CIRCULAR N° 125
SETEMBRO/02
ISSN 0100-3356
RECRIA E ENGORDA DE BUBALINOS EM
PASTAGENS DE HEMÁRTRIA E HUMIDÍCOLA COM
SUPLEMENTAÇÃO NO INVERNO
José Lino Martinez1
Pedro Luiz Thomazini2
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - LONDRINA - PR
1
2
Médico Veterinário MSc. Pesquisador da Área de Zootecnia - IAPAR - Pólo de Curitiba, Caixa Postal 2031-80011-970 - Curitiba [email protected]
Técnico Agrícola - IAPAR - Pólo de Curitiba,
Caixa Postal 2031 -80011 -970 - Curitiba-PR.
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M385r
Martinez, José Uno
Recria e engorda de bubalinos em pastagens de hemártria e humidícola com suplementação no inverno / José
Lino Martinez, Pedro Luiz Thomazini
Londrina: IAPAR, 2002.
15p.il. (IAPAR. Circular, 125).
1. Búfalo - Criação. 2. Nutrição animal. I. Thomazini,
Pedro Luiz. II. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, Pr.
III. Título. IV. Série.
CDU
636.293.2
SUMÁRIO
Pág.
Resumo
5
Introdução
7
Material e Métodos
8
Resultados e Discussão
9
Conclusões
12
Referências Bibliográficas
13
Agradecimento
14
RESUMO
O trabalho foi conduzido na Estação Experimental de Morretes
pertencente ao IAPAR e teve como objetivos avaliar o ganho de peso e a
relação custo - benefício de bubalinos em pastagens de Hemarthria
altíssima cv. Roxinha (tratamento A) e Brachiaria humidicola (tratamento B) com suplementação no inverno. A atividade foi realizada em
duas etapas. A primeira etapa teve início em 16/03/95 e foi encerrada
em 04/03/96. A segunda etapa foi conduzida de 16/03/96 a
08/04/97. Para cada gramínea foram utilizados três piquetes com 0,9
ha cada, em pastejo rotativo com lotação variável. Os animais de ambos os tratamentos foram suplementados de junho a outubro. A suplementação consistiu de um concentrado a base de milho e soja
ofertado em 1% do PV em MS e capim - elefante (Pennisetum purpureum cv. Cameroon) ofertado de 0,5% a 1,0% do PV em MS, conforme
a disponibilidade de forragem nos piquetes. Em cada etapa foram utilizados doze machos castrados ("tester") com aproximadamente doze
meses de idade, das raças Murrah e Mediterrâneo. O delineamento
estatístico foi blocos casualizados. Não houve diferença (P>0,05) entre
tratamentos quanto ao ganho médio diário/cabeça para o período que
os animais receberam a suplementação a campo (de junho a outubro).
Os ganhos foram 689 g e 660 g respectivamente para hemártria e
humidicola. Porém, os ganhos obtidos durante todo o período experimental, incluídos a fase com suplementação revelaram diferença(P<0,05) favorável a humidicola com 645 g/cab/dia contra
584/cab/dia observados para a hemártria. Os valores obtidos para
dias novilho/ha/ano e ganho de peso kg/ha/ano foram 913, 879, 540,
0 e 587,5 para os tratamentos A e B, respectivamente. Economicamente a suplementação de inverno mostrou-se inviável para ambos os
tratamentos.
INTRODUÇÃO
A bubalinocultura no litoral do Paraná é caracterizada pelo
sistema de cria com venda de bezerros para outras regiões. Em decorrência das mudanças no cenário econômico vem crescendo o interesse, bem como a necessidade dos produtores em realizar a recria em
engorda em suas propriedades, buscando desta forma melhorar a
rentabilidade da exploração de búfalos.
O litoral paranaense apresenta clima tropical super-úmido (Af,
segundo a classificação de Köeppen) isto é, temperaturas elevadas e
grandes precipitações. Os materiais forrageiros nativos ou exóticos,
destacando-se as gramíneas dos gêneros Axonopus, Paspalum e Brachiaria, apresentam redução acentuada no crescimento vegetativo no
período que vai de meados do outono a meados da primavera (IAPAR,
1994). Esta diminuição no ritmo de crescimento das forrageiras reflete
diretamente no desenvolvimento dos animais. MARTINEZ et. al.
(1994/dados não publicados), verificaram que praticamente não houve
alteração no peso de bubalinos em recria e engorda em pastagens de
hemártria e humidícola no litoral do PR no período citado anteriormente.
Uma forma de contornar o problema seria por meio da suplementação alimentar dos animais no inverno. A prática de suplementação com o emprego de capineiras compostas por cana-de-açúcar
(Saccharum officinarum L.) e capim elefante (Pennisetum purpureum),
já é adotada por parte dos produtores de búfalos na região Litoral do
Paraná, embora realizada geralmente de forma precária (TRAAD et. al.
