção e investigação aplicada, para daí se obterem dados que
expliquem as mudanças, o progresso, a compreensão e fundamentalmente a prevenção e a
intervenção no campo das relações inerentes as redes sociais, dificuldades e distúrbios de
aprendizagem.
Naquele momento, o grupo de trabalho era composto por uma psicóloga e duas
psicopedagogas, que realizavam os seguintes atendimentos:
•
Avaliação e intervenção psicológica e psicopedagógica;
•
ludoterapia;
•
terapia psicológica;
•
orientação escolar / disciplinar;
•
acompanhamento com orientação aos pais.
Em tempos atuais, as ações do PE no IDB são plurais e apresentam eixos múltiplos, a
saber:
34
•
Presença constante no cotidiano seja através de profissionais ou de
estagiários que se envolvem diretamente com o fazer da escola;
•
Intervenções pontuais individuais ou em grupo com alunos;
•
Avaliação, diagnóstico, intervenção e encaminhamento de alunos;
•
Grupo de convivência com alunos (periodicidade semanal) e Grupo de
convivência com família (periodicidade mensal);
•
Seleção e capacitação continuada de funcionários e professores;
•
Orientação vocacional/profissional;
•
Acompanhamento e supervisão de estagiários de psicologia;
•
Desenvolvimento de pesquisas;
•
Ações preventivas permanentemente no cotidiano do aluno.
Em função da ampla demanda de ações desenvolvidas por este profissional na escola,
uma necessidade constante de formação continuada como possibilidade de desenvolvimento
de habilidades e competências de modo a oportunizar uma mobilização para compreensão das
diferentes demandas e, acima de tudo, evidenciar a necessidade de um profissional reflexivo,
atento às suas práticas e suas possibilidade de interlocução com a equipe escolar.
A estrutura física e humana do AESC foi ampliada e conta hoje no seu quadro de
pessoal com 08 (oito) psicólogas e 02 (dois) psicólogos e uma estagiária que colabora com as
ações desenvolvidas pelo serviço de psicologia. O espaço conta com quatro salas para escuta
individualizada à comunidade escolar e uma sala chamada sala de vivências para as ações
desenvolvidas em grupo. Os psicólogos se revezam em diferentes turnos e adotam uma
prática de ação sistêmica de forma itinerante.
Verificamos que o serviço de Psicologia Escolar atua em duas frentes: a primeira, no
cotidiano da escola de forma preventiva e pontual, onde, em contato direto com os sujeitos,
procura através da relação dialógica e do estímulo ao desenvolvimento de habilidades sociais,
encontrar solução para as situações apontadas como dificultadoras para o bom andamento de
ações que venham promover melhor aprendizado;
a segunda, de forma interventiva,
individual ou grupo de modo a aprimorar relações e colaborar no processo de ampliação da
consciência crítica do aluno quanto aos aspectos inerentes ao compromisso, responsabilidade
com os estudos e com a aprendizagem.
35
Outro aspecto relevante a busca por uma interação satisfatória entre os contextos de
desenvolvimento humano, representados pela família e pela escola, ocupa, segundo Dessen &
Polônia (2007), lugar central nas discussões empreendidas no âmbito da Psicologia Escolar,
especialmente por proporcionarem constantes desafios à prática do profissional que atua nessa
área da Psicologia. Desse modo, o serviço de Psicologia do Instituto Dom Barreto desenvolve
também ações junto à família de alunos dos três níveis de escolarização, a partir de grupos de
convivência com pais, mães ou seus responsáveis.
A atuação dos psicólogos escolares no referido grupo acima vem ocorrendo há mais
de 10 anos, época em que foi criado. Este conta com um encontro mensal por meio da adesão
voluntária dos participantes. As temáticas trabalhadas são propostas pelos pais/responsáveis e
pelas demandas do cotidiano escolar, tendo em vista que o grupo em destaque tem como
objetivo exercitar o autoconhecimento, bem como oportunizar o fortalecimento da relação
pais/filhos e escola.
É imperioso ressaltar que práticas assim desenvolvidas, contribuem para a solução de
problemas do cotidiano escolar, pois agregam as instituições família e escola, o grupo de
convivência de pais, aproxima a escola das distintas realidades e perfis familiares, assim como
enseja às famílias uma participação ativa e próxima das caracterizações do cotidiano escolar.
Em suma, configura-se como uma iniciativa de educar em conjunto, família e escola, sem
para isso estabelecer hierarquias, mas complementaridades de ações9.
2.2.4.5. O Psicólogo Escolar na rede pública do estado
De acordo com Novaes (1980, p.27), o Psicólogo Escolar desempenha papel
importante no processo educativo, uma vez que pode contribuir de modo efetivo para a
melhoria das condições que favorecem a educação dos indivíduos.
No Estado do Piauí não existe uma regulamentação oficial para contratação do
psicólogo para as escolas. Compreendemos que o profissional de Psicologia Escolar, devido à
importância da sua atuação para os processos educativos, deve estar no cotidiano da escola.
9
Informações Banco de Dados AESC/IDB.
36
No entanto, as escolas públicas municipais e estaduais, através das Secretarias de Educação
vêm dando sinais de inserção deste profissional, embora esses interesses ainda estejam
distantes do espaço físico da escola, ou seja, estes profissionais não pertencem ao quadro
permanente da instituição.
Para a rede pública de educação o PE apresenta-se apenas como um avaliador e
encaminhador do educando, ou seja, um diagnosticador dos distúrbios e dificuldades de
aprendizagem. Durante quase 20 anos foram assim as ações desenvolvidas pelo grupo de
Supervisão de Avaliação e Acompanhamento das Necessidades Especiais (SAANE), hoje
com outra nomenclatura, bem como e com a metade do tempo (10 anos), o Serviço de
Avaliação e Acompanhamento Técnico (SAAT). Estes serviços foram criados pelo Estado do
Piauí e pelo município de Teresina, onde se faz presente uma equipe multidisciplinar de
profissionais de psicologia, psicopedagogia, assistência social e fonoaudiologia. Ressaltamos
que o referido serviço, existe com o propósito de trabalhar a inclusão ou exclusão na rede
oficial de ensino, não estando assim inseridos no cotidiano das escolas.
Ao refletirmos em torno das informações citadas, não resta dúvida que o Psicólogo
Escolar no Estado do Piauí ainda precisa repensar sua prática, conquistar e ocupar o seu lugar
na instituição escola enquanto profissional crítico, consciente do seu papel social e das
necessidades e demandas da sua prática na educação. Haja vista que este como parte do
processo de ensino aprendizagem deve estar envolvido com questões de natureza educativa,
compreendendo e contribuindo para uma realidade político-sócio-cultural e educacional no
estado, com mais dignidade.
Para Netto, (2001, p. 22) “a expansão do ensino público nas cidades e a
crescente ocorrência de problemas ligados aos menores ( abandono, negligência,
delinquência e outros) originaram a procura de profissionais preparados para
fornecer ajuda às escolas e aos outros órgãos jurídico-legais em relação a problemas
de avaliação e à compreensão das dificuldades existentes e suas possíveis causas, e
capazes igualmente de propor e implementar soluções.”
Vale ressaltar que a legislação que regulamenta a educação brasileira, a mais recente
LDB, lei nº 9394/96 no seu artigo 71 ainda não inclui o profissional de psicologia na escola,
este é citado como programa suplementar e outras formas de assistência social. Como afirma
Del Prette (2007, p. 11), “um dos resultados práticos desse artigo 71 é a formalização da
37
impossibilidade de se conceber a inserção do psicólogo no quadro funcional da escola,
restringindo o leque de alternativas de profissionalização nessa área”.
“No entanto, uma análise mais realística dessa limitação mostra que não
altera, substancialmente, as condições em que, há muito, vem atuando o psicólogo
que trabalha com questões educacionais no Brasil. De um lado têm-se os docentes
pesquisadores das universidades que priorizam a produção de conhecimento nessa
área, eventualmente associando-a a experiências práticas de intervenção
educacional; de outro têm-se os profissionais liberais graduados em psicologia, que
exercem atividades profissionais em contextos educativos, geralmente sem maior
preocupação de produzir conhecimento sobre suas intervenções ou de divulgar suas
experiências alocadas, geralmente em escolas particulares, com raras exceções em
escolas públicas” (Netto, 2002, p. 11 ).
Não obstante, verificamos que os espaços que vêm sendo conquistados são frutos da
organização da categoria profissional e dos estudos científicos desenvolvidos frequentemente
pelos psicólogos escolares em suas diferentes práticas ao longo do tempo. Outro aspecto que
merece destaque, é que a inserção proprimente dita do Psicólogo Escolar nas instituições de
ensino público, ocorre de forma compatível com as indicações estabelecidas pela LDB,
considerando-o um profissional suplementar, e não como indispensável ao fazer pedagógico.
38
2.3. O que se espera e o que faz o psicólogo na escola
2.3.1. Quem é o Psicólogo Escolar/Educacional
Conforme resolução nº 14 do Conselho Federal de Psicologia, em 20 de dezembro de
2000, foi instituído o título de especialista ao psicólogo, contemplando as seguintes áreas:
psicologia escolar/educacional, psicologia organizacional/trabalho, psicologia clínica,
psicologia hospitalar, psicopedagogia, psicomotricista, psicologia do trânsito, psicologia
jurídica, psicologia do esporte, psicologia social e neuropsicologia10.
“Um psicólogo é considerado “Psicólogo Escolar” quando, na sua formação, realizou
estágios práticos na área e complementou seu currículo com disciplinas optativas relacionadas
à área de atuação, ou ainda, quando prosseguiu seus estudos de Especialização, no Mestrado
ou Doutoramento nesta área” (Guzzo, 1993, p.44).
Segundo Torezan,
“...é preciso que o psicólogo obtenha maior grau de conhecimento sobre
políticas educacionais reinantes em diferentes momentos históricos e políticos do
país. Em suma, é fundamental politizar o psicólogo, caso se pretenda que ele venha
a se envolver com questões educacionais, dado que tais só podem ser compreendidas
frente à conjuntura político-social do país” ( Torezan, 2007, p. 35)
Para a Associação Brasileira de Psicologia Escolar / Educacional (ABRAPEE:
http.www.abrapee.psc.br) o Psicólogo Escolar é aquele em que sua atuação se caracteriza pela
intervenção na prática, enquanto que a dos psicólogos educacionais, geralmente se direciona
para as áreas de ensino e pesquisa.
A psicologia hoje é uma profissão que se insere em diversos campos de atuação,
sendo a Psicologia Escolar uma das áreas que mais absorvem profissionais, ocupando o
terceiro lugar com (24,4%), de acordo com pesquisa do Conselho Federal de Psicologia
realizada em 1992, antecedida da área organizacional com (29,6%) e clínica, que ocupa o
primeiro lugar com (37,2%).
10
Fonte: Psicologia On Line - http://www.pol.org.br.
39
“A constituição da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e
Educacional (1988) e a realização do 1º Congresso Nacional de Psicologia Escolar,
em 1991, foram iniciativas que marcaram o início do desenvolvimento da Psicologia
Escolar no Brasil como área de conhecimento científico e de atuação profissional”
(Guzzo, 1993, P. 45).
A referida associação tem como objetivo:
1. Promover condições para o reconhecimento legal da necessidade do
psicólogo nas instituições ligadas ao ensino.
2. Incentivar a melhoria da qualificação e serviços profissionais nas áreas
de Psicologia Escolar e/ou Educacional.
3. Atualizar os Psicólogos Escolares e Educacionais através de cursos e
seminários.
4. Estimular e divulgar estudos científicos e pesquisas nas áreas de
Psicologia Escolar Educacional.
A ABRAPEE é hoje o órgão de representação nacional responsável pela
regulamentação e organização desta área de atuação na psicologia. Existem vários
seguimentos da associação em diferentes estados brasileiros.
O Conselho Federal de Psicologia que é o órgão que representa a categoria de
Psicólogos no Brasil, dedicou o ano de 2008 à educação e com isso fez um chamamento aos
psicólogos para a necessidade de conhecimento do sistema educacional brasileiro e para a
divulgação de práticas na área de Psicologia Escolar Educacional no sentido de contribuir
para o aperfeiçoamento das ações.
Com apoio do Fórum de Entidades da Psicologia Brasileira (FENPB), o Conselho
Federal de Psicologia, provocou um debate nacional no sentido de repensar as políticas da
educação no país e, como resultado dos encontros e estudos ao longo do ano de 2008,
entregaram ao Ministro da Educação, Fernando Haddad as reivindicações que contemplam os
seguintes pontos: Psicologia e educação básica e superior, inclusão da Psicologia no ensino
médio como disciplina, psicólogo como membro permanente da equipe escolar e autorização,
reconhecimento e avaliação de cursos de graduação e pós-graduação em psicologia.
40
Verificamos com isso que a Psicologia Escolar como área de atuação da psicologia
que vem lutando por um espaço de formação, atuação e capacitação continuada. São avanços
que em assim conquistados demonstram a luta e o nível de consciência de uma categoria que
vem preocupada com questões sociais e educacionais do país.
2.3.2. O que é esperado que faça o Psicólogo Escolar
Em se tratando de atribuições profissionais do psicólogo no Brasil, o Conselho
Federal de Psicologia traz contribuições ao Ministério do Trabalho para integrar o Catálogo
Brasileiro de Ocupações e dentre estas, listamos aqui as atribuições do Psicólogo
Escolar/Educacional. Este atua no âmbito da educação, nas instituições formais ou informais.
Colabora para a compreensão e para a mudança do comportamento de educadores e
educandos, no processo de ensino aprendizagem, nas relações interpessoais e nos processos
intrapessoais, referindo-se sempre as dimensões política, econômica, social e cultural. Realiza
pesquisa, diagnóstico e intervenção psicopedagógica individual ou em grupo. Participa
também da elaboração de planos e políticas referentes ao Sistema Educacional, visando
promover a qualidade, a valorização e a democratização do ensino.
Descrição de ocupação: (detalhamento de atribuições do PEE)
1- Colabora com a adequação, por parte dos educadores, de conhecimentos da
Psicologia que lhes sejam úteis na consecução crítica e reflexiva de seus papéis.
2- Desenvolve trabalhos com educadores e alunos, visando a explicitação e a
superação de entraves institucionais ao funcionamento produtivo das equipes e ao crescimento
individual de seus integrantes.
3- Desenvolve com os participantes do trabalho escolar (pais, alunos, diretores,
professores, técnicos, pessoal administrativo), atividades, visando a prevenir, identificar e
resolver problemas psicossociais que possam bloquear na escola, o desenvolvimento de
potencialidades, a autorealização e o exercício da cidadania consciente.
41
4- Elabora e executa procedimentos destinados ao conhecimento da relação
professor-aluno, em situações escolares específicas, visando através de ação coletiva e
interdisciplinar a implementação de uma metodologia de ensino que favoreça a aprendizagem
e o desenvolvimento.
5- Planeja, executa e/ou participa de pesquisas relacionadas à compreensão do
processo ensinoaprendizagem e conhecimento das características psicossociais da clientela,
visando a atualização e reconstrução do projeto pedagógico da escola, relevante para o ensino,
bem como suas condições de desenvolvimento e aprendizagem, com a finalidade de
fundamentar a atuação crítica do psicólogo, dos professores e usuários e de criar programas
educacionais completos, alternativos, ou complementares.
6- Participa do trabalho das equipes de planejamento pedagógico, currículo e
políticas educacionais, concentrando suas ações naqueles aspectos que dizem respeito aos
processos de desenvolvimento humano, de aprendizagem e das relações interpessoais, bem
como participa da constante avaliação e do redirecionamento dos planos, e práticas
educacionais implementados.
7- Desenvolve programas de orientação profissional, visando um melhor
aproveitamento e desenvolvimento do potencial humano, fundamentados no conhecimento
psicológico e numa visão crítica do trabalho e das relações do mercado de trabalho.
8- Diagnostica as dificuldades dos alunos dentro do sistema educacional e
encaminha, aos serviços de atendimento da comunidade, aqueles que requeiram diagnóstico e
tratamento de problemas psicológicos específicos, cuja natureza transceda a possibilidade de
solução na escola, buscando sempre a atuação integrada entre escola e comunidade.
9- Supervisiona, orienta e executa trabalhos na área de Psicologia Educacional.11
Para Novaes,
“a retórica atual da marginalização da cultura, da resistência e da
transgressão às normas o apelo da transiência e do efêmero, o índice alarmante de
11
Fonte - http://www.pol.org.br.
42
violência urbana, da pobreza e fome, a crescente desestabilização familiar, a
expansão do consumo de drogas, a falta de valores morais e éticos trazem sérios
conflitos graves problemas sociais que se refletem nas escolas, nas relações
educativas e no processo de ensino aprendizagem” (Novaes, 2001, p. 61).
Em meio a essa situação, vale salientar que para o Psicólogo Escolar, foco do estudo
ora desenvolvido, a tendência deverá ser continuar com o enfoque interdisciplinar, sem perder
de vista a busca de práticas socioeducativas que venham se adequar à nova realidade de
sujeitos de suas ações.
2.3.3. As ações práticas
Contrapondo ao modelo médico de ação psicométrica, curativa e remediativa, a nova
perspectiva para o Psicólogo Escolar é que este deve ser visto na escola como um mediador,
cujo objetivo é, através de um olhar cuidador, atuar de forma preventiva a fim de ressignificar
os dificuldadores do processo de aprendizagem. A sua prática profissional, hoje, vem sendo
ampliada vislumbrando ações mais voltadas para o cotidiano escolar de forma preventiva.
Na concepção de Gomes, (2007, p. 40 e 41), “o Psicólogo Escolar, de forma diversa
do pesquisador, do teórico, está em contato constante com as situações não sistematizadas do
dia-a-dia, com pessoas diferentes que reagem de forma diferente sob diferentes
circunstâncias”.
O estatuto da ABRAPEE (p. 2) diz que a atuação do psicólogo abrange uma ampla
gama de serviços que incluem avaliação psicológica, orientação pedagógica, e vocacional,
intervenção,
reabilitação,
consultoria,
treinamento,
supervisão,
encaminhamento,
desenvolvimento organizacional, seleção de pessoal, implantação e acompanhamento de
programas e atividades de prevenção.
Compreendemos que existe uma variedade de ações desempenhadas pelo PE,
principalmente por considerar que a sua prática está pautada no dia-a-dia da escola, com
diferentes tipos de alunos oriundos de diferentes famílias e inseridos em um sistema
educacional repleto de diversidades sociais e econômicas onde aparecem demandas de
cuidado e assistência psicológica que venham oportunizar uma melhor aprendizagem. Isso
43
exige deste profissional o desenvolvimento de habilidades e competências de modo que possa
estar contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do aluno.
Perceber o aluno inserido em um contexto bio-psico-social tem sido a nova tônica.
Deve-se destituir o foco do aluno “problema”, muitas vezes encaminhado pela escola ou pela
própria família. A idéia principal na concepção desta é que haja algo errado com o seu filho e,
neste contexto, o psicólogo escolar precisa estar desprovido de juízo de valor, lembrando que
não deve privar a criança ou o adolescente do seu meio.
É importante ressaltar que o aluno está inserido em um todo de vivências que
possibilitam mudanças e alternâncias de comportamento, atitudes, sentimentos e que tudo isso
interfere no processo de aprendizagem. Ao receber um aluno encaminhado para o serviço de
psicologia, a rede de relações deste precisa ser acionada e inserida no plano de ação
profissional que deve ser interdisciplinar. Quem é este aluno? Como se dão suas relações
com a escola, família e outros grupos sociais? Quais seus aspectos de saúde e doença? Em
suma, é preciso considerar o seu cotidiano para que se possa montar a rede de apoio.
Entre outras situações, é de fundamental importância que o psicólogo, esteja atento
às ações preventivas e não apenas interventivas. O trabalho deve ser desenvolvido junto aos
professores e família e é indispensável, de modo que o aluno seja o grande beneficiado e
consequentemente obtenha êxito e consolide sua aprendizagem. Entende-se que o Psicólogo
Escolar, como parte da escola, em meio a sua prática deve estar envolvido com aspectos
sociais e educacionais, compreendendo e contribuindo para uma realidade político-sóciocultural e educacional no Estado, com mais dignidade e qualidade de vida.
Partindo disso, o Psicólogo Escolar é um profissional que deve se preocupar com o
todo e sua atuação ultrapassa as fronteiras da escola e vai além do espaço físico institucional,
atuando em uma perspectiva de rede e território. Dessa forma, como preconiza Meira,
“o melhor lugar do psicólogo escolar é o lugar onde é possível sua
colaboração, seja dentro ou fora de uma instituição, desde que ele se coloque dentro
da educação e assuma um compromisso teórico e prático com as questões da escola,
já que independente do espaço profissional que possa estar ocupando, ela deve se
constituir no foco principal de sua reflexão, ou seja, é do trabalho que se desenvolve
em seu interior que emergem as grandes questões para as quais deve buscar tanto os
recursos explicativos, quanto os recursos metodológicos que possam orientar sua
ação” (Meira, 2000, p. 36).
44
“As atividades educativas na escola, diversamente do que ocorre no
cotidiano extra-escolar, são sistemáticas, têm uma intencionalidade deliberada e um
compromisso explícito (legitimado historicamente) em tornar acessível o
conhecimento formal organizado. Em tal contexto, as crianças e jovens são
desafiados a entender as bases dos sistemas de concepções científicas e a tomar
consciência de seus próprios processos mentais’ (Rego, 2003, p 33).
É preciso, portanto, sinalizar a necessidade de um PE reflexivo que seja capaz de
questionar seus instrumentos teóricos e metodológicos, sobretudo um profissional mais
comprometido com as questões sociais que venham interferir no processo de aprendizagem.
Como tão bem preconiza Novaes,
“convém lembrar que a prevenção ativa das perturbações escolares,
sociais ou afetivas dos alunos e a melhoria do ambiente escolar e familiar resultam
em benefício da própria sociedade, pois, se não exercidas, a tempo, irão exigir a
mobilização de vários e dispendiosos recursos da comunidade para os casos que
evoluírem negativamente” (Novaes, 1980, p. 24).
Portanto, dada a complexidade da sua atuação, este profissional deve receber uma
formação bem fundamentada e embasada na teoria e na prática dos processos psicológicos e
educativos, bem como sobre a dinâmica do cotidiano escolar, que envolve família, escola,
professor, aluno e legislação educacional vigente. Dessa maneira, compreendendo a
especificidade de cada escola e do aluno como sujeito e acima de tudo lutando pela
desmistificação da profissão associada a uma nova concepção do fazer da psicologia.
2.3.4. Sujeitos de vivências e de ações para o Psicólogo Escolar
No cotidiano das ações do PE no espaço escolar, estão inseridos diferentes sujeitos
que compartilham vivências e buscam soluções para melhoria da aprendizagem das relações
intra e interpessoais do aluno e consequentemente melhoria da qualidade de vida. A escola, a
família, o aluno, o professor e a sala de aula são os que aqui nos reportamos como alguns
colaboradores.
A escola é um espaço de vivências, de relacionamentos e construção de
aprendizagens e saberes da comunidade, seja para os alunos que necessitam de educação
formal para sua formação profissional, seja para o crescimento da coletividade ou para formar
parcerias com os pais que por sua vez auxiliam no processo educativo se propondo a
acompanhar e interagir com esta ou ainda para o PE que se propõe a contribuir com suas
45
experiências para a construção de uma escola que se acredita ser pautada nos princípios de
educar, acolher e respeitar as diferenças, proporcionando uma educação para a vida e
ajudando a formar cidadãos.
Ressaltamos que tais vivências devem somar parcerias para que construam
concomitantemente o espaço à aprendizagem, sobretudo porque deve ser a escola um
ambiente onde se configuram ações de aprendizagens sociais e coletivas que representam a
prática de valorização dos saberes científicos. Para Alarcão (2001, p.25) “... só a escola que se
interroga sobre si própria se transformará em uma instituição autônoma e responsável,
autonomizante e educadora. Somente esta escola mudará o seu rosto”.
A família e a escola, segundo Dessen e Polônia,
”constituem os dois principais ambientes de desenvolvimento humano nas
sociedades ocidentais contemporâneas. Assim, é fundamental que sejam
implementadas políticas que assegurem a aproximação entre os dois contextos, de
maneira a reconhecer suas peculiaridades e também similaridades, sobretudo no
tocante aos processos de desenvolvimento e aprendizagem, não só em relação ao
aluno, mas também a todas as pessoas envolvidas” (Dessen e Polônia, 2007, p. 29).
Educar em parceria é uma das premissas básicas da contemporaneidade, a
comunicação saudável e a constante relação entre família e escola é fator importante e porque
não dizer imprescindível, ou até mesmo indispensável. A família traz consigo contribuições e
histórias de vida que uma vez bem trabalhadas podem levar ao sucesso de uma relação que
vem oportunizar uma melhor aprendizagem. Por outro lado entendemos que a falta de
comunicação entre a escola e a família pode também levar ao insucesso escolar. O
estabelecimento de pontes entre família/escola servem de espaço para ampliar conhecimentos
compartilhados em relação aos temas levantados em sala de aula e com isso garantir a imersão
do cotidiano do aluno na vivência formal que a escola trabalha.
“Há uma grande unanimidade nos estudos sobre o bom funcionamento
das escolas em considerar que a participação dos pais é um dos fatores responsáveis
por uma avaliação positiva... A participação dos pais no funcionamento da escola é
particularmente importante quando há problemas sociais ou familiares; contudo essa
mesma razão dificulta as relações entre a escola e a família” (Coll, 2004, p. 139).
Para o autor a história familiar do aluno e a insegurança dos pais frente à educação
dos seus filhos, não sabendo o que fazer diante das dificuldades de aprendizagem, gera um
46
maior desafio para a escola. Nesse caso a resposta do professor pode ser de abandono. Nessa
situação fortalecer a participação do aluno na vida da escola é uma estratégia fundamental.
O aluno, visto como sujeito que deve participa ativamente do processo de
aprendizagem, traz consigo vivências e conhecimentos pessoais que influenciam a forma de
perceber e desenvolver as capacidades necessárias para construir o saber. Uma vez de posse
dessas informações, a escola facilita o processo de ensino aprendizagem, proporcionando a
partir das diferenças uma riqueza de conhecimentos e de valorização e respeito às
particularidades inerentes de cada um.
“A cultura da escola reflete as normas e os valores dominantes entre os
professores, as relações entre eles e os diversos setores da comunidade educacional,
os sistemas de participação e de tomada de decisão existentes e os modelos vigentes
sobre o ensino, a aprendizagem dos alunos e sua avaliação. Muitas vezes não existe
uma única cultura em uma escola, mas diferentes subculturas que podem ser
formadas por valores e comportamentos diferentes, às vezes contraditórios e
confrontados” (Marchersi, 2004, p.139).
O referido autor avalia que uma vez identificada essas diferenças e subculturas, o
aluno pode desenvolver um maior estímulo e consequentemente o sentimento de
pertencimento ao espaço da escola e suas práticas educativas.
Os alunos em situação de risco têm dificuldades para enfrentar com êxito as tarefas
escolares. Esse sentimento de incompetência leva à falta de interesse e de motivação para a
aprendizagem (Marchesi, 2004, p.139).
Compreender as dimensões do aluno é permitir o crescimento e o desenvolvimento
pessoal e social, alicerçados pela ampliação do conhecimento, e pela capacidade de sentir, e
desejar a caminho da autonomia educacional e identidade própria. É o respeito às diferenças e
a busca por estratégias e alternativas que irão fomentar as possibilidades de um
desenvolvimento educacional satisfatório.
