Internacional Internacional MORTO PARA PROTEGER O Para contornar sua crise interna e a concorrência dos terroristas do Isis, o grupo palestino põe seu próprio povo em perigo no confronto com Israel NATHALIA WATKINS O corpo do menino Mohammed Malaka, de 1 ano e meio de idade, foi encontrado na quarta-feira passada entre as ruínas de uma casa destruída na cidade de Gaza. Desde terça-feira 8, as forças israelenses bombardearam mais de 1 100 alvos no território palestino, incluindo cinquenta casas de líderes do grupo terrorista islâmico Hamas. Mais de 100 pessoas morreram. Os projéteis que provocaram essa destruição partiram de caças e navios israelenses, mas isso é 78 | 16 DE JULHO, 2014 | ģ VÐ XPD SDUWH GR SUREOHPD 2 nDJHOR atual foi deliberadamente iniciado pelo Hamas, que, procurando fazer o maior número de vítimas entre o seu próprio povo para impulsionar sua causa, lançou centenas de foguetes contra Israel e depois obrigou os palestinos a se expor ao revide. Ciente da repercussão internacional que isso provoca, antes de atacar, Israel liga para os telefones dos moradores de Gaza para que HOHVWHQKDPWHPSRGHIXJLU$mQDORV alvos são sempre lideranças do Hamas e seus arsenais. Os integrantes do Hamas, porém, ordenam que os civis, in- clusive crianças, permaneçam onde estão e morram como mártires. Muitos dos que contrariaram as ordens foram linchados. Um vídeo gravado por um avião israelense mostra moradores fugindo após um alerta dado por um pequeno disparo, mas um grupo ainda maior retorna e sobe ao topo de um prédio, para atuar como escudo humano. O ataque, nesse caso, foi cancelado. “Para mostrar que ainda é relevante, o +DPDV QÅR KHVLWD HP VDFULmFDU D VXD população”, diz o cientista político israelense Ely Karmon, do Instituto de Contraterrorismo de Hertzlia. Ao provocar episódios dolorosos e chocantes, com impacto certeiro na opinião pública mundial, o Hamas tenta resolver uma de suas piores crises, que começou com a guerra na Síria. ASHRAF AMRA/GETTY IMAGES ESCUDO HUMANO Palestinos carregam o corpo de um menino de 1 ano e meio encontrado em prédio alvejado por Israel em Gaza O HAMAS Quando se recusou a ajudar o governo alauita de Bashar Assad a massacrar sunitas, o chefe político do Hamas em Damasco, Khaled Meshaal, teve de se mudar para o Catar, em 2012. No ano seguinte, no Egito, a Irmandade Muçulmana, que inspirou a criação do Hamas, foi apeada do poder. Mais tarde, foi posta na clandestinidade. O novo governo militar destruiu 90% dos túneis de contrabando entre o Egito e a Faixa de Gaza, impedindo a chegada de armas, carros e mercadorias. O comércio por esses túneis é uma das principais fontes de recursos do Hamas. O Irã, um dos patrocinadores do grupo, está atualmente preocupado com os terroristas da organização sunita Estado Islâmico (Isis, na sigla em inglês), que ameaça os xiitas no Iraque. Até o Catar, RXWURmQDQFLDGRUHVWÀFRPGLmFXOGDGH para transferir dinheiro para o Hamas, que assim não consegue sequer pagar o salário dos funcionários públicos em Gaza. Foi essa penúria que levou o Hamas a fazer uma aliança com o partido Fatah, que governa a Cisjordânia. Contudo, o Fatah, da Autoridade Palestina, também não está pagando direito as contas da Faixa de Gaza. O Hamas iniciou a atual troca de agressões com Israel com o objetivo de recuperar alguma relevância no rol de grupos radicais da região. O tamanho e o alcance dos mísseis do grupo aumentaram, mas eles ainda são rudimentares. “Nenhum projétil da Faixa de Gaza é teleguiado, pois eles não possuem essa tecnologia”, diz o cientista político israelense Tal Inbar. Ainda assim, o perigo é real. Vários mísseis caíram perto de Jerusalém. Um deles, do modelo M-302, quase atingiu a cidade portuária de Haifa. Esses foguetes, fabricados na Síria, têm alcance de até 190 quilômetros. Com isso, ameaçam a vida de 5 milhões de habitantes. Nove em cada dez mísseis, porém, são interceptados pelo sistema de defesa Iron Dome. Com mais da metade da população na mira de foguetes do Hamas, Israel foi impelido a agir. A operação tem sido conduzida de maneira a evitar o máximo de baixas entre seus soldados. Entrar na Faixa de Gaza com tanques é uma ação quase suicida, pois poria os seus militares frente a frente com militantes do Hamas. Mesmo assim, a opção de invasão terrestre tem ganhado força. Isso porque os israelenses aprenderam que ataques a distância, como o da semana passada, podem até trazer períodos de calmaria. O problema é que os intervalos entre eles são cada vez menores. Até a possibilidade de voltar a ocupar a Faixa de Gaza, que já teve vários assentamentos de colonos judeus e foi abandonada em 2005, está sendo cogitada. Herdar um território cheio de terroristas, onde 40% de seus habitantes estão desempregados, porém, certamente não é uma boa decisão. ƒ Chuva de bombas O Hamas tem 10 000 mísseis na Faixa de Gaza. Os de maior alcance, fabricados na Síria, podem atravessar quase todo o território israelense QASSAM GRAD MÍSSEIS ALCANCE M-75/FAJR5 M-302/R160 18 km 48 km 75 km 90 a 190 km Os israelenses têm sete baterias antimíssil Iron Dome, que podem ser deslocadas para onde há maior perigo L Í B A NO Na semana passada, um míssil M-302 alcançou a distância de 120 km Haifa M a r M ed iter r â n eo Tel-Aviv CI SJO R D Â NI A Ashdod Jerusalém Ashkelon FA I X A Gaza DE GAZA 18 km Beersheba 48 km 75 km Dimona ISRAEL E G I TO JO R D Â N IA 90 a 190 km Eilat ģ| 16 DE JULHO, 2014 | 79