Miguel Félix – é pediatra e presidente do Conselho Português de Ressuscitação
O suporte básico de vida e os cuidadores de crianças (por Miguel Félix)
As crianças, principalmente as mais pequenas, em idade pré-escolar, são particularmente
suscetíveis a doenças respiratórias. Esta maior suscetibilidade deve-se a uma imaturidade
imunológica relativa, mas também ao facto de estarem frequentemente inseridas em grupos
relativamente numerosos, com exposição fácil a contágio por agentes infeciosos.
Tal como estas doenças respiratórias, outras circunstâncias relativamente frequentes em idade
pediátrica podem comprometer a via aérea e a respiração de uma criança pequena,
nomeadamente as convulsões e a sufocação por obstrução acidental da via aérea por corpo
estranho (pedaço de alimentos, peças de brinquedos…).
A grande maioria destas situações são benignas e autolimitadas, acabando quase sempre por se
resolver espontaneamente, mas ocasionalmente podem ser mais graves, condicionando
dificuldade respiratória que pode ser significativa e que, em circunstâncias extremas, podem
acabar por levar a uma paragem cardiorrespiratória.
Tal como em todas as outras idades, a atitude que permite uma maior taxa de sucesso em termos
de reanimação é o reconhecimento precoce de que uma criança está em situação de risco para a
via aérea e respiração, bem como de que pode estar iminente uma paragem respiratória e/ou
cardíaca, seguido do adequado pedido de ajuda dos serviços de emergência.
Além desse reconhecimento e pedido de ajuda, são fundamentais as atitudes imediatas que
podem permitir restabelecer a permeabilidade da via aérea nos casos de sufocação / obstrução da
via aérea por corpo estranho.
Também o suporte básico de vida (conjunto de atitudes que, executadas em sequência correta,
permitem reconhecer rapidamente uma criança em paragem respiratória e/ou cardíaca e ganhar
tempo até à chegada de ajuda diferenciada, realizando manobras simples para manter alguma
respiração e circulação) pode e deve ser aprendido e treinado, se possível de uma forma prática e
sistematizada, por todos os cuidadores de crianças que podem deparar-se com situações deste
género.
De facto, se é importante que os cuidadores de crianças em diversas idades estejam preparados
para lidar com as pequenas intercorrências do dia a dia, como pequenos acidentes (feridas,
hematomas, queimaduras…) e sintomas de doenças benignas e autolimitadas (como a febre), não
faria sentido que não estivessem preparados para reconhecer, pedir ajuda e abordar de forma
inicial situações que podem colocar a vida em risco.
Fevereiro de 2013
Educação Pré-Escolar
Saber estes princípios fundamentais, e como atuar em circunstâncias que habitualmente geram
ansiedade e stress, podendo fazer a diferença no resultado de uma situação potencialmente fatal
para outra pessoa, deveria mesmo ser um objetivo para todos os cidadãos. Para aqueles que têm
um dever acrescido de resposta, por trabalharem com o grupo particularmente vulnerável das
crianças, esse é um dever ainda mais significativo, permitindo-lhes tornar-se um elo forte da
Cadeia de Sobrevivência.
Fevereiro de 2013
Educação Pré-Escolar
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por Miguel Félix