Internacional
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MORTO PARA PROTEGER O
Para contornar sua crise interna e a concorrência
dos terroristas do Isis, o grupo palestino põe seu
próprio povo em perigo no confronto com Israel
NATHALIA WATKINS
O
corpo do menino Mohammed
Malaka, de 1 ano e meio de
idade, foi encontrado na quarta-feira passada entre as ruínas de uma casa destruída na cidade de
Gaza. Desde terça-feira 8, as forças israelenses bombardearam mais de 1 100
alvos no território palestino, incluindo
cinquenta casas de líderes do grupo terrorista islâmico Hamas. Mais de 100
pessoas morreram. Os projéteis que
provocaram essa destruição partiram
de caças e navios israelenses, mas isso é
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16 DE JULHO, 2014 |
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atual foi deliberadamente iniciado pelo
Hamas, que, procurando fazer o
maior número de vítimas entre o seu
próprio povo para impulsionar sua causa, lançou centenas de foguetes contra
Israel e depois obrigou os palestinos a
se expor ao revide. Ciente da repercussão internacional que isso provoca, antes de atacar, Israel liga para os telefones dos moradores de Gaza para que
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alvos são sempre lideranças do Hamas
e seus arsenais. Os integrantes do Hamas, porém, ordenam que os civis, in-
clusive crianças, permaneçam onde estão e morram como mártires. Muitos
dos que contrariaram as ordens foram
linchados. Um vídeo gravado por um
avião israelense mostra moradores fugindo após um alerta dado por um pequeno disparo, mas um grupo ainda
maior retorna e sobe ao topo de um
prédio, para atuar como escudo humano. O ataque, nesse caso, foi cancelado.
“Para mostrar que ainda é relevante, o
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população”, diz o cientista político israelense Ely Karmon, do Instituto de
Contraterrorismo de Hertzlia.
Ao provocar episódios dolorosos e
chocantes, com impacto certeiro na
opinião pública mundial, o Hamas tenta resolver uma de suas piores crises,
que começou com a guerra na Síria.
ASHRAF AMRA/GETTY IMAGES
ESCUDO HUMANO Palestinos
carregam o corpo de um menino de
1 ano e meio encontrado em prédio
alvejado por Israel em Gaza
O HAMAS
Quando se recusou a ajudar o governo
alauita de Bashar Assad a massacrar sunitas, o chefe político do Hamas em Damasco, Khaled Meshaal, teve de se mudar para o Catar, em 2012. No ano seguinte, no Egito, a Irmandade Muçulmana, que inspirou a criação do Hamas,
foi apeada do poder. Mais tarde, foi
posta na clandestinidade. O novo governo militar destruiu 90% dos túneis
de contrabando entre o Egito e a Faixa
de Gaza, impedindo a chegada de armas, carros e mercadorias. O comércio
por esses túneis é uma das principais
fontes de recursos do Hamas. O Irã, um
dos patrocinadores do grupo, está
atualmente preocupado com os terroristas da organização sunita Estado Islâmico (Isis, na sigla em inglês), que
ameaça os xiitas no Iraque. Até o Catar,
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para transferir dinheiro para o Hamas,
que assim não consegue sequer pagar o
salário dos funcionários públicos em
Gaza. Foi essa penúria que levou o Hamas a fazer uma aliança com o partido
Fatah, que governa a Cisjordânia. Contudo, o Fatah, da Autoridade Palestina,
também não está pagando direito as
contas da Faixa de Gaza.
O Hamas iniciou a atual troca de
agressões com Israel com o objetivo de
recuperar alguma relevância no rol de
grupos radicais da região. O tamanho e
o alcance dos mísseis do grupo aumentaram, mas eles ainda são rudimentares. “Nenhum projétil da Faixa de Gaza
é teleguiado, pois eles não possuem essa
tecnologia”, diz o cientista político
israelense Tal Inbar. Ainda assim, o perigo é real. Vários mísseis caíram perto
de Jerusalém. Um deles, do modelo
M-302, quase atingiu a cidade portuária de Haifa. Esses foguetes, fabricados
na Síria, têm alcance de até 190 quilômetros. Com isso, ameaçam a vida de
5 milhões de habitantes. Nove em cada
dez mísseis, porém, são interceptados
pelo sistema de defesa Iron Dome.
Com mais da metade da população
na mira de foguetes do Hamas, Israel
foi impelido a agir. A operação tem sido conduzida de maneira a evitar o
máximo de baixas entre seus soldados.
Entrar na Faixa de Gaza com tanques é
uma ação quase suicida, pois poria os
seus militares frente a frente com militantes do Hamas. Mesmo assim, a opção de invasão terrestre tem ganhado
força. Isso porque os israelenses
aprenderam que ataques a distância,
como o da semana passada, podem até
trazer períodos de calmaria. O problema é que os intervalos entre eles são
cada vez menores. Até a possibilidade
de voltar a ocupar a Faixa de Gaza,
que já teve vários assentamentos de
colonos judeus e foi abandonada em
2005, está sendo cogitada. Herdar um
território cheio de terroristas, onde
40% de seus habitantes estão desempregados, porém, certamente não é
uma boa decisão.
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Chuva de bombas
O Hamas tem 10 000 mísseis na
Faixa de Gaza. Os de maior alcance,
fabricados na Síria,
podem atravessar
quase todo
o território
israelense
QASSAM GRAD
MÍSSEIS
ALCANCE
M-75/FAJR5 M-302/R160
18 km 48 km
75 km
90 a 190 km
Os israelenses têm sete
baterias antimíssil Iron Dome,
que podem ser deslocadas para
onde há maior perigo
L Í B A NO
Na semana
passada, um
míssil M-302
alcançou
a distância
de 120 km
Haifa
M a r M ed iter r â n eo
Tel-Aviv
CI SJO R D Â NI A
Ashdod
Jerusalém
Ashkelon
FA I X A Gaza
DE GAZA
18 km
Beersheba
48 km
75 km
Dimona
ISRAEL
E G I TO
JO R D Â N IA
90 a 190 km
Eilat
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MORTO PARA PROTEGER O HAMAS