Responsável por tornar o ambiente de sala de aula em espaço favorável à
aprendizagem, o professor é parte fundamental do processo de ensinar e aprender. Para tanto,
além de uma formação apropriada é preciso que reúna atributos e ações reflexivas que
contemplem um olhar cuidadoso capaz de construir e partilhar o conhecimento com seus
47
educandos, de maneira a enfrentar com resiliência as dificuldades encontradas, respeitando as
adversidades e especificidades de cada um.
A sala de aula, como parte do todo da escola e como espaço de promoção e de
interação social é foco de muitas reflexões a respeito de como as relações se processam neste
ambiente, sobretudo por ser composta por alunos que participam de um sistema educativosóciopolíticoeconômico, reproduz assim seus valores, suas demandas e vivências. Para isso,
deve ser pensada conforme demandas sociais de modo a organizar o ambiente de
aprendizagem como espaço de troca de conhecimentos e relações sociais dos sujeitos
envolvidos. Nesta perspectiva faz-se lembrar que a aprendizagem é concebida quando existe
uma atribuição de sentidos a ela, portanto na prática cotidiana de sala de aula, é necessário
além dos conteúdos estabelecidos, agregar valores e elementos criativos, de modo que o
educando possa, mediante uma atitude de reflexão, desenvolver seu papel como sujeito de
autonomia na construção do conhecimento.
Neste sentido a heterogeneização da sala de aula deve ser levada em consideração
respeitando assim as especificidades de cada aluno advindas de realidades distintas e com
características também distintas. Daí uma grande possibilidade de avaliação qualitativa,
considerando o arcabouço de informações das vivências individuais que poderão ser
coletivizadas, o que enriqueceria o modelo de avaliação quantitativa ainda considerado por
uma grande maioria das escolas, como forma única de averiguar o desempenho do aluno,
sobretudo se si compreende o aluno como sujeito, a avaliação deve agregar elementos
significativos da realidade deste, de modo a possibilitar a ampliação e ressignificação da
aprendizagem, das relações e construções que se passam em sala de aula. E, dessa maneira, o
Psicólogo Escolar encontra um espaço repleto de demandas educativas.
Portanto, o Psicólogo Escolar deve ser um profissional, além de
competente e versátil, habituado a fazer uma revisão sistemática organizacional das
mudanças que ocorrem, compreendendo que a participação de todos que trabalham
em educação é imprescindível ao processo de transformação social (Novaes, 2001,
p. 62).
Na perspectiva de enfrentar tal situação, vislumbramos além da articulação
permanente de ações interdisciplinares entre os profissionais da educação, a capacitação
48
continuada e principalmente o fomento de resiliência para os que no cotidiano desenvolvem
práticas educativas.
49
3. PROBLEMA
Os diferentes níveis de informação que ocorrem nos mais variados espaços de
educação formal ajudam a manter discrepâncias em educação. No atual momento, as escolas
brasileiras, estimuladas pelas avaliações do Ministério da Educação, vivem o “modismo” do
ranking. Ou seja, os alunos são submetidos a avaliações anuais para verificar a qualidade do
ensino e assim classificar as escolas. Como avaliar o todo, se as informações chegam de
forma diferenciadas? Como hierarquizar, se os investimentos em educação não chegam por
igual a todas as escolas? E por fim, com tanto descaso pela educação, será que não estamos
mais uma vez apenas copiando modelos externos, quando falta a base educacional, alimento,
moradia e qualidade de vida?
Para entender melhor esta situação dos níveis de classificação em educação, vividos
atualmente no Brasil, nos reportamos à afirmação de Apple,
“na Inglaterra, assim como nos Estados Unidos, as escolas existem no que
é realmente uma organização hierárquica, um mercado de prestígio e reputação. São
valorizadas pelo número de alunos que tiram notas altas em certas provas nacionais.
As provas nacionais são publicadas como uma espécie de “lista de classificação dos
competidores”, em que as escolas são ordenadas hierarquicamente de acordo com
seus resultados relativos. As escolas com grande número de alunos com notas de A
a C são mais valorizadas do que aquelas cujas notas de aprovação são menores –
mesmo que todos saibam tacitamente que há uma relação muito evidente entre
resultados escolares e pobreza” (Apple,2003, p. 113).
Não devemos aqui incorrer no erro de deixar de comentar que o Brasil, a exemplo
dos Estados Unidos e Inglaterra, vem nesta última década implementando provas nacionais
para avaliar o desempenho das escolas, professores e alunos, nos diferentes níveis de
escolaridade. Resta sabermos como farão uso desses resultados e se eles servirão para
incremento nas ações educativas ou se apenas servirão para reforçar as diferenças, sobretudo,
quando nos oferecem dois tipos de acesso à educação: um regulamentado pela rede oficial de
ensino, exclusividade do cidadão comum e ou em situação de risco, e o outro para as pessoas
de melhor poder aquisitivo, com padrão de qualidade diferenciada. Como compreender,
portanto, o estímulo à meritocracia se nos deparamos com tamanho processo excludente?
É sabido que a realidade social do Piauí traz consigo dificultadores para os processos
educativos, gerando perdas, transtornos no desenvolvimento cultural e na ampliação da
consciência crítica do seu povo. Entretanto, é em Teresina, capital do Piauí, onde se encontra
50
a melhor escola do Brasil, de acordo com as informações divulgadas pelo Ministério da
Educação (MEC) em 2006, conforme dados obtidos na avaliação do ENEM (Exame Nacional
do Ensino Médio)12. Esta escola avaliada pelo MEC é uma escola particular, confessional
católica sem fins lucrativos que tem se dedicado também, ao longo do tempo, às questões
sociais no estado, mantendo várias outras instituições que atendem a crianças e adolescentes
em situação de risco pessoal e social.
Em contrapartida a rede pública de ensino se destaca por estar entre as piores do pais,
apesar de ter apresentado significativos sinais de melhora muito recentemente. No Piauí a
Educação Básica é contemplada com 7.749 (sete mil, setecentos e quarenta e seis) escolas,
sendo 6 (seis) federais, 823 (oitocentos e vinte e três) estaduais, 6.376 (seis mil, trezentos e
setenta e seis) municipais e 544 (quinhentos e quarenta e quatro) privadas13 .
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação de Teresina, em 2007
foram matriculados 88.960 (oitenta e oito mil novecentos e sessenta) alunos em 268 escolas
da rede municipal, sendo 58 em sistema de Creches e o restante do Ensino Infantil e
Fundamental. 14
Estes dados, na verdade, somados aos problemas do sistema educacional brasileiro e
em especial do Estado do Piauí e sua capital Teresina, nos reporta aqui, ao alto índice de
analfabetismo e evasão escolar, à violência, à desmotivação, à baixa remuneração do
professor, entre outros. E assim, reforçam a necessidade de maior envolvimento do Psicólogo
Escolar, com questões sociais e políticas educacionais, bem como com maior preocupação
com a sua formação teórica e prática.
Não devemos afirmar que apenas estes aspectos sejam considerados problemas a
serem enfrentados em meio à realidade vivida, nem tão pouco que sejam problemas
exclusivos para o olhar do Psicólogo, mas percebemos com tudo isso uma necessidade de um
envolvimento muito maior deste profissional no cenário das ações humanas e no contexto
educacional. Na verdade muitas são as demandas que emergem para o profissional de
psicologia no cotidiano escolar:
12
13
14
Exame Nacional do Ensino Médio - Enem/Mec. 2006
Mec/inep. 2005.
SEMEC/Teresina.2007
51
•
das dificuldades aos distúrbios de aprendizagem;
•
enfrentamentos de situações de luto;
•
dificuldades de relações interpessoais;
•
situação de bullying;
•
violência na escola;
•
sequelas de violência doméstica (violência física, sexual, negligência e
violência psicológica);
•
a relação família escola; professor aluno; professor professor;
•
inclusão;
•
fome, pobreza e situações do contexto sóciocultural piauiense.
Em meio a estes aspectos, é importante ressaltar que como foco principal da nossa
pesquisa, o psicólogo só passa a fazer parte da escola no Estado do Piauí no final dos anos 80
e de forma muito sutil durante os anos 90. Atualmente verificamos a imensa demanda de
ações educativas a serem desenvolvidas pela Psicologia, e, do mesmo modo, de crianças e
adolescentes à espera por acompanhamento psicológico educacional em Teresina.
Existem no Piauí duas escolas particulares que se destacam em contratar o
profissional de Psicologia Escolar. A primeira, o Instituto Batista Correntino (IBC), que se
localiza na cidade de Corrente, no Extremo Sul do Estado; a segunda, o Instituto Dom Barreto
(IDB) na capital. Essas escolas chamam a atenção pelo pioneirismo em Psicologia Escolar.
Foi no ano de 1986 e de 1994 respectivamente, que as mesmas adquiriram esses profissionais
para integrar seu corpo técnico. Nesse período estava sendo implementada legalmente a
prática desta área de atuação no Brasil. (O Instituto Batista Correntino está citado neste
momento, em especial, pelo pioneirismo, pois a mesma atualmente não contrata mais o PE).
O IDB, considerada como escola modelo, conta hoje com um grande número (10
profissionais) de Psicólogos.
Esse diferencial e pioneirismo no estado do Piauí foi também instigador para
desenvolvermos o presente estudo, que se caracteriza pelo aprofundamento das questões aqui
pesquisadas de modo a compreendermos melhor a importância desta área da psicologia, bem
como das atribuições e funções que são cobradas ao Psicólogo Escolar no seu espaço de
trabalho.
52
Após busca incansável, identificamos 23 (vinte e três) escolas particulares que têm
no seu quadro de profissionais o Psicólogo Escolar, contemplando uma média de 33 (trinta e
três) profissionais contratados. Não tivemos conhecimento da prática deste profissional em
tempos atuais no interior do Estado.
Não resta dúvida da inquietação por não sabermos como estava sendo desenvolvida a
prática desta profissão em Teresina. Foi observada a escassez de registros históricos
relacionados ao Psicólogo Escolar, bem como, informações sobre registros desta prática
profissional, tanto em escolas públicas, como em particulares, fato esse que restringe o
conhecimento a respeito da sua atuação, função e contribuições para a comunidade escolar.
Conforme já mencionado, com apenas 33 (trinta e três) profissionais em média
atuando na área de Psicologia Escolar e comparando com as informações do Mec/Inep (2005)
quanto ao número de escolas existentes no Estado e em Teresina, lembrando a escassez de
registros das atuações, atribuições e contribuições deste profissional, justificamos a realização
do presente estudo.
Outro aspecto relevante, é que devido aos problemas do Sistema Educacional do
Estado, e em especial na capital, destacamos o contraponto da diferença entre a qualidade do
ensino na rede particular e na rede pública, assim como a presença do PE no cotidiano da rede
particular, já de forma consolidada, enquanto que na rede pública, de forma sutil e externa ao
espaço escolar.
Com todas as adversidades, especificidades do sistema educacional, e a não inserção
do Psicólogo Escolar na rede pública, citadas anteriormente, entendemos como necessário um
Psicólogo Escolar mais envolvido e comprometido com as ações educativas em meio às
demandas que a Idade Contemporânea nos coloca. Sobretudo por compreendermos que a
criança e o adolescente em idade escolar, indistintamente da sua classe social, necessitam de
suporte e compreensão das suas especificidades que muitas vezes são expressas na vivência
do cotidiano escolar através das relações interpessoais.
53
3.1. OBJETIVOS
3.1.1. GERAL
1.
Fazer um levantamento, o mais exaustivo possível, das práticas dos
psicólogos nas escolas de Teresina (PI), das expectativas geradas nas escolas sobre as
suas funções e das dificuldades que vêm sentindo em cumprir quer o seu projeto de
intervenção quer em gerir as expectativas.
3.1.2. ESPECÍFICOS
1.
Conhecer o perfil socioprofissional dos psicólogos que trabalham na
2.
Identificar as práticas que habitualmente vêm realizando e/ou
escola.
eventualmente realizam com resposta a uma necessidade.
3.
Conhecer as expectativas geradas nas escolas sobre as suas funções.
4.
Reconhecer as dificuldades sentidas em cumprir o seu projeto ou de
gerir as expectativas.
54
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O melhor lugar do Psicólogo Escolar é o lugar
onde é possível sua colaboração, seja dentro ou fora de
uma instituição... (Meira, 2000, p. 36).
É inegável que o Psicólogo Escolar deve estar onde é possível sua colaboração, seja dentro
ou fora de em
qualquer lugar onde é possível fazer educação, mas não nos resta dúvida de que o
cotidiano escolar seja realmente o melhor ambiente de maior grandeza para suas ações
colaborativas, não descaracterizando assim a importâncias da sua participação efetiva nas
ações político-pedagógicas. Na busca deste cenário percorremos as trilhas desta prática de
modo a reafirmar ações do Psicólogo Escolar em prol da relação psicologia /educação e suas
possibilidades interventivas nos processos educativos.
4.1. Tipo de pesquisa, sujeitos e instrumentos
A nossa pesquisa é de natureza descritiva e foi desenvolvida em duas dimensões:
Análise Teórica e Pesquisa de Campo. A Pesquisa Teórica foi desenvolvida a partir de um
levantamento bibliográfico preliminar do tema. Ao longo do trabalho, algumas alterações
foram realizadas conforme aprofundamento e ampliação dos estudos em virtude das
informações encontradas nas obras e ou informações adquiridas nas entrevistas que foram
consideradas importantes e relevantes.
Para responder aos nossos objetivos, decidimos no primeiro momento, recolher a
opinião de todos os psicólogos em ativo, sobre o seu perfil profissional e as suas práticas. No
segundo momento quisemos saber, mais pormenorizadamente, como convivem na prática
psicólogos, gestores e alunos em contextos educativos diversificados.
Para fazer o levantamento do perfil e das práticas dos psicólogos nas escolas de
Teresina (PI), das expectativas geradas nas escolas sobre as suas funções e para listar as
principais dificuldades que vêm sentindo em cumprir o desejado, recorremos a um inquérito à
trinta e três psicólogos, a totalidade dos psicólogos em ativo na Cidade dos quais obtivemos
resposta para participação na pesquisa de vinte e oito profissionais. O inquérito contemplava
55
21 questões, com opções de respostas: nunca, raramente, ocasionalmente, frequentemente e
sempre. As questões de 1 a 9 foram questões baseadas no que é apresentado como prática
norteadora definida pelo Conselho Federal de Psicologia e pela Associação de Brasileira de
Psicólogos Escolares/Educacionais. As questões subsequentes (10 a 21) foram definidas com
base no quadro teórico e a partir da vivência cotidiana da prática como Psicóloga
Escolar/Educacional em 20 anos de atuação.
Para coleta de opiniões e aprofundamento das questões do questionário, escolhemos
um grupo de seis psicólogos, e procuramos indagar o seu percurso, as suas práticas, as
expectativas do gestor e da comunidade educativa, as dificuldades sentidas e o grau de
satisfação que encontram no exercício da profissão. Utilizamos como instrumento uma
entrevista semiestruturada, cujo guião foi construído previamente. Tivemos intenção de
recolher informações, da forma mais exaustiva possível, sobre o perfil sócioprofissional do
Psicólogo Escolar, sobre as suas práticas, sobre as expectativas dos empregadores, sobre as
dificuldades sentidas no exercício da função e sobre os níveis de satisfação/insatisfação no
desempenho do cargo (Anexo I).
Indagamos junto aos gestores escolares, sobre o tempo e necessidade de contratação
do Psicólogo Escolar, sobre a importância que atribui ao seu trabalho e sobre o seu grau de
satisfação perante o desempenho da função. Entrevistamos três gestores e uma vez mais
recorremos a uma entrevista semiestruturada com guião previamente elaborado (Anexo II).
Quisemos também saber junto aos alunos, utilizadores centrais da ação do Psicólogo,
a forma como viam o papel do Psicólogo na sua escola. Recorremos a três alunos que foram
igualmente entrevistados, com base numa entrevista semiestrurada e guião previamente
elaborado (Anexo III).
Se no primeiro momento os dados que prevíamos recolher mereceriam análise
quantitativa, as entrevistas com os psicólogos, com os gestores e com os alunos terão uma
análise qualitativa.
Colabora, neste sentido, o pensamento de Rey (2002, p. 48) quando diz: “a
abordagem qualitativa no estudo da subjetividade volta-se para a elucidação, o conhecimento
56
dos complexos processos que constituem a subjetividade e não tem como objetivo a predição,
a descrição e o controle”.
“O conhecimento científico, a partir desse ponto de vista qualitativo, não
se legitima pela quantidade de sujeitos a serem estudados, mas pela qualidade de
sua expressão. O número de sujeitos a serem estudados responde a um critério
qualitativo, definido essencialmente pelas necessidades da pesquisa” (Rey, 2002,
p.35),
Para Richardson (1999, p. 90), “a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a
tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de
características ou comportamentos”.
“Como na entrevista são aplicados os processos fundamentais de
comunicação e de interacção humana, de um modo geral a informação recolhida será
tanto mais profunda e rica quanto maior for a liberdade dada ao entrevistado. A
recolha de testemunhos é facilitada, quer pelo carácter flexível e de fraca
directividade da entrevista, quer pelo quadro de referências do entrevistado, pois a
sua linguagem e categorias mentais podem ser respeitadas. O carácter flexível da
entrevista pode conduzir à falsa crença da total espontaneidade do entrevistado e à
perfeita neutralidade do entrevistador; o entrevistado é sempre regulado por diversos
elementos presentes na situação de entrevista, pelo que, muito dificilmente, tem total
liberdade para exprimir exactamente o que pretende” (António, 2002, p. 27).
O estudo foi realizado por meio de pesquisa quantiqualitativa, entre os meses de abril
a setembro de 2009.
4.2. Procedimentos
A logística de aplicação do inquérito foi baseada na submissão indireta via on-line
(e-mail) a todos os psicólogos identificados atuando em escolas no município de Teresina.
Para a compreensão da dimensão da prática do profissional de Psicologia Escolar,
fazendo um levantamento da atuação do Psicólogo, conhecendo as concepções, atribuições,
funções e expectativas na perspectiva do gestor do psicólogo e do aluno, realizamos entrevista
direta semiestruturada a seis psicólogos de diferentes escolas (particular, pública e popular), a
três gestores e/ou coordenadores e a três alunos, número que julgamos significativo para o
propósito da nossa pesquisa. As mesmas foram gravadas em áudio e transcritas
57
posteriormente, permitindo o acesso minucioso às informações coletadas, sendo estas
analisadas com rigor. A logística de realização das entrevistas baseou-se na escolha de um
lugar neutro ao ambiente cotidiano de trabalho, objetivando maior conforto e disponibilidade
do entrevistado em esclarecer informações e emitir concepções a respeito das práticas em
Psicologia Escolar.
No decorrer da pesquisa, por termos interesse em um registro histórico,
entrevistamos a primeira Psicóloga Escolar contratada para atuação exclusiva dentro do
espaço escola no Estado do Piauí (Anexo IV). Entrevistamos também o Secretário de
Educação do Município de Teresina (Anexo V) bem como a Gerente de Educação Especial da
Secretaria de Educação do Estado (Anexo VI). A necessidade de entrevistar gestores da rede
pública estadual e municipal emergiu a partir das informações colhidas sobre dois serviços de
avaliação de pessoas com necessidades especiais. Com os mesmos, colhemos dados
significativos a respeito destes serviços e da atuação do profissional de Psicologia Escolar nos
programas de inclusão da rede pública de ensino. As entrevistas foram inseridas na íntegra por
serem consideradas de relevância histórica.
58
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Perfil Sócioprofissional dos Psicólogos Escolares
Na construção dos dados sobre o Perfil Sócioprofissional dos Psicólogos Escolares,
adotamos quatro aspectos, conforme os objetivos estabelecidos: a) Identificação (idade,
estado civil, sexo e religião); b) Formação (universidade formadora, estágio supervisionado,
ano de formação, titulação e publicações); c) Atuação (atuação com outros psicólogos
escolares, tempo de atuação, tipo de escola que o Psicólogo Escolar trabalha, honorários,
outras áreas de atuação e funções exercidas); d) Práticas.
a) Identificação
Ao traçar o perfil sócioprofissional dos sujeitos pesquisados, identificamos que a
grande maioria dos Psicólogos Escolares é jovem, entre 26 a 30 anos de idade (64%), sendo
64% solteiros. No quesito sexo; a sua grande maioria é composta por profissionais do gênero
feminino (89%), contra 11% do sexo masculino. A pesquisa confirma uma tendência no
Estado do Piauí que se caracteriza por aproximadamente 85,5% de mulheres registradas no
Conselho Regional de Psicologia contra 15,5% de homens (Dados CRP 11ª, seção PI). Na
categoria religião identificamos 82% católicos, 7% evangélicos e 11% de agnósticos, (Figuras de 1 a
4).
Idade
14%
7%
até 25
14%
de 26 a 30
31 -35
acima de 35
64%
Figura 1. Idade dos psicólogos escolares entrevistados
59
Estado civil
11%
Solteiro
25%
Casado
outros
64%
Figura 2. Estado Civil dos psicólogos escolares entrevistados
Gênero
11%
Masculino
Feminino
89%
Figura 3. Sexo dos psicólogos escolares entrevistados
Religião
11%
7%
Católica
0%
Espiritismo
Agnóstico
Evangélico
82%
Figura 4. Religião dos psicólogos escolares entrevistados
60
b) Formação
Na categoria formação, a grande maioria dos psicólogos entrevistados é de origem de
universidades piauienses, destacando 64% da Universidade Estadual (UESPI), 32% de
faculdades particulares, 4% da Universidade Federal. Conforme o gráfico (05), do total de
entrevistados apenas 7 % estudaram em universidades fora do Estado do Piauí, estes são
oriundos de universidades públicas dos Estados de Pernambuco e Paraíba, concluindo seus
cursos na década de 80.
Consideramos que o estágio supervisionado seja uma das atividades da graduação
que colabora de forma significativa para aquisição de conhecimentos e habilidades para uma
posterior prática profissional, dos psicólogos entrevistados, verificamos que em sua formação
desenvolveram estágios em várias áreas. Identificamos ainda que do total de psicólogos
entrevistados, 50 a 78 % fizeram estágio em escola pública e/ou particular, e/ou na área
clínica, organizacional, hospitalar e comunitária. Apenas 10,71% fizeram estágio em escolas
populares.
A maioria dos profissionais se graduou entre os anos de 2004 e 2006, com 64% do
percentual dos entrevistados. No que diz respeito à capacitação continuada, como cursos de
Pós-graduação em Educação, destacam os 32% com Especialização em Educação e 12% com
Mestrado, também na referida área. É destaque também os 43% sem nenhum tipo de
especialização, bem como os 57% de profissionais que desenvolvem algum tipo de trabalho
científico, (Figuras de 05 a 09).
Figura 5. Formação dos psicólogos escolares entrevistados
61
Figura 6. Áreas de estágios supervisionados dos Psicólogos Escolares entrevistados
Ano de formação
14%
7%
14%
Anterior a 2000
2001-2003
2004-2006
2007-2009
64%
Figura 7. Ano de formação dos Psicólogos Escolares entrevistados
Pós-graduação em educação
Não possui
7%
14%
Especialização
4%
39%
Mestrado
36%
Mestrado e
especialização
Especialização em
outra área
Figura 8. Titulação dos Psicólogos Escolares entrevistados
62
Figura 9. Publicações dos Psicólogos Escolares entrevistados
c) Atuação.
Observamos uma tendência das escolas em contratar mais de um profissional em
Psicologia Escolar, uma vez que 50% dos sujeitos pesquisados atuam com outros psicólogos
na instituição. No que se refere ao tempo de atuação constatamos uma tendência muito
recente, pois 96% dos entrevistados possuem até 6 anos de atuação enquanto que apenas 4%
têm entre 7 e 20 anos de atuação.
A grande maioria trabalha em escolas particulares, representando 71% do total
pesquisado, em contrapartida temos 14% em escolas públicas e 11% em escolas populares,
verificamos como uma nova tendência de espaço de atuação proporcionado por instituições
privadas mantenedoras das escolas populares, (Figura 10 a 12).
Trabalha com outros Psicólogos Escolares
Sim
Não
50%
50%
Figura 10. Atuação com outros Psicólogos Escolares
63
Tempo de atuação
4%
19%
22%
até 1
1a2
3a4
5a6
26%
7 a 20
30%
Figura 11. Tempo de atuação dos Psicólogos Escolares entrevistados
Tipo de escola em que trabalha
11%
4%
Particular
14%
Pública
Popular
71%
Pública e Particular
Figura 12. Tipo de escola em que o PE trabalha
d) Honorários/ outras áreas de atuação e funções exercidas.
Em se tratando de honorários, conforme resultados dos dados analisados,
verificamos que a grande maioria (36%) recebe entre 2 e 3 salários mínimos, contra apenas
7% entre 5 e 10 salários referente ao maior índice registrado. Talvez esse baixo índice de
remuneração justifique o alto índice de atuação também em outras áreas além da escolar. Dos
profissionais submetidos ao inquérito 36% trabalham em escolar/clínica, 11% em
64
escolar/clínica/comunitária, 4% em escolar/hospitalar, 4% em escolar/organizacional, 11% em
escolar/clínica/trânsito, 4% em escolar/clínica/docência e 11% em escolar/docência/outros,
14% atuam somente como Psicólogos Escolares e ainda 7% em outras áreas. Com respeito à
funções que exercem na escola, 82% dos profissionais que responderam o questionário
exercem apenas a função de Psicólogo Escolar, 3% assumem função de PE/direção, 7%
assumem função de PE/orientação educacional, 4% assumem função de PE/coordenação e
ainda 4% só com coordenação, isso se pode constatar nas figuras 13 a 15.
Remuneração
7%
11%
18%
até um salário
14%
entre 1 e 2
entre 2 e 3
entre 3 e 4
14%
entre 4 e 5
36%
entre 5 e 10
Figura 13. Remuneração que o Psicólogo Escolar recebe
Figura 14. Outras áreas de atuação do Psicólogo Escolar
65
Figura 15. Função do psicólogo na escola
e) Práticas
1- Dos Psicólogos Escolares que colaboram com as adequações por parte dos
educadores, de conhecimentos da Psicologia que lhes sejam úteis na consecução crítica e
reflexiva de seus papéis, 28,57% colaboram de forma ocasional, 39,29% o fazem
frequentemente ao tempo em que e 32,14% sempre desenvolve tais ações.
2- Ao serem questionados se desenvolvem trabalhos com educadores e alunos,
visando a explicitação e a superação de entraves institucionais ao funcionamento produtivo
das equipes e ao crescimento individual de seus integrantes, 7,14% dos sujeitos responderam
que nunca, 7,14% raramente, 14,29% ocasionalmente, 46,43% frequentemente e 25% sempre
desenvolvem.
3- Daqueles que desenvolvem, com os participantes do trabalho escolar (pais, alunos,
diretores, professores, técnicos, pessoal administrativo), atividades visando a prevenir,
identificar e resolver problemas psicossociais que possam bloquear, na escola, o
desenvolvimento de potencialidades, a auto-realização e o exercício da cidadania consciente,
21,43% desenvolvem ocasionalmente, 42,86% frequentemente 35,71% sempre desenvolvem.
4- Quanto aos que elaboram e executam procedimentos destinados ao conhecimento
da relação professor-aluno, em situações escolares específicas, visando, através de uma ação
66
coletiva e interdisciplinar a implementação de uma metodologia de ensino que favoreça a
aprendizagem e o desenvolvimento, 10,71% nunca fazem, 3,57% fazem raramente, 17,86%
elaboram ocasionalmente, 53,57% frequentemente e 14,29% sempre elaboram.
