CONCEPÇÕES DE ENSINO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA EM ESCOLAS CAMPINENSES Danielle Gomes de Sousa Raquel Nobre Santos Melânia Mendonça Rodrigues Resumo: O artigo decorre de uma pesquisa, realizada em uma escola municipal de Campina Grande, acerca do ensino de História e Geografia no ensino fundamental, adotando, como procedimentos: entrevistas semiestruturadas com a diretora da escola, uma professora do 4º ano e 11 alunos do mesmo ano; análise documental, em que se analisou o Projeto Político-Pedagógico da escola; observações do cotidiano escolar. Destacando, dos dados obtidos, os referentes aos alunos, constata-se que eles sabem qual é a importância da escola, como instituição em que se aprende a ler e a escrever, mas também entendem que não é somente esse o seu papel, apontado a sua função socializadora: fazer amigos, brincar, etc. Os alunos também percebem as dificuldades da escola e apontam as melhorias que deveriam ser feitas, como, por exemplo, maior acesso à biblioteca da escola e a instalação dos computadores. Quanto à concepção de História e Geografia, porém, os alunos demonstraram desconhecimento, bem como, não saber para que servem essas disciplinas, refletindo uma concepção positivista que prioriza o ensino de Português e Matemática, deixando outros conhecimentos em segundo plano. Palavras-chave: ensino fundamental; ensino de História; ensino de Geografia Résumé: L’article provient d`une recherche réalisée dans une école de Campina Grande sur l’enseignement primaire ayant comme procédés : interviews semi-structurés avec la Directrice de l’école, une institutrice de la 4 ème année et onze élèves de la même année, analyse de documents (Le Projet Politique-Pédagogique de l’École), observations de la vie scolaire. Des données obtenues du côté des élèves, on constate qu’ils connaissent l’importance de l’École comme une institution où l’apprend à lire et à écrire mais sont conscients du rôle de l’École autant qu’organismes de socialisation : faire des amis, jouer, etc. Les élèves s’aperçoivent aussi des difficultés et indiquent des améliorations qui peuvent être faites, comme par exemple : un meilleur accès à la bibliothèque et acquisition d’ordinateurs. Cependant, quant à la conception des disciplines comme Histoire et Géographie les élèves questionnent leur importance et application, mais par contre, par rapport aux disciplines Portugais et mathématiques ils montrent plus d’intérêt. Mots-clés: scolaire, enseignement de l’histoire, l’enseignement de la géographie CONCEPÇÕES DE ENSINO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA EM ESCOLAS CAMPINENSES Introdução A partir de estudos e discussões na disciplina Estudos Sociais (Geografia) do curso de Pedagogia, observamos que, muitas vezes, o ensino das disciplinas Geografia e História vem sendo deixado em segundo plano no ambiente escolar, dando-se mais ênfase às disciplinas de Português e Matemática. Foi a partir dessa constatação que o presente trabalho se desenvolveu, tendo como objetivo observar as concepções de ensino das disciplinas de Geografia e História em uma escola municipal de ensino fundamental de um bairro da cidade de Campina Grande. O trabalho foi desenvolvido a partir de visitas à escola, orientadas por um roteiro, constituído de quatro partes: a primeira, concernente ao mapeamento da escola, com descrição da estrutura física, dos recursos humanos (número de professores, alunos e dos outros atores sociais que compõem o território escolar), a localização da escola, o bairro em que os alunos residem e a síntese da sua história; a segunda, uma investigação acerca do projeto político pedagógico da escola; a terceira, o momento de aproximação aos professores de Geografia e História dos anos iniciais do ensino fundamental e dos alunos; e, por fim, a realização de entrevistas semiestruturadas com a diretora da escola, a professora do 4º. ano e com 11 (onze) alunos do mesmo ano, com base nas seguintes questões: 1) O que é Geografia (História)?; 2) Para que serve a Geografia (História)?; 3) Você gosta de Geografia (História)? Por quê?. 1. Mapeamento da escola 1.1 – Descrição da estrutura física A escola conta com nove salas, duas das quais, destinadas à sala de leitura e ao laboratório de informática, que ainda não está funcionando, pois os equipamentos estão todos encaixotados. Há uma secretaria e uma sala de professores, três banheiros femininos e dois masculinos; um depósito de merenda, um depósito de material de expediente e pedagógico. Compõem, ainda, a escola, uma área coberta (pátio), uma quadra de areia e uma área livre. A área do colégio, infelizmente, não foi informada, por falta de conhecimento da gestora e também por não conter no Projeto político pedagógico. A escola funciona nos três turnos (matutino, vespertino e noturno), com todos os quatro ciclos que constituem o ensino fundamental no município de Campina Grande. 