ALIMENTAÇÃO ENTERAL EM PEDIATRIA
Prof. Dr. Elizete Aparecida Lomazi da Costa Pinto
BASES FISIOPATOLÓGICAS PARA INDICAÇÃO DE ALIMENTAÇÃO
ENTERAL
1. Menor risco e custo em relação à nutrição parenteral;
2. A presença de alimentos na luz intestinal influencia favoravelmente a
integridade morfológica e funcional da mucosa intestinal normal e a
adaptação do intestino delgado após grandes ressecções;
3. Nutrição enteral por gavagem contínua é mais bem tolerada que a
alimentação em bolo quando a superfície mucosa intestinal estiver
severamente prejudicada, se há retarde do esvaziamento gástrico, ou nos
estados de hipermotilidade;
4. Na situação de intestino encurtado, os constituintes das dietas
elementares são mais completamente absorvidos quando administrados
continuamente do que em bolo;
5. Dietas elementares diminuem a secreção pancreática e são absorvidas
mais proximalmente do que outras fórmulas. Conseqüentemente, dietas
elementares podem ser úteis na pancreatite, nas fístulas intestinais e no
paciente com doença intestinal distal.
Com base nessas premissas as indicações da alimentação enteral em pediatria
são:
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Doenças crônicas associadas à anorexia e desnutrição;
Diarréia persistente
Fibrose cística
Doenças inflamatórias intestinais crônicas
Síndrome do intestino encurtado;
Pancreatite;
SIDA;
Suplementação em estados catabólicos: queimadura, sepsis, neoplasia;
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Distúrbios da motilidade gastrointestinal;
Prematuridade;
Desnutrição grave;
Na transição da via parenteral para a oral;
Alterações neurológicas: coma, TCE;
Cirúrgicas: Traumas e cirurgias da face, orofaringe e esôfago, estenose
de esôfago;
Insuficiência hepática;
Insuficiência respiratória;
Insuficiência renal;
Desnutrição grave.
TIPOS DE FÓRMULAS ENTERAIS
1. Elementares (aminoácidos, glicose, lipídios, vitaminas e minerais)
2. Poliméricas (proteínas, oligossacarídeos, óleos vegetais, TCM,
vitaminas e minerais)
3. Leite de vaca modificado e fórmulas de soja;
4. Fórmulas específicas para doenças específicas.
CUIDADOS COM A ADMINISTRAÇÃO DA DIETA ENTERAL
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Manter o paciente em decúbito elevado;
Lavar a sonda com água destilada após administração da dieta;
Utilizar bomba de infusão para administração da dieta;
SONDA NASOGÁSTRICA: Verificar resíduo antes de cada infusão
em bolo e a cada três horas na infusão contínua; se presente reinfundir e
descontar do volume a ser infundido;
• SONDA PÓS-PILÓRICA: Confirmar a posição correta da sonda
diariamente, através da medida do pH do aspirado e, em caso de dúvida,
solicitar radiografia do abdome;
• MONITORIZAÇÃO:
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1.Oferta nutricional e balanço hídrico, sinais vitais e peso
diariamente,circunferência do braço e prega tricipital
semanalmente;
2.Velocidade de infusão da dieta;
3.Clínicos: distensão abdominal, número de evacuações diárias,
presença de sangue nas fezes;
4.Posicionamento da sonda após vômito;
5.Bioquímicos: URINA: glicosúria, potássio, nitrogênio uréico
SANGUE: eletrólitos, proteínas totais e frações,
uréia e creatinina;
FEZES: pesquisa de sangue oculto e de substâncias
redutoras.
COMPLICAÇÕES
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Obstrução da sonda;
Aspiração pulmonar;
Deslocamento ou remoção acidental da sonda;
Diarréia;
Distensão abdominal;
Náuseas e vômitos;
Constipação intestinal;
METABÓLICAS: desidratação, hipopotassemia,
hipernatremia, hipofosfatemia, hipercapnia.
hiperpotassemia,
FIM....................................................................................................................
