4. Suíça e Europa. Cultural e geograficamente, a Suíça está localizada no centro da Europa. Mesmo não sendo membro da União Europeia, ela conserva uma estreita ligação económica com seus vizinhos europeus. Um acordo bilateral sólido e uma política europeia dinâmica possibilitam uma parceria política forte e também um elevado grau de integração económica, favorecendo a Suíça como localidade económica e espaço financeiro, assim como a UE. 4.1 Comércio e investimentos directos. A Suíça e a Europa estão integradas economicamente de forma muito estreita. Como destino de 59 % das exportações suíças e com uma participação de 77 % nas importações suíças (Sitação de 2010), a UE é, com ampla vantagem, a principal parceira comercial da Suíça. A Suíça, por sua vez, é em 2009 o segundo maior cliente da UE (8,1% de todas as exportações), perdendo apenas para os EUA e o quarto maior fornecedor de mercadorias (6,2% de todas as importações). Em 2010, 33,9 % dos investimentos suíços directos realizam-se no espaço da UE. Entre a Suíça e a UE existe actualmente livre e abrangente comércio, excepto para produtos agrícolas e produtos da indústria de géneros alimentares. Mercadorias com origem em um dos 31 estados-membros da UE ou da EFTA (sendo que, desta última, a Suíça é membro juntamente com a Islândia, Liechtenstein e Noruega) podem circular com isenção de contingente e sem barreiras alfandegárias. Em relação à UE, vigora um mercado de trabalho 36 Manual para investidores 2012 aberto, que vai além do intercâmbio livre de mercadoria (por exemplo, para especialistas, pesquisadores e administradores) e uma abertura parcial para prestações de serviços. Estatística Europeia Eurostat www.epp.eurostat.ec.europa.eu Idiomas: Alemão, Inglês, Francês. Mobilidade profissional na Europa www.swissemigration.ch > Themen > European Employement Services (> Temas > Serviços de Empregos Europeus) Idiomas: Alemão, Inglês, Francês, Italiano Fonte: www.europa.admin.ch 4.2 Cooperação política e económica. Para inúmeras empresas suíças, entre elas também filiais de empresas estrangeiras, o mercado europeu é extremamente importante. Diversos acordos de abertura de mercado possibilitam-lhes amplamente um acesso com os mesmos directos dos países-membros ao mercado interno da UE, sob condições básicas estáveis. Esses acordos possibilitam que empresas localizadas na Suíça possam alcançar um mercado de quase 500 milhões de pessoas. Com a aplicação desses acordos nos novos países-membros da UE, a Suíça também tem acesso aos mercados de crescimento da Europa Oriental. Os acordos bilaterais entre a Suíça e a UE, nesse ínterim, foram amplamente estendidos. Especificamente, o Tratado de Livre Comércio de 1972 e os acordos denominados «Bilaterais I» de 1999 eliminaram grandes barreiras de acesso aos mercados: eles traçam, entre outras coisas, diretrizes para o comércio, gestão pública de compras, direito de livre circulação para as pessoas, agricultura, pesquisa e tráfego terrestre e aéreo. Um segundo pacote de acordos contínuos, denominados «Bilaterais II» de 2004, trouxe vantagens económicas adicionais e fortaleceu a cooperação além-fronteiras em outras áreas, inclusive a política. Os subcapítulos a seguir detalham os principais acordos e sua importância. Portal da Europa da Federação www.europa.admin.ch Idiomas: Alemão, Inglês, Francês 4.2.1 Livre circulação de pessoas Graças ao acordo sobre a livre circulação de pessoas entre a Suíça e a UE (FZA), as regulamentações de base sobre o livre trânsito de pessoas como vigoram na UE estão a ser introduzidas gradualmente entre a Suíça e a UE. Os cidadãos suíços e dos países membros da UE obtêm o direito de escolher livremente o local de trabalho ou de residência dentro das zonas dos estados signatários. Pressupõe-se que tenham um contrato de trabalho válido, que sejam trabalhadores autónomos remunerados ou no caso de não possuírem actividade remunerada, que possam comprovar dispôr de meios financeiros suficientes