1993). Mesmo assim, verifica-se que os "rebanhos que recebiam suplementação no inverno apresentavam índices zootécnicos mais satisfatórios quando comparados aos rebanhos não suplementados. O
peso médio das novilhas na primeira cobertura e a taxa de natalidade
foi 477,7 kg e 80,6 %; 335,5 kg e 75,7 % para os rebanhos com suplementação e sem fornecimento de alimentos no inverno, respectivamente.
Tendo em vista a produção de carne, a suplementação de inverno propiciaria antecipação na idade de abate dos animais, o que
poderia refletir de forma positiva no preço de venda ao frigorífico, e
ainda haveria liberação de áreas de pastagens.
BATISTA et. al. (1982) em Belém (PA) trabalharam com bubálinos na fase de crescimento em pastagens de Brachiaria humidicola e
verificaram os efeitos de diferentes níveis de rama de mandioca e
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farelo de trigo. Como esperado, a suplementação alimentar promoveu
um desempenho superior dos animais em relação aos animais que
apenas tinham acesso às pastagens. O melhor resultado com suplementação possibilitou ganho de peso de 802 g/cab/dia contra 529 g
para os búfalos que não tiveram a complementação alimentar.
Os objetivos deste trabalho foram avaliar o desenvolvimento de
bubalinos na fase de recria e engorda em pastagens de hemártria e
humidícola com suplementação a campo no período de inverno e a
relação custo - benefício da alimentação suplementar.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na Estação Experimental do IAPAR
em Morretes, região litorânea do Paraná. A atividade foi conduzida em
duas etapas. A primeira etapa teve início em 16/03/95 e foi encerrada
em 04/03/96. A segunda etapa foi conduzida de 16/03/96 a
08/04/97.
Foram testados dois tratamentos: A - pastagem de Hemarthria
altíssima Poir (Stapf) et C.E. Hubb cv. Roxinha e B - pastagem de Brachiaria humidicola (Rendle) Schw.
As pastagens já estavam implantadas em solo hidromórfico. A
adubação empregada em cada etapa experimental foi de 45 kg de nitrogênio e 100 kg da fórmula 4-30-10 por hectare. Foram utilizados
seis piquetes com 0,9 ha cada, três formados com hemártria e três
formados com humidícola. O sistema de pastejo foi rotativo, com lotação variável e pressão de pastejo de 5%, com 14 dias de uso e 28 de
descanso (MOTT & LUCAS, 1952). Os animais de ambos os tratamentos foram suplementados de 08/06/95 a 19/10/95 na primeira etapa
e de 05/06/96 a 30/10/96 segunda etapa. A suplementação consistiu de um concentrado com 18% de proteína bruta e 85% de nutrientes digestíveis totais; a base de milho moído, farelo de soja, soja
grão e sal mineral oferecidos na quantia de 1% do peso vivo(PV) em
matéria seca (MS) por cabeça por dia. O volumoso empregado foi o
capim elefante (Pennisetum purpureum Schum cv. Cameroon) oferecido a base de 0,5% a 1,0% do PV em MS/cab/dia. A oferta de capim
elefante foi definida de acordo com as disponibilidades de hemártria e
humidícola.
Para cada etapa foram utilizados doze machos castrados ("tester") com doze meses de idade das raças Murrah e Mediterrâneo. Ani8
mais de ajuste ("put and take") com as mesmas características foram
empregados a fim de se manter pressão de pastejo de 5%. Os animais
foram pesados a cada 28 dias com jejum de 16 horas. Os búfalos tinham acesso a sal mineralizado e receberam endo e ectoparasiticidas.
A cada duas semanas, antes dos animais ingressarem nos piquetes, as áreas foram amostradas para medir-se a disponibilidade de
forragem e sua qualidade, em relação ao percentual de matéria seca,
proteína bruta, cálcio, fósforo e nutrientes digestíveis totais (MARTIN
et. al., 1989).
No intuito de avaliar-se a relação custo - benefício da suplementação, contabilizou-se as despesas diárias com alimentação, e
confrontou-se com a receita gerada pelo ganho médio de peso diário
dos animais durante o período com alimentação suplementar.
O delineamento experimental empregado foi o de blocos casualizados. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta as médias dos resultados obtidos nas
duas etapas do trabalho em relação ao ganho de peso durante todo o
período experimental, bem como os ganhos verificados durante os períodos de suplementação no inverno.
Como pode ser verificado houve diferença (P<0,05) entre os
tratamentos quanto ao ganho médio diário (GMD) para o período total
do experimento, onde a humidícola destacou-se frente à hemártria. Em
relação ao período onde os animais receberam suplementação de inverno, observamos que não houve diferença (P>0,05) entre tratamentos. MARTINEZ et. al (1999) trabalhando no mesmo local na recria e
engorda de búfalos exclusivamente a pasto, encontraram também dife9
rença (P<0,05) favorável à humidícola. Naquele trabalho os resultados
foram 422 g e 516 g para hemártria e humidícola, respectivamente.
