Seleção de produtos para controle alternativo de doenças vegetais no consórcio repolho x coentro em sistema orgânico de produção Luzia Nilda Tabosa Andrade1; Miguel Michereff Filho2; Maria Urbana Corrêa Nunes2; Sandrevan Nascimento Almeida3; Mário Sérgio dos Santos3 EMDAGRO- EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, C.Postal. 44, CEP: 49.025.040, Aracaju-SE; e-mail: 1 [email protected]; 2Embrapa Tabuleiros Costeiros; 3Estagiários. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia de produtos para controle alternativo de doenças vegetais no consórcio repolho x coentro, em sistema orgânico de produção. O Estudo foi realizado na Área Experimental de Pesquisa em Agricultura Agroecológico, Estância/SE, onde foram testadas caldas, biofertilizante e o revigorante EcolifeR, além de suas combinações, em aplicações semanais. O delineamento foi em blocos ao acaso, com oito tratamentos e três repetições. Não detectou-se efeitos significativos dos produtos e suas combinações testadas, em virtude da baixa incidência de doenças no cultivo, porém, os tratamentos biofertilizante (50% v/v) e calda viçosa + biofertilizante (50% v/v) destacaram-se como os mais promissores no controle da alternariose e da podridão negra do repolho, respectivamente. Palavras-chave: Brassica oleracea, controle de doenças, produção orgânica. ABSTRACT The objective of this work was evaluate the effectiveness of products to alternative control of diseases in the cabbage x coriander organic multicropping system. The study was installed in the Experimental Area of Agroecological Farming, Estância/SE, where were tested several broths, biofertilizer and EcolifeR invigorator, and its combinations, with weekly applications. The experimental design was randomized blocks, with eight treatments and three repetitions. There were not significant effects of products and their combinations due to low disease incidence on crop, however, the treatments biofertilizer (50% v/v) and viçosa broth + biofertilizer (50% v/v) had been showed more promising for the control of Alternaria leaf spot and black rot of cabbage, respectively. Keywords: Brassica oleracea, disease control, organic farming. No Nordeste brasileiro prevalece o sistema convencional de produção de hortaliças, com o uso intensivo de agrotóxicos, de adubos químicos nitrogenados e de monoculturas intensivas, que na sua maioria resultam em alto custo de produção e não contemplam a demanda por produtos de alta qualidade. Esse modelo de exploração agrícola têm gerado problemas sociais, econômicos e ambientais, além de envenenamento dos produtores e da contaminação dos alimentos por resíduos tóxicos. Ao lado do uso intensivo dos agroquímicos constata-se o agravamento das perdas causadas por pragas e doenças, levando à baixa sustentabilidade da produção (Borges, 1995). Com o crescente mercado consumidor de hortaliças orgânicas no país, pesquisas sobre métodos alternativos para controle fitossanitário vem sendo fortemente encorajadas. Nesta abordagem busca-se o uso de meios naturais ou ecologicamente seguros que garantam a produtividade econômica das culturas sem causar danos expressivos ao solo, a água e a qualidade dos alimentos, promovendo assim, a segurança alimentar e a sustentabilidade da agricultura. Dentre as alternativas, biofertilizantes, caldas e revigorantes vegetais têm sido recomendados como medidas integradas para o manejo orgânico de doenças e pragas em várias culturas (Abreu Jr. 1998). Dessa forma, este trabalho foi conduzido visando selecionar produtos para o controle alternativo de doenças vegetais no consórcio repolho x coentro em sistema orgânico de produção. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido entre agosto e novembro de 2003, utilizando-se consórcio de repolho e coentro, com sistema de irrigação por aspersão. As mudas de repolho, cultivar Shooshu, foram produzidas em bandejas de isopor em ambiente protegido. Na adubação de plantio foram utilizados esterco bovino, Hiperfosfato de Gafsa e sulfato de potássio e em cobertura o esterco bovino e torta de mamona, cujas dosagens foram definidas com base na análise de solo. O coentro, cultivar Verdão, foi semeado diretamente em covas. Cada parcela foi constituída por dois canteiros (4 m x 1,7 m), contendo duas fileiras de repolho no espaçamento de 0,80 m x 0,40m e três fileiras de coentro espaçadas de 0,40 m da fileira de repolho. Os tratamentos testados foram: 1) testemunha (apenas água); 2) biofertilizante a 50% de concentração (volume/volume água); 3) Calda Viçosa; 4) revigorante EcolifeR (mistura de aminoácidos); 5) EcolifeR alternado com Calda Viçosa; 6) Calda Viçosa + biofertilizante a 50%; 7) EcolifeR alternado com Calda Viçosa + biofertilizante a 50% e 8) EcolifeR + biofertilizante a 50%. Em cada tratamento também adicionou-se espalhante adesivo natural (Espalhante Orgânico, 15 ml p.c./10 L água). Os produtos foram aplicados semanalmente em cobertura total das plantas, a partir dos 34 dias do transplantio do repolho. A incidência e severidade de doenças nas culturas consorciadas foram avaliadas 1 dia antes da aplicação dos produtos (33 dias do transplantio) e aos 33, 45 e 65 dias após o transplantio do repolho, respectivamente. Para avaliar a ocorrência da alternariose (Alternaria brassicicola) e podridão negra (Xanthomonas campestris pv. campestris) na cultura do repolho, determinou-se a severidade da doença mediante uso de uma escala de nota avaliando-se cinco folhas basais das 10 plantas colhidas aleatoriamente/parcela, na época da colheita. A escala de notas aplicada para as doenças variou de 0 a 3, sendo: 0 = plantas sem sintomas; 1 = plantas com 1% de área foliar lesionada; 2 = plantas com 5% de área foliar lesionada e 3 = plantas com 10% de área foliar lesionada. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de agrupamento de Scott-Knott, a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não detectou-se diferenças significativas dos tratamentos testados (Tabela 1), provavelmente em razão da baixa incidência de doenças no consórcio. Apesar disso, com a aplicação semanal de biofertilizante a 50% constatou-se redução de 16,0% no número de plantas infectadas e de 49,0% na severidade da alternariose nas folhas do repolho, sugerindo o potencial deste produto no controle da respectiva doença. De forma similar, o uso de calda viçosa + biofertilizante (50%) propiciou redução de 47,0% no número de plantas infectadas e de 64,0% na severidade da podridão negra do repolho. Segundo Santos (1991) o uso de biofertilizante, embora não se conheçam os mecanismos de ação envolvidos, pode reduzir o ataque de pragas e doenças vegetais, mantendo-as em níveis toleráveis pelas culturas. Já a proteção conferida pela calda Viçosa seria explicada principalmente pelo fornecimento de micronutrientes (Zn, B, Mg, dentre outros) às plantas, reforçando sua resistência natural aos fitopatógenos e, ainda pela ação antimicrobiana do sulfato de cobre, outro importante componente químico deste produto (Zambolim et al., 1997). Portanto, efeitos sinérgicos no controle da podridão negra do repolho poderiam ser esperados diante uso combinado de biofertilizante e calda Viçosa. Não verificou-se a incidência de doenças no coentro e sua produção variou entre 10.162 kg e 14.550 kg de biomassa fresca/ha. Tabela 1 – Incidência e severidade de doenças foliares do repolho em sistema de consórcio com coentro. Estância (SE). 2003. Tratamentos 1 2 3 4 5 Alternariose Plantas Severidade da Doentes (%)1 Doença (ID%)2 80,0 11,6 17,1 5,6 66,7 8,8 8,9 2,3 86,7 13,3 26,7 7,4 76,7 12,0 17,1 5,3 83,3 3,3 21,8 2,5 Podridão negra Plantas Severidade da Doentes (%) Doença (ID%) 23,3 13,3 9,3 6,7 40,0 15,3 12,7 10,0 26,7 16,7 6,0 4,7 56,7 24,0 12,7 4,7 46,7 14,5 16,9 7,5 6 7 8 C.V. (%) 86,7 13,3 93,3 6,7 90,0 5,8 17,3 27,3 7,8 35,6 5,5 20,0 6,7 40,0 13,3 3,3 30,0 10,0 20,0 5,8 78,1 3,3 1,0 6,9 2,5 5,6 2,4 109,5 Tratamentos: 1 = testemunha (apenas pulverização com água); 2 = biofertilizante a 50% de concentração; 3 = calda Viçosa; 4 = revigorante EcolifeR; 5 = revigorante EcolifeR alternado com calda Viçosa; 6 = calda Viçosa + biofertilizante a 50%; 7 = revigorante EcolifeR alternado com calda Viçosa + biofertilizante a 50% e 8 = revigorante EcolifeR + biofertilizante a 50%. 1Avaliação em 10 plantas inspecionadas aleatoriamente em cada parcela, na época da colheita. 2Baseada em escala de notas, onde: 0 = plantas sem sintomas da doenças; 1 = plantas com 1% de área foliar lesionada; 2 = plantas com 5% de área foliar lesionada e 3 = plantas com 10% de área foliar lesionada. LITERATURA CITADA ABREU, Jr, H. Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura: Campinas: Coletâneas de receitas, 1998, 115p. BORGES, S. dos S. Agrotóxicos, sociedade e natureza: a problemática do Perímetro Irrigado da Macela. Sergipe: UFS, 1995. 117p. (Dissertação de Mestrado). SANTOS, V. dos. Efeitos nutricionais e fitossanitários do biofertilizante na aplicação em lavouras comerciais. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.16, n.2 junho 1991. Suplemento, p.149. Trabalho apresentado no XXIV Congresso Brasileiro de Fitopatologia, 1991. ZAMBOLIM, L.; RODRIGUES, C. H.; MARTINS, M. C. D. P. Controle químico da ferrugemdo-feijoeiro. Pesquisa agropecuária Brasileira, Brasília, v.22, n.2 p.179-189, 1997. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de tecnologia Agropecuária para o Brasil (PRODETAB), pela ajuda financeira.