5- Ao serem questionados se planejam, executam e/ou participam de pesquisas
relacionadas com a compreensão de processo ensino-aprendizagem e conhecimento das
características psicossociais da clientela, visando a atualização e reconstrução do projeto
pedagógico da escola, relevante para o ensino, bem como suas condições de desenvolvimento
e aprendizagem, com a finalidade de fundamentar a atuação crítica do Psicólogo, dos
professores e usuários e de criar programas educacionais completos, alternativos, ou
complementares, 10,71% nunca planejam ou executam, 21,43% raramente e 28,57%
ocasionalmente, enquanto que 32,14% planejam e executam pesquisas frequentemente
referente a este quesito e apenas 7,14% o fazem sempre .
6- Em se tratando daqueles que participam do trabalho das equipes, do planejamento
pedagógico, currículo e políticas educacionais, concentrando suas ações naqueles aspectos
que digam respeito aos processos de desenvolvimento humano, de aprendizagem e das
relações interpessoais, bem como participa da constante avaliação e do redirecionamento dos
planos e práticas educacionais implementados, 25% nunca planejam, 7,14% raramente, 25%
fazem ocasionalmente e 21,43% planejam frequentemente, 21,43% planejam sempre.
7- Dos que desenvolvem programas de orientação profissional, visando um melhor
aproveitamento e desenvolvimento do potencial humano, fundamentados no conhecimento
psicológico e numa visão crítica do trabalho e das relações do mercado de trabalho, 46,43%
desenvolvem sempre, 17,86% desenvolvem frequentemente, 10,71% fazem ocasionalmente,
10,71% nunca, 14,29% raramente desenvolvem orientação profissional.
8- Quando inqueridos se trabalham com diagnóstico das dificuldades dos alunos
dentro do sistema educacional e se os encaminham aos serviços de atendimento da
comunidade aqueles que requeiram diagnóstico e tratamento de problemas psicológicos
específicos, cuja natureza transcenda a possibilidade de solução na escola, buscando sempre a
atuação integrada entre escola e comunidade, 3,57% responderam que o fazem
ocasionalmente contra 71,43% que fazem sempre e 25% frequentemente.
67
9- Na abordagem referente ao quesito supervisão, orientação e execução de trabalhos
na área de Psicologia Educacional, 7,14% responderam que nunca fazem, 14,29% raramente,
35,71% ocasionalmente, 17,86% frequentemente e 25% supervisionam e orientam sempre.
10- Em se tratando do planejamento das ações a serem desenvolvidas realizadas no
início do ano letivo, 3,57% nunca planejam, 7,14% o fazem raramente, 28,57% planejam
frequentemente, enquanto que 60,72% planejam sempre no início do ano.
11-Daqueles que atuam no cotidiano de forma itinerante e pontual conforme as
demandas vão surgindo sem um planejamento prévio, 28,57% raramente atuam, 10,72%
ocasionalmente e 28,57% atuam frequentemente e 32,14% sempre.
12-No que se refere ao quesito de planejamento e execução de reuniões da escola
com família e alunos, 3,57% nunca, 7,14% responderam que raramente fazem, 21,43%
ocasionalmente, 42,86% fazem frequentemente e 25% planejam e executam reuniões sempre.
13- Nas ações relacionadas ao acompanhamento à família, ao aluno ou a qualquer
outro membro da escola em situação de enlutamento fora da instituição ou no contexto
escolar, 17,86% dos Psicólogos questionados responderam que nunca fazem, 25% raramente,
7,14% ocasionalmente 21,43% frequentemente e 28,57% fazem sempre.
14- As visitas domiciliares quando solicitadas, são atendidas por 35,70% dos
profissionais sempre, 14,29% frequentemente, 21,43% ocasionalmente, 14,29% raramente e
também 14,29% que nunca fazem visita à família.
15- Dos que se disponibilizam desenvolver ações educativas em qualquer lugar
possível, 14,29% raramente desenvolvem, 17,86% ocasionalmente, 32,14% frequentemente e
35,71% desenvolvem sempre.
16- Daqueles que fazem acompanhamento em grupo e/ou individualmente no espaço
da escola, à família e aos alunos, 57,14% fazem sempre, 28,58% frequentemente, e 7,14%
ocasionalmente e 7,14% raramente.
68
17- Das intervenções pontuais em sala de aula para trabalhar a indisciplina ou temas
transversais ou mesmo para mediar relação professor/aluno, 3,57% nunca, 7,14% raramente
fazem, 14,29% o fazem de forma ocasional, contra 32,14% que fazem frequentemente e
42,86% sempre.
18- Dos profissionais questionados sobre o desenvolvimento de pesquisas na área de
psicologia escolar, 21,43% nunca pesquisam, 17,86% raramente, 35,71% ocasionalmente
14,29% pesquisam frequentemente e 10,71% sempre.
19- No que se refere ao quesito seleção e capacitação de funcionários na escola,
28,57% nunca fazem, 17,86% raramente, 21,43% ocasionalmente, 25% frequentemente e
7,14% sempre.
20- Quanto à participação em Semanas Pedagógicas e capacitação com equipe de
professores, 10,71% dos entrevistados nunca participam, 3,57% raramente, 14,29%
ocasionalmente e 14,29% frequentemente enquanto 57,14% sempre participam.
21- Da atuação na perspectiva de inclusão com alunos que apresentam transtorno
invasivo, distúrbio ou dificuldade de aprendizagem, 3,57% respondem que nunca, 3,57%
atuam ocasionalmente, 7,14% raramente, 10,71% frequentemente, contra 75% que sempre
atuam na perspectiva de inclusão.
Tomando como ponto de partida as respostas dos sujeitos pesquisados, consideramos
na criação da figura 16, a atribuição de peso variando de 0 a 4 para cada item
respectivamente. Nunca = 0, raramente = 1, ocasionalmente = 2, frequentemente = 3 e sempre
= 4. Com isso obtivemos a média ponderada de cada questão, lembrando que 100%
correspondem a todos os sujeitos respondendo ‘sempre’ e 0% todos respondendo ‘nunca’.
Das questões de (1 a 9) que correspondem às orientações que norteiam a prática do
PE, propostas pela ABRAPEE e pelo CFP, identificamos que a grande maioria dos sujeitos
atuam conforme orientação prevista pela regulamentação da profissão. Ressaltamos que a
questão de número 8, onde 92% dos profissionais atuam nesta perpectiva, trata do diagnóstico
das dificuldades dos alunos dentro do sistema educacional e encaminhamento aos serviços de
69
atendimento da comunidade àqueles que requeiram diagnóstico e tratamento de problemas
psicológicos específicos, cuja natureza transceda a possibilidade de solução na escola,
buscando sempre a atuação integrada entre escola e comunidade.
Das questões subsequentes, temos como referência a atuação na perspectiva de
inclusão onde 86,6% dos profissionais afirmam desenvolver práticas dessa natureza.
Lembramos que estas questões (10 a 21) foram definidas com base no quadro teórico e a
partir da vivência cotidiana da prática como Psicóloga Escolar/Educacional em 20 anos de
atuação.
Verificamos sobretudo, a compreenção das possibildades e limitações da atuação no
espaço escolar por parte desses profissionais.
70
Figura 166. Das ações práticas do psicólogo na escola
5.2. Entrevistas:
5.2.1.Entrevistas com Psicólogos.
Para proceder ao levantamento de dados qualitativos via entrevista com psicólogos,
objetivando conhecer as práticas, expectativas geradas, identificar as dificuldades sentidas e
71
satisfação dos profissionais, foram entrevistados seis psicólogos em diferentes contextos
educacionais.
Na construção dos dados sobre os Psicólogos Escolares, adotamos quatro aspectos
conforme os objetivos estabelecidos: 1) Práticas, a partir dos itens: a) níveis de escolarização
que intervém, b) planejamento das ações, c) desenvolvimento da prática no espaço escola, d)
demandas mais intercorrentes, e) das mudanças da prática de quando começou até o
momento. 2) Expectativas do gestor. 3) Dificuldades sentidas em cumprir o seu projeto ou
de gerir as expectativas. 4) Grau de satisfação/insatisfação face as funções que exerce
dentro da escola.
Para não se perder o contexto da atuação de cada um dos entrevistados, fizemos a
apresentação de cada percurso, reservando para o final uma breve resenha.
Com a intenção de preservar a identidade dos sujeitos entrevistados, nomeamos os
participantes a partir da seguinte denominação: Psicóloga A, Psicóloga B, Psicóloga C,
Psicóloga D, Psicóloga E, Psicóloga F.
Psicóloga A
1. Práticas:
A Psicóloga A inicia comentando que espera que o profissional PE conheça a
realidade de escola, pois para ela a escola é um contexto que exige um profissional que
estude, e que tenha agilidade dentro do sistema educacional e isso tudo requer tempo, requer
dedicação. “Orientar minha prática dentro de paradigmas que sejam realmente frutíferos pra
realidade escolar. Acredito que quando o profissional é bem informado, quer dizer, se ele tem
acesso a uma formação consistente, ele consegue sim, contribuir de uma forma melhor”.
a) Níveis de escolarização que intervém:
“Comecei a trabalhar num primeiro momento, de uma forma muito difusa na
escola, eu tinha uma maleabilidade de estar em todos os três níveis de escolarização: no
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inicial, no fundamental e no médio e um ano depois, um ano e meio depois, eu fiquei
diretamente com um nível de escolarização, que era a Educação Infantil”
“Então eu estou na Educação Infantil há três anos e um pouquinho, e isso também
foi uma mudança significativa, porque eu pude compreender com mais clareza um nível de
ensino que requer cuidado diferenciado e específico da parte do psicólogo, que é a Educação
Infantil. Outro desafio, é que tem poucas produções na área. Eu precisava me inteirar do
universo da Educação Infantil, dos desafios que estão postos pra esse nível de escolarização
e comecei a trilhar um novo percurso de formação, mais direcionado, mais voltado pra essa
realidade”.
b) Planejamento:
Conforme a referida profissional, em virtude da atuação estar pautada na observação
participante e mapeamento institucional, as ações são executadas a partir de um planejamento
prévio das intervenções, assegura ainda que este planejamento se deve ao estilo de trabalho
desenvolvido. “Essa prática tem sido uma constante, decorrente do meu estilo de trabalho e
da formação que recebi”.
Conforme o Catálogo Brasileiro de Ocupações elaborado pelo Ministério do
Trabalho com a colaboração do Conselho Federal de Psicologia o planejamento é
contemplado como uma das atribuições do Psicólogo.
c) Desenvolvimento da prática no espaço escola:
A psicóloga aduz que as funções que exerce são basicamente de assessoramento, o
que compreende ser de muita relevância, pois é isso particularmente que lhe dá força para
atuar. Conforme a mesma, o que move a sua prática é essa participação no cotidiano escolar e
a assessoria que faz tanto aos professores, como à coordenação, bem como a escuta e a
orientação aos alunos. “... de um ano pra cá a gente ta enveredando pelo caminho da
formação de professores”.
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Dentre outras atividades, a psicóloga relata que faz acompanhamento às famílias e ao
aluno em contextos de adoecimento, situações de luto e se necessário com visitas
domiciliares. “A gente faz o acompanhamento em situações de enlutamento, de adoecimento,
que em alguns contextos é necessário mesmo, visitas domiciliares quando a criança está
hospitalizada, ou em casa em repouso. Visitas domiciliares em uma situação de luto que seja
bem específica, seja necessário a gente realmente ir até àquele aluno, para dar suporte
psicológico em contextos como o falecimento, que precise dar orientações à família de como
deve ser conduzido, de como seria interessante que fosse conduzido e dar esse suporte no
velório para a criança que quer participar do momento, mas não tem as condições devidas.
Até mesmo sepultamento, enfim. Esses contextos, que trazem elementos fundamentais para
subjetividade de cada sujeito e que alteram seu bem-estar subjetivo consequentemente”. Para
Meira, (2000, p. 36), “o melhor lugar do psicólogo escolar é o lugar onde é possível sua
colaboração, seja dentro ou fora de uma instituição, desde que ele se coloque dentro da
educação e assuma um compromisso teórico e prático com as questões da escola...”.
Verificamos, portanto na prática da Psicóloga A, a multiplicidade de ações no cuidado ao
aluno de modo que essas situações externas não comprometam a aprendizagem do mesmo.
Sua prática permeia não só as paredes da escola, mas ultrapassa as fronteiras desta, fazendo
realmente a Psicologia Escolar em qualquer lugar possível como afirma Meira.
d) Demandas mais intercorrentes:
A Psicóloga afirma que a orientação ao professor com intervenções sobre o
desenvolvimento humano, é ação constante, além disso, o aconselhamento individual com
aluno ou com a família é também uma demanda frequente. Aduz ainda que suas ações neste
momento são para quem esteja precisando de alguma reformulação, de um apoiamento até
para encarar uma mudança, dependendo do momento da família. “A gente tem também uma
participação na gestão em relação à disciplina, a contexto de desmotivação do aluno, a
problemas de aprendizagem, a adaptação escolar. Então, esses contextos, são muito
recorrentes, são muito comuns, que a gente seja chamada para estar gerindo uma alteração
de comportamento nas crianças”. Lembra que neste momento procura ter precauções. Com
muito cuidado vai observar e verificar até que ponto a solicitação não é uma exigência
cultural ou social, ao invés de ser uma exigência do desenvolvimento. “... porque a gente
sabe que as conquistas de desenvolvimento, não têm um momento específico para acontecer.
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É preciso que o profissional tenha essa percepção, para que ele não cometa equívocos, para
que ele não faça um serviço só de ajustamento. Na verdade, nós temos que estar
comprometidos com o bem-estar daqueles sujeitos”.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
A Psicóloga afirma que atua a cinco anos na escola e que a princípio, basicamente
inaugurou na instituição uma perspectiva de trabalho diferenciada, a atuação no cotidiano.
Essa prática segundo ela, não foi fácil, pois a escola atuava muito na perspectiva do individual
e em alguns momentos também sentiu necessidade de fazer escuta individualizada tanto com
alunos, como com a família. “Então, tem uma coisa muito engraçada; quando eu cheguei à
escola, nosso grupo de estagiárias basicamente inaugurou essa perspectiva de estar em
contato com o cotidiano. Como é que era esse contato com o cotidiano? A gente realizava as
observações dos alunos, de determinados fenômenos que aconteciam no recreio, na saída, na
entrada e a gente intervia ali com orientações, aconselhamento, escuta e às vezes
intervenções grupais. Quando fui contratada, eu tentei continuar realizando essa atividade de
estar no cotidiano. Em alguns momentos foi necessário sair do cotidiano e fazer escutas
individualizadas de alunos, de pais, de funcionários da escola e foi um desafio em tanto,
porque eu já me considerava alguém do cotidiano”.
Aduz a psicóloga que aos poucos venceu o dilema do individual e do coletivo,
percebendo a necessidade e possibilidade desse fazer na escola, rompeu barreiras entre o que
estava posto e o que era exigido. Conforme a mesma, passou por uma fase experimental de
atuação nos três níveis de escolarização para que pudesse focar posteriormente apenas na
Educação Infantil. “Então foi um momento muito tenso para mim, porque havia uma
representação de que o psicólogo era aquele que cuidava dos alunos-problema, mas ao
mesmo tempo já se sentia a necessidade dele fazer intervenções mais coletivas. Então, havia
essas duas exigências: eu tinha que cuidar daquele aluno problema, mas eu também tinha
que cuidar de um grupo. Eu tinha que ter um alcance maior, que foi muito tenso esse
primeiro ano até porque eu ficava na assessoria para todos os níveis de ensino, precisava no
médio! eu ia, precisava no fundamental! eu ia, precisava no infantil, eu ia! Isso foi muito
bom? Foi, porque me deu uma compreensão em relação à escola, a esses três níveis de
escolarização que são muito relevantes e que têm movimentos muito diferentes. Quando foi
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no ano seguinte, eu ainda fiquei até o meio do ano dando essa contribuição de uma forma
difusa, daí passei para a Educação Infantil. Lá foi bem interessante, porque como eu não
conhecia a realidade com propriedade, nós negociamos que eu começasse a participar do
cotidiano, fazendo observações sistemáticas em cada sala. E foi lindo, porque eu consegui
fazer observações participantes, eu consegui novamente voltar ao cotidiano intervindo ali e
fazendo assessorias consequentemente não só com professores, mas com a coordenação e
com quem fosse necessário. E aí a gente começou a ter um amadurecimento para essa
necessidade de intervir com mais amplitude, ou seja, atendendo ao maior número de sujeitos,
maior número de pessoas”.
2. Expectativas do gestor:
Ao ser questionada sobre as expectativas do gestor, verificamos na expressão e na
clareza do sentimento, a que ponto anda o nível de exigência deste e a sua opinião de como
percebem o trabalho do PE. A partir da avaliação que fazem do seu trabalho, a entrevistada
ressalta a importância desse questionamento e acrescenta que: a expectativa do gestor é
também expectativa da sociedade, convergindo para que tudo seja resolvido como se fosse
uma realidade concreta. “... ainda existe sim essa necessidade de que a gente enquadre as
crianças, de que a gente rotule as famílias, de que a gente tenha uma visão, seja aquele
instrumento, de semear as vezes uma ideologia de que a família as vezes é responsável pelo
fracasso daquele aluno, que a estrutura social dele é que está refletindo na aprendizagem e
esquecem que aprendizagem é um processo complexo, que tem interferência das dimensões
subjetivas, pessoais, sociais, culturais e econômicas. Quando a gente deixa de priorizar esse
olhar, a gente vai cometer equívocos, porque a gente vai querer que ele seja homogêneo, a
gente vai tratá-los como homogêneos. E cadê a singularidade? Cadê a particularidade? Mas
é um movimento que é muito delicado de se fazer, não é um movimento fácil. Por isso, alguns
profissionais migram para clínica, porque lá eu não tenho esse compromisso. Eu faço meu
trabalho, reconheço que eu tenho limites e na escola não”.
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3. Dificuldades:
A entrevistada aqui faz um comentário sobre o tratamento equivocado que o
Psicólogo Escolar recebe da percepção ilusória sobre as soluções imediatas, das dificuldades
que a escola tem em perceber as diferenças e as especificidades do aluno e do próprio trabalho
do PE.
“O imediato, o aqui e agora. Esse é um dificultador, porque essa expectativa é bem
real. Como é que essa expectativa se expressa dentro do cotidiano escolar? É o professor que
acredita que há algum tempo atrás as crianças eram mais quietinhas, é um professor que
acredita que no passado os alunos eram mais interessados, é uma concepção de aluno como
um robozinho e que, na verdade, na história da educação, não só brasileira, mas mundial,
nunca se teve essa classe homogênea, nunca se teve essa condição ideal de aprendizagem.
Então isso é como se fosse uma perspectiva que está no cerne da escola. Eles acreditam sim,
que em um momento isso foi possível, eu penso que é uma percepção ilusória. E daí vem
exigências que também são ilusórias para gente e que em alguns momentos motivam a gente.
Porque quando você não exclui o aluno, procure uma outra escola! faça isso! faça aquilo!
porque quando você não faz, não entende desse modo, você é mal interpretado como a
boazinha, que está passando a mão, a que não tem coragem de dizer que essa escola não é
para esse aluno! Mas, em contrapartida, você sabe que ali é o seu real compromisso, de estar
sendo apartidária nesse aspecto, porque se a escola tivesse os alunos ideais, para quê
escola? Se os alunos já fosse ideais, não precisariam de escola. Eles estariam inseridos num
processo de auto formação e acabou. Então há esse equívoco da escola, que é tenso, desde
toda a história da escola e que se reflete dentro das relações da escola. Então... esse
profissional ainda é visto por trabalhar com o subjetivo, com o imaterial, esse profissional é
visto como aquele que não trabalha, porque ele não está escrevendo! ele não tem uma ficha!
ele não está ali no final do mês, “olha, está aqui o meu trabalho”. Não é só isso, são
relações, relações não se medem, não se contam. Então, o simples fato de ter um profissional
desse porte, com essa especificidade faz com que ele faça mediações que são relevantes para
aquela cultura da sala de aula ou para aquela escola, aquele grupo etário, para aquele nível
de ensino. E isso tem que ser visto, mas infelizmente isso não acontece porque não tem como
se precisar, é apenas, a nossa versão sobre os fatos. Então com esse paradigma positivista de
que tudo é no aqui, no agora, o preto no branco, a gente é tratado de uma forma muito
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equivocada. Como se o nosso trabalho fosse um trabalho fluido. Então você tem que
produzir! então você tem que consertar esse aluno! E assim tem ajudado a não ceder, tem me
ajudado, a me manter em vigilância o fato de eu estar mesmo buscando uma formação que
me dê conta disso, entendeu? Ontem mesmo foi muito importante pra mim, de repente estar
próximo de um teórico que está produzindo sobre isso, de que não podemos trabalhar dentro
de dogmas, do aluno eficiente, do aluno bem-sucedido e eu acho que a psicologia ganha
quando não trabalha assim com dogmas, achando que a mente é um monte de gavetinhas,
que a gente, sabe, enche ali a de motivação, enche ali a de fruição, enche ali a de atenção e
não é assim. O ser humano não é algo concreto, delimitado, sabe, dicotomizado. “Ele é
complexo, ele é dinâmico, ele é dialógico”. Conclui afirmando que o desafio é descaracterizar
essa percepção, pois em alguns momentos se sente alvo desses equívocos de uma forma muito
incisiva, muito constante, mas ao mesmo tempo quando se reconhece essa potencialidade do
ser humano, percebe que está no caminho certo e assim contribui efetivamente para que o
aluno se desenvolva, cresça e esse é o compromisso social do PE com todas as classes, com
todas as pessoas, com todos os sujeitos.
4. Grau de satisfação/insatisfação:
A profissional volta a falar das expectativas e da forma como elas se configuram em
exigências concretas. Que o gestor quer que dê conta de todas as circunstâncias uma vez que a
escola não para, mas que enquanto funcionária desta, tem outras coisas fora, tem a sua vida,
tem o seu momento de encontro com a escola, mas também tem o seu momento de
estranhamento, de distanciamento, que é necessário. Então acredita que o fato de trabalhar
numa escola privada, acelera ainda mais essa exigência, ela é bem mais explícita, porque é
uma funcionária que tem que ter uma produtividade, eficiência, que tem que demonstrar
competência e isso é uma exigência constante. A mesma comenta que alguns diálogos são
conflitantes: “Foi aquele aluno que você já atendeu. Por que que ele não está legal?” “
Porque ele não é uma massa de modelar, é por isso que ele não está legal, porque ele precisa
de tempo e esse tempo não sou eu que tenho que dar para ele. Então essa exigência é muito
grande aqui, mas como eu te falei, por fatores sentidos subjetivos mesmo meu, eu consigo
lidar com isso como um desafio. Não sei até quando, não sei como vai ser em outro
momento, mas até agora tenho levado como um desafio, até agora eu tenho conseguido
superar os obstáculos que porventura surgem, mas é complicado porque a gente sabe que o
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trabalho tem que ser algo prazeroso para o sujeito. Se eu estou permeada de exigências e um
certo estresse, porque o tempo todo eu estou em conflito com alguma coisa, isso também
atinge aquele sujeito como um todo, porque o trabalho tem que ser uma coisa acessível,
possível, não é para ser um sofrimento e eu sempre digo aqui para os colegas, que eu vou
ficar aqui na instituição, mas enquanto isso tiver me fazendo bem. Por enquanto, não sei se
por causa da minha jovialidade, não sei, pelo meu momento de vida, tudo isso contribui para
que eu veja isso como um desafio, mas eu não sei até quando”.
Psicóloga B
1. Práticas:
a)Níveis de escolarização que intervém:
Ao ser questionada em quais níveis de escolarização intervém, a Psicóloga B diz que
atua no fundamental e médio e ainda complementa: “e se você me perguntar se eu dou conta,
eu lhe digo com toda certeza: eu não dou, é impossível”. Deixa claro a sobrecarga mesmo
enfatizando que recebe uma média de seis estagiários por semestres e que estes ajudam
bastante, principalmente nas observações e intervenções em sala de aula. “a vinda dos
estagiários facilitou bastante, porque tanto ajudam eles, quanto a dinâmica da escola”.
b) Planejamento:
Para a psicóloga, o planejamento é uma exigência do gestor através da instituição
mantenedora da escola e isso é feito sempre no mês de outubro para o ano seguinte, mas
também entende como uma necessidade para a sua atuação. “Então, em outubro deste ano, a
gente já faz o planejamento de 2010. Olha, antes de a instituição exigir, eu já fazia, porque é
uma coisa que a gente vê em escola, em atendimento mesmo, em qualquer coisa que você vá
fazer, se você não se planejar, você fica perdido, não sabe nem o quê que vai fazer. O
planejamento, ele é altamente flexível. Então, algumas coisas aconteceram, outras sofreram
alterações de data e outras foram acrescentadas”.
c) Desenvolvimento da sua prática no espaço escola:
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“No início do ano, a gente tinha observado que os alunos tinham uma dificuldade,
brigas, confusões, tudo. Então, a gente desenvolveu a atividade da semana da integração,
cada dia era uma turma que ficava comigo para a gente desenvolver o trabalho”.
Fica claro ao longo da entrevista que a psicóloga trabalha com programas e projetos,
dentre eles, cita a semana de integração, (proposta para atuação preventiva a partir do que é
observado de demandas cotidianas), e ainda dois projetos, para estimular lideranças e
elevação de autoestima e outro sobre orientação profissional vocacional, além da atuação com
toda a equipe da escola, através das reuniões e encontros. “...que também são encontros
mensais que a gente tem com os alunos. Então, a gente tem mais ou menos uma previsão da
data desses encontros, já do ano inteiro. Atividades também, a gente tem a cada três meses,
encontro com funcionários, aquela parte mais formativa... e isso acontece aos domingos...”.
Diz que o foco maior é o aluno, mas que atua também com o professor, principalmente na
semana pedagógica “... faço uma palestra sobre dificuldade de aprendizagem com as
professoras aqui da escola... mas não vejo aquele retorno...”
Aqui verificamos que uma das ações da Psicóloga está de acordo com o que orienta o
Conselho Federal de Psicologia que diz que compete ao PE, desenvolver programas de
orientação profissional, visando um melhor aproveitamento e desenvolvimento do potencial
humano, fundamentados no conhecimento psicológico e numa visão crítica do trabalho e das
relações do mercado de trabalho.
A profissional afirma que no ensino médio atua mais com os projetos, são
“encontrões, acampamentos na selva” em parceria com o serviço de orientação religiosa e
pastoral e com o serviço social da escola. Verificamos que a ideia da atuação em grupo vem à
medida que observam a existência de grupos rivais dentro da escola. “Foi assim uma
experiência fantástica, a gente já percebeu uma diferença gritante, quando nós retornamos
desse acampamento. Realmente, a união da turma é outra”. Para Doron & Parot ( 2007, p.
264) “... a educação designa uma experiência, um desafio, uma aposta: uma experiência
intersubjetiva...”. As tentativas dessa profissional ao realizar essas atividades com intenção de
solucionar conflitos grupais no cotidiano escolar são possibilidades de atuação diferenciada
que a nosso ver despertam interesse ao adolescente pelo seu perfil aventureiro e como bem
afirmou a profissional, trouxe como resultado a união da turma.
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“Aqui dentro, eu sou psicóloga educacional. Mas, como eu lhe falei, tem encontro
com os funcionários, isso é organizacional: Eu faço! Tem visita domiciliar, é comunitária: Eu
faço! Tem visita ao hospital, psicologia hospitalar: Eu faço! Mas eu faço essas coisas quando
o foco é o aluno. Com o assistente social atuo com um grupo de idosos...”
Percebemos que a atuação da psicóloga não é direcionada apenas ao contexto
escolar, mas também é um trabalho extensivo à comunidade e a outras áreas de atuação da
psicologia, mesmo que essas ações sejam ações periódicas. “se acontece alguma coisa, por
exemplo; uma criança que tem no hospital, que eu já fiz visita em hospital de alunos nossos
aqui ou de alunos que morrem, vai a casa fazer a visita ou até mesmo na hora do velório.”