1.2 – Descrição dos recursos humanos – número de professores, alunos e dos outros atores sociais que compõem o território escolar A escola conta com uma diretora e uma vice-diretora, com 30 professores, sendo cinco pela manhã, 15 à tarde e 10 à noite. A quantidade de alunos é de 468 (quatrocentos sessenta e oito), sendo 140 do turno da manhã, 230 do turno da tarde e 108 da noite. Os outros atores sociais são: três merendeiras, uma por turno; duas faxineiras – uma pela manhã e uma a tarde; dois vigias (um diurno e um noturno); e três secretários, um por turno. A escola foi ampliada, pois no início só havia apenas um bloco e agora conta com dois blocos de sala de aula. A equipe pedagógica é formada por: orientadora, supervisora, psicóloga e assistente social. 1.3. Síntese da história de sua fundação A escola foi fundada em 1988. Destinou-se, por um período de 16 anos, às séries iniciais do ensino fundamental (1ª. a 4ª. série), sendo, a partir do ano de 2003, implantadas, progressivamente, as séries finais do ensino fundamental, tendo sua primeira turma de concluintes do ensino fundamental no ano de 2006. Atualmente, a escola funciona no período diurno, com turmas de 1°. ciclo inicial ao 4°. ciclo final e, no horário noturno, com 3°. e 4°. ciclos inicial e final e, ainda, o ensino fundamental noturno. 1.4. O projeto político-pedagógico da escola O projeto político pedagógico da escola é constituído por: pressupostos teóricos, os quais definem o que é a escola, seu papel na sociedade e ainda discutem, superficialmente, a importância da elaboração do projeto para uma boa e efetiva atuação da mesma; a justificativa de se elaborar o projeto; os objetivos (gerais e específicos); o histórico da escola (diagnóstico da escola, localização, estrutura física, recursos disponíveis, equipe técnica pedagógica, conselho escolar, corpo docente, equipe de apoio e o corpo discente); as metas do projeto; e, por fim, a avaliação da aprendizagem. 2 - Momento de aproximação dos professores de Geografia e História das séries iniciais do ensino fundamental e dos alunos e aplicação dos questionários Neste momento do trabalho, pudemos nos aproximar tanto dos alunos, como da professora e da diretora, para fazer os questionamentos. Uma informação interessante é que nem todos os alunos residem no mesmo bairro em que a escola se localiza, mas sim em bairros circunvizinhos. Foram entrevistados 11 (onze) alunos, a diretora da escola e uma professora do 4º. ano. Conforme informamos anteriormente, essa aproximação foi mediada por um questionário, que cumpriu o papel de um roteiro de entrevistas, constituído de seis perguntas, como sejam: 1. Para que serve a escola? 2. Você gosta de freqüentar a escola, sim ou não? Por quê? 3. Quais os maiores problemas que a escola enfrenta na atualidade? 4. O que é Geografia e História? 5. Para que servem a Geografia e a História? 6. Você gosta de Geografia e História, sim ou não? Por quê? 2.1. Dados coletados a partir das respostas dos entrevistados Apesar de serem treze entrevistados, algumas questões apresentam um número menor de respondentes, uma vez que, por falta de tempo, a professora do 4º ano não pôde responder às três perguntas iniciais. Logo, responderam onze alunos e a diretora da escola. Para a primeira questão, os doze entrevistados afirmaram que a escola serve para estudar e/ou aprender. Alguns alunos, no entanto, ainda citaram que serve para fazer amigos, brincar e aprender a ler e a escrever. É perceptível que alguns alunos fazem referência à escola, não somente ao aprender, mas levam em consideração o papel social, isto é, não limitam o papel da escola de apenas ensinar. Por outro lado, em algumas respostas a essa primeira questão, é perceptível que ainda há aquela velha concepção de que a escola serve apenas para ensinar a ler a escrever, isto é, começa-se a perceber o quanto os alunos atribuem mais importância a algumas disciplinas do que a outras, ou seja, às disciplinas de português e matemática, esquecendo-se de ciências, geografia, história, entre outras. No entanto, não se deve culpar alunos e professores por essa preferência, até porque essa é uma concepção bastante arraigada no ideário educacional e, que, infelizmente se perpetua até hoje. Na segunda questão, todos os entrevistados afirmaram gostar da escola, no entanto, as justificativas, em sua maioria, são porque os alunos vêem a escola como um ponto de encontro entre amigos, bons professores e também um local onde se pode aprender. Diferenciando-se da maioria, um entrevistado falou que gostava de frequentar a escola, porque, se não fosse, não passaria de ano. Neste caso, essa criança tem a escola como algo que é obrigatório, isto é, é preciso freqüentar para ser aprovado. Já a diretora disse que gostava da escola e justificou, afirmando que, participando da escola, ela estava contribuindo para a formação dos alunos. Quando questionados acerca dos maiores problemas que a escola enfrenta, alguns falaram da falta de uso dos computadores, outros sobre a infra-estrutura da escola, como por exemplo, a pintura. E, também, foi citada a falta de visitas à biblioteca. Acerca desse questionamento em relação aos