Artigo de opinião Oo GEOGRAFIA O papel da Geografia na atualidade O mundo em que vivemos coloca novos desafios sociais e escolares, uma vez que estamos na presença de uma sociedade mais plural e intercultural, profundamente marcada pelo poder económico. Para atuar em conformidade com estas mudanças, os docentes foram procedendo a mudanças nas suas práticas letivas. Sendo a Geografia uma disciplina eminentemente atual, não ficou à margem destas alterações. A importância de aprender Geografia está, por isso, a ser amplamente discutida. Por um lado, está em análise a alteração da carga horária e, possivelmente, do currículo (avançada por meios de comunicação social e entretanto já confirmada pelo Ministério da Educação e Ciência) e concursos televisivos nos quais os concorrentes têm apresentado exemplos de um (des)conhecimento geográfico preocupante. Deparamo-nos, ao mesmo tempo, com notícias que mais parecem situações dignas de uma piada: uma conhecida jornalista espanhola respondeu, num concurso, que a capital da Suíça é Zurique, ao passo que uma candidata a presidente dos EUA garante: “Obama meteu-nos na Líbia e agora quer meter-nos em África.” Situações como estas e outras levantam-nos a nós, professores de Geografia, algumas questões bastante pertinentes. Por que razão é importante aprender Geografia? Estaremos a dotar os nossos alunos de competências geográficas suficientes para responder a questões básicas sobre a localização de lugares? Estaremos a conseguir formar cidadãos geograficamente competentes que, para além da localização, consigam estabelecer uma inter-relação dos conceitos geográficos de forma a conseguirem intervir no território? Ao levantarmos estas questões, voltámos ao início. O que é, então, a Geografia? Qual a utilidade da aprendizagem da Geografia nas escolas? Qual a utilidade social da Geografia? Como ensinar Geografia? Relativamente à primeira questão, deve ser evitada a Geografia de saber enciclopédico, que recorre à memorização de conceitos e localizações, dando ênfase a uma Geografia que ajude a compreender e conhecer bem o mundo que nos rodeia, permitindo que os nossos alunos ajam sobre ele de forma consciente e informada. É útil aprender Geografia pois “(…) permite abordar (…) as relações do ser humano com o ambiente”1, possibilitando desta forma uma reflexão sobre o mundo, compreendendo-o em várias escalas: desde a local à mundial. Os alunos devem aprender Geografia porque ajuda a desenvolver a sua autonomia pessoal, convertendo-se em cidadãos de plenos direitos2. Assim, cada aluno poderá, ao aprender Geografia, entender como e por que razão o espaço geográfico se organiza de uma determinada forma, sabendo como agir sobre ele – sabendo “pensar o espaço”3. Pois “(…) quanto mais o mundo se torna pequeno (…) mais este se torna complexo, diverso e diferente, e mais imprescindível se torna o conhecimento geográfico (…).”4 Nessa linha de pensamento o ensino da Geografia continua a requerer ferramentas de trabalho específicas. A profusão destas não é garantia de sucesso, claro está, mas oferece inúmeras possibilidades aos professores no sentido da diversificação das estratégias sem que haja o vulgo recurso às novas tecnologias da informação e comunicação. De facto, os mapas são ainda ferramentas indispensáveis nas aulas de Geografia e o seu uso deverá tornar-se tão usual e fomentado como o uso do dicionário nas aulas de Língua Portuguesa. Claro que, muitas vezes, as estratégias que definimos para as aulas estão condicionadas pelos recursos que temos à nossa disposição. No entanto, não podemos demitir-nos do nosso papel de motivadores e incentivadores da aprendizagem geográfica. O Professor de Geografia deve ter, constantemente, uma atitude reflexiva em relação à aprendizagem dos seus alunos, apostando, a nosso ver, na aprendizagem por descoberta, através da qual os alunos ©q 1 Xosé Manuel Souto González – “A didática da Geografia”, InforGeo, n.º 15, pág. 26. Xosé Manuel Souto González – “A didática da Geografia”, InforGeo, n.º 15, pág. 23. 3 Herculano Cachinho – “Geografia Escolar: Orientação Teórica e Práxis Didática”, InforGeo, n.º 15, pág. 71. 4 Herculano Cachinho – “Geografia Escolar: Orientação Teórica e Práxis Didática”, InforGeo, n.º 15, pág. 83. 2 possam dar resposta a problemas geográficos reais com os quais se deparam no seu quotidiano, de acordo com o meio onde se inserem. “Ensinar a Aprender” é uma ideia que deve estar subjacente à nossa prática docente. Aquilo que se pretende não é transmitir conhecimentos muito completos e bem organizados, é essencialmente criar as condições favoráveis à aquisição pessoal, não somente de conhecimentos, mas também de competências que lhes permitam agir de forma pensada e consciente no espaço que os rodeia, tornando os alunos atores e autores dos seus conhecimentos geográficos. Partir das representações dos alunos, embora crie um rutura com o ato habitual de ensino, abre um manancial de possibilidades para o Professor, pois fornece uma série de problemas que os alunos devem resolver sucessivamente, dotando o ensino de eficácia, uma vez que estamos a estruturar conhecimentos a partir das vivências dos alunos. Integrar as representações dos alunos permite uma passagem natural para a conceptualização. Uma Geografia que permite ao aluno compreender os fenómenos espaciais, os processos de criação do espaço e as diferentes inter-relações e atores é útil, constituindo-se, talvez, como a única educação geográfica que deve permanecer na sala de aula. Este artigo mais não é do que uma vontade, um conjunto de pensamentos (perspetivas) e dúvidas silenciadas. Não procura assumir-se como um texto crítico e académico, que não o é, nem tão-pouco repositório de divagações, mas cuida apenas de dar cor nome e rosto a uma preocupação comum: o papel da Geografia na atualidade. Gostaríamos que o mesmo funcionasse como um despertador de uma consciência individual e o levasse a partilhar connosco as suas opiniões sobre as questões em epígrafe. Envie-nos a sua opinião para [email protected] Sandra Custódio; Eva Ribeiro; Vera Ribeiro ©q Professoras de Geografia do Ensino Básico e Secundário