Mais uma vez se confirma o que diz Meira, (2000, p. 36) a atuação do PE deve estar em
qualquer lugar onde seja possível intervir com resultados para a aprendizagem do educando.
d) Demandas mais intercorrentes:
A mesma se refere que as maiores demandas estão relacionadas à indisciplina e
sexualidade, principalmente com alunos de quarta e quinta séries (quinto e sexto ano do
ensino fundamental). “a gente faz palestras sobre corpo, sobre transformação do corpo,
sobre sexualidade”. “Olha, no ensino fundamental é indisciplina, ensino médio entraria um
pouco de indisciplina, mas seria um pouco de conflitos deles mesmos e com os pais, além da
questão de namoro”.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
“Se eu for fazer uma retrospectiva de 2004 para cá, houve muito avanço da
psicologia aqui na escola. Então assim, o primeiro momento foi de desmistificar aquela coisa
do psicólogo clínico e escolar, hoje a gente já consegue isso, hoje os alunos já procuram
muito mais o serviço de psicologia, tanto os alunos como a equipe diretiva. Eu faço parte da
equipe da escola, nós somos mais ou menos onze pessoas, entre coordenadores, direção e
outros técnicos que nós temos aqui. Então assim, nós temos reuniões mensais, às vezes
quinzenais para estar vendo o andamento da escola. Hoje há um reconhecimento, posso te
dizer que me sinto muito realizada, porque eu tenho um reconhecimento dos alunos, dos pais
e da comunidade aqui ao redor”.
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A mesma relata que algumas mudanças estruturais promovidas pela nova gestão,
resultaram em elevação da autoestima e satisfação dos discentes, várias atividades foram
inseridas no contexto escolar, principalmente para os adolescentes. Sua participação nessas
atividades vem quando é convocada pelo gestor, principalmente para mediar conflitos nas
práticas de esporte.
2. Expectativas do gestor
A Psicóloga B demonstra aqui que muito da sua prática advém de uma solicitação.
“Geralmente ele solicita. Eu posso te dizer que 60 % das atividades que desenvolvo é ele que
solicita”.
A entrevistada demonstra dificuldade em responder a essa questão, depois esclarece
que a expectativa é que ela demonstre conhecer os educandos. “Assim, por exemplo, a questão
de estar acompanhando os meninos, de eu saber o problema. Eles querem que eu esteja
sabendo do que está acontecendo e dê meu ponto de vista. Então, tudo que acontece, sempre
pede que eu tenha a obrigação, digamos assim, de estar conhecendo a situação e dar meu
ponto de vista. Apesar de eu não estar aqui todos os dias”.
Relata que quando lhe é solicitado algo que não está ao seu alcance, argumenta; e em
geral o gestor aceita pela maleabilidade dele. “Olha, eu não sei, eu não lhe dou nenhum
parecer porque eu não tenho conhecimento do assunto, ele entende numa boa. Nunca tive
problema com isso. Assim, ele é muito aberto, ele é muito tranquilo, eu vejo assim. Ele é
muito maleável, sabe! Agora, é aquela coisa, quando ele quer uma coisa, ele quer, mas se
você justifica, se você argumenta, pronto. “Eu não tenho condições de fazer a mais. Não
tenho e essas coisas, já tomam tanto o meu tempo que eu realmente não tenho mais é nem
tempo de fazer a mais”.
3. Dificuldades:
Queixa-se da dificuldade financeira e da negligência das famílias, pois quando há
necessidade de encaminhamento das crianças para um serviço de atendimento clínico externo,
eles não levam, mesmo que este serviço seja gratuito. Diz ainda não dispor de instrumentos de
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avaliação e que isso é feito pelos estagiários que se encarregam de diagnosticar os problemas
e encaminhar os alunos ao serviço escola da faculdade a qual estão vinculados.
“... quando é problema emocional que leva à dificuldade de aprendizagem, a gente
encaminha. Agora quando é realmente problema de aprendizagem, a gente já diagnosticou:
dislexia, disgrafia, déficit cognitivo, aí fica aqui na escola”.
4. Grau de satisfação/insatisfação:
Relata a liberdade que recebe para desenvolver seu trabalho por parte do gestor e da
gratificação em poder contar com os alunos e a família, independente do horário que marca os
encontros, quer seja aos sábados, ou aos domingos. “você pode marcar final de semana, você
pode marcar dia de feriado, que os alunos vêm”. Ao questionarmos a que atribui esta
presença marcante, ela responde: “Olha, eu atribuo assim: eles gostam daqui, eles gostam da
escola, eles não gostam de estudar, mas eles gostam da escola, e isso é muito bom”.
A psicóloga demonstra alto grau de satisfação, diz que trabalha 20 horas na escola e
que mesmo sendo única na sua área, o que demanda muito o seu fazer, chegando à obrecarga.
Ainda assim se sente satisfeita. “Olha! de zero a dez, eu diria que é onze, porque eu gosto
muito daqui da escola, do ambiente da escola e do trabalho que eu faço”
Psicóloga C
1) Práticas:
a) Níveis de escolarização que intervém:
Segundo a psicóloga, sua atuação se dá em dois níveis de escolarização. Na educação
infantil e no ensino fundamental. A princípio foi contratada apenas para trabalhar com
inclusão de pessoas com deficiência, mas hoje suas ações vão além dessa proposta.
b) Planejamento das ações:
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Planeja suas ações ao final de cada ano por iniciativa própria. “O gestor deixa livre,
não interfere, apenas cobra”.
c) Desenvolvimento da prática no espaço escola:
Aponta que o trabalho como psicóloga escolar começa no início do ano, antes
mesmo das aulas começarem com a chegada das crianças para o período de adaptação. “Acho
que a relação começa na matrícula, é um momento que você começa a ver os pais, conhecer
a fisionomia e o comportamento deles com relação ao filho, às vezes traz o filho, já fala que o
filho queria estudar na escola, você já vê toda a ansiedade voltada pra aquela criança. Como
são muitas, então quanto mais esse contato, eles são interessantes porque você vai tendo
noção daquela realidade. Daí as palestras, aquele primeiro contato que se organiza aqui na
escola de apresentação da escola para família, de dizer como funciona. A gente explica um
pouco como é o processo de adaptação”.
Conforme a psicóloga, o período de adaptação é um momento muito intenso, pois o
PE precisa dar esse suporte aos professores e aos alunos, uma vez que as crianças são novas
para eles, e eles são novos para as crianças; aos pais pelo nível de ansiedade que apresentam
inclusive orientando- os como devem fazer em casa de modo que não alterem tanto a rotina e
isso possa contribuir melhor com a adaptação do aluno. “Então assim, é um momento que a
gente fica em sala o tempo todo, é um momento que a gente não intervém fora, porque
precisa estar dando esse suporte”. Dessa forma verificamos que a Psicóloga C está atenta às
ações preventivas com todos os sujeitos envolvidos a princípio: ações com professores,
família e alunos. Demonstra também um cuidado com a ética.
“... às vezes são situações que acontecem em casa, por exemplo, nascimento de um
filho, coisas que a gente sabe que tem alteração dos alunos na sala e aí a gente precisa
orientar a família, orientar o professor, dando uma dica e sempre considerando o sigilo
dessas informações , não necessariamente eu preciso contar algumas coisas para aquele
professor naquele momento, mas tomando muito cuidado com a ética, para não taxar, para
não atrapalhar e sim colaborar, com o crescimento dessa criança”.
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Nessa prática está voltada para diferentes ações e entende que no contexto escolar: “o
trabalho com o professore é muito importante, eu entendo que entrar em sala de aula também
é muito importante. A gente consegue ter uma interação não só para observar a criança, mas
para orientar o professor. O professor também dá esse retorno para gente. A gente consegue
também intervir em situações de grupo, também ter a comunicação com a família, escutar,
intervir e às vezes é necessário intervenções individuais, porque eu acho que na minha época
de graduação eu tinha uma visão mais preconceituosa assim, no sentido de como eu via a
psicologia dentro da escola , mas não tinha essa noção que a psicologia escolar tinha essa
amplitude, poderia envolver sim uma intervenção individual, poderia envolver sim uma
intervenção que parece da organizacional, mas a escola ela tem essa amplitude, ela exige que
se façam essas coisas”.
Orientar também os Acompanhantes Terapêuticos, que segundo esta profissional, são
pessoas que vieram para a escola sob orientação de psicólogos clínicos externos ou solicitados
pela escola ou, ainda, pela família e que os mesmos têm como função intervir, mediar, ajudar
o aluno com deficiência nas suas especificidades. Esse acompanhante pode ser um Psicólogo,
um estagiário de psicologia ou de pedagogia. Ele atua no ambiente de sala de aula e em todos
os espaços da escola, sempre junto com o professor e os colegas. “Então, a minha iniciativa
foi me juntar a esses acompanhantes, observar em sala, observar, conversar com professor,
ver o quê que estava sendo difícil pra esses meninos e ver o quê é possível fazer. E daí eu
comecei a ler sobre inclusão e comecei a conversar com os professores para eu entender a
prática da escola e qual é o planejamento, quais são as atividades propostas para as
crianças. Isso é meu trabalho, mediar essa comunicação, ouvir o professor, ouvir a
coordenadora, o acompanhante terapêutico e a família para montar um planejamento para
essa criança, junto com essas pessoas e comecei a testar e começou a dar certo, cada um
desempenhando sua função”.
A Psicóloga C diz que acompanha crianças e um adolescente especial que estão
inseridos na escola, “eu comecei a fazer não mais o trabalho só com esses meninos, mas aí
sim que eu acho que eu comecei a estudar o que era psicologia escolar e comecei a me
organizar, com o tempo eu fui entendendo, que eu poderia estar dividindo meu tempo, no
sentido de entrar na sala para observar as crianças, a interação do professor-aluno, poderia
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planejar a escuta de alguns pais, intervenção com algumas famílias, planejar algum projeto
que envolvesse grupo de crianças”
Percebemos aqui uma prática construída a partir da vivência nas relações cotidianas
do fazer na escola. Verificamos o aprendizado construído e o grande desafio para esta
profissional que no seu dia a dia, se torna “uma aprendiz de psicóloga escolar”, conforme
relato da mesma.
Sua atuação também perpassa por identificar, avaliar e diagnosticar crianças com
dificuldade e ou distúrbios de aprendizagem, na maioria das vezes indicadas por professores
ou mesmo solicitada pela família. Conforme Novaes (2001, p. 62). “o Psicólogo Escolar deve
ser um profissional, além de competente, versátil”. Essa versatilidade é identificada no fazer
dessa Psicóloga que demonstra uma grande preocupação com a necessidade de se capacitar e
se envolver nos diferentes setores da escola, nas mais variadas possibilidades de atuação: com
o aluno, o professor, a família, ou seja um envolvimento com o todo considerado
imprescindível ao processo de transformação social.
“Acontece muito também, por exemplo, de uma criança daqui da escola, começar a
ter dificuldades, os professores me chamam ou a própria família me chama para eu avaliar
primeiro a situação, para ver o quê é, porque essa criança não está tendo um desempenho
como outra, não que as crianças sejam iguais, obviamente, mas tem aquelas que destacam
muito em relação a outras. Aí eu primeiro observo no contexto mesmo de sala de aula, tanto
dentro de sala de aula como fora, em um ambiente de brinquedoteca, lazer, recreio, para ver
tanto a socialização como observá-la nesse ambiente. Depois disso, eu pego essa criança
individualmente (aqui a gente tem salas que a gente faz intervenção individualizada), faço
algumas atividades, que aí já está dentro de uma avaliação clínica. Eu faço uma avaliação
clínica com essa criança, dependendo da situação, as vezes eu sinto a necessidade de
encaminhar para um neurologista ou para neuropediatra. Daí eu faço encaminhamento,
colocando meu relatório de observação e aí assim, diante da minha observação e daquele
outro profissional, as vezes a gente fecha um diagnóstico para poder montar um plano de
ação”.
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Verificamos aqui a preocupação em observar, avaliar e encaminhar para um
atendimento fora do contexto escolar de modo que feche se possível, um diagnóstico para
posteriormente montar proposta de intervenção na escola junto com a equipe. “A gente monta
um plano de ação para que ela atinja aqueles comportamentos que ela ainda não obtém...
que agente arrume formas de intervir com essa criança para substituir por outros
comportamentos”. As ações aqui identificadas são contempladas nas atribuições do PE
propostas pelo CFP quando diz que compete ao Psicólogo Escolar diagnosticar as
dificuldades dos alunos dentro do sistema educacional e encaminhar aos serviços de
atendimento da comunidade aqueles que requeiram diagnóstico e tratamento de problemas
psicológicos específicos, cuja natureza transceda a possibilidade de solução na escola,
buscando sempre a atuação integrada entre escola e comunidade.
Além da parceria com a neuropediatria e o acompanhante terapêutico, verificamos
que nesse percurso de interdisciplinaridade de ações, a referida psicóloga ao ser questionada
sobre como desenvolve este trabalho, deixa claro que isso é feito em sala de aula e em outros
ambientes da escola. “Aliás, em todos os ambientes, eu enquanto psicóloga dessa escola,
minha responsabilidade é que aconteça aqui na escola, mas eu preciso de uma parceria
clínica. Então eu converso, chamo o psicólogo clínico dessa criança para a gente estar
combinando intervenções em conjunto. Essa pessoa faz na clínica e eu dou continuidade
aqui, quando isso é possível, porque a realidade nossa as vezes impede.
d) Demandas mais intercorrentes:
Quando das demandas mais intercorrentes a Psicóloga C fala que quem mais solicita
o seu trabalho são os professores, principalmente para ajudar na relação com o aluno. “...
estou observando isso, eu preciso saber o quê é. Não estou dando conta, me ajuda”. A
criança x apresentou isso, queria que você desse uma olhada, eu tô achando que outra
criança tem um diagnóstico x, queria que você visse. Tipo assim, ela não taxa, ela taxa para
mim, ela diz: Será se é? Veja se é. “E quer uma resposta da psicologia para isso”.
Hoje, a mesma reconhece que o trabalho do PE é muito extenso, pois enquanto
observa um aluno especial, a professora diz: “Ah, dá uma olhada no fulano de tal”, ou a
coordenadora fala: “eu queria que você cuidasse da situação tal”, ou a outra psicóloga diz:
87
“olha, não estou dando conta, preciso que você me ajude nisso”. Além disso, aponta também
outras funções que desempenha na escola, além de observar, de cuidar dos alunos, de
participar das atividades com os professores. A mesma faz referência à comunicação que
considera importante, válida com o grupo de psicólogos, que é se informar sobre o quê está
acontecendo nos diversos setores da instituição, principalmente para dar apoio aos outros
colegas. “a gente faz seleção de pessoas aqui dentro, as vezes precisa de uma avaliação e a
gente faz, aplica teste psicológico, faz entrevista, faz todo um trabalhão para selecionar
alguns funcionários”.
Aqui percebemos também que uma das atribuições desta psicóloga é participar do
planejamento, além de mediar as relações entre os sujeitos que aprendem e os que ensinam,
trazendo uma contribuição do conhecimento técnico para a aceitação do diferente e para a
construção de saberes com estratégias de possibilidades em práticas educativas. “Eu acho
que a contribuição é imensa, porque a diferença assusta, e o psicólogo, ele está para ajudar
com informações, não só professor, os agentes educacionais de um modo geral, o
coordenador responsável. As vezes fazer um trabalho com a turma mesmo, da turma saber
que aquela criança de forma diferente, mas tudo bem, fica legal, vamos brincar com ele,
também além de ajudar com a informação, ajudar no planejamento educacional daquela
criança, porque na grande maioria das vezes, o planejamento da escola não se apropria para
aquela criança. Então, precisa ser feitas adaptações curriculares conforme o diagnóstico do
aluno”.
Verificamos que conforme relato da psicóloga, esta junto com a equipe de
profissionais, participam de forma muita ativa da vida escolar em todos os aspectos, desde as
atividade técnicas até as atividade culturais e esportivas. Considera esta participação
importante para conhecer a escola, conhecer como ela funciona, como são travadas as
relações em diferentes momentos e vivências, para se aproximar de alunos, professores, dos
agentes educacionais de um modo geral. “A gente participa de todas as atividades da escola,
por exemplo: gincanas, festas junina, feiras. Esses momentos são muito importantes, porque é
um momento que a gente tem contato com os alunos em situações diferentes do que é a escola
do dia-a-dia”
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O cuidado ao aluno não é o foco maior das ações do PE, mas segundo esta psicóloga,
sempre que possível, observa a necessidade, cuida também do emocional do professor, pois
percebe que interfere na aprendizagem do aluno. “Recentemente, tive com uma professora e
vi que ela estava super mau humorada e tal. Quando eu fui vê com ela, tinha rompido um
relacionamento recentemente, não estava legal e isso interferia no trabalho dela dentro da
escola”.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
Quanto à proposta de inclusão, algo que ela relata ter aprendido também na prática,
pois na sua formação e na prática clínica, atuava no individual com pessoas especiais o que é
bem diferente da proposta de inclusão no contexto escolar.
“eu comecei a estudar os
Parâmetros Curriculares Nacionais, comecei a ler textos sobre inclusão, descobri quais são
as propostas hoje pra inclusão e aí eu vi, que dentre as propostas existentes, além da
necessidade de outros profissionais que podem estar atuando nessa escola, dentro da escola e
também você olhar para a criança em termos de o quê aquela criança não responde em
relação aquilo que é esperado para aquela idade, para aquela faixa etária e o quê pode ser
modificado em termos de adaptações curriculares para que ela responda”
Ao longo da entrevista, a Psicóloga C, relata da dificuldade encontrada em entender
como funcionava a psicologia escolar, pela dimensão do quê e como fazer. “Hoje, esse ano eu
me considero uma psicóloga escolar. No passado eu não me considerava, eu achava que eu
era de uma área, mas que estava aqui para contribuir com alguns meninos e era um trabalho
que eu também tive oportunidade de ter. Hoje não, hoje eu tenho muito mais interesse pela
psicologia escolar. Hoje eu tenho isso claro para mim, mas depois de um ano de trabalho,
esse ano, ou seja, por agora, acho que estou tendo essa concepção. Acho que demorou um
pouco para mim, acho que quando eu entrei aqui para trabalhar o ano passado, eu ainda
estava muito confusa com relação a isso e na prática, sob orientações e também lendo é que
eu fui percebendo, digamos assim, satisfeita”.
Relata da sua insegurança teórica e que a princípio não buscava atuar na área de PE,
mas sim na área clinica. Compreendemos que isso talvez justifique que a sua satisfação na
escola venha apenas após o investimento em conhecimentos teóricos na área de educação e já
89
depois de um ano de prática. Deixa claro também que está em Psicologia Escolar pela
oportunidade de trabalho, apesar de não estar muito segura, se era isso que queria ser. Apesar
disso, hoje gosta, confia e acredita nas pessoas com quem trabalha.
2) Expectativas do gestor:
A demonstração da exigência da resposta imediata é algo que sempre vem no relato
do profissional, seus gestores sempre querem uma resposta e que nem sempre essa resposta é
possível, uma vez que o trabalho é com seres em construção, com suas especificidades: de
famílias, de valores, de dificuldades e possibilidades. “Eu acho que assim nessa escola os
gestores, eles querem que os psicólogos deem conta de todos os problemas... eles têm uma
noção de que o nosso trabalho é rápido e na verdade ele não é tão rápido, a gente precisa
também de tempo para conseguir dar conta daquilo... então eles exigem uma mediação com a
família que muitas vezes, é necessário mesmo, as vezes nem tanto, mas eles preferem que a
gente fale, eles exigem esclarecimentos. - O quê que esse menino tem? O que é isso? E aí, eu
tomo muito cuidado no sentido de responder. Eles exigem que a gente dê conta da mudança,
mesmo que resolva, mas apóiam também, a gente percebe que eles confiam no trabalho”.
3) Dificuldades:
Considera que a pressão para que dê soluções aos problemas seja um dificultador
para o desenvolvimento do seu trabalho na escola, “... têm famílias que querem que você
resolva e não se consideram responsáveis”. Nessa situação, diz que tenta conquistá-las
sugerindo atividades que possam envolver o grupo familiar.
A psicóloga comenta sobre a dificuldade de trabalhar em parceria com os psicólogos
clínicos fora da escola, bem como da carência na cidade de profissionais que trabalhem com
pessoas especiais para possíveis encaminhamentos, termina com isso alguns dos alunos sendo
acompanhados por ela mesma, na clínica, onde muitas vezes o aluno vem com um diagnóstico
de fora para a escola e que ela observa que este diagnóstico não fecha nas observações que
realiza na escola. “É, por exemplo: chega uma criança na escola e a mãe diz que ele tem o
diagnóstico de hiperativo, aí eu vou ver e vejo que tem situações que ele está muito bem
90
engajado, que a gente pega ali individualmente e vê que não tem uma atividade tão grande
ao ponto de ele ser taxado de hiperativo. Porque ele veio com esse diagnóstico?”.
Identificamos aqui o quanto seria importante esse trabalho em conjunto; por um lado
o Psicólogo Escolar nas ações do cotidiano na escola, com suas observações e intervenções
pontuais e por outro o Psicólogo Clínico através da sua prática observando a importância
desta atuação interdisciplinar com o PE onde o maior beneficiado seria a própria criança. Com
relação a este aspecto a Psicóloga C faz um desabafo. “A gente observa que a criança não
muda de comportamento em sala e ela deveria estar mudando por conta desse
acompanhamento clínico, e aí entram em choque, as opiniões, e é um pouco complicado e a
gente não pode ligar para mãe e dizer: “olha, o outro psicólogo está errado”. Então, o quê
que eu costumo fazer? Eu chamo a mãe e começo a relatar como está aqui na escola e o quê
que seria interessante ser observado na clínica, que ela pudesse me ajudar nessa
comunicação porque eu ligo, minha atitude primeira é tentar falar com esse profissional, mas
as vezes não acontece, a pessoa diz que não pode ou não atende, e você perceber com o
tempo que a pessoa na verdade está lhe evitando, não quer vir à escola, porque eu chamo
muito para escola, favoreço muito essa parceria, porque a gente sabe que a gente não dá
conta de tudo. Então, é super importante ter pessoas, inclusive para encaminhar”.
4) Grau de satisfação/insatisfação:
A psicóloga se refere ao sentimento de valorização observado por parte dos gestores
e do quanto está satisfeita com as atividades que realiza mesmo com pouco tempo de atuação.
“Sinto-me satisfeita, porque eu acho que não existe um trabalho ideal, e eu acho que um
trabalho é bom quando ele assim, possibilita você fazer alguém acreditar em você, e quando
você vê resultado, e assim eu tenho visto resultado no meu trabalho. Como que eu acho que é
esse resultado? É por que alguém elogia? Não, porque também eles não são de ficar assim:
“você é ótima e tudo mais”... às vezes, dizem de outra forma, por exemplo; “Ah! Eu vi que
criança tal está desse jeito agora”. “Você conseguiu falar com a família”. Perguntam muito,
querem saber o resultado, e aí quando você dá o resultado, você vê que eles ficam satisfeitos,
tem aquele alívio de não ter mais esse problema”.
91
Psicólogo D,
1) Práticas:
a) Níveis de escolarização que intervém:
O Psicólogo afirma que atua em equipe e que as ações são complementares de forma
sistemática sob "focos de atuação". “Esta locação ocorre com a finalidade de promover a
integralidade e complementaridade das ações de atenção psicológica. Assim sendo, minhas
práticas estão direcionadas ao ensino fundamental maior e menor (1ª e 2ª etapa). Valendo
ressaltar que muitas das minhas ações, são de acordo com as demandas institucionais, ou
relativas ao período letivo do ano (adaptação escolar junto a Educação Infantil e com
Orientação Vocacional/Profissional com alunos do 3° ano do Ensino Médio), podem ser
dirigidas em parcerias com as psicólogas responsáveis por estas modalidades de ensino e
com demais psicólogos da equipe”.
b) Planejamento das ações:
O Psicólogo aduz que a relação entre o Planejamento e sua atuação profissional
segue uma lógica entre os objetivos que se pretendem alcançar junto às ações diárias,
semanais, semestrais e anuais, previamente estabelecidas, ou seja, para sua atuação enquanto
PE, tem como guia maior os objetivos educacionais, de qualquer escola. No que confere aos
aspectos cognitivos (promover aprendizagem cognitiva), os aspectos sociais e culturais
(desenvolver habilidades compatíveis com os anseios socioculturais, familiares e morais de
bem-estar das relações interpessoais, e na construção de sujeitos críticos), e os aspecto
emocionais (estimular autonomia, equilíbrio emocional e bem-estar subjetivo) ocorre
conforme as necessidades emergidas no decorrer do ano letivo. “... Desse modo, vale destacar
que desenvolvo planejamentos prévios para cada ano letivo, construídos mediante minha
autoavaliação e da própria equipe de Psicologia. Em meio a isso, são estabelecidos projetos
e metas - enquanto diretrizes mensais, semestrais – para serem desenvolvidos ao longo do
ano, e, é claro, pela própria lógica de transformação dinâmica da rotina escolar, estes
sofrem (estão sujeitos a sofrer) alterações ou adaptações, sempre compatibilizados com a
demanda educacional de um dado momento”.
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O Profissional ressalta ainda que a participação dos gestores em seus planejamentos
de atuação enquanto PE não ocorrem de maneira sistematizada. Reuniões periódicas são
realizadas pela equipe de Psicologia, entretanto, os gestores não participam destas. Aduz que
também não é presente uma avaliação destas ações do PE pelos gestores, o que, por vezes,
ocasiona em sugestões de desenvolvimento de ações que já são desenvolvidas.
“Contraditório? Sim, mas como não ocorre uma sugestão e/ou avaliação inicial (e
periódica) por parte dos gestores, em especial enquanto demanda criada por estes, pedidos
"redundantes" acontecem; isso, de outra maneira, torna frágil o teor da participação do
gestor no planejamento das atividades educacionais pelo Psicólogo Escolar”.
c) Desenvolvimento da prática no espaço escola:
Percorrendo os caminhos trilhados para chegar a Psicologia Escolar, diz que sempre
foi apaixonado por literatura e por quadrinho, quando começou a se interessar por análise
psicológica dos personagens. Buscando um pouco de Machado de Assis e dos quadrinhos, se
interessou muito por questões que remetiam a relacionamento entre os adolescentes, entre os
colegas. Posteriormente, desenvolveu um posicionamento muito crítico na faculdade, com os
professores. Sua prática em PE é vislumbrada através dos estágios oportunizados pela
Universidade.
O Psicólogo D aduz que na sua atuação existe uma prática com a família e que essa
atuação tem certa plasticidade. A família tem um espaço de queixa, um espaço reservado em
que apresenta sua insatisfação, não como ouvidoria, mas uma insatisfação ou solicitação de
ajuda, para uma parceria também. “Temos reuniões periódicas, no caso da equipe de
psicologia diretamente reunindo a partir de grupos terapêuticos... reuniões escolares.” Além
do espaço de escuta, afirma que desenvolve uma prática de intervenção, de orientação e,
sobretudo, prevenção para as relações na escola.
Ao se referir ainda sobre as concepções da comunidade escolar, ressalta como
positivo o que percebe por parte da clientela de alunos e família. Vejam: “os alunos, isso é
percebido, eles têm a autonomia de nos procurar, isso é um termômetro, é uma avaliação
significativa para a gente. Tanto que ninguém procuraria um psicólogo no recreio se não
fosse significativo para ele, nem na saída, nem na entrada. Assim como os pais também, nós
93
sabemos que nosso modelo familiar nordestino, é um modelo de reserva e a nossa frequência
de famílias que procuram é grande. Procuram autonomamente, sem convite, eles procuram o
serviço de psicologia. Então assim, eu percebo que são bons indicativos para a gente avaliar.