problemas enfrentados pela escola, a diretora nos afirmou que um dos maiores problemas que a escola enfrenta é o descaso que a Secretaria de Educação tem com a mesma. A partir da quarta questão, a diretora da escola preferiu não se posicionar, deixando, assim, o espaço para que a professora pudesse responder. Nesta questão, a professora respondeu que geografia e história são disciplinas que ensinam acerca da relação social e que ajudam a refletir sobre a sociedade e a atualidade. Em relação aos demais entrevistados, seis deles não souberam responder, um alegou que não sabia responder porque estudava mais as disciplinas de português e matemática. Já quatro deles responderam que geografia e história era estudar sobre os índios, poluição, acidentes de carro, dinheiro, nomes dos países. Na quinta questão, exceto a da professora, as respostas foram superficiais, isto é, nenhum dos alunos respondeu com propriedade. A maioria não soube responder para que serviam as disciplinas de geografia e história, já outra parte dos alunos afirmou que serviam para aprender mais. E um dos entrevistados foi bem direto em sua resposta, afirmando que essas disciplinas não serviam para nada e que ele não entendia nada. Na sexta e última questão, a professora respondeu que gostava de ensinar essas duas disciplinas, apesar dos livros disponíveis para as mesmas não serem bons. Todos os alunos afirmaram gostar dessas disciplinas, apesar de preferirem português e matemática. Apenas um dos entrevistados falou que geografia e história são suas disciplinas preferidas. 3. Breve comentário acerca das respostas dos entrevistados As entrevistas realizadas na escola municipal com os alunos do 4° ano permitiram-nos fazer algumas observações. Percebemos que os alunos sabem da importância da escola, isto é, que ela serve para eles aprenderem a ler, escrever e contar, e que gostam de freqüentá-la, seja por causa dos amigos ou dos professores. Eles também estão atentos às dificuldades da escola, principalmente, as que se referem à prática, como por exemplo, à biblioteca, a que eles dificilmente têm acesso, e aos computadores, que ainda não foram instalados. Nas palavras da diretora, percebemos, também, que ela se incomoda com a precariedade de estrutura física, como é o caso da quadra coberta, que ela solicitou há algum tempo e que ainda não foi atendido, e também com o descaso da Secretaria de Educação em relação aos problemas da escola. Quando questionados acerca das disciplinas de Geografia e História, os alunos, em sua maioria, não souberam o que responder. É nítido que, apesar de alguns deles citarem ou responderem a partir de nossos exemplos, eles não entendem o porquê de estudarem essas disciplinas, nem para que elas servem. Na verdade, fomos obrigadas a inquietá-los com exemplos para ver se, ao menos, eles entendiam o que era e de que se tratava a disciplina de geografia e a de história. Às vezes, chegávamos até a explicar um pouco do que se estudava nestas disciplinas, pois, se não fossem feitas essas inquietações, não teríamos respostas aos nossos questionamentos. Quanto às respostas da professora, observamos que foram pertinentes e condizentes. Conclusão É observável que, apesar da educação evoluir em alguns aspectos, em outros, infelizmente, ainda não evoluiu. Tínhamos como exemplo, na teoria, as disciplinas de Geografia e História e, com este trabalho, pudemos ter a confirmação na prática que o ensino dessas disciplinas continua arraigado, teoricamente, na concepção positivista e, pedagogicamente, no ensino tradicional. Por outro lado, também constatamos que a escola, os professores, os pais e até a própria sociedade estão muito mais preocupados com o ensino das disciplinas de português e de matemática, consideradas como disciplinas mais importantes, deixando, assim, a geografia e a história como disciplinas para serem ministradas em segundo plano, ou então quando houver tempo sobrando, isto é, concluímos que são disciplinas dispensáveis para muitos professores. Logo, sem essas disciplinas, os alunos ficarão com uma lacuna no tocante a algumas questões relacionadas às mesmas. Este trabalho nos propiciou uma visão mais ampla acerca do ensino da geografia e da história, despertando, assim, a necessidade de termos um conhecimento maior em relação às mesmas para que, em nossa futura prática, em sala de aula, não repassarmos os mesmos conceitos e idéias de forma positivista e/ou tradicional. Também observamos que o ensino dessas disciplinas evoluiu e que há formas mais interessantes e mais condizentes de ministrá-las, ao invés de simplesmente reproduzir os conhecimentos do livro didático, de maneira repetitiva e decorativa. Referência bibliográfica BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. 9. Reimp. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. 84p. (Coleção primeiros passos; 17). PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: história e geografia/ Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. – 3. ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.