POLÍTICAS E PRÁTICAS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE Lucas Vieira de Lima Silva1 RESUMO: Esta pesquisa teve o objetivo principal de analisar o Programa Segundo Tempo (PST), particularmente sua proposta, compreendendo-o como meio de prática e política educativa de inclusão social. Para tanto, teve como pergunta central: o PST vem se constituindo um meio garantidor de políticas e práticas educativas de inclusão social? Utilizamo-nos do método fenomenológico, uma vez que nossa tarefa foi a de descrever o fenômeno, voltando-se apenas para as coisas como elas se manifestam. Buscamos compreender as “experiências vividas”, cujo pano de fundo é o dia-a-dia, ou seja, o mundo, o cotidiano. Procuramos ver o fenômeno tal como ele se mostra em termos de significados relacionais, na dinâmica do documento do PST e do que dizem as referências consultadas. Prevalecemo-nos de um estudo de natureza qualitativa dos tipos bibliográfica e documental, pois nossa preocupação foi a de compreender as subjetividades encontradas nos documentos e literatura investigada. Nossa expectativa foi a de que esta investigação possa contribuir de forma significativa para o surgimento e as discussões acerca das propostas relativas às políticas públicas de esporte e lazer apresentadas pelos programas de governo. Palavras Chaves: Programa Segundo Tempo (PST); Políticas e Práticas; Educação. RÉSUMÉ: Cette recherche a eu l'objectif principal analyser le Programme Second Temps (PST), particulièrement sa proposition, en le comprenant comme à moitié de pratique et de politique éducative d'inclusion sociale. Pour tanto, il a comme il demande tronc : PST vient si en constituant demi garant de politiques et des pratiques éducatives d'inclusion sociale ? Nous nous utilisons de la méthode fenomenológico, vu que notre tâche a été ce de de décrire le phénomène, en se tournant seulement pour les choses comme elles se manifestent. Nous cherchons comprendre les « expériences vives », dont le chiffon de fond est quotidien, c'est-àdire, le monde, le quotidien. Nous cherchons à voir le phénomène tel que lui échantillon dans des termes de significations relationnelles, dans la dynamique du document de PST et ils dont disent les références consultées. Nous nous prévalons d'une étude de nature qualitative des types bibliographique et documentaire, donc notre préoccupation ce a été ce de de comprendre subjetividades trouvée dans les documents et littérature enquêtée. Notre attente a été ce dont cette recherche puisse contribuer de forme significative au bourgeonnement et les discussions concernant les propositions relatives aux politiques publiques de sport et au loisir présenté par les programmes du gouvernement. Mots Clés : Programme Second Temps (PST) ; Politiques et Pratiques ; Éducation Inclusive 1 INTRODUÇÃO O Segundo Tempo é um programa do Ministério do Esporte, em parceria com o Ministério da Educação e do Desenvolvimento Social e Combata à Fome, materializado em espaços escolares e/ou comunitários que permitam ao público-alvo, através do esporte 1 Mestre em Sociologia. Aluno Especial do Curso de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: [email protected] educacional, a oferta de práticas esportivas e atendimento social. Tem como um dos princípios a oferta do esporte comprometido com a reversão do quadro de injustiças, exclusão e vulnerabilidade social, geradores da violência, do trabalho infantil, etc., que vêm comprometendo o desenvolvimento de considerável parcela de nossa população jovem. Com estas ações, o PST tem possibilitado o direito à inclusão social e garantido estratégias que buscam favorecer o acesso aos bens sociais de esporte e lazer, sem discriminação de classe, etnia, raça, religião, gênero e nível sócio-econômico. Assim, este trabalho teve o objetivo de analisar o Programa Segundo Tempo (PST), particularmente sobre sua proposta, compreendendo-o como meio de prática e política educativa de inclusão social merecedor de atenção de estudos acadêmicos. Justificamos esta incursão investigativa a partir de algumas motivações que nos instigaram à realização deste empreendimento. A primeira, diz respeito ao fato de estarmos orientando acadêmicos cocluintes do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Regional do Cariri – URCA, que têm desenvolvido pesquisas sobre a dinâmica e o funcionamento do PST. A Segunda situa-se numa posição de curiosidade e inquietação que se materializam por uma série de