Enfim, a equipe também tem crescido, então é um parâmetro excelente de avaliação. Se não
fosse produtiva, não teria crescido”.
Considera ainda que poderia ser visto de uma forma melhor, uma vez que intervém
nas mais diversas situações e nas habilidades que este profissional tem principalmente pelo
caráter pedagógico.
d) Demandas mais intercorrentes:
Através do relato das demandas mais intercorrentes no espaço escolar e das
expectativas dos gestores e coordenadores da escola com relação ao seu trabalho, o Psicólogo
diz que o que está mais presente é a queixa escolar e que essa queixa se refere a uma demanda
cotidiana, que são “eventualidades que acontecem no dia a dia, quer sejam ações
indisciplinares, quer sejam orientação aos professores, quer seja mediação dessa
aprendizagem junto à família”.
Ao se referir às demandas mais intercorrentes expressa que, de um modo geral, elas
estão em torno de orientação familiar, aconselhamento familiar, intervenção individualizada,
sobretudo, algumas intervenções individualizadas transformam-se em coletivas.
Diz da
plasticidade que percebe na sua atuação, o que é individual pode ser coletivizado. “Se uma
orientação feita, uma capacitação a um funcionário, ela é coletivizada também. Assim, como
o coletivo também pode ser individualizado”.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
“...eu não tinha experiência na escola, mas tinha um conhecimento periférico, um
interesse periférico, que a minha concepção em escola não se esgota em si, ela é social e nela
tem todos os momentos desse movimento, e eu acreditava que tinha habilidade nessa área.
Então, entrei nessa escola, nessa instituição, eu tive a experiência de estágio em um ano, na
qual eu pude sim colocar em prática os conhecimento que eu tinha nessas áreas que eu já
94
citei desenvolvimento infantil, juvenil, avaliação psicológica, testagem, aconselhamento,
psicologia da família, e em cima disso eu pude ver a imensidão que era o espaço escolar...eu
achei o espaço escolar complexo, desafiador e assim que ao mesmo tempo em que eu poderia
contribuir para o desenvolvimento de outras pessoas, eu poderia crescer também. Então
realmente casou muito com meus interesses”.
Este profissional reconhece a grandeza da atuação em PE e reforça que na verdade
tinha algumas leituras, mas carecia sim de maior aprofundamento e isso vem perceber ao
começar lidar com o cotidiano e suas especificidades que foi surpreendente e que para tanto o
psicólogo escolar não pode encarar com surpresa, é preciso estar preparado. Então, a
espacialização, o mestrado e os diálogos travados com profissionais de outras áreas
principalmente pedagogia, foram fundamentais para sua prática inicial. “E assim, eu procurei
estudar, direcionando especialmente pra uma prática mais aprimorada, em especial, que
pudesse realmente, deter-me exclusivamente a ação do psicólogo escolar... o meu percurso
como profissional, a minha identidade mesmo, como psicólogo escolar e como pesquisador
psicólogo escolar”.
Fica claro o envolvimento e a firmeza com a prática escolhida, a clareza dos atributos
para a prática em Psicologia Escolar desde o cuidado com a formação até as ações da prática
no cotidiano. Fazer psicologia escolar não é só encontrar um espaço de trabalho, é ter
consciência da necessidade de uma formação ampla e diversificada. Vejam o que diz este
profissional: “Eu acho que eu consegui traçar um ciclo melhor, e aí, apesar de eu ter tido já,
são três anos, já tive experiência como clínico, mas essa experiência como clínico não me fez
me autodenominar diferente, hoje eu continuo psicólogo escolar”.
2) Expectativas do gestor:
Ressalta que nas expectativas dos gestores ocorre uma representação um pouco
imediatista, apesar do seu trabalho, já ser consolidado. Aconteceu uma eventualidade no
cotidiano, o psicólogo intervém e o gestor espera uma solução momentânea.
Das funções e atribuições que são mais solicitadas, o profissional destaca mais uma
vez. “cuidado a família, cuidado aos professores, cuidado a equipe gestora. Quando eu falo
95
cuidado, eu falo mediação, eu falo intervenção como um todo.” Destaca que a demanda
organizacional emergiu com força. “É esperado por essa instituição que o psicólogo escolar
também efetue atividades do âmbito organizacional. De que porte? Seleção e capacitação de
funcionários, Por mais que saibamos que todo psicólogo tem a competência para fazê-lo, mas
isso ganhou força nos últimos anos, aqui na instituição, como um trabalho central, não diria
nem central, mas básico, fazendo parte do desenho de função do profissional daqui, assim
como também, os cuidados frentes, eu diria uma demanda hospitalar. Seriam famílias
enfermas, alunos enfermos, porque aqui no nosso trabalho é esperado do profissional de
psicologia que ele cuide do aluno e de sua família, não apenas no espaço escolar,
especialmente quando a família adoece ou está
enlutada. Isso é esperado por esse
profissional, mas eu vivo dizendo, por mais que tenhamos a concepção de que não está no
desenho da função do psicólogo escolar, por esse profissional ter essa habilidade, é esperado
dele sim e não como algo extra, mas como algo básico também, apesar de não ser nada
básico”.
Ao falar da confiança da valorização do PE na escola por parte da comunidade
escolar e gestão, faz uma analogia que se considerar o tempo da profissão no estado essa
valorização é positiva. “Positiva, valiosa; percebem como significativa e percebem como um
profissional indispensável”. No entanto, se considerar a psicologia como uma profissão com
mais de quarenta anos de consolidada, “... eu acho que talvez uma representação seja
deturpada com relação a gestão. Essa questão do imediatismo, eu acho que tem uma
deturpação”.
3) Dificuldades:
Fazendo uma autocrítica e se referindo à representação que tem da própria gestão e
das mais variadas atuações que entende que o psicólogo possa ter junto a escola, o psicólogo
afirma, que deixa a desejar o aspecto da discussão pedagógica: “É interessante destacar que
nós Psicólogos Escolares intervimos mediante um erro pedagógico, estou falando da minha
experiência, não estamos planejando o fazer pedagógico. Quando eu falo o fazer pedagógico,
eu falo não só da capacitação que nós fazemos na instituição, mas eu falo da estruturação
curricular, da discussão curricular e também planejamentos prévios, no planejamento
pedagógico. Então estamos na atuação, no fazer diário, pedagógico, estamos também na
96
parte remediativa, estamos na preventiva, mas não estamos no planejamento pedagógico. É o
que eu percebo como falha ou dificuldade. Talvez por uma concepção ainda retrógrada de
que o profissional da psicologia não tem conhecimento pedagógico, da licenciatura, do
currículo e que exatamente contraditório, porque tem lá amarrado a nossa grade curricular,
aliás, o nome é até grade, para prender a gente, mas tem lá instituído em nossa prática,
enfim, não se carece de atuação nossa verbal ou documental, mas eu vejo falha nesse aspecto
somente”. Nesse sentido percebemos uma crítica e ao mesmo tempo uma reivindicação do
Psicólogo quanto ao desenvolvimento do planejamento pedagógico o qual confirmamos como
atribuição do PE, conforme http://www.pol.org.br. Não ficando claro se sua não participação
no planejamento pedagógico é porque não é permitida e isso percebemos quando diz da
concepção retrógrada ou se é porque o profissional não busca participar e se sente excluído.
4) Grau de satisfação/insatisfação:
Quanto ao sentimento de satisfação com essa profissão se considera muito feliz.
“Aliás, é uma prática que me emociona bastante, de fazê-la, de atuar, apesar de o retorno ser
longitudinal. Às vezes você tem uma intervenção com um grupo de alunos da terceira série e
você recebe um retorno quando eles estão na sétima. Por exemplo: ontem eu tive numa
sétima série que os alunos lembraram de uma intervenção que eu fiz com eles sobre uma
situação de bullyng na terceira série. E isso eu não recordava mais, porque foi uma ação
minha cotidiana como muitas outras, mas o significado que eles atribuíram a isso e eles
próprios recapitularam minha intervenção e utilizaram pra o manejo. Isso eu acho que pra
mim é muito gratificante, lidar com crescimento, com desenvolvimento e eu não vejo outro
espaço que oportunize isso, essa visão longitudinal. Alguém que eu intervi na terceira série, e
hoje está na sétima e amanhã estará na universidade, talvez, ou, enfim, eu acho que no
espaço escolar eu percebo essa realização a longo prazo, mas muito mais saborosa que em
outro local”.
Psicóloga E.
1) Práticas:
a) Níveis de escolarização que intervém:
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Atua com toda a escola, “é uma escola de periferia, aqui eu atuo sozinha, então
tenho quer dar conta de todo o serviço, fundamental, médio, família, professor...tudo”.
b) Planejamento das ações:
Observamos no relato dessa profissional uma preocupação com o fazer planejado,
das ações anuais e semestrais, as ações do cotidiano dos projetos, e as ações diárias
individuais ou coletivas.
“O planejamento ocorre em duas vertentes: existe o planejamento do semestre que
consta a organização de projetos, atividades e acompanhamentos individuais para aquele
semestre, uma espécie de cronograma geral de metas a serem cumpridas de acordo com o
diagnóstico escolar. E faço também os planejamentos diários, dentro das metas específicas
do planejamento geral. Por exemplo: planejamento de atividades para os grupos específicos,
planejamento de atividades para os acompanhamentos individuais, planejamento de
atividades extras para demandas emergentes”.
.
c) Desenvolvimento da prática no espaço escola.
Das práticas que desenvolve na escola, a referida psicóloga informa que sua
perspectiva de trabalho se delineia em três vertentes que compõem a escola. “a família, os
alunos e os professores e atrelado a isso, tem a direção, a coordenação, enfim, todo o espaço
da escola. Então, se trabalha com atendimentos mais pontuais, orientações, escuta,
aconselhamento quando é necessário, de acordo com a demanda específica e faz-se também
um trabalho preventivo com a formação de grupos, como instrumento para fazer reflexões
sobre o contexto escolar, coisas específicas mesmo da aprendizagem, do rendimento escolar,
questões emocionais, questões afetivas relacionadas ao professor e aluno, à relação alunoaluno, em relação família-aluno...”. Tal situação sinaliza uma ação preventiva confirmada em
Novaes (1980, p. 24) quando lembra que a prevenção resulta em benefícios sociais e evita
evolução negativa com maiores gastos.
Percebemos aqui uma preocupação em trabalhar com grupos reflexivos que sejam
vistos no âmbito da relação professor-aluno a partir da escuta destes sujeitos. “ah! Professor
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tal, não gosto do jeito que ele dá aula”, “não gosto da maneira que ele chega à sala de aula,
professor está mal-humorado”. “Nos grupos, se trabalha isso, a questão da empatia com o
professor e deste com seus alunos e isso está dando muito certo”.
Essa escola é realmente um diferencial do que eu havia encontrado até o momento,
vejo uma realidade de carências e ao mesmo tempo de vontade, de responsabilidade com o
estudo, com o saber e de certa forma um desafio para esta jovem profissional ainda sedenta
por experiência. Como pensar no limiar do vínculo, quando há tantas possibilidades de
aprendizagem e de colaboração com uma comunidade que se apresenta com realidade
específica e diferenciada para a psicologia, principalmente para Teresina onde esta prática
está muito vinculada às classes mais elevadas economicamente e em contexto de escolas
particulares.
E nessa perspectiva, a psicóloga atua com grupos de alunos de forma interventiva e
preventiva.” Nos grupos há eixos temáticos, nos quais os próprios alunos propõem os temas a
serem trabalhados. O aluno sugere a temática e tem muita temática familiar. Então no grupo
a gente trabalha esse tipo de orientação, de como lidar com esse tipo de perda, de como lidar
com esse tipo de circunstância... e com os pais, a gente chama, a gente conversa também,
tenta dar as orientações que são possíveis, por enquanto. Assim, a necessidade mesmo é que
haja um projeto mais abrangente, que seja mais preventivo e que envolva realmente,
professores, alunos e pais em interação...”
Relata que percebe como positivo o reconhecimento que os pais têm a respeito do
serviço de psicologia, vejam: “os pais também reconhecem o papel do serviço de psicologia
na escola. Isso é bom. Eles procuram orientações, comparecem às reuniões, escutam e
tentam aplicar essas orientações do jeito que é possível”.
Das contribuições que você acha que o psicólogo escolar pode trazer pra essa
comunidade, a psicóloga refere sobre a capacidade de estimular a reflexão sobre a realidade
que se inserem, pois “...essa realidade que não pode ser negligenciada. O ser humano ele é
completo, ele não é só o estudante, ele não é só o filho, ele não é só o aluno, ele é tudo e a
gente não tem como negligenciar isso. Se tem uma situação de carência em casa, de um pai,
de uma mãe que não está sendo orientada direito pra cuidar daquela criança, ou se tem uma
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dificuldade mesmo de base, de uma criança que vem de uma escola pública, que não
consegue acompanhar a sistemática da escola, eu acho que o psicólogo pode contribuir
agindo sobre o problema que já existe, de alguma maneira, propondo soluções e evitando
problemas que possam vir a existir, no enfoque preventivo mesmo e eu acho que a melhor
coisa, a única coisa é trazendo esse momento de reflexão. Acho que o psicólogo pode como
educador também na escola, dentro desse processo educativo, levar aquele sujeito a refletir
sobre essa realidade, seja na sala de aula, seja em casa, seja na relação com o colega,
refletir, buscar soluções que sejam possíveis e tentar realizá-las. E psicólogo, neste aspecto,
age como um orientador, um cuidador”.
Das outras atribuições que lhes são solicitadas por parte da gestão da escola, a
psicóloga cita a organização de reuniões, por exemplo: reuniões de pais, professores,
funcionários ficam a cargo do serviço de psicologia. “Então, o serviço de psicologia faz o
roteiro, entrega para coordenação, a direção avalia, dá algumas sugestões, mas nós é que
gerimos isso, nós que organizamos, marcamos datas, organizamos o comunicado”.
Considera que isso faça parte do serviço e avalia como aspecto positivo pela
oportunidade de contato com a família, comunidade e com a escola também.
Nas relações que se fundamentam na escola, é necessário que exista um consenso.
Para esta psicóloga as ações da prática perpassam três vertentes. O trabalho com os
professores, com os alunos e com a família através das “reuniões com os pais ou para um
atendimento individual, aconselhamento, orientação, uma vez ou outra, já que, por enquanto
não dá para fazer os grupos e com os professores também trabalhando a partir dos grupos,
reuniões, demandas emergentes do espaço escolar”.
d) Demandas mais intercorrentes:
Para a Psicóloga E, as demandas mais intercorrentes, o que mais acontece que
necessita da sua intervenção, do olhar cuidadoso do profissional tem a ver com família,
principalmente questões relacionadas com separação de pais, que afeta muito, tanto quanto a
questão financeira e isso afeta na organização da sala de aula, não dá para o aluno se
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concentrar com algum problema familiar, traz instabilidade emocional e por consequência
problemas para manter a atenção em sala.
Considera os alunos muito responsáveis, e com isso não tem muita demanda de
indisciplina. “Eles são muito focados no ensino que têm, que é realmente uma grande
oportunidade de se desenvolverem, sobre isso eles têm muita consciência. E talvez por essa
responsabilidade, em alguns alunos até precoce, eles se preocupam muito com as coisas de
casa. Tem casos de violência doméstica, de pais alcoólatras, mães que descuidam totalmente
da criança. Existem casos de total descuido por parte dos pais, de crianças atormentadas por
ter a guarda disputada na justiça, o que gera problemas com a autoestima, de ansiedade, de
desamparo, por que por uma questão financeira mesmo, econômica, a mãe teve que deixar a
criança sozinha para trabalhar, para prover a casa. É complicado”.
Os professores também, eu percebo que quando tem uma situação que é da demanda
da psicologia, eles sabem a quem recorrer e eles recorrem, na medida do possível. Então, eu
acho que lá, nessa escola, pelo tamanho também, acho que deu para se trabalhar muito bem.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
Na sua trajetória teve o primeiro contato com a Psicologia Escolar na disciplina de
Psicologia Escolar I no sétimo bloco. Diz que até essa fase do curso, realmente não tinha ideia
do quê que o Psicólogo Escolar fazia na escola. Foi através de uma professora que teve acesso
ao estágio e daí pode perceber as possibilidades de atuação deste profissional. Agora na
atuação, sente que as leituras feitas na graduação não foram suficientes e que vem aprendendo
com outros profissionais em supervisão, o que é complementado com seus estudos
individuais.
Atua em uma escola de periferia, de uma comunidade carente, mas que compartilha a
metodologia de uma grande escola de Teresina. Segundo a mesma, a escola tem bons
professores, com metodologia de ponta, é bem estruturada, e com isso promove a criatividade
e participação social. Portanto, considera a PE que seja uma oportunidade para esses alunos
de terem acesso a um ensino de qualidade. “Essa escola tem o serviço de Psicologia a mais
ou menos dois anos, é... oficialmente dois anos, e há um ano quando eu entrei lá como
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estagiária, a gente instalou o serviço de psicologia, que hoje se encontra em fase de
estruturação”.
2) Expectativas do gestor:
A profissional afirma que o gestor percebe o PE como um profissional de ajuda e a
ele recorre sempre quando tem uma necessidade, reconhecendo o seu papel, mas que ainda
tem um pouco da representação do profissional “apagador de incêndio”. “Então assim,
acontece uma coisa, qualquer coisa. “Ah! O psicólogo resolve”. Eu acho que ainda existe
muito dessa expectativa imediatista de resolver o problema numa intervenção, simples assim
como se fosse A mais B igual a C”.
Considera essa atitude uma tendência de todas as instituições verem o psicólogo
nessa função de solucionador de problemas que surgem, um resultado rápido, imediato, dentro
de um pequeno espaço de tempo. Sugere a PE que o profissional precisa articular alternativas,
estratégias para lidar com essas exigências, porque os profissionais em psicologia também
têm essa função educativa, de instruir as pessoas, principalmente quanto ao seu trabalho.
3) Dificuldades:
Aponta e reivindica como de grande valia a experiência de participação na
elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola. Na sua opinião, seria uma contribuição
para o trabalho interdisciplinar .”É um plano a ser efetivado a longo prazo, não só nesta
escola, mas nas escolas do país”.
Em meio às adversidades identificadas no contexto dessa escola, verificamos uma
ação mais focada na perspectiva social e nas interfaces da relação família com as
conturbações a que estão expostas no momento atual. “Os alunos em geral são
negligenciados não por falta de orientação ou por falta de cuidado mesmo, mas por
exigência da situação financeira. É uma mãe que precisa trabalhar para alimentar aquela
criança e não tem a quem recorrer; muitas vezes a família mora longe, é sozinha, e aí
repercute, de qualquer maneira, repercute. Inclusive os pais também procuram muito a
102
escola, procuram o serviço de psicologia para ter esse tipo de orientação como ter esse
cuidado”.
Diz também que por o serviço ser muito novo na escola, vem desenvolvendo um
processo educativo, de como trabalha o profissional de psicologia na escola, para evitar
interpretações diferentes, que o psicólogo seja visto não como um inspetor, mas como uma
pessoa que está no ambiente escolar para ajudar. “... eles confundem um pouco. Como eles são
muito carentes, eles pensam que podem conversar pelo ‘msn’, fora da escola, porque lá existe
essa cultura entre os professores, de amizade fora da escola, de um vínculo muito forte, até
pela questão da comunidade mesmo, como a escola é pequena, só tem uma turma de cada
série, os professores conhecem quem são os alunos, sabem quem são os pais. Se o aluno falta
uma semana, o professor conhece, vai na casa do aluno pessoalmente falar. Então, existe
uma proximidade maior”.
Aqui verificamos uma preocupação da psicóloga, talvez com as questões da ética na
profissão, mas também uma dúvida com o tipo de relações que trava na escola, um vínculo
comedido. “Eu acredito, como profissional de psicologia, que se possa até ter essa
proximidade, mas não tanto, que acho que afeta um pouco, o nosso olhar, o nosso trabalho
dentro da escola. Eu já consegui trabalhar com muitos alunos isso, de esclarecer. Sou um
profissional de ajuda? Sou, mas fora da escola a relação é outra. Na escola, lá eu sou uma
profissional que vai escutar, vai acolher, que vai sugerir algumas orientações, mas isso não
constitui uma amizade, porque envolve técnica, nem tanto neutralidade, mas uma conduta
técnica.
4) Grau de satisfação/insatisfação:
A Psicóloga se considera satisfeitíssima. Observa que suas metas são atingidas e que
de alguma forma esse sentimento é respaldado pelo respeito que tem na escola. “... eu vejo
que o psicólogo é importante na escola, me sinto também valorizada e sinto que tenho um
espaço aberto para desenvolver meus projetos, desenvolver o que eu penso na psicologia
escolar. Eu acho que lá o profissional é bem visto, é respeitado, tem espaço para trabalhar,
para desenvolver projetos”.
103
Psicóloga F.
1) Práticas:
a) Níveis de escolarização que intervém:
Sua atuação está voltada para atender uma clientela de pessoas com deficiência,
inseridas no programa EJA (Educação de Jovens e Adultos), os quais são avaliados e
atendidos por uma equipe de psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, neurologistas e
outras categorias profissionais.
b) Planejamento das ações:
Suas ações na instituição são planejadas, por solicitação da direção e por considerar o
planejamento como um norte para o seu trabalho. “No final do ano, nós relatamos tudo que é
feito no decorrer, de cada semestre. Então são dois relatórios por semestre. Porém, no final
do ano se faz um planejamento das novas ações a serem desenvolvidas no ano seguinte; por
exemplo, estamos em 2009, no final do ano, nós vamos planejar, juntamente com as outras
colegas, já, um planejamento, alternativas, ações, melhor dizendo, para o próximo ano, que é
o ano de 2010”.
c) Desenvolvimento da prática no espaço escola:
Sua função é fazer triagem e avaliação diagnóstica. Faz também atendimento em
grupo. Fala da evolução do seu trabalho desde que começou e das necessidades de alterações
nessa prática. “Nós trabalhávamos numa visão mais clínica, hoje não, nós trabalhamos numa
visão puramente educacional. Antes era um trabalho mais voltado para o individual, para um
acompanhamento mais individual e hoje é mais grupal. Até porque nós estamos trabalhando
a questão da inclusão, o processo de conscientização dessa inclusão. E esse trabalho é feito
com palestras também, trabalhos em grupo, com dinâmicas de grupo, que se estabelece a
conscientização tanto para o aluno como para a família”.
104
e) Demandas mais intercorrentes:
Conforme a Psicóloga F, as demandas mais intercorrentes que recebe no seu dia a dia
são de pessoas com deficiência intelectual, que segundo ela, eram chamadas antes de
deficientes mentais, destacando também que tem pessoas com síndrome de Dawn, autismo,
hiperativo associado com a deficiência intelectual e outras situações também que no decorrer
do processo vão se estabelecendo no seu trabalho.
e) Mudanças da prática de quando começou até o momento:
A psicóloga afirma que seu contrato com a instituição é como professora, mas exerce
a função de Psicóloga e que isso acontece também com as outras categorias que compõe a
equipe interdisciplinar. “Todos são contratados como professores.” Essa informação
contraria o Quadro 15 do perfil sócioprofissional que traz percentuais de profissionais
contratados como PE, mas que exercem outras funções na escola, enquanto esta profissional
relata que seu vínculo empregatício é como professora e exerce a função de psicóloga.
Relata que sempre teve um fascínio por esta área de atuação em psicologia e isso a
levou realmente a trabalhar principalmente com a educação especial, que é uma das áreas que
mais se identifica. “Hoje ainda estou trabalhando, na modalidade educação inclusiva, na
rede regular de ensino”.
Começou de fato sua atuação em PE trabalhando com avaliação e diagnóstico na
Secretaria de Educação do Estado, há 18 anos, após se submeter a um concurso para
professora, com contrato de 20 horas semanais. Há dez anos exerce a função de Psicóloga
Escolar em um centro de atendimento a pessoas deficientes, antes conhecido como escola
para pessoas especiais e que hoje se transformou em um centro de profissionalização para
deficientes intelectuais.
2) Expectativas do gestor:
As maiores solicitações que lhes são feitas, estão voltadas para palestras e trabalho
de conscientização na instituição ou em outros locais, sempre na perspectiva de inclusão de
105
conscientização em relação à inclusão. Muitas dessas palestras são proferidas para as mães
das pessoas atendidas. Relata da dificuldade em conscientizar, pela resistência das pessoas em
aceitar o diferente. “Alguma mães ainda resistem em estar colocando seu filho na rede
regular de ensino, até porque sofrem preconceito e isso aí faz com que a mãe tenha essa
resistência”.
Afirma a Psicóloga que expectativas por parte dos gestores e também da família, são
que tenha uma evolução. “A expectativa muito grande da família é a evolução que pelo menos
melhore um pouco, que daquela vez que ele entrou num primeiro momento e que com seis
meses mais ou menos a gente percebe que a família já começa de qualquer forma a cobrar
um pouquinho do profissional”.
3) Dificuldades:
Ao tempo em que é cobrada por resultados, relata que existe uma carência muito
grande de espaço e de material para melhorar o acompanhamento. Outra dificuldade é na
relação com o professor por não procurar o serviço de psicologia. Diz que sempre solicita ao
professor: “Olha, algum problema que tenha em sala de aula, é importante que você nos
procure”, diz que o seu suporte necessita desse encaminhamento por parte do professor que é
quem está em sala de aula, diretamente com o sujeito a ser cuidado, mas este não procura.
Com relação à família existe a cobrança, a ansiedade que o filho dela fique bom com duas,
três sessões ou acompanhamentos. Não aceitam a demora.
Faz críticas a carência de estrutura física mais adequada o que, na sua opinião
viabilizaria sua prática, principalmente com a nova proposta de atuação. “Nós teríamos que
ter um espaço melhor, porque realmente a gente sente falta de um espaço maior, nosso
espaço é pequeno, principalmente porque nós trabalhamos atualmente com grupos e um
grupo ele necessita de um espaço maior, com certeza, a gente faria um trabalho muito mais
produtivo do que as salas que nós temos atualmente”.
Sente necessidade na avaliação e triagem de aplicar teste, por exemplo, para entender
melhor a dificuldade do usuário do serviço, mas a instituição não adquire este material e
mesmo que seja solicitado ela não faz, pois tem a consciência que uma avaliação não deve ser
106
feita de qualquer jeito. “... a questão da aplicação de testes, às vezes a casa necessita, mas
não temos esse material e eu não aplico, não faço nenhuma avaliação psicológica se
realmente vierem me pedir para um diagnóstico, da mesma forma, as outras psicólogas
também fazem.”
4) Grau de satisfação/insatisfação:
Declara-se muito satisfeita e ressalta a sua gratificação pelo trabalho. “Ah! Para mim
é uma grande satisfação, eu adoro fazer esse trabalho, é um trabalho que eu desenvolvo
assim, já há dezoito anos. Tenho grande experiência na área, a cada dia que passa eu estou
me capacitando, fazendo novos cursos e para mim, é uma área espetacular. Sou muito
sensível a esse trabalho, porque trabalhar com pessoas com deficiência, precisa você ser
sensível, precisa você gostar, ter amor e carinho, porque não é um trabalho fácil, é um
trabalho difícil, às vezes a gente chora por dentro, mas não pode externalizar esse choro, até
para não deixar a mãe em uma situação difícil”.
Convergências e Divergências na prática dos psicólogos.
