Quanto vale minha empresa? Prof. Ms. Alcides Lanzana É muito comum encontrarmos empresários, particularmente, entre os pequenos e médios, que desejam conhecer o possível valor de seu negócio, mesmo naquelas situações em que não há um efetivo interesse em alienar a empresa. Definir um possível valor negocial de uma empresa não é uma tarefa fácil. É importante, porém, entender a lógica que determina o valor de um negócio, estabelecendo uma analogia com as razões pelas quais uma pessoa compra uma latinha de cerveja. Por que razão uma pessoa compra uma latinha de cerveja? Ao decidir adquirila uma pessoa está disposta a desembolsar uma certa quantidade de dinheiro para, em troca, receber algo como “recompensa”. Tal recompensa é o retorno de seu gasto, que poderá advir da possibilidade de matar sua sede, desfrutar um momento de “relax” ou, até mesmo, pelo prazer de ter a referida latinha em sua coleção, pela raridade do produto, quando tratar-se de um colecionador. Na mesma linha de raciocínio, por que uma pessoa teria interesse em comprar uma empresa? Objetivamente, quem compra uma empresa deseja ganhar dinheiro. Partindo dessa premissa, que nos parece lógica, uma pessoa ao comprar uma empresa, está, na realidade, adquirindo o seu fluxo de caixa futuro (e não o fluxo de lucro futuro). Assim, recomenda-se, para avaliação de uma empresa, o Método do Fluxo de Caixa Descontado, que consiste na identificação da possível geração futura de caixa a partir da operação do negócio. Descontado significa “trazer” o fluxo de caixa projetado a Valor Presente, utilizando uma taxa de remuneração do capital ao longo do tempo. Mesmo preconizado pela Teoria de Finanças, porém, o Método do Fluxo de Caixa não é, constantemente, utilizado nos processos de avaliação, em particular, nos pequenos negócios. O que se observa é a utilização de uma metodologia alternativa denominada Método de Múltiplos ou Método de Transações Comparáveis. Tal fato decorre das características do Método do Fluxo de Caixa Descontado, que é trabalhoso, subjetivo etc. e depende da definição de uma taxa de remuneração esperada para o capital aplicado na aquisição, o que nem sempre é fácil. Já o Método de Múltiplos apresenta como grande vantagem a sua simplicidade. Por que um corretor de imóveis sabe dar uma referência de preço de um apartamento localizado em um determinado bairro, sem nem mesmo conhecê-lo? Como ocorrem diversas transações de imóveis na região, o corretor utiliza o múltiplo de preço/m2, observado em outras negociações. A mesma idéia é utilizada nos processos de avaliação de empresas. Primeiro necessitamos identificar algum indicador de valor na empresa em avaliação. Posteriormente, identificar no mercado qual a relação existente entre valor de empresa e o referido indicador definida em transações assemelhadas. Em negócios onde ocorrem aquisições com relativa frequência, tais múltiplos já estão definidos, como se dá no mercado imobiliário. Postos de gasolina, farmácias, padarias, escolas de línguas etc. são exemplos de setores que tem seus múltiplos definidos. Naqueles segmentos em que as ocorrências de transações envolvendo aquisições de empresa são pequenas, a aplicação do Método de Múltiplos torna-se difícil, pois não se tem a referência de um múltiplo. Tanto na utilização do Método do Fluxo de Caixa Descontado quanto no Método de Múltiplos, os montantes já investidos no negócio desde sua constituição não tem importância e, muito raramente, estão sujeitos à negociação e, portanto, exercem pouca ou nenhuma influência na definição do valor da empresa. Finalmente, é importante destacar a diferença entre o valor da empresa e o valor a ser recebido pelo ex-proprietário. Uma empresa muito raramente é constituída apenas com a utilização de recursos de sócios/proprietários. Há, normalmente, dívidas junto a terceiros que oneram o negócio e que deverão ser deduzidas do valor da empresa para se determinar o montante a ser desembolsado ao ex-dono. O professor Alcides Teixeira Lanzana é mestre em administração de empresas pela FEA-USP. Graduado em Economia também pela FEA-USP. É professor nos cursos de pós-graduação da FIA e FIPE.