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NUTRIÇÃO PARENTERAL EM PEDIATRIA
Marcelo Barciela Brandão
Roberto José Negrão Nogueira
Ø VOLUME
Até 10 kg ____________100ml/kg/24h
10 kg até 20 kg________1000ml + 50ml/kg acima de 10 kg
>20 kg_______________1500 ml + 20 ml/kg acima de 20 kg
Ao se calcular o volume total (Vt), este será a soma entre o volume de glicose
(Vg) e o volume restante (Vr), assim teremos:
Vt = Vg + Vr ou Vg = Vt – Vr
Obs:
A necessidade hídrica da criança pré-termo é diferente do termo:
Tempo de vida
1º dia
2º dia
3º dia
4º dia
5º dia
1ª sem – 30 dias
Pré-termo¹
60 – 70ml/kg
80 – 90ml/kg
100 – 110ml/kg
120 –140ml/kg
125 - 150ml/kg
150ml/kg
Termo
70ml/kg
70ml/kg
80ml/kg
80ml/kg
90ml/kg
120ml/kg
¹ esta regra se aplica a PT > 1500g
- quando for calcular o volume acrescentar 20% a mais devido ao volume
que ficará retido no equipo.
- Ao se fazer o primeiro soro de um RN só colocar soro glicosado e Ca, o Na
apenas após 24 horas e o K após 48 horas.
Ø GLICOSE
glicose(TIG) = 0,3 a 0,6g/kg/24h
quantidade de glicose a ser dada em 24h (g glicose) => g glicose=TIG.P.24,
onde P é peso e 24 representa as 24 horas do dia.
O volume de glicose a ser dada poderá ser feito todo em soro glicosado à 50%
(SG50%) ou parte em SG50% e parte em SG10%; caso se opte pela segunda,
o volume de SG50% (VSG50%) será calculado a partir da seguinte fórmula:
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VSG50% = g glicose . 10 – Vg
4
sendo que o volume de SG10% (VSG10%), será assim calculado:
VSG10% = Vg – VSG50%
Ø SÓDIO
Oferecido na forma de NaCl 10 ou 20%, na taxa de 2,0 a 4,0mEq/kg/dia até
um limite de 150mEq/dia; geralmente iniciamos com 3,0mEq/cada 100ml do
Vt, o que equivale a 3,0mEq/kg/ dia até os 10kg.
1,0ml de NaCl 10% = 1,7mEq de Na
1,0ml de NaCl 20% = 3,4mEq de Na
Ø POTÁSSIO
Oferecido na forma de KCl 19,1% na taxa de 2,5 até 5,0mEq/kg/dia até um
máximo de 120mEq/dia; geralmente iniciamos com 2,5mEq/cada 100ml do
Vt, o que equivaleria a 2,5mEq/kg/dia até 10kg.
1,0ml KCl 19,1% = 2,5mEq de K
Ø FOSFATO DE POTÁSSIO
A apresentação costumeira contém 2,0mEq de K/ml e 1,8mmol de P/ml; a
dose é de 1,0 a 2,0mmol/kg/dia, máximo de 50mmol.
Regra prática:
0,5ml/kg/dia (máx = 25ml)
quando for usado, descontar 2,0mEq de K por ml oferecido
Exemplo c/ criança de 10kg
Fosfato de potássio = 5ml
Retirar 2,0mEq de K/ml oferecido = 2 . 5 = 10mEq
O K basal seria de 2,5 . 10 = 25mEq; portanto
25 – 10 = 15
1,0ml de KCl 19,1% = 2,5mEq de K
X ml de KCl 19,1% = 15mEq de K
assim,
X = 15/2,5 => X = 6;
O volume de KCl 19,1% seria de 6,0ml
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Ø FÓSFORO ORGÂNICO
A apresentação habitual é 1,0 ml = 0,66mEq Na e 0,33mEq fosfato e
0,33mEq fósforo. A dose é a mesma do fosfato de potássio; descontar o Na.
Obs: lembrar que o fosfato de K pode precipitar com o cálcio. De acordo com
o caso considerar duas possibilidades:
- fazer cálcio e fosfato em dias alternados; e
- colocar o fosfato na nutrição parenteral e o cálcio em outro acesso
separadamente.
Ø CÁLCIO
Oferecido na forma de GlucoCa 10%, na taxa de 100 a 400mg/kg/dia,
máximo de 2,0g/dia.
1,0ml GlucoCa 10% = 100mg de Ca
Ø MAGNÉSIO
A necessidade diária gira em torno de 1,0 a 2,5mEq/kg/dia limitada a
24mEq/dia; geralmente iniciamos com 0,5mEq/kg/dia; a forma utilizada é o
MgSO4 10%.