Assinalamos a seguir, convergências e divergências nas intervenções dos Psicólogos
Escolares. Identificamos que todos os profissionais entrevistados iniciam sua prática através
dos estágios curriculares vivenciados no período de graduação, atuam com o todo da escola
(aluno professor e família), desenvolvendo ações planejadas, quer sejam por solicitação do
gestor ou por perceberem o planejamento como indispensável para sua atuação cotidiana.
Convergem ainda quanto ao grau de satisfação com a prática e quanto ao sentimento de
valorização por parte da comunidade escolar bem como, quanto à espectativa do gestor ao
esperar respostas imediatas das situações demandadas.
Em outros aspectos, identificamos divergências nas práticas dos sujeitos pesquisados,
principalmente pelos espaços, níveis de escolarização e ou clientela atendida. Alguns atuam
exclusivamente com demandas de inclusão, quer seja dentro das escolas convencionais ou
ainda em espaços exclusivos para acompanhar pessoas com deficiência intelectual na rede
pública. Para alguns, as dificuldades dizem respeito à falta de estrutura física ou material, à
negligência da família em função de problemas econômicos ou conflitos familiares, enquanto
107
para outros, consideram como dificuldade o não participar do planejamento pedagógico, da
elaboração do projeto político pedagógico da escola ou ainda a dificuldade de trabalhar em
parceria com os psicólogos clínicos fora da escola. Outros divergem quanto à percepeção do
tratamento equivocado que o Psicólogo Escolar recebe, desde a percepção ilusória sobre as
soluções imediatas, das dificuldades que a escola tem em perceber as diferenças e as
especificidades do aluno e do próprio trabalho do PE até a percepção deste profissional como
um apoio ao cuidado com o aluno ou como alguém indispensável na escola.
5.2.2. Entrevistas com Gestores:
Ao conduzir o levantamento de dados qualitativos via entrevista com gestores,
adotamos quatro aspectos conforme os objetivos estabelecidos: 1) Identificação do tempo e
necessidades de contratação do PE para a instituição, 2) importância do trabalho deste, 3)
grau de satisfação com o fazer do psicólogo na escola. Entrevistamos três gestores em
diferentes contextos educacionais, sendo dois gestores de escola popular e um da rede
particular de ensino.
Com a intenção de preservar a identidade dos sujeitos entrevistados, nomeamos os
participantes a partir da seguinte denominação: Gestor A, Gestor B, Gestor C.
Gestora A.
1) Tempo e necessidades de contratação do PE:
Conforme a Gestora A, o serviço de psicologia na escola, deu seus primeiros passos
em 2004, quando começou receber estudantes para estagiar. Em 2009 reconhecendo a
necessidade deste profissional, resolveram contratá-lo. “No início do ano, a gente começou
com duas, mas depois com a necessidade de fazer uma redução das despesas, uma foi
demitida, mas não uma necessidade assim nossa, necessidade do mantenedor”.
2) Importância do trabalho:
a) Solicitações:
108
A Gestora A, afirma que reconhece a necessidade do Psicólogo na escola e tem
dimensão do seu papel ou, aliás, da sua importância que são muitas e que ultrapassam a
função exclusiva do PE. “A gente tem todo tipo de situação, a primeira coisa assim que a
gente tem que ver é a dimensão que os pais, por exemplo, e os alunos têm do que seja o
psicólogo e seu papel dentro da escola. Então assim, o psicólogo aqui, ele não é só o
psicólogo escolar, digamos assim, que vai tratar da aprendizagem, que vai conversar com o
aluno, que está tendo um comportamento não bom, na sala de aula. Não é isso, o aluno chega
à escola o psicólogo tem que conversar o pai brigou com a mãe, a mãe tentou se suicidar,
como já houve situações, a psicóloga tem que vir conversar. Então assim, a psicóloga faz um
papel bem mais amplo do que um papel, digamos assim, de um Psicólogo Escolar, é o
psicólogo no sentido mais amplo mesmo, sabe”.
Ressalta a sua percepção quanto às carências afetivas dos alunos e considera isso
com o momento social vivido, “... todos estão correndo atrás de um ombro amigo, querendo
contar uma história, querendo ser ouvido. Nossa psicóloga trabalha de manhã e de tarde, em
tempo integral e ela não para um minuto. Porque o tempo todo, ela está fazendo atendimento,
e as mães procuram muito, ela é muito procurada pelas mães”.
Afirma que atende alunos do quarto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do
ensino médio e que são em geral alunos que vieram de uma realidade de escola pública. “...
todos alunos novos que vieram de outras escolas, de outras realidades, não só de escola
pública também, mas principalmente de escola pública” . Diz que os mesmos não têm rotina
de estudo, e que isso tem sido também um desafio para o serviço de psicologia e se tornou um
pedido constantemente. “... quando eu vejo uma dificuldade eu peço: “Faça um horário de
estudo para fulana”. Aí ela vem: “Professora já fiz o horário”. Aí eu digo: “Pois volte lá para
ver o que aconteceu”; às vezes eu mesma volto.
b) Como percebe o desenvolvimento da prática do psicólogo:
Quanto à percepção da gestora sobre a atuação do PE observamos que este destaca
sua concepção com a responsabilidade, coerência e ética da Psicóloga. Verificamos essa
concepção quando afirma: “eu considero boa, até agora a experiência que nós tivemos aqui,
uma postura sempre muito coerente e responsável. ... ela é muito discreta, ela é muito
109
atuante, sabe assim aquela pessoa que atua calada, calada na maneira de falar assim, ela
está presente, a gente sabe que está presente o tempo todo e às vezes quando a gente precisa
de um retorno, que acho que isso é uma coisa muito importante para uma escola.. Então
assim, tudo que acontece, que a gente vem conversar aqui, daqui a pouco ela volta para dar
um retorno, professora, aquilo que você me pediu está aqui “.
Ressalta que pela realidade da clientela, a profissional acaba atuando um pouco em
muitas áreas, entende como essencial o trabalho da relação professor-aluno, “...o aluno está
precisando de orientação, mas o professor também precisa de orientação às vezes, precisa
parar e refletir sobre a sua prática. “Outro aspetos, são as reuniões com os pais, reuniões
com funcionários, auto-estima de funcionários, a própria valorização desses funcionários
pela escola, esse entendimento que eles têm da escola, fazer dessa escola, uma escola sua,
assim que eles possam cuidar dela, zelar. Então assim, a gente está sempre pedindo assim,
solicitando a presença da psicóloga para pensar alguma coisa para gente trabalhar, texto de
estímulo para os alunos, uma orientação assim no caso das profissões, que já é uma coisa
bem mais sistematizada. Então, nós temos desde o ano atrasado no terceiro ano, que é a série
que eles realmente fazem escolhas. Então o seminário das profissões, é o serviço de
psicologia que encaminha. Um aspecto que também é muito importante é a reunião paisprofessores. Então, a psicóloga que agora nós estamos só com uma, então a primeira fala é
sempre a dela”.
Conforme a gestora, a psicóloga também faz reflexões com alunos sobre o que está
certo ou errado sobre valores, conservação da escola e principalmente o sentimento de
valorização desta, e que na verdade o serviço de psicologia na escola está incluindo
basicamente em quase todas as atividades.
c) O que espera mais da atuação desse profissional:
Para a Gestora, em virtude do perfil da comunidade que trabalham, principalmente
pelas carências e conflitos familiares, sente uma carência no trabalho da psicóloga mais
voltado para as famílias de modo que possam estar dirimindo problemas advindos das
famílias com reflexo na sala de aula. ”A gente quer trabalhar grupo com as mães, com os
pais, fazer um trabalho mais voltado para a família. ...eu acredito que o psicólogo, eu quero
110
que ela avance na questão do tempo, não por falta de compromisso ou coisa parecida, mas
assim que a gente possa fortalecer, trabalhar e desenvolver esses grupos de convivência com
os pais, para a gente fortalecer esse laço do pai com a escola, porque aí ele entende melhor a
escola, porque o quê que acontece hoje: os pais, eles queriam muito a escola, eles querem
muito a escola, mas assim fora o fato de que alguns pais não têm o conhecimento científico,
técnico para ensinar o seu filho em casa, mas ela não tem de certa forma uma dimensão da
escola maior, por exemplo, eu não sei ler e escrever, mas eu posso dizer: “Meu filho, o que
você estudou hoje? Conta para mim o que foi que sua professora fez? Ou então conta uma
historinha”. Então, isso, somos nós que vamos ensinar para os pais, porque eles não fazem
isso, porque na escola de onde eles vieram, eles não faziam”.
A Gestora continua
esclarecendo que muitas vezes os pais já vêm com uma atitude agressiva, como se fossem
bater no professor e nesse momento é preciso agir com um pouco mais de tolerância pois
entende que eles gostam da escola, mas não entendem como a escola funciona. “... Ele tem
que compartilhar também dessa educação, independente do seu grau de formação”.
Insistimos questionando sobre o que o psicólogo pode fazer, nessa situação e a
gestora afirma: “...porque eles têm uma aceitação muito grande do psicólogo. Eu não sei se
porque eles vêm de outras experiências, porque já conhece o trabalho do psicólogo noutras
circunstâncias e talvez eles achem até que o psicólogo possa fazer mesmo um pouco de tudo.
Cuidar do comportamento, cuidar da auto-estima, cuidar dos problemas financeiros, juntar
marido e mulher que tão se separando. Então, eles olham o psicólogo com bons olhos,
porque elas são solicitadas, um dia desses uma mãe chegou: “Professora eu estou com um
problema seríssimo de depressão”, aí fui conversar com ela. Ela disse: ”Quero conversar
com a psicóloga”. Que é um sinal, ela tem uma compreensão que tem um profissional com
essa formação”. Aqui verificamos na fala da Gestora que o trabalho da Psicóloga vai além
dos muros da escola, ultrapassa as questões de aprendizagem.
“... Veja só! É uma mãe extra e não é a filha dela que está com problema, a menina
dela acompanha direitinho, bonitinho, é comportada, tudo certo com a criança. Agora a mãe
dela está vivendo um problema pessoal muito sério e veio aqui na escola me pedir para eu
marcar com a psicóloga. Está marcado, a psicóloga está fazendo o atendimento dentro do
possível, porque pelo menos, lógico não é o foco maior nesse momento, mas também a gente
não pode dizer não para essa mãe.
A Gestora deixa claro a dimensão do atendimento
111
comunitário e nessa perspectiva também solicita da Psicóloga como uma necessidade da
escola. “A gente já chegou a visitar a mãe daquela criança com problema particular, o
psicólogo já visitou. Então assim, para o pai que tem um filho na escola isso também de certa
forma é um privilégio, porque ele tem um tipo de atendimento diferenciado. A nossa escola já
atendeu mães em casa, pessoas que estavam vivendo situações que não tiveram condição de
chegar até a escola. Que é um drama de certa forma, que afeta o filho que está na escola.
Então, o psicólogo ele tem que chegar até essa família também. Quer dizer, a primeira
dimensão é o aluno, a segunda dimensão seria a família. Porque se essa família também não
estiver bem, atinge o filho e aí vice-versa”.
3. Grau de satisfação:
A Gestora afirma que está muito satisfeita, mas acredita que haja uma sobrecarga,
porque antes trabalhavam com duas psicólogas e agora estão com uma só. “... ela tem se
esforçado muito para dar conta e eu considero muito positiva, ela não espera só que a gente
solicite, ela sempre vem com sugestões. Agora mesmo, a gente estava achando o segundo ano
muito desestimulado, reclamando demais, achando que estava estudando demais, achando
que está para morrer, sabe essa coisa assim, que chega assim perto do meio do ano, eles dão
um cansaço, uma preguiça, uma coisa que eu não sei explicar bem o que é. Então, ontem
mesmo ela chegou: “Professora o que você acha da gente fazer um projeto com eles, ouvindo
um pouco e vendo quais são as solicitações deles, para depois a gente jogar para eles?”. Mas
assim, vamos colocar coisas possíveis para gente trabalhar em grupo, então assim, ela já
veio com essa sugestão: “Professora é viável, a senhora acha?”“. Acho que o trabalho do
psicólogo é um trabalho contínuo, eu acho que ele complementa, mas não só complementa,
eu acho que ajuda mesmo. ...ela media esses meus não necessários, mas de forma que o
aluno não sinta em mim, somente aquela pessoa que chega de certa forma para castigar,
para negar. Então assim, porque escola não é só negação, mas ela precisa também dessa
disciplina.”.
.
Gestora B.
1. Tempo e necessidades de contratação do PE:
112
A Gestora B, afirma que as primeiras experiências com psicólogos na instituição
foram mais ou menos nos anos 90, quando existia uma tentativa de aproximar essa área de
conhecimento com a educação, pela necessidade que surgia de alguém para ouvir os alunos,
para fazer uma leitura do comportamento destes e assim subsidiar o professor nesse aspecto.
“... na realidade a motivação em contratar esse profissional sempre existiu a partir do
momento que a gente sempre procurou entender o aluno, os questionamentos, as dúvidas que
nós tínhamos em relação a alguns comportamentos, algumas carências, algumas
necessidades que nós não conseguíamos fazer leituras significativas é que geraram essa
necessidade da gente estar buscando um profissional que pudesse estar subsidiando tanto o
aluno quanto o professor, para que o trabalho pudesse fluir da melhor forma possível. Essa
sempre foi a principal meta”.
2. Importância do trabalho:
a) Solicitações:
Quanto ao que costumam solicitar ao psicólogo escolar na escola, a Gestora B diz
que: “Principalmente nos ajudar a ter esse olhar pelo aluno, conseguir ampliar essa visão do
aluno nessa área que nós não temos essa formação específica, porque todo o quadro de
professores da escola, ele vem da área de educação, que paga disciplinas de psicologia, mas
na realidade, a gente sentia essa necessidade de ter um profissional que pudesse estar
ampliando esse olhar para o aluno de uma forma integral”.
b) Como percebe o desenvolvimento da prática do psicólogo:
Informa a gestora, que foram várias tentativas para que o serviço atuasse na
perspectiva que esperava. “foi muito no ensaio e erro..., a princípio, o nosso maior desafio
foi exatamente fazer com que o psicólogo entendesse que ele não poderia ficar restrito a uma
sala, que ele precisaria estar na vivência, estar na prática, estar no convívio com os alunos,
para poder fazer essas interferências isoladamente, individualmente, mas não pegar o aluno
fora do contexto. Esse foi o maior desafio, que hoje eu acredito que ele flui com muita
naturalidade. Durante todo o processo do ensaio e erro, nós percebemos que hoje já existe
essa preocupação. Então, o psicólogo na escola, ele vive o dia a dia da sala de aula, ele
113
observa o comportamento do aluno, ele observa o comportamento do educador, ele observa o
comportamento da direção da escola e isso facilita e muito esse trabalho de estar se
aproximando mais do aluno e do professor, que eu acho que é a meta principal dentro desse
trabalho: dar suporte para o aluno e dar suporte para o professor. Então, o que a gente
solicita é que o psicólogo tenha esse olhar, esse olhar de atuação, de prevenção, de estar
refletindo com o educando e com o educador formas de se aproximar, uma visão diferente,
mais humanística, mais pessoal mesmo do aluno. Eu acho que isso a gente já vem
conseguindo. Então, não vem um fato isolado, sempre tem uma história, e nessa história tem
o educador e tem o psicólogo, que para mim, só tem as visões um pouco diferentes, mas que
na realidade tem que convergir para o mesmo ponto”.
Conforme a gestora, havia antes um trabalho isolado e que de certa forma a prática
pedagógica da instituição estimulou esse profissional a trabalhar com o todo da escola. “A
princípio era uma resistência muito grande, havia uma tendência à psicologia clínica mesmo,
e isso trazia alguns entraves, porque a escola não atendia a toda a demanda e também, a
gente prefere trabalhar com a linha mais de precaução, de prevenção, de atendimento, de
conhecer mais os alunos em todos os contextos. A gente só conhece a partir do momento em
que a gente está integrada a eles”.
Hoje, segundo este, na perspectiva que os Psicólogos trabalham, a família é incluída
em todos os aspectos, e admite que a escola não se faz sozinha “... a gente não consegue
trabalhar sozinho e uma das coisas que a gente tem lutado muito é para que a família esteja
presente nesse papel de educação. Então, eu acho que o psicólogo ele consegue, ele nos
ajuda muito quando ele trabalha com esses programas, em que ele traz a família para escola,
em que ele reflete com a família, que ele ajuda numa visão diferenciada com a família, ajuda
a família até a enxergar melhor a realidade na qual está inserida, porque eu acho que
realmente hoje em dia, a família anda muito insegura e ainda muito afeita aos modismos e
com muito medo de que o filho seja diferente dentro desse grupo, e assim, isso precisa de um
suporte maior, eu acredito que precisa de um suporte maior, para poder dar suporte aos
filhos”.
114
c) O que espera mais da atuação desse profissional:
A Gestora comenta da importância da parceria do Psicólogo para a escola e por issso
diz ela:
“A gente espera que ele continue nos ajudando nesse aspecto, essa é a nossa meta,
quando a gente contrata um profissional nessa área para nos ajudar nessa abordagem, é
exatamente que ele consiga ajudar nesse olhar”.
3) Grau de satisfação:
Da satisfação com o trabalho do psicólogo na escola afirma: “Eu estou satisfeita,
hoje trabalho com um grupo de pessoas que eu acredito que está sempre me ajudando a
enxergar o aluno de uma forma diferente. Então assim, uma coisa é a gente se preocupar com
o conteúdo, com a aprendizagem, com o desenvolvimento e o psicólogo. Quando a gente
conversa com os pais e com as próprias crianças, a gente está mostrando para eles alguma
coisa a mais e isso é o que todo educador deveria ter, mas a gente não tem essa capacidade,
isso não é uma coisa bem trabalhada até nas próprias licenciaturas, na Pedagogia. Então,
isso cria um vácuo e hoje, por exemplo, quando eu falo com um pai, eu mostro a visão
educacional, a visão pedagógica e a visão psicológica, porque todos esses alunos são
avaliados também psicologicamente. Então, eu acredito que hoje, a gente consegue enxergar
o aluno de uma forma mais ampla, entendeu? Então isso é muito importante, porque não fica
uma coisa só do professor, do coordenador, mas que tem o psicólogo, tem a ajuda de mais
alguém. Ás vezes eles solicitam a interferência de um outro profissional e isso permite que a
gente tenha uma visão mais clara do aluno e possa estar ajudando mais nitidamente. Então,
esse é o objetivo”.
Gestor C.
1) Tempo e necessidades de contratação do PE:
A escola funciona há mais de 40 anos. Antes era uma escola rural, hoje já é
considerada de zona urbana. Localiza-se em meio a várias comunidades carentes e seus
alunos são advindos destas comunidades. “Há cinco anos, começamos com uma psicóloga
115
que fazia um trabalho clínico, não havia interação com a equipe, confesso que não me
satisfazia... ela se aposentou, hoje temos essa e eu estou muito satisfeito”.
2) Importância do trabalho:
a) Solicitações:
“Aqui enfrentamos muitas dificuldades, ela é, portanto um braço direito. São muitos
problemas sociais e consequentemente as dificuldades de aprendizagens surgem, então eu
preciso que ela esteja atenta aos alunos, e muitas vezes aos pais também. Eu percebo que os
alunos gostam muito dela e isso é um parâmetro para confiar....”
O Gestor passa a afirmar que a psicóloga tem sido fundamental, para ajudar a família
na compreensão das dificuldades encontradas pelos alunos, de modo que eles não desistam de
estudar. “Ela sempre está nas reuniões; aliás toda a equipe. Aqui ninguém trabalha isolado.
Tem o Conselho Deliberativo que se reúne toda semana ou sempre que necessário e nesse
momento cada profissional dá sua opinião sobre aquele aluno”.
b) Como percebe o desenvolvimento da prática do psicólogo.
Ao ser questionado sobre o serviço de psicologia, relata satisfação, principalmente
pela proposta de trabalho que é de interdisciplinaridade. Na sua escola atua uma equipe de
assistente social, nutricionistas, psicóloga, pedagoga, educador físico, que juntamente com
direção e coordenações formam o conselho deliberativo que se reúne toda semana para
discutir as questões educativas e dificuldades dos alunos. “Ela faz reunião, ela participa de
todos os projetos da escola, escuta aluno, faz relatórios e está sempre disponível”
c) O que espera mais da atuação desse profissional:
O gestor fala da necessidade da psicóloga permanecer mais tempo na instituição, mas
considera que não teria condições de arcar com mais honorários, pois no momento a escola
precisa passar por uma reestruturação. “Ela já faz muito, não tenho como pedir mais, às vezes
até aos finais de semana ela atua”.
116
3) Grau de satisfação:
“Se eu tivesse mais duas com a disposição que ela tem, seria muito bom...”. “Se
tivesse uma outra psicóloga com a metade do potencial da que tem para agregar e estender a
atuação com as famílias seria excelente. A psicóloga além de técnica é uma amiga dos meus
alunos e participa de todos os projetos da escola”.
Breve Resumo
Verificamos que os gestores demonstram satisfação com a atuação dos psicólogos e
percebem a importância deste profissional nos cuidados sociais, nas dificuldades de
aprendizagem e na atenção à família. Alguns afirmam que a contratação do profissional de
psicologia passou a existir como uma tentativa de aproximar essa área de conhecimento com a
educação; pela necessidade que surgia de alguém para ouvir os alunos, para fazer uma leitura
do comportamento destes, ou para responder o que a educação não estava conseguindo e
assim, subsidiar o professor nesse aspecto. Todos deixam claro a necessidade de um
profissional que esteja atento ao “todo” da escola. Na visão destes, o psicólogo na escola
vivencia de maneira preventiva o dia a dia de toda a escola facilitando o trabalho de mediação
e solução de questões que a educação não responde.
Demonstram entender a diferença entre as áreas de atuação da psicologia, mesmo
assim, solicitam prontidão desse profissional para todas as práticas e em diferentes momentos
dentro da escola ou em outros espaços, como: hospitais, visitas às famílias ou encontros aos
finais de semana. Em suma, solicitam uma atuação comunitária, escolar, clínica e hospitalar.
5.2.3. Entrevistas com Alunas:
Na construção dos dados sobre os alunos, adotamos quatro aspectos conforme os
objetivos estabelecidos: 1) Do conhecimento do profissional 2) Da opinião sobre o fazer
desse profissional 3) Da importância do trabalho do PE para o aluno. 4) Da utilização do
serviço.
117
Com a intenção de preservar a identidade das alunas entrevistadas, nomeamos as
participantes a partir da seguinte denominação: Aluna A, Aluna B, Aluna C.
As entrevistas com alunas foram coletadas para identificar se as mesmas conhecem o
profissional de psicologia que atua na escola, a opinião destas sobre o que faz o Psicólogo
Escolar, a importância do seu trabalho para a aluna e se já precisou alguma vez deste
profissional. Para tanto foram entrevistadas três alunas de diferentes escolas, idade e séries.
Todas relatam que conhecem o profissional de psicologia que atua na escola, que reconhecem
a importância do seu trabalho e que o percebem como uma pessoa amiga na escola. Veja o
que dizem as alunas:
Aluna A:
1) Conhecimento do profissional:
A aluna diz conhecer o PE na escola e que muitas vezes já necessitou dos seus
serviços. “... uma vez, eu estava muito triste, meu pai tinha brigado com a mãe, ele sempre faz
isso quando bebe, é só receber o dinheiro (silencia, se emociona , chora), eu não aguento
mais... Quase não vim para a escola, aí lembrei que podia conversar com ela e isso me
aliviou muito”. “A psicóloga é uma amiga, ela me ajuda em todos os aspectos, na minha
vida pessoal e na minha escola”.
2) Opinião sobre o fazer desse profissional
A aluna se refere à escola esclarecendo ser uma escola de periferia, com uma
comunidade carente e que os professores se envolvem muito mais do que só dar aula e que
assim também é a psicóloga. Ela trabalha com vários projetos e que estes geralmente
acontecem aos finais de semana. “Estou muito satisfeita com ela e ela me ajuda e ajuda
meus colegas não só na aprendizagem mas em todos ao aspectos, principalmente também
quando estamos com problemas nas nossas famílias que estes problemas também interferem
na nossa aprendizagem. Se na família tem briga, ou se o pai é alcoólatra ou qualquer outro
problema , isso atrapalha pois a gente vem para a escola triste, muitas vezes chorando e isso
ela nos chama, conversa,vai até nossa casa se for preciso e a gente fica mais tranquila”.
118
3) Importância do trabalho do PE para o aluno.
A aluna A diz que considera muito importante a presença da psicóloga na escola para
que entenda os alunos. Ela é uma amiga, que escuta os alunos quando eles estão com
problemas, mas não só isso, na verdade ela faz muito mais, por exemplo: as reuniões dos pais
os grupos de alunos.
4) Utilização do serviço.
A referida aluna, afirma que todos os alunos sempre que necessitam procuram a
psicóloga, pois têm uma relação de amizade.”ela é nossa amiga, ela também chama a gente
para conversar quando a gente tira nota baixa ou quando ela percebe que nós estamos triste.
Esse mês teve um campeonato de badminton e tinha uns meninos que não queriam aceitar o
resultado, daí o diretor chamou a psicóloga e ela conversou com eles e acabou o
problema...”
Aluna B.
1) Conhecimento do profissional:
A aluna demonstra conhecer o Psicólogo Escolar.
2) Opinião sobre o fazer do Psicólogo Escolar:
Durante toda a entrevista, a aluna B demonstra não conhecer a dimensão do trabalho
do psicólogo, insiste em dizer que é um amigo. “Na minha opinião, eu acho que ele tá ali
para ser um amigo do aluno, quando ele está precisando, assim em qualquer momento,
porque a gente sabe que, as vezes a gente quer contar com alguém, a gente não tem coragem
de se expressar com um amigo, com os pais, aí a gente procura a ajuda de uma pessoa que
seja experiente nesse assunto, que estudou sobre isso, para poder buscar ajuda. Assim, eu
acho que seria importante para reanimar o aluno e sempre está ali como um amigo que tem
experiência maior, que tem uma capacidade de orientar no que você pode fazer, o que você
deveria fazer”.
119
3) Importância do trabalho do PE para o aluno:
A aluna demonstra não conhecer outro tipo de ação do PE na escola uma vez que
todos os questionamentos feitos a ela se referiam apenas a sua situação, e chega a expressar:
“Não. Eu só conheço esse tipo de atuação”.
“Assim, eu espero que ele consiga me reanimar, sempre quando a gente está para
baixo, ou então, sempre tem alguma resposta para aquelas coisas que a gente normalmente
assim se pergunta no dia a dia: Por que eu não estou conseguindo tirar aquela nota? Ou
então: Por que aquela pessoa não está querendo ser minha amiga? Alguma coisa assim do
tipo”.
4) Utilização do serviço:
A aluna se refere a uma atenção que vem recebendo do Psicólogo em um momento
de depressão que se encontra. “... Nesses últimos tempos, essas últimas semanas, eu tenho
entrado em contato com psicólogos, porque eu estava um pouco em estado de depressão,
assim por conta de escola, amigos também influenciaram isso, e eu estava assim muito sem
rumo, sem sentido, aí eu procurei a ajuda de psicólogos. A gente ainda está entrando em
contato e estou me sentindo bem melhor”
Aluna C.
1) Conhecimento do profissional:
A aluna relata sobre duas profissionais que atuam na escola e que as mesmas fazem
com que ela se sinta muito bem.