questionamentos de ordem acadêmica das quais poderíamos destacar: o que é o PST? O que diz seu Documento Oficial? Como vem sendo materializado? Quem são as pessoas envolvidas? O que pensam sobre o programa? Que direção vem tomando o PST? Quais são as condições objetivas e materiais para o seu funcionamento? Essas e outras indagações foram nos ajudando a construir nosso objeto de estudo, motivando-nos à concretização deste estudo, permitindo-nos delimitar nosso problema central da pesquisa: o Programa Segundo Tempo (PST), em seu documento, vêm se constituindo um meio garantidor de políticas e práticas educativas de inclusão social? Nossa hipótese é a de que o PST apresenta-se como uma proposta que vem contribuindo paulatinamente para a efetivação de políticas e práticas de educação inclusiva, a qual se torna cada vez mais crescente no Brasil. O método usado na pesquisa é o fenomenológico, uma vez que nossa tarefa foi a de descrever o fenômeno, voltando-se para as coisas como elas se manifestam. Buscamos compreender as “experiências vividas”, cujo pano de fundo é o dia-a-dia, ou seja, o mundo, o cotidiano. Diante disto, procuramos ver o fenômeno tal como ele se mostra em termos de significados relacionais, na dinâmica do documento do PST e do que dizem as referências consultadas. Esta pesquisa se prevaleceu de um estudo de natureza qualitativa dos tipos bibliográfica e documental, pois nossa preocupação foi a de compreender as subjetividades encontradas nos documentos e literatura investigada. O trabalho foi dividido em dois momentos. No primeiro, cuidamos de examinar e explorar embrionariamente o documento do PST destacando, principalmente seu surgimento, as ações propostas, suas linhas estratégicas que regem o programa, entre outras questões que julgamos relevantes ao atendimento do fenômeno investigado. No segundo e último momento nos empenhamos em fazer uma análise sobre este mesmo documento do PST, tentando apresentar possibilidade e limitações de sua aplicação. Nossa expectativa é a de que esta investigação possa contribuir de forma significativa para o surgimento e as discussões acerca das propostas relativas às políticas públicas de esporte e lazer apresentadas pelos programas de governo. 2 Verificando e Conhecendo o Documento do (PST) Esta parte do estudo tem como objetivo conhecer o Documento do Programa Segundo Tempo (PST). Para tanto, tomando este Documento como material a ser explorado, daremos ênfase aos aspectos que dizem respeito ao seu surgimento, sua conceituação, ações a serem desenvolvidas, bem como uma revisitação em busca de um melhor entendimento de seus aspectos sociais e educacionais sugeridos por meio da iniciação esportiva. O PST foi criado no ano de 2003 com o propósito de exercer estratégias para formação cidadã e de inclusão social. É um programa idealizado pelo Ministério do Esporte em parceria com o Ministério da Educação, destinado a democratizar o acesso a práticas esportivas e complementares no contra-turno escolar, desenvolvidas em espaços físicos públicos ou privados, tendo como enfoque principal o esporte educacional2. Sobre o PST e sua relação com o esporte-educação, Nogueira (2006, p. 08) nos esclarece que O Programa contempla o Esporte na sua mais íntima articulação com a Educação. Dessa forma, o esporte educacional deve enfatizar as bases pedagógicas e garantir o direito de todos ao acesso a à prática desportiva como componente curricular. A ênfase é dada ao esporte educacional, portanto, aponta na direção de uma participação democrática e efetiva da grande maioria dos jovens, uma vez que essa dimensão não se presta a busca de seleção dos mais aptos ou talentoso à sua prática. O PST caracteriza-se por oportunizar o acesso a atividades esportivas (individuais e coletivas), lazer e ações complementares (banca de estudo, cultura e saúde), com o intuito de ocupar o tempo ocioso de crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade 2 Para maiores informações sobre esta dimensão de esporte, consultar: TUBINO, Manoel José Gomes. Dimensões Sociais do Esporte. São Paulo: Cortez, 1992. social. É através dessas atividades que o PST tem como um de seus objetivos colaborar para inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e desenvolvimento intelectual e humano de forma a assegurar o exercício da cidadania desses sujeitos sociais. O PST, além de assegurar atividades esportivas que são fundamentais na formação da cidadania oportuniza, também, outras