1,0ml MgSO4 10% = 0,8mEq de Mg
Ø AMINOÁCIDOS
Oferecido na forma de aminoácido pediátrico 10%, iniciando-se no primeiro
dia com 0,5g/kg/dia, aumentando 0,5g/kg/dia a cada dia até chegar a
2,5g/kg/dia. O volume a ser oferecido será calculado através da seguinte
fórmula x . P .10, onde x é a quantidade de proteína em grama que se está
dando por dia.
Ø LIPÍDIOS
Oferecido na forma de lipídio pediátrico ou TCL/TCM 10 ou 20%
(preferência para o segundo), inicia-se no segundo dia com 0,5g/kg/dia,
aumentando-se 0,5g/kg/dia a cada dia até chegar em 3,0g/kg/dia (alguns
autores chegam até 5,0g/kg/dia). O volume a ser oferecido será calculado
através da seguinte fórmula x . P . 10 ou 5, 10 ou 20% respectivamente, onde
x é a quantidade de lipídio que se está dando por dia.
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Ø VITAMINAS
<10 kg
Polivit A: 5,0ml/dia
Polivit B: 5,0ml/dia
>10kg
Polivit A: 10ml/dia
Polivit B: 5,0ml/dia
Kanakion (vit. K): ½ amp. 2x/sem,IM
B12 (1 amp=1000UI): ½ amp. 1x/sem, IM
Ac. Folínico (3,0mg/ml): 0,2ml 1x/sem.IM
O cálculo das vitaminas pode variar com a fórmula a qual está sendo usada,
procurar não ultrapassar a dose diária recomendada das vitaminas
lipossolúveis como rotina.
Procurar administrar um mínimo de 200mcg de zinco ao dia.
Ø OLIGOELEMENTOS
Oliped: 1,0ml/dia
Ø CALORIAS
Necessidades calóricas diárias:
Até 10 kg ________________100cal/kg/dia
11 à 20 kg________________1000cal/dia + 50 cal/kg/dia acima de 10 kg
>20 kg___________________1500cal/dia + 20cal/kg/dia acima de 20 kg
As calorias totais (CalT) são assim calculadas:
CalT = CalG + CalP + CalL
CalG = calorías de glicose
CalP = calorías de proteínas
CalL = calorías de lipídios
É importante saber que:
1,0g de glicose = 3,4 cal
1,0g de proteína = 4,0 cal
1,0g de lipídio
- a 10% = 11 cal
- a 20% = 10 cal
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Ø CONCENTRAÇÃO
A concentração da solução é calculada a partir da seguinte fórmula:
[ ] = g glicose ,
Vt
É importante saber que uma veia periférica suporta uma concentração
máxima de 12%, e uma veia profunda de 18%.
Ø OSMOLARIDADE
Máximo de 700 mosm/ml em veia periférica.
Ø CALORIAS Ñ PROTÉICAS/G DE PTN
Manter uma relação entre calorias não protéicas por gramas de proteínas entre
24 e 32. Procurar o valor mais baixo em casos de grande consumo protéico.
Ø MONITORIZAÇÃO LABORATORIAL
Desnsidade Urinária
Glicosúria
Hemograma completo
Glicemia
Na, K, Cl, CO2
Ca, P, Mg
Cr, U, pH
Ptn totais, albumina
Triglicérides, colesterol
Testes hepáticos
4 – 6x/dia
4 – 6x/dia
1x/sem
1x/dia (ajuste); 2x/sem
1x/dia (ajuste); 2x/sem
2x/sem
2x/sem
1x/sem
2x/sem
1x/sem
- os testes hepáticos devem incluir bilirrubina total e direta, AST, ALT,
fosfatase alcalina e gama-GT.
- deve ser feita uma monitorização antes do início do suporte nutricional.
BIBLIOGRAFIA
-
-
Haber B. A., Deutschman C. S.; Nutrition and Metabolism in the Critically Ill Child. In
Textbook of Pediatric Intensive Care, Roger, M. C.. 3ª ed, 1996.
Rosenfeld K. G. W., Suetugo M. H.; Necessidades Nutricionais da Criança Normal e
Doente. In Suporte Nutricional em Pediatria, Telles Jr M, Tannuri U. 1ª ed, 1994.
Terapia Nutricional Total: “Uma parte integral no cuidado do paciente”, 1ªed, 1997.
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Alimentação Enteral em Pediatria - Hospital de Clínicas