2) Opinião sobre o fazer do Psicólogo Escolar:
“Bom, os nossas psicólogas elaboram vários projetos para a gente tanto conhecer
mais as pessoas, como aprender a lidar em grupo ou então desenvolver uma característica
nossa, que a gente tem que aprender a se adaptar às pessoas, porque todas as pessoas são
diferentes, então, a gente aprende a compreendê-las e a respeitá-las. É isso que elas fazem,
120
elas desenvolvem vários projetos, as meninas fazem vários projetos que trazem coisas novas,
tanto nas profissões, porque a gente aprende muito. A cada projeto, a gente aprende muito,
as profissões que elas trazem, é uma dinâmica divertida, tipo como um relaxamento para
gente, que a gente vive numa vida muito atribulada, que a gente vive praticamente o dia todo
dentro da escola e esse momento que a gente tem com elas é como se fosse um relaxamento,
como se fosse uma atividade física, que a gente se sente bem em fazer, praticar”.
A aluna relata sobre as escutas e orientações individuais e em grupo onde através
destes momentos aprendem se divertindo sobre autoconhecimento, autoavaliação, sobre
desempenho e praticam diferentes tipos de avaliação. Estimulam o desenvolvimento de
habilidades em equipe, para desenvolver características pessoais. “Quando estamos com ela, a
gente aprende muito, ela não cuida só da nota”.
Ressalta que a maioria dos alunos da escola vêm de escolas públicas e na escola de
origem não tinham uma rotina de estudo, que a psicóloga é quem na verdade desenvolve este
papel de incentivá-los a desenvolver o hábito de estudo. “Quando a gente tira uma nota
baixa, a gente fica muito triste, porque ninguém quer tirar uma nota baixa, todo mundo quer
sempre estudar para dar o melhor de si e o que elas fazem? Elas chamam a gente,
conversam, perguntam o que está acontecendo, o que precisa mudar. Elas incentivam a gente
a ver quais as nossas limitações e também expandi-las para ver o que a gente pode melhorar,
porque a gente sempre vai poder melhorar em algum sentido. Então ela chama a gente,
conversa, para a gente expor o que a gente está vendo, o que está sentindo, porque muitas
notas baixas as vezes, levam a gente a ficar muito triste, muitas vezes ficar chorando ou então
não querer conversar, aí a gente pede para conversar com elas e nessa conversa, ela nos
indica alguma sugestão para a gente praticar ou então para a gente melhorar”.
3) Importância do trabalho do PE para o aluno.
A aluna ressalta em tom de descontração que se considera a maior frequentadora,
que quando começou o serviço de psicologia na escola, no primeiro ano ela reprovou. “Fiquei
triste, muito abalada, mas eu vi que eu não conseguia aprender muito, quando eu sai de uma
escola para vir para um ritmo diferente, se eu repetisse novamente, eu seria uma pessoa
totalmente diferente, porque eu aprenderia com os meus erros. A primeira psicóloga me
121
orientou muito, eu errei e percebi que daquela forma não dava certo e aí eu fui buscando
ajuda, tanto relacionado à escola como também dos assuntos pessoais que a gente discutia,
como família, alguma coisa assim que acontecia, às vezes eu ficava chateada, vinha,
comentava com ela e eu melhorava. Então, é uma coisa para eu não passar para os outros,
não descontar em ninguém, eu vinha e conversava com ela, para me sentir melhor. E esse
ano também está sendo maravilhoso, que as meninas estão fazendo vários projetos muito
bom para o terceiro ano, incentivando a gente a escolher a profissão certa, a escolher o que
a gente gosta, sem pensar nas coisas que venham posteriormente, porque se a gente escolhe o
que a gente gosta, a gente vai se dedicar e consequentemente, ter um futuro brilhante”.
4) Utilização do serviço:
Considera que os profissionais de psicologia poderiam dar uma contribuição bem
maior se os alunos dessem maior valor ao trabalho dos mesmos, se os alunos reconhecessem o
trabalho desenvolvido.
“...outros alunos não dão valor, acham que isso, que muitas vezes, as pessoas têm
uma ignorância ainda de pensar que psicólogo é coisa pra doido e acaba se restringindo a
isso e não busca as psicólogas...”.
A aluna se refere ao estado de mudança em que se encontram os adolescentes e que
nesse momento de mudança, ocorrem alterações de humor, (“... a gente muda muito, a gente
as vezes fica ignorante, às vezes se acha chato, ou então a gente não quer amizade com
ninguém”). Diz também que é aluno, filho, família e que na escola aprende e ensina, aprende
com o professor, com o psicólogo e com eles trava uma relação de amizade. “... a gente
ensina os professores, porque a gente aprende com eles e passa um pouco de ensino, porque
a gente tem uma relação muito de amigos mesmo e assim, o psicólogo igualmente, ele passa
para gente uma leveza. Eu acho assim, que se eu tiver um dia que fazer uma profissão, uma
profissão que eu me interesso muito é por psicologia. Por quê? Porque estes profissionais
estudam tanto a capacidade humana, que isso me interessa muito, como o senso de pensar do
ser humano, porque ele vai alargando caminhos que você nem pensava que existia e existe.
Então isso se torna maravilhoso, então para o aluno é como se fosse uma referência o
psicólogo de tranquilidade. Assim eles não deixam fluir o que eles vivem no meio interno
122
deles e passam a maior tranquilidade para a gente, que é o que a gente necessita, porque
essa vida de correria, de viver assim atordoado, muitas vezes a gente não para pra pensar.
Então, esse momento que ele vem para a gente e dar esse flash, nós paramos para pensar e se
espelhar nele. É como se fosse um autoespelho de tranquilidade, o psicólogo”.
Nesse momento, com a intenção de esclarecer sobre essa fala da discente sobre ser
aluno, família, insistimos para que a mesma continuasse comentando suas concepções. “ Eu
quero dizer que os alunos têm influências. Eles vivem dentro de um meio, em que eles sofrem
constantes influências, porque dentro de casa o filho tem que se comportar igualmente.
Muitas vezes, as pessoas pensam que é educação é só da escola, só que se a gente parar para
pensar, os pais também têm culpa, porque se os pais dão mau exemplo, os filhos vão seguir
esse mau exemplo. Então, a gente é assim, a gente é família, porque a gente aprende as
coisas da família, a gente sabe todos os costumes da família, mas ao mesmo tempo, a gente é
escola, porque a gente vem para escola, a gente aprende muito e isso influencia. Influencia
assim, por exemplo: as pessoas às vezes pensam que os filhos ficam muito tristes devido a
algo escolar, por exemplo: tirou nota baixa, os pais pensam que o filho está triste por isso,
muitas vezes, os filhos ficam tristes pelo comportamento dos pais. Os pais não têm tempo
para eles, ou então, não dedicam um certo momento para eles, mas assim, na nossa
comunidade, o que eu vejo é que os pais sempre buscam colocar o filho dentro de alguma
atividade. Tão tal que a nossa escola envolve várias atividades pela manhã, que faz com que
estejamos quase todos os dias pela manhã aqui, desenvolvendo atividades e isso para os pais
é como se fosse uma ajuda, porque no momento que eles estão no trabalho, eles não precisam
se preocupar com as crianças, porque as crianças vão estar na escola aprendendo o que elas
devem aprender, que é se comportar, é manter aquele ritmo e ao mesmo tempo, se divertir,
porque todas as pessoas têm o seu momento de lazer e também o seu momento de estudar e
tem que saber dividir isso. É isso”.
Breve Resumo
Na entrevista com os discentes, verificamos a falta de esclarecimento sobre o papel
do Psicólogo Escolar. Todos percebem este profissional como um amigo e solicitam muito
mais para intervenções e suporte em situações emocionais de conflito com família ou de
estados depressivos, o que demandava suporte de um profissional da área clínica.
123
6. CONCLUSÃO
O Estado do Piauí vive uma extrema situação de ambiguidade na área educacional.
Por um lado o destaque na educação privada e por outro, a crise na pública. Não é diferente
também a situação da prática do profissional de Psicologia Escolar, que assume uma vivência
construída gradativamente e solidificada em algumas escolas particulares e bem como a
carência dessa prática com crianças e adolescentes da rede oficial de ensino
Acreditamos que no caminho das investigações realizadas mobilizamos profissionais,
gestores e alunos e identificamos concepções positivas à respeito das práticas desenvolvidas
pelos Psicólogos na atuação cotidiana no espaço escola.
Na trilha da Psicologia Escolar pelo Piauí e em específico por Teresina, andamos por
caminhos diversos e identificamos profissionais e práticas também diversas. Como objetivo
primeiro, identificamos o perfil socioprofissional dos Psicólogos Escolares que hoje atuam em
escolas da capital e que foram convidados a participar da pesquisa, para tanto colhemos dados
sobre: Identificação; formação; atuação e ações práticas. Adotamos como norteadora para
identificação das práticas as orientações do CFP e da ABRAPEE, assim verificamos que suas
práticas não fogem às orientações da categoria.
Com os seis sujeitos psicólogos eleitos que foram submetidos à entrevista para
confirmação dos dados recebidos, adotamos quatro aspectos, conforme os objetivos
estabelecidos:
práticas;
expectativas
do
gestor;
dificuldades
e
grau
de
satisfação/insatisfação. Da mesma forma elegemos três gestores de modo a identificar o tempo
e
as
necessidades
de
contratação
do
PE,
importância
do
trabalho
deste
e
espectativas/satisfação e três alunos de diferentes contextos para averiguar, sobre o
conhecimento do profissional, a opinião sobre a prática, a importância do trabalho do mesmo
e sobre a utilização do serviço.
Identificamos ao longo da pesquisa que a grande maioria dos psicólogos são jovens e
iniciaram seu interesse pela Psicologia Escolar ainda no período de graduação através dos
estágios curriculares. Ressaltamos o interesse em se capacitar através dos cursos de
especialização e ou Mestrados em Educação. A metade dos psicólogos atua em equipe e 71%
124
atua em escolas particulares, o restante estão nos programas de avaliação e inclusão de alunos
em instituições da rede oficial de ensino.
A maioria dos profissionais atua também em diferentes áreas da psicologia, entre elas
destacamos PE/Clínica, PE/clínica/comunitária, PE/clínica/trânsito e 14% que atuam somente
como PE. Os Psicólogos na escola em sua grande maioria exercem função apenas de PE
(82%), o restante exerce a função de PE e Coordenação, Direção e de Orientador Educacional.
A literatura numa visão reducionista, traz que em um determinado momento da
história, a prática do Psicólogo Escolar era voltada para cuidar do aluno problema. A pesquisa
desenvolvida nos mostra uma vertente dinâmica, contextualizada e com um amplo leque de
ações em diferentes contextos do cuidado ao ser humano, ao aluno e à comunidade escolar
como um todo. O que vimos ao longo da pesquisa, foi, na sua grande maioria, psicólogos
atuantes focados em uma prática social humanista indo além das fronteiras do que
estabelecem as instituições que regulamentam o fazer psicológico nos diferentes espaços
escolares.
Dos Psicólogos Escolares entrevistados, observamos que na prática atuam em duas
vertentes; a vertente individual e a coletiva e ao mesmo tempo essas práticas se completam,
pois os sujeitos das ações educativas são personagens ativos e protagonistas das vivências.
Além destas, observamos por outro lado uma perspectiva de atuação em contexto de escola
particular bem estruturada com uma equipe e com todo suporte instrumental. Destacamos
outro pólo a partir de experiência em escolas de comunidades, que atendem crianças em
situações de risco e com a especificidade de família em conflito, principalmente pelas
dificuldades financeira e pela negligência.
Ao longo das falas através das entrevistas, verificamos que todos os profissionais
atuam em diferentes áreas no contexto escolar, pela característica dos espaços que estão
inseridos ou por uma solicitação dos gestores ou demanda da própria comunidade. Todos, de
um modo geral, atuam como profissionais generalistas. Acreditamos que a carência de
profissionais ou a dificuldade financeira da própria escola, como relata um gestor, possa ser o
gerador dessa prática.
Dessa forma, sua atuação se delineia por todas as vertentes da
comunidade escolar e dos contextos sociais, uma vez que a escola é uma instituição que
125
trabalha com pessoas, reflexo das situações vividas e que as questões sociais se não
trabalhadas, emergem consequências para a aprendizagem dos educandos. Identificamos que
o olhar individual, a escuta e o aconselhamento trazem em si a retórica da perspectiva clínica
e isso é preciso também existir na escola, por uma necessidade empática, principalmente em
situações de emergência e pontuais que surgem no dia a dia e que muitas vezes são
solucionadas numa perspectiva breve.
No contexto de atuação do PE muitas vezes o ser especialista é um entrave para o
desenvolvimento de suas ações; uma vez que o ser humano, o aluno, o professor, o pai, a mãe
é um todo e não parte. Para tanto, além da boa formação e atualização do PE verificamos que
este necessita conhecer também a história de vida do aluno e seu contexto de inserção de
forma que não atuem com orientação descontextualizada.
Quanto à satisfação dos profissionais, concluímos que na sua grande maioria, gostam
do que realizam e se sentem valorizados, outros encontram-se no limiar do que é possível
produzir no espaço escola, uma vez que não conseguem dizer não ao que está sempre sendo
solicitado pelo gestor e principalmente percebemos que não conseguem estabelecer o limite
da prática. Para alguns não existe o final de semana, são chamados a atuar em qualquer
momento, a qualquer horário. Outros demonstram o cansaço pela auto-exigência da
competência, da produção científica, do fazer bem feito, enquanto para outros o cansaço é
decorrente do acúmulo de serviço para um só profissional, mesmo existindo clientela e
demanda para uma equipe.
Verificamos que os PEs, valorizam o planejamento das ações e sempre o fazem ao
final de cada ano ou planejam a partir de observação participante e mapeamento institucional
no cotidiano escolar, outros planejam por solicitação do gestor.
Por fim, consideramos que o Psicólogo Escolar em Teresina é consciente da sua
importância para a comunidade educacional e principalmente demosntra ser focado e atento
de que o fazer, o atuar no cotidiano escolar necessita de uma boa formação imbuída de
habilidades e conhecimento diversificado nas áreas de atuação da psicologia.
126
Entendemos que uma vez de posse desse suporte, ele possa assim, contribuir para o
desenvolvimento dos discentes o que implica em estar junto aos professores, pais,
coordenação e direção, que como tais estão inseridos em diferentes contextos e são acima de
tudo pessoas com sentimentos, dificuldades e soluções. Ousamos portanto, conceituar o que
seja para nós o Profissional de Psicologia Escolar. Este conceito maturamos ao longo da
pesquisa ao perceber o leque de ações deste profissional. O PE é um profissional que colabora
com reflexões, sobre possibilidades e limites do fazer nos espaços de aprendizagem, quer seja
com crianças, adolescentes e adultos nos seus plurais perfis ou com a família, docentes e
gestores que assumem a função de educar ou colaboram com o despertar para os processos
educativos.
Identificamos que na opinião dos gestores, a contratação de psicólogos para a
instituição escola, surge como uma tentativa de aproximar essa área de conhecimento com a
educação pela necessidade de alguém para ouvir os alunos, para fazer leitura do
comportamento destes e, com isso, subsidiar o professor nos diferentes aspectos. Alguns
gestores contrataram esse profissional há mais de uma década, enquanto outros fizeram a
aquisição recentemente.
Verificamos que os gestores reconhecem a necessidade e importância do Psicólogo
na escola destacando sua concepção com a responsabilidade, coerência e ética do PE. Alguns
evidenciam que pela realidade e necessidade da clientela o profissional acaba atuando um
pouco em muitas áreas, em virtude do perfil da comunidade com quem trabalham,
principalmente pelas carências e conflitos dos familiares, fato este também identificado pelos
psicólogos. Alguns gestores sentem uma necessidade do trabalho do PE mais voltado para as
famílias, de modo que possam estar dirimindo problemas advindos destas com reflexo na sala
de aula, outros entendem como essencial o trabalho da relação professor-aluno.
Os gestores costumam solicitar um olhar integral, uma vez que este profissional é
alguém com formação específica dos aspectos psicológicos, reconhecem que a escola não
pode trabalhar sozinha e que o psicólogo pode ser um mediador das relações entre
família/escola com os diferentes perfis dos alunos. Para alguns, o psicólogo chega a ser o
“braço direito” na solução dos problemas sociais e consequentemente nas dificuldades de
aprendizagens que surgem. Todos os gestores afirmam da satisfação com a atuação dos
127
profissionais, alguns reconhecem a sobrecarga do PE, no entanto admitem a dificuldade em
contratar mais técnicos por questões financeira.
Concluímos que nenhum dos gestores entrevistados demonstrou desconhecer sobre o
papel do psicólogo e nem esperar respostas imediatas e prontas, dizem perceber este
profissional como um colaborador dos processos educativos e como um mediador na relação
com a família. Percepção contrária à fala dos psicólogos que relatam perceber uma
necessidade por parte dos gestores ou da família de um resultado aqui e agora, uma visão
ainda imediatista.
Na escuta aos gestores públicos, identificamos a compreenção da importância do
Psicólogo Escolar para cuidar dos problemas cotidianos na escola, mesmo assim, entendem
que a contratação desse profissional ainda é algo distante pois existem outras prioridades.
Os alunos entrevistados conseguem fazer uma analogia das representações e
concepções acerca do profissional PE, da sua formação e habilidades, da sua sensibilidade, da
leveza, da amizade, da sua influência nas escolhas profissionais e da sua responsabilidade em
alargar caminhos que existem e que nem pensavam existir.
Todos os discentes entrevistados demonstram conhecer o psicólogo e dizem ter
necessitado dos cuidados deste em algum momento. Ao se referirem ao PE, escutamos a
expressão “ele é um amigo”. Vale questionar, se é importante ao psicólogo ser visto como
amigo ou apenas como técnico. É possível fazer ciência com amizade? É possível entender
essa relação de amizade tão focada, como uma possibilidade de criar vínculo para poder
intervir e alcançar resultados na aprendizagem? Esses questionamentos também foram
levantados em parte, por uma das psicólogas entrevistadas.
Na concepção de alguns alunos, o Psicólogo ainda é considerado como alguém para
cuidar de “doido” ou um “grande amigo”, alguém para colaborar nas relações interpessoais,
para escutar as dificuldades enfrentadas por eles emergidas principalmente das famílias
Outro aspecto evidenciado, direciona-se às ações coletivas e individuais,
principalmente sobre as atividades relacionadas com as habilidades sociais desenvolvidas e
128
estimuladas pelo serviço de psicologia, verificando que os alunos se gratificam através do
convívio no cotidiano da escola com este profissional, pois aprendem com ele a viver em
grupo e lidar com as diferenças.
Entendemos, por fim que falta maiores esclarecimentos sobre o papel do PE e sobre
as possibilidades de desenvolvimento de ações no cotidiano escolar, principalmente por parte
dos alunos e dos próprios psicólogos uma vez que estes na sua grande maioria sobrecarga e
acúmulo de funções.
129
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133
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134
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Em: R. R. L. Guzzo et al (Orgs), Psicologia escolar: LDB e educação hoje (3ªedição, pp. 2737). Campinas, São Paulo: ed. Alínea.
135
8. ANEXOS
ANEXO I
Questionário
Perfil socioprofissional do Psicólogo Escolar que atua em escolas na cidade de Teresina (PI).
1. Dados de Identificação.
1.2. Formação:
Universidade/ Faculdade:
Universidade Federal ( ) UF( ), Universidade Estadual ( ) UF ( ), Faculdade Particular ( )
UF ( ) .
Estágio Supervisionado em: escola pública ( ), escola particular ( )
comunitário ( ), hospital ( ), clínica ( ) e organizacional ( ).
Ano de formação,_________________________________________________.
Pós-Graduação na área de Educação: Especialização em Educação (
) Mestrado em
Educação ( ).
Trabalhos Científicos apresentados/publicados em Psicologia da Educação ou áreas
afins: SIM ( ) NÃO ( ).
1.3. Função que exerce na escola:
Psicólogo Escolar ( ), Direção( ), Coordenação ( ),Orientação Educacional ( ),
outras
___________________________________________________________________________
1.4. Tempo de atuação:
Há quanto tempo atua como PE___________________________________________
Que tipo de escola trabalha: Particular ( ), Pública ( ), Popular ( ).
Na escola que trabalha há mais psicólogo contratado: sim ( ), não ( ), quantos(
), atua só
( ).
1.5. Áreas de atuação:
136
Atua em outras áreas da psicologia: Clínica ( ), Comunitária ( ), Hospitalar ( ),
Forense (
), Organizacional (
), Esporte (
), Trânsito (
). Outras ( ).
Quais?______________________________________________________________________
1.6. Remuneração:
Remuneração como PE: um salário mínimo ou menos ( ), entre um e dois salários( ),
entre dois e três salários ( ), entre três e quatro salários ( ), entre quatro e cinco salários( ),
entre cinco e dez salários mínimos (
).
2. Da prática.
As questões a seguir devem ser marcadas com o número indicado na tabela abaixo conforme
as ações que melhor retratam a sua prática quando atua na escola.
Tabela de respostas:
1- Nunca;
2- Raramente;
3- Ocasionalmente;
4- Frequentemente;
5- Sempre.
1. ( ) Colabora com a adequação, por parte dos educadores, de conhecimentos da
Psicologia que lhes sejam úteis na consecução crítica e reflexiva de seus papéis.
2. ( ) Desenvolve trabalhos com educadores e alunos, visando a explicitação e a
superação de entraves institucionais ao funcionamento produtivo das equipes e ao crescimento
individual de seus integrantes.
3. ( ) Desenvolve com os participantes do trabalho escolar (pais, alunos, diretores,
professores, técnicos, pessoal administrativo) atividades, visando a prevenir, identificar e
resolver problemas psicossociais que possam bloquear, na escola, o desenvolvimento de
potencialidades, a auto-realização e o exercício da cidadania consciente.
137
4. ( ) Elabora e executa procedimentos destinados ao conhecimento da relação
professor-aluno, em situações escolares específicas, visando, através de uma ação coletiva e
interdisciplinar a implementação de uma metodologia de ensino que favoreça a aprendizagem
e o desenvolvimento.
5. ( ) Planeja, executa e/ou participa de pesquisas relacionadas com a compreensão
de processo ensino-aprendizagem e conhecimento das características psicossociais da
clientela, visando a atualização e reconstrução do projeto pedagógico da escola, relevante para
o ensino, bem como suas condições de desenvolvimento e aprendizagem, com a finalidade de
fundamentar a atuação crítica do Psicólogo, dos professores e usuários e de criar programas
educacionais completos, alternativos, ou complementares.
6. ( ) Participa do trabalho das equipes, do planejamento pedagógico, currículo e
políticas educacionais, concentrando sua ação naqueles aspectos que digam respeito aos
processos de desenvolvimento humano, de aprendizagem e das relações interpessoais, bem
como participa da constante avaliação e do redirecionamento dos planos e práticas
educacionais implementados.
7. ( )
Desenvolve programas de orientação profissional, visando um melhor
aproveitamento e desenvolvimento do potencial humano, fundamentados no conhecimento
psicológico e numa visão crítica do trabalho e das relações do mercado de trabalho.
8. ( )
Diagnostica as dificuldades dos alunos dentro do sistema educacional e
encaminha aos serviços de atendimento da comunidade aqueles que requeiram diagnóstico e
tratamento de problemas psicológicos específicos, cuja natureza transceda a possibilidade de
solução na escola, buscando sempre a atuação integrada entre escola e a comunidade.
9. ( ) Supervisiona, orienta e executa trabalhos na área de Psicologia Educacional.
10. ( ) No início do ano letivo desenvolve um planejamento das ações a serem
desenvolvidas.
138
11. ( ) Atua no cotidiano de forma intinerante e pontual conforme as demandas vão
surgindo sem um planejamento prévio.
12. ( ) Planeja e executa as reuniões da escola com família e alunos.
13. (
) Acompanha a família, o aluno ou qualquer outro membro da escola em
situação de enlutamento fora da instituição ou no contexto escolar.
14. (
) Se solicitado, costuma fazer visita domiciliar ao aluno que requeira
necessidade deste serviço.
15. ( ) Se disponibiliza a desenvolver ações educativas em qualquer lugar possível.
16. ( ) Faz acompanhamento em grupo e/ou individualmente no espaço da escola à
família e aos alunos.
17. (
) Costuma fazer intervenções pontuais em sala de aula para trabalhar a
indisciplina ou temas transversais ou mesmo para mediar relação professor/aluno.
18. ( ) Desenvolve pesquisas na área de psicologia escolar.
19. ( ) Seleciona e capacita funcionários na escola.
20. ( ) Participa de Semanas Pedagógicas de capacitação com equipe de professores.
21. (
)Atua na perspectiva de inclusão com aluno que apresentam transtorno
invasivo, distúrbio ou dificuldade de aprendizagem.
139
ANEXO II
Guião da entrevista
Psicólogos Escolares que atuam em Teresina
Temas:
Identificação das práticas que habitualmente vêm realizando e/ou
•
eventualmente realiza como resposta a uma necessidade.
•
Conhecimento das expectativas geradas nas escolas sobre as suas
•
Conhecimento das dificuldades sentidas em cumprir o seu projeto ou de
funções.
gerir as expectativas.
Objetivos:
•
Conhecer as opiniões dos entrevistados frente às expectativas geradas
nas escolas sobre as suas funções;
•
Identificar as práticas que habitualmente vêm realizando e/ou
eventualmente realiza como resposta a uma necessidade.
•
Recolher informação acerca das dificuldades sentidas em cumprir o seu
projeto ou de gerir as expectativas;
140
Indicação
dos
blocos
Objetivos
Roteiro de
específicos
questões
Observações
-Tornar a entrevista
- Esclarecer o
-Atender às
genuína.
entrevistado acerca
questões solicitadas
- Legitimação da
- Motivar o
do trabalho de
pelo entrevistador
entrevista, suporte
entrevistado para
investigação ora
sem fugir aos
de motivação para o colaborar.
desenvolvido.
objetivos dos
entrevistado.
- Solicitar a
blocos.
Bloco Introdutório
colaboração do
- Agradecimentos.
entrevistado,
enfatizando a sua
colaboração para a
execução do
trabalho.
- Garantir a
confidencialidade
das informações
fornecidas.
- Checar sua
disponibilidade
para posterior
reflexão e revisão
dos dados
fornecidos.
141
Indicação dos
Objetivos específicos
blocos
Roteiro de questões
Os tópicos
Bloco A
- Perceber o sentimento do
.O vínculo
entrevistado
empregatício,
respeito à sua atuação como
-Qual o grau de
neste bloco e
carga horária
PE.
satisfação/insatisfação
nos seguintes
e grau de
face às funções que
organizam
satisfação do
exerce?
apenas pontos
PE.
-Qual seu vínculo
de
empregatício com a
partida/reflexão
escola?
de modo a
-Qual a carga horária?
permitir
( quanto tempo
identificar e
permanece na escola)
indicar o vínculo
no
que
- Qual o seu nome?
Observações
diz - Qual a sua idade?
mencionados
empregatício,
carga horária e
grau de
satisfação do
profissional.
142
Indicação dos
Objetivos
Formulação de
blocos
específicos
questões
Observções
Bloco B
- Conhecer a
-No início do ano letivo,
Os tópicos
Identificação das
opinião do
é-lhe pedido algum
mencionados
práticas
entrevistado
projeto de intervenção?
neste bloco
desenvolvidas.
acerca das
-( Sim. Quem solicita?)
organizam pontos
práticas que
-(Não. Você constrói
para permitir
habitualmente
algum projeto?)
identificar as
vêm realizando
- O projeto serve de guia
práticas do
e/ou
para a sua prática ou
Psicólogo Escolar
eventualmente
atende as demandas do
no espaço escola.
realizam como
cotidiano sem um
resposta a uma
planejamento?
necessidade.
- Quais níveis de
escolarização você
intervém?
-Como desenvolve sua
prática, nestes níveis?
-Houve alguma mudança
na sua prática do início
até o momento?
-Para que você é
chamado?