e de seguro de saúde abrangente. Além disso, o acordo liberaliza a prestação de serviços relativas a pessoas transfronteiriços até 90 dias por ano. Portanto, os prestadores de serviços podem prestar um serviço num país anfitrião no prazo de, no máximo 90, dias úteis. A livre circulação de pessoas será complementada pelo reconhecimento mútuo de diplomas profissionais e pela coordenação dos sistemas nacionais do seguro social. Graças ao acordo, a economia suíça pode recrutar com mais facilidade forças de trabalho no espaço da UE em áreas com falta de qualificação na Suíça e utilizar as possibilidades de formação profissional disponíveis. Isso aumenta a eficiência do mercado de trabalho e incentiva a disponibilidade de mão-de-obra altamente qualificada. A livre circulação de pessoas também vigora certamente no sentido inverso: os suíços podem residir e trabalhar livremente na UE. Atualmente vivem cerca de 430.000 cidadãos suíços e assim aproximadamente 60% de todos os suíços estrangeiros no espaço da UE. O acordo define prazos de trânsito. Durante estes períodos, as limitações de emigração, como a preferência por cidadões nacionais e controlos preferenciais de condições de remuneração e de trabalho para pessoas ativas podem ser mantidas e o número de autorizações de permanência pode ser limitado (contingentes). Para além disso, depois do termo do regime de contingentes, o acordo permite com base numa cláusula de proteção que o número de autorizações de residência seja novamente limitado temporariamente, caso ocorra uma imigração excessiva indesejada e acima da média. As regulamentações de trânsito asseguram uma abertura gradual e controlada dos mercados de trabalho, vigorando adicionalmente as medidas de proteção contra o dumping salarial e social. • Os regimes de contingentes para os 15 «antigos» estados da UE (UE-15) e para Malta e Chipre, bem como para os oito estados da Europa de Leste que aderiram em 2004 (EU-8) foram revogados em 1º de junho de 2007, respectivamente em 1º de maio de 2011. No entanto, até 31 de maio de 2014 vigora ainda uma cláusula de proteção. • Para a Bulgária e a Roménia, que aderiram em 2007, foi definida a possibilidade de barreiras de imigração, o mais tardar, até 31 de maio de 2016. Após revogação das limitações vigora também para estes dois estados uma cláusula de proteção até, o mais tardar, 31 de maio de 2019. 4.2.2 Acordo de Schengen A cooperação de Schengen facilita o tráfego turístico, na medida em que os controles de pessoas nas fronteiras conjuntas entre os espaços Schengen (fronteiras internas) foram abolidos. Simultaneamente, uma série de medidas melhora a cooperação internacionalda justiça e da polícia na luta conjunta contra a criminalidade. A estas pertencem medidas de segurança, como controlos mais rígidos nas fronteiras externas de Schengen, uma cooperação policial fronteiriça reforçada, por exemplo, através do sistema de busca automática europeu SIS, ou a colaboração mais eficiente dos órgãos judicias.O visto Schengen também é válido para a Suíça. Os turistas provenientes da Índia, China ou Rússia, por exemplo, que necessitam de um visto, não precisam Manual para investidores 2012 37 mais de um visto suíço adicional em viagens europeias caso queiram estender seu percurso até a Suíça, o que aumenta a procura da Suíça como local de turismo. 4.2.3 Eliminação de entraves técnicos no comércio Para a maioria dos produtos industriais, as avaliações de conformidade, tais como exame, certificação e licenças para os produtos, são reconhecidas mutuamente. Certificados posteriores quando da exportação para a UE não são mais necessários. Exames do produto pelos órgãos de teste reconhecidos pela UE são suficientes. Dessa forma, deixa de existir um exame duplo, de acordo com as exigências suíças, e também conforme as exigências da UE. Mesmo nas situações em que as disposições da UE e da Suíça se diferenciam, fazendo com que continue existindo a necessidade de duas comprovações de conformidade, esses dois exames podem ser realizados pelo órgão suíço de avaliação. Isso facilita os processos administrativos, reduz os custos e fortalece a concorrência entre as indústrias. 