MUELLER et al (1994) trabalhando em Santa Maria
(RS) com búfalos submetidos a três regimes alimentares durante o
inverno, verificaram que os animais que permaneceram exclusivamente em pastagem nativa apresentaram ganho diário de 620 g, enquanto os búfalos que tiveram acesso a pastagem suplementar de azevém apresentaram ganho de 674 g/cab/dia.
O incremento no GMD obtidos no presente trabalho, proporcionou também um aumento no ganho por unidade de área, apesar de
não ter sido verificado aumento das lotações em comparação ao trabalho de MARTINEZ et al (1999). Os resultados para ganho/ha/ano
(em kg) e dias novilho/ha/ano são mostrados na Tabela 2. As oscilações verificadas nas lotações podem ser explicadas em função do aumento na ocorrência de plantas invasoras nos piquetes. As disponibilidades de forragens observadas para hemártria e humidícola foram
10.708 e 9465 kg de matéria seca/ha/ano, respectivamente.
Na Tabela 3 podemos verificar que hemártria e humidícola
diferiram (P<0,05) em relação a porcentagem de matéria seca e nutrientes digestíveis totais estimados (NDT) não se observando diferença
quanto aos outros parâmetros avaliados. O melhor resultado da humidícola quanto ao NDT deve estar relacionado ao melhor desempenho
dos animais que tiveram acesso àquele tratamento. Em relação ao capim elefante podemos verificar que sua qualidade foi inferior aos materiais pastejados.
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No trabalho conduzido por MARTINEZ et al. (1999) verificou-se
também a superioridade qualitativa da humidícola frente a hemártria
expresso na digestibilidade "in vitro" da matéria seca.
O consumo médio de capim-elefante e concentrado foi semelhante para ambos os tratamentos 3,0 e 4,0 kg de MS/cab/dia, respectivamente.
A relação custo - benefício da suplementação de inverno foi
realizada empregando-se dados do CEPED 1995 e 1996 é DERAL
1997. A moeda empregada para os cálculos foi o dólar americano. Os
resultados são apresentados na Tabela 4.
11
Verificamos que foi desfavorável para ambos os tratamentos a
suplementação de inverno, uma vez que proporcionou saldo negativo
de US$ 0,4995 e 0,5212 para hemartria e humidícola, respectivamente. Cabe ainda considerar que não foram computados outros custos fixos e variáveis.
Face aos resultados econômicos obtidos, acreditamos que dificilmente haveria uma compensação econômica nos preços pagos ao
produtor pelos frigoríficos em função da idade e da época do abate dos
animais. Da mesma forma, a liberação de áreas de pastagens devido a
antecipação do abate não deve ser suficientemente relevante para cobrir as despesas verificadas.
COSTA et. al. (1994) avaliando sistemas de alimentação de búfalos durante o inverno no Rio Grande do Sul, verificaram que os
animais que foram confinados, apesar de apresentarem um ganho
médio diário de 827 g, foi, tal prática, economicamente inviável devido às despesas com concentrado.
Com a suplementação de inverno foi possível abater os búfalos
com idade média inferior a 24 meses, havendo liberação antecipada
das áreas de pasto que estes animais ocuparam. Do ponto de vista
biológico a suplementação animal foi favorável; todavia, os custos envolvidos em tal prática, onde destacamos as despesas com concentrado, inviabilizam a adoção da suplementação da forma como foi conduzida no presente trabalho.
CONCLUSÕES
• A braquiária humidícola proporcionou um ganho de peso médio diário dos búfalos superior à hemartria.
• Não houve diferença entre tratamentos no desempenho dos animais
durante o período de suplementação.
• Economicamente a suplementação de inverno mostrou-se inviável
para ambos os tratamentos.
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1989. Agricultural Handbook, n° 673.
MARTINEZ, J.L.; TRAAD DA SILVA , M. E; THOMAZINI, P.L. Recria e
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MARTINEZ, J.L.; TRAAD DA SILVA, M. E; THOMAZINI, P.L. Recria e
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MOTT, G. O.; LUCAS, H.L. The design, conduct and interpretation of
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13
SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA/ DERAL/ CEPA/ PR.
Acompanhamento da Situação Agropecuária do Paraná. Curitiba v
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TRAAD DA SILVA, M.E.; MARTINEZ, J. L.; ALVAREZ, M.C.;
THOMAZINI, P.L. Tipificação de produtores de búfalos no Litoral
do Paraná. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 30, 1993. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro. 1993, P.
562.
AGRADECIMENTO
Nossos agradecimentos ao funcionário Irineu Triaquim pela
grande colaboração na condução deste trabalho.
14
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