143
Indicação dos
Objetivos
Roteiro de
Blocos
específicos
questões
Observações
Bloco C
- Ajudar o
- O que faz na
Os pontos
- Identificação
entrevistado a
escola?
mencionados
das opiniões dos pensar sobre as
- O que gostaria de
neste bloco
entrevistados
expectativas
fazer?
organizam
face às
geradas nas
-Que funções e
tópicos que
expectativas
escolas sobre as
atribuições lhes são
permitem
geradas nas
suas funções.
solicitadas?
identificar as
escolas sobre as
- Identificar
-Quais as demandas
expectativas,
funções do PE.
algumas mudanças
mais intercorrentes?
geradas nas
na sua prática
- Quais expectativas
escolas sobre as
como Psicólogo
por parte do gestor e funções do
Escolar.
coordenadores da
Psicólogo
escola a respeito do
Escolar.
seu trabalho?
- O que esperam
que você faça?
-Que mudanças
ocorreram na sua
prática desde o
início do seu
trabalho?
144
Indicação dos
Objetivos
blocos
específicos
Formulação de questões
Observações
Bloco D
- Conhecer a
- Quais as dificuldades Este bloco trata
- Identificação
opinião do
sentidas em cumprir o seu de identificar as
das informações entrevistado sobre
projeto,
nos
diferentes dificuldades
níveis de escolarização.
sentidas em
acerca das
as dificuldades
dificuldades
sentidas em cumprir
Alunos;
cumprir o seu
sentidas em
o seu projeto ou de
Professores;
projeto ou de
cumprir o seu
gerir as
Gestores;
gerir as
projeto ou de
expectativas.
Famílias
expectativas.
gerir as
- Conduzir o
- Quais as razões das
expectativas.
entrevistado a
dificuldades?
refletir as
- O que é solicitado e não
dificuldades
pode ser realizado?.
enfrentadas para o
- Como lida frente as
desenvolvimento do
espectativas, quando não
seu trabalho.
são cumpridas?
-Quais dificuldades em
gerir estas expectativas?
145
ANEXO - III
Coordenador/Gestor
Temas:
•
Identificação do tempo de contratação do PE.
•
Verificação das práticas que o PE vem habitualmente realizando e/ou
eventualmente realizam como resposta a uma necessidade.
•
Conhecimento das expectativas geradas nas escolas sobre as suas
•
Reconhecer as dificuldades sentidas em perceber o cumprimento das
funções.
suas funções e do seu projeto.
Objetivos:
•
Identificar o tempo de contratação do PE para a instituição.
•
Verificar as necessidades que levam a contratação do PE.
•
Recolher informação acerca da importância do trabalho deste profissional
para a escola.
•
Identificar o grau de satisfação com o que faz o psicólogo.
•
Conhecer a opinião do entrevistado face às expectativas geradas na escola
sobre a função do PE.
146
Indicação
dos
blocos
Objetivos
Formulação de
específicos
questões
Observações
Bloco E
- Conhecer o
- Há quanto
Neste bloco estão
- Conhecimento
tempo de
tempo contratou
organizados pontos
do tempo de
contratação do
psicólogo para a
sobre o tempo de
contratação do
PE. para escola.
instituição?
contratação do PE
PE. para escola.
-Identificar as
-Quais
para escola e
-Identificação das necessidades que
nessecidades
Identificação das
necessidades que levam a
emergiram para a
necessidades que
contratação deste
levam a
profissional?
contratação deste.
levam
contratação
a contratação do
do PE.
PE para a escola.
147
Indicação
dos
blocos
Bloco F
Objetivos
Formulação de
específicos
questões
-Identificar as
-Conhecimento das expectativas
Observações
-O que costuma
-Os tópicos mencionados
solicitar ao PE na
neste bloco organizam
expectativas
geradas na
escola?
pontos para permitir
geradas na escola
escola sobre as
-Como percebe o
identificar as
sobre as funções
funções do PE.
desenvolvimento
expectativas geradas na
do PE.
-Identificar o
da prática do
escola sobre a atuação do
-Recolher
grau de
psicólogo no
Psicólogo na perspectiva
informação acerca
importância do
espaço da escola?
do gestor/coordenador.
da importância do
profissional.
-O que é esperado
trabalho deste
-Conhecer o
da atuação do
profissional para a
que é
psicólogo?
escola.
solicitado e o
-Qual a
que é esperado
importância deste
do PE por
profissional para a
parte do
comunidade?
gestor.
-Você está
-Identificar o
satisfeita (o) com o
grau de
trabalho do
satisfação do
psicólogo na
gestor com o
escola?
que faz o
-O que gostaria que
psicólogo.
o psicólogo fizesse
mais?
148
ANEXO- IV
Aluno
Temas:
• Identificação da presença do Psicólogo Escolar na instituição.
• Conhecimento das expectativas dos alunos sobre as suas funções do psicólogo
na escola.
Objetivos:
• Identificar se o aluno conhece o profissional de psicologia que atua na
escola.
• Conhecer a opinião do aluno sobre o que faz o psicólogo na escola.
• Verficar se o aluno já precisou alguma vez do atendimento desse
profissional.
• Recolher informação acerca da importância do trabalho do Psicólogo
Escolar para o aluno.
149
Indicação dos
Objetivos
Formulação de
blocos
específicos
questões
Observações
Bloco G
-Identificar se o
-Você tem
Os
tópicos
mencionados
- Indentificação do
psicólogo é
conhecimento do
neste bloco
organizam
profissional de
conhecido pelos
PE na instituição?
pontos
psicologia na
alunos e se o
- o que faz o
identificar se o aluno sabe
escola.
aluno já fez uso
psicólogo na
que a escola tem PE, se
-Conhecimento da
deste serviço.
escola?
conhece, se já precisou do
opinião do aluno
-Identificar o grau
- Alguma vez já
psicólogo bem como sua
sobre o que faz o
de importância do
necessitou do
opinião sobre o tabalho
psicólogo na
profissional na
trabalho deste?
deste na escola.
escola.
concepção do
- O que é
- identificação do
aluno.
esperado da
uso do serviço pelo
atuação do
aluno.
psicólogo?
-Recolhimento de
-Qual a
informação acerca
importância deste
da importância do
profissional para
trabalho do
o aluno?
para
permitir
Psicólogo Escolar
para o aluno.
150
ANEXO - V
Informações sobre a primeira Psicóloga Escolar em instituição de educação
formal no Piauí.
Com objetivo de registrar um pouco da história e na busca pelas trilhas da Psicologia
Escolar no Piauí, identificamos a Psicóloga Sílvia Paranaguá Oliver a qual consideramos
como primeira Psicóloga a ser contratada com atuação em contexto educacional em uma
escola formal do Estado. Silvia é casada com um norte-americano criado no Brasil. Tem duas
filhas, ambas nascidas em Austin, Texas (USA), onde fixaram residência em 1989.
Seguindo um roteiro de entrevista, questionamos sobre sua trajetória aqui no Piauí,
sua formação, inserção no mercado de trabalho e sobre sua prática na escola em que atuou na
década de 80. De posse de uma calma impressionante, ao ser entrevistada, a psicóloga faz um
pequeno relato da sua história de vida profissional, o qual condensamos com a intenção de
não perder de vista a história.
Filha de pais educadores, cursou o ensino básico no Instituto Batista Correntino
(IBC) onde seus pais atuaram como educadores e diretores por 40 anos. O Ensino Médio
estudou no Colégio Batista Santos Dumont, em Fortaleza no Ceará. Lá foi grandemente
influenciada pelo programa do Serviço de Orientação Educacional e Psicológico (SOE) para
seguir a carreira de Psicóloga.
Formou-se em Psicologia em 1985 pela Texas A&M University, Estados Unidos
com especialização em Psicologia Educacional e Educação Especial. Após conclusão do
curso, trabalhou um ano como professor na Escola Briar Patch em Austin. Retornou ao Brasil
em 1986 influenciada pelos pais com a intenção de contribuir com àquela instituição (IBC) e
com a comunidade que dela se beneficiava. Nesse período fez uma pós-graduação em
Metodologia do Ensino Superior pela Universidade de Passo Fundo no Rio Grande do Sul, e
atuou como Psicóloga Escolar durante três anos.
Sua trajetória de atuação no Instituto Batista Correntino se deu em agosto de 1986, a
convite dos seus diretores Hélio Paranaguá e Jimmie Dale Carter, assumiu inicialmente as
151
funções de Psicóloga Educacional e Professora, procurando servir em áreas de conhecimento
que lhes eram mais familiares.
Posteriormente atuou também na Supervisão Pedagógica.
“Naquele período não contávamos com muitos profissionais, o que exigia que fossemos
multifuncionais para suprir as necessidades da escola”.
Segundo a mesma, atuou com objetivo de viabilizar meios psicologicamente
adequados para que o processo educativo pudesse ter melhores resultados, procurando utilizar
uma abordagem teórica mista, com enfoques humanista (aulas centradas no aluno),
behaviorista (comportamentalista) e cognitivista, que a levaram ao desenvolvimento de
técnicas de aconselhamento (assistência psicológica) e orientação educacional mediante a
implantação do Serviço de Orientação Educacional (SOE) e Psicológico. Em 1989 decide
retornar para os Estados Unidos, onde reside até o presente momento.
152
ANEXO - VI
Entrevista com gestores públicos
As informações que se seguem foram obtidas com pessoas gestoras de setores da
educação pública municipal e estadual. A intenção ao entrevistá-los foi identificar a opinião
dos mesmos sobre a importância do trabalho do Psicólogo na rede pública de ensino,
principalmente no setor de avaliação e acompanhamento de pessoas com algum tipo de
deficiência que estão inseridos nas escolas. Além de registramos a opinião destes sobre a
prática desse serviço, confirmamos, sobretudo que a atuação do PE continua sendo voltada
apenas para as pessoas com necessidades especiais e que as crianças ou adolescentes da rede
pública de ensino ditas “normais”, ainda terão que esperar muito pelos cuidados desse
profissional. Portanto ainda temos um longo caminho pela frente no sentido de avançarmos
nas discussões e nas conquistas.
1. Gestor A, 39 anos, secretário de Educação do Município
O Gestor A, fala sobre a experiência de trabalho com Psicologia Escolar que é
desenvolvido na Secretaria de Educação do município, especificamente em um setor chamado
SAAT (Serviço de Avaliação e Acompanhamento Educacional). O referido serviço tem como
objetivo avaliar, encaminhar para acompanhamento e inserir alunos especiais em escolas
regulares. É composto por uma equipe interdisciplinar incluindo profissionais de psicologia
que atuam a partir de uma demanda encaminhada pelas escolas.
“Bom, na realidade, o trabalho de assistência mais integral a saúde do escolar está
completando agora em 2009, dez anos. Ele teve um formato básico, um serviço de avaliação
educacional, se chama SAAT, e esse serviço envolve profissionais de psicologia, de
assistência social, psicopedagogia, fonoaudiologia. Até o início de 2005, esse serviço era um
serviço da Secretaria Municipal de trabalho e Assistência Social, já na gestão atual isso
passou integralmente para a Secretaria Municipal de Educação, mas sempre teve como foco
a Secretaria de Educação. É um serviço que funciona basicamente da seguinte maneira: as
escolas identificam crianças que elas julgam que têm problemas, ou hiperatividade ou
autismo ou déficit de atenção, dislexia; encaminham pra esse serviço de avaliação, que tem
153
os profissionais e aí o serviço faz a avaliação, quer dizer checa o diagnóstico que a escola
está dando e a partir disso encaminha pra rede de atendimento de saúde do município. A
gente faz uma pequena ajuda, quer dizer, as crianças que tem que se submeter a algum tipo
de tratamento, seja psicológico, seja outro tipo de tratamento de saúde, a gente provê vale
transporte para as famílias, pra que elas possam frequentar esse tratamento, mas hoje a
nossa grande dificuldade é porque até 2004, havia encaminhamento para clínicas
particulares, aí com a formatação integral do SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade, hoje
a gente só encaminha para clínicas conveniadas com o SUS e aí as crianças terminam
entrando numa lista de espera e o tratamento não é tão pronto assim, quer dizer, em termos
de tempo, quanto a gente gostaria. Nesse sentido, vem da própria divisão de educação
inclusiva, a proposta de criar uma clínica com várias especialidades, como se fosse uma
clínica de atendimento psicológico, uma clínica integrada, que vai ter os mesmos tipos de
profissionais, só que ela vai ter dois tipos de, quer dizer, ela vai ter os mesmos tipos de
profissionais, mas só que ela vai funcionar agora em acordo com a Secretaria de Saúde, na
verdade a Fundação Municipal de Saúde, então ela vai ser uma clínica de atendimento como
elas chamam multisetorial, uma parceria do IPMT, Instituto de Previdência do Município, a
Fundação Municipal de Saúde e a Secretaria Municipal de Educação. Essa clínica vai ser no
sentido de diminuir esse tempo de tratamento das crianças ao invés da gente encaminhar,
porque hoje é o nosso problema, ao invés de encaminhar pra rede pública, o
encaminhamento da escola vai ser direto para essa clínica multisetorial, que vai ser essa
parceria entre esses três organismos da prefeitura e aí a criança
terá o atendimento
imediato. Nós estamos negociando isso com a Fundação Municipal de Saúde e o IPMT.
E assim, na realidade, o atendimento psicológico tem hoje um outro tipo de
conformação, algumas das faculdades de psicologia da cidade elas oferecem serviços
gratuitos tipo estágio curricular em algumas das nossas escolas, a FACID faz isso, a Santo
Agostinho faz isso e a Universidade Estadual também. Esses serviços são mais ou menos
efêmeros e dependem muito da própria instituição que os oferece, não está muito ligada a
própria estrutura da Secretaria e o que a gente tem apostado é nessa questão não de ter um
psicólogo propriamente dentro da rede escolar, mas nessa conjugação dispostos entre
secretarias, quer dizer, hoje pela legislação brasileira você não tem como contratar um
psicólogo, ele, a rigor, pela legislação, ele não entra como despesa de educação. Então,
tendo em vista essa restrição das fontes de financiamento, a nossa alternativa tem sido a
discussão com os CRAS ( Centros de Referência de Assistência Social) e com a própria
154
Fundação Municipal de Saúde, quer dizer, que contrata esse pessoal e aí a gente ta buscando
esses mecanismos multisetoriais para poder fazer o atendimento psicológico aos nossos
alunos”
O Gestor A segue falando sobre o grau de satisfação com relação a esse serviço, da
forma como funciona e do tipo de retorno que o serviço oferece. “Olha, eu acho o seguinte
assim: eu poderia dizer da seguinte maneira, a demanda é muito maior do que a gente
consegue ofertar, quer dizer, existe um clamor, por exemplo, dos professores, em relação a
presença de um psicólogo dentro das escolas, os eventos de desestruturação familiar, novos
arranjos familiares, hiperatividade, autismo, são cada vez mais recorrentes, ou pelo menos
existe a tendência dos professores achar que as crianças têm esse tipo de problema ou talvez
muito mais em um nível muito maior do que tinham anteriormente. Agora eu não acho que
isso seja a solução, eu gosto de pensar que esse trabalho integrado entre saúde e educação,
ele precisa acontecer, não só do ponto de vista da questão dessas dificuldades psicológicas
da criança, também assistência social, mas também de outros pontos de vista, quer dizer o
nosso sonho, da prefeitura e a gente começou a fazer reuniões o ano passado em relação a
isso, é integrar a conversa das equipes na conta, quer dizer, nós temos as escolas
funcionando, as creches funcionando, nós temos os agentes de saúde e nós temos os centros
de referência de assistência social, ou seja, nós temos todos os serviços de assistência a
população em todos os bairros da cidade ou pelo menos naqueles bairros onde as pessoas
efetivamente precisam e dependem do poder público, o que a gente ainda não consegue fazer,
é fazer com que essas estruturas conversem a contento. Muitas vezes, o problema de
rendimento escolar de um aluno está ligado não a uma questão propriamente pedagógica,
mas uma questão dentro da casa e aí o agente comunitário de saúde tem as informações, ele
sabe as pessoas que são doentes, ele sabe as pessoas que são alcoólatras e essa informação
não circula entre o pedagogo da escola, o assistente social do CRAS e o agente comunitário
de saúde. E assim, trabalhar pra fazer essa rede funcionar é hoje o principal desafio da
prefeitura de Teresina, nisso o profissional de psicologia entra, mas na minha concepção
deveria entrar com um elemento de articulação dessas atividades todas e de atenção,
sobretudo, ao núcleo familiar, porque eu acho assim, muitas vezes a gente tende a isolar os
problemas do ponto de vista técnico, quer dizer, cada um tem sua formação e cada um isola
sua informação do ponto de vista técnico e eu to cada dia mais convencido de que do ponto
de vista técnico, você tem que isolar é o ser humano e a sua unidade de constituição social,
155
vamos dizer assim, que é a família. Então assim, a política social do município que envolve
essas três áreas, ela teria que estar focada no núcleo familiar. Então assim, a criança tem
problema, às vezes é um problema assim orgânico, aí vai pra rede de saúde, não tem o que
falar, mas muitas vezes esse problema orgânico decorre de alguma consequência social e aí é
preciso que as equipes funcionem, que o psicólogo aí tem um papel fundamental; às vezes é
mais fácil fazer intervenção junto a mãe, junto ao pai do que propriamente junto a criança,
porque são a mãe e o pai que estão causando algum tipo de
problema: mal-trato,
alcoolismo, tal”.
Nesse momento, fizemos um breve relato sobre a prática da psicologia no Brasil e
especificamente no Piauí em instituições privadas em alguns programas sociais da Prefeitura
de Teresina, com excelentes resultados. Insistimos sobre o interesse da Prefeitura em contratar
o Profissional de Psicologia para as escolas. Daí o Gestor comenta e finaliza sua fala.
“Ta, mas aí a questão é o seguinte: a nossa aposta é aquilo que eu lhe falei na
conjugação dos esforços, nós somos um município que tem recursos escassos, a nossa virtude
enquanto gestores tem sido a capacidade de utilizar esses recursos escassos da melhor
maneira possível e eu não sonho com a possibilidade no curto prazo de inserir, assim, se eu
dissesse isso, eu estaria mentindo, é um objetivo de longo prazo, até é, mas no curto e médio
prazo, não vai acontecer. Nós ainda temos deficiência de professores em sala de aula, nós
ainda temos deficiência nos equipamentos públicos de escola, quer dizer, hoje eu tenho uma
demanda clara, eu preciso cobrir as quadras da cidade. Então assim, têm determinados tipos
de atividade que a gente tem que ir seguindo um roteiro que permite a nossa capacidade de
investimento na rede. E aí nesse caso, a articulação entre os diversos órgãos nos parece ser a
melhor saída. Por quê? Esse profissional já está contratado lá na Fundação Municipal de
Saúde. Porque ele não pode vir, fazer a conversa com isso que eu estou chamando da
articulação com as políticas setoriais e, principalmente, focada no ambiente familiar. Nós
não temos outra alternativa, quer dizer, no curto e médio prazo, é até interessante, do ponto
de vista mais geral de política social que a prefeitura aprenda a tratar não com a criança na
escola ou a mãe no CRAS que recebe o bolsa-família ou a mãe enferma dentro de casa, ela
precisa aprender a trabalhar com a unidade familiar e aí, selecionar dentre os profissionais
que ela tem contratado aquele que mais se adequa. Belo Horizonte está caminhando nesse
sentido, São Paulo está caminhando nesse sentido, quer dizer, a maioria dos grandes
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municípios do país tem hoje projetos muito mais avançados do que a gente nessa conversa
entre as profissões”.
2. Gestora B, 44 anos, atua como Gerente de Educação Especial no Estado é
Psicóloga, fez sua formação no estado de São Paulo (Universidade Católica de Santos) e
reside em Teresina há quatro anos. A Psicóloga atua na Educação Especial há dois anos e o
foco do trabalho é a Educação Inclusiva de pessoas com deficiência.
A Gestora B, fala sobre essa experiência do trabalho desenvolvida durante 20 anos
por uma equipe interdisciplinar através da Secretaria de Educação do Estado, especificamente
em um setor chamado SAANE (Serviço de Avaliação e Acompanhamento as Crianças com
Necessidades Educativas Especiais). Ressalta que o serviço com essa nomenclatura, foi
encerrado oficialmente na sua gestão, em janeiro de 2008 em função da nova política da
educação inclusiva, e que por esse motivo o serviço da forma como estava não tinha mais
sentido de existir.
“Olha, ele existiu por vinte anos. Porque veio no bojo da proposta da integração da
criança com deficiência, a proposta ideológica dele era verificar todos os problemas que
aconteciam em sala de aula, as escolas encaminhavam pro SAANE, essa criança era
avaliada pra ver se ela iria pra classe especial ou não. Então, o SAANE, ele fazia, vamos
dizer assim, o que a gente chama, de a exclusão, ele tirava as crianças que davam trabalho,
que tinham deficiência, então ele avaliava para ingressá-las nas classes especiais. Nos último
cinco anos, mais ou menos, quando iniciou a discussão da política de inclusão, ele deixou de
colocar nas classes especiais, mas manteve as que já estavam, com um serviço de orientação
aos professores e a família. E aí com a nova política, nós vimos que não tinha mais sentido
manter esse sistema de avaliação da criança”.
“Então a gente viu que não tinha sentido você avaliar, porque a partir do momento
que você avaliava o foco ia pra criança e não do sistema escolar como um todo. Aquela
criança que dava trabalho por professor, digamos assim, ela era encaminhado pro SAANE
como se a escola não tivesse responsabilidade em relação a essa criança, quando na
verdade, tem. E tem toda a questão do método, das práticas pedagógicas, da relação do
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professor e aluno que precisava ser revista, repensada, coisas do tipo. Então, por conta
disso, a gente fez uma opção que eu brinco com a equipe do SAANE, de fazer o caminho de
volta. Então, ao invés agora delas avaliarem pra incluir, pra botar na classe especial, elas
estão tirando da classe especial e estão incluindo na rede regular. Então, nós criamos a rede
de apoio a Educação Inclusiva no Estado do Piauí. Aqueles profissionais que conheciam bem
as crianças, tinham uma experiência grande nessa área, hoje fazem parte dessa rede de apoio
a Educação Inclusiva. Então, a gente tem o psicólogo, além do pedagogo e do assistente
social. Então, os psicólogos hoje, eles estão indo nas escolas da rede estadual aqui de
Teresina, fazendo um trabalho de psicologia escolar, que aí sim eu chamo de psicologia
escolar, discutindo com os professores quais são as dificuldades e as resistências também.
Por que que aquela criança é difícil? Por que que eles falam que a escola não está
preparada? O que que é essa falta de preparo? O preparo pedagógico ou o preparo
atitudinal? Então, hoje essa equipe ela está no CIES ( Centro de Educação Inclusiva), o CIES
também já foi uma outra ação nossa aqui da gerência, porque o CIES era uma escola de
Educação Especial. E como era uma escola muito bonita, inaugurada recentemente, com
padrões de primeiro mundo, as crianças começaram a sair das escolas regulares, já
incluídas para ir para o CIES, porque lá tinha também junto com a questão da escolaridade,
toda a parte clínica de reabilitação. Como tava no comecinho, nós fizemos uma
reestruturação. Então, hoje o CIES não tem mais escolarização, ele trabalha como apoio
pedagógico especializado, através de núcleos. Então, a criança está num período da
educação regular, as vezes numa escola perto de casa e no outro período, ela está
frequentando um núcleo específico. Então, é um núcleo de estimulação precoce para os
pequenininhos e tem um núcleo de atendimento que é não especializado e que também os
psicólogos da instituição fazem o atendimento e dão o apoio a essa família e aos professores
da inclusão também”.
Nesse momento questionamos sobre o número de profissionais que desenvolvem este
trabalho se atuam nas escolas e como procedem
esse acompanhamento nessa nova
perspectiva de ação, “essa ação inversa” do trabalho anteriormente desenvolvido. Fizemos
um breve relato sobre a prática da psicologia no Brasil e especificamente no Piauí em
instituições privadas e em específico sobre a sua avaliação e grau de satisfação quanto ao
trabalho desenvolvido nesse projeto de cuidados aos portadores de necessidades especiais.
Investigamos também sobre o interesse da Secretaria de Educação manter no quadro
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permanente das escolas um profissional de psicologia escolar, bem como sobre a aceitação do
professor com relação a proposta de inclusão. Que olhar o professor dá pra esse aluno especial
que volta a escola agora regular?
“Hoje, na rede, nós temos dois psicólogos na rede de apoio, na educação inclusiva,
temos um psicólogo no CAS, Centro de Apoio a Pessoa com Deficiência Auditiva, um
psicólogo no CAP, que é o Centro de Apoio a Pessoa com Deficiência Visual. E aqui no CIES
são seis psicólogos ao todo. Esses ficam fazendo atendimento clínico, eles fazem parte da
equipe clínica que fica lá dentro, mas dão parte ao suporte pedagógico, certo? Mas, os dois
da rede de apoio a educação inclusiva eles só vão especificamente à escola se precisam ter
contato com algum professor. Esses que vão em todas as escolas, junto com uma equipe
multidisciplinar ai, o foco não é clínica, o foco é mesmo escolar, de
orientação e de
acompanhamento”.
“Eu acho que a gente precisa avançar muito ainda. Eu sou muito exigente. Esse
processo iniciou a dois anos, nesse sentido da psicologia dentro da escola, foi vendo
realmente esse trabalho de orientação, do cuidar do aluno em seus aspectos pedagógicos, da
reflexão de toda a comunidade escolar em relação ao seu papel ou a sua missão, como a
escola costuma mesmo dizer. Mas eu ainda acho que nós precisamos avançar muito. Eu
recentemente tive numa escola que uma das professoras colocou que seria necessário um
psicólogo em cada escola e eu até fiquei feliz, mas preocupada, porque ainda hoje, eu vejo
aqui no Piauí, isso aí é muito forte, o psicólogo é o doutor, que pode resolver os problemas.
Então, às vezes, esse imaginário de ser uma pessoa que vai lá resolver os problemas e não
discutir os problemas com a equipe, eu sinto, então isso me preocupa. Eu até fiz esse
questionamento lá com a escola, porque até foi uma reunião em que houve um conflito entre
professores e eu até coloquei: “Olha eu acho até importante psicólogo está aqui, mas não
para atender os alunos que vocês estão falando que precisam do atendimento clínico, mas
trabalhar as relações interpessoais dentro da escola, que eu estou vendo que estão
conturbadas”. Porque as professoras brigaram muito e que um profissional lá dentro podia
facilitar essas formas de comunicação ou de resolver conflitos que foca o aluno depois, o
objetivo final é o aluno. Então, eu acho que a gente precisa avançar muito ainda em relação
a isso, por isso que eu não me vejo satisfeita, aliás, precisa começar um trabalho...
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Quanto a aceitação do professor com relação reinclusão do aluno antes excluído a
respectiva gestora fala: “De início, tinha uma certa resistência, porque tudo que é novo, que é
desconhecido, assusta, mas nós temos que fazer um trabalho de apoio muito forte, muito
consistente, aí quando ele começa a perceber que existem ganhos significativos, quando a
gente vê a inclusão no sentido de que ele pode trabalhar a classe toda, várias questões,
vários aspectos, as resistências tem diminuído bastante. E a gente tem exemplos belíssimos de
que a inclusão tem dado certo, mas a gente encontra também muito professor resistente,
muitos.... Então, precisa realmente, quando a gente fala em inclusão, vem o debate da
qualidade da escola, a gente só inclui em uma escola de qualidade, a gente precisa pensar na
qualidade dessa educação para que a gente tenha realmente uma inclusão que dê certo. Uma
escola sem qualidade, não tem jeito”.
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ANEXO VII
Ata da reunião de psicólogos para criação da representação do CRP 11 no Piauí.
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trilhas da psicologia escolar: um estudo sobre a prática do