4.2.4 Pesquisa Os institutos de pesquisa, universidades, empresas e pessoas físicas suíças podem participar de todas as ações dos programas-quadro da UE, em sua total extensão. A participação da pesquisa suíça, com direitos iguais aos dos países-membros nos programas-quadro da UE para a investigação, coloca à sua disposição todo o benefício científico, tecnológico e econômico do bloco. Os programas quadro da UE para a pesquisa são o instrumento principal da União Europeia para a aplicação da sua política comunitária econômica e tecnológica. O 7º ProgramaQuadro (7PQ) dispõe de valores para um período de tempo de sete anos (2007 – 2013) de cerca de 54,6 mil milhões de euros. Os temas principais do 7º Programa-Quadro abrangem, entre outras coisas, tecnologias da informação e da comunicação, saúde, energia, nanotecnologia,meio ambiente e investigação de base, áreas nas quais a investigação suíça possui elevadas capacidades comparativamente à Europa. Deve-se salientar ainda a participação das pesquisas de iniciativa privada: os pesquisadores suíços podem implantar e coordenar projetos próprios e as PMEs suíças, com sua experiência no trabalho conjunto além das fronteiras, recebem assim, acesso mais fácil a conhecimentos que elas podem aproveitar no mercado. 38 Manual para investidores 2012 4.2.5 Trânsito ferroviário, rodoviário e aéreo O acordo de transporte nacional regulamenta a abertura mútua dos mercados de transporte rodoviário e ferroviário para pessoas e mercadorias, assim como os sistemas de tarifas que se baseiam no «princípio da causalidade». O acesso à rede da UE aumenta a competitividade das vias e, para as transportadoras da Suíça, têm-se como resultado novas oportunidades no mercado. As companhias aéreas suíças receberam, com base na mutualidade, acesso liberalizado ao mercado de tráfego aéreo europeu e estão quase que equiparadas a seus concorrentes europeus. A venda isenta de tributação (duty-free) nos aeroportos suíços, ou em voos com origem ou destino na Suíça continua sendo possível. 4.2.6 Gestão pública de compras Segundo o acordo multilateral da gestão pública de compras da Organização Mundial de Comércio (OMC) de 15 de abril de 1994 (GPA), que atualmente abrange 40 estados-membros, a partir de uma determinada quantia as aquisições de mercadorias e serviços, bem como os projetos de construção civil de determinados contratantes, devem ser contratados por uma licitação internacional a fim de incentivar a transparência e a concorrência nos moldes da gestão pública de compras. Com base no Tratado para a Gestão Pública de Compras, a área de aplicação das regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) foi ampliada. Assim, a obtenção de áreas e de municipalidades recai sobre a obtenção de contratantes públicos e privados nos sectores do trânsito ferroviário, do fornecimento de gás e energia, bem como sobre a obtenção de empresas privadas, que devido a um direito específico ou exclusivo que lhes foi atribuído por um órgão, tenham atividade nos sectores do fornecimento de água potável e luz, transporte local, aeroportos, bem como transporte marítimo e fluvial. O Tratado prevê a possibilidade de obtenção ou de atribuição de contrato em determinados setores, nos quais domina comprovadamente a concorrencialidade contidos no âmbito de aplicação do Tratado. Correspondentemente, o sector da telecomunicação foi excluido já em 2002. As regras para a atribuição de contrato assentam em três princípios: • Igualdade de tratamento de todos os fornecedores (não-discriminação) • Transparência dos procedimentos • Direito a recurso contra decisões no âmbito dos procedimentos de concurso e adjudicação (acima de determinados valores limite). O sector público e as empresas em questão são obrigados a licitar e executar