atividades que possam ajudar no exercício dessa formação cidadã: reforço escolar, educação para saúde, reforço alimentar, palestras sobre diversos temas atuais e acompanhamento familiar (op. cit). Atividades estas entendidas como meios eficazes para prevenir os jovens do mundo da criminalidade, das drogas, da marginalidade, etc. O programa tem como estratégia de funcionamento o estabelecimento de alianças e parcerias institucionais. Essas entidades se tornam responsáveis pela execução do programa através de convênios ou instrumentos similares com o Ministério do Esporte, fixando à implantação de núcleos de esporte educacional. Outros objetivos mais pontuais do PST são oferecer práticas esportivas educacionais de qualidade estimulando crianças e adolescentes a manter uma integração efetiva contribuindo para o seu desenvolvimento integral e democratizar o acesso desses sujeitos a essas práticas como forma de inclusão social. As linhas estratégicas do programa são definidas como tomada de decisões que visam efetivar a prática esportiva através da implantação de núcleos de esporte educacional, utilizando espaços físicos (específicos) já existentes e ociosos, realizando o acompanhamento e avaliação permanente das ações e integrando-as a outros programas e projetos do Ministério do Esporte com o Segundo Tempo. De fato, ressaltemos que as linhas estratégicas para o desenvolvimento do Programa se sustentam por cinco verbos importantes – garantir, efetivar, motivar, possibilitar e integrar – os quais, respectivamente, asseguram (ou pretendem assegurar): as condições de infra-estrutura física e recursos humanos qualificados; a prática esportiva no contra-turno escolar; o ingresso e permanência de crianças, adolescentes e jovens na escola; o acompanhamento e avaliação permanente das ações do Programa; e as ações de programas e projetos do Ministério do Esporte, estabelecendo parcerias com instituições públicas e privadas sem fins lucrativos que sejam capazes de reconhecerem sua responsabilidade social (op. cit., p. 08). Diante das verificações iniciais do documento em questão percebemos que as atividades desenvolvidas possibilitam a democratização da atividade esportiva incentivando o acesso de crianças e adolescente às atividades esportivas do programa sem qualquer distinção ou discriminação. O PST é concebido como uma expectativa otimista na diminuição da criminalidade infantil. Para isto, se presta a propor educação e qualidade favorável de vida às crianças e adolescentes, pois como havíamos dito antes, sobretudo àqueles que vivem em situação de total vulnerabilidade social. Esta ação se constitui como sendo uma forma de prevenir esses sujeitos sociais da marginalidade geradas pelas profundas desigualdades sociais percebidas na sociedade brasileira. Assim, os principais beneficiados pelo programa são os meninos e meninas de rua, os quais são as pessoas mais desprovidas de condições dignas de vida (ESCOBAR apud BENEVIDES, 2006). 3 Analisando o Documento do PST Nesta parte do estudo objetivamos analisar o documento do PST, no sentido de verificarmos suas possibilidades e limitações ao atendimento do cumprimento de suas metas e proposições de políticas e práticas educativas e inclusivas através de atividades lúdicas e esportivas para crianças e jovens que vivem em situação de risco social. Para Saldanha Filho (2003, p.7), O Estado como gestor de políticas, tem a responsabilidade de promover a democratização das práticas e reflexões referentes às oportunidades e espaços públicos de esporte e lazer, que devem ser garantidas em todas as sua manifestações educativas, participativas e de performance, como direito de todos. Diante do que foi citado pelo autor é de fundamental importância que o Estado, através de suas políticas, possa oferecer espaços públicos e equipamentos destinados a democratizar o acesso às práticas esportivas e de lazer para que a população como um todo usufrua desses espaços para o divertimento, descanso, opção a mais para o tempo livre e também estimular as comunidades a organizarem-se em grupo. O PST, através das atividades sugeridas, visa possibilitar a liberdade de escolha das crianças e dos adolescentes que são atendidos pelo programa, no sentido de poderem exercer sua liberdade de decidir pelo esporte de seu interesse que queiram praticar. Esse exercício é de suma importância para o despertar do sentimento de escolha e tomada de decisões individualizadas de cada um para o bem da