Impacto do Preço do Petróleo sobre as Contas Externas 21 de junho de 2004 As importações brasileiras de petróleo e derivados, líquidas de exportações, caíram significativamente nas duas últimas décadas, em função principalmente do aumento da produção doméstica de petróleo bruto e da substituição do consumo de derivados por fontes alternativas. Em conseqüência, reduziu-se a sensibilidade da balança comercial a flutuações do preço do petróleo. Com base em dados para 2003, estima-se que um aumento hipotético de 20% no preço do barril produziria uma contração de cerca de US$0,4 bilhão no saldo da balança comercial. Comparando-se a situação do Brasil à de outros importadores líquidos de petróleo, no que se refere ao impacto do preço do produto sobre as transações externas, confirma-se o quadro relativamente mais confortável experimentado pelo país. Em 2003, as importações líquidas de petróleo e derivados situaram-se em US$2,1 bilhões, o equivalente a pouco mais de 0,4% do PIB. Conforme atesta o Gráfico 1, trata-se do menor déficit na balança comercial de petróleo em 25 anos, tanto em termos nominais (escala esquerda) como em proporção ao nível de produto (escala direita). A título de ilustração, as importações líquidas de petróleo e derivados chegaram a alcançar patamares próximos a US$10 bilhões ou 4% do PIB no início dos anos 80. Gráfico 1 Importações Líquidas de Petróleo e Derivados (US$ bilhões e % do PIB) 10 4% 8 3% 6 2% 4 1% 0 0% 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2 Valor % do PIB O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected] 1 Parte das oscilações mostradas no Gráfico 1 para as importações líquidas, em valores correntes e em relação ao PIB, decorre da própria flutuação do preço internacional do petróleo. Para isolar esse efeito, o Gráfico 2 apresenta as importações líquidas de petróleo e derivados a preços constantes de 2003. Obtemos assim a evolução do quantum de importações líquidas, facilitando a identificação da tendência da série. O Gráfico revela uma contração substancial do volume de importações líquidas na primeira metade dos anos 80, o que coincide com o ajuste de demanda após o segundo choque do preço do petróleo. A partir de 1985, o volume líquido de compras externas passa a delinear uma tendência de aumento moderado, que se prolonga até 1997. Finalmente, a partir desse ano até 2003, estabelece-se uma nova trajetória de queda das importações líquidas, de intensidade semelhante à verificada na primeira metade dos anos 80. Gráfico 2 Importações Líquidas de Petróleo e Derivados a Preços de 2003 (US$ bilhões) 12 10 8 6 4 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2 A principal explicação para a redução gradativa do volume de importações líquidas de petróleo e derivados está ligada ao aumento da oferta doméstica de petróleo bruto, que passou de cerca de 200 mil barris/dia no início dos anos 80 para mais de 1.500 mil barris/dia na média de 2003. Como mostra o Gráfico 3, esse movimento foi particularmente acentuado na primeira metade dos anos 80 - quando a produção de petróleo cresceu a taxas médias anuais superiores a 20% - e no período pós1997. Esses dois momentos correspondem exatamente aos períodos de queda acentuada do volume de importações líquidas delimitados no Gráfico 2. No que se refere à demanda, o consumo final de derivados de petróleo oscilou ao longo dos últimos 25 anos em função dos ciclos econômicos, do comportamento dos preços relativos dos derivados O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected] 2 para o consumidor e dos mecanismos de estímulo à substituição no consumo (por exemplo, o Proálcool). Limitando-nos à análise do período mais recente, a demanda de derivados vem apresentando um recuo continuado a partir de 1997, tendência para a qual o fator preço certamente teve relevância – o preço da gasolina, por exemplo, sofreu um aumento de 180% no período 1997/2003, frente a uma variação de 63% no IPCA. Gráfico 3 Produção de Petróleo e Consumo de Derivados (Mil barris/dia) 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 1.600 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 0 Produção Consumo O Gráfico 4 estima o impacto, sobre a balança comercial como proporção do PIB, de um aumento hipotético de 20% do preço do barril de petróleo. Esse percentual de aumento corresponde, aproximadamente, ao preço corrente do petróleo bruto frente ao preço médio de importação efetivamente praticado em 2003 (US$30,6 o barril, segundo dados da ANP). Observa-se que a economia brasileira encontra-se atualmente muito mais preparada para enfrentar um aumento do preço do petróleo dessa magnitude do que no passado, decorrência clara do aumento de produção doméstica e da redução do volume de importações líquidas. No início dos anos 80, o custo do aumento de 20% do preço do petróleo em termos de saldo comercial – ou seja, o aumento da transferência de produto da economia para os países exportadores de petróleo – correspondia a cerca de 0,8% do PIB. Em 2003, esse impacto se reduziu a menos de 0,1% do PIB, ou US$0,4 bilhão. O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected] 3 Gráfico 4 Impacto de Aumento de 20% no Preço do Petróleo nas Importações Líquidas de Petróleo e Derivados/PIB (p.p.) 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 A situação do Brasil hoje também é relativamente confortável quando comparada à de outros países importadores líquidos de petróleo. O Gráfico 5 mostra o impacto sobre a balança comercial de um aumento de 20% do preço de importação do petróleo para um grupo selecionado de países importadores, entre industrializados e emergentes. A seleção de países procurou apenas obedecer a um critério de representatividade geográfica. Pode-se notar que o grupo de emergentes apresenta em geral maior dependência de seu superávit comercial em relação ao preço do petróleo, com um impacto próximo a 1% do PIB na situação simulada nos casos da Tailândia e Coréia do Sul. Os países desenvolvidos importadores apresentam variações mais moderadas, da ordem de 0,3% do PIB. Gráfico 5 Impacto de Aumento de 20% no Preço do Petróleo nas Importações Líquidas de Petróleo/PIB de Países Selecionados - 2003 (p.p.) 1,1 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 Tailândia Co réia do Sul Chile Á frica do Sul Índia China Japão França A lemanha EUA B rasil O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected] 4 Em conclusão, não se deve exagerar o impacto, sobre a balança comercial, de um aumento do preço do petróleo, extrapolando para o Brasil de 2004 os mesmos efeitos observados na crise do petróleo do início da década de 80. A economia brasileira apresenta atualmente um baixo grau de dependência em relação às importações, ao contrário do que ocorria no passado. Em conseqüência, o petróleo e derivados passaram a ter um peso relativo menor na pauta de comércio exterior. Na prática, o efeito atual sobre a balança comercial de um aumento do preço do petróleo é inferior ao efeito de uma queda de igual proporção do preço da soja. O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central do Brasil. Questões e comentários para [email protected] 5