aquisições e contratos, que se situem acima de um determinado valor do limite de acordo com as regulamentações da Organização Mundial de Comércio (OMC). Em princípio, deverá ser seleccionada a oferta mais económica ou mais favorável ao nível do preço, desde que os bens ou serviços oferecidos sejam qualitativamente comparáveis. Os critérios de seleção podem ser também os prazos de entrega, a qualidade do serviço ou a sustentabilidade ambiental. Além disso, os contratantes podem definir requisitos para o cumprimento das condições salariais e laborais usuais a nível regional e de todo sector. As licitações públicas no âmbito federal e nos cantões são disponibilizadas através de um sistema electrónico de informações. Face aos gastos consideráveis das autoridades públicas na UE e também na Suíça, a abertura adicional dos mercados de compra cria oportunidades para a indústria exportadora (por exemplo, para a indústria de máquinas) e também para o sector de serviços (por exemplo, para escritórios de engenharia e arquitetura). Para isso, a concorrência intensificada entre os fornecedores leva a preços mais baixos e, com isso, traz economia considerável para os contratantes do estado. Órgão oficial para contratos públicos da Suíça www.simap.ch Idiomas: Alemão, Inglês, Francês, Italiano 4.2.7 Comércio de produtos agrícolas O acordo para produtos agrícolas de processamento regulamenta o comércio de produtos da indústria de géneros alimentares (por exemplo, chocolate, biscoitos e massas). No comércio com a Suíça, a UE renuncia às taxas alfandegárias de importação e às contribuições de exportação e, por sua vez, a Suíça reduziu suas taxas alfandegárias e contribuições de exportação de forma correspondente. Para o açúcar e produtos que não contêm outras substâncias básicas relevantes para a política agrária, vigora o livre comércio. As simplificações de disposições técnicas trazem vantagens aos consumidores e aumentam as chances de exportação de produtos agrícolas de qualidade. De qualquer modo, está em negociação um acordo abrangente na área agrícola e de alimentos (FHAL), que deverá abrir os mercados de forma mútua e por completo para produtos agrícolas e alimentícios. O acordo eliminaria tanto barreiras comerciais tarifárias (como taxas alfandegárias e alocação de quotas), como também barreiras não-tarifárias (como disposições variadas para produtos e determinações para licença). A abertura coloca elevados desafios à agricultura. Para que as novas chances de mercado se tornassem perceptíveis e as respectivas empresas pudessem ser apoiadas na reorientação para a nova situação de mercado, o comércio livre foi gradualmente introduzido e acompanhado por medidas de proteção. 4.2.8 Tributação de juros Na tributação de cidadãos da UE dos rendimentos de juros que incidem na Suíça, os bancos suíços arrecadam uma retenção fiscal de 35 %. Dessa arrecadação, três quartos são pagos aos países da UE. Com essa retenção fiscal, o sigilo bancário está assegurado. Empresas coligadas, com sede na Suíça e filiais nos países-membros da UE, não pagam mais imposto de renda retido na fonte sobre pagamentos de dividendos, juros e taxas de licenças. Isso aumenta a procura da Suíça como localidade económica. 4.3 Euro. Mesmo que a moeda oficial da Suíça seja o franco suíço, o euro é um meio de pagamento aceite em praticamente todos os hotéis e em muitos estabelecimentos comerciais. As bolsas e bancos suíços mantêm contas em euro e a maioria caixas automáticas disponibiliza levantamentos em euros. Assim, no espaço financeiro globalizado da Suíça, todos os negócios bancários também podem ser executados em euro. Com base na sua localização, cercada pelos países da União Monetária Europeia, e no facto de que a UE é sua principal parceira comercial, o euro é economicamente muito importante para a Suíça. Tal aplica-se, sobretudo, às empresas que actuam nos negócios de importação/exportação e também para o turismo. Manual para investidores 2012 39