convivência em grupo que fortaleçam cada vez mais a coletividade. As práticas esportivas inclusivas oferecidas no PST têm, sobretudo, um caráter educacional objetivando o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, favorecendo a consciência do próprio corpo, explorando seus limites, aumentando as potencialidades e desenvolvendo seu espírito de solidariedade, cooperação mútua e respeito pelo coletivo. Dessa maneira, o sentido atribuído ao esporte é o de promover atividades de lazer possibilitando a prática de atividades físicas por meio de programas educacionais e a criação de programas que permitam as pessoas se tornarem mais ativas e participativas no processo de construção permanente de reinserção social e cidadania. Trata-se, ainda, numa estratégia que poderá ser utilizada na promoção da saúde individual e coletiva das comunidades (BENEVIDES, 2006). De fato, as atividades corporais proporcionadas através de programas sociais e também na escola podem promover modos de vida mais saudáveis que colaboram para o bem estar físico, mental, espiritual, social podendo diminuir, também, os índices de evasão e repetência escolar, reduzindo a exposição de crianças e adolescentes às situações de risco social. Porém sabemos que estas conquistas não são possíveis de ocorrer sem a garantia de políticas efetivamente dignas. É necessário que elas apontem na direção de políticas duradouras devendo combater as causas que geram a exclusão social e as profundas desigualdades sociais há anos denunciadas em nosso país. Desta maneira, as práticas esportivas não podem nem devem ser ofertadas apenas para ocupação do tempo livre para os jovens, pois como nos alerta Moreira et. al (2008, p. 8) que geralmente [...] as atividades esportivas aliadas à pretensa necessidade de completar a educação escolar com práticas que ocupem o tempo ocioso das crianças e jovens são apresentadas de forma linear e sem contradições, como uma prática social que contribui para a formação do individuo e para a promoção da saúde. Quando as atividades esportivas estão ligadas à educação escolar complementando o tempo livre de crianças e adolescentes, essas práticas se manifestam (deveriam se manifestar) como uma prática social contribuindo para uma melhor qualidade de vida desses sujeitos sociais. Qualidade de vida, acreditamos, no sentido de emancipação humana plena, ou seja, a oferta das práticas esportivas por meio de programas governamentais devem estar voltados, efetivamente, para combater radicalmente as desigualdades sociais, diminuindo as incertezas e as injustiças sociais vivenciadas por jovens oriundos das classes menos favorecidas socialmente. Para Melo (2005, p. 80), “Inegavelmente os esportes e as artes possibilitam novas formas de relação com o mundo, podendo tais manifestações constituir um projeto de melhoria das condições gerais de vida”. E é nesta perspectiva que acreditamos que o PST deva caminhar para que não seja um programa a mais, servindo como promessas de campanhas políticas. Diante disto, torna-se necessário que aqueles que forem materializar estes tipos de políticas estejam profundamente conscientes de sua importância política, histórica e social para contribuir no processo de construção de uma juventude cada vez mais incluída nas decisões políticas de sua vida e da vida de sua comunidade. Empreender o PST nesses moldes é perceber que muitas das transformações podem ser viabilizadas pela organização e mobilização coletiva de quem está diretamente inserido no seu desenvolvimento. Assim, trata-se, também, de uma atitude politicamente consciente daqueles que colocam em prática as ações deste programa. Não que queiramos colocar todas as responsabilidades naqueles que convivem cotidianamente com os seus beneficiados, mas a atitude aqui sugerida pode-se ocorrer de forma estratégica como foco de resistência ao que apenas fica muitas vezes colocado nos documentos oficiais. Voltando as discussões mais pontuais sobre o PST, verificamos que as atividades esportivas e de artes proporcionam as pessoas uma ligação com o mundo oportunizando, através dessas expressões, a melhoria da qualidade de vida, a tomada de consciência da importância da prática esportiva e das artes como atividades necessárias ao bem estar individual e coletivo, vendo, ainda, estas práticas como uma perspectiva educacional e lúdico-recreativa de práticas de reinserção social. Florentino e Saldanha (2007, p.4) afirmam que Os motivos que levam crianças e adolescentes a praticarem uma determinada atividade física e desportiva são muitos e a sociabilidade pode estar associada a esta escolha. A necessidade de pertencer a um grupo é muito forte na adolescência e isto pode ser um dos fatores primordiais para os jovens se envolverem com o esporte. De fato, um dos fatores principais que levam crianças e adolescente a se comprometerem com a prática de esporte é a vontade de fazer parte de um grupo, de estarem inseridos em um contexto social. O esporte é um dos meios de socialização, talvez um dos mais atrativos por esses sujeitos, por proporcionar-lhes momentos oportunos de construção de laços duradouros de sociabilidade expressivos no decorrer de sua vida em sociedade. Nesse sentido, Benevides (2006, p.24) comenta que Muitas crianças não encontram na família rendimentos necessários de sustento e sobrevivência e outras também vivem em um clima familiar de tensão, medo e confronto. Assim podem estabelecer a rua como um espaço onde vão viver todas ou quase todas, as suas relações. Verifica-se que muitas crianças, sobretudo aquelas que vivem em situação de risco social, não encontram na família, na maioria das vezes, um ambiente saudável, com dificuldades sociais e econômicas para sua subsistência. Muitas delas vivem em condições totalmente desfavoráveis compartilhando de um clima geralmente de desarmonia e de falta de diálogo encontrando na rua o lugar onde irão vivenciar suas relações às quais, provavelmente, marcarão suas vidas: social, emocional e cognitiva. Fica claro na passagem anterior que é de fundamental importância o estabelecimento de políticas públicas de esporte e lazer. Deve ser ofertada à sociedade o ingresso ao desenvolvimento de atividades criativas e prazerosas preservando a história das comunidades e resgatando as manifestações expressivas existentes, possibilitando, através dessas práticas, a melhoria da auto-estima e da qualidade de vida de todos. Seria o PST uma dessas políticas as quais viabilizariam uma melhoria significativa para a juventude brasileira a ponto de reinseri-los socialmente? Para Silva et. al. (2007, p. 150) Tais políticas, ditas de inserção social se inserem em situações degradadas e viciadas por séculos de vulnerabilidade social e vêm se constituindo no ápice das “políticas de assistência social” do Estado brasileiro, as quais representam apenas um modo “preventivo e provisório” para supostamente “atenuar a miséria, a fome e outras mazelas sociais”. Seria, portanto, necessário rediscutirmos ou analisarmos mais cuidadosa e criteriosamente a proposta do PST, como forma de nos certificarmos quais são suas reais contribuições e limitações para a reinserção de sujeitos sociais que vivem em condições sociais e econômicas extremamente desfavoráveis. Muitas dessas políticas de inserção social são criadas em um pequeno espaço de tempo para diminuir a gritante falta de oportunidades, a miséria, a fome entre outras mazelas que afetam cronicamente as camadas menos favorecidas da sociedade. Com isto, são proposições formuladas com o intuito de buscar ofertar, através dessas políticas, uma melhoria da qualidade de vida, visando prevenir esses sujeitos dos riscos da vida social que estão submergidos. Neste caso, estamos mais uma vez dizendo que essas políticas ainda não são devidamente efetivas porque em vez de cuidar das causas geradoras do brutal processo de exclusão estão dando conta apenas das inúmeras seqüelas deixadas por este avassalador processo vivenciado pela juventude brasileira. Desse modo, numa primeira aproximação, ou seja, de uma exploração ainda embrionária do PST através deste estudo, podemos afirmar que este Programa, como política de inclusão social perceptivelmente se expande quantitativamente, como vêm mostrando atualmente os meios de comunicação. Porém afirmar que está havendo um crescimento qualitativo desse programa parece precipitado para o memento. Esta afirmação se sustenta na compreensão de que não há ainda elementos científicos e tempo suficiente – por se tratar de um programa de certa forma recente – para que possamos realizar uma avaliação mais cuidadosa e criteriosa de seus prováveis resultados qualitativos e positivos. Diante disso, e por considerar que o objetivo desta investigação foi o de apenas realizar uma verificação inicial/exploratória, torna-se necessário, posteriormente, a efetivação de uma análise realmente mais detalhada deste Programa para que não se tomem conclusões imediatistas e precipitadas a respeito de suas contribuições para o processo de inclusão social ao que o empreendimento ora evidenciado se propõe. Entretanto podemos adiantar, de acordo com Melo (2005, p. 82), que Programas de esporte, por si, não darão conta da resolução de todos os problemas sociais. Aliás, o esporte não pode ser tratado como a solução de problemas que requerem ações de ordem políticas muito mais incisivas do que simplesmente a criação de programas esportivos. A criação de programas esportivos pode contribuir para amenizar o quadro de problemas sociais enfrentados pela sociedade, mas não são suficientes para resolver definitivamente os males deixados pelos longos anos de exclusão social. Para tanto, torna-se necessário que os órgãos públicos ofereçam melhores condições de saúde, trabalho, educação, moradia, esporte, lazer, etc. a todos para que possam, finalmente, usufruir de uma melhor qualidade de vida: social, emocional, moral, econômica, entre outras variáveis indispensáveis à vida humana e cidadã. O PST é um desses projetos que pode contribuir para a inclusão desses sujeitos sociais, oriundos das classes subalternas da sociedade que não dispõem, geralmente, de oportunidades efetivas de acesso às práticas de esporte e lazer com qualidade, voltadas não apenas para o aprendizado destas práticas, mas através delas (das práticas esportivas) poderem exercer sua cidadania plena. Vale ressaltar que os programas que tem como objetivo promover a reinserção de pessoas das mais variadas classes sociais – especialmente aquelas pertencentes aos meios menos favorecidos – devem ser incrementados e ampliados cada vez mais, não no sentido, repetimos, de resolver apenas as seqüelas produzidas e reproduzidas pelo processo de exclusão social – resultado da ordem social capitalista vigente – mas como política permanente e efetiva de combate as causas que geram estes processos excludentes. Para tanto, é necessário exigir racionalmente dos governos melhores condições de trabalho em quantidade e qualidade para que os programas sociais possam atender satisfatoriamente a todos os engajados nas ações de resgate da dignidade humana. Para Martins e Melo (2008, p.15) as “políticas públicas que pretendem incluir os jovens devem ser construídas a partir de outro olhar que não mais vejam o jovem como um problema, como uma ameaça à convivência e ao equilíbrio social”. Mas é importante que tenhamos o poder de vê-los e reconhecê-los como sujeitos sociais que não estão tendo o direito e a oportunidade de poderem exercer definitivamente sua condição humana de cidadãos plenos e capazes de participarem de forma mais efetiva no processo de construção da sociedade brasileira. Nesse entendimento, os programas devem estar voltados, política e ideologicamente, para a reinserção social em detrimento das políticas de caridade, isolamento e vigilância punitiva de crianças, adolescentes e jovens considerados infratores. Portanto, ao estarmos desenvolvendo um programa de inclusão social, como por exemplo, nos moldes do PST, devemos agir de maneira consciente de nosso papel no programa. Para tanto, é importante que estejamos suficientemente inteirados e dotados de conhecimentos e experiências sobre esses programas de inclusão social voltados para a população jovem que vive em situação de risco social. Essa postura nos permitirá a construção de uma visão despida de preconceitos e discriminações sobre os jovens e o modo como vêem o mundo, entendendo que o nosso agir é estrategicamente humano e político, ao mesmo tempo em que nossa relação com estes sujeitos nos permite compreender que somos também de alguma forma excluídos pelo poder dominante e, que, portanto, o fato de estarmos colocados na posição de contribuir devamos nos sentir em condições para tal. Nesse sentido, podemos afirmar que as políticas estruturadas para atender a juventude brasileira pobre deveriam ter outra visão em relação a ela, contrária àquelas que a coloca como um problema ou uma ameaça à sociedade. Mas que essas políticas sejam formuladas para atender essa juventude menos beneficiada proporcionando-lhes momentos de descontração, lazer e socialização, percebendo, que sua conduta, “boa ou má”, é resultado de construções sociais a que esta juventude vem sendo historicamente submetida. A atribuição feita ao esporte como propósito educativo e inclusivo implica refletir os objetivos educacionais nos princípios de cidadania, de diversidade, de inclusão social e de democracia que decorrem a Política Nacional, porque representam valores, hábitos e atitudes possíveis de serem constituídos através da aplicação do esporte (MANUAL DE DIRETRIZES E ORIENTAÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO, 2006). Quando o esporte se coloca voltado para contribuir no desenvolvimento de valores sociais, da melhoria das capacidades físicas, da inclusão social e da promoção do ser humano na sua totalidade, podemos considerá-lo como esporte educacional porque está orientado para educar e beneficiar a população através dessa prática educativa que também é inclusiva. Para Florentino e Saldanha (2007, p. 3) O esporte é pedagógico e, por conseguinte, educativo, tendo em vista a sua possibilidade de proporcionar obstáculos e desafios, fazendo com que o aluno experimente as regras e aprenda a lidar com o próximo e, porque não dizer, o esporte torna-se educativo quando a sua prática não for uma obrigação, mas um prazer para o aluno. Quando o esporte é realizado por livre e espontânea vontade e quando não for imposto como um dever ou uma obrigação, provavelmente, é bem mais fácil aceitá-lo, passando a praticá-lo com prazer, divertimento, descontração sendo considerado uma prática educativa, inclusiva, agradável e humanizadora. Desta maneira, se desfaz a dicotomia obrigação/satisfação, compreendendo a importante relação existente entre a obrigação e o prazer de fazer o esporte educacional e inclusivo. A nosso ver, esta parece uma das intenções do PST. 4 Considerações Finais Podemos verificar neste estudo que O PST, em seu documento, se coloca favorável a contribuir para a sociedade, na medida em que se preocupa na reinserção das crianças, adolescentes e jovens que vivem em vulnerabilidade social. Pauta-se na busca de uma melhor condição de vida destes sujeitos, proporcionando-lhes, através do esporte educacional, o desenvolvimento de valores sociais, a melhoria da qualidade de vida, das capacidades físicas e motoras, a diminuição da exposição aos riscos sociais e a conscientização da prática esportiva, com vistas ao exercício permanente de recuperação da cidadania “roubada”. É notório que em termos quantitativos, o PST vem contribuindo para a reinserção social de jovens oriundos das classes subalternas da sociedade, mas sabemos, também, que nem todos que vivem em situação de risco social são contemplados com o programa porque as políticas públicas são paliativas e compensatórias dando oportunidade para uma parcela pequena da sociedade, amenizando momentaneamente as crônicas mazelas sociais: fome, pobreza, falta acesso à escola, etc. Há muito que ser feito para a minimização do brutal processo excludente em nossa sociedade, tanto por parte dos governos, instituições públicas e privadas, ONG’s, etc. (esses bem mais) quanto pela a sociedade como um todo. Podemos verificar que o PST parece ser um programa viável que deve ser ampliado em quantidade e qualidade em todo território nacional, mas há de se ter o cuidado para não se transformar como manobras eleitoreiras e troca de favores entre políticos e empresários; nem tampouco servir como políticas compensatórias e paliativas. Sua efetividade é válida até que se resolva significativamente o problema da desigualdade social vivenciada pela juventude desprivilegiada de nosso país. Acreditamos que o PST apresenta-se como uma proposta que vem contribuindo paulatinamente para a efetivação de políticas e práticas de educação inclusiva, a qual se torna cada vez mais crescente no Brasil. Embora o PST venha se constituindo um meio garantidor de políticas e práticas educativas de inclusão social, podemos afirmar que esse programa não pode perdurar por muito tempo, uma vez que, mais importante do que dar conta de políticas e práticas que paliativamente minimizam os efeitos perversos do processo de exclusão existente em nosso país, o mais indispensável e desejável mesmo é resolver as causas que disseminam e perpetuam este processo desumano e excludente que vivenciados por nossas crianças e jovens. 5 Referências BENEVIDES, Andréia Cristina da Silva. O programa Segundo Tempo e sua Análise nos Aspectos Social e Educacional na Promoção da Saúde. Fortaleza, 2006. Monografia (Especialização). Universidade de Brasília. Centro de Ensino à Distância, 2006. BRASIL – MINISTÉRIO DO ESPORTE. Manual de Diretrizes e Orientações do Programa Segundo Tempo. Brasília, 2006. FLORENTINO, José; SALDANHA